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CERS CARREIRA

JURÍDICA

CARREIRAS JURÍDICAS

DIREITOS DIFUSOS E
COLETIVOS
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Carreiras Jurídicas. Preparamos todo esse


material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,

queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo

sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a
estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada

capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

O que você vai encontrar aqui?

 Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela


 Questões comentadas
 Questão desafio para aprendizagem proativa
 Jurisprudência comentada
 Indicação da legislação compilada para leitura
 Quadro sinótico para revisão

1
 Mapa mental para fixação

Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que

um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

Bons estudos 

2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada
no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,

nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

3
SOBRE ESTA DISCIPLINA

Daremos início ao estudo da disciplina Direitos Difusos e Coletivos. É uma matéria de


importância imprescindível para todas as carreiras jurídicas, devido ao seu grande impacto na
sociedade, sendo que para as carreiras de Promotor de Justiça e Defensor Público sua

recorrência é ainda mais acentuada, pois envolve questões ligadas diretamente às funções
institucionais destes órgãos.

Em concursos para a carreira de Ministério Público Estadual, a título de exemplo, a


cobrança da matéria de Direitos Difusos e Coletivos se dá de forma abrangente em todas as

fases do certame, exigindo grande conhecimento do candidato para que possa, por exemplo,
redigir uma boa dissertação na prova escrita ou que sustente um raciocínio coerente em uma

prova oral.

Este material busca fornecer ao aluno um conhecimento amplo e suficiente, conforme


os temas costumam ser cobrados, então, ao final dos capítulos, serão colacionadas questões
para treinamento, sempre priorizando os concursos que exigem o conhecimento da matéria.

Veja abaixo como se dá a distribuição macro da recorrência dessa disciplina:

4
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA

A partir da análise das últimas provas das carreiras jurídicas em geral, verificou-se que a

disciplina de Direito Difusos e Coletivos possui grande recorrência, principalmente nas carreiras
de Promotor de Justiça e Defensor Público. Através destes dados, identificou-se quais os temas
mais cobrados na disciplina de Direitos Difusos e Coletivos.

2%1%1%
3% 2%
7%

9% 43%

10%

10%

12%

A tutela em juízo dos interesses individuais homogêneos, difusos e coletivos


Da Defesa do Consumidor em Juízo (Lei n° 8.078/1990)
Ação civil pública
Inquérito civil público
Ação civil pública de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/1992)
Teoria constitucional dos direitos difusos e coletivos
Proteção ao meio ambiente
Direitos das pessoas com transtorno mental - Lei n° 10.216/2001
Proteção aos patrimônios cultural, público e social
Lei n ° 4.717/1965 (Lei da Ação Popular)
Mandado de segurança coletivo (Lei nº 12.016/2009)

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TEMAS RECORRÊNCIA
A tutela em juízo dos interesses individuais homogêneos, difusos e

coletivos
Da Defesa do Consumidor em Juízo (Lei n° 8.078/1990) 
Ação civil pública 
Inquérito civil público 
Ação civil pública de improbidade administrativa (Lei nº

8.429/1992)
Teoria constitucional dos direitos difusos e coletivos 
Proteção ao meio ambiente 
Direitos das pessoas com transtorno mental - Lei n° 10.216/2001 
Proteção aos patrimônios cultural, público e social 
Lei n° 4.717/1965 (Lei da Ação Popular) 
Mandado de segurança coletivo (Lei nº 12.016/2009) 
Defesa da ordem urbanística 
Tutela de urgência, tutela de segurança, tutela de evidência e

tutela inibitória no processo coletivo
Direitos fundamentais e direitos metaindividuais materiais 
Mandado de injunção coletivo 
Tutela coletiva no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei

nº 8.069/1990)
Ação civil pública para proteção dos investidores no mercado de

valores mobiliários (Lei nº 7.913/1989)
Execução de ações coletivas 
Convenção internacional sobre o Direito das pessoas com
deficiência, internalizada pelo Brasil por meio do Decreto n° 
6.949/2009
Ação civil pública na prevenção e repressão às infrações contra a

ordem econômica (Lei nº 12.529/2011)
Demandas estruturais 

6
Ação civil pública na defesa de outros direitos ou interesses

difusos e coletivos

7
Assim, os assuntos de Direitos Difusos e Coletivos estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 (você está aqui!) – Teoria geral dos direitos difusos 


e coletivos

Capítulo 2 – Disposições Constitucionais e Princípios do Processo 


Coletivo
Capítulo 3 – Inquérito civil 


Capítulo 4 – Ação Civil Pública


Capítulo 5 – Ação Popular
Capítulo 6 – Mandado de Segurança Coletivo 

Capítulo 7 – Mandado de Injunção Coletivo 

Capítulo 8 – Liquidação e Execução das Ações Coletivas 

Capítulo 9 – Direito Processual Coletivo 

Capítulo 10 – Direitos Fundamentais e Direitos Metaindividuais 


Materiais
Capítulo 11 – Tutela Coletiva do Meio Ambiente 

Capítulo 12 – Improbidade Administrativa




Capítulo 13 – Tutela Coletiva dos Consumidores 

Capítulo 14 – Proteção aos Patrimônios Cultural, Público e Social 

Capítulo 15 – Tutela Coletiva da Ordem Urbanística 

Capítulo 16 – Tutela Coletiva das Pessoas com Deficiência 

Capítulo 17 – Tutela Coletiva das Pessoas com Transtorno Mental 


8
Capítulo 18 – Tutela Coletiva da Infância e Juventude 

Capítulo 19 – Tutela Coletiva de Interesses Difusos e Coletivos



Específicos

Capítulo 20 – Tutela Coletiva do Mercado Mobiliário e nas Infrações



Contra a Ordem Econômica

Capítulo 21 – Demandas Estruturais e Tutela Coletiva de Outros



Interesses Difusos e Coletivos

9
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Este primeiro capítulo possui o objetivo de introduzir o estudante à matéria de Direitos

Difusos e Coletivos, apresentando o histórico da disciplina e conceitos importantes que


subsidiarão o conhecimento amplo a respeito dos diversos temas que compõem esta área do

Direitos.

Por se tratar de um capítulo inicial, sua abordagem é realizada basicamente pela doutrina
e sua incidência em concursos é baixa, contudo, é muito importante para complementar

perguntas que não abordem sobre ela diretamente, como por exemplo em uma prova escrita
de 2º fase, onde o candidato demonstrará conhecimento ao examinador.

A teoria geral dos Direitos Difusos e Coletivos costuma ser cobrada em concursos que

exigem um conhecimento mais profundo da matéria, como nos cargos para as carreiras do
Ministério Público e da Defensoria Pública.

10
SUMÁRIO

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS ....................................................................................................... 13

Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 13

1. Teoria Geral dos Direitos Difusos e Coletivos.......................................................................... 13

1.1 Bens Coletivos e Relações Grupais............................................................................................................. 13

1.2 Histórico ................................................................................................................................................................. 14

1.2.1 Surgimento e Evolução do Processo Coletivo ...................................................................................... 17

1.3 Interesse Público e Privado ........................................................................................................................... 21

1.4 Direitos Transindividuais ................................................................................................................................. 22

1.5 Interesse e Direito Subjetivo ......................................................................................................................... 25

1.6 Interesses Difusos .............................................................................................................................................. 25

1.7 Interesses Coletivos ........................................................................................................................................... 27

1.8 Interesses Individuais Homogêneos .......................................................................................................... 29

1.9 Classificação do Processo Coletivo ............................................................................................................ 31

1.9.1 Quanto aos Sujeitos .......................................................................................................................................... 31

1.9.2 Quanto ao Objeto.............................................................................................................................................. 33

1.10 Ações Pseudocoletivas ..................................................................................................................................... 34

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 36

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 39

GABARITO ............................................................................................................................................... 57

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 58

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 59

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 60


11
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 62

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 68

12
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

Capítulo 1

Daremos início ao estudo da matéria de Direitos Difusos e Coletivos com a análise de


alguns conceitos importantes sobre a matéria, sua classificação e sua evolução histórica.

1. Teoria Geral dos Direitos Difusos e Coletivos

1.1 Bens Coletivos e Relações Grupais

O Estado Democrático de Direito assegura a proteção aos interesses transindividuais. De

que forma? A Constituição da República os consagra já em seu primeiro artigo, o qual dispõe a
formação da República Federativa do Brasil e elenca os seus fundamentos, incluindo ali a

dignidade da pessoa humana.

Todavia, a formação de um Estado Democrático, bem como os direitos nele existentes,


são oriundos de um processo histórico, no qual se estabelece ampla gama de interesses que,

devido às suas peculiaridades, se enquadram nas categorias de primeira geração (ou individuais),
segunda geração (ou coletivos) e terceira geração (ou difusos).

É muito importante ter conhecimento sobre as dimensões (ou gerações) de direitos.

Dessa maneira, para entender a presença dos direitos metaindividuais no Estado

Democrático de Direito, é necessário adentrar em suas conceituações, traçando delineamentos


históricos.

13
1.2 Histórico

Os direitos fundamentais são classificados em gerações de direitos, ou, como prefere a


doutrina mais atual, dimensões dos direitos fundamentais, posto que uma nova dimensão não

abandonaria as conquistas da anterior e, assim, esta expressão se mostraria mais adequada no


sentido de proibição de evolução reacionária.

A utilização da palavra “geração” dá a entender que uma mais nova substitui a anterior,

porém não é o que ocorre, porque uma nova dimensão de direitos complementa as conquistas
da dimensão anterior, e não as exclui.

Em um primeiro momento, os lemas da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e

fraternidade – lembre-se destes lemas paras memorizar os ideais das três primeiras dimensões),
foram base para os direitos de 1.ª, 2.ª e 3.ª dimensão e que iriam evoluir, segundo a doutrina,

para uma 4.ª e 5.ª dimensão.

