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JURÍDICA
CARREIRAS JURÍDICAS
DIREITOS DIFUSOS E
COLETIVOS
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
1
Mapa mental para fixação
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que
um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.
Bons estudos
2
Recado para você que está assistindo às videoaulas
Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:
O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!
Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;
A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada
no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;
3
SOBRE ESTA DISCIPLINA
recorrência é ainda mais acentuada, pois envolve questões ligadas diretamente às funções
institucionais destes órgãos.
fases do certame, exigindo grande conhecimento do candidato para que possa, por exemplo,
redigir uma boa dissertação na prova escrita ou que sustente um raciocínio coerente em uma
prova oral.
4
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
A partir da análise das últimas provas das carreiras jurídicas em geral, verificou-se que a
disciplina de Direito Difusos e Coletivos possui grande recorrência, principalmente nas carreiras
de Promotor de Justiça e Defensor Público. Através destes dados, identificou-se quais os temas
mais cobrados na disciplina de Direitos Difusos e Coletivos.
2%1%1%
3% 2%
7%
9% 43%
10%
10%
12%
5
TEMAS RECORRÊNCIA
A tutela em juízo dos interesses individuais homogêneos, difusos e
coletivos
Da Defesa do Consumidor em Juízo (Lei n° 8.078/1990)
Ação civil pública
Inquérito civil público
Ação civil pública de improbidade administrativa (Lei nº
8.429/1992)
Teoria constitucional dos direitos difusos e coletivos
Proteção ao meio ambiente
Direitos das pessoas com transtorno mental - Lei n° 10.216/2001
Proteção aos patrimônios cultural, público e social
Lei n° 4.717/1965 (Lei da Ação Popular)
Mandado de segurança coletivo (Lei nº 12.016/2009)
Defesa da ordem urbanística
Tutela de urgência, tutela de segurança, tutela de evidência e
tutela inibitória no processo coletivo
Direitos fundamentais e direitos metaindividuais materiais
Mandado de injunção coletivo
Tutela coletiva no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei
nº 8.069/1990)
Ação civil pública para proteção dos investidores no mercado de
valores mobiliários (Lei nº 7.913/1989)
Execução de ações coletivas
Convenção internacional sobre o Direito das pessoas com
deficiência, internalizada pelo Brasil por meio do Decreto n°
6.949/2009
Ação civil pública na prevenção e repressão às infrações contra a
ordem econômica (Lei nº 12.529/2011)
Demandas estruturais
6
Ação civil pública na defesa de outros direitos ou interesses
difusos e coletivos
7
Assim, os assuntos de Direitos Difusos e Coletivos estão distribuídos da seguinte forma:
CAPÍTULOS
Capítulo 4 – Ação Civil Pública
Capítulo 5 – Ação Popular
Capítulo 6 – Mandado de Segurança Coletivo
9
SOBRE ESTE CAPÍTULO
Direitos.
Por se tratar de um capítulo inicial, sua abordagem é realizada basicamente pela doutrina
e sua incidência em concursos é baixa, contudo, é muito importante para complementar
perguntas que não abordem sobre ela diretamente, como por exemplo em uma prova escrita
de 2º fase, onde o candidato demonstrará conhecimento ao examinador.
A teoria geral dos Direitos Difusos e Coletivos costuma ser cobrada em concursos que
exigem um conhecimento mais profundo da matéria, como nos cargos para as carreiras do
Ministério Público e da Defensoria Pública.
10
SUMÁRIO
Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 13
GABARITO ............................................................................................................................................... 57
12
DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS
Capítulo 1
que forma? A Constituição da República os consagra já em seu primeiro artigo, o qual dispõe a
formação da República Federativa do Brasil e elenca os seus fundamentos, incluindo ali a
devido às suas peculiaridades, se enquadram nas categorias de primeira geração (ou individuais),
segunda geração (ou coletivos) e terceira geração (ou difusos).
13
1.2 Histórico
A utilização da palavra “geração” dá a entender que uma mais nova substitui a anterior,
porém não é o que ocorre, porque uma nova dimensão de direitos complementa as conquistas
da dimensão anterior, e não as exclui.
fraternidade – lembre-se destes lemas paras memorizar os ideais das três primeiras dimensões),
foram base para os direitos de 1.ª, 2.ª e 3.ª dimensão e que iriam evoluir, segundo a doutrina,
5ª 1ª
Geração Geração
4ª 2ª
Geração Geração
3ª
Geração
14
Esses direitos referem-se às liberdades públicas e aos direitos políticos. Sobre o tema,
Bonavides ensina que “os direitos de primeira geração ou direitos de liberdades têm por titular
o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e
ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico; enfim, são direitos de resistência
ou de oposição perante o Estado”.
