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PERDÃO JUDICIAL

Embora perfeito o delito em todos os seus elementos constitutivos – ação ou omissa típica e ilícita - é possível que o
magistrado, diante de determinadas circunstâncias legalmente previstas, deixe de aplicar a sanção penal correspondente,
outorgando o perdão judicial. Trata-se de faculdade judicial, apreciável caso a caso.

O perdão judicial é causa extintiva da punibilidade (art. 107, IX, CP) que independe de aceitação do agente, sendo concedido
na própria sentença ou acórdão.

Não é pacífica a natureza jurídica do perdão judicial. De acordo com o STF, trata-se de sentença condenatória, extinguindo
tão somente o efeito principal da condenação, ou seja, a pena, subsistindo eventuais efeitos secundários. Entretanto,
prevalece entendimento contrário, esposado pelo STJ, inclusive com arrimo em sua súmula 18, cujo teor prescreve: “A
sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito
condenatório”.

Nesse diapasão, o artigo 120 CP destaca que a sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de
reincidência.

Segundo o art. 13 da Lei 9.807/99 (Lei de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas e a acusados ou condenados que
tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração em investigação policial ou processo criminal):

Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade
ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal,
desde que dessa colaboração tenha resultado:

I – a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;

II – a localização da vítima com a sua integridade física preservada;

III – a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias,
gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Trata-se de circunstância pessoal, incomunicável aos demais coautores ou partícipes que não preencherem os requisitos
autorizadores da concessão da medida (art. 30, CP).

São, portanto, condições objetivas para a concessão do perdão judicial:

a) a colaboração efetiva coma investigação e processo criminal (art. 13, caput);

b) a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa (art. 13, I);

c) a localização da vítima com a sua integridade física preservada (art. 13, II;

d) a recuperação total ou parcial do produto do crime (art. 13, III);

e) natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso indicativas da concessão do perdão judicial (art.
13, parágrafo único).

É suficiente o atendimento de uma das três circunstâncias indicadas. Com efeito, um posicionamento diverso significaria que
dificilmente algum réu poderia se beneficiar do perdão judicial.

Afinal, é remota a hipótese de, simultaneamente, alguém identificar seus comparsas e, em razão de tal colaboração, alcançar
a localização da vítima com sua integridade física preservada, além da recuperação total ou parcial do produto do crime.

Demais disso, a tese da coexistência dos requisitos restringe a aplicação da dispensa da pena ao crime de extorsão mediante
sequestro (art. 159, CP), único que, em face de sua descrição típica, permite exigência conjunta da localização da vítima com
a sua integridade física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.
De outro lado, figuram como condições subjetivas:

a) voluntariedade da colaboração (art. 13, caput);

b) primariedade do acusado (art. 13, caput);

c) personalidade favorável do beneficiado (art. 13, parágrafo único).

Não obstante, embora ausente requisito objetivo ou subjetivo indispensável para a concessão do perdão judicial é possível a
aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 14 da Lei 9.807/98, que dispõe:

“O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação
dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto
do crime, no caso de condenação, terá a pena reduzida de um a dois terços”.

Por fim, resta salientar que a concessão do perdão judicial é admissível tão-somente nos casos expressamente previsto por
lei. Não cabe ao julgador aplicar o referido instituto como bem entender ou nos casos de clamor público.

Não se pode falar, nestes casos em analogia in bonam partem, pois deriva da lei penal a restrição do perdão judicial às
hipóteses por ela fixadas, afastando-se qualquer outra interpretação, portanto.

O momento processual para concessão do perdão judicial é por ocasião da prolatação da sentença, quando o juiz deverá
primeiro considerar o réu culpado, para posteriormente reconhecer o perdão, deixando de aplicar a pena.

Assim, extingue-se a punibilidade pelo perdão judicial, com arrimo no art. 107, IX, do Código Penal, nas seguintes hipóteses:

Art. 121, § 5º (homicídio culposo),

Art. 129, § 8º (lesão corporal culposa),

Art. 140, § 1º, incisos I e II (injúria),

Art. 168-A, § 3º (apropriação indébita previdenciária),

Art. 176, parágrafo único (outras fraudes),

Art. 180, § 5º (receptação culposa),

Art. 242, parágrafo único (parto suposto, supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido),

Art. 337-A, § 2º (sonegação de contribuição previdenciária).