5ª 1ª
Geração Geração

4ª 2ª
Geração Geração


Geração

Os direitos humanos da 1.ª dimensão representam o marco da transição de um Estado


autoritário para um Estado de Direito e, nesse contexto, constituem o respeito às liberdades
individuais, caracterizado pelo absenteísmo estatal.

14
Esses direitos referem-se às liberdades públicas e aos direitos políticos. Sobre o tema,

Bonavides ensina que “os direitos de primeira geração ou direitos de liberdades têm por titular
o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e

ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico; enfim, são direitos de resistência
ou de oposição perante o Estado”.

Para melhor compreensão do tema, tenha em mente que a primeira dimensão exige um

“não fazer” por parte do Estado, ou seja, trata-se de direitos que impedem o Estado de fazer
algo contra os indivíduos, limitando seu poder.

Os direitos humanos de 2.ª dimensão foram inspirados e impulsionados pela Revolução

Industrial europeia, a partir do século XIX.

Em decorrência das péssimas situações e condições de trabalho, eclodem movimentos


que reivindicavam direitos trabalhistas e normas de assistência social.

A segunda dimensão dos direitos fundamentais visa, entre outras razões, consagrar a

dignidade da pessoa humana através de prestações positivas obrigatórias impostas ao Estado


para alcançar a justiça social (igualdade material, e não formal).

Veja que aqui há uma mudança na relação do Estado com indivíduos, pois surgem direitos

que obrigam o Estado a agir, diferentemente dos direitos de primeira dimensão.

Em decorrência de fenômenos como a sociedade de massa, crescente desenvolvimento


tecnológico e científico, os direitos fundamentais da 3.ª dimensão são marcados pela alteração
da sociedade por profundas mudanças na comunidade internacional e nas relações econômico-
sociais. Nesse contexto, o ser humano é inserido em uma coletividade e passa a ter direitos de

solidariedade ou fraternidade.

15
Os direitos da 3.ª dimensão são direitos transindividuais, isto é, vão além dos interesses

do indivíduo; representam, assim, proteção ao gênero humano, com altíssimo teor de


humanismo e universalidade1.

O cerne da matéria de Direitos Difusos e Coletivos, portanto, está nos direitos de terceira

dimensão.

Sobre eles, Bonavides afirma que “a globalização política na esfera da normatividade


jurídica introduz os direitos da quarta dimensão, que, aliás, correspondem à derradeira fase de

institucionalização do Estado social”, destacando-se os direitos a:

 Democracia Direta;

 Informação;

 Pluralismo.

Já os direitos da 4.ª dimensão, conforme Bonavides, decorrem da globalização dos


direitos fundamentais, o que significa universalizá-los no campo institucional.

O direito à paz foi classificado por Karel Vasak como de 3.ª dimensão. Bonavides, contudo,

entende que o direito à paz deva ser tratado em dimensão autônoma, a 5.ª dimensão, chegando
a afirmar que a paz é axioma da democracia participativa, ou, ainda, supremo direito da

humanidade.

Para melhor compreensão desse assunto, procure memorizar as palavras principais de


cada dimensão, como as liberdades individuais (1ª dimensão), direitos sociais (2ª dimensão),

direitos transindividuais (3ª dimensão), globalização dos direitos (4ª dimensão) e paz (5ª
dimensão).

1
Vide questões 07 e 08.
16
1.2.1 Surgimento e Evolução do Processo Coletivo

O processo civil tradicional, que nasceu como ciência autônoma no século XIX, foi
construído sob um enfoque individualista, como consequência do momento histórico no

fortemente influenciado pelas Revoluções Industrial e Francesa.

Assim, por um considerável lapso temporal, permaneceram os estudos de processo civil, e


com base nisso foram construídos os seus institutos fundamentais. Seus mecanismos

objetivavam dar solução àqueles litígios individuais, ou violações eventuais de direito, que eram
levados a exame pelo Poder Judiciário,

O cenário criado pelas referidas Revoluções, somado ao desenvolvimento dos meios de

comunicação em massa, formou o ambiente ideal para o surgimento de um novo modelo de


sociedade, denominada “sociedade de massa”.

Segundo Cléber Masson (2015, p. 36), as principais características da sociedade de massa

são a produção em massa (industrial, agrícola, energética) e o consumo em massa, e, para


ligar a produção ao consumo, os contratos de massa (de adesão ou de consumo).

Ensina o que autor que numa sociedade cada vez mais complexa, em que as relações

jurídicas foram massificadas, eventual falha em alguma de suas engrenagens tem potencial para
lesar ou ameaçar de lesão interesses de centenas, milhares ou milhões de pessoas, quando não

de toda a humanidade. Fez-se campo fértil para os conflitos de massa.

Tal massificação dos conflitos sociais tornou necessário o reconhecimento, pelo direito
objetivo, de direitos subjetivos de segunda dimensão, como os culturais, econômicos, sociais,

trabalhistas, e de terceira, como o meio ambiente, paz, desenvolvimento etc.

Portanto, tenha em mente que a massificação da produção de bens e da sociedade em


geral é o principal propulsor do surgimento dos direitos transindividuais.

17
Todos eles caracterizados por se situarem a meio caminho entre o interesse público - já

que não pertencem propriamente ao Estado, nem tampouco coincidem necessariamente com o
bem comum - e o privado, posto que não pertencem exclusivamente a nenhum indivíduo.

Esses novos direitos caracterizaram-se por possuírem uma dimensão coletiva, pertencem

a grupos, classes ou categorias de pessoas, ou à coletividade, sendo, em muitas situações,


impossível precisar os seus titulares.

Segundo Fernando da Fonseca Gajardoni, o direito processual coletivo é uma vertente

do próprio direito processual civil, de modo que o nascimento daquele é intimamente atrelado
à própria evolução metodológica deste.

A fase sincretista, civilista ou imanentista do direito processual remonta ao período

Romano, quando então não havia diferença formal entre o direito processual e o direito material.

Na fase autonomista ou conceitual do direito processual, a relação jurídica processual


passou a ser diferenciada da relação jurídica material em três aspectos: sujeitos (autor, réu e

Estado); objeto (prestação jurisdicional); e pressupostos (pressupostos processuais).

Foi graças a este distanciamento entre o direito material e o direito processual, que este
passou a ser considerado um ramo autônomo do Direito.

Gajardoni (2018, p. 19) aponta que, em meados do século XX, teve início uma fase crítica
do direito processual civil, que dura até os dias atuais, conhecida como fase instrumentalista.
A partir dela, o direito processual, sem renunciar à sua autonomia científica, passou a ser
investigado extrinsecamente, como um meio de acesso à Justiça, algo que seria impossível de
ocorrer sem aferição dos seus resultados práticos e da capacidade dele em tutelar o direito

material.

Neste contexto, em razão de um relatório apresentado por Bryan Garth e Mauro Cappelletti
sobre acesso à Justiça, passou-se a falar em 3 (três) ondas renovatórias de acesso à Justiça.

18
Em outras palavras, apregoava-se que a única maneira de o processo realmente se tornar

um instrumento a serviço da Justiça era ele passar por estas três grandes transformações, sem
o que ele continuaria a ser uma fórmula vazia.

• O processo deveria prover tutela aos necessitados


PRIMEIRA ONDA: (assistência judiciária).

• O processo deveria ser capaz de tutelar os


interesses supraindividuais (metaindividuais,
SEGUNDA ONDA: transindividuais), especialmente por conta da
indeterminabilidade dos seus titulares
(processo coletivo).

• O processo deveria ser eficaz, visto isto como a


TERCEIRA ONDA: capacidade de alcançar resultados efetivos e
satisfatórios (efetividade).

Sob esta ótica, pode-se afirmar que o surgimento formal do processo coletivo ocorreu

dentro da fase instrumentalista do direito processual, especificamente dentro da 2ª onda


renovatória de acesso à Justiça.

DIFERENÇAS ENTRE O PROCESSO INDIVIDUAL


E O PROCESSO COLETIVO

Processo Individual Processo Coletivo

Tratamento atômico do conflito Tratamento molecular do conflito

Menor possibilidade de decisões


Alta possibilidade de decisões contraditórias
contraditórias

19
Conflitos entre pessoas indeterminadas talvez
Conflitos entre pessoas determinadas
determináveis, algumas vezes só por grupo)
Legitimação atípica (extraordinária ou
Legitimação ordinária
autônoma)
Possibilidade de coisa julgada erga omnes
Coisa julgada intra partes
ou ultra partes
Destinatário da indenização: a) se divisível:
Destinatário da indenização: vítima ou
vítima ou sucessores b) se indivisível: fundo
sucessores
(art. 13 da LACP)
Sem intervenção nas políticas públicas como Com intervenção nas políticas públicas como
regra regra (significado social)

A respeito do desenvolvimento legal do Processo Coletivo no Brasil, cumpre apontar que


antes do advento da ação civil pública, já existia no país a ação popular, atualmente prevista no

art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal, e ainda regulamentada pela Lei n. 4.717/65.

Apesar de sua importância, a ação popular brasileira é incapaz de tutelar adequadamente


os direitos e interesses supraindividuais porque a lei que a regulamenta só permite a tutela de

alguns direitos difusos, como o patrimônio público, moralidade administrativa, meio ambiente
e patrimônio histórico cultural, deixando sem proteção uma série de outros direitos desta
natureza, bem como os direitos coletivos e individuais homogêneos previstos no art. 81, II e III,

do Código de Defesa do Consumidor.

Os estudiosos do processo coletivo costumam apontar que foi a partir do advento da ação

civil pública que ele teve nascimento no Brasil.