Para melhor compreensão do tema, tenha em mente que a primeira dimensão exige um
“não fazer” por parte do Estado, ou seja, trata-se de direitos que impedem o Estado de fazer
algo contra os indivíduos, limitando seu poder.
A segunda dimensão dos direitos fundamentais visa, entre outras razões, consagrar a
Veja que aqui há uma mudança na relação do Estado com indivíduos, pois surgem direitos
solidariedade ou fraternidade.
15
Os direitos da 3.ª dimensão são direitos transindividuais, isto é, vão além dos interesses
O cerne da matéria de Direitos Difusos e Coletivos, portanto, está nos direitos de terceira
dimensão.
Democracia Direta;
Informação;
Pluralismo.
O direito à paz foi classificado por Karel Vasak como de 3.ª dimensão. Bonavides, contudo,
entende que o direito à paz deva ser tratado em dimensão autônoma, a 5.ª dimensão, chegando
a afirmar que a paz é axioma da democracia participativa, ou, ainda, supremo direito da
humanidade.
direitos transindividuais (3ª dimensão), globalização dos direitos (4ª dimensão) e paz (5ª
dimensão).
1
Vide questões 07 e 08.
16
1.2.1 Surgimento e Evolução do Processo Coletivo
O processo civil tradicional, que nasceu como ciência autônoma no século XIX, foi
construído sob um enfoque individualista, como consequência do momento histórico no
objetivavam dar solução àqueles litígios individuais, ou violações eventuais de direito, que eram
levados a exame pelo Poder Judiciário,
Ensina o que autor que numa sociedade cada vez mais complexa, em que as relações
jurídicas foram massificadas, eventual falha em alguma de suas engrenagens tem potencial para
lesar ou ameaçar de lesão interesses de centenas, milhares ou milhões de pessoas, quando não
Tal massificação dos conflitos sociais tornou necessário o reconhecimento, pelo direito
objetivo, de direitos subjetivos de segunda dimensão, como os culturais, econômicos, sociais,
17
Todos eles caracterizados por se situarem a meio caminho entre o interesse público - já
que não pertencem propriamente ao Estado, nem tampouco coincidem necessariamente com o
bem comum - e o privado, posto que não pertencem exclusivamente a nenhum indivíduo.
Esses novos direitos caracterizaram-se por possuírem uma dimensão coletiva, pertencem
do próprio direito processual civil, de modo que o nascimento daquele é intimamente atrelado
à própria evolução metodológica deste.
Romano, quando então não havia diferença formal entre o direito processual e o direito material.
Foi graças a este distanciamento entre o direito material e o direito processual, que este
passou a ser considerado um ramo autônomo do Direito.
Gajardoni (2018, p. 19) aponta que, em meados do século XX, teve início uma fase crítica
do direito processual civil, que dura até os dias atuais, conhecida como fase instrumentalista.
A partir dela, o direito processual, sem renunciar à sua autonomia científica, passou a ser
investigado extrinsecamente, como um meio de acesso à Justiça, algo que seria impossível de
ocorrer sem aferição dos seus resultados práticos e da capacidade dele em tutelar o direito
material.
Neste contexto, em razão de um relatório apresentado por Bryan Garth e Mauro Cappelletti
sobre acesso à Justiça, passou-se a falar em 3 (três) ondas renovatórias de acesso à Justiça.
18
Em outras palavras, apregoava-se que a única maneira de o processo realmente se tornar
um instrumento a serviço da Justiça era ele passar por estas três grandes transformações, sem
o que ele continuaria a ser uma fórmula vazia.
Sob esta ótica, pode-se afirmar que o surgimento formal do processo coletivo ocorreu
19
Conflitos entre pessoas indeterminadas talvez
Conflitos entre pessoas determinadas
determináveis, algumas vezes só por grupo)
Legitimação atípica (extraordinária ou
Legitimação ordinária
autônoma)
Possibilidade de coisa julgada erga omnes
Coisa julgada intra partes
ou ultra partes
Destinatário da indenização: a) se divisível:
Destinatário da indenização: vítima ou
vítima ou sucessores b) se indivisível: fundo
sucessores
(art. 13 da LACP)
Sem intervenção nas políticas públicas como Com intervenção nas políticas públicas como
regra regra (significado social)
art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal, e ainda regulamentada pela Lei n. 4.717/65.
alguns direitos difusos, como o patrimônio público, moralidade administrativa, meio ambiente
e patrimônio histórico cultural, deixando sem proteção uma série de outros direitos desta
natureza, bem como os direitos coletivos e individuais homogêneos previstos no art. 81, II e III,
Os estudiosos do processo coletivo costumam apontar que foi a partir do advento da ação
20
A ação civil pública surgiu no Brasil no art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81 (Política Nacional
do Meio Ambiente). Para regulamentar esta disposição, até então sem antecedente no país, o
legislativo federal, aprovou a Lei n. 7.347/85, a Lei de Ação Civil Pública.
