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Curso de Licenciatura em Direito

Estratégias Policiais de Prevenção e Combate as Uniões Prematuras em Moçambique:


"Estudo de caso do Departamento Central de Atendimento à Família e Menores
Vítimas de Violência, Maputo 2019-2021".

Estudante: Delfina Lopes Ricardo

Maputo, Outubro 2022


Delfina Lopes Ricardo

Curso de Licenciatura em Direito

Estratégias Policiais de Prevenção e Combate as Uniões Prematuras em Moçambique:


Estudo de caso do Departamento Central de Atendimento à Família e Menores Vítimas de
Violência, Maputo 2019-2021

Monografia apresentada no Instituto


Superior de Comunicação e Imagem
(ISCIM), em cumprimento dos
requisitos para a obtenção do grau
de Licenciatura em Direito

Supervisor:

Maputo, Outubro 2022


DECLARAÇÃO DE AUTENTICIDADE

Declaro por minha honra que este trabalho é da minha autoria e resulta da minha investigação
para a obtenção do grau de Licenciatura em Direito Instituto Superior de Comunicação e
Imagem (ISCIM),estando incluídas no texto e na referência bibliografia e as fontes recorridas.
Esta é a primeira vez que o submeto para a obtenção de um grau académico numa instituição de
ensino.

O Declarante

___________________

(Delfina Lopes Ricardo)

O Supervisor

___________________________________
Aprovação do Júri

Presidente:___________________________________________

Orientador:___________________________________________

Oponente:_________________________________________________
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho as pessoas que mais amo, por tudo que fizeram e tem feito por mim até aos
dias de hoje, pela paciência, amor e carinho que tem me atribuído.
AGRADECIMENTOS

Com a entrega deste relatório chega ao fim mais uma etapa importante da minha vida, no qual
pude adquirir muito conhecimento e criar grandes laços de amizade.

Dai que, é importante dar os meus agradecimentos a todos que, directa ou indirectamente,
contribuíram para realização deste relatório, Deus pela vida e protecção, ao meu marido Noé
Nhancale pelo apoio incondicional, ao meu filho Noé Nhancale Júnior, à minha irmã Amina
Lopes, ao meu irmão na fé Edson Chituvane e minha amiga Halima Ánasse pelo seu inestimável
apoio para a conclusão deste curso.
RESUMO

A presente pesquisa tem por objectivo analisar a eficácia das estratégias policiais de prevenção e combate
as uniões prematuras em Moçambique. O Estudo foi realizado no Departamento de Atendimento a
Família e Menores Vítimas de Violência-Comando Geral da Polícia da República de Moçambique
(DAFMVV-CG PRM), na Cidade de Maputo, de 2019 a 2021. Nesta pesquisa recorreu-se ao método
qualitativo, auxiliado pelo quantitativo, e a recolha de dados foi feita com auxílio às técnicas de
observação, pesquisa documental, revisão bibliográfica e entrevista. Para além da recolha de dados
estatísticos criminais sobre as uniões prematuras, o guião de entrevista foi o instrumento aplicado na
recolha de dados, numa amostra constituída por quinze (15) elementos, dentre membros da PRM afectos
ao DAFMVV-CG PRM na Cidade de Maputo, seleccionados de forma intencional. Através do trabalho
de campo, foi possível perceber que durante o período em estudo registou-se um número cumulativo de
760 casos de uniões prematuras em Moçambique, havendo assim uma evolução progressiva de casos
criminais, tendo a destacar como locais de maior incidência as Províncias da Zambézia, Niassa e Cabo
Delgado em 2019; e as Províncias de Tete, Manica e Gaza em 2020 e 2021. As estratégias policiais de
prevenção e combate às uniões prematuras consistem na realização de acções de sensibilização da
população sobre os direitos da criança, realização de troca de experiência da Polícia a nível da SADC,
bem como a realização de capacitação contínua dos agentes da Polícia afectos aos Gabinetes de
Atendimento em matérias de procedimentos de atendimento às vítimas de uniões prematuras. Contudo, a
Polícia continua enfrentado desafios dos quais se tem a destacar a questão do rácio da polícia e o
atendimento. O número dos gabinetes existente a nível nacional ainda não corresponde ao rácio da
população, o que significa que existe a necessidade de construção de gabinetes de atendimento com vista
a aproximar cada vez mais os serviços policiais às comunidades.

Palavras-chave: Prevenção, Crime, Uniões Prematuras, Moçambique, Polícia


ABSTRACT

The present research aims to analyze the effectiveness of police strategies to prevent and combat
premature unions in Mozambique. The study was carried out at the Department of Assistance to Family
and Minors Victims of Violence-General Command of the Police of the Republic of Mozambique
(DAFMVV-CG PRM), in Maputo City, from 2019 to 2021. In this research, the qualitative method was
used, aided by the quantitative, and data collection was carried out with the aid of observation techniques,
document research, literature review and interview. In addition to collecting criminal statistical data on
premature unions, the interview guide was the instrument applied in data collection, in a sample
consisting of fifteen (15) elements, among PRM members assigned to the DAFMVV-CG PRM in Maputo
City , selected intentionally. Through fieldwork, it was possible to perceive that during the period under
study there was a cumulative number of 760 cases of premature unions in Mozambique, thus having a
progressive evolution of criminal cases, with the highest incidence being the Provinces of Zambézia,
Niassa and Cabo Delgado in 2019; and the Provinces of Tete, Manica and Gaza in 2020 and 2021. The
police strategies to prevent and combat premature unions consist of carrying out actions to raise
awareness of the population on the rights of the child, carrying out an exchange of experience between
the Police at SADC level, as well as ongoing training of Police officers assigned to the “Gabinetes de
Atendimento” in matters relating to procedures for assisting victims of premature unions. However, the
Police continue to face challenges, among which the issue of the police ratio and attendance is
highlighted. The number of offices at the national level still does not correspond to the population ratio,
which means that there is a need to build service offices in order to bring the police services closer to the
communities.

Keywords: Prevention, Crime, Premature Unions, Mozambique, Police


LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
LISTA DE ABREVIATURAS
Índice

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................1
1.1. Descrição do problema..................................................................................................2
1.2. Justificativa....................................................................................................................3
1.3. Objectivos......................................................................................................................4
1.3.1. Geral:.........................................................................................................................4
1.3.2. Objectivos específicos...............................................................................................4
1.4. Questões de pesquisa.....................................................................................................4
1.5. Delimitação...................................................................................................................4
1.5.1. Temática....................................................................................................................4
1.5.2. Espacial......................................................................................................................4
1.5.3. Temporal....................................................................................................................4
2. REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................................5
CAPÍTULO III: METODOLOGIA.........................................................................................6
3.1. Método de Abordagem..................................................................................................6
3.2. População alvo e amostragem.......................................................................................8
3.2.1. População alvo...........................................................................................................8
3.2.2. Amostragem...............................................................................................................8
3.3. Técnicas e instrumentos de recolha de dados................................................................9
3.3.1. Técnicas de recolha de dados....................................................................................9
3.3.1.1. Entrevista...............................................................................................................9
3.3.1.2. Pesquisa Bibliográfica..........................................................................................10
3.3.1.3. Pesquisa documental............................................................................................10
3.3.2. Instrumentos de recolha de dados............................................................................10
3.3.2.1. Diário de pesquisa................................................................................................10
3.3.2.2. Inquérito por Questionário...................................................................................10
3.3.2.3. Guião de entrevista...............................................................................................11
4. Cronograma de actividades.............................................................................................11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................13
1. Introdução

O presente trabalho surge no âmbito do cumprimento de um dos requisitos para a conclusão do


Curso de Licenciatura em Direito, leccionado no Instituto Superior de Comunicação e Imagem
(ISCIM) cujo tema é : " Estratégias Policiais de Prevenção e Combate as Uniões Prematuras
em Moçambique: Estudo de caso do Departamento Central de Atendimento à Família e
Menores Vítimas de Violência 2019-2021".

O objectivo deste trabalho é contribuir não só para a prevenção e irradicação das uniões
prematuras de crianças e raparigas, mas ainda para a advocacia pelos respeito dos direitos deste
grupos alvo, previstos na Lei mãe, a Constituição da República de Moçambique e nas
convenções internacionais. Porém, apesar de esta prática estar enraizada no nosso pais, a
literatura sobre a matéria é escassa, dai a necessidade de perceber como é que o fenómeno se
desenrola, os f actores que contribuem para as tais práticas e como é que a polícia de
moçambique que tem que zelar pela segurança e tranquilidade pública tem estado a lidar com a
matéria.

Para o efeito, analisaremos a actuação da PRM no combate a este flagelo, buscando entender o
enquadramento das normas internas da corporação em comparação com os instrumentos
internacionais de que Moçambique é parte, visando perceber o estágio em que Moçambique se
encontra na protecção dos direitos da rapariga, onde será explorada a legislação relativa a
matéria, casos da Lei de Prevenção e Combate as Uniões Prematuras, a Lei da Família, Lei de
Promoção e Protecção dos Direitos da Criança, O Código Penal Moçambicano, O Protocolo à
Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos Relativo aos Direitos da Mulher em África,
A Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança, Lei da Família e a Constituição da
República.