20
A ação civil pública surgiu no Brasil no art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81 (Política Nacional

do Meio Ambiente). Para regulamentar esta disposição, até então sem antecedente no país, o
legislativo federal, aprovou a Lei n. 7.347/85, a Lei de Ação Civil Pública.

Posteriormente, foram editados dois importantes diplomas:

 O primeiro deles foi a própria Constituição Federal, que, a partir do seu art. 127, a
tratar do Ministério Público, eleva a ação civil pública a status constitucional, nos
termos do art. 129.

 O segundo diploma foi o Código de Defesa do Consumidor, a Lei n. 8.078/90, que


reserva capítulo exclusivo para tratar das ações coletivas. Foi a primeira vez que a
lei brasileira conceituou direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos,
estendendo o uso da ação civil pública para a defesa de qualquer um deles.

Outras leis surgiram após a consolidação daquilo que se costuma chamar de sistema

processual coletivo, entre elas o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90), a Lei de
Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/92) e o Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001), o

Estatuto do Idoso, entre outros aqui tratados, todos com disposições concernentes ao processo
coletivo.

1.3 Interesse Público e Privado

Durante muito tempo, a doutrina dividia o estudo do Direito em dois grandes ramos:
Direito Público e Direito Privado.

O Direito Público tinha como objeto o estudo das relações que envolviam

necessariamente a participação do Estado. Ou seja, o Direito Público tutelava as relações de


Estado contra Estado ou de Estado contra indivíduo, mas sempre tendo o Estado como o titular

do interesse tutelado (a título de exemplo, tem-se o exercício do direito de punir pelo Estado
contra o autor de infrações penais, disciplinado pelo Direito Penal).

21
O Direito Privado, por sua vez, tutelava as relações entre os próprios indivíduos, nas quais

estes são os titulares do direito discutido (a título de exemplo, tem-se os contratos celebrados
e disciplinados pelo Direito Civil).

Em relação ao Direito Público, observou-se, através dos tempos, que era necessário

realizar uma distinção entre aquilo que era de interesse de toda a coletividade e aquilo que era
de interesse apenas do ente político Estado (atuando como pessoa jurídica de direito público

interno).

Com isso, surgiu a classificação de interesse público primário e secundário.

Para que foi criada esta distinção?

Tal distinção foi criada pelo fato de que, com o passar do tempo, constatou-se que os

governantes nem sempre buscavam fazer o melhor para a coletividade, ou seja, nem sempre
coincidiam o interesse público primário com o interesse público secundário.

E qual a diferença?

O interesse público primário é o interesse social, nos dizeres de Hugo Nigro Mazzilli, ou

seja, o interesse da sociedade ou da coletividade como um todo, sendo que nesse caso há uma
certa unanimidade social em relação a estes direitos, havendo baixa conflituosidade na
sociedade.

O interesse público secundário, por sua vez, é aquele correspondente ao interesse da


pessoa jurídica-administração, manifestado pelo governante através da consecução de suas

atribuições. Preferencialmente, deveria ser o instrumento para a consagração dos interesses


públicos primários.

1.4 Direitos Transindividuais

Os interesses transindividuais estão situados em uma posição intermediária entre interesse


público e o interesse privado, sendo também chamados de interesses coletivos em sentido lato.

22
Eles são compartilhados por grupos, classes ou categorias de pessoa, como os

condôminos de um edifício, os sócios de uma empresa, os membros de uma equipe esportiva,


os empregados do mesmo patrão.

São interesses que excedem o âmbito estritamente individual, mas não chegam

propriamente a constituir interesse público.

A informação a seguir é muito importante para a compreensão do que são os interesses


transindividuais:

Os interesses transindividuais, existentes no Estado Democrático de Direito, são


características de uma sociedade moderna, na qual perduram conflitos e situações que não
afetam tão somente um sujeito individualmente considerado, mas uma coletividade,

indeterminada, mas determinável (direito coletivo) ou indeterminada e, também, indeterminável


(interesse difuso), como se explorará mais adiante.

Surgiram a partir do fracionamento do poder estatal entre novos focos de poder, como

igrejas, feudos, corporações, essas forças intermediárias desempenhavam um papel relevante no


que diz respeito aos freios e contrapesos.

A respeito da origem do sistema de freios e contrapesos, Dalmo Dallari ensina que sua

gênese veio com a separação de poderes, consagrada nas Constituições de quase todo o mundo,
sendo também associado à ideia de Estado Democrático.

Segundo essa teoria os atos que o Estado pratica podem ser de duas espécies: ou são
atos gerais ou são especiais. Os atos gerais, que só podem ser praticados pelo poder legislativo,
constituem-se na emissão de regras gerais e abstratas, não se sabendo, no momento de serem

emitidas, a quem elas irão atingir.

Dessa forma, o poder legislativo, que só edita atos gerais, não atua concretamente na
vida social, não tendo meios para cometer abusos de poder nem para beneficiar ou prejudicar

23
a uma pessoa ou a um grupo em particular. Só depois de emitida a norma geral é que se abre

a possibilidade de atuação do poder executivo, por meio de atos especiais.

Posteriormente, já na Idade Moderna, com as revoluções comerciais e industriais, o


exercício do poder se alterou: as corporações desapareceram, abrindo espaço para os

conglomerados econômicos.

Assim, surge o corporativismo, que nos dizeres de Mancuso é “representado pelo anseio
dos indivíduos de participar do processo político-econômico; essa aspiração veio acompanhada

da ‘consciência do coletivo’, isto é, da percepção de que um indivíduo isolado pouco ou nada


pode, mas o agrupamento exerce uma forte influência no campo das decisões”.

Nesse momento, a transindividualidade transcende a órbita do individual, adquirindo

natureza coletiva ampla, sem se restringir a qualquer grupo, categoria ou classe de pessoas, não
há titular individualmente considerado.

A massificação dos conflitos sociais fez necessário o reconhecimento, pelo direito objetivo,

de direitos subjetivos de segunda (culturais, econômicos, sociais, trabalhistas) e de terceira (meio


ambiente, desenvolvimento etc.) dimensões, todos eles relacionados à qualidade de vida e

caracterizados por se situarem a meio caminho entre o interesse público e o privado, posto que
não pertencem propriamente ao Estado, nem tampouco coincidem necessariamente com o bem

comum e não pertencem exclusivamente a nenhum indivíduo.

O parágrafo acima deve ser memorizado para que se entenda o motivo pelo qual os
interesses transindividuais não estão inseridos na classificação de direito público e direito

privado.

Esses novos direitos caracterizaram-se por possuírem uma dimensão coletiva pois
pertencem a grupos, classes ou categorias de pessoas, ou à coletividade, sendo que, muitas

vezes, é impossível precisar os seus titulares.

24
1.5 Interesse e Direito Subjetivo

Interesse é qualquer pretensão em geral, é o desejo de obter determinado valor ou bem


da vida, de satisfazer uma necessidade. O interesse de alguém pode encontrar, ou não, respaldo

no ordenamento jurídico.

Direito subjetivo, por sua vez, segundo Reale, é “a possibilidade de exigir-se, de maneira
garantida, aquilo que as normas de direito atribuem a alguém como próprio”.

É, portanto, a posição jurídica que o ordenamento jurídico assegura a uma pessoa, a


um grupo de pessoas ou a um ente, em relação a um determinado bem e/ou pessoas.

1.6 Interesses Difusos

Nos termos do art. 81, parágrafo único, da Lei n. 8.078/90, interesses ou direitos difusos
são os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas

indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.

Importante! São três as suas características fundamentais:

 A indivisibilidade do objeto;

 A indeterminabilidade do sujeito;

 A ligação deles por um vínculo fático, e não jurídico.

A lei utilizou as expressões “interesse” e “direito” como sinônimas.

Para que se possa compreender quando haverá interesse difuso, Marcus Vinicius Rios
Gonçalves usa o seguinte exemplo: determinada empresa faz divulgar por grande rede de

televisão propaganda enganosa que pode induzir em erro os consumidores que a assistam. O
interesse em retirar do ar essa publicidade pode ser qualificado como difuso.

Por quê?

25
Observe-se que é indivisível porque ou a propaganda é mantida, e toda a coletividade

estará exposta aos seus efeitos deletérios, ou é tirada do ar, e toda a coletividade ficará livre do
perigo — ou o risco afeta todos ou não afeta ninguém. Não há como afastar o risco para alguns

dos possíveis expostos à propaganda sem beneficiar todos os demais; nem como expor um sem
prejudicar os outros. Além disso, os sujeitos são indeterminados e indetermináveis.

Os titulares do direito são todas as pessoas da coletividade que poderiam, podem ou

poderão entrar em contato com a publicidade enganosa enquanto ela permanecer no ar. Não
é possível identificar individualmente aqueles que estão expostos.2

O vínculo entre os titulares do direito difuso decorre de uma relação fática, e não jurídica.

Importante considerar que a proibição da publicidade enganosa decorre de lei, havendo


dispositivo expresso a respeito no Código de Defesa do Consumidor.

O interesse difuso dos consumidores de que a propaganda seja tirada do ar tem um


fundamento jurídico. Mas não há uma relação jurídica comum que os una ao responsável pela
propaganda enganosa, e sim apenas o fato de estarem potencialmente expostos à publicidade,

visto que não há nenhum vínculo jurídico entre eles e o fornecedor responsável pela propaganda
em análise. Imagine outro exemplo no qual uma fábrica emita poluentes, colocando em risco a

saúde dos habitantes de uma determinada região.

2
Vide questões 1 e 09 deste material
26
O interesse discutido é indivisível porque não há como proteger apenas uma das pessoas

expostas ao perigo sem preservar as demais. Não é possível identificar os titulares do direito3.