O primeiro deles foi a própria Constituição Federal, que, a partir do seu art. 127, a
tratar do Ministério Público, eleva a ação civil pública a status constitucional, nos
termos do art. 129.
Outras leis surgiram após a consolidação daquilo que se costuma chamar de sistema
processual coletivo, entre elas o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90), a Lei de
Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/92) e o Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001), o
Estatuto do Idoso, entre outros aqui tratados, todos com disposições concernentes ao processo
coletivo.
Durante muito tempo, a doutrina dividia o estudo do Direito em dois grandes ramos:
Direito Público e Direito Privado.
O Direito Público tinha como objeto o estudo das relações que envolviam
do interesse tutelado (a título de exemplo, tem-se o exercício do direito de punir pelo Estado
contra o autor de infrações penais, disciplinado pelo Direito Penal).
21
O Direito Privado, por sua vez, tutelava as relações entre os próprios indivíduos, nas quais
estes são os titulares do direito discutido (a título de exemplo, tem-se os contratos celebrados
e disciplinados pelo Direito Civil).
Em relação ao Direito Público, observou-se, através dos tempos, que era necessário
realizar uma distinção entre aquilo que era de interesse de toda a coletividade e aquilo que era
de interesse apenas do ente político Estado (atuando como pessoa jurídica de direito público
interno).
Tal distinção foi criada pelo fato de que, com o passar do tempo, constatou-se que os
governantes nem sempre buscavam fazer o melhor para a coletividade, ou seja, nem sempre
coincidiam o interesse público primário com o interesse público secundário.
E qual a diferença?
O interesse público primário é o interesse social, nos dizeres de Hugo Nigro Mazzilli, ou
seja, o interesse da sociedade ou da coletividade como um todo, sendo que nesse caso há uma
certa unanimidade social em relação a estes direitos, havendo baixa conflituosidade na
sociedade.
22
Eles são compartilhados por grupos, classes ou categorias de pessoa, como os
São interesses que excedem o âmbito estritamente individual, mas não chegam
Surgiram a partir do fracionamento do poder estatal entre novos focos de poder, como
A respeito da origem do sistema de freios e contrapesos, Dalmo Dallari ensina que sua
gênese veio com a separação de poderes, consagrada nas Constituições de quase todo o mundo,
sendo também associado à ideia de Estado Democrático.
Segundo essa teoria os atos que o Estado pratica podem ser de duas espécies: ou são
atos gerais ou são especiais. Os atos gerais, que só podem ser praticados pelo poder legislativo,
constituem-se na emissão de regras gerais e abstratas, não se sabendo, no momento de serem
Dessa forma, o poder legislativo, que só edita atos gerais, não atua concretamente na
vida social, não tendo meios para cometer abusos de poder nem para beneficiar ou prejudicar
23
a uma pessoa ou a um grupo em particular. Só depois de emitida a norma geral é que se abre
conglomerados econômicos.
Assim, surge o corporativismo, que nos dizeres de Mancuso é “representado pelo anseio
dos indivíduos de participar do processo político-econômico; essa aspiração veio acompanhada
natureza coletiva ampla, sem se restringir a qualquer grupo, categoria ou classe de pessoas, não
há titular individualmente considerado.
A massificação dos conflitos sociais fez necessário o reconhecimento, pelo direito objetivo,
caracterizados por se situarem a meio caminho entre o interesse público e o privado, posto que
não pertencem propriamente ao Estado, nem tampouco coincidem necessariamente com o bem
O parágrafo acima deve ser memorizado para que se entenda o motivo pelo qual os
interesses transindividuais não estão inseridos na classificação de direito público e direito
privado.
Esses novos direitos caracterizaram-se por possuírem uma dimensão coletiva pois
pertencem a grupos, classes ou categorias de pessoas, ou à coletividade, sendo que, muitas
24
1.5 Interesse e Direito Subjetivo
no ordenamento jurídico.
Direito subjetivo, por sua vez, segundo Reale, é “a possibilidade de exigir-se, de maneira
garantida, aquilo que as normas de direito atribuem a alguém como próprio”.
