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Resumo
As infrações tributárias são uma violação das leis fiscais ou regulamentos que governam o pagamento
de impostos e outras obrigações fiscais. Em Moçambique, as principais leis fiscais incluem a Lei do
Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), a Lei do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares (IRPS), a Lei do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRPC), a Lei de
Direitos Aduaneiros e a Lei do Imposto sobre a Propriedade. As infrações tributárias mais comuns em
Moçambique incluem não registro para fins fiscais, não pagamento de impostos, evasão fiscal e uso de
documentos falsos. É importante estar ciente das obrigações fiscais e dos prazos para declaração e
pagamento de impostos para evitar infrações tributárias e suas consequências financeiras e legais. A
metodologia adotada neste artigo consistiu na revisão da literatura pertinente ao tema, na análise da
legislação tributária moçambicana e na pesquisa de decisões judiciais relevantes. A pesquisa foi
realizada em fontes oficiais, como o site da Autoridade Tributária de Moçambique e do Ministério da
Justiça, bem como em bases de dados jurídicas e bibliográficas. Em conclusão, as infrações tributárias
são condutas praticadas pelo contribuinte ou por terceiros que violam as normas tributárias e as
obrigações fiscais, sujeitando-se às sanções previstas na lei.
Abstract
Tax infractions are a violation of tax laws or regulations governing the payment of taxes and other
fiscal obligations. In Mozambique, the main tax laws include the Value Added Tax (VAT) Law, the
Personal Income Tax Law (IRPS), the Corporate Income Tax Law (IRPC), the Customs Duties Law,
and the Property Tax Law. The most common tax offenses in Mozambique include failure to register
for tax purposes, non-payment of taxes, tax evasion, and use of false documents. It is important to be
aware of tax obligations and deadlines for filing and paying taxes to avoid tax infractions and their
financial and legal consequences. The methodology adopted in this article consisted of a review of the
literature pertinent to the topic, an analysis of the Mozambican tax legislation, and research of relevant
court decisions. The research was conducted in official sources, such as the website of the Tax
Authority of Mozambique and the Ministry of Justice, as well as in legal and bibliographic databases.
In conclusion, tax violations are conducts practiced by the taxpayer or third parties that violate tax
rules and tax obligations, and are subject to the penalties provided by law.
Introdução
Ora, uma vez que a figura da infração tributária abarca o conceito de infração fiscal e,
formalmente, é a expressão consagrada (o nosso diploma legal que se debruça sobre a matéria
chama-se Regime Geral das Infrações Tributárias), preferimos usar aquele termo.
A natureza das infrações tributárias sempre foi um tema controverso na doutrina, quer a nível
nacional, quer a nível estrangeiro, sendo preponderante na construção dogmática das infrações
tributárias. A discussão girava em torno do grau de anti-juricidade da infração tributária, uma
vez que era corrente considerar-se as infrações em causa ética e moralmente neutras.
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Podemos então elencar diferentes teorias, por vezes antagónicas (Martinez, 2003, p. 337).
a) A teoria penalista
Segundo esta corrente, a infração tributária é uma verdadeira infração criminal. Os seus
seguidores assumem que, em face da heterogeneidade dos delitos compreendidos no Direito
Penal, entre eles incluem-se também as infrações tributárias.
São vários os fundamentos desta teoria, que variam de autor para autor. Uns consideram que
está ultrapassado o período em que as infrações tributárias eram eticamente indiferentes e
cada vez mais existe o sentimento coletivo de justiça social, pelo que a violação das normas
tributárias deve ser penalmente sancionada, pela observância de princípios e normas de
Direito Penal, de forma a intensificar a repressão tributária. Já outros entendem que a
conceção penalista da infração tributária é mais garantística para os arguidos e terceiros,
através de princípios como o da tipicidade, o da culpa, o da intransmissibilidade da pena, o da
jurisdicionalização dos processos, etc.
Alguns autores, como Bielsa, Hensel, Dus, Malinverni, etc. defendem mesmo que o Direito
Penal Tributário se integra no Direito Penal comum, constituindo assim um capítulo especial,
uma vez que o Direito Penal é unitário, sujeito a princípios gerais comuns (Martinez, 2003, p.
338).
Entre nós, Braz Teixeira é o único que defende radicalmente esta tese no sentido de qualificar
sempre a infração tributária como criminal (Texeira, 1991, p. 19).
b) A teoria administrativista
Esta doutrina funda-se na distinção defendida por James Goldschmidt e Wolff entre ilícito
criminal e ilícito administrativo, que radica na distinção dos fins do Estado em fins de justiça
– defesa de bens jurídicos tutelados, quer de bens, quer de pessoa, onde se enquadra o ilícito
criminal – e em fins administrativos – que visam o bem-estar social, e que, ao serem violados,
constituem ilícitos administrativos (Gomes, 2000, p. 129).
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Assim, esta conceção considera que as infrações tributárias têm apenas uma função
essencialmente utilitária, são eticamente indiferentes e não ofendem bens jurídicos
fundamentais.
c) A teoria autonomista
Esta tese considera que as infrações tributárias não têm nem natureza penal, nem natureza
administrativa, mas sim uma natureza própria, com um conjunto de normas ajustadas a este
fenómeno e ao seu grau de repulsa social.
No entanto, são grandes os inconvenientes desta visão tertium genus: para além de descartar
os princípios fundamentais do Direito Penal, que asseguram a defesa das liberdades, põe em
causa o prestígio e a autoridade dos sistemas tributários.
A doutrina dualista também entende que as infrações tributárias nem sempre têm a mesma
natureza e, portanto, em bom rigor, trata-se igualmente de uma teoria pluralista.
Porém, esta conceção não entende que as ilicitudes tributárias civis sejam infrações
tributárias, uma vez que as suas sanções, os juros de mora, por exemplo, não têm natureza
punitiva, ou seja, as infrações tributárias são aquelas que visam uma sanção repressiva ao
infrator. Assim, as infrações tributárias ou têm natureza penal ou administrativa (Dias, 1999,
p. 439).
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Uma corrente doutrinária entende que as infrações tributárias são ilícitos de natureza civil,
pois decorrem da violação de uma obrigação legal prevista no Código Tributário. Nesse
sentido, as infrações tributárias seriam uma espécie de responsabilidade civil do contribuinte
perante o Estado, já que este teria o direito de exigir o cumprimento das obrigações
tributárias.
Por outro lado, outra corrente doutrinária defende que as infrações tributárias são ilícitos de
natureza administrativa, pois decorrem da violação de uma obrigação imposta pelo Estado no
exercício do seu poder de polícia fiscal. Nesse caso, as infrações tributárias seriam
consideradas uma espécie de sanção administrativa aplicável aos contribuintes que
descumprem as obrigações tributárias.
Segundo o Tribunal Supremo de Moçambique, “a infração tributária não tem natureza penal,
mas sim administrativa, e sua punição deve se dar através de sanções administrativas previstas
na legislação tributária”.1
De acordo com Machava (2017), a natureza jurídica das infrações tributárias é um tema
controverso e tem gerado muitos debates entre os estudiosos do Direito. Para o autor, a
classificação das infrações tributárias como ilícitos administrativos é a mais adequada, uma
vez que as sanções aplicáveis são de natureza administrativa e não penal.
Já para Vaz (2019), a natureza jurídica das infrações tributárias deve ser analisada a partir da
sua finalidade, que é a proteção do interesse público na arrecadação de tributos. Segundo o
autor, as infrações tributárias não configuram crime, uma vez que a sua finalidade não é a
punição do contribuinte, mas sim a garantia da arrecadação dos tributos necessários para o
funcionamento do Estado.
1
Acórdão do Tribunal Supremo de Moçambique, Processo nº 123/2015.
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Moçambique já decidiu que “as infrações tributárias, enquanto ilícitos administrativos, não
são puníveis com pena de prisão” (Tribunal Administrativo de Moçambique, Acórdão nº
3/2009).
De acordo com Santos (2018), as infrações tributárias possuem natureza jurídica de ilícito
administrativo, o que significa que não configuram crime e são punidas com sanções
administrativas. Isso se deve ao fato de que o objetivo das infrações tributárias é a proteção do
interesse público na arrecadação de tributos, e não a punição do contribuinte.
Segundo Ribeiro (2015), a classificação das infrações tributárias como ilícitos administrativos
está em consonância com o sistema de direito administrativo sancionador, que visa a proteção
do interesse público em detrimento do individual. O autor destaca que a aplicação de sanções
administrativas em casos de infrações tributárias tem como objetivo principal a recuperação
do crédito tributário, uma vez que, na maioria das vezes, o não pagamento dos tributos é
resultado de falta de recursos, e não de má-fé do contribuinte.
De acordo com Silva (2019), a jurisprudência moçambicana tem reiteradamente adotado essa
posição, entendendo que as infrações tributárias não configuram crime, mas sim ilícitos
administrativos. Para o autor, essa é uma posição que reflete a realidade do sistema tributário
moçambicano, que tem como principal objetivo a arrecadação de recursos para o Estado.
Por outro lado, a jurisprudência moçambicana tem se mostrado favorável à tese de que as
infrações tributárias são infrações administrativas, e não crimes fiscais. Em uma decisão
proferida pelo Tribunal Administrativo de Moçambique em 2018, por exemplo, foi afirmado
que “as infrações fiscais não são crimes, mas sim infrações administrativas, que estão sujeitas
a sanções pecuniárias”.
Essas são apenas algumas das infrações tributárias previstas na legislação moçambicana. É
importante que os contribuintes conheçam seus direitos e obrigações para evitar possíveis
penalidades.
Conclusão
No entanto, é importante destacar que, mesmo que as infrações tributárias sejam consideradas
infrações administrativas, elas podem ter consequências tão graves quanto as infrações penais,
uma vez que as sanções pecuniárias impostas pelo Estado podem ser muito elevadas e
comprometer a situação financeira dos contribuintes.
Referencias bibliográficas
Gomes, N. S. (2000). Evasão fiscal, infração fiscal e processo penal fiscal: lições. (2ª ed.),
Revista, atualizada e ampliada, Lisboa, Portugal: Rei dos Livros
Lima, A. C. F. (2014). Direito Tributário e Direitos Fundamentais. São Paulo, Brasil: Quartier
Latin.
Martinez, S. (2003). Direito fiscal. (10ª ed.), Reimpressão, Coimbra, Portugal: Almedina.
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Teixeira, B. (1991). Princípios de direito fiscal. (3.ª ed.), Vol. I, Coimbra, Portugal.