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EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Dizer que o jus puniendi se encontra nas mãos do Estado não


lhe dá o caráter de direito absoluto e imperecível. Pelo
contrário, em alguns casos, mesmo diante de uma situação de
ilícito penal, pode ser que o Estado não possa exercer o seu
direito de punir. Nesse sentido, abre-se a possibilidade de
que um determinado indivíduo pratique um crime, e que mesmo
diante da correta configuração do fato típico, ilícito e
culpável, não possa ser punido, haja vista a existência de uma
causa capaz de extinguir o direito de punir do qual o Estado é
detentor.
A punibilidade não é requisito do crime – de modo que a
existência ou não deste último não depende da conduta ser de
fato, punível.

Previsão Legal

CP, Art. 107. Extingue-se a punibilidade:


I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato
como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito,
nos crimes de ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a
admite;
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

O rol acima é exemplificativo de causas extintivas de


punibilidade. Desta forma, existem outras causas extintivas de
punibilidade que podem estar arroladas em outros pontos da
legislação, por exemplo, o que ocorre com o delito de peculato

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culposo, que possui uma previsão específica de causa extintiva
de punibilidade para a sua conduta.

Morte do agente
O artigo 5°, inciso XLV, da CF, expressa o princípio da
pessoalidade da pena que aponta no sentido de nenhuma pena
passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar
o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da
lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
limite do valor do patrimônio transferido.
Nesse contexto, por expressa previsão do art. 107 do CP, o
falecimento gera a extinção da punibilidade do agente, haja
vista que a pena não poderá passar da pessoa do condenado,
excetuada a obrigação de reparar o dano e a decretação de
perdimento de bens, que podem ser estendidas aos sucessores
nos termos do art. 5° da CF.
Uma vez que ocorre o falecimento do agente, pelo princípio da
personalidade, cessa a persecução penal: a ação penal não se
instaura, se estiver instaurada ela cessa, e se já finalizada
não se executa a pena aplicada.

pontos relevantes sobre a morte


➔ ação civil: a morte não impede que a vítima intente ação
civil para reparação de dano contra os herdeiros do
autor.
➔ revisão criminal: obviamente, a extinção da punibilidade
de um dos agentes que tenha falecido não irá se estender
aos coautores e partícipes, que continuarão a responder o
processo regularmente.
➔ morte presumida: se a morte for presumida, a posição
majoritária dos doutrinadores é que não ocorre a extinção
da punibilidade.

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Anistia, Graça e Indulto
A Anistia é um perdão oferecido pelo Congresso Nacional.
Atinge um fato e não uma pessoa. Tem efeitos retroativos
(ex-tunc). faz cessar os efeitos penais, porém não faz cessar
os efeitos civis da sentença condenatória.
Graça é um perdão oferecido pelo Presidente da República.
Atinge uma pessoa e não um fato. Extingue apenas a pena
principal. Os efeitos secundários (penais e civis) da sentença
condenatória não cessam com a graça. Inadmissível em crimes
hediondos e equiparados.
Indulto nada mais do que uma graça em sua modalidade
coletiva.Atinge diversas pessoas e não os fatos. Possui os
mesmos efeitos da graça.

Decadência, Renúncia, Perdão e Perempção


Embora sejam institutos diferentes, todos têm o mesmo condão
(de extinguir a punibilidade).

decadência
É a perda do direito de agir pelo decurso de determinado lapso
temporal, estabelecido em lei, provocando a extinção da
punibilidade do agente.
Logo, o ofendido demorou muito para representar (na ação penal
pública condicionada à representação) ou para realizar a
queixa (na ação penal privada), motivo pelo qual o direito de
agir se esvaiu, e cessou a existência do direito de punir.
Então, salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
representante legal, decairá no direito de queixa ou de
representação, se não o exercer dentro do prazo de 6 meses,
contando do dia em que vier a saber quem é o autor do crime,
ou, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da
denúncia.
Os prazos em questão estão relacionados com a representação ou
queixa do ofendido não ser intentada no prazo legal, de modo

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que, via de regra, é de 6 meses, a contar da data do
conhecimento da autoria.
Outra consequência importante da vinculação da decadência aos
prazos de representação ou queixa é a seguinte: não cabe
decadência em ação penal pública incondicionada.
Se a ação penal pública incondicionada não necessita de
representação ou queixa do ofendido, não há que se falar em
decadência.
Observações importantes:
● o prazo de decadência não pode ser interrompido, nem
suspenso, prorrogado ou interrompido.
● segundo a jurisprudência majoritária, oferecer denúncia
em juízo errado (absolutamente incompetente) também não
interrompe o prazo de decadência.
● a instauração de inquérito também não suspende o prazo.
Se a polícia demorar demais, pode sim ocorrer a
decadência de delito cujo inquérito está em andamento.
● na contagem de prazo de decadência, o prazo de decadência
irá seguir o prazo disponível para que o ofendido faça
sua representação ou queixa. Uma vez expirado esse prazo,
ocorrerá a decadência.
● entretanto, embora previsto no CPP, o prazo decadencial
tem natureza híbrida (de prazo penal e processual). Dessa
forma, deve ser contado como se penal fosse, de modo que
se inclui o dia do começo e se exclui o dia do
vencimento.
● nos casos de dúvida se houve ou não o fim do prazo e
ocorreu a decadência, deve-se decidir em favor do
ofendido, permitindo-se que ele ajuíze a ação penal.

renúncia
A renúncia é um instituto que só se aplica na ação penal
privada. Logo, não existe renúncia na ação penal pública, não
importa a espécie.
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O que acontece na renúncia é o seguinte: uma vez que a ação
penal é privada, o ofendido decide que não quer mais ver o
autor punido, por algum motivo.
Tendo em vista que neste caso temos um direito disponível, o
ofendido pode optar por renunciar a ele, dizendo ao Estado que
não quer mais que o jus puniendi seja exercido em desfavor do
acusado.
Existem duas modalidades de renúncia:
● expressa: o ofendido formaliza uma declaração dizendo ao
Estado que não quer mais ver processado o autor do
delito.
● tácita: o ofendido pratica um ato incompatível com a
vontade de punir o acusado.
Uma vez que o ofendido realiza um dos dois atos mencionados (a
renúncia expressa ou tácita), ocorrerá, assim como na
decadência, a extinção da punibilidade do autor.
As características da renúncia:
● unilateral: a renúncia não depende da aceitação do
acusado. Se o ofendido renunciar ao seu direito de
queixa, estará encerrada a ação penal.
● pré-processual: só é possível renunciar antes do
oferecimento da queixa.
● indivisível: se a ação envolve mais de um autor, a
renúncia beneficiará a todos eles.
● irretratável: uma vez que o ofendido renuncie, não poderá
voltar atrás, pois já haverá ocorrido a extinção da
punibilidade.

perdão
Uma vez que o ofendido exerceu seu direito à ação penal
privada (decidindo, portanto, não renunciar), pode ser que ele
volte atrás depois do início da ação penal.
Mesmo nesse caso, ainda assim será possível que o ofendido não
veja o autor do delito ser punido pelo Estado.
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Portanto,a principal diferença entre a renúncia e o perdão é
que a queixa-crime já foi oferecida, e a ação já foi iniciada.
Iniciada a ação penal, portanto, não se fala mais em renúncia,
e sim no chamado perdão do ofendido.
Assim como ocorre na renúncia, o perdão também é um instituto
aplicável somente à ação penal privada.
Então, o querelante irá manifestar ao judiciário o interesse
de ver o autor (ou autores) perdoados pelos que fizeram,
causando também a extinção da punibilidade. Além disso, também
pode ser expresso ou tácito, nos mesmos moldes da renúncia.
São características do perdão que divergem daquelas previstas
para renúncia:
● bilateral: ao contrário da renúncia, o perdão, para ter
validade, precisa ser aceito pelo acusado.
● pós-processual: só é possível perdoar após a iniciada a
ação penal, até seu trânsito em julgado.
Uma vez iniciada a ação penal, o acusado tem o direito de não
aceitar o perdão. Embora o perdão lhe seja benéfico, veja que
o acusado pode desejar que o julgamento vá até o final, se
acreditar por exemplo que é inocente e que poderá ser
absolvido.
Uma vez que o querelante decide perdoar o querelado, este tem
3 dias para se manifestar. Caso não aceite ou recuse nesse
prazo, o juiz considerará o perdão aceito.
Assim como na renúncia, o perdão deve ser oferecido
igualmente, a todos os acusados. Entretanto, o processo
continuará em andamento para aqueles que decidirem não
aceitá-lo. Além disso, se houver mais de uma vítima, o perdão
concedido por uma das vítimas não afeta o direito das outras
de continuarem com o processo.

perempção
Também é aplicável apenas à ação penal privada.

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Na decadência, temos o decurso do prazo (o ofendido não
representa ou oferece a queixa no prazo legal). Na renúncia, o
ofendido decide que não quer ver o autor processado antes
mesmo do início da ação penal, e no perdão, o ofendido decide
perdoar o autor durante o processo. Na perempção, no entanto,
o que ocorre é uma negligência do querelante (ofendido), que
ingressa em juízo para ver o acusado punido, mas deixa de
cumprir suas obrigações processuais.
Desta forma, a perempção é uma causa de extinção da
punibilidade que ocorre nos seguintes casos:
a) quando o querelante falece ou se torna incapaz, e seus
sucessores não comparecem em juízo para substituí-lo em
até 60 dias.
b) quando o querelante deixa de dar andamento no processo
por 30 dias consecutivos.
c) quando o querelante deixar de comparecer a um ato do
processo ao qual deva estar presente, sem motivo
justificado.
d) quando o querelante deixa de formular o pedido de
condenação nas alegações finais.
e) no caso de querelantes pessoas jurídicas, quando esta se
extinguir e não deixar sucessor.
Eis as hipóteses em que ocorrerá a perempção.
Na hipótese em que o querelante deixa de formular o pedido de
condenação nas alegações finais, não temos um mero
esquecimento do querelante.
Segundo a doutrina, o que deve acontecer é que as alegações
finais deixem claro que o querelante não quer mais ver o
acusado punido.
Se for possível subentender que o ofendido ainda quer ver a
punição, e que apenas esqueceu de incluir esse pedido em suas
alegações finais, não deverá ser declarada a perempção.

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Abolitio Criminis
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os
efeitos penais da sentença condenatória. Ou seja, o surgimento
de lei nova mais benéfica que deixa de considerar um fato como
crime.
A abolitio criminis, embora seja causa de extinção de
punibilidade, não faz cessar os efeitos extrapenais da
sentença, de modo que os efeitos civis, por exemplo,
permanecerão.
Mas, não basta a revogação formal de uma norma incriminadora
para que ocorra a abolitio criminis. É necessário que ocorra a
chamada descontinuidade normativo-típica.
Em alguns casos, o legislador elabora uma lei que, embora
revogue formalmente um tipo penal, mantém a punibilidade da
conduta em outro artigo. Se isso acontecer, não houve a
descontinuidade normativo-típica, e consequentemente, não
houve abolitio criminis.
Ex.: o legislador realizou a revogação do crime de atentado
violento ao pudor (art. 214 do CP). Entretanto, o então crime
de atentado violento ao pudor passou a ser considerado como
uma modalidade de estupro.
Na situação apresentada, que realmente aconteceu em nosso
ordenamento jurídico, o legislador revogou o art. 214 do CP,
mas não ocorreu a abolitio criminis, haja vista que a conduta
continuou a ser punida nos termos do art. 213 do CP.

Retratação
Em alguns casos a lei autoriza o agente delitivo a retratar-se
(retirar o que foi dito). E, ao permitir que ele o faça,
extingue sua punibilidade pelo delito praticado.
São exemplos de retratação previstos na lei penal de nosso
país:

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● Delito de falso testemunho ou falsa perícia (art. 342, §
2°, do CP): o fato deixa de ser punível se, antes da
sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente
se retrata ou declara a verdade.
● Crime de injúria e difamação (art. 143 do CP): o
querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente
da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.

Perdão
Em alguns casos, a lei permite que o magistrado deixa de
aplicar a sanção penal ao autor de um delito. O entendimento
majoritário (adotado pela doutrina e pelo STJ) é de que ocorre
a chamada sentença declaratória de extinção de punibilidade.
No entanto, segundo o CP, a previsão é de que estamos diante
de sentença condenatória sem efeito de reincidência.
Um exemplo de extinção da punibilidade pelo perdão judicial
está no crime de homicídio culposo. Quando o homicídio é
culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma
tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

PRESCRIÇÃO
É a perda do direito de punir do Estado diante de sua inércia.
Portanto, o Estado não exerceu o jus puniendi no prazo legal,
de forma que ocorreu a extinção da punibilidade do agente.
Existem casos em que a prescrição de um delito é inadmissível
em nosso ordenamento jurídico.

Delitos Imprescritíveis
O racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão.
Também constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático.

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Não há previsão de imprescritibilidade de delitos no CP –
apenas na CF. A doutrina majoritária inclusive defende que
existe uma vedação implícita na criação de hipóteses de
imprescritibilidade em legislação infraconstitucional, visto
que a prescrição dos delitos seria um direito fundamental.
Entretanto, de forma divergente, cabe observar que já houve
posicionamento do STF, em sede de Recurso Extraordinário, no
sentido de que a CF não veda que a legislação
infraconstitucional crie novas hipóteses de delitos
imprescritíveis.
Em resumo, para o STF a CF não impede a criação de novos
delitos imprescritíveis por legislação infraconstitucional;
para a doutrina existe uma vedação implícita à criação de
delitos imprescritíveis em legislação infraconstitucional,
haja vista que o direito a prescrição é na verdade direito
fundamental.
A regra geral, portanto, é considerar apenas dois delitos como
imprescritíveis em nosso ordenamento jurídico: o racismo e a
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático.

Espécies de Prescrição
Há duas modalidades de prescrição: PPP (prescrição da
pretensão punitiva) e a PPE (prescrição da pretensão
executória.
A diferença entre ambas as modalidades é que a PPP ocorre
antes do trânsito em julgado, e a PPE, depois.

PPP – prescrição da pretensão punitiva

CP, Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a


sentença final, salvo o disposto no § 1° do art. 110 deste

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Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade
cominada ao crime, verificando-se:
I - em 20 anos, se o máximo da pena é superior a 12;
II - em 16 anos, se o máximo da pena é superior a 8 anos e não
excede a 12;
III - em 12 anos, se o máximo da pena é superior a 4 anos e
não excede a 8;
IV - em 8 anos, se o máximo da pena é superior a 2 anos e não
excede a 4;
V - em 4 anos, se o máximo da pena é igual a 1 ano ou, sendo
superior, não excede a 2;
VI - em 3 anos, se o máximo da pena é inferior a 1 ano.

A prescrição da pretensão punitiva tem o condão de excluir


tanto os efeitos secundários como principais da sentença
condenatória (se houver). Dessa forma, remove tanto efeito
penais quanto extrapenais.
Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos
previstos para as privativas de liberdade.
A PPP está dividida em 3 categorias:
● prescrição propriamente dita;
● prescrição superveniente;
● prescrição retroativa.

prescrição propriamente dita


Ocorre antes da sentença condenatória.
É importante observar que, enquanto não se tem a pena
definitiva, deve-se regular o prazo prescricional pela pena
máxima cominada ao delito.
Ex.: Daniel praticou o delito de furto simples em 01/01/2001.
O inquérito foi concluído em 01/01/2017 e enviado ao MP para
possibilitar o oferecimento da denúncia.

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Para verificar se houve a extinção da punibilidade pela
prescrição do delito na situação apresentada, primeiro deve-se
verificar quando se inicia a contagem do prazo prescricional.
No art. 111 do CP aponta que: a prescrição, antes de transitar
em julgado a sentença final, começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou;
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade
criminosa;
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
permanência;
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de
assentamento do registro civil, da data em que o fato se
tornou conhecido;
V - nos crimes contra a dignidade sexual de criança e
adolescentes, previstos neste Código ou em legislação
especial, da data em que a vítima completar 18 anos, salvo se
a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.
Então, a contagem do prazo prescricional deve se iniciar em
01/01/2001, data em que Daniel praticou o delito de furto
simples.
É importante observar que os prazos de prescrição devem ser
contados como prazos penais, pois influem diretamente na
liberdade do acusado, de modo que está incluído o dia do
começo na contagem do prazo.
Ciente disso, é preciso então analisar o art. 109 para saber
qual o prazo prescricional para o delito de furto simples:
Furto simples tem a pena máxima cominada em abstrato de 4
anos. Então, para penas de até 4 anos, prazo prescricional é
de 08 anos.
No exemplo, o fato ocorreu em 01/01/2001 e os autos do IP
chegaram ao MP em 01/01/2017. Portanto, passaram 16 anos entre
a data do fato e a recepção dos autos do IP pelo MP. O prazo
prescricional para o delito em questão é de 8 anos. Logo,

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ocorreu a prescrição. Sendo assim, o MP não poderá oferecer a
denúncia.
Em conclusão e com base nos dados apresentados, nota-se que o
IP só foi entregue ao MP 8 anos após a prescrição do delito,
de modo que o agente delitivo já teve extinta sua punibilidade
em relação àquele fato delituoso. Daniel, portanto, se deu bem
com a demora do Estado para apurar o delito de furto.

prescrição superveniente, subsequente ou intercorrente

CP, Art. 110. A prescrição depois de transitar em julgado a


sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e
verifica-se nos prazo fixados no artigo anterior, os quais se
aumentam de um terço, se o condenado é reincidente.
§ 1° A prescrição, depois da sentença condenatória com
trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu
recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma
hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou
queixa.

O prazo prescricional, que antes era calculado com base na


pena máxima cominada em abstrato, agora será calculado com
base na pena concreta cominada ao delito.
Dessa forma, estamos diante de uma categoria de cálculo de
prescrição da pretensão punitiva que ocorre entre dois
momentos: a publicação da sentença condenatória recorrível e o
trânsito em julgado da sentença.
Resumindo, a sentença condenatória recorrível é publicada, já
existe uma pena concreta cominada ao delito e a sentença ainda
não transitou em julgado. Então, chega-se ao momento em que se
aplica a metodologia da prescrição superveniente ou
intercorrente.

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Ex.: Daniel praticou o delito de furto simples em 01/01/2001.
Em 2003, o juiz recebeu a denúncia e condenou Daniel à pena de
1 ano e meio de reclusão. A acusação não recorreu da decisão,
mas a defesa sim.
No exemplo, nota-se que não há mais a possibilidade de que a
pena cominada se torne maior (a acusação não recorreu e não
existe possibilidade de reformatio in pejus quando o Tribunal
competente avaliar a causa).
Dessa forma, tem-se uma sentença que ainda não transitou em
julgado, mas que serve como parâmetro para fins de cálculo de
prescrição (1 ano e 6 meses de reclusão).
Com base no que prevê o CP, o prazo prescricional para penas
máximas entre 1 ano e 2 anos é 4 anos. Portanto, caso o
Tribunal não julgue o caso nesse prazo, ocorrerá a prescrição
superveniente.
No caso da prescrição superveniente, inicia-se a contagem do
prazo prescricional a partir da publicação da sentença
condenatória recorrível, e não da consumação do delito.
Por esse motivo, na situação hipotética narrada, o Tribunal
teria até o ano de 2007 para julgar o caso antes que ocorresse
a prescrição superveniente.

prescrição retroativa
Essa modalidade é contada de forma retroativa, tomando como
base o termo inicial (publicação da sentença recorrível) e a
data de recebimento da denúncia.
Ex.: Daniel praticou o delito de furto simples em 01/01/2001.
Em 2003, o juiz recebeu a denúncia. Em 2010 condenou Daniel à
pena de 1 ano e meio de reclusão. A acusação não recorreu da
decisão, mas a defesa sim.
No exemplo, nota-se que houve uma dilatação temporal grande
entre o recebimento da denúncia e a publicação da sentença
penal recorrível.

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O prazo prescricional continua o mesmo – 4 anos –, entretanto,
devemos tomar por base o prazo entre a publicação da sentença
e a data do recebimento da denúncia: o prazo prescricional
para o caso concreto é de 4 anos, a publicação da sentença
recorrível foi em 2010, tendo a denúncia sido recebida em
2003. Logo, o tempo recorrido é de 7 anos, embora não tenha
ocorrido a prescrição superveniente, ocorreu a prescrição
retroativa.
Essa é a regra geral. Alguns procedimentos possuem regramentos
que influem nesse cálculo (como as causas interruptivas
específicas que existem no tribunal do júri).

PPE – prescrição da pretensão executória


Ocorre depois de transitar em julgado a sentença condenatória,
tanto para a acusação quanto para a defesa.

CP, Art. 110. A prescrição depois de transitar em julgado a


sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e
verifica-se nos prazo fixados no artigo anterior, os quais se
aumentam de um terço, se o condenado é reincidente.

Já há uma pena cominada com trânsito em julgado. Basta


calcular a prescrição com base na pena aplicada, e de acordo
com o art. 109. A única observação é que, caso o condenado
seja reincidente, os prazo de prescrição previstos no art. 109
aumentam em ⅓.

CAUSAS INTERRUPTIVAS E IMPEDITIVAS DE PRESCRIÇÃO


Causas Suspensivas

Causas impeditivas da prescrição


CP, Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença final, a
prescrição não corre:

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I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que
dependa o reconhecimento da existência do crime;
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos
aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não
persecução penal.
Parágrafo único. Depois de passada em julgado a sentença
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo.

Impedir a prescrição é suspender a sua contagem, durante um


período, retomando-se depois a contagem do ponto onde esta
parou.
O inciso II tem por objetivo evitar a impunidade em razão da
prescrição quando a defesa ingressa com uma quantidade de
recursos legais em quantia que tenha efeito protelatório por
longo prazo.
Ou seja, como na pendência de recursos ao Tribunais Superiores
ou Embargos de Declaração a contagem da prescrição continuava
a correr, podia ser que quando o recurso fosse analisado pelos
referidos Tribunais, o delito já estivesse prescrito (ou muito
próximo disso).
Assim, havendo embargos de declaração, caso esses sejam
considerados inadmissíveis, ocorrerá a suspensão da
prescrição.
No mesmo sentido, havendo Recurso Especial (REsp) ao STJ ou
Recurso Extraordinário (RE) ao STF, até o trânsito em julgado,
não ocorre prescrição, se estes forem igualmente rejeitados.
As novas regras sobre a prescrição são normas penais
desfavoráveis ao réu – de modo que não retroagem para alcançar
delitos praticados antes da vigência do pacote anticrimes.
O inciso IV busca garantir que, enquanto não se cumprir
integralmente o acordo, a prescrição fica suspensa, permitindo

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assim que em caso de descumprimento o MP possa ingressar em
juízo com a denúncia.

Causas Interruptivas

CP, Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:


I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios
recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI - pela reincidência.
§ 1° Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a
interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos
os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do
mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a
qualquer deles.
§ 2° Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V
deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia
da interrupção.

Interromper a prescrição, por sua vez, faz zerar a contagem,


que começa novamente naquele momento. Esse é o efeito das
causas previstas no art. 117.

PENAS LEVES E CONCURSO DE PESSOAS


Segundo o art. 118 do CP, as penas mais leves prescreve em
conjunto com as mais graves.
No concurso de crimes, segundo o artigo 119 do CP, no caso de
concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sob a
pena de cada um, de forma isolada.

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