Nos termos do art. 81, parágrafo único, da Lei n. 8.078/90, interesses ou direitos difusos
são os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
A indivisibilidade do objeto;
A indeterminabilidade do sujeito;
Para que se possa compreender quando haverá interesse difuso, Marcus Vinicius Rios
Gonçalves usa o seguinte exemplo: determinada empresa faz divulgar por grande rede de
televisão propaganda enganosa que pode induzir em erro os consumidores que a assistam. O
interesse em retirar do ar essa publicidade pode ser qualificado como difuso.
Por quê?
25
Observe-se que é indivisível porque ou a propaganda é mantida, e toda a coletividade
estará exposta aos seus efeitos deletérios, ou é tirada do ar, e toda a coletividade ficará livre do
perigo — ou o risco afeta todos ou não afeta ninguém. Não há como afastar o risco para alguns
dos possíveis expostos à propaganda sem beneficiar todos os demais; nem como expor um sem
prejudicar os outros. Além disso, os sujeitos são indeterminados e indetermináveis.
poderão entrar em contato com a publicidade enganosa enquanto ela permanecer no ar. Não
é possível identificar individualmente aqueles que estão expostos.2
O vínculo entre os titulares do direito difuso decorre de uma relação fática, e não jurídica.
visto que não há nenhum vínculo jurídico entre eles e o fornecedor responsável pela propaganda
em análise. Imagine outro exemplo no qual uma fábrica emita poluentes, colocando em risco a
2
Vide questões 1 e 09 deste material
26
O interesse discutido é indivisível porque não há como proteger apenas uma das pessoas
expostas ao perigo sem preservar as demais. Não é possível identificar os titulares do direito3.
Como diferenciá-los?
O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 81, parágrafo único, II, conceitua
interesses coletivos como os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica base.
determináveis, ligadas entre si ou com a parte contrária por meio de uma relação jurídica base.
3
Vide questões 3, 4 e 10 deste material
27
Marcus Vinicius Rios Gonçalves expõe exemplo envolvendo o interesse dos consorciados
de ver declarada uma cláusula abusiva, inserida no contrato de adesão pela empresa de
consórcio. Segundo o autor, cada um deles, individualmente considerado, teria a faculdade de
Mas há o interesse coletivo dos consorciados, que a lei considera indivisível. Ao fazê-lo,
ela estabelece uma distinção entre o interesse coletivo e a soma de cada interesse individual
dos consorciados, tal como os átomos, individualmente considerados, que não têm as mesmas
características da molécula que resulta da sua união.
Os interesses coletivos são defendidos de forma indivisível. Não é possível que a ação
correspondente beneficie um dos titulares sem beneficiar os demais. Por isso a lei estabelece a
coisa julgada ultra partes.
ou não beneficia ninguém. Trata-se de situação muito diferente da que ocorreria se, em vez
de proposta a ação coletiva, fossem propostas inúmeras ações individuais que versassem sobre
a cláusula impugnada.
O que distingue o interesse coletivo do difuso é que este tem como titulares pessoas
indetermináveis e aquele, pessoas que são determináveis em função da relação jurídica base.
28
A respeito dessa diferença, destaca-se o caso dos signatários de um contrato com
empresa de consórcio cujas cláusulas são abusivas. Nessa situação, o interesse é coletivo, uma
vez que as pessoas são determináveis e todas elas têm em comum não apenas um vínculo fático
com a parte contrária (a empresa de consórcio), mas também jurídico, que decorre do fato de
elas terem firmado o contrato.
Se um dos legitimados para a ação coletiva ingressar em juízo com demanda para que o
juiz determine a nulidade dessas cláusulas nos contratos já firmados, haverá a proteção de
interesses coletivos, no que concerne a todas aquelas pessoas determináveis que o assinaram.
Mas se o legitimado ainda postular que o juiz condene o réu a abster-se de, nos contratos
futuros, inserir cláusulas semelhantes, haverá a defesa de interesses difusos porque os futuros
contratantes não podem ser determinados desde logo e porque a relação que os une não será
jurídica (eles ainda não assinaram o contrato), mas fática, por estarem expostos à possibilidade
de, no futuro, virem a firmá-lo.
Os interesses individuais homogêneos são conceituados no art. 81, parágrafo único, III,
do Código de Defesa do Consumidor que dispõe que eles decorrem de uma origem comum.
Diferem dos interesses difusos porque têm sujeitos determinados ou determináveis, e seu
objeto é divisível.
A respeito deles, Marcus Vinicius Dias Gonçalves cita o exemplo das vítimas de acidentes
29
Nessa hipótese, os potenciais adquirentes dos veículos são indeterminados, mas as vítimas
de acidentes são determinadas. Cada uma delas poderia optar por propor a sua ação individual
de indenização, e o juiz acolher algumas e não outras (por isso, o interesse é divisível).