1.7 Interesses Coletivos

A expressão “interesses coletivos” é equívoca porque designa ao mesmo tempo o gênero


e uma das espécies. Pode significar sinônimo de interesse transindividual e também pode indicar
uma das espécies desse interesse.

Como diferenciá-los?

Para diferenciá-los, costuma-se chamar o primeiro de interesse coletivo em sentido amplo,


e o segundo, em sentido estrito.

O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 81, parágrafo único, II, conceitua

interesses coletivos como os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação

jurídica base.

O que os caracteriza é que são indivisíveis e envolvem pessoas determinadas ou

determináveis, ligadas entre si ou com a parte contrária por meio de uma relação jurídica base.

3
Vide questões 3, 4 e 10 deste material
27
Marcus Vinicius Rios Gonçalves expõe exemplo envolvendo o interesse dos consorciados

de ver declarada uma cláusula abusiva, inserida no contrato de adesão pela empresa de
consórcio. Segundo o autor, cada um deles, individualmente considerado, teria a faculdade de

ajuizar ação própria para discutir a cláusula.

Mas há o interesse coletivo dos consorciados, que a lei considera indivisível. Ao fazê-lo,
ela estabelece uma distinção entre o interesse coletivo e a soma de cada interesse individual

dos consorciados, tal como os átomos, individualmente considerados, que não têm as mesmas
características da molécula que resulta da sua união.

Os interesses coletivos são defendidos de forma indivisível. Não é possível que a ação

correspondente beneficie um dos titulares sem beneficiar os demais. Por isso a lei estabelece a
coisa julgada ultra partes.

A decisão judicial ou beneficia todos os que se encontram na situação jurídica base,

ou não beneficia ninguém. Trata-se de situação muito diferente da que ocorreria se, em vez
de proposta a ação coletiva, fossem propostas inúmeras ações individuais que versassem sobre

a cláusula impugnada.

Nessa hipótese não haveria indivisibilidade, havendo a possibilidade de o Judiciário


acolhesse algumas e não outras.

O que distingue o interesse coletivo do difuso é que este tem como titulares pessoas

indetermináveis e aquele, pessoas que são determináveis em função da relação jurídica base.

28
A respeito dessa diferença, destaca-se o caso dos signatários de um contrato com

empresa de consórcio cujas cláusulas são abusivas. Nessa situação, o interesse é coletivo, uma
vez que as pessoas são determináveis e todas elas têm em comum não apenas um vínculo fático

com a parte contrária (a empresa de consórcio), mas também jurídico, que decorre do fato de
elas terem firmado o contrato.

Se um dos legitimados para a ação coletiva ingressar em juízo com demanda para que o

juiz determine a nulidade dessas cláusulas nos contratos já firmados, haverá a proteção de
interesses coletivos, no que concerne a todas aquelas pessoas determináveis que o assinaram.

Mas se o legitimado ainda postular que o juiz condene o réu a abster-se de, nos contratos

futuros, inserir cláusulas semelhantes, haverá a defesa de interesses difusos porque os futuros
contratantes não podem ser determinados desde logo e porque a relação que os une não será

jurídica (eles ainda não assinaram o contrato), mas fática, por estarem expostos à possibilidade
de, no futuro, virem a firmá-lo.

1.8 Interesses Individuais Homogêneos

Os interesses individuais homogêneos são conceituados no art. 81, parágrafo único, III,
do Código de Defesa do Consumidor que dispõe que eles decorrem de uma origem comum.

Caracterizam-se por serem divisíveis, terem por titular pessoas determinadas ou

determináveis e uma origem comum, de natureza fática.

Diferem dos interesses difusos porque têm sujeitos determinados ou determináveis, e seu
objeto é divisível.

A respeito deles, Marcus Vinicius Dias Gonçalves cita o exemplo das vítimas de acidentes

ocasionados por defeito de fabricação de um automóvel, posto no mercado de consumo.

29
Nessa hipótese, os potenciais adquirentes dos veículos são indeterminados, mas as vítimas

de acidentes são determinadas. Cada uma delas poderia optar por propor a sua ação individual
de indenização, e o juiz acolher algumas e não outras (por isso, o interesse é divisível).

Todavia, já que existe origem comum a todos os direitos — o defeito de fabricação como

causa originária do acidente e o fato de os titulares terem todos adquirido os veículos com
problemas —, é possível a tutela coletiva.

As diferenças entre os interesses coletivos e os individuais homogêneos são grandes.

Naqueles, o vínculo comum é algo que diz respeito diretamente à relação jurídica base.

Há algum exemplo para melhor compreensão?

A existência de cláusula abusiva nos contratos celebrados com o fornecedor. A origem

do problema está no próprio contrato: é ele que deve ser modificado. Aqui, estamos falando de
interesses coletivos.

Já nos interesses individuais homogêneos, não se nega que os titulares do interesse têm

relação jurídica com o fornecedor.

É o caso dos adquirentes do veículo defeituoso, que devem ter celebrado com o
fornecedor um contrato de compra e venda. Mas a origem do problema não foi o contrato, e
sim um fato: o acidente que ocorreu com as vítimas e que pode ter sido provocado pelo defeito
no carro.

Em ação civil pública versando sobre interesse coletivo relacionado a cláusula abusiva, se

o juiz acolher o pedido, todos que celebraram o mesmo tipo de contrato serão beneficiados.

Na hipótese de venda de carro defeituoso, a ação civil para indenizar as vítimas de


acidente não beneficiará todos os adquirentes, mas apenas aqueles que sofreram danos

decorrentes do acidente.

30
O liame entre os titulares dos interesses individuais homogêneos não é a relação jurídica

com a parte contrária, mas a origem fática comum. Eles nada mais são que um feixe de interesses
individuais, agrupados por uma origem comum, e que, por isso mesmo, podem ser objeto de

tutela coletiva4.

A expressão “feixe de interesses individuais agrupados por uma origem comum” deve ser
absorvida pelo estudante para compreensão do conceito de interesses individuais homogêneos.

1.9 Classificação do Processo Coletivo

Existem diversas classificações no âmbito do processo coletivo. Analisemos três que se


destacam pela clareza dos elementos diferenciadores e utilidade prática.

1.9.1 Quanto aos Sujeitos

No que diz respeito aos sujeitos, as ações coletivas podem ser ativas ou passivas.

Ações coletivas ativas, praticamente todas, são as demandas ajuizadas em favor da

coletividade.

Exemplos?

Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público para tutela do meio ambiente, ação de
improbidade administrativa contra o administrador público que enriqueceu ilicitamente, ação

coletiva para a tutela dos direitos de determinado grupo de consumidores. Todas elas têm a
coletividade como destinatária da tutela pretendida.

Já as ações coletivas passivas, são chamadas de defendant class action no direito norte-

americano. Mas o que seriam elas?

4
Vide questões 2, 5 e 6 deste material.
31
São as demandas ajuizadas contra a coletividade, isto é, aquelas em que se pede o

cumprimento de dada obrigação.

Parte da doutrina nega, peremptoriamente, a existência das ações coletivas passivas. Fazem-no
sob o sólido fundamento de que, além da falta da previsão legal, não há representantes

adequados da coletividade demandada eleitos pelo sistema processual, principalmente


quando se tratar de direitos ou interesses individuais homogêneos.

A experiência prática, contudo, contraria este entendimento, na medida em que os exemplos

citados são cotidianos e provam a existência das ações coletivas passivas. Afinal, é o Direito que

deve se amoldar à realidade, e não o contrário.

Por óbvio, ao se admitir a existência da ação coletiva passiva, surge o entrave adicional de
se definir quem, então, representaria a coletividade demandada.

Neste caso, a resposta só pode ser casuística: o caso concreto revelará ao órgão julgador

se o grupo demandado tem algum órgão representativo – geralmente, sindicato ou


associação de classe – capaz de representar adequadamente a coletividade demandada

(controle judicial da representação adequada).

Importante destacar que há um Anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos


que propõe a criação, pela via legislativa, de ação coletiva passiva, desde que uma determinada

coletividade (independentemente de ter ou não personalidade jurídica) possua


representatividade adequada e que a demanda tenha interesse social.

32
Aliás, a corrente que defende a possibilidade de ação coletiva passiva ganha cada vez mais

espaço e já se tornou majoritária na doutrina brasileira.

Por fim, há também as ações coletivas ativas e passivas, nos casos em que há uma
coletividade em cada polo da demanda, ou seja, há duas coletividades envolvidas na relação

jurídico processual.

Exemplo?

Os litígios trabalhistas coletivos são objetos de processos duplamente coletivos. Em cada

um dos polos, conduzidos pelos sindicatos das categorias profissionais (empregador e


empregado), discutem-se situações jurídicas coletivas. No direito brasileiro, inclusive, podem ser
considerados como os primeiros exemplos de ação coletiva passiva.

Na ação duplamente coletiva, em sendo os direitos tutelados de igual natureza, ou seja,


os direitos oriundos do polo ativo são de mesma natureza dos oriundos do polo passivo da
ação, não há restrições à formação da coisa julgada erga omnes.

Como não há razão para privilegiar nenhuma das classes, pois ambas se encontram em
iguais condições de defesa e têm os direitos tutelados no mesmo patamar (exemplo: direitos
difusos x direitos difusos), a coisa julgada será formada independentemente de a sentença ser

procedente para o autor ou para o réu.

1.9.2 Quanto ao Objeto

As ações coletivas, quanto ao objeto, podem ser de natureza especial ou comum.

Ações coletivas especiais são as relacionadas ao controle abstrato de


constitucionalidade.

Conforme o art. 103 da Carta Maior, são elas a ação declaratória de constitucionalidade ou

de inconstitucionalidade (ADC e ADI), e a ação de arguição de descumprimento de preceito


fundamental (ADPF).