Para melhor compreensão, o estudo está estruturado da seguinte maneira: o primeiro capítulo
apresente a introdução, constando o problema, as perguntas, justificativa e os objectivos da
pesquisa; o segundo capítulo apresenta a revisão bibliográfica onde debruçamos as abordagens
teóricas sobre a matéria em estudo; o terceiro capítulo da metodologia, o quarto capítulo de
apresentação e discussão de Dados, e finalmente o quinto capítulo a presenta a recomendações e
conclusão.
1.1. Contextualização

As uniões prematuras são um fenómeno é endémico em Moçambique, o que quer dizer que se
está perante um fenómeno habitual e de grande incidência. Moçambique encontra-se entre os
países que, ao nível mundial, apresentam um maior número deste tipo de uniões forçadas:
encontra-se em 7º lugar nesta lista, depois do Níger, do Chade, do Mali, do Bangladesh, da
Guiné e da República Centro Africana, contabilizando mais de metade de mulheres que se casam
antes dos 18 anos

Segundo o FNUAP (2003), as uniões prematuras são reveladoras da discriminação existente e,


acima de tudo, da discriminação na maneira como as famílias e as sociedades tratam as meninas
e os meninos. A desigualdade no tratamento manifesta-se na desproporcionalidade no nível de
atenção e investimento entre crianças dos dois sexos na saúde, na nutrição e na educação. As
meninas enfrentam normalmente mais privações e falta de oportunidades.

Apesar das uniões prematuras serem uma prática no nosso país, não existe ainda muitas obras
retratando essa problemática. Contudo existem estudos e pesquisas realizadas por várias
organizações nacionais e internacionais que serão as principais fontes para a realização deste
trabalho.

O casamento pressupõe, antes de mais, o livre consentimento das partes. A Lei n° 19/2019, de 22
de Outubro que estabelece o regime jurídico aplicável a proibição, prevenção e mitigação das
Uniões Prematuras em Moçambique, define-o como: “a união voluntária e singular entre um
homem e uma mulher, com o propósito de constituir família, mediante comunhão plena de vida
(Artigo 7, Noção de casamento). Então se pegarmos nesta definição, todas as uniões que não
obedecerem ao carácter “voluntário” e “singular”, não são efectivamente “casamentos” perante a
lei. Esta última característica “singular” refere-se ao casamento monogâmico, enquanto o
“voluntário” diz respeito ao consentimento das partes.

Segundo a Convenção Sobre os Direitos das Crianças (aprovada na 44ª sessão da ONU em 1989
e ratificada pelo Conselho de Ministros, resolução nº 19/90, no BR, I Série, nº 42, 23/10/1990), a
criança é definida como todo o ser humano, com menos de dezoito anos, excepto se a lei
nacional conferir a maioridade mais cedo.

Assim, porque uma pessoa com idade inferior a 18 anos (criança) não é capaz de dar o seu
consentimento válido para se casar, os casamentos em que ambas ou apenas uma das partes é
menor de idade, são considerados como uniões forçadas, o vulgarmente chamada união
prematura. Uma Relatora especial das Nações Unidas para o tráfico de pessoas, em particular
mulheres e crianças, Sigma Huda (2007), vai mais longe: “o casamento imposto a uma mulher
não pela força explícita, mas submetendo-a a pressão implacável e / ou manipulação, muitas
vezes dizendo-lhe que a recusa de um pretendente irá prejudicar a sua família na comunidade,
também pode ser entendido como forçado”.

Por estas razões, o casamento prematuro é condenado tanto ao nível do sistema universal dos
direitos humanos, como em instrumentos legais regionais e nacionais.

1.2. Justificativa

A realização deste trabalho fundamenta-se no facto de as uniões prematuras constituírem uma


prática que tende a aumentar em Moçambique. Falar em uniões prematuras é falar em
discriminação. Discriminação das raparigas em relação aos rapazes e discriminação entre as
crianças de sexo feminino, consoante, entre outros, o nível de rendimentos da sua família e a sua
escolarização.

As crianças que vivem nestas uniões forçadas, para além de se verem impossibilitadas de
gozarem dos seus direitos, sofrem severas consequências no que diz respeito ao seu bem-estar
psicológico e emocional, à sua saúde reprodutiva e às suas oportunidades educativas e na vida
como adultas.

Este tema é importante sob ponto de vista académico e também por si tratar de obtenção de grau
de licenciatura, que segundo orientação desta faculdade um dos requisitos principais é
elaboração de uma monografia. Segundo Marconi e Lakatos, a justificativa consiste numa
exposição sucinta porém completa, das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática
que tornam importante a realização da pesquisa
A razão de fundo para a escolha desse tema dos diversos é o interessante facto de, criar sistemas
locais de referência para os casos de violência de menores através da disseminação de
informação sobre como proceder quando se é confrontado com um caso destes. Os sistemas
locais de referência devem incluir todas as pessoas e instituições que podem desempenhar um
papel de reportagem.

Com este trabalho pretende-se contribuir para uma maior advocacia sobre a necessidade das
autoridades policiais abordarem o combate a este flagelo com mais determinação e firmeza e
quiçá, contribuir para a revisão do quadro legal aplicável a Moçambique em relação a
problemática e a sua incidência, e discutir uma tentativa de criminalizar os implicados neste tipo
de situações.

1.3. Problematização

As uniões prematuras constituem um dos problemas mais graves de desenvolvimento humano


em Moçambique mas que ainda é largamente ignorado no âmbito dos desafios de
desenvolvimento que o país persegue requerendo por isso uma maior atenção dos decisores
políticos. Moçambique é um dos países ao nível mundial com as taxas mais elevadas de
prevalência destas práticas, afectando cerca de uma em duas raparigas, representando uma
grande violação dos direitos humanos das raparigas. Esta situação contribui negativamente nos
esforços para a redução da pobreza e o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio,
em particular, influenciando para que as raparigas aquém grávidas precocemente e deixem ter
acesso a educação, aumentando os riscos de mortalidade materna e infantil.

Contudo, apesar destas práticas constituírem um atentado aos direitos humanos e ao facto de
Moçambique ser signatário de muitos instrumentos internacionais que apelam ao respeito dos
direitos da criança persiste a impunidade das pessoas que se envolvem neste tipo de práticas e
estado continua a mostrar-se incapaz de reprimir esse tipo de actos.

A união prematura constitui um factor de risco porque implica quase inevitavelmente relações
sexuais. Nas sociedades onde tal se consuma existe a forte pressão para se ter filhos logo após o
casamento e a taxa de concepção de mulheres jovens casadas é muito baixa.
Noutra vertente das consequências, existe uma correlação entre o casamento prematuro e a saída
do sistema de educação, por se cuidar de outros afazeres, com consequências para a privação do
direito à educação e no desenvolvimento social e humano das raparigas envolvidas. A aparente
apatia do sistema de educação e as normas permissivas como o Despacho nº 39/GM/2003 do
Ministério da Educação, que prescreve a mudança de turno para a rapariga grávida e apenas o
processo disciplinar para o protagonista concorrem para aumentar a tolerância em relação a estes
tipos de violência e á sua reprodução.

Pergunta de partida:

 Até que ponto as estratégias Policiais são eficazes na prevenção e combate as uniões
prematuras em Moçambique?

1.4. Hipóteses
 A Polícia da Republica de Moçambique (PRM) adopta estratégias eficazes para a
prevenção e combate as uniões prematuras em Moçambique.

 As estratégias adoptadas pela Polícia da Republica de Moçambique (PRM) são ineficazes


na prevenção e combate as uniões prematuras em Moçambique.

1.5. Objectivos
1.5.1. Geral:
 Analisar a eficácia das estratégias policiais de prevenção e combate as uniões prematuras
em Moçambique.

1.5.2. Objectivos específicos


 Identificar o quadro legal aplicável às uniões prematuras em Moçambique;
 Descrever a situação criminal das uniões prematuras em Moçambique;
 Avaliar a eficácia das estratégias policiais de prevenção e combate às uniões prematuras
em Moçambique.
CAPITULO II: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL

Capitulo II

Desenvolvimento

Apesar das uniões prematuras serem uma prática no nosso país, não existe ainda muitas obras
retratando essa problemática. Contudo existem estudos e pesquisas realizadas por várias
organizações nacionais e internacionais que serão as principais fontes para a realização deste
trabalho.

O casamento pressupõe, antes de mais, o livre consentimento das partes. A Lei n° 19/2019, de 22
de Outubro que estabelece o regime jurídico aplicável a proibição, prevenção e mitigação das
Uniões Prematuras em Moçambique, define-o como: “a união voluntária e singular entre um
homem e uma mulher, com o propósito de constituir família, mediante comunhão plena de vida
(Artigo 7, Noção de casamento). Então se pegarmos nesta definição, todas as uniões que não
obedecerem ao carácter “voluntário” e “singular”, não são efectivamente “casamentos” perante a
lei. Esta última característica “singular” refere-se ao casamento monogâmico, enquanto o
“voluntário” diz respeito ao consentimento das partes.

Segundo a Convenção Sobre a Direitos das Crianças (aprovada na 44ª sessão da ONU, em 1989
e ratificada pelo Conselho de Ministros, através da resolução nº 19/90, no BR, I Série, nº 42,
23/10/1990), a criança é definida como todo o ser humano com menos de dezoito anos, excepto
se a lei nacional conferir a maioridade mais cedo.

Assim, porque uma pessoa com idade inferior a 18 anos (criança) não é capaz de dar o seu
consentimento válido para se casar, os casamentos em que ambas ou apenas uma das partes é
menor de idade, são considerados como uniões forçadas, o vulgarmente chamado casamento
prematuro. Uma Relatora especial das Nações Unidas para o tráfico de pessoas, em particular
mulheres e crianças, Sigma Huda (2007, p. 12), vai mais longe: “o casamento imposto a uma
mulher não pela força explícita, mas submetendo-a a pressão implacável e / ou manipulação,
muitas vezes dizendo-lhe que a recusa de um pretendente irá prejudicar a sua família na
comunidade, também pode ser entendido como forçado”.