Além dos delitos previstos no Código Penal, o perdão judicial também poderá ser concedido, como vimos, na Lei de Proteção
à Testemunha (Lei nº 9.907, de 13 de julho de 1.999), que dispõe sobre a concessão do perdão judicial ao réu que, sendo
primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com as investigações e o processo criminal, desde que dessa
colaboração tenha resultado a identificação dos demais coautores ou participes da ação criminosa, a localização da vítima
com a sua integridade física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime, devendo o juiz considerar a
personalidade do beneficiário e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso (art. 13, caput, e
parágrafo único).

Também é possível a concessão do perdão judicial nos crimes de trânsito, de homicídio culposo e lesão corporal culposa,
previstos nos artigos 302 e 303 do Código de Trânsito Brasileiro, por analogia às correspondentes hipóteses tratadas no
Código Penal.

RETRATAÇÃO
Retratação é o ato de desdizer-se, de retirar o que foi dito.

Trata-se de declaração formal de que o agente agiu de forma equivocada, voltando atrás em seu comportamento.

Cuida-se de ato unilateral – independe de aceitação por parte do ofendido – que tem por escopo buscar e resguardar a
verdade – como interesse superior da Justiça.
É irrelevante a espontaneidade da declaração, bom como os motivos que fundara, mas é imprescindível sua voluntariedade.
Ou seja, a ideia em torno da retratação pode ser resultado de influência por terceira pessoa (ex. pai, mãe, cônjuge,
companheira, amigo, mentor religioso, etc.).

De outro lado, por tratar-se de ato pessoal, a retratação feita por um dos querelados não se aplica aos demais.

A retratação do agente só é cabível nos casos em que a lei prevê.

Realizando-se uma análise desses casos percebe-se que só se admite a retratação até a sentença de primeiro grau, ou seja,
na fase da pretensão punitiva, que se estende até a decisão de primeiro grau de jurisdição.

É indispensável que a retratação anteceda a decisão de primeira instância. Se feito posteriormente (extemporânea), só terá
efeito atenuante (art. 65, III, ‘b’, CP).

Assim, a retratação – cabal e irrestrita – “não há de apresentar-se como recurso do agente para eximir-se da pena, mas como
gesto voluntário inspirado no desejo de sanar o dano que causou”.

Há hipóteses legais em que a retratação exime o réu de pena. Esses casos são os de calúnia, difamação, falso testemunho e
falsa perícia. Pela retratação o agente reconsidera a afirmação anterior e, assim, procura impedir o dano que poderia resultar
da sua falsidade.

A injúria não admite retratação. Na injúria, como afirmava Aníbal Bruno:

“há só a ofensa da palavra ou do gesto, que ninguém pode retirar. Na calúnia e difamação o dano resulta da arguição falsa de
fatos criminosos ou não criminosos. Se o acusador mesmo os nega, a vítima pode considerar-se desagravada e o seu crédito
social livre de perigo, e com isso a punibilidade de ação típica se extingue. O Direito atende ao gesto do ofensor que procura
reparar o dano desdizendo-se”.

Também na falsa perícia ou no falso testemunho a retratação ou a declaração da verdade exclui a punibilidade. A declaração
da verdade é o meio de corrigir o silencio com que o agente a ocultou, (art. 342, § 3º, CP). Nessa hipótese, a retratação deve
ser completa e ocorrer antes a publicação da sentença no processo em que ocorreu a falsidade. Ao contrário do que ocorre
nos crimes contra a honra, nesse caos, a retratação comunica-se aos demais participantes.

Cumpre observar uma impropriedade no termo destacado pelos operadores do direito - “retratação do agente”, devendo-se
encará-la como “retratação do suposto agente”, pois antes de decisão condenatória transitada em julgado não se deve dizer
que a retratação foi do agente do fato típico tendo em vista o princípio da presunção de inocência.

Por isso, diz-se que quem se retrata, se retrata de um fato e não de um crime.

A retratação do agente só é possível, como mencionado, nos casos em que a lei a admite, que são os seguintes:

art. 143 do CP (calúnia e difamação);

art. 342, § 2º, do CP (falso testemunho e falsa perícia).

Nos casos em que a retratação do suposto agente não extingue a punibilidade por não existir previsão legal, ela pode
funcionar, caso advenha condenação, como circunstância atenuante (art. 65, III, b, do CP).

No concurso de pessoas, a retratação realizada somente por um dos agentes não se comunica aos demais. A regra é a
retratação ser pessoal (incomunicável).

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