33
Por meio destas ações coletivas – porque, de fato, a sentença nelas proferida atinge

praticamente toda a coletividade (eficácia erga omnes e vinculante) – há verdadeiro controle

abstrato do direito objetivo (direito difuso).

As ações coletivas comuns, por outro lado, são todas as demais ações para a tutela de

direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos que não se relacionam ao controle abstrato
da constitucionalidade das leis e atos normativos. Por meio delas até se controla o direito
coletivo, mas de modo subjetivo, concreto (e não objetivamente, como nas ações coletivas

especiais).

1.10 Ações Pseudocoletivas

As ações pseudocoletivas são ajuizadas com o rótulo de ações coletivas, mas que, na
verdade, não são coletivas. São pseudocoletivas, ou seja, falsamente coletivas.

Trata-se da ação que é proposta pelo ente legitimado em lei, o legitimado

extraordinário, mas que formula pedido certo e específico em prol de determinados


indivíduos, que são substituídos processualmente.

Na realidade, existe uma pluralidade de pretensões reunidas em uma mesma demanda.

Exemplo comum é o de ação proposta por um ente associativo, deduzindo pretensão em prol
de seus associados.

34
Nas ações pseudocoletivas o grande problema é o prejuízo que a demanda pode trazer ao

contraditório e ao direito de defesa. Por isso, a constatação desse prejuízo deve levar à

inadmissibilidade da ação.

35
QUADRO SINÓTICO

GERAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

1ª GERAÇÃO Direito de Liberdade Direitos Civis e Políticos.

Direitos econômicos, sociais e


2ª GERAÇÃO Direito de Igualdade
culturais.

Desenvolvimento, meio
ambiente, comunicação e
3ª GERAÇÃO Direito de Fraternidade
patrimônio comum da
humanidade.

Direito à democracia, à
4ª GERAÇÃO Direito de Solidariedade
informação, pluralismo.

5ª GERAÇÃO Direitos de Esperança Direito à paz.

36
DIFERENÇAS ENTRE O PROCESSO INDIVIDUAL
E O PROCESSO COLETIVO

Processo Individual Processo Coletivo

Tratamento atômico do conflito Tratamento molecular do conflito

Menor possibilidade de decisões


Alta possibilidade de decisões contraditórias
contraditórias
Conflitos entre pessoas indeterminadas
Conflitos entre pessoas determinadas
(talvez determináveis, às vezes só por grupo)
Legitimação atípica (extraordinária ou
Legitimação ordinária
autônoma)
Possibilidade de coisa julgada erga omnes
Coisa julgada intra partes
ou ultra partes
Destinatário da indenização: a) se divisível:
Destinatário da indenização: vítima ou
vítima ou sucessores b) se indivisível: fundo
sucessores
(art. 13 da LACP)
Sem intervenção nas políticas públicas como Com intervenção nas políticas públicas como
regra regra (significado social)

CATEGORIAS DE INTERESSES/DIREITOS

DIREITOS
DIREITO PÚBLICO DIREITO PRIVADO
TRANSINDIVIDUAIS

Relações que envolvem o Relações que transcendem a


Estado como titular do Relações entre particulares. individualidade, mas não
direito. chegam a ser públicos.

37
Sujeitos indetermináveis,
Estado x Estado ou Estado x
Indivíduo x indivíduo determináveis ou
indivíduo
indeterminados.

DIREITOS METAINDIVIDUAIS
INDIVIDUAIS
DIFUSOS COLETIVOS
HOMOGÊNEOS

Indivisível Indivisível Divisível

Sujeitos Determinados ou Sujeitos Determinados ou


Sujeitos Indeterminados
Determináveis Determináveis
Ligados por circunstâncias de Ligados por uma relação Ligados por uma origem
fato jurídica base fática comum

Essencialmente coletivos Essencialmente coletivos Acidentalmente coletivos

38
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça - Reaplicação) Considerando o que ensina

a melhor doutrina brasileira acerca das características básicas dos interesses difusos, assinale a
alternativa incorreta:

A) De acordo com os ensinamentos de Rodolfo de Camargo Mancuso, os interesses difusos

apresentam as seguintes notas básicas: indeterminação dos sujeitos, indivisibilidade do objeto,


intensa conflitualidade, duração efêmera, contingencial.

B) Para Ricardo de Barros Leonel, reportando-se a Hugo Nigro Mazzilli, os difusos são interesses

que se referem a grupos menos determinados de pessoas, entre as quais inexiste um vínculo
jurídico ou fático muito preciso, possuindo objeto indivisível entre os membros da coletividade,

compartilhável por número determinável de pessoas.

C) Na análise de Édis Milaré, o principal divisor de águas entre os interesses difusos e coletivos
está na titularidade, sendo certo que os primeiros pertencem a uma série indeterminada e

indeterminável de sujeitos, enquanto os ˙últimos relacionam-se a uma parcela também


indeterminada, mas determinável de pessoas.

D) Na síntese precisa de Celso Bastos, a característica primordial do interesse difuso é a sua

descoincidência com o interesse de uma determinada pessoa. Ela abrange, na verdade, toda
uma categoria de indivíduos unificados por possuírem um denominador fático qualquer em
comum.

Comentário:

39
A respeito da alternativa A, ao analisar os interesses difusos, destaca Mancuso: “Os

interesses difusos apresentam as seguintes notas básicas: indeterminação dos sujeitos;


indivisibilidade do objeto; intensa conflituosidade; duração efêmera, contingencial. Essa

“indeterminação de sujeitos” deriva, em boa parte, do fato de que não há um vínculo jurídico a
agregar os sujeitos afetados por esses interesses: eles se agregam ocasionalmente, em virtude

de certas contingências, como o fato de habitarem certa região, de consumirem certo produto,
de viverem numa certa comunidade, por comungarem pretensões semelhantes, por serem

afetados pelo mesmo originário de obra humana ou da natureza.” (...) (MANCUSO, Rodolfo de
Camargo. A ação civil pública como instrumento de controle judicial das chamadas políticas
públicas. In: MILARÉ, Edis (Coord.) Ação Civil Pública. Lei 7.347/1985: 15 anos. São Paulo: Ed.

Revista dos Tribunais, 2001.).

Sobre a alternativa B, Ricardo de Barros Leonel oferece a seguinte definição de interesses


difusos: “[...] são, assim, interesses que se referem a grupos menos determinados de pessoas,

entre as quais inexiste um vínculo jurídico ou fático muito preciso, possuindo objeto indivisível
entre os membros da coletividade, compartilhável por número indeterminável de pessoas”

(LEONEL, Ricardo de Barros. Manual de processo coletivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
p. 99).

Em relação à alternativa C, observa-se que "embora a distinção entre interesses difusos e

interesses coletivos seja muito sutil - por se referirem a situações em diversos aspectos análogos
- tem-se que o principal divisor de águas está na titularidade, certo que os primeiros pertencem

a uma série indeterminada e indeterminável de sujeitos, enquanto os últimos se relacionam a


uma parcela também indeterminada mas determinável de pessoas. Funda-se, também, no

vínculo associativo entre os diversos titulares, que é típico dos interesses coletivos ausente nos
interesses difusos". (MIRALÉ, ÉDIS, A Ação Civil Pública na Nova Ordem Constitucional, Saraiva,
1990, págs. 27/28).

Sobre a alternativa D, de acordo com MANCUSO (2001, p. 96), “a característica primordial


do interesse difuso é a sua descoincidência com o interesse de uma determinada pessoa. Ele

40
abrange, na verdade, toda uma categoria de indivíduos unificados por possuírem um

denominador fático qualquer em comum”.

Complementarmente, indica-se a leitura do seguinte dispositivo legal:

Art. 81, CDC. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser

exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e

ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de

pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de


origem comum.

Vemos, portanto, que o gabarito é a alternativa B, pois está incorreta, já que o autor aponta

que tais direitos são compartilháveis por número indeterminável de pessoas, enquanto a questão
fala em número determinável.

Questão 2

(VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto) Em conformidade com o que disciplina o Código
de Defesa do Consumidor sobre os interesses ou direitos individuais homogêneos, assinale a

alternativa correta.

41
A) O Ministério Público não é parte legítima para atuar em defesa dos interesses individuais

homogêneos dos consumidores.

B) A respectiva coisa julgada terá efeitos ultra partes, com a reparabilidade indireta do bem cuja
titularidade é composta pelo grupo ou classe.

C) A marca de seu objeto é a indivisibilidade e a indisponibilidade, ou seja, não comportam


fracionamento e não podem ser disponibilizados por qualquer dos cotitulares.

D) São interesses na sua essência coletivos, não podendo ser exercidos em juízo individualmente.

E) A origem comum exigida para a configuração dos interesses individuais homogêneos pode

ser tanto de fato como de direito.

Comentário:

Em sentido contrário do que prevê a alternativa A, o Ministério Público tem legitimidade

expressa para atuação no referido caso. Vejamos:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: I – o

Ministério Público; (…).

A alternativa B confunde os efeitos da coisa julgada dos direitos individuais homogêneos


com os direitos coletivos em sentido estrito. Nesse sentido, observemos:

Art. 103, III, CDC: Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa

julgada:

III – erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

42
Os direitos individuais homogêneos, ao contrário do que diz a assertiva C, podem ter seus

destinatários individualizados e possuem uma origem comum. A respeito disso, nos termos do
Art. 81, parágrafo único, III, a defesa coletiva será exercida quando se tratar de interesses ou

direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

A alternativa D está incorreta, posto que os direitos individuais homogêneos são


fracionáveis e podem ter seus destinatários individualizados. Assim, o ajuizamento da ação

coletiva não impede o ajuizamento de ações individuais, mas interfere tão somente nos efeitos
da coisa julgada, na forma do art. 104, CDC.