Por estas razões, o casamento prematuro é condenado tanto ao nível do sistema universal dos
direitos humanos, como em instrumentos legais regionais e nacionais.
Referencial Teórico

2.1. O que é união prematura?

Segundo a Lei da Família, Lei n.º 10/2004, de 25 de Agosto, a união prematura, mais conhecida
como “casamento prematuro”, é a junção de duas pessoas, com a finalidade de constituir família,
sendo ambas ou uma delas menor de 18 anos. Ao longo deste estudo referimo-nos a essas uniões
não como casamentos, mas simplesmente como uniões prematuras, porque, afinal, não chegam a
ser casamentos no sentido rigoroso do termo: uma união voluntária, consentida, entre duas
pessoas adultas.

Essa lei, porém, contém uma grande lacuna, pois deixa espaço para a existência de uniões
prematuras, quando, no número 2 do artigo 30.º estabelece excepcionalidade para cidadãos
menores de 18 anos. É essa lacuna que a Coligação para a Eliminação dos Casamentos
Prematuros - CECAP – procurou colmatar ao advogar a aprovação de uma Lei de Prevenção e
Combate às Uniões Prematuras. Fora da Lei da Família, no Inquérito Demográfico e de Saúde
(IDS), o casamento é definido como sendo a união ou coabitação entre uma mulher e um homem
e tem em conta a idade da primeira coabitação (INE, 2013). Portanto, a situação em que menores
de idade se envolvem em “uniões maritais” não pode ser considerada um casamento.

2.2. Ponto de situação das uniões prematuras em Moçambique

Segundo a Agência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), na sua página oficial,
Moçambique tem uma das taxas mais elevadas de casamentos prematuros do mundo, afectando
quase uma em cada duas raparigas, e tem a segunda maior taxa na sub-região da África Oriental
e Austral. Cerca de 48 por cento das mulheres em Moçambique com idades entre os 20 e os 24
anos já foram casadas ou estiveram numa união antes dos 18 anos e 14 por cento antes dos 15
anos (IDS, 2011).

Mundialmente, Moçambique encontra-se no décimo lugar, enquanto país com uma elevada
prevalência de uniões prematuras: 14% das mulheres, entre os 20 e 24 anos de idade, casaram
antes dos 15 anos de idade e, 48% casaram antes dos 18 anos de idade (Estratégia Nacional de
Prevenção e de Combate de Casamentos Prematuros em Moçambique 2016-2019).

Ainda de acordo com esta organização " O Casamento prematuro põe em perigo as raparigas.
Raparigas casadas sofrem maiores abusos, violência doméstica (incluindo abuso físico, sexual ou
psicológica) e abandono".

Segundo a fonte, a análise das uniões prematuras é feita considerando duas faixas etárias: a
primeira que vai até aos 15 anos de idade, e a segunda, a que vai até aos 18 anos de idade. Nessa
perspectiva, o Instituto Nacional de Estatística (INE), no seu último Inquérito Demográfico e de
Saúde (IDS) 2011, revela que as províncias de Cabo Delgado, Manica, Nampula, Sofala, Tete e
Zambézia apresentam altos índices de união prematura.

A província mais vasta do país, Niassa, regista 24% de mulheres entre os 20 e 24 anos de idade
casadas antes dos 15 anos de idade seguida das províncias da Zambézia, de Sofala e Nampula,
com 17% cada. No concernente aos casamentos antes dos 18 anos, a província mais populosa do
país, Nampula, regista a taxa mais elevada com 62%, seguida de Cabo Delgado com 61%,
Manica com 60% e Niassa com 56%.

Figura 1. Províncias com maior percentagem de uniões prematuras


Províncias Percentagem
Niassa 24%
Zambézia 17%
Sofala 17%
Nampula% 17%

A situação das uniões prematuras é preocupante. Fora das percentagens, dados oficiais mostram
que a província mais populosa do país, Nampula, regista o maior número de casos, com mais de
35 mil crianças de 15 anos em situação de união prematura. O número de crianças com idade
inferior a 18 anos, em Nampula, que se encontram em uniões prematuras é mais assustador: pelo
menos de 130 mil raparigas.

Figura 2. Províncias com maior percentagem de uniões prematuras


6

4
Série 1
3
Série 2
Série 3
2

0
Niassa Zambezia Sofala Nampula

A segunda província mais populosa do país, Zambézia, é igualmente a segunda maior em termos
de uniões prematuras. Nampula e Zambézia representam um total de 42% das uniões prematuras
de todo o país.

Segundo dados obtidos nos Relatórios Balanço do Plano Economico e Social (BdPES) do
Ministério do Género, Criança e Acção Social (MGCAS), foram identificados e reintegradas em
todo o pais, 165 crianças no primeiro semestre de 2022.

Figura 3. Casos de uniões prematuras identificados e reintegradas

Ano 1 Semestre 2 Total


Semestre
2020 41 62 103
2021 220 114 334
2022 62

Segundo este instrumento, no ano 2021, registaram-se 334 casos sendo 220 no primeiro semestre
e 114 no segundo semestre, sendo que no ano 2020 houve registo de 103 casos, correspondentes
a 41 casos no primeiro semestre e 62 no segundo semestre.

Figura 4. Casos de uniões prematuras identificados e reintegradas

3 Série 1
Série 2
2 Série 3

0
2020 2021 2022 Categoria
4

2.3. Quadro legal e institucional de prevenção e combate às uniões prematuras

A precisamente 15 e 18 do mês de Julho do ano passado (2019), a Lei de Prevenção e Combate


às Uniões Prematuras foi aprovada na sua generalidade, por unanimidade e especialidade pelas
três bancadas que compõem o Parlamento Moçambicano (Frelimo, RENAMO e MDM), através
da LEI Nº 19/2019.

A presente lei traz consigo aspectos fundamentais que a norteiam:


a) Idade para união

A Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras estabelece os 18 anos como a idade para
qualquer tipo de união com o propósito imediato ou futuro de constituir família.

b) Proteccão de direitos pessoais e patrimoniais

Não obstante estabelecer a possibilidade de se fazer cessar qualquer união prematura, nos termos
adiante explicados, são protegidos alguns direitos adquiridos na vigência da mesma,
nomeadamente os direitos das crianças nascidas fruto dessa união, para efeitos do
reconhecimento da paternidade e da maternidade e bem assim os direitos patrimoniais.

c) Estabelecimento de mecanismos legais para cessação de uniões prematuras e aplicação


de medidas cautelares

A Lei de Prevenção estabelece mecanismos legais para fazer cessar quaisquer tipos de uniões
prematuras, o que se materializa, quer pelo regime da anulação do casamento, no termos
estabelecidos na Lei de Família, quer por um processo judicial especial para fazer cessar outro
tipo de uniões prematuras.

d) Infracções Penais

Segundo o Centro para a Democracia e Desenvolvimento(CDD), a Lei de Prevenção e Combate


às Uniões Prematuras considera crime a celebração de qualquer tipo de uniões prematuras,
podendo ser punidos pela sua ocorrência não só o adulto envolvido na união prematura, mas
também os pais e outros representantes legais responsáveis pela guarda da criança e também
quaisquer autoridades que celebrem ou oficiem este tipo de relação. As penas de prisão variam
de entre 12 a 16 anos de prisão que poderá ser agravada para a pena imediatamente superior (16
a 20 anos).

De referir que a Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras inspira-se na Lei Modelo da
SADC sobre a Erradicação dos Casamento Prematuros e Protecção das Crianças já em Situação
de Casamento, aprovado pela 39ª Sessão da Assembleia do Fórum Parlamentar da Comunidade
para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), realizada em Junho de 2016, com o
objectivo principal de servir de guia para a criação de legislação específica nos Estados membro
no que concerne à protecção da criança contra os casamentos e uniões prematuras.

Ainda de acordo com a CDD, esta lei vem complementar a outra legislação existente sobre a
matéria, como o Código Penal, a Lei da Família e a Lei para a Promoção e Protecção dos
Direitos da Criança, que claramente proíbem e criminalizam actividades sexuais com menores.

De acordo com a lei moçambicana, a actividade sexual com um(a) menor de idade, definida
como qualquer pessoa com menos de 18 anos, é um crime e é punida com prisão e multas. De
acordo com esta organização, embora a Lei da Família de 2004 tenha previsto o casamento de
menores acima de 16 anos, quando existirem circunstâncias excepcionais e conhecidas de
interesse público e familiar, e quando haver consentimento dos pais (número 2 do artigo 30), o
mesmo artigo anula, enfaticamente, qualquer casamento que envolva menores de idade, por
qualquer motivo que não sejam as excepções mencionadas acima (alínea a) do número 1 do
artigo 30). Na verdade, o artigo 19, da mesma lei, anula qualquer promessa de casamento feita
por qualquer pessoa com menos de 18 anos de idade. Por sua vez, o Código Penal não abre
espaço para o casamento com menores de 16 anos, pois o seu artigo 220 pune a quem cometer
qualquer acto sexual com um(a) menor de 16 anos, com ou sem o seu consentimento.