Todavia, já que existe origem comum a todos os direitos — o defeito de fabricação como
causa originária do acidente e o fato de os titulares terem todos adquirido os veículos com
problemas —, é possível a tutela coletiva.
Naqueles, o vínculo comum é algo que diz respeito diretamente à relação jurídica base.
do problema está no próprio contrato: é ele que deve ser modificado. Aqui, estamos falando de
interesses coletivos.
Já nos interesses individuais homogêneos, não se nega que os titulares do interesse têm
É o caso dos adquirentes do veículo defeituoso, que devem ter celebrado com o
fornecedor um contrato de compra e venda. Mas a origem do problema não foi o contrato, e
sim um fato: o acidente que ocorreu com as vítimas e que pode ter sido provocado pelo defeito
no carro.
Em ação civil pública versando sobre interesse coletivo relacionado a cláusula abusiva, se
o juiz acolher o pedido, todos que celebraram o mesmo tipo de contrato serão beneficiados.
decorrentes do acidente.
30
O liame entre os titulares dos interesses individuais homogêneos não é a relação jurídica
com a parte contrária, mas a origem fática comum. Eles nada mais são que um feixe de interesses
individuais, agrupados por uma origem comum, e que, por isso mesmo, podem ser objeto de
tutela coletiva4.
A expressão “feixe de interesses individuais agrupados por uma origem comum” deve ser
absorvida pelo estudante para compreensão do conceito de interesses individuais homogêneos.
No que diz respeito aos sujeitos, as ações coletivas podem ser ativas ou passivas.
coletividade.
Exemplos?
Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público para tutela do meio ambiente, ação de
improbidade administrativa contra o administrador público que enriqueceu ilicitamente, ação
coletiva para a tutela dos direitos de determinado grupo de consumidores. Todas elas têm a
coletividade como destinatária da tutela pretendida.
Já as ações coletivas passivas, são chamadas de defendant class action no direito norte-
4
Vide questões 2, 5 e 6 deste material.
31
São as demandas ajuizadas contra a coletividade, isto é, aquelas em que se pede o
Parte da doutrina nega, peremptoriamente, a existência das ações coletivas passivas. Fazem-no
sob o sólido fundamento de que, além da falta da previsão legal, não há representantes
citados são cotidianos e provam a existência das ações coletivas passivas. Afinal, é o Direito que
Por óbvio, ao se admitir a existência da ação coletiva passiva, surge o entrave adicional de
se definir quem, então, representaria a coletividade demandada.
Neste caso, a resposta só pode ser casuística: o caso concreto revelará ao órgão julgador
32
Aliás, a corrente que defende a possibilidade de ação coletiva passiva ganha cada vez mais
Por fim, há também as ações coletivas ativas e passivas, nos casos em que há uma
coletividade em cada polo da demanda, ou seja, há duas coletividades envolvidas na relação
jurídico processual.
Exemplo?
Como não há razão para privilegiar nenhuma das classes, pois ambas se encontram em
iguais condições de defesa e têm os direitos tutelados no mesmo patamar (exemplo: direitos
difusos x direitos difusos), a coisa julgada será formada independentemente de a sentença ser
Conforme o art. 103 da Carta Maior, são elas a ação declaratória de constitucionalidade ou
33
Por meio destas ações coletivas – porque, de fato, a sentença nelas proferida atinge
As ações coletivas comuns, por outro lado, são todas as demais ações para a tutela de
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos que não se relacionam ao controle abstrato
da constitucionalidade das leis e atos normativos. Por meio delas até se controla o direito
coletivo, mas de modo subjetivo, concreto (e não objetivamente, como nas ações coletivas
especiais).
As ações pseudocoletivas são ajuizadas com o rótulo de ações coletivas, mas que, na
verdade, não são coletivas. São pseudocoletivas, ou seja, falsamente coletivas.
Exemplo comum é o de ação proposta por um ente associativo, deduzindo pretensão em prol
de seus associados.
34
Nas ações pseudocoletivas o grande problema é o prejuízo que a demanda pode trazer ao
contraditório e ao direito de defesa. Por isso, a constatação desse prejuízo deve levar à
inadmissibilidade da ação.
35
QUADRO SINÓTICO
Desenvolvimento, meio
ambiente, comunicação e
3ª GERAÇÃO Direito de Fraternidade
patrimônio comum da
humanidade.
Direito à democracia, à
4ª GERAÇÃO Direito de Solidariedade
informação, pluralismo.
