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DIREITO PENAL

Punibilidade: Decadência, Perempção; e Prescrição


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PUNIBILIDADE: DECADÊNCIA, PEREMPÇÃO; E


PRESCRIÇÃO
Pela prescrição, decadência ou perempção

Prescrição

Instituto tratado de forma separada em razão de sua extensão no Código, na dou-


trina e na jurisprudência. Informação durante a aula.

Decadência

A decadência constitui a perda do direito de ação (ação privada) ou de representação


(ação pública condicionada) por inércia do titular. Gera, por conseguinte, a extinção do
direito de punir do Estado (artigos 103 do CP e 38 do CPP).

CÓDIGO PENAL
Decadência do direito de queixa ou de representação

Art. 103. Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de


queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado
do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste
Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia.

Perempção

A perempção se apresenta como uma sanção processual ao querelante que foi desi-
dioso, inerte, que teve uma conduta processual omissiva (ver artigo 60 do CPP).

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á
perempta a ação penal:
I – quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos;

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II – quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não compare-


cer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qual-
quer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III – quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer
ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condena-
ção nas alegações finais;
IV – quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

Pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada

Existem duas espécies de perdão: o perdão na ação privada e o perdão judicial.


A renúncia constitui ato unilateral do ofendido, pré-processual - expresso (declara-
ção assinada pelo ofendido) ou tácito (prática de ato que revela uma incompatibilidade
com o exercício do direito de queixa) – que abre mão de propor a ação privada (artigo
104 e parágrafo único; artigos 31, 49 e 50 do CPP).

Princípio da indivisibilidade previsto no artigo 49 Código de Processo Penal: “A renúncia ao


exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá”.
Artigo 74 da Lei 9099/95:
A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante
sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de
queixa ou representação.

Perdão do ofendido é um ato bilateral, descrito nos artigos 105 e 106 (indivisibili-
dade) do CP. Possui fundamento no princípio da disponibilidade, aplicável aos crimes
de ação privada. Pode ser oferecido desde o início da ação até o trânsito em julgado.
Depende da existência de um processo em curso.

Artigos do CP sobre o perdão que costumam ser cobrados em provas de concursos:

Art. 105. O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante
queixa, obsta ao prosseguimento da ação.
5m
Art. 106. O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito:
I – se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita;
II – se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros;

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III – se o querelado o recusa, não produz efeito.


§ 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de
prosseguir na ação.
§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória.

Pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite

A retratação significa retirar o que foi dito, de modo a extinguir a punibilidade, con-
forme a previsão legal.
Exemplo: artigo 143 do CP: O querelado que, antes da sentença, se retrata cabal-
mente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difa-
mação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar
o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.
Exemplo: §2º do artigo 342 do CP: O fato deixa de ser punível se, antes da sentença
no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retratar ou declarar a verdade.

No que concerne à retratação nos crimes contra a honra

Vale ressaltar que a retratação (art.143) constitui uma causa extintiva da punibilidade,
prevista no artigo 107 VI do Código Penal. Somente os crimes contra a honra de calúnia
e difamação admitem a retratação. Portanto, não cabe retratação no crime de injúria. O
legislador excluiu tal possibilidade porquanto, na injúria, a retratação poderia constituir
uma nova ofensa e ter um efeito mais devastador do que a própria injúria inicial.
A retratação deve ocorrer até antes da sentença. Se ocorrer depois da sentença e
antes do exame do recurso pelo Tribunal, poderá, segundo interpreta Rogério Greco,
configurar a atenuante da alínea b, do inciso III, do artigo 65 do Código Penal. (GRECO,
12ª ed., 2018. p.470).
Ressalte-se a clara redação do parágrafo único do art.143, que exige retratação,
quando se tratar de calúnia ou difamação utilizando-se de meios de comunicação, a
retratação deverá ocorrer pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.
Exemplo: uma calúnia praticada em um jornal impresso, por meio de uma rede social
ou mediante o uso de uma rede de TV, deverá ser retratada pelo mesmo meio no qual se
produziu a ofensa.

Pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei

É diferente do perdão da ação privada, ambos estão previstos no art. 107.