O país tomou medidas para melhorar o ambiente legal e adoptou estratégias para travar uma
guerra vitoriosa contra os casamentos prematuros. Em seu sétimo capítulo sobre crimes contra a
liberdade sexual, o novo Código Penal, aprovado em 2014, chamou atenção à protecção de
menores contra o abuso sexual, práticas e crimes modernos, como a pornografia (artigo 226). Em
2015, o Conselho de Ministros aprovou a “Estratégia Nacional de Prevenção e Combate ao
Casamento Prematuro” para o período de 2016- 2019.

A Lei da Família de 2019 manteve a nulidade de qualquer promessa de casamento feita por
um(a) menor (número 2, do artigo 21) e qualquer casamento que envolva um(a) menor, com
excepção do que está previsto acima (na alínea a) do artigo 32). Com base na Lei Modelo da
SADC sobre Erradicação dos Casamentos Prematuros e Protecção da Criança em Casamento”, a
Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras é o documento legal específico e robusto que
o país possui, o qual promete desencadear golpes decisivos contra os casamentos prematuros.
2.4. Causas das uniões prematuras

Que factores contribuem para a preocupante situação das elevadas taxas de uniões prematuras
em Moçambique? Vários estudos e análises (por exemplo, Bassiano e De Lima 2018; UNICEF,
FNUAP e CECAP 2015; Osório 2015; GdM 2015; UNICEF 2015; Francisco 2014; Osório e
Macuácua 2013) sobre o fenómeno das uniões prematuras e assuntos conexos, nomeadamente, a
Pág. 16, de 45 gravidez precoce ou a educação da rapariga em Moçambique chegam à mesma
conclusão: as uniões prematuras têm como causas os factores de ordem sociocultural e de ordem
económica: pobreza, desigualdades e marginalização dos tecidos sociais rurais dos processos de
produção e distribuição da riqueza, bem como dos processos de tomada de decisão.

Com base na vasta literatura disponível, podemos afirmar que a predominância da cultura
patriarcal é a base sobre a qual assentam diversos factores que propiciam a manutenção e
reprodução das uniões prematuras. Essa cultura patriarcal funciona como fermento para a prática
de ritos de iniciação com uma orientação contrária à dignidade da pessoa humana prevista na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, contra a Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação contra as Mulheres e contra a Constituição da República de
Moçambique, que estabelece o princípio da igualdade entre homens e mulheres.

a. Predominância da cultura patriarcal

O contexto sociocultural dentro do qual acontecem as uniões prematuras é caracterizado por uma
visão de supremacia do género masculino sobre o género feminino. Com efeito, essa supremacia
do masculino sobre o feminino produz e reproduz mecanismos de representação social e
simbólica, incluindo práticas costumeiras que relegam a mulher para o segundo plano. A
estrutura conceptual dos programas educativos tem sido, por isso, concebida para defender o
"status quo" da rapariga que “existe para servir e obedecer ao rapaz”.

Reconhecendo esse facto, o Governo de Moçambique destaca como acção necessária para a
redução das uniões prematuras “o empoderamento das raparigas com informação, habilidades e
redes de apoio para aumentar os conhecimentos sobre si próprios, o mundo que as rodeia e que
sejam capazes de tomar decisões sobre as suas vidas” (GdM 2015; p. 10).
Apesar de ser dinâmica, a cultura leva muito tempo a mudar e a sua mudança acontece sempre
sob influência de outros factores contextuais, tais como: a Pág. 17 de 45 elevação dos níveis de
escolaridade, o aumento do poder de compra enquanto consequência do desenvolvimento
económico, o aumento da disponibilidade tecnológica, a massificação de informação (media
tradicionais e redes sociais) e maior integração intercultural. Assim, nem o Governo e nem as
Organizações da Sociedade Civil (OSC), muito menos os parceiros de cooperação devem entrar
em pânico com a lentidão da mudança cultural, pois ela não só leva tempo a acontecer como
acontece em resultado da mudança dos factores mencionados acima.

b. Os ritos de iniciação

De acordi com Bassiano e De Lima 2018, os ritos de iniciação – com algumas variantes de
diferenciação – são praticados maioritariamente nas províncias do norte (Cabo Delgado,
Nampula e Niassa) e centro (Zambézia, Tete e Manica) de Moçambique. Estas duas regiões
representam a maior área territorial do país, bem como a maioria da população do país.

Para aqueles autores há indícios de ritos de iniciação também na zona sul do país, mas
assumindo outras formas e características e parecem estar já em desuso. Na discussão corrente
sobre as uniões prematuras é comum apontarem-se os ritos de iniciação como uma das causas
das uniões prematuras, da gravidez precoce e inclusive do abandono escolar por parte das
raparigas menores de 18 anos. Ora, o que várias pesquisas (por exemplo, Bassiano e De Lima
2018; Osório 2015; UNICEF 2015; Osório e Macuácua 2013) têm provado não é uma relação
directa de causa-efeito, mas, sim, evidências de como determinados conteúdos dos ritos de
iniciação (educação sexual das raparigas orientando-as a servirem e satisfazerem os homens), a
metodologia usada para transmitir esses conteúdos (o recurso à encenação de relações sexuais
com uso de objectos de aparência do órgão sexual masculino), a finalidade subjacente à
realização desses ritos (preparar a menina para o casamento, para que saiba atender os homens e
satisfazê-los, em contraposição com os rapazes que são preparados para serem chefes de família,
para “domar” as mulheres e fazerem-se respeitar por elas – ao invés de uma educação baseada na
igualdade de direitos e deveres enquanto cidadãos) impelem à união prematura, condição
suficiente para uma gravidez precoce – esta, por sua vez, uma das principais causas do abandono
Pág. 18 de 45escolar (MINEDH 2018; O País 2018; Fernando 2019) e de altos índices de
desnutrição crónica.

O conteúdo dos ritos de iniciação assenta na promoção de um quadro cognitivo cultural de


“formatação da mentalidade” das crianças para serem seguidoras cegas da cultura patriarcal. A
este propósito, a pesquisadora Conceição Osório relata que, quando estudou os ritos de iniciação,
notou que:

“pelo que ensinam e pelo modo como são transmitidas as aprendizagens, as crianças do sexo
feminino e do sexo masculino aprendem a distinguirem-se e a adoptar práticas que lhes
condicionam o acesso a direitos. Ou seja, os ritos de iniciação têm uma primeira função que é
de formar identidades, de nos dizer o que está certo e errado no nosso comportamento. Neste
sentido, os ritos são apresentados como verdades que não podemos questionar sob pena de
estarmos a violar “a nossa cultura” (Osório 2015, p. 22).

A orientação ideológica dos ritos de iniciação, documentam Conceição Osório e Ernesto


Macuácua:

“assenta na assumpção de que os direitos humanos explicitados na legislação, como é o caso da


Constituição da República, da Lei da Família, da Lei contra a Violência Doméstica e da Lei de
Promoção e Protecção da Criança, não são ou não podem ser compaginados com a realidade
cultural. Isto é, os direitos humanos, sendo importados, não podem e não devem (segundo
algumas vozes mais radicais) ser adoptados, ou então adoptados com uma certa precaução
relativista, quando se trata de defender os direitos das/os jovens que a hierarquia de poder,
presente no modelo cultural, exclui, enquanto sujeitos de direitos. Estamos a falar sobretudo de
crianças e de mulheres mas também dos homens que recebem um mandato de dominação a que
dificilmente podem escapar (Osório e Macuácua 2013, p. 15).

É assim que os ritos de iniciação são percebidos como uma das fontes que impulsionam as
uniões prematuras, resultando depois em gravidez precoce e na geração de mães e crianças
subnutridas que, de seguida, têm de enfrentar todas as consequências das dificuldades da saúde
materna - infantil. No entanto, não se critica a existência dos ritos de iniciação em si, mas
somente uma parte dos seus conteúdos e a metodologia neles usada. Nos dizeres de Osório
(2015):
“Os ritos continuam a ser, pelos factores de demarcação para a sua realização, pelas cerimónias
que os constituem e pelos sentidos que lhes são conferidos, um factor de coesão cultural. Quando
falamos em coesão cultural, falamos em elementos que identificam a pertença de cada pessoa a
uma determinada maneira de ver e de se situar no mundo. Assim a coesão contém tanto o (Pág.
19) reconhecimento da pertença através da conformação com representações e práticas
consagradas nos processos de interacção, e também de subjectivação, como o reconhecimento de
exclusão para as e os que não pertencem ao grupo.”

Portanto, os ritos de iniciação – com todos os defeitos que lhe são apontados ao longo deste
estudo - constituem uma manifestação cultural profunda, secular e que, como qualquer
manifestação cultural, contém defeitos que devem ser corrigidos. Os ritos de iniciação não se
realizam como simples momento em que as crianças têm uma oportunidade de receber roupa
nova e ter uma festa, como escreveu o jornal notícias na sua edição de 23 de Maio de 2019
“Distrito de Ngaúma: Roupa nova e festas impelem crianças para os ritos de iniciação.”

c. A pobreza nas suas múltiplas dimensões

A pobreza constitui o principal determinante no que diz respeito às uniões prematuras em


Moçambique. Alguns pais apoiam-se na ideia de suas filhas menores de 18 anos deixarem de
frequentar o ensino primário para se casarem, geralmente com um homem adulto, muito mais
velho, na expectativa de obter um rendimento para suas famílias, ter um genro que aliviará as
despesas, sendo um agregado familiar (Sitoe, 2017). Elas deixam de ir à escola para assumir os
seus novos papéis sociais, os de esposas. Mas, no fim, o problema da pobreza não fica resolvido
com essa união prematura.