36
DIFERENÇAS ENTRE O PROCESSO INDIVIDUAL
E O PROCESSO COLETIVO
CATEGORIAS DE INTERESSES/DIREITOS
DIREITOS
DIREITO PÚBLICO DIREITO PRIVADO
TRANSINDIVIDUAIS
37
Sujeitos indetermináveis,
Estado x Estado ou Estado x
Indivíduo x indivíduo determináveis ou
indivíduo
indeterminados.
DIREITOS METAINDIVIDUAIS
INDIVIDUAIS
DIFUSOS COLETIVOS
HOMOGÊNEOS
38
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
a melhor doutrina brasileira acerca das características básicas dos interesses difusos, assinale a
alternativa incorreta:
B) Para Ricardo de Barros Leonel, reportando-se a Hugo Nigro Mazzilli, os difusos são interesses
que se referem a grupos menos determinados de pessoas, entre as quais inexiste um vínculo
jurídico ou fático muito preciso, possuindo objeto indivisível entre os membros da coletividade,
C) Na análise de Édis Milaré, o principal divisor de águas entre os interesses difusos e coletivos
está na titularidade, sendo certo que os primeiros pertencem a uma série indeterminada e
descoincidência com o interesse de uma determinada pessoa. Ela abrange, na verdade, toda
uma categoria de indivíduos unificados por possuírem um denominador fático qualquer em
comum.
Comentário:
39
A respeito da alternativa A, ao analisar os interesses difusos, destaca Mancuso: “Os
“indeterminação de sujeitos” deriva, em boa parte, do fato de que não há um vínculo jurídico a
agregar os sujeitos afetados por esses interesses: eles se agregam ocasionalmente, em virtude
de certas contingências, como o fato de habitarem certa região, de consumirem certo produto,
de viverem numa certa comunidade, por comungarem pretensões semelhantes, por serem
afetados pelo mesmo originário de obra humana ou da natureza.” (...) (MANCUSO, Rodolfo de
Camargo. A ação civil pública como instrumento de controle judicial das chamadas políticas
públicas. In: MILARÉ, Edis (Coord.) Ação Civil Pública. Lei 7.347/1985: 15 anos. São Paulo: Ed.
entre as quais inexiste um vínculo jurídico ou fático muito preciso, possuindo objeto indivisível
entre os membros da coletividade, compartilhável por número indeterminável de pessoas”
(LEONEL, Ricardo de Barros. Manual de processo coletivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
p. 99).
interesses coletivos seja muito sutil - por se referirem a situações em diversos aspectos análogos
- tem-se que o principal divisor de águas está na titularidade, certo que os primeiros pertencem
vínculo associativo entre os diversos titulares, que é típico dos interesses coletivos ausente nos
interesses difusos". (MIRALÉ, ÉDIS, A Ação Civil Pública na Nova Ordem Constitucional, Saraiva,
1990, págs. 27/28).
40
abrange, na verdade, toda uma categoria de indivíduos unificados por possuírem um
Art. 81, CDC. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
Vemos, portanto, que o gabarito é a alternativa B, pois está incorreta, já que o autor aponta
que tais direitos são compartilháveis por número indeterminável de pessoas, enquanto a questão
fala em número determinável.
Questão 2
(VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto) Em conformidade com o que disciplina o Código
de Defesa do Consumidor sobre os interesses ou direitos individuais homogêneos, assinale a
alternativa correta.
41
A) O Ministério Público não é parte legítima para atuar em defesa dos interesses individuais
B) A respectiva coisa julgada terá efeitos ultra partes, com a reparabilidade indireta do bem cuja
titularidade é composta pelo grupo ou classe.
D) São interesses na sua essência coletivos, não podendo ser exercidos em juízo individualmente.
E) A origem comum exigida para a configuração dos interesses individuais homogêneos pode
Comentário:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: I – o
Art. 103, III, CDC: Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa
julgada:
III – erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
42
Os direitos individuais homogêneos, ao contrário do que diz a assertiva C, podem ter seus
destinatários individualizados e possuem uma origem comum. A respeito disso, nos termos do
Art. 81, parágrafo único, III, a defesa coletiva será exercida quando se tratar de interesses ou
coletiva não impede o ajuizamento de ações individuais, mas interfere tão somente nos efeitos
da coisa julgada, na forma do art. 104, CDC.
A alternativa E está correta. Hermes Zanetti Junior e Leonardo Garcia anotam que em
relação à origem dos direitos individuais homogêneos, "titulares ligados entre si por uma
situação de fato ou de direito comum ("decorrentes de origem comum") posterior a lesão (ex
post factum). (Fonte: ZANETTI JUNIOR, Hermes; GARCIA, Leonardo. Direitos difusos e coletivos.
