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Dudas

CRIME DE RAPTO

Durante décadas, a necessidade de consagração deste tipo legal de crime serviu de tema
recorrente entre os estudiosos do Direito em Mocambique, pelo facto das condutas
incriminadas terem atravessado décadas sem que o agente perpetrador obtivesse punição
exemplar e condizente com o caracter execrável e repugnante do modus operandi e
repercussões que são introduzidas nas vitimas de tais praticas.

O que motivou a introdução do tipo legal de crime de rapto no código de 2014, foi o tom
acentuado e descontrolado que a pratica destas condutas chegou entre os anos de 2011-
2013.

Antes da entrada em vigor, as condutas presentemente punidas em sede do tipo legal do


crime, em face das condutas de que se manifesta, as mesmas eram insuficientemente e
imperfeitamente punidas com recurso às normas do tipo legal do crime de “carcere
privado” que, atento aos seus elementos típicos, deixava visivelmente carente de punição
exemplar.

Por esse motivo, havia consenso entre as opiniões mais abalizadas e predominantes aos
estudiosos do Direito penal moçambicano que apesar do bem jurídico a proteger residir
na liberdade das pessoas, o rapto, visto sob o ponto de vista comum, possui peculiaridades
nitidamente mais ferozes e cruéis relativamente ao carcere privado.

Tomas
O ARTIGO 197 DO CÓDIGO PENAL MOÇAMBICANO PREVÊ O CRIME DE
RAPTO:

“Quem, por meio de violência, ameaça ou qualquer fraude raptar outra pessoa com o
fim de submetê-la à extorsão, à violação, obter resgate, recompensa, constranger o
Estado, uma organização internacional, uma pessoa colectiva, um agrupamento de
pessoas ou uma pessoa singular a uma acção ou omissão, ou a suportar uma
actividade, é punido com pena de prisão de 16 a 20 anos.”

Referindo a lei, como meios executivos do rapto, a violência, a ameaça ou qualquer


fraude. Portanto, importa-nos saber qual é o alcance das palavras violência, ameaça e
fraude que se encontram na redação deste tipo legal. acompanhando Simas Santos e Leal-
Henriques na definição de tais conceitos temos que:

 VIOLÊNCIA é toda a acção levada a cabo pela força, pela tirania, pela coacção.
São actos violentos, portanto, os que forçam alguém a algo contra a sua vontade.

 AMEAÇA é o prenúncio de um mal futuro. Ameaçar será, pois, coagir alguém a


algo através da promessa ou anúncio de um evento que a pessoa ameaçada não
procurou nem quer”, ao passo que a “astúcia é a habilidade, a arte, o engenho,
usados para se obter um determinado resultado.

 FRAUDE - quando se procura levar alguém ao engano, que não aceitaria a


situação se não fosse convencida, de uma forma fraudulenta, que essa situação lhe
é favorável.

IMIRCIA

MIGUEZ GARCIA afirma que o rapto representa no fundo um especial sequestro, mas
contém um elemento finalístico, ou seja, uma determinada intenção ligada ao modo de
realização típica que as diversas alíneas do n° 1 do 197 enumeram:

 Submeter a vitima a extorsão;


 Cometer um crime contra a liberdade e autodeterminação sexual (violação
sexual);
 Obter resgate ou recompensa;
 Constranger a autoridade pública (Estado) ou um terceiro a accão ou emissão, ou
a suportar uma actividade;
Caso o crime tenha sido praticado e se verifiquem circunstancias previstas no número 2
do artigo 197
 Precedido ou acompanhado de ofensa grave à integridade física da vítima;
 Acompanhado de tortura ou outro tratamento cruel, degradante ou desumano;
 Praticado contra pessoa indefesa em razão da idade, doença, deficiência ou
gravidez;
 Praticado mediante simulação de qualidade de autoridade pública, por servidor
Público com grave abuso de autoridade;
 Acompanhado de crime contra a liberdade sexual da vítima;
 Seguido de suicídio da vítima.

Se por consequência do rapto, a vitima tenha perdido a vida, o agente é punido na pena
de 20 a 24 anos de prisão.

ELIAS

DIFERENÇA NTRE O CRIME DE SEQUESTRO E O CRIME DE RAPTO?

A grande diferença entre os dois crimes, é que no crime de rapto a vítima é sempre
levada para lugar diferente daquele em que se encontra. No crime de rapto é sempre
cometido com violência, enquanto que no crime de sequestro pode não haver violência.
No crime de rapto existe sempre um pedido de resgate ou recompensa, o que não
acontece no crime de sequestro.

BEM JURÍDICO

No rapto, o “bem jurídico tutelado é, tal como no tipo legal de sequestro, a liberdade de
locomoção”. A doutrina também se refere a este bem jurídico como “jus ambulandi”
que significa liberdade ambulatória, em que se tutela a capacidade de cada um se fixar
ou movimentar livremente no espaço físico contra a ilícita restrição, por qualquer forma
ou medida temporal, desse direito. refere Américo Taipa de Carvalho (2012, p. 694) . No
seguimento dessa anotação, o autor distingue rapto de sequestro:

INSA
SUJEITOS
Sujeito activo
Qualquer pessoa;
Sujeito passivo
Qualquer pessoa;

O crime de rapto pode ser praticado por qualquer sujeito activo ou passivo, ou seja,
qualquer pessoa pode ser autor e qualquer pessoa também poderá ser vitima. Portanto,
trata-se de um crime comum ou geral

Todavia, a qualidade da vítima é apta a qualificar este crime, vide a alínea d) do número
2 do artigo 197 do CP “praticado por servidor público com grave abuso de
autoridade.”

A especificidade do agente passivo (vitima) também pode qualificar o crime, conforme


estabelece a alínea c) do número 2 do artigo 197 do CP “praticado contra pessoa
indefesa em razão da idade, doença, deficiência ou gravidez.”

NEIVALDO
ELEMENTO SUBJECTIVO DO TIPO

Note-se que o crime de rapto é um crime doloso, devendo o dolo do agente abarcar não
só a privação da liberdade da vítima, como também o deslocamento espacial desta, e ainda
qualquer das finalidades referidas na previsão típica do artigo 197.

PUNIBILIDADE NO CRIME DE RAPTO

Sublinhe-se ainda que pese embora o princípio geral de aplicação da lei moçambicana no
espaço obedeça ao princípio da territorialidade consagrado no artigo 4º do Código Penal,
no que concerne ao crime de rapto a lei moçambicana é aplicável mesmo aos casos em
que o ilícito tenha sido cometido fora do território nacional (independentemente da
nacionalidade do agente) desde que o agente seja encontrado em Moçambique e não possa
ser extraditado, por força do princípio subsidiário da universalidade consagrado no artigo
5º, n.º 1, do mesmo diploma legal.
IBRAIMO

TIPOS DE RAPTO

Segundo a maioria dos autores, a tipificação de raptos varia segundo as motivações dos
criminosos. Por outro lado, a panóplia de caracterização dos raptos também muda
segundo o método e óptica de cada autor.

 Roubo de crianças;
 Raptos em relações domésticas: quando uma criança é subtraída a um dos
progenitores por outro progenitor, habitualmente durante uma acção de divórcio;
 Rapto para violação ou abuso sexual;
 Rapto para assassinato: em casos de serial killers, assassinos a soldo, terroristas
ou inimigos da vítima;
 Rapto para roubo: quando a vítima é raptado para ser despojada dos seus bens;
 Rapto Romântico: quando um/a menor acompanha o “raptor/a” após recusa
parental da relação;
 Pirataria aérea – nos casos em que aeronaves são desviadas por quadrilhas
criminosas;
 Rapto para resgate clássico: quando um rapto é efectuado com o propósito da
obtenção de resgate;

Classificação doutrinária do crime de rapto


 Crime comum – qualquer um pode ser agente e vitima;
 Crime doloso
 Crime monosubjectivo – não é necessário mais de um agente para o
preenchimento do tipo;
 Crime de forma vinculada – pois a lei já estabelece os meios de execução
material (por meio de violência, ameaça ou qualquer fraude)

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