A pobreza multidimensional é medida combinando diferentes componentes do bem-estar da


população (metodologia de Alkire-Foster) em contraposição com outras medições da pobreza do
rendimento ou do consumo. Na medição da pobreza multidimensional, considera-se o acesso a
um conjunto de seis elementos mais estáveis:

(i) Pelo menos um membro do agregado familiar ter finalizado a escola primária completa;

(ii) Ter acesso à fonte de água segura;


(iii) Ter acesso a saneamento melhorado;

(iv) Ter acesso à energia;

(v) A casa possuir cobertura com materiais convencionais;

(vi) Posse de bens duráveis.

Considera-se pobre o agregado familiar privado de, pelo menos, 4 dos 6 indicadores
apresentados. As províncias com os mais altos índices de pobreza (Zambézia, Cabo Delgado,
Nampula, Tete, Niassa e Manica) são, coincidentemente, aquelas onde se praticam ritos de
iniciação e, ao mesmo tempo, são as províncias com as mais altas taxas de uniões prematuras e
gravidez precoce.

Por um lado, as raparigas dos agregados familiares mais pobres correm o dobro do risco de
casarem antes dos 18 anos, em comparação com as raparigas dos agregados mais ricos (Walker,
2005). Por outro lado, as jovens que vivem em agregados familiares chefiados por mulheres têm
uma probabilidade significativamente mais baixa de casar antes dos 18 anos de idade, do que as
raparigas que vivem em agregados chefiados por homens (UNICEF et al., 2014).
CAPÍTULO III:

3.1. METODOLOGIA

Este capítulo tem como objectivo apresentar os procedimentos metodológicos para


operacionalização da pesquisa de campo deste estudo e atingir o objectivo principal estabelecido:
analisar a eficácia das estratégias policiais de prevenção e combate as uniões prematuras em
Moçambique. Em literatura, metodologia significa maneiras diferentes de fazer coisas com
propósitos diferentes, ou seja, maneiras de formular problemas, hipóteses, métodos de
observação e recolha de dados, medida de variáveis e técnicas de análise de dados.

Este capítulo apresenta as seguintes secções: método de abordagem, população alvo, técnicas e
instrumentos de recolha de dados.

3.2. Método de Abordagem


Para Lakatos e Marconi (1982, p. 17) método é a forma de proceder ao longo de um caminho.
Na ciência, os métodos constituem os instrumentos básicos que ordenam de início o pensamento
em sistemas, traçam de modo ordenado a forma de proceder do cientista ao longo de um
percurso para alcançar um objectivo (Trujillo, 1974). A característica distintiva do método é a de
ajudar a compreender, no sentido mais amplo, não os resultados da investigação científica, mas o
próprio processo de investigação (Kaplan apud Grawitz, 1975).

Richardson (1999) comenta que método em pesquisa significa a escolha de procedimentos


sistemáticos para a descrição e explicação de fenómenos. O autor classifica os métodos em
qualitativos e quantitativos.

A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o
aprofundamento da compreensão de um grupo social de uma organização. Os pesquisadores que
utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém
ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de
factos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interacção) e se valem de
diferentes abordagens (Gerhardt & Silveira, 2009).

A pesquisa qualitativa preocupa-se com aspectos da realidade que não podem ser quantificados,
centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. Para Minayo
(2004), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenómenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

As características da pesquisa qualitativa são: objectivação do fenómeno; hierarquização das


acções de descrever, compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o local em
determinado fenómeno; observância das diferenças entre o mundo social e o natural; respeito ao
carácter interactivo entre os objectivos buscados pelos investigadores, suas orientações teóricas e
seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto
que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências (Gerhardt & Silveira, 2009).

Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa quantitativa podem ser


quantificados. Como as amostras geralmente são grandes e consideradas representativas da
população, os resultados são tomados como se constituíssem um retracto real de toda a
população alvo da pesquisa. A pesquisa quantitativa centra-se na objectividade e recorre à
linguagem matemática para descrever as causas de um fenómeno e as relações entre variáveis,
etc. (Gerhardt & Silveira, 2009).

Para o alcance dos objectivos do estudo iremos recorrer ao método qualitativo complementado
pelo quantitativo. A conjugação das abordagens qualitativa e quantitativa permitirá recolher mais
informações do que se poderá conseguir isoladamente.

A escolha da abordagem qualitativa justifica-se por seu fundamento humanista importante na


compreensão da realidade social e, sobretudo, por sua afinidade com a natureza mutante do
mundo social (Filstead, 1986). Os princípios humanistas deste método constituir-se-ão num forte
argumento para o desenho deste estudo (Taylor & Bodgam, 1986 citados por Serrano, 1994). O
uso da abordagem qualitativa será fundamental na recolha de opiniões, sentimentos,
experiências, sugestões e representações que os sujeitos da pesquisa constroem ou fazem em
relação as estratégias policiais de prevenção e combate às uniões prematuras.
A abordagem quantitativa permitirá recolher dados estatísticos sobre a evolução dos casos de
uniões prematuras em Moçambique durante o período em análise.

A opção por uma metodologia mista parte do pressuposto de que as duas (2) abordagens
(qualitativa e quantitativa) se complementam: as duas abordagens têm pontos fracos e fortes e os
elementos fortes de uma complementam as fraquezas da outra. Como refere Terence (2006, p.3),
“as abordagens quantitativas e qualitativas, apesar das suas especificidades, não se excluem”.

3.3. Técnicas e instrumentos de recolha de dados


3.3.1. Técnicas de recolha de dados
3.3.1.1. Entrevista
Consiste na obtenção de informações sobre o assunto abordado na pesquisa através da
interacção da pesquisadora com os participantes da pesquisa. A entrevista permitirá a interacção
da pesquisadora com os entrevistados, possibilitando captar atitudes e reacções, principalmente
sinais não-verbais como: gestos, risos e silêncios, os quais possuem significados importantes
para a pesquisa (Minayo, 2004 apud Neves & Domingues, 2007). Enquanto técnica de recolha de
dados, a entrevista será bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que os
agentes da polícia sabem, pretendem fazer, fazem ou fizeram em relação ao processo de
prevenção e combate às uniões prematuras, bem como acerca das suas explicações ou razões a
respeito das coisas precedentes (Selltiz, 1974).

Para efeitos deste estudo aplicar-se-á a entrevista semiestruturada, segundo a qual a


pesquisadora organizará um conjunto de questões sobre o tema em estudo, permitindo o
surgimento de outras questões com o desenrolar da entrevista (Gerhardt & Silveira, 2009).

3.4. População alvo e amostragem


3.4.1. População alvo

O estudo definirá como população alvo os membros da Polícia da República de Moçambique


afectos ao Departamento Central de Atendimento à Família e Menores Vítimas de Violência em
Maputo. Comumente fala-se de população como referência ao total de habitantes de determinado
lugar (Neves & Domingues 2007). Martins (2000) afirma ainda que ao falar de população trata-
se do conjunto de indivíduos ou objectos que apresentam em comum determinadas
características definidas para o estudo.

3.4.2. Amostragem
Segundo Neves e Domingues (2007), a amostra é o subconjunto da população, por meio do
qual se estabelecem ou se estimam as características desse universo. Richardson (1999) define
amostra como um subconjunto da população alvo que habita num determinado lugar.

Para Doxsey e De Riz (2003, Apud Gerhardt & Silveira, 2009, p. 67), numa pesquisa é sempre
essencial determinar qual será a principal fonte das informações a serem colectadas.

Para a pesquisa qualitativa, o pesquisador selecciona os sujeitos de acordo com o problema da


pesquisa. Quem sabe mais sobre o problema? Quem pode validar tal informação com outro ponto
de vista ou uma visão mais crítica dessa situação problemática?

Assim, a escolha dos participantes desta pesquisa será baseada na procura de indivíduos sociais
que tenham uma vinculação significativa com o tema em estudo (Neves & Domingues, 2007).

Desta forma, a amostra da presente pesquisa será composta por 15 Agentes da Polícia de que
lidam com a questão das uniões prematuras no Departamento de Atendimento à Família e
Menores Vítimas de Violência, nomeadamente: um (1) Chefe de Departamento, (3) Chefes de
repartição, oito (8) Chefes de secção, Três (3) Técnicos de atendimento.

Esta constituirá uma amostra relativamente pequena, contudo, para Bogdan e Biklen (1994), na
investigação qualitativa os métodos de recolha de dados conduzem a um trabalho intenso, uma
vez que o objectivo é a obtenção de respostas e explicações através da exploração com maior
profundidade das questões sob investigação, contrariamente à investigação quantitativa em que
os investigadores usam grandes amostras com o objectivo de generalizar os resultados das
pesquisas.

Os Agentes da Polícia serão escolhidos por conveniência para se explorar as facilidades que a
investigadora tem para conseguir o grupo sobre o qual incide o estudo e este procedimento é
defendido por Gil (1999). A sua escolha permitirá a recolha de opiniões, sentimentos,
experiências, representações que os sujeitos da pesquisa constroem sobre as estratégias de
prevenção e combate às uniões prematuras. Trata-se, pois, de uma amostra não-probabilística,
pois será uma amostra formada em função de escolha explícita da investigadora. É o caso da
amostra típica em que a partir das necessidades do estudo, o investigador selecciona casos
julgados exemplares ou típicos da população-alvo ou de uma parte desta (Laville & Dionne,
1999).

A pesquisadora acredita que esta será uma amostra ideal, pois segundo Minayo (2004), a
amostra ideal na pesquisa qualitativa é a que reflecte o conjunto em suas múltiplas dimensões.

3.4.2.1. Pesquisa Bibliográfica


Consistirá no desenvolvimento da pesquisa a partir de material já elaborado acerca das
estratégias de prevenção e combate às uniões prematuras, sendo para tal constituído
principalmente por teses, livros, páginas da internet e artigos científicos, possibilitando a
pesquisadora um melhor entendimento da matéria em torno do tema em estudo (Gil, 1999).
Enquanto técnica permitirá a recolha de diversas opiniões e pontos de vista de vários autores no
que se refere à prevenção e combate às uniões prematuras.

3.4.2.2. Pesquisa documental


Para Gil (1999), esta técnica difere-se da pesquisa bibliográfica por consistir no levantamento
de dados em fontes sem tratamento analítico, tais como documentos oficiais, reportagens de
jornais, relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, etc. Para o presente estudo a pesquisa
documental consistirá no levantamento de dados em fontes sem tratamento analítico, tais como:
livro de ocorrências, relatórios anuais, planos de acção na prevenção de uniões prematuras
(Fonseca, 2002).

3.4.3. Instrumentos de recolha de dados


Os instrumentos proporcionarão meios e técnicas para garantir a objectividade e a precisão
no estudo dos factos; fornecerão a orientação necessária à realização da pesquisa no que diz
respeito à obtenção, processamento e à validação dos dados pertinentes (Gil, 1999).

Os objectivos e o desenho da pesquisa serão os elementos básicos para definir os instrumentos de


recolha da informação. A natureza deste estudo requer instrumentos capazes de apreender as
características decisivas dos respondentes. Com efeito, a pesquisadora utilizará o diário de
pesquisa, inquérito por questionário e guião de entrevista.
3.4.3.1. Diário de pesquisa
Segundo Bogdane e Biklen (1994), o diário de pesquisa é um instrumento no qual o
investigador reúne as notas que obtém das suas observações diárias. Na presente pesquisa este
instrumento consistirá nas notas que a pesquisadora irá tomar das suas constatações no processo
de recolha de dados.

3.4.3.2. Inquérito por Questionário


Consiste num instrumento de recolha de dados constituído por uma série ordenada de
perguntas, as quais serão respondidas por escrito pelos participantes da pesquisa sem a presença
da pesquisadora. Possibilitará a obtenção de dados a partir de um conjunto pré-determinado de
perguntas à amostra definida no estudo. É, portanto, um conjunto estruturado de questões
expressas num papel, destinado a explorar a opinião das pessoas a quem nos dirigimos.

Pretende-se com este instrumento recolher dados sobre as estratégias de prevenção e combate as
uniões prematuras, além da percepção dos Agentes da Polícia sobre a caracterização das
actividades realizadas no âmbito do atendimento às vitimas de uniões prematuras. Algumas
perguntas serão construídas de forma a permitir avaliar as atitudes e opiniões que visam o
conhecimento quantificado e directo do comportamento dos sujeitos (Gerhardt & Silveira, 2009).

3.4.3.3. Guião de entrevista


Consiste num conjunto de perguntas pré-elaboradas que servirão de orientação para a
pesquisadora com vista a não se desviar dos seus objectivos, nas quais poderão ser acrescentadas
outras perguntas que surgirem durante a interacção com os entrevistados, e este procedimento é
defendido por Richardson (1999). O guião de entrevista a aplicar será organizado em função de
perguntas básicas e principais para atingir o objectivo da pesquisa. Tendo em conta que o estudo
apresenta uma entrevista semiestruturada, as perguntas serão desenhadas com base nesta
tipologia: opinião, conhecimento, experiência e sentimento sobre os critérios de definição das
áreas de patrulha. O guião de entrevista será direccionado aos agentes da Polícia. Esta escolha
basea-se na procura de indivíduos sociais que tenham uma vinculação significativa com o tema
em estudo, e este procedimento é defendido por Neves e Domingues (2007).
Capitulo VI APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Este capítulo vai se dedicar na apresentação, análise e interpretação dos dados recolhidos
através dos instrumentos e técnicas de recolha de dados. Os referidos dados serão analisados à
luz dos diferentes autores e teorias consultados para efeitos deste estudo, que constam no
capítulo da Revisão da Literatura.

Este capítulo é constituído por cinco (5) secções a saber: Processo de recolha de dados;
Caracterização do local de estudo; Quadro legal aplicável às uniões prematuras em Moçambique;
Situação criminal das uniões prematuras em Moçambique; e estratégias policiais de prevenção e
combate às uniões prematuras em Moçambique.

4.1. Processo de recolha de dados

O Processo de recolha de dados decorreu no Departamento de Atendimento a Família e Menores


Vítimas de Violência, do Comando Geral da PRM. Neste âmbito, foram recolhidos dados
estatísticos criminais sobre uniões prematuras em Moçambique nos últimos três (3) anos (2019,
2020 e 2021). Para além da recolha de dados estatísticos criminais, foram administradas
entrevistas à Chefe de Departamento Central, Chefe de Repartição de Estatística, Estudo e
Difusão, Chefe de Repartição de Atendimento às Vítimas, Chefe de Secção de Estatística, Chefe
de Secção de Atendimento à Criança, para além de Técnicos afectos nas diversas áreas do
Departamento.

4.2 Caracterização do local de estudo

O Departamento de Atendimento à Família e Menores Vítimas de Violência, abreviadamente


designado por DAFM, é uma unidade orgânica de apoio do Comando Geral da Polícia da
República de Moçambique. Situa-se na Cidade de Maputo em Moçambique, Av. Eduardo
Mondlane, Nº 3565, Anexo 1º andar. Este é representado a nível nacional através dos
Departamentos Provinciais, Gabinetes e Secções distritais, além de subsecções de atendimento a
nível dos Postos Administrativos e localidades.
Nos termos do artigo 21 do Estatuto Orgânico da Polícia da República de Moçambique,
aprovado pelo Decreto nº 85/2014, de 31 de Dezembro, o Departamento de Atendimento à
Família e Menores Vítimas de Violência tem as seguintes funções:
 Garantir o atendimento e apoio integrado às vítimas de violência doméstica, a criança e
idosos;
 Propor metodologias e acções que permitam mitigar os efeitos da violência doméstica,
crianças e idosos;
 Propor medidas de prevenção e combate a delinquência juvenil e da criança em conflito
com a lei;
 Coligir, sistematizar e analisar a informação relativa a casos de violência doméstica, bem
como elaborar estudos e propor medidas que contribuam para a sua prevenção e
combate;

4.3 Quadro legal aplicável à prevenção e combate uniões prematuras

Nesta secção é apresentado o quadro legal aplicável para abordagem preventiva e combativa às
uniões prematuras em Moçambique. Ou seja, pretende-se nesta secção apresentar os
instrumentos legais Moçambicanos que falam sobre as uniões prematuras.

4.3.1 Constituição da República de Moçambique

Tem-se em destaque a lei mãe, que é a Constituição da República de Moçambique (CRM), como
um dos instrumentos que protege os interesses da criança, ao estabelecer no seu artigo 47, que as
crianças têm o direito à protecção e aos cuidados necessários ao seu bem-estar. O mesmo
dispositivo legal, advoga ainda no seu artigo 121 que todas as crianças têm direito à protecção da
família, da sociedade e do Estado, tendo em vista o seu desenvolvimento integral.

Em relação ao casamento, o artigo 119 da CRM estabelece que no quadro do desenvolvimento


de relações sociais assentes no respeito pela dignidade da pessoa humana, o Estado consagra o
princípio de que o casamento se baseia no livre consentimento, nos termos da lei. Ou seja, o
casamento no ordenamento jurídico moçambicano, só é aceite quando for estabelecido dentro
dos termos da lei.

Lei da Família
A Nova Lei da Família, aprovada pela Lei n.º 22/2019, de 11 de Dezembro, a qual revoga a Lei
n.10/2004, de 25 de Agosto (antiga Lei da Família), é um instrumento legal que compreende um
conjunto de normas que regulam as relações entre pessoas ligadas entre si por laços de
familiaridade, que o Estado reconhece efeitos jurídicos, nomeadamente, a procriação, o
parentesco, a afinidade, o casamento e a adopção.

O casamento é definido como união voluntária e singular entre um homem e uma mulher, com o
propósito de constituir família, mediante comunhão plena de vida (art.º. 8 da Lei da Família).
Quanto a modalidade de casamentos, a lei estabelece a existência do casamento civil, religioso
ou tradicional (art.º 17, Lei da Família). O casamento religioso e o tradicional produzem efeitos
previstos na respectiva lei, desde que esteja devidamente transcrito pelos serviços do registo civil
nos termos da lei (nº 2, art.º 18 Lei da Família).

Contudo, para celebração do casamento no ordenamento jurídico moçambicano, torna-se


necessário que estejam observados todos os pressupostos necessários, dos quais se destaca a
idade núbil exigida por lei, que é, neste caso, a idade de 18 anos. O casamento religioso e o
tradicional também só podem ser contraídos por quem tiver a capacidade matrimonial exigida na
lei civil (art. 26, conjugado com o art.º. 32, al a), da Lei da Família).

Uma das principais novidades trazidas pela nova Lei da Família no âmbito da prevenção e
combate às uniões prematuras, consiste na revogação do nº 2 do art. 30 da Lei n.10/2004, de 25
de Agosto (antiga lei da família), que fala acerca da emancipação para o casamento com 16 ou
17 anos.

A revogação trazida na Lei da Família sobre a idade núbil, visa, por um lado, conformar a nova
Lei da Família com as disposições da Constituição da República sobre:

 Direitos da criança: o direito de exprimir a sua opinião nos assuntos que lhes dizem
respeito, o direito à protecção e ao bem-estar e o princípio do superior interesse da
criança (art. 47);
 Infância: o direito à protecção pela família e do princípio do desenvolvimento integral (nº
1, do art. 121);
 Princípio do livre consentimento para o casamento (nº. 3, do art. 119).
Por outro lado, a revogação sobre a idade núbil, visa essencialmente, adequar a Lei da Família às
políticas e estratégias vigentes sobre a eliminação dos casamentos prematuros; a Lei sobre
Promoção e Protecção dos Direitos da Criança, Lei nº 7/2008, de 9 de Julho (art. 3); A
Declaração Universal dos Direitos do Homem (nº 2, do art. 16,), o Protocolo à Carta Africana
dos Direitos do Homem e dos Povos relativo aos Direitos da Mulher em África (als. a) e b), do
art. 6,), Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento (als. a) e b), do nº 2, do art. 8,) e a
Convenção sobre os Direitos da Criança (art. 1).

No entanto, de acordo com o n. 1, do artigo 2, da Lei n. 19/2019, de 22 de Outubro, Lei de


Prevenção e Combate as Uniões Prematuras, qualquer forma de ligação entre pessoas, em que
uma delas seja criança, com intuito de constituir uma família, deve ser considerada
união/casamento prematuro. A idade núbil vigente é a de 18 anos ou mais, nos termos da alínea
a), art.32, Lei 22/2019, de 11 de Dezembro.

A questão da oposição dos Pais ou Tutor, prevista no art. 41 da Nova Lei da Família, é um
postulado legal que fazia sentido em conjugação com o n.2 do art. 30 da lei revogada, uma vez
que a nova lei revogou a possibilidade de celebração do casamento com 16 ou 17 anos, em que
se exigia consentimento dos pais ou tutor. Com isto, subentende-se que o artigo 41 da Nova Lei
da Família perde o seu sentido de existência.

Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras

Com a aprovação da Lei n.º 19/2019, de 22 de Outubro, Lei de Prevenção e Combate às Uniões
Prematuras, Moçambique deu mais um passo na promoção dos direitos e protecção integral da
Criança. Esta Lei tem por objecto a proibição, prevenção, mitigação e penalização das uniões
prematuras, bem como a protecção das crianças que se encontrem nessas uniões.

Não obstante, sendo Moçambique um País onde as uniões prematuras constituem um fenómeno
complexo, a sua implementação trará inúmeros desafios aos diferentes sectores nas instituições
de Administração da Justiça, bem como na sociedade moçambicana.

Estudos feitos indicam que Moçambique está entre os 10 países a nível mundial, com maior
prevalência de uniões prematuras. Ocupa o 7º lugar em África e o 3º a nível da África Austral.
Dados indicam ainda que, a criança representa cerca de 53% da população e destas, 48% unem-
se antes dos 18 anos de idade.
Estrutura da Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras
A Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras comporta cerca de 50 artigos, subdivididos
em 4 títulos, para além do preâmbulo, sendo:

 Título I: Princípios Gerais;


 Título II: Proibição de Noivado, casamento e Uniões Prematuras e Medidas de
Prevenção e Mitigação;
 Título III: Infrações Penais;
 Título IV: Disposições finais e transitórias.

Conceito de união prematura

É a ligação entre pessoas, em que pelo menos uma seja criança, formada com propósito imediato
ou futuro de constituir família.

O casamento, o noivado, união de facto ou qualquer relação que seja equiparável à relação de
conjugalidade, independentemente da sua designação regional ou local, envolvendo criança, são
havidos como união prematura para os termos da Presente Lei.

Proibição de Celebração

Nenhuma autoridade, seja administrativa, tradicional, local ou religiosa, pode legitimar por
qualquer forma e no âmbito das suas funções, a constituição da união com o propósito
imediato ou futuro de constituir família, na qual uma ou ambas as pessoas sejam crianças.

Objectivos da Lei

 Proibir as uniões com ou entre crianças;


 Adoptar medidas para fazer cessar uniões prematuras já existentes;
 Definir critérios de protecção de direitos adquiridos pela criança em situação de união
prematura e seus eventuais filhos;
 Definir as responsabilidades do Conselho de Ministros na adopção de mecanismos para a
mitigar os efeitos negativos dos casamentos prematuros ( Ex. Estratégia Nacional de
Prevenção e Combate - 2015).
Princípios Fundamentais

 A protecção das crianças contra as uniões prematuras;


 O estabelecimento da idade mínima de 18 anos para as uniões, sem quaisquer excepções;
 A irrelevância do consentimento da criança para as uniões prematuras;
 O superior interesse da criança;
 A participação da criança na tomada de decisões sobre a sua vida;
 A gratuitidade no acesso a serviços prestado pelo Estado, relacionados com a aplicação
desta lei.

Situação criminal das uniões prematuras em Moçambique

Nesta secção é apresentada a situação criminal das uniões prematuras registada durante o período
em estudo, a partir dos relatórios anuais das estatísticas das ocorrências colhidas junto ao
Departamento de Atendimento a Família e Menores Vítimas de Violência. Para o efeito,
considerou-se o agrupamento de dados em função do género, idade e tipificação criminal.

De referir que, os casos de Uniões prematuras, foram ao longo dos períodos de análise até 2019
designados por Casamentos prematuros, em conformidade com a Estratégia Nacional de
Prevenção e Combate dos Casamentos Prematuros (2016-2019), cuja Matriz de Acções inclui
responsabilidades específicas para o MINT (Comando Geral da PRM), com destaque a
necessidade de prover, à toda Criança vítima de Casamento Prematuro, informação de serviços
de apoio, aconselhamento, encaminhamento e acompanhamento na Rede de Apoio, bem como a
capacitação de agentes da Polícia.

No entanto, com a aprovação da Lei de Prevenção e Combate as Uniões prematuras, através da


Assembleia da República, a partir de 22 de Outubro de 2019, as Uniões prematuras passaram a
configurar crime. Todavia, no presente trabalho de pesquisa, e de acordo com a informação
colhida através dos instrumentos de recolha de dados, consideramos Casamentos prematuros aos
casos registados em 2019, pelo facto dos dados existentes até Novembro de 2019 terem sido
recolhidos nesta perspectiva. Porém, para os anos posteriores (2020 e 2021), abriu-se espaço para
análise criminal nos casos havidos pós entrada em vigor da Lei das Uniões prematuras (Lei
19/2019 de 22 de Outubro).

Assim, de acordo com os relatórios anuais do Departamento de Atendimento a Família e


Menores Vítimas de Violência, durante o período em estudo (2019 à 2021), a Polícia registou um
número cumulativo de 760 casos de uniões prematuras, destes 149, correspondentes a 20% em
2019; 213, que equivalem a 28%, em 2020; e 398, que corresponde a 52% em 2021. Como se
pode notar, os dados revelam um aumento progressivo de uniões prematuras de 2019 a 2021
(vide a tabela abaixo).

Ano Nº de casos Percentagem


2019 (casamentos prematuros) 149 20%
2018 (uniões prematuras) 213 28%
2019 (uniões prematuras) 398 52%
Total 760 100%

De acordo com a Chefe de Departamento, a subida dos casos criminais sobre uniões prematuras
justifica-se pelo trabalho de disseminação e consciencialização da comunidade acerca da lei de
prevenção e combate às uniões prematuras, passo fundamental para o acesso à justiça. Ademais,
ao se olhar a tipificação das uniões prematuras, podem ser identificados os seguintes crimes: (i)
noivado com criança, (ii) violência contra criança, (iii) violação de criança, (iv) actos sexuais
com crianças, (v) auxílio a união com criança, (vi) união com criança, (vii) autorização e
incentivo para união, (viii) coação para união, (ix) entrega de criança como troca, pagamento.

Os casos de casamentos prematuros registados no ano 2019, foram notificados pelas seguintes
Províncias, nos respectivos números, nomeadamente: Cidade Maputo (02), Inhambane (11),
Sofala (04), Tete com (6), Zambézia com (83) Niassa (25) e Cabo Delgado (18). Não constam da
tabela abaixo, o registo de casos de casamentos prematuros nas Províncias de Maputo, Gaza,
Manica e Nampula o que não significa a não ocorrência de casamentos prematuros.
Província Sexo Idade Local de N° de casos Total
Ocorrência
Em C. Maputo F 12-17 2 2
Inhambane F 11 11
Sofala F 4 4
F 12-15 Cidade de Tete 2
Tete F 12 Changara 1 06
F 13-14 Moatize 2
F 12 Zumbo 1
Zambézia F 83 83
F 14-17 Lichinga 9
F 15 Cuamba 1
F 14,15,17 Mandimba 3
Niassa
F 15 Maua 1
25
F 15,15,16 Nipepe 3
F 14,15,15 Ngauma 3

F 16 Chimbunila 1
F 17 Muembe 1
F 14-17 Sanga 2
F 16 Lago 1
C. Delgado F 18 18
Total 149
relação ao ano 2020, os 213 casos de Uniões Prematuras foram notificados pelas seguintes
Províncias: Cidade Maputo (3), Província de Maputo (14), Gaza (44), Inhambane (30), Sofala
(30), Manica (44), Tete (47), Nampula (1).

TIPOLOGIA CRIMINAL
Noiva Violência Violação Actos sexuais Auxilio a união União com Autorização e Coação
Distritos Total
do contra de criança com crianças Com Crianca Crianças incentivo para união para
com criança união
crianç
a
Cidade de Maputo        1   2     3 
Província de Maputo 1  1   2 2 8      14
Gaza 44               44 
Inhambane       4 10 14   2 30 
Sofala 2 2    1 9 13 3    30
Manica 1 4   14   19 5 1  44
Tete   1 21 25          47
Nampula           1     1 
48   8  21 47   21  57  8  3  213
TOTAL
Para o ano 2021, o Departamento registou um total de 398 casos de Uniões Prematuras, contra
225 Casos, tendo registado um aumento em 173 casos, correspondentes a 76.9 %, destacando as
Províncias de Tete (94), Manica (62) Gaza (58) casos, equivalentes a 23.6%, 15.6% e 14.6%,
respectivamente. A cidade de Maputo é que apresentou menor nº de casos, com o registo de
apenas 1 caso.

TIPOLOGIA CRIMINAL
Noiva Violên Violaçã Actos Auxilio a União Autorizaçã Coação Entrega de
Distritos do cia o de sexuais união Com com oe para criança Total
com contra criança com Criança Criança incentivo união como
crianç criança crianças s para união troca,
a pagamento
ou dadiva

Cidade de
Maputo           1       1
Província de
Maputo   1 1 16 3 15 1 1   38
Gaza 58                 58
Inhambane       6 8 29 1 1 1 46
Sofala 1 1 2 3   13       20
Manica 2 1 1 28 1 20 6 3   62
Tete     84 9     1     94
Zambezia 6         4 1     11
Nampula 8 3 8 3   4       26
Niassa 6   4 4 1 4       19
Cabo Delgado 1   1 10 2 9       23
Total 82 6 101 79 15 99 10 5 1 398

Estratégias Policiais de Prevenção e Combate as Uniões Prematuras em Moçambique

Na presente secção abordaremos sobre as estratégias policiais de prevenção e combate as uniões


prematuras, adoptadas pela PRM no Departamento de Atendimento à Família e Menores Vítimas
de Violência.

No âmbito da prevenção e combate as uniões prematuras, a Polícia tem desempenhado um


fundamental papel na protecção dos direitos da criança, garantindo o seu bem-estar na sociedade
através de realização de sessões de sensibilização na comunidade, escolas, instituições públicas e
privadas.
Além destas actividades, com vista a garantir a protecção dos direitos da criança, tem sido
realizada troca de experiência da Polícia a nível dos países da SADC, bem como a realização de
formações contínuas em serviço aos agentes da Polícia afectos aos gabinetes e secções de
atendimento a nível dos Postos Administrativos, localidades, distritos, cidades e províncias, em
matérias de procedimentos de atendimento.

De referir que além destas actividades, existem as denominadas medidas cautelares anteriores e
posteriores às uniões prematuras.

As medidas cautelares anteriores a união são aquelas desencadeadas com vista a impedir a
ocorrência de uma união prematura, das quais se destacam as seguintes:

 Suspensão do noivado até comprovação da idade;


 Impedir o prosseguimento da instrução do processo para casamento até comprovação da
idade núbil;
 Impedir a união por tempo determinado não superior a 3 anos, quando não tenha sido
possível comprovar a idade;
 Instruir sobre procedimentos concretos para a confirmação da idade;
 Obrigar a qualquer autoridade a depor ou fornecer informação e documentos que
assegurem a tomada de uma decisão.

As medidas cautelares posteriores a união são aquelas desencadeadas após a ocorrência de uma
união prematura, das quais se destacam as seguintes:

 Suspensão do noivado até comprovação da idade;


 Impedimento de contacto durante a suspensão;
 Arrolamento dos bens e indicação de fiel depositário dos bens doados;
 Proibição de celebração de contrato sobre bens comuns ou a disposição destes por
qualquer forma, salvo com autorização judicial;
 Decisão sobre a guarda e alimentos dos menores;
 Garantir protecção da criança (com a família ou lar);
 Inibir o poder parental, ordenar prestação de caução.
Apesar da realização das estratégias de prevenção e combate acima arroladas, a Polícia continua
enfrentado desafios dos quais se tem a destacar a questão do rácio da polícia e o atendimento. O
número dos gabinetes existente a nível nacional ainda não corresponde ao rácio da população, o
que significa que existe a necessidade de construção de gabinetes de atendimento com vista a
aproximar cada vez mais os serviços policiais às comunidades. Associado a este último desafio,
verifica-se a existência de distancia entre a vítima e os serviços policiais de atendimento, o que
de certa forma contribui para que haja desistência por parte da vítima. O outro desafio está
aliado à capacitação dos líderes comunitários, tradicionais e religiosos em matérias de uniões
prematuras, visto que estes são os principais líderes de opinião nas comunidades.
CAPÍTULO V: CONCLUSÕES E SUGESTÕES
5.1 Conclusões

O estudo vem ao encontro da necessidade actual da Polícia da República de Moçambique, em


particular o Departamento de Atendimento a Família e Menores Vítimas de Violência, em
aprimorar os seus conteúdos de prevenção, de modo a garantir a Protecção dos Direitos da
Criança no âmbito das uniões prematuras em Moçambique.

O problema de investigação levantado foi o seguinte: até que ponto as estratégias Policiais
são eficazes na prevenção e combate as uniões prematuras em Moçambique? Neste sentido, o
objectivo geral do estudo foi analisar a eficácia das estratégias policiais de prevenção e combate
as uniões prematuras em Moçambique. Este objectivo foi desdobrado nos seguintes objectivos
específicos: identificar o quadro legal aplicável às uniões prematuras em Moçambique; descrever
a situação criminal das uniões prematuras em Moçambique; avaliar a eficácia das estratégias
policiais de prevenção e combate às uniões prematuras em Moçambique.

De acordo com os resultados da pesquisa, o Departamento de Atendimento a Família e


Menores Vítimas de Violência contou com 422 subunidades, sendo 21 Gabinetes e 401 Secções
a nível nacional, localizados nos Comandos Provinciais, Distritais, Esquadras e Postos Policiais.
As estratégias policiais de prevenção e combate às uniões prematuras consistem na realização de
acções de sensibilização da população sobre os direitos da criança. Estas palestras têm sido
realizadas na comunidade, escolas, instituições públicas e privadas. Alem destas actividades, a
polícia tem realizado formações para capacitação dos agentes afectos aos gabinetes de
atendimento. Não obstante, apesar da realização das estratégias de prevenção e combate, a
Polícia continua enfrentado desafios dos quais se tem a destacar a questão do rácio da polícia e o
atendimento. O número dos gabinetes existente a nível nacional ainda não corresponde ao rácio
da população, o que significa que existe a necessidade de construção de gabinetes de
atendimento com vista a aproximar cada vez mais os serviços policiais às comunidades.

Em relação ao quadro legal aplicável às uniões prematuras em Moçambique, temos como


principais instrumentos de protecção dos direitos da criança, a Constituição da República de
Moçambique, a Lei da Família, o Código Penal, e de forma específica a Lei de Prevenção e
Combate às Uniões Prematuras. De forma geral estes instrumentos proíbem e punem a
constituição de uma união com o propósito imediato ou futuro de constituir família, na qual uma
ou ambas as pessoas sejam crianças.

Os resultados da pesquisa indicam ainda que de acordo com os relatórios anuais do


Departamento de Atendimento a Família e Menores Vítimas de Violência, durante o período em
estudo (2019 a 2021), a Polícia registou uma evolução progressiva de casos de uniões
prematuras, com um número cumulativo de 760 casos de uniões prematuras, destes 149,
correspondentes a 20% em 2019; 213, que equivalem a 28%, em 2020; e 398, que corresponde a
52% em 2021.

O aumento de casos justifica-se pelo trabalho de disseminação de informações e


consciencialização da comunidade acerca da lei de prevenção e combate às uniões prematuras,
passo fundamental para o acesso à justiça.
Sugestões

Em função das conclusões obtidas neste estudo, sugerimos o seguinte:

 Disseminação da Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras nas Comunidades,


com enfoque nas escolas e lideranças tradicionais e religiosas
 Intensificação de sessões de capacitação de agentes da Polícia em Procedimentos de
atendimento às vítimas de uniões prematuras
 Implantação de mais Gabinetes de Atendimento, com abrangência às localidades e
povoações.

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Lei da Promoção e Protecção dos Direitos da Criança, aprovada pela Lei n.º 7/2008 de 9 de
Julho.
Lei n° 19/2019, de 22 de Outubro que estabelece o regime jurídico aplicável a proibição,
prevenção e mitigação das Uniões Prematuras em Moçambique.
Selemane, Thomas , "O impacto das uniões prematuras na educação, saúde e nutrição em
Moçambique", 2019.
Guião de entrevista

1. Quais são as atribuições da Polícia no Departamento de Atendimento à Família e


Menores Vítimas de Violência?
2. Qual é o papel da Polícia na prevenção e combate as uniões prematuras?
3. Quais são os instrumentos normativos a que se recorre para fazer face às uniões
prematuras?
4. Como se descreve a situação criminal das uniões prematuras em Moçambique?
5. Qual é a média anual de casos de uniões prematuras atendidos pelo Departamento?
6. Que factores concorrem para ocorrência das uniões prematuras?
7. Quais são as províncias de maior incidência criminal de casos de uniões prematuras, e
que factores que podem justificar essa incidência?
8. Que estratégias a Polícia tem adoptado para prevenir e combater as uniões prematuras?
9. Como se caracterizam as actividades policiais de prevenção e combate às uniões
prematuras?
10. Quais são os principais desafios na implementação da lei de prevenção e combate às
uniões prematuras?

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