Questão 3
(MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça Substituto) Segundo lição de Hugo Nigro
Mazilli, entre o interesse público e privado, há interesses metaindividuais ou coletivos, referentes
a um grupo de pessoas, que excedem o âmbito individual mas não chegam a constituir interesse
público. A definição legal de Direitos ou Interesses Difusos, Coletivos ou Individuais
Homogêneos encontra-se exposta no artigo 81 do Código de Defesa do Consumidor (Lei n.
43
B) Constituem interesses ou direitos difusos, os transindividuais, de natureza indivisível de que
seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base;
Comentário:
A questão pede que se assinale a alternativa conforme a definição trazida pelo art. 81 do
A letra D aponta que confunde os conceitos de interesses coletivos com difusos e diz que
seus titulares são pessoas determinadas, quando, na verdade, são indeterminadas.
a todos que estão numa mesma situação de fato (por isso transindividuais e de natureza
indivisível). Os traços característicos dessa categoria são a indivisibilidade e a indeterminabilidade
dos seus titulares (são indeterminados e indetermináveis), que estão relacionados entre si por
circunstâncias de fato. A referida indivisibilidade, aliás, confere à coisa julgada em ações coletivas
sobre direitos difusos efeitos erga omnes. Os traços característicos dessa categoria são a
que seja titular grupo, classe ou categoria de pessoas, ligadas entre si ou com a parte contrária
44
por um vínculo jurídico base e, por tal razão, determináveis. Observe-se que, assim como os
direitos difusos, são igualmente indivisíveis, mas seus titulares são determináveis, por integrarem
determinado grupo, classe ou categoria de pessoas. Note-se, ademais, que aqui as circunstâncias
que unem os titulares são jurídicas, e não de fato. A eficácia da sentença e ultra partes.
direitos subjetivos individuais (e, portanto, divisíveis), cuja defesa judicial é passível de ser feita
coletivamente. Os titulares são determináveis e têm em comum a origem do direito, cuja defesa
judicial pode ser feita coletivamente por razões de conveniência, sem impedir a tutela individual.
Os seus traços característicos, por conseguinte, são: a divisibilidade e a determinabilidade dos
titulares (são direitos individuais múltiplos enfeixados para uma defesa coletiva), em razão de
uma causa de origem comum.
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
45
Questão 4
shopping de Osasco mata pelo menos 39 pessoas e fere 380 - Uma explosão na praça de
alimentação do Osasco Plaza Shopping, em Osasco (12 km a oeste de São Paulo), matou pelo
menos 39 pessoas, segundo a Defesa Civil, e feriu cerca de 380.”
Essa matéria jornalística relata ocorrência de dano que atingiu múltiplas vítimas. Nessa hipótese,
considerando os conceitos de direitos ou interesses coletivos latu senso, é correto afirmar que
A) direitos difusos.
Comentário:
A situação descrita trata dos interesses individuais homogêneos, sendo, portanto, correta
a alternativa C. Nesse sentido, é preciso compreender que o mesmo fato pode gerar danos a
interesses transindividuais de mais de um tipo. Mazzili exemplifica com a explosão de uma usina
atômica poderia causar não só danos globais ao meio ambiente (interesses difusos), mas
também danos individuais determináveis aos moradores vizinhos, como a perda de seu gado
46
Na questão, ao dizer “matou pelo menos 39 e feriu cerca de 380", o examinador disse que
comum, que pode ser divisível, caso em que sua decisão judicial possui efeito erga omnes se o
pedido for julgado procedente.
Aqui os titulares dos direitos são pessoas determinadas ligadas por uma circunstância que
Um exemplo disso, seria a compra de um produto cuja série apresentou um mesmo defeito.
Nesse caso, as pessoas atingidas pelo defeito podem reclamar judicialmente sobre tal fato. A
origem comum se faz no defeito em série, e cada indivíduo identificável pode reclamar.
Questão 5
determináveis que estão ligados entre si por uma mesma situação de fato compõem a categoria
de
47
E) interesses difusos.