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Quanto ao instituto do perdão judicial, o juiz é quem o aplica, com fundamento em


determinadas condições, presentes no momento do fato, conforme a previsão legal.
Exemplos: perdão no homicídio culposo, na lesão culposa, na receptação culposa e
na colaboração premiada do art.4º da Lei 12850.

O perdão declara a extinção da punibilidade. A natureza jurídica do perdão judicial é causa


extintiva da punibilidade: não gera condenação.

Súmula 18 do STJ

A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade,


não subsistindo qualquer efeito condenatório.
10m

Nas contravenções penais

LCP – DECRETO – LEI 3.688/41

Art. 8º. No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis,


a pena pode deixar de ser aplicada.
Isso se enquadra apenas na época da contravenção penal de 1941, quando o Código Penal
era causal. Quando os erros eram de fato e de direito, e o dolo estava na culpabilidade. Ainda
não havia a constrição do erro de tipo e de proibição, eles só vão aparecer a partir de 1953.
Ele está narrado em um contexto de teoria do crime completamente diferente da
reforma penal de 1984. A reforma penal, introduzida pela Lei n. 7209 adotou o finalismo:
dolo e culpa estão na conduta. Os erros são de tipo (que afasta o dolo) e de proibição
(que afasta a culpabilidade).
Atualmente não se confunde ignorância da lei com desconhecimento da ilicitude, ele
pode gerar um erro de proibição. O texto da Lei de Contravenções Penais ainda traz o
retrato causal da década de 40, quando dolo e culpa estavam na culpabilidade.

Lei 12850

Art. 4º. O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir
em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de
direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e
com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguin-
tes resultados: [...]”.

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Art. 121, § 5º do CP - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de apli-


car a pena, se as consequências de a infração atingirem o próprio agente de forma tão
grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Obs.: �o STJ tem dado uma interpretação bastante restritiva em relação ao perdão
judicial do homicídio culposo. Este perdão vale também para o Código de Trânsito
Brasileiro. O perdão judicial na lesão culposa do Código Penal também é válido para
o Código de Trânsito Brasileiro. Embora não tenha a previsão de perdão judicial no
Código de Trânsito, ela é aplicada.

Lesão corporal culposa

§ 6º Se a lesão é culposa: (Vide Lei n. 4.611, de 1965)


Pena – detenção, de dois meses a um ano.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

No crime de injúria

A lei prevê, no crime de injúria, duas hipóteses geradoras do perdão judicial. Nos
termos do § 1º do art.140, o juiz pode deixar de aplicar a pena:
I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
Com relação ao perdão judicial na injúria, há divergência na doutrina. Uns entendem
que cuida da faculdade do julgador, um benefício ou favor concedido pelo juiz. Outros
defendem que se trata de um direito público subjetivo de liberdade do indivíduo. Na
verdade, se estiverem presentes os requisitos, o juiz deverá conceder o perdão. A liber-
dade do julgador diz respeito à interpretação, valoração da hipótese fática, de modo a
verificar a presença ou ausência dos requisitos que conduzem ao perdão judicial. Como
ensina Cezar Roberto Bitencourt: “Enfim, se, ao analisar o contexto probatório, o juiz
reconhecer que os requisitos exigidos estão preenchidos, não poderá deixar de conceder
o perdão judicial por mero capricho ou qualquer razão desvinculada do referido insti-
tuto”. (BITENCOURT, v.2, 16ª ed, 2016. p.387).
15m
Na retorsão imediata, há duas injúrias. Não há legítima defesa, porque a primeira
injúria se consuma e, somente depois, surge a segunda injúria. Há agressão passada,
findada, de modo que falta iminência e atualidade da agressão, por isso não há falar em
legítima defesa. Para Bitencourt, a natureza jurídica da retorsão imediata, descrita no
inciso I do § 1º do artigo 140, é de exercício regular de um direito (BITTENCOURT, v.2, 16ª
ed, 2016. p.390).

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Tal concepção produz outros problemas, quais sejam, se a natureza é de justificante,


logo haveria um afastamento do injusto por um excludente de ilicitude. No entanto, a
consequência legal é um perdão judicial, que conduz ao afastamento da punibilidade, o
que é diferente de uma justificante. Noutro giro, é possível existir legítima defesa em
situações de injúria real, na forma plurissubsistente, seguida de retorsão imediata. Antes
de consumar a violência da injúria real, poderá ocorrer a legítima defesa. Não é neces-
sário esperar terminar o fim da injúria real, para retorqui-la, “e em o fazendo enquanto
está sofrendo essa agressão, não deixa de caracterizar-se, ao mesmo tempo, uma legí-
tima defesa”. (BITENCOURT, v.2, 16ª ed, 2016. p.389).

No crime de receptação ‘culposa’

§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em conside-


ração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o dis-
posto no § 2º do art. 155.

PRESCRIÇÃO
A prescrição penal significa perda de poder punir o Estado. Logo, ela é diferente da pres-
crição cível, pois este termo no direito civil pode significar aquisição de direito. Além disso,
ela pode ter outros significados no direito civil. A Constituição afirma que alguns fatos não
prescrevem: racismo e ação de grupos armados contra o estado democrático de direito. Além
disso, o STF e o STJ reconhecem que o legislador pode ampliar casos de imprescritibilidade.
20m
O STJ e o STF decidiram que os crimes de desumanidade e de guerra não são impres-
critíveis no Brasil, pois o Brasil não assinou essa convenção. No entanto, ele é signatário
do TPI, que também trata destes fatos. O STJ e o STF afirmaram que é necessário a cria-
ção de lei local para tratar destas imprescritibilidades.
Em janeiro de 2023 o legislador transportou a injúria racial do código penal (art. 140,
§3º) para o art. 2- A da Lei n. 7716. A injúria racial não prescreve, porque ela é uma
modalidade de racismo. Ela já não prescrevia por força de decisões do STF e STF. Agora
está na lei. A homofobia e a transfobia também não prescrevem, pois o STF considera
que são espécies de racismo social. Logo, elas fazem parte do contexto da Lei n. 7716.
Ainda existe o art. 140, § 3º, CP, que dispõe sobre injúria em razão de religião e de
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Estas prescrevem e tem ação
pública condicionada à representação.
Já os dispostos no art. 2- A da Lei n. 7716 não prescrevem, tem pena maior (2 a 5
anos) e a ação é pública incondicionada.

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No art. 20 e suas respectivas letras, o legislador afirma que estes crimes se perfazem
até em contextos chocantes. Logo, trazem interpretação nova, pois sempre foi afirmado
pela doutrina que os crimes de contravenção penal não se perfazem.
A prescrição penal consiste na perda do direito de punir o Estado pelo não exercício
em determinado lapso de tempo. Pode ser contada de duas maneiras: pela pena abs-
trata e pela pena concreta.
A prescrição penal constitui matéria de ordem pública, logo deve ser declarada de
ofício pelo julgador, em qualquer processo penal ou da execução penal. Constitui causa
extintiva da punibilidade regulada nos artigos 107 a 119 do CP e, ainda, em dispositivos
da Legislação Especial Penal.
25m

Já decidiu o STJ:

STJ [...] II - A prescrição da pretensão punitiva estatal, como matéria de ordem


pública, cognoscível de ofício pelo julgador, deve ser declarada em qualquer momento e
grau de jurisdição.
III – No art. 110, §§ 1º e 2º, do Código Penal (redação anterior à Lei n. 12.234/2010),
vigente ao tempo do cometimento das práticas delitivas, está previsto que a prescrição,
depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação, regula-se
pela pena aplicada, podendo ter por termo inicial data anterior à do recebimento da
denúncia ou da queixa.
IV – No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena
de cada um, isoladamente (art. 119, do Código Penal). Também quando se tratar de
crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se com-
putando o acréscimo decorrente da continuação (Súmula n. 497/STF). Para cada um dos
delitos apurados na origem, a prescrição começa a correr do dia em que o crime se con-
sumou (art. 111, inciso I, do Código Penal) e só vai ser interrompida pelo recebimento da
denúncia (art. 117, inciso I, do Código Penal).
V – Não transcorrido o prazo de 8 anos entre os marcos interruptivos dos fatos típi-
cos descrito no art. 288 do Código Penal, notadamente entre a cessação da permanên-
cia e o recebimento da denúncia, incabível a declaração de extinção da punibilidade pela
prescrição retroativa, ex vi dos arts. 109, III, 111, todos do Código Penal, como no pre-
sente caso, conforme constou do acórdão da apelação (fl.4065). Igualmente com relação
aos delitos previstos no art. 177 do Código Penal. [...]
(EDcl no AgRg no AREsp 1378944/RJ, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 10/12/2019,
DJe 03/02/2020)”.

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Prescrição antes de transitar em julgado a sentença

Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto
no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade
cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei n. 12.234, de 2010).
I – em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II – em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze;
III – em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;
IV – em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
V – em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois;
VI – em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.

Obs.: �este tempo é contado pela metade se o sujeito tem menos de 21 anos na data do
fato ou mais de 70 na data da sentença.

Casos de imprescritibilidade

Não há prescrição nos crimes de racismo e a ação de grupos armados, civis ou milita-
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (CF- art.5º, XLII e XLIV).

Polêmica relativa à prescrição da injúria racial deixou de existir após a Lei

Lei n. 14.532, de 11 de janeiro de 2023


Art. 1º A Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Lei do Crime Racial), passa a vigorar
com as seguintes alterações:
Art. 2- A. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça,
cor, etnia ou procedência nacional.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for cometido mediante
concurso de 2 (duas) ou mais pessoas.

Obs.: se trata do princípio da continuidade normativo típica: ele já era crime e foi
transportado para Lei Especial com tratamento mais rigoroso. Este tratamento
só vale para os fatos praticados a partir da entrada da lei em vigor.
30m

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A jurisprudência entende que o legislador pode ampliar as hipóteses de imprescriti-


bilidade (STF - RE 460971/RS). Em decisão de 2019, na qual se discutiu o Tratado Inter-
nacional, que prevê a imprescritibilidade de crimes contra a humanidade, o STJ decidiu
pela necessidade de Lei interna. O STF se manifestou de forma semelhante em 2018
(importante acompanhar a futura decisão do STF sobre esse tema).

Crimes de lesa humanidade

O Brasil faz parte do TPI que trata dos crimes de guerra e de crimes contra a huma-
nidade (DECRETO N. 4.388, DE 25 DE SETEMBRO DE 2002), mas não assinou a convenção
de 1969 sobre a imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
Alguns entendem que é imprescritível por conta do decreto do TPI. Dentro deste
decreto tem crimes de guerra e crimes lesa humanidade.

STF E A (IM) PRESCRITIBILIDADE DOS CRIMES DE LESA


HUMANIDADE
Ementa: EXTRADIÇÃO REQUERIDA PELA REPÚBLICA ARGENTINA. DELITOS QUALIFI-
CADOS PELO ESTADO REQUERENTE COMO DE LESA-HUMANIDADE. PRESCRIÇÃO DA PRE-
TENSÃO PUNITIVA SOB A PERSPECTIVA DA LEI PENAL BRASILEIRA. NÃO ATENDIMENTO AO
REQUISITO DA DUPLA PUNIBILIDADE (ART. 77, VI, DA LEI 6.815/1980 E
ART. III, C, DO TRATADO DE EXTRADIÇÃO). INDEFERIMENTO DO PEDIDO. 1. Conforme
pacífica jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, “a satisfação da exigência concer-
nente à dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extra-
dicional” (Ext 683, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, Dje de 21.11.2008).
Nessa linha, tanto o Estatuto do Estrangeiro (art. 77, VI), quanto ao próprio tratado de
extradição firmado entre o Brasil e o Estado requerente (art. 3, c), vedam categorica-
mente a extradição quando extinta a punibilidade pela prescrição, à luz do ordenamento
jurídico brasileiro ou do Estado requerente. 2. O Estado requerente imputa ao extradi-
tando a prática de delito equivalente ao de associação criminosa (art. 288 do Código
Penal), durante os anos de 1973 a 1975, e, no ano de
1974, de crimes equivalentes aos de sequestro qualificado (art. 148, § 2º, do Código
Penal) e de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, do Código Penal). Evidentemente, todos
esses delitos encontram-se prescritos, porquanto, desde sua consumação, transcorreu
tempo muito superior ao prazo prescricional máximo previsto no Código Penal, equivalente
a 20 (vinte) anos (art. 109, 1). Não consta dos autos, ademais, que se tenha configurado
qualquer das causas interruptivas da prescrição. 3. A circunstância de o Estado requerente
ter qualificado os delitos imputados ao extraditando como de lesa-humanidade não afasta

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a sua prescrição, porquanto (a) o Brasil não subscreveu a Convenção sobre a Impres-
critibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade, nem aderiu a
ela; e (b) apenas lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibilidade
da pretensão estatal de punir (cf. ADPF 153, Relator(a): Min. EROS GRAU, voto do Min.
CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, Dje de 6.8.2010). 4. O indeferimento da extradição com
base nesses fundamentos não ofende o art. 27 da Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados (Decreto 7.030/2009), uma vez que não se trata, no presente caso, de invocação
de limitações de direito interno para justificar o inadimplemento do tratado de extradição
firmado entre o Brasil e a Argentina, mas sim de simples incidência de limitação veiculada
pelo próprio tratado, o qual veda a concessão da extradição “quando a ação ou a pena à
estiver prescrita, segundo as leis do Estado requerente ou requerido” (art. III, c). 5. Pedido
de extradição indeferido.
(Ext 1362, Relator(a): EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: TEORI ZAVASCKI, Tri-
bunal Pleno, julgado em 09-11-2016, ACORDÃO ELETRÓNICO DJe-200 DIVULG 04-09-
2017 PURLIC 05.000017 REPURLICACAO• D.175 DIVULG 94.08-2018 PURLIC 97.08-2018)

DECISÃO DO STJ DE UM CASO DO RIO DE JANEIRO


Se trata de um caso em que uma bomba explodiu no rio Sena no início da década
de 80. Alguns militares foram investigados, e o MPF entrou com uma ação contra esses
militares, mais de 20 anos depois. Ele argumentou na cota de oferecimento da denúncia
que crimes contra a lesa humanidade não prescrevem e alegou o tratado do TPI, em que
o Brasil é signatário (decreto n. 4388, de 25 de setembro de 2002). O STJ compreendeu
que realmente não é um caso de imprescritibilidade, pois necessitaria de lei interna:
‘[...] 12. Conclusão: A admissão da Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes
de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade como jus cogens não pode violar princí-
pios constitucionais, devendo, portanto, se harmonizar com o regramento pátrio. Refe-
rida conclusão não revela desatenção aos Direitos Humanos, mas antes observância às
normas máximas do nosso ordenamento jurídico, consagradas como princípios consti-
tucionais, que visam igualmente resguardar a dignidade da pessoa humana, finalidade
principal dos Direitos Humanos. Nesse contexto, em observância aos princípios consti-
tucionais penais, não é possível tipificar uma conduta praticada no Brasil como crime
contra humanidade, sem prévia lei que o defina, nem é possível retirar a eficácia das
normas que disciplinam a prescrição, sob pena de se violar os princípios da legalidade e
da irretroatividade, tão caros ao direito penal.
13. O não reconhecimento da imprescritibilidade dos crimes narrados na denúncia
não diminui o compromisso do Brasil com os Direitos Humanos. Com efeito, a punição
dos denunciados, quase 40 anos após os fatos, não restabelece os direitos humanos

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supostamente violados, além de violar outros direitos fundamentais, de igual magni-


tude: segurança jurídica, coisa julgada material, legalidade, irretroatividade etc. [...]
(REsp 1798903/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO jul-
gado em 25/0912019. DJe 30/10/9010\”

Natureza jurídica da prescrição

Constitui causa extintiva da punibilidade, sendo matéria de direito penal, mesmo


quando descrita em textos do Código de Processo Penal (exemplos: arts. 366 e 368).
Em razão de sua natureza, a contagem do prazo prescricional segue as regras do Direito
Penal, não seguem as regras do Direito Processual Penal.
Existem situações de suspensão da prescrição, previstos no art. 366 do Código de
Processo Penal.
35m

Espécies de prescrição

O professor colocou bastante conteúdo a respeito e falará sobre cada tópico na


próxima aula.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Concursos, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Dermeval Farias.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do con-
teúdo ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela lei-
tura exclusiva deste material.

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