A alternativa E está correta. Hermes Zanetti Junior e Leonardo Garcia anotam que em

relação à origem dos direitos individuais homogêneos, "titulares ligados entre si por uma
situação de fato ou de direito comum ("decorrentes de origem comum") posterior a lesão (ex

post factum). (Fonte: ZANETTI JUNIOR, Hermes; GARCIA, Leonardo. Direitos difusos e coletivos.

10. ed. Salvador: Juspodivm, 2019).

Questão 3

(MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça Substituto) Segundo lição de Hugo Nigro
Mazilli, entre o interesse público e privado, há interesses metaindividuais ou coletivos, referentes

a um grupo de pessoas, que excedem o âmbito individual mas não chegam a constituir interesse
público. A definição legal de Direitos ou Interesses Difusos, Coletivos ou Individuais
Homogêneos encontra-se exposta no artigo 81 do Código de Defesa do Consumidor (Lei n.

8.078/90). Segundo o mencionado diploma legal:

A) Constituem interesses ou direitos coletivos, os transindividuais, de natureza indivisível, de que


sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

43
B) Constituem interesses ou direitos difusos, os transindividuais, de natureza indivisível de que

seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base;

C) Constituem interesses ou direitos individuais homogêneos os decorrentes de origem comum;

D) Constituem interesses ou direitos coletivos, os transindividuais, de natureza indivisível, de que


sejam titulares pessoas determinadas e ligadas por circunstâncias de fato.

Comentário:

A questão pede que se assinale a alternativa conforme a definição trazida pelo art. 81 do

CDC. Observando as referidas disposições, a única alternativa compatível é a letra C. Vejamos:

A letra A e a letra B confundem os conceitos de interesses coletivos com difusos.

A letra C está correta. De fato, constituem interesses ou direitos individuais homogêneos

os decorrentes de origem comum.

A letra D aponta que confunde os conceitos de interesses coletivos com difusos e diz que
seus titulares são pessoas determinadas, quando, na verdade, são indeterminadas.

Interesses ou direitos difusos – são aqueles que pertencem, a um só tempo, a cada um e

a todos que estão numa mesma situação de fato (por isso transindividuais e de natureza
indivisível). Os traços característicos dessa categoria são a indivisibilidade e a indeterminabilidade

dos seus titulares (são indeterminados e indetermináveis), que estão relacionados entre si por
circunstâncias de fato. A referida indivisibilidade, aliás, confere à coisa julgada em ações coletivas
sobre direitos difusos efeitos erga omnes. Os traços característicos dessa categoria são a

indivisibilidade e a indeterminabilidade dos seus titulares (são indeterminados e


indetermináveis), que estão relacionados entre si por circunstâncias de fato.

Interesses ou direitos coletivos (stricto sensu) – são aqueles objetivamente indivisíveis, de

que seja titular grupo, classe ou categoria de pessoas, ligadas entre si ou com a parte contrária

44
por um vínculo jurídico base e, por tal razão, determináveis. Observe-se que, assim como os

direitos difusos, são igualmente indivisíveis, mas seus titulares são determináveis, por integrarem
determinado grupo, classe ou categoria de pessoas. Note-se, ademais, que aqui as circunstâncias

que unem os titulares são jurídicas, e não de fato. A eficácia da sentença e ultra partes.

Interesses individuais homogêneos – a despeito da ausência de definição legal (que se


limita a informar que se trata daqueles “decorrentes de origem comum”), são essencialmente

direitos subjetivos individuais (e, portanto, divisíveis), cuja defesa judicial é passível de ser feita
coletivamente. Os titulares são determináveis e têm em comum a origem do direito, cuja defesa

judicial pode ser feita coletivamente por razões de conveniência, sem impedir a tutela individual.
Os seus traços característicos, por conseguinte, são: a divisibilidade e a determinabilidade dos

titulares (são direitos individuais múltiplos enfeixados para uma defesa coletiva), em razão de
uma causa de origem comum.

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser

exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e

ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de

pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de


origem comum.

45
Questão 4

(VUNESP - 2018 - Câmara de Itaquaquecetuba - SP - Procurador Jurídico) “Explosão em

shopping de Osasco mata pelo menos 39 pessoas e fere 380 - Uma explosão na praça de
alimentação do Osasco Plaza Shopping, em Osasco (12 km a oeste de São Paulo), matou pelo
menos 39 pessoas, segundo a Defesa Civil, e feriu cerca de 380.”

(Folha de S.Paulo, 12.06.1996, Cotidiano. Adaptado)

Essa matéria jornalística relata ocorrência de dano que atingiu múltiplas vítimas. Nessa hipótese,
considerando os conceitos de direitos ou interesses coletivos latu senso, é correto afirmar que

se trata de situação jurídica que se enquadra no conceito de

A) direitos difusos.

B) direitos coletivos em sentido estrito.

C) interesses individuais homogêneos.

D) interesses individuais indeterminados.

E) direitos individuais simples.

Comentário:

A situação descrita trata dos interesses individuais homogêneos, sendo, portanto, correta
a alternativa C. Nesse sentido, é preciso compreender que o mesmo fato pode gerar danos a
interesses transindividuais de mais de um tipo. Mazzili exemplifica com a explosão de uma usina

atômica poderia causar não só danos globais ao meio ambiente (interesses difusos), mas
também danos individuais determináveis aos moradores vizinhos, como a perda de seu gado

(interesses individuais homogêneos).

46
Na questão, ao dizer “matou pelo menos 39 e feriu cerca de 380", o examinador disse que

foram provocadas lesões divisíveis, individualmente variáveis e quantificáveis, sendo, portanto,


interesses individuais homogêneos.

Os interesses ou direitos individuais homogêneos são direitos oriundos de uma origem

comum, que pode ser divisível, caso em que sua decisão judicial possui efeito erga omnes se o
pedido for julgado procedente.

Aqui os titulares dos direitos são pessoas determinadas ligadas por uma circunstância que

abrangem uma origem comum, sem uma ligação necessária.

Um exemplo disso, seria a compra de um produto cuja série apresentou um mesmo defeito.
Nesse caso, as pessoas atingidas pelo defeito podem reclamar judicialmente sobre tal fato. A

origem comum se faz no defeito em série, e cada indivíduo identificável pode reclamar.

Questão 5

(VUNESP - 2017 - Prefeitura de Marília - SP - Procurador Jurídico) Considerando a distinção

das categorias de direitos transindividuais segundo as suas origens, na hipótese de


consumidores que adquiriram produtos fabricados em série com defeito, ou seja, interessados

determináveis que estão ligados entre si por uma mesma situação de fato compõem a categoria
de

A) interesses coletivos em sentido estrito.

B) direito individual puro.

C) interesses individuais homogêneos.

D) interesses individuais heterogêneos.

47
E) interesses difusos.

Comentário:

Para se chegar ao gabarito da questão, a letra C, há de se considerar o seguinte:

Os direitos individuais homogêneos, são aqueles que decorrem de uma origem comum,
possuem transindividualidade instrumental ou artificial, os seus titulares são pessoas

determinadas e o seu objeto é divisível e admite reparabilidade direta, ou seja, fruição e


recomposição individual.

Ainda, há de se verificar que, em casos envolvendo tais direitos, deve-se dispensar

tratamento especial conferido aos direitos individuais homogêneos por razões pragmáticas,
objetivando-se unir várias demandas individuais em uma única coletiva, por razões de facilitação

do acesso à justiça e priorização da eficiência e da economia processuais.

A seguir, o fundamento legal:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e

ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de

pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de


origem comum.

48
A esse respeito Nelson Nery e Rosa Maria de Andrade Nery ensinam que são direitos

individuais cujo titular é perfeitamente identificável e cujo objeto é divisível e cindível. O que
caracteriza um direito individual comum como homogêneo é a sua origem comum. A grande

novidade trazida pelo CDC no particular foi permitir que esses direitos individuais pudessem ser
defendidos coletivamente em juízo. Não se trata de pluralidade subjetiva de demanda

(litisconsórcio), mas de uma única demanda, coletiva, objetivando a tutela dos titulares dos
direitos individuais homogêneos. A ação coletiva para a defesa de direitos individuais

homogêneos é, grosso modo, a class actin brasileira.

Questão 6

(CESPE - 2017 - DPE-AL - Defensor Público) São considerados direitos decorrentes de origem
comum os direitos

A) indivisíveis.

B) coletivos.

C) individuais homogêneos.

D) difusos.

E) transindividuais.

Comentário:

A resposta para questão é a letra C, conforme literalidade do art. 81, parágrafo único, III
do CDC. Vejamos:

Art. 81 do CDC: A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá

ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

49
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de

origem comum.

Os interesses individuais homogêneos que são direitos individuais cujo titular é


perfeitamente identificável e cujo objeto é divisível e cindível. O que caracteriza um direito

individual comum como homogêneo é a sua origem comum. A grande novidade trazida pelo
CDC no particular foi permitir que esses direitos individuais pudessem ser defendidos

coletivamente em juízo.

Não se trata de pluralidade subjetiva de demanda (litisconsórcio), mas de uma única


demanda, coletiva, objetivando a tutela dos titulares dos direitos individuais homogêneos. A

ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos é, grosso modo, a class actin

brasileira, conforme lição de Nelson Nery e Rosa Maria de Andrade Nery.

Questão 7

(VUNESP - 2018 - PC-SP - Investigador de Polícia) Considerando a evolução histórica dos


direitos humanos, assinale a alternativa que indica corretamente as três gerações de direitos, na

ordem histórica em que elas são classificadas pela doutrina.

A) Direitos da coletividade; direitos de solidariedade ou de fraternidade; e direitos e garantias


individuais.

B) Direitos de liberdade positiva; direitos de liberdade negativa; e direitos de solidariedade ou

de fraternidade.

C) Direitos civis e sociais; direitos de liberdades e garantias individuais; e direitos coletivos e


transindividuais.

D) Direitos de liberdade negativa, civis e políticos; direitos econômicos, sociais e culturais; e

direitos de fraternidade ou de solidariedade.

E) Direitos trabalhistas; direitos sociais; e direitos da democracia.

50
Comentário:

A alternativa A está incorreta. Direitos da coletividade são de segunda geração; direitos de


solidariedade ou de fraternidade são de terceira geração; e direitos e garantias individuais são
de primeira geração.

Assertiva B incorreta. Direitos de liberdade positiva são de segunda geração; direitos de


liberdade negativa de primeira geração; e direitos de solidariedade ou de fraternidade de terceira
geração.

Alternativa C também apresenta ordem incorreta. Os direitos civis são de primeira geração;
os sociais de segunda geração; os direitos de liberdades e garantias individuais são de primeira
geração; direitos coletivos são de segunda geração e os transindividuais de terceira geração.

A alternativa D está correta, sendo o gabarito da questão por apresentar a ordem exata
de gerações. Os direitos de liberdade negativa, civis e políticos são de primeira geração; direitos
econômicos, sociais e culturais são de segunda geração; e os direitos de fraternidade ou de

solidariedade são de terceira geração.

Alternativa E incorreta. Direitos trabalhistas são de segunda geração; direitos sociais


também são de segunda geração; e direitos da democracia, primeira geração.

A divisão dos Direitos Humanos em gerações, proposta por Karel Vazak e difundida por
Norberto Bobbio, que correlaciona cada geração as quais passaram esses direitos como um dos
valores propostos no lema da Revolução Francesa, de 1789, "liberdade, igualdade e
fraternidade". Em ordem, a primeira geração, portanto, seria aquela relacionada à liberdade, da
qual fazem parte os direitos de liberdade negativa, civis e políticos. A segunda geração seria

aquela relacionada à igualdade, da qual fazem parte os direitos econômicos, sociais e culturais.
E a terceira geração, por fim, seria aquela relacionada à fraternidade, da qual fazem parte os

direitos de fraternidade ou de solidariedade.

51
Direitos de 1ª geração/dimensão: São direitos individuais com caráter negativo por

exigirem diretamente uma abstenção do Estado, seu principal destinatário.

Direitos de 2ª geração/dimensão: Os direitos de segunda geração são direitos de


titularidade coletiva e com caráter positivo, pois exigem atuações do Estado.

Direitos de 3ª geração/dimensão: Os direitos fundamentais de terceira geração, ligados ao


valor fraternidade ou solidariedade, são os relacionados ao desenvolvimento ou progresso, ao
meio ambiente, à autodeterminação dos povos, bem como ao direito de propriedade sobre o

patrimônio comum da humanidade e ao direito de comunicação. São direitos transindividuais,

em rol exemplificativo, destinados à proteção do gênero humano.

Questão 8

(VUNESP - 2019 - Câmara de Monte Alto - SP - Procurador Jurídico) A doutrina, ao tratar


dos Direitos Humanos de primeira geração/dimensão, estabelece que

A) são direitos à paz, ao desenvolvimento, e à autodeterminação entre outros.

B) são direitos atinentes à solidariedade social.

C) representam a modificação do papel do Estado para além de mero fiscal das regras jurídicas.

D) são denominados também direitos de defesa, ou de prestações negativas.

E) são oriundos da constatação da vinculação do homem ao planeta terra, com recursos finitos.

Comentário:

A alternativa correta é a letra D. Os direitos de primeira dimensão referem-se às liberdades

negativas clássicas, que enfatizam o princípio da liberdade, configurando os direitos civis e


políticos. Exigem do ente estatal uma abstenção e não uma prestação, possuindo assim um

caráter negativo, tendo como titular o indivíduo.

52
Os direitos de segunda dimensão relacionam-se com as liberdades positivas, são aqueles

que asseguram o princípio da igualdade material entre o ser humano. A segunda geração
começa a se fortalecer a concepção de estado do bem estar social. O direito de segunda

geração, ao invés de se negar ao Estado uma atuação, exige-se dele que preste políticas públicas,
tratando-se, portanto, de direitos positivos, impondo ao Estado uma obrigação de fazer,

correspondendo aos direitos à saúde, educação, trabalho, habitação, previdência social,


assistência social e etc.

Os direitos de terceira geração ou dimensão consagram os princípios da solidariedade ou

fraternidade. A principal preocupação passa a ser com os direitos difusos, ou seja, direitos cujos
titulares não se pode determinar, nem mensurar o número exato de beneficiários – e com os

direitos coletivos, que possuem um número determinável de titulares, que por sua vez
compartilham determinada condição. São exemplos a proteção de grupos sociais vulneráveis e

a preservação do meio ambiente.

Questão 9

(VUNESP - 2019 – Prefeitura de Valinhos - SP - Procurador Jurídico) Foram apresentadas


três situações ao procurador do município: (i) a construção de uma empresa de rejeitos de

minério de ferro ao lado de um rio que tem nascente no Município, em área considerada de
proteção ambiental; (ii) a contaminação com o vírus da AIDS de vários pacientes do hospital

municipal da cidade que receberam transfusão de sangue; (iii) o aumento de determinado


tributo municipal em que se questiona o suposto confisco.

Diante dessas situações hipotéticas, dentro da classificação dos direitos transindividuais, o

procurador conclui que

A) todos os casos são classificados como direitos difusos.

B) a hipótese (i) se refere a direito difuso e os itens (ii) e (iii) referem-se a direitos individuais
homogêneos.

53
C) o item (i) é classificado como direito coletivo em sentido estrito, o item (ii) como individual

homogêneo e o (iii) difuso.

D) o item (i) é classificado como difuso, o item (ii) como individual homogêneo e o (iii) direito
coletivo em sentido estrito.

E) todos os casos são classificados como individuais homogêneos.

Comentário:

Para a resolução desta questão, é imprescindível o conhecimento do conceito de direitos


difusos, coletivos e individuais homogêneos fornecido pelo artigo 81, parágrafo único, do

Código de Defesa do Consumidor.

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e

ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de

pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de


origem comum.

A primeira afirmação contida no enunciado refere-se ao direito ambiente, o qual possui

natureza difusa por ser titularizado por pessoas indetermináveis e que são ligadas por um
situação de fato (no caso, a poluição).

54
A segunda afirmação refere-se a ato ilícito praticado pelo Poder Público contra pessoas

que receberam transfusão de sangue, ou seja, a origem do interesse das vítimas possui uma
origem comum (transfusão de sangue), bem como há divisibilidade do direito. A divisibilidade

do direito pode ser extraída da possibilidade de cada vítima ajuizar ação indenizatória contra o
Poder Público pelo ato ilícito praticado.

A terceira afirmação apresenta uma situação onde há uma determinada categoria de

pessoas (contribuintes) ligadas com a parte contrária (Estado) por uma relação jurídica base
(relação jurídica tributária), pois somente é contribuinte ou responsável tributário aqueles que

estão expressamente previstos no Código Tributário Nacional.

Logo, na ordem, estamos falando de (i) direitos difusos, (ii) direitos individuais homogêneos
e (iii) direitos coletivos, razão pela qual a alternativa correta é a D.

Questão 10

(CESPE/CEBRASPE - 2019 – DPE - DF – Defensor Público) Acerca do direito coletivo, julgue


o item a seguir.

Os interesses difusos, coletivos strictu sensu e individuais homogêneos possuem como

característica comum a indivisibilidade do objeto.

Certo.

Errado.

Comentário:

Há consenso na doutrina e na jurisprudência de que apenas os direitos difusos e coletivos


possuem a indivisibilidade do objeto, pois no caso dos interesses individuais homogêneos as

55
vítimas podem ser reparadas na proporção de sua lesão. Ou seja, podem buscar a via individual

para o ressarcimento de seu prejuízo.

Logo, a afirmação do enunciado está ERRADO.

56
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - E

Questão 3 - C

Questão 4 - C

Questão 5 - C

Questão 6 - C

Questão 7 - D

Questão 8 – D

Questão 9 - D

Questão 10 - ERRADO

57
QUESTÃO DESAFIO

58
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

59
LEGISLAÇÃO COMPILADA

TEORIA GERAL DOS DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

 Constituição Federal: Arts. 1º, 5º, 8º, 129


Os artigos 1º e 5º estabelecem os princípios fundamentais da República Federativa
do Brasil e os objetivos da nação, evidenciando que a Carta Maior elevou a
importância dos Direitos Trainsindividuais.
Artigo 8º se refere às entidades sindicais, as quais possuem legitimidade para as
ações coletivas, conforme se verá com o decorrer da matéria.
O artigo 129 se refere às funções institucionais do Ministério Público, dentre as quais
a ação civil pública e o inquérito civil, os quais são essenciais para a matéria.
 Lei nº 8.078/90: a partir do artigo 81.
A partir deste capítulo é fornecido o conceito dos direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos, bem como há disposições sobre legitimidade para as ações
coletivas, a liquidação, execução, coisa julgada e outros institutos imprescindíveis para
a compreensão da matéria.

 Súmula n.º 601, STJ.

O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço

público.

 Súmula nº 595, STJ.

60
As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo

aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre
o qual não lhe tenha sido dada prévia e adequada informação.

 Súmula nº 597, STJ.

A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para utilização dos serviços de

assistência médica nas situações de emergência ou de urgência é considerada abusiva se


ultrapassado o prazo máximo de 24 horas contado da data da contratação.

 Súmula nº 602, STJ.

O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos habitacionais promovidos

pelas sociedades cooperativas.

As súmulas apontadas são exemplos de aplicação prática do conceito de direitos difusos,


coletivos e individuais homogêneos, razão pela qual o estudante deverá memorizar os
enunciados nelas constantes, pois são de altíssima incidência nas provas para todas as carreiras

jurídicas.

61
JURISPRUDÊNCIA

TEORIA GERAL DOS DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

 STJ. Corte Especial. AgInt nos EREsp 1623931/PE, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 27/08/2019.
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL CIVIL. SINDICATO. PROPOSITURA DE AÇÃO COLETIVA NÃO
CONSUMERISTA. PRETENDIDA APLICAÇÃO DO ART. 87 DO CDC. PARADIGMA
COM PECULIARIDADES AUSENTES NO ARESTO EMBARGADO. AUSÊNCIA DE
SIMILITUDE FÁTICO-PROCESSUAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA INDEFERIDOS
LIMINARMENTE.
ACÓRDÃO EMBARGADO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA
PACÍFICA.
AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. O acórdão embargado da Segunda Turma - nos autos originários de ação de
repetição de indébito tributário relativamente ao FUNRURAL ajuizada pela
ASSOCIAÇÃO DOS FORNECEDORES DE CANA DE PERNAMBUCO, a ora Agravante
- entendeu que a isenção de custas e emolumentos judiciais prevista no art. 87
da Código de Defesa do Consumidor visa a facilitar a defesa dos direitos dos
consumidores, não sendo aplicável às ações, ainda que coletivas, propostas por
sindicato em defesa dos sindicalizados.
2. O acórdão paradigma da Terceira Turma trouxe como pano de fundo "ação
ordinária em que se discutem as práticas de oferta ao público e de propaganda
enganosa por fundo de pensão e de indevida migração compulsória de
participantes do plano de benefícios REG/REPLAN para o plano REB." Naqueles
autos, entendeu a Turma pela aplicação do art. 87 do Código de Defesa do
Consumidor, de forma subsidiária, à situação de participantes de plano de
previdência privada, defendidos por associação civil em regime de representação,

62
por terem sido vítimas de oferta ao público de propaganda enganosa relacionada
a fundo de pensão, mediante prolação de sentença genérica cuja individualização
será feita em execução individual ou em ação de cumprimento.
3. Constata-se a manifesta ausência de similitude fático-processual das situações
comparadas, inaptas a configurar a alegada divergência jurisprudencial.
4. Ademais, o acórdão embargado decidiu em perfeita harmonia com a
jurisprudência consolidada, pois "é pacífico o entendimento desta Corte Superior
de que a isenção prevista no art. 87 do Código de Defesa do Consumidor destina-
se apenas às ações coletivas, não se aplicando às ações em que sindicato ou
associação buscam o direito de seus associados ou sindicalizados. Precedentes:
AgInt nos EDcl no REsp. 1.263.030/RS, Rel. Min. REGINA HELENA COSTA, DJe
3.9.2018;
AgInt no REsp. 1.623.931/PE, Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, DJe 13.6.2017."
(AgInt no AREsp 681.845/AL, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 13/12/2018, DJe 04/02/2019; sem grifo no
original).
5. Agravo interno desprovido.
(AgInt nos EREsp 1623931/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL,
julgado em 27/08/2019, DJe 02/09/2019).

O art. 87 do CDC prevê: Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este código não haverá
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem
condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados,

custas e despesas processuais. A isenção de custas e emolumentos judiciais prevista no art. 87


da Código de Defesa do Consumidor visa a facilitar a defesa dos direitos dos consumidores,

não sendo aplicável às ações, ainda que coletivas, propostas por sindicato em defesa dos
sindicalizados.

 STJ. Corte Especial. EREsp 1378938-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
20/06/2018 (Info 629).

63
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
ANULAÇÃO DE CLÁUSULAS CONSIDERADAS ABUSIVAS EM CONTRATO DE
PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. 1. LEGITIMIDADE ATIVA DO
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. RECONHECIMENTO. PRECEDENTES. 2.
INTERPRETAÇÃO LÓGICO-SISTEMÁTICA DA PETIÇÃO INICIAL. DECISÃO EXTRA
PETITA NÃO CONFIGURADA. 3. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS
N. 282/STF E 211/STJ. 4. ILEGALIDADE NA COBRANÇA DE CORREÇÃO
MONETÁRIA PELO INCC APÓS O PRAZO DE ENTREGA DO IMÓVEL. REVISÃO DAS
CONCLUSÕES ESTADUAIS.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS E REEXAME DE FATOS E PROVAS. APLICAÇÃO DAS SÚMULAS 5 E
7/STJ. 5. DIVULGAÇÃO DA DECISÃO CONDENATÓRIA PELOS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO. AMPLO CONHECIMENTO DA DECISÃO COLETIVA. FALTA DE
IRREGULARIDADE. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 94 DO CDC. 6. PEDIDOS
ALTERNATIVOS. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE DISPOSITIVO VIOLADO. SÚMULA
284/STF. 7. AGRAVO IMPROVIDO.
1. De fato, os arts. 81 e 82 da Lei n. 8.078/1990 conferem legitimidade ao
Ministério Público para promover ação civil pública em defesa dos interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos do consumidor. Ainda que se trate
de direito disponível, há legitimidade do órgão ministerial quando a defesa do
consumidor de forma coletiva é expressão da defesa dos interesses sociais, nos
termos do que dispõem os arts. 127 e 129 da Constituição Federal.
Precedentes desta Corte.
2. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não há falar em
julgamento extra petita quando o julgador, mediante interpretação lógico-
sistemática, examina a petição apresentada pela parte como um todo.
2.1. No caso dos autos, a constatação da existência de pedido de nulidade de
todos os serviços relacionados à assessoria técnica, imobiliária, jurídica, incluída
a comissão de corretagem por se tratar de serviço de assessoria imobiliária, além
da ampla divulgação da decisão condenatória pelos meios de comunicação, que,

64
na hipótese, foi eleito pelo magistrado como sendo os jornais de grande
circulação, foi extraída da análise dos fundamentos expostos na petição inicial,
estando a conclusão do Tribunal estadual em sintonia com a jurisprudência deste
Tribunal Superior.
3. O prequestionamento é exigência inafastável contida na própria previsão
constitucional, impondo-se como um dos principais pressupostos ao
conhecimento do recurso especial, sob pena de aplicação, por analogia, da
Súmula 282/STF bem como da Súmula 211/STJ.
3.1. A incidência do art. 1.025 do CPC/2015 exige o reconhecimento, nesta
instância, da negativa de prestação jurisdicional, arguida no recurso especial, o
que não ocorreu no presente caso.
4. A revisão das conclusões estaduais (acerca da ilegalidade da cobrança de
correção monetária pelo INCC após o prazo de entrega da obra) demandaria a
interpretação de cláusulas contratuais e o revolvimento do acervo fático-
probatório dos autos, providências inviáveis no âmbito do recurso especial, ante
os óbices das Súmulas 5 e 7/STJ.
5. Com efeito, a invocação do art. 240 do CPC/2015 não tem pertinência com a
determinação da publicação da condenação imposta pelo Juízo de primeiro grau.
Isso porque o art. 94 do CDC "disciplina a hipótese de divulgação da notícia da
propositura da ação coletiva, para que eventuais interessados possam intervir no
processo ou acompanhar seu trâmite, nada estabelecendo, porém, quanto à
divulgação do resultado do julgamento" (REsp 1.388.000/PR, Corte Especial, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Relator para o acórdão Ministro Og Fernandes,
DJe 12/4/2016).
6. Outrossim, o pedido alternativo de fixação de prazo razoável e de redução das
multas aplicadas por descumprimento, além de se mostrar deficiente por não ter
a recorrente indicado o suposto dispositivo de lei federal violado, o que atrai o
óbice da Súmula 284/STF, também não pode ser acolhido, tendo em vista que o
TJSP entendeu que "as multas foram adequadas e o prazo para aplicação é
imediato, para evitar lesão ainda maior ao consumidor" (e-STJ, fl. 737), sendo

65
assim, para infirmar tais conclusões, seria imprescindível o reexame de provas, o
que é inadmissível nesta instância extraordinária, consoante dispõe a Súmula
7/STJ.
7. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1508585/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 25/05/2020, DJe 28/05/2020).

O Ministério Público possui legitimidade ativa para postular em juízo a defesa de direitos
transindividuais de consumidores que celebram contratos de compra e venda de imóveis com
cláusulas pretensamente abusivas. STJ. Corte Especial. EREsp 1378938-SP, Rel. Min. Benedito

Gonçalves, julgado em 20/06/2018 (Info 629). Vale a pena relembrar: Súmula 601-STJ: O
Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e

individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço


público.

66
MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 12.ed. São Paulo: Malheiros

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Tutela de interesses difusos e coletivos – 13. ed. – São Paulo: Saraiva, 2019.

LEONEL, Ricardo de Barros. Manual de processo coletivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

MANCUSO. Rodolfo de Camargo. Jurisdição coletiva e coisa julgada. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

MANCUSO, Rodolfo de Camargo. A ação civil pública como instrumento de controle judicial das chamadas
políticas públicas. In: MILARÉ, Edis (Coord.) Ação Civil Pública. Lei 7.347/1985: 15 anos. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 2001.

MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 18.ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

MIRALÉ, ÉDIS. A Ação Civil Pública na Nova Ordem Constitucional, Saraiva, 1990.

ZANETTI JUNIOR, Hermes; GARCIA, Leonardo. Direitos difusos e coletivos. 10.

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