Comentário:
Os direitos individuais homogêneos, são aqueles que decorrem de uma origem comum,
possuem transindividualidade instrumental ou artificial, os seus titulares são pessoas
tratamento especial conferido aos direitos individuais homogêneos por razões pragmáticas,
objetivando-se unir várias demandas individuais em uma única coletiva, por razões de facilitação
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
48
A esse respeito Nelson Nery e Rosa Maria de Andrade Nery ensinam que são direitos
individuais cujo titular é perfeitamente identificável e cujo objeto é divisível e cindível. O que
caracteriza um direito individual comum como homogêneo é a sua origem comum. A grande
novidade trazida pelo CDC no particular foi permitir que esses direitos individuais pudessem ser
defendidos coletivamente em juízo. Não se trata de pluralidade subjetiva de demanda
(litisconsórcio), mas de uma única demanda, coletiva, objetivando a tutela dos titulares dos
direitos individuais homogêneos. A ação coletiva para a defesa de direitos individuais
Questão 6
(CESPE - 2017 - DPE-AL - Defensor Público) São considerados direitos decorrentes de origem
comum os direitos
A) indivisíveis.
B) coletivos.
C) individuais homogêneos.
D) difusos.
E) transindividuais.
Comentário:
A resposta para questão é a letra C, conforme literalidade do art. 81, parágrafo único, III
do CDC. Vejamos:
Art. 81 do CDC: A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá
49
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de
origem comum.
individual comum como homogêneo é a sua origem comum. A grande novidade trazida pelo
CDC no particular foi permitir que esses direitos individuais pudessem ser defendidos
coletivamente em juízo.
ação coletiva para a defesa de direitos individuais homogêneos é, grosso modo, a class actin
Questão 7
de fraternidade.
50
Comentário:
Alternativa C também apresenta ordem incorreta. Os direitos civis são de primeira geração;
os sociais de segunda geração; os direitos de liberdades e garantias individuais são de primeira
geração; direitos coletivos são de segunda geração e os transindividuais de terceira geração.
A alternativa D está correta, sendo o gabarito da questão por apresentar a ordem exata
de gerações. Os direitos de liberdade negativa, civis e políticos são de primeira geração; direitos
econômicos, sociais e culturais são de segunda geração; e os direitos de fraternidade ou de
A divisão dos Direitos Humanos em gerações, proposta por Karel Vazak e difundida por
Norberto Bobbio, que correlaciona cada geração as quais passaram esses direitos como um dos
valores propostos no lema da Revolução Francesa, de 1789, "liberdade, igualdade e
fraternidade". Em ordem, a primeira geração, portanto, seria aquela relacionada à liberdade, da
qual fazem parte os direitos de liberdade negativa, civis e políticos. A segunda geração seria
aquela relacionada à igualdade, da qual fazem parte os direitos econômicos, sociais e culturais.
E a terceira geração, por fim, seria aquela relacionada à fraternidade, da qual fazem parte os
51
Direitos de 1ª geração/dimensão: São direitos individuais com caráter negativo por
Questão 8
C) representam a modificação do papel do Estado para além de mero fiscal das regras jurídicas.
E) são oriundos da constatação da vinculação do homem ao planeta terra, com recursos finitos.
Comentário:
52
Os direitos de segunda dimensão relacionam-se com as liberdades positivas, são aqueles
que asseguram o princípio da igualdade material entre o ser humano. A segunda geração
começa a se fortalecer a concepção de estado do bem estar social. O direito de segunda
geração, ao invés de se negar ao Estado uma atuação, exige-se dele que preste políticas públicas,
tratando-se, portanto, de direitos positivos, impondo ao Estado uma obrigação de fazer,
fraternidade. A principal preocupação passa a ser com os direitos difusos, ou seja, direitos cujos
titulares não se pode determinar, nem mensurar o número exato de beneficiários – e com os
direitos coletivos, que possuem um número determinável de titulares, que por sua vez
compartilham determinada condição. São exemplos a proteção de grupos sociais vulneráveis e
Questão 9
minério de ferro ao lado de um rio que tem nascente no Município, em área considerada de
proteção ambiental; (ii) a contaminação com o vírus da AIDS de vários pacientes do hospital
B) a hipótese (i) se refere a direito difuso e os itens (ii) e (iii) referem-se a direitos individuais
homogêneos.
53
C) o item (i) é classificado como direito coletivo em sentido estrito, o item (ii) como individual
D) o item (i) é classificado como difuso, o item (ii) como individual homogêneo e o (iii) direito
coletivo em sentido estrito.
Comentário:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
natureza difusa por ser titularizado por pessoas indetermináveis e que são ligadas por um
situação de fato (no caso, a poluição).
54
A segunda afirmação refere-se a ato ilícito praticado pelo Poder Público contra pessoas
que receberam transfusão de sangue, ou seja, a origem do interesse das vítimas possui uma
origem comum (transfusão de sangue), bem como há divisibilidade do direito. A divisibilidade
do direito pode ser extraída da possibilidade de cada vítima ajuizar ação indenizatória contra o
Poder Público pelo ato ilícito praticado.
pