Você está na página 1de 4

EFEITOS DA CONDENAÇÃO E REABILITAÇÃO

A doutrina classifica os efeitos da sentença condenatória como:

1) EFEITO PRINCIPAL: imposição da pena (privativa de liberdade, restritiva de direitos, pena de


multa) ou de medida de segurança;

2) EFEITOS SECUNDÁRIOS:

- DE NATUREZA PENAL:
- impede, em regra, a concessão de sursis em novo crime praticado pelo agente;
- pode revogar o sursis por condenação anterior;
- pode revogar o livramento condicional;
- pode gerar reincidência;
- aumenta o prazo da prescrição da pretensão executória;
- Interrompe a prescrição da pretensão executória quando caracterizar a reincidência;
- pode causar a revogação da reabilitação;
- Leva à inscrição do nome do acusado no rol de culpados (CPP, art. 393, II).

- DE NATUREZA EXTRAPENAIS: afetam o sujeito em outras esferas, que não a penal.

- Subdividem-se em GENÉRICOS e ESPECÍFICOS:

EFEITOS GENÉRICOS: São automáticos decorrendo de qualquer condenação criminal e não precisam ser
expressamente declarados na sentença (art. 91).

a) Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime:

Observações:
- a sentença condenatória transitada em julgado torna-se titulo executivo no juízo cível,
sendo desnecessário rediscutir a culpa do causador do dano (art. 63 do CPP). No juízo
cível somente se discute o montante da reparação, em liquidação de sentença.
- O valor do dinheiro pago à vítima ou a seus dependentes em caso de substituição da pena
por prestação pecuniária deve ser descontado do montante da indenização;
- Em não se tratando de sentença condenatória, deverá o prejudicado propor ação ordinária
de indenização para reparação do dano causado pelo ato ilícito;
- O mesmo pode ocorrer quando não ocorrer condenação por causa da prescrição; de
arquivamento de inquérito, de transação penal da Lei 9.099/95.
- Quando o ofendido for pobre, o Ministério Público tem legitimidade para propor a ação
civil ex delicto (legitimação extraordinária).
* Em caso de sentença absolutória, também é possível a propositura da ação no cível, EXCETO quando o Juízo
Criminal reconhecer que:
1) o fato não aconteceu;
2) que o acusado não foi o autor do fato
3) ou que atuou sob excludente de criminalidade,

As decisões acima também fazem coisa julgada no juízo cível.

b) A perda em favor da União (confisco) dos instrumentos do crime, desde que seu uso, porte, detenção,
alienação ou fabrico, constituam fato ilícito, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:

Observações:
- Confisco é a perda ou privação de bens do particular em favor do Estado.
- Instrumentos são os objetos, coisas materiais empregadas para a realização do crime;
- a corrente majoritária entende que o dispositivo não se aplica em casos de condenação por
contravenção, mas tem decisões admitindo o confisco em crimes e contravenções;
- Nos crimes previstos na lei de tóxicos (art. 34, caput, Lei n. 6.368/76) permite-se a perda,
ainda que não constituam, em si mesmos, fato lícito.
- As glebas de terras utilizadas para cultura ilegal de plantas psicotrópicas (art. 243, caput
CF) e todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico
(parágrafo único do 243, CF).

1
- A perda dos instrumentos do crime é automática. No entanto, é incabível este confisco
quando celebrada a transação penal prevista no art. 74 da Lei n. 9.099/95. Da mesma
forma se ocorrer o arquivamento, absolvição ou extinção da punibilidade pela prescrição
da pretensão punitiva.

c) A perda em favor da União (Confisco), do produto e do proveito do crime ou de qualquer bem ou valor
que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso, ressalvado o direito do lesado ou
de terceiro de boa-fé,.

Observações:
- Produto é a vantagem direta auferida pela prática do crime (ex. relógio furtado).
- Proveito é a vantagem decorrente do produto (o dinheiro obtido com a venda do relógio).
- O produto do crime deve ser devolvido ao lesado ou terceiro de boa-fé, somente se
realizando o Confisco pela União se permanecer ignorada a identidade do dono ou não for
reclamado o bem ou valor.

d) A suspensão dos direitos políticos, enquanto durarem os efeitos da condenação (art. 15, III, da CF).

- Enquanto não for extinta a pena, independente da modalidade aplicada, o condenado fica
privado de seus direitos políticos, não podendo sequer exercer o direito de voto.

- Comentar sobre a aparente contradição existente entre o art. 15, inciso III (que prevê a
suspensão dos direitos políticos e, por conseqüência, a perda do mandado eletivo) e o art.
55, VI, da CF (que condiciona a perda do mandado eletivo dos parlamentares federais à
deliberação pela Casa respectiva por voto secreto e maioria absoluta, mesmo por sentença
criminal transitada em julgado).

e) O Código de Transito Brasileiro prevê como efeito extrapenal da condenação nos crimes nele tipificados, que o
condenado perderá sua habilitação ou permissão, ficando obrigado a submeter-se a novos exames para que
possa voltar a dirigir, de acordos com as normas estabelecidas pelo Contran. Trata-se de efeito extrapenal
automática, que independe de expressa motivação na sentença.

EFEITOS ESPECÍFICOS: Devem ser expressamente declarados e só podem ser aplicados em determinados
crimes (art. 92).

- Não se confundem com as penas de interdição temporária de direitos, pois estas são
conseqüências diretas do crime e substituem a pena privativa de liberdade pelo mesmo
tempo da duração.

- Os efeitos específicos são conseqüências reflexas, de natureza extrapenal e são


permanentes.

a) a perda do cargo, função pública ou mandato eletivo quando aplicada pena privativa de liberdade igual ou
superior a 1 ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública. Ex. Crimes funcionais (arts. 312 a 326 do CP).

Observações:
- Se a condenação for em crime de tortura, a Lei n. 9.455/97, em seu art. 1º, §5º, impõe
também a perda do cargo, função ou emprego público, qualquer que seja a pena
imposta, e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada;
- No caso de preconceito de raça ou de cor praticado por servidor público, também
ocorrerá este efeito, se o Juiz declarar na sentença (art. 18, da Lei n. 7.716/89).
- A condenação criminal transitada em julgado suspende os direitos políticos (art. 15, III). O
art. 55, VI, da CF, determina a perda do mandado de deputado ou senador que sofrer
condenação definitiva. Ambas as situações foram previstas na CF sem limitar a espécie de
crime a um mínimo de sanção aplicada. Assim, independentemente da quantidade de
sanção, a suspensão dos direitos políticos e a perda do mandado eletivo, decorre da
condenação criminal.
- Existe alguma discussão á respeito de o cargo, função ou atividade a ser a ser perdida deva
ter relação com o crime cometido.
- O funcionário perde a função, mas não fica impossibilitado de, posteriormente, ser
investido em outra.

2
b) A perda do cargo, função pública ou mandato eletivo quando for aplicada pena privativa de liberdade por
tempo superior a 4 anos, qualquer que tenha sido o crime cometido;

c) Incapacidade para o exercício do pátrio-poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos apenados com
reclusão, cometido contra filho, tutelado ou curatelado. exigem-se quatro requisitos:
1) crime doloso;
2) sujeito a pena de reclusão;
3) filho, tutelado ou curatelado como vítimas;
4) declaração expressa na sentença.
Observações:
- Nos crimes de maus-tratos (art. 136) e abandono de incapaz (art. 133), não pode ser
aplicado esse efeito, pois a pena prevista é de detenção. Se a vítima falecer ou sofre lesão grave, a pena
passa a ser de reclusão, hipótese em que poderá ser aplicado o efeito condenatório.
- No caso de morte do filho, o efeito é aplicado em relação aos demais filhos.
- O dispositivo também é aplicado ao crime de tortura, previsto no art. 1, inciso II da Lei n. 9.455/97
(reclusão, de 2 a 8 anos).
- Decretada a incapacidade do agente, em princípio ela será permanente, contudo poderá ser excluída pela
reabilitação (CP, art. 93, parágrafo único).
- Ainda que reabilitado, a capacidade não poderá ser exercida em relação ao filho, tutelado ou curatelado
ofendido pelo crime.

d) A inabilitação para dirigir veículo, quando este é utilizado como instrumento para a prática de crime
doloso (homicídio doloso, lesões dolosas etc).

- Exigem-se três requisitos:


1) crime doloso;
2) veículo como instrumento do crime;
3) declaração expressa na sentença.

- Trata-se de efeito permanente, que somente pode ser cancelado mediante reabilitação criminal;
- Não confundir esta inabilitação com a suspensão de permissão, autorização ou habilitação para dirigir veículo
aplicável nos crimes de trânsito.

REABILITAÇÃO

CONCEITO: é um benefício que tem por finalidade restituir o condenado à situação anterior à condenação, retirando as
anotações de seu boletim de antecedentes e suspendendo alguns efeitos secundários da condenação.

Nos termos do art. 93, a reabilitação atinge também os efeitos extrapenais da condenação, vedada, entretanto, a
reintegração no cargo, função, mandado eletivo e titularidade do pátrio poder, tutela ou curatela, nas hipóteses dos
incisos I e II do art. 92.

REQUISITOS:
• Condenação definitiva;
• Que já tenha transcorrido 2 anos da data da extinção da pena; ou do início do período de
provas no caso do sursis e do livramento condicional, que não tenham sido revogados;
• Que o sentenciado tenha tido domicílio no país durante estes 2 anos;
• Que durante esse prazo o condenado tenha dado demonstração efetiva de bom
comportamento público e privado;
• Que tenha ressarcido a vitima do crime ou que demonstre a impossibilidade de faze-lo ou,
ainda, que exiba documento no qual a vítima renuncie à indenização.

EFEITOS: A reabilitação pode produzir dois efeitos:

a) Sigilo sobre os registros criminais do processo e da condenação.

3
- Este efeito é obtido imediata e automaticamente após o cumprimento da pena, por
expressa previsão no art. 202 da LEP;
- Não constitui cancelamento, mas apenas impede a sua divulgação, afora as hipóteses
expressamente ressalvadas.
b) suspensão dos efeitos extrapenais específicos:
- A lei veda a recondução ao cargo e a recuperação do pátrio-poder, ficando a conseqüência
da reabilitação limitada à volta da habilitação para dirigir veiculo.
- Pode o agente, após a reabilitação, passar a exercer cargo, função ou mandado eletivo, mas
está vedada a sua recondução ao cargo anterior.
- Também recupera o exercício do pátrio-poder, mas somente em relação aos filhos que não
foram vítimas do crime.
- Sem restrição nenhuma pode habilitar-se para dirigir veículos.
REVOGAÇÃO.

Pode ser decretada de ofício ou a requerimento do Ministério Público.

Ocorre se sobrevier condenação que torne o reabilitado reincidente, a não ser que essa condenação imponha apenas
pena de multa.

COMPETÊNCIA.

A competência para a reabilitação é do Juízo da condenação e não o da execução, uma vez que a reabilitação só pode
ser concedida após o término da execução.

RECURSOS.

Para parte da jurisprudência é cabível apenas a apelação. Para uma corrente majoritária cabe também recurso de ofício,
nos termos do art. 746, do CPP.

OBSERVAÇÕES:
- A morte do reabilitando extingue o processo por falta de interesse jurídico no
prosseguimento;
- A reincidência não é apagada pela reabilitação, pois ela só desaparece após o decurso de
mais de 5 anos entre a extinção da pena e a prática de novo crime.
- Nega a reabilitação ela pose ser requerida a qualquer tempo, desde que com novos
elementos.
- A postulação só pode ser feita por quem tenha capacidade postulatória

Você também pode gostar