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FACULDADE DO GUARUJÁ

HÉLIO DE ALMEIDA JUNIOR

ESTUDO DIRIGIDO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Guarujá

2020
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FACULDADE DO GUARUJÁ

HÉLIO DE ALMEIDA JUNIOR

ESTUDO DIRIGIDO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Extinção da punibilidade e suas formas,

Art. 157 do CPE suas alterações

Teoria Geral dos Recursos

Guarujá

2020
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EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE E SUAS FORMAS

Por causas de extinção da punibilidade entende-se as situações em


nosso ordenamento jurídico onde o Estado detentor do jus puniendi perde o
direito de iniciar ou prosseguir com a persecução penal.

O instituto se encontra disciplinado no art. 107 do Código Penal, onde de


forma exemplificativa são enumeradas as possíveis causas de extinção da
punibilidade do agente.

A extinção da punibilidade estampada do dispositivo acima mencionado


se dá nas hipóteses de morte do agente criminoso, por Abolitio Criminis, pela
Decadência, pela Perempção, pela Prescrição, pela Renúncia, pelo Perdão do
ofendido, pelo Perdão judicial, pela Retratação do agente, pelo Casamento da
vítima com o agente, por Anistia, Graça ou Indulto.

Vale a título de esclarecimento uma breve análise sobre cada uma das
hipóteses.

Na hipótese de morte pelo agente, o juiz de posse do atestado de óbito,


o magistrado decreta a extinção da punibilidade fazendo com que o processo
transite em julgado.

Há situações , entretanto, nas quais o agente forja a própria morte para


se livrar da condenação, emitindo falso atestado de óbito.

Como o processo já transitou em julgado com a emissão do documento


falso fazendo, portanto, coisa julgada, esta não poderá ser destituída mediante
revisão criminal, uma vez que o instituto da revisão criminal só é possível se a
sentença for condenatória.

Nesse caso segundo a melhor jurisprudência não poderia ser o réu


condenado por crime cuja punibilidade foi extinta, mas nessa hipótese
responder pelo crime de falsidade.
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Para resolver a questão, decidiu o STF em 2010 que na hipótese de


atestado de óbito falsificado deverá o processo voltar a tramitar.

Na abolitio criminis, uma nova lei penal passa a descriminalizar fato


que era em lei anterior enquadrado como crime, em outras palavras, ocorre a
revogação de lei que tipificava determinado fato como crime.

Na abolitio criminis é aplicado o princípio constitucional da


Retroatividade Benéfica Penal onde a retroatividade dos efeitos das leis penais
é garantida visando beneficiar o réu, mesmo aqueles já condenados.

O caput do Art. 2 do CP assim define a abolitio criminis:

"Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória."

Vale ressaltar que a abolitio criminis extingue todos os efeitos da


conduta criminosa de forma retroativa, antes ou após a condenação.

A decadência que é a é a perda do direito da vítima de oferecer a


queixa ou representação, só ocorrerá nos crimes de Ação Penal de iniciativa
privada e nos crimes em que a Ação Penal é de iniciativa pública condicionada
à representação.

Esse prazo decadencial é de 6 (seis) meses.

Já a perempção, outra hipótese de extinção da punibilidade,


corresponde à sanção de perda do direito de prosseguir com a ação imposta
ao autor da Ação Penal de iniciativa Privada.

A perda desse direito se dará nas hipóteses de: abandono ou inércia na


movimentação do processo por trinta dias, pela morte do querelante (quando
não houver habilitação dos herdeiros em sessenta dias), pelo não
comparecimento sem justificativa aos atos processuais, pela não ratificação do
pedido de condenação nas alegações finais ou pela extinção da pessoa jurídica
(quando esta for vítima de crimes) sem sucessor.
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Deve-se dizer que a perempção apenas se aplica à ação penal privada


exclusiva, e não na subsidiária à pública.

No que concerne à prescrição pode-se dizer que ela é a perda do


direito estatal de punir o transgressor da norma penal, dado o decurso do
tempo, uma vez que o direito de punir deve ser exercido dentro do prazo
legalmente estabelecido.

A prescrição penal é gênero que se divide em 2 espécies, quais sejam;

1. Prescrição da pretensão punitiva: dá-se no processo de


conhecimento penal, ocorrendo pelo escoamento do prazo antes do
trânsito em julgado da sentença.
2. Prescrição da pretensão executória: dá-se no processo
de execução penal, ocorrendo pelo fim do prazo antes de iniciar o
cumprimento da pena.

O prazo prescricional para ambas as espécies de prescrição


penalestá disciplinado no art. 109 do Código Penal cuja transcrição aqui
se faz necessária;

“A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o


disposto no § 1ºdo art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena
privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:

I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e


não excede a doze;

III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não


excede a oito;

IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não


excede a quatro;

V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo


superior, não excede a dois;

VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano


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No que tange ao início da contagem do prazo prescricional da


prescrição da pretensão punitiva recorremos ao art. 111 do CP, onde:

1. No crime consumado: o dia da consumação.

2. No crime tentado: o cessar da atividade criminosa.

3. No crime permanente: o cessar da permanência.

Quanto à renúncia vale salientar que ela ocorre quando a vítima abre
mão de seu direito de oferecer a queixa crime (Nos crimes da Ação Penal de
Iniciativa Privada), antes do recebimento da mesma, independente da anuência
do agente.

A renúncia é uma das quatro alternativas oportunizadas à vítima


na prática forense cotidiana. As outra três são: composição dos danos
civis, oferecimento de representação e oferecimento de representação
dentro do decurso do prazo decadencial.

Vale dizer que em crimes onde há concurso de agentes, o perdão


oferecido a um dos agentes estender-se-á aos demais.

No que se refere ao perdão judicial, outra forma de extinção da


punibilidade do agente, podemos definí-lo como sendo o instituto por
meio do qual o juiz, embora reconhecendo a prática do crime, deixa de
aplicar a pena, desde que se apresentem determinadas circunstâncias
excepcionais previstas em lei e que tornam inconvenientes ou
desnecessárias a imposição de sanção penal ao réu.

Esta modalidade de extinção da punibilidade só pode ser aplicada em


hipóteses expressamente previstas em lei conforme os artigos 107, IX e 120 do
Código Penal
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A natureza jurídica da decisão que concede o perdão judicial, conforme


a súmula 18 do STJ é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo
qualquer efeito condenatório.

A retratação do agente se dará quando este assumir que o crime por


ele praticado se fundou em erro ou ausência de verdade, como exemplo
podemos citar a difamação e a calúnia que são crimes cometidos contra a
honra objetiva

Assim, se o agente terá se retratado quando afirmar que o fato imputado


à vítima é falso e errôneo

Uma outra hipótese de extinção da punibilidade conforme elencado no


art. 107 do CP , é quando a vítima contrai matrimônio com o réu..

Se a vítima se casar com o réu, a punibilidade se extinguirá desde que o


casamento se realize antes que a ação transite em julgado. Neste caso, a
extinção se estenderá aos co- autores e partícipes.

No que se refere à anistia esta ocorre quando ocorre quando uma lei
extingue o crime e seus efeitos, beneficiando todas as pessoas que tenham
praticado o determinado crime.

Conforme Delmanto, p. 165 a anistia significa o esquecimento de certas


infrações penais"

Conforme Noronha, p.400, a anistia aplica-se, em regra, a crimes


políticos, tendo por objetivo apaziguar paixões coletivas perturbadoras da
ordem e da tranquilidade social; entretanto, tem lugar também nos crimes
militares, eleitorais, contra a organização do trabalho e alguns outros".

Quando a anistia for aplicada a crimes políticos chamar-se-á anistia


especial e quando incidir sobre delitos comuns, chamar-se-á anistia comum.

E por último mas não menos importante temos como hipótese de


extinção da punibilidade o instituto do indulto que resulta da concessão pelo
Presidente da República ou por seus delegatários do perdão de determinado
crime à determinada categoria ou grupo de pessoas.
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ARTGO 157 DO CP E SUAS ALTERAÇÕES

Lei 13.654 de 7 de dezembro de 2017 trouxe algumas alterações


significativas no Código Penal (Decreto-Lei 4.828/40) onde daremos ênfase no
capítulo dos crimes contra o patrimônio mais especificamente no artigo 157 que
trata do crime de roubo.

Duas importantes alterações ocorreram no §2º do art. 157 do CP, senão


vejamos: O inciso I que trazia o aumento de pena quando crime de roubo fosse
praticado com o emprego de arma foi revogado , o legislador também inseriu
no §2º, inciso VI do art. 157 do CP, assim como o fez no crime furto, uma forma
majorada quando o crime de roubo tiver como objeto material substâncias
explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego. Houve também outra significativa alteração
trazendo diversas consequências; foi a inserção das causas de aumento de
pena com uma fração significativa de 2/3 (dois terços) previstas no § 2º-A,
incisos I e II do art. 157 do CP. O legislador no inciso I inseriu como majorante
a hipótese na qual a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo. Nesse entendimento o legislador, ao classificar a arma, como de fogo,
acabou por excluir as demais, conhecidas como arma branca, como exemplo
uma faca ou canivete. Sendo assim o aumento de pena apenas será aplicado
ao agente que usar no roubo, arma de fogo. Assim foi criada uma novatio leges
in melius, em outras palavras, uma nova lei que melhora o status quo do
agente e podendo assim retroagir para beneficiar a todos anteriormente
condenados com a aplicação da causa de aumento em razão da utilização de
arma branca. Nesse entendimento não há o que se falar em abolitio criminis,
pois o roubo com arma branca apenas saiu do rol das majorantes que são
aplicadas na terceira fase da dosimetria da pena.

É cediço que tais alterações trarão profundas discussões na doutrina e


jurisprudência pois há o entendimento de que o efeito intimidativo e o potencial
lesivo de uma arma branca muitas vezes pode ser semelhante ao de uma arma
de fogo. Há também o questionamento da constitucionalidade ou não dos
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referidos dispositivos com base na ofensa ao princípio da proporcionalidade na


sua segunda face que é a proteção ineficiente de bens jurídicos, pois uma
arma branca pode causar lesões tão ou mais graves que uma arma de fogo.
Outrossim foi ainda no inciso II prevista a hipótese de aumento de pena no
caso do crime de roubo quando houver a destruição ou rompimento de
obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause
perigo comum.

Vale ressaltar que dentre as alterações ocorridas no cap. 157 do CP há


também a modificação do quantum da causa de aumento de pena quando o
crime for praticado com arma de fogo passando para a fração de dois terços da
pena. Portanto essa conduta continua sendo tipificada mais gravosamente o
que chamamos de ‘ princípio da continuidade normativa” do tipo penal, sendo
que este apenas mudou de sede, tipicada em outro locus da legislação agora
no art. 157 parágrafo II A.

Por fim, destacamos que o § 3º na hipótese do inciso I, quando ocorre a


lesão corporal grave, a pena era de reclusão que era de 7 (sete) a 15 (quinze)
anos e com a alteração legislativa foi aumentada para 7 (sete) a 18 (dezoito)
anos.

Roubo

 Art. 157 – Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência:

 Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

1º – Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega


violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do
crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

2º – A pena aumenta-se de um terço até metade:


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2º   A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:  (Redação dada pela Lei
nº 13.654, de 2018)

 I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;

 I –  (revogado);                 (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)

 II – se há o concurso de duas ou mais pessoas;

 III – se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece


tal circunstância.

 IV – se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado


para outro Estado ou para o exterior;                     (Incluído pela Lei nº 9.426,
de 1996)

 V – se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua


liberdade.                   (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)

 VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,


conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego.                  (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

2º-A   A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de


2018)

I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de


fogo;                  (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de


explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum.                  (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

3° Se da violência resulta lesão corporal de natureza grave, a pena é de


reclusão, de cinco a quinze anos, alem da multa; se resulta morte, a reclusão é
de quinze a trinta anos, sem prejuizo da multa.

3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de cinco


a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta
anos, sem prejuízo da multa.                     (Redação dada pela Lei nº 8.072, de
25.7.1990)
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3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a


quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta
anos, sem prejuízo da multa.                         (Redação dada pela Lei nº 9.426,
de 1996) Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90

3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)

I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos,


e multa;                   (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e


multa.                  (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
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TEORIA GERAL DOS RECURSOS NO PROCESSO PENAL

Um dos conceitos de recurso é a de que este é o meio voluntário de


impugnação das decisões judiciais, utilizado antes do trânsito em julgado e no
próprio processo em que foi proferida a decisão, visando a reforma,
invalidação, esclarecimento ou integração da decisão judicial.

Necessário se faz de antemão que recurso não se confunde com ações


autônomas de impugnação; o recurso é usado no próprio processo e as ações
autônomas de impugnação dão origem a novo processo.

No processo penal os recursos são os seguintes: apelação, RSE,


embargos infringentes, embargos de declaração, carta testemunhável,
correição parcial, RESP, REXT, Agravo no RESP e Agravo no REXT e agravo
em execução.

Já as ações autônomas de impugnação são: HC, Revisão criminal,


Mandado de segurança contra ato judicial.

Os recursos podem ser classificados quanto a sua extensão, quanto ao


fundamento e quanto ao objeto.

Quanto à extensão o recurso pode ser Total quando ele recorre de todo
o ato (apela de toda a sentença) e Parcial quando este recorre de parte do ato
(apela só para reduzir a pena)

Quanto ao fundamento o recurso pode ser Livre onde alega qualquer


matéria (apelação) e Vinculado onde somente pode alegar os fundamentos
expressamente previstos em lei (RESP e REXT, (apelação da sentença do
Júri).
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Por fim quanto ao objeto, o recurso pode ser Ordinário onde aprecia
matéria de fato e de direito (apelação, recurso em sentido estrito) e
Extraordinário: onde aprecia apenas matéria de direito (recurso especial e
extraordinário).

Como em todas as áreas do Direito, os recursos no processo penal


também é regido por princípios basilares que possuem o fulcro de orientar a
compreensão do ordenamento jurídico .

De forma muito resumida apresenta-los -ei aqui. Ei-los:

Princípio da Unirrecorribilidade: a cada decisão corresponde um único


recurso.

Princípio da Fungibilidade: Possibilidade de conhecer um recurso


inadequado, por outro, adequado, desde que não haja má-fé (CPP, art. 579).

Princípio da Dialeticidade: O recorrente deverá apresentar as razões


pela qual recorre, e aparte contrária terá o direito de apresentar contrarrazões.

Princípio da Disponibilidade: O recurso é ato voluntário: é ônus e não


dever da parte.

Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias: no CPP: em


regra, as decisões interlocutórias são irrecorríveis, salvo os casos previstos no
art. 581.

Ainda no tocante aos princípios que regem os recursos no processo


penal podemos abordar a pessoalidade dos recursos e a vedação da
reformatio in pejus
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Por esse conceito entende-se que o recurso só pode beneficiar a parte


que recorreu e que quem recorreu não pode ter sua situação agravada.
O art. 617 do CPP, abaixo transcrito deixa isso bem definido:

Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao


disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém,
ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença

A jurisprudência admite reformatio in mellius para o acusado: que é


reformatio in pejus para o Ministério Público. Simplicidade e economia
processual são argumentos favoráveis a esse entendimento jurisprudencial,
pois se não fosse aplicada a reformatio in mellius, o tribunal poderia conceder
HC de ofício ou o acusado teria que propor a revisão criminal. Outrossim o art.
617 impede a agravação da situação do réu, mas não há vedação sobre
agravar a situação do ministério público.

Com relação à reformatio in pejus entende-se que ela consiste no


agravamento da situação jurídica do réu em face de recurso interposto
exclusivamente pela defesa. A reformatio in pejus se classifica em duas
formas:

Reformatio in pejus direta: é quando o próprio tribunal ao julgar o recurso


exclusivo da defesa faz com que a situação do réu seja agravada. Conforme já
mencionado anteriormente ela é sempre proibida, conforme o art. 617, 2.ª
parte, do CPP.

Reformatio in pejus indireta :ocorre quando por meio de recurso


exclusivo da defesa o réu tem sua sentença anulada, no entanto outra
sentença mais gravosa sobrevém seja fixando pena superior, condenando o
réu por crime mais gravoso ou ainda fixando regime mais grave ao réu.
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Ainda sobre os recursos no processo penal se faz necessário abordar os


seus efeitos.

Um dos efeitos dos recursos no processo penal é o efeito Devolutivo


que consiste em devolver para reapreciação a matéria a órgão do poder
judiciário de hierarquia superior.

Outro efeito é o Suspensivo que impede que a decisão judicial recorrida


produza todos os efeitos que dela se originariam.

Há também o efeito Regressivo que é a possibilidade do juízo de


retratação, ou seja, é possível que o órgão julgador que tem a decisão
impugnada, modifique-a através desse efeito.

O efeito Extensivo é aquele que permite a possibilidade da ampliação


do efeito do recurso interposto por algum (s) co-réus em concurso de agentes
da pratica de infração penal e que por sua vez não tendo fundamento em
circunstancia de caráter pessoal fará com que seja o efeito benéfico estendido
aos demais. sejam recorrentes ou não.

Há ainda o efeito Translativo que é decorrente do efeito devolutivo que


consiste em devolver toda a matéria que não tenha sido submetida à preclusão
ainda que não impugnada.

E por último mas não menos importante temos o efeito Dilatório


Procedimental que consiste no efeito da extensão ou prolongamento do tempo
quanto à relação jurídica processual, uma vez que com a decisão judicial, via
de regra, deveria encerrar-se o procedimento pondo fim à lide de interesses.

Ainda dentro da teoria geral dos recursos no Processo penal é


imprescindível abordarmos o juízo de admissibilidade e de mérito.
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No juízo de admissibilidade a competência é dupla: a do juízo a quo que


é provisória e a do juízo ad quem que é definitiva. Esse juízo tem como objeto
os pressupostos de admissibilidade recursal.

Quanto ao juízo de mérito sua competência , em regra, é só do juízo ad


quem, exceto quando há juízo de retratação onde a compet~encia também
passa a ser do juízo a quo.

O objeto desse juízo é o próprio conteúdo do recurso, ou seja, a matéria.

O juízo como efeito sempre substituirá a decisão recorrida mesmo


quando ela for “confirmada” conf. Art. 504 do CPC.

As consequencias do juízo de mérito vão depender do vício alegado.

Os vícios alegados poderão ser:

Error in iudicando (erro na aplicação do direito material): Tribunal

reforma a decisão

Error in procedendo (erro na aplicação do direito processual):

Tribunal anula a decisão, baixando o processo ao primeiro grau.

Os pressupostos de admissibilidade recursal no processo penal são os


seguintes: Cabimento, Tempestividade, Regularidade procedimental, Ausência
de fato impeditivo ou extintivo, Legitimidade e Interesse.

Abaixo serão abordados de forma resumida cada um deles.


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Quanto ao Cabimento suas premissas são as de que o ato judicial deve


ser recorrível e que somente podem ser interposto os recursos expressamente
previstos em lei e nas hipóteses cabíveis.

Segue tabela com o cabimento de cada um dos recursos:

Apelação: sentenças definitivas e decisões com força de definitivas

RSE: decisões e sentenças previstas no art. 581 do CPP

Embargos de declaração: dúvida, contradição ou omissão

Carta testemunhável: denegação do RSE

Recurso especial e extraordinário

Agravo contra denegação de recurso especial e extraordinário

Agravo em execução: todas decisões proferidas na execução penal

Embargos infringentes: acórdão não unânime contra o acusado

O pressuposto da Tempestividade é aquele que tem a ver com os


prazos previstos em lei referentes aos atos recursais. Nele há a necessidade
de efetivo conhecimento do termo inicial do prazo. Em havendo dúvida a
interpretação será em benefício ao recorrente.

No processo penal os prazos no processo penal são contínuos e


peremptórios, não se interrompendo nas férias, domingos ou feriados art. 798
caput CPP.
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Para o MP o prazo inicial encontra-se disciplinado no art. 800 §2. CPP;


prazos para o MP contar-se-ão do termo de vista,salvo para a interposição dos
recursos

Art. 798, § 5: Salvo os casos expressos, os prazos correrão:

a) da intimação ...

c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da


sentença ou despacho.

Para o acusado e o defensor o início do prazo será a intimação pessoal.

Defensor público ou quem exerce cargo equivalente terá prazo em


dobro.

Segue abaixo tabela dos prazos para cada recurso :

Apelação: 5 dias para apelar (art. 593); 8 dias para razões

Rec. sentido estrito: 5 dias para recorrer (art. 586); 2 dias para razões

Embargos de declaração: 2 dias (art. 382 e 619), já acompanhado das

razões

Embargos infringentes: 10 dias (art. 609, p. ún.), acompanhado das

razões

Carta testemunhável: procedimento do recurso denegado: recurso em


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sentido estrito

Recurso Especial e Extraordinário: 15 dias (Lei 8.038/90, art. 26, caput)

acompanhado das razões

Agravo contra denegação de Recurso Especial e Extraordinário: 5 dias

(Lei 8.038/90, art. 28)

Agravo em execução: procedimento do rec. em sentido estrito (5 dias)

O pressuposto da Regularidade pessoal tem a ver com a forma de


interposição, ou seja, escrito , oralmente ou cota nos autos. A Lei 11.419/06,
art. 1º:com o peticionamento eletrônico com assinatura digital, onde há a
necessidade de prévio cadastramento no poder judiciário .

No que concerne ao pressuposto da ausência de fato impeditivo ou


extintivo, esclarecemos que impeditivos são os que operam antes da
interposição dos recursos e extintivos os que operam após a interposição dos
recursos.

No pressuposto da Legitimidade temos que os legitimados especiais são


o ofendido e o curador.

Por fim temos o pressuposto do interesse de agir

Art. 577 (...) Parágrafo único. Não se admitirá, entretanto, recurso da


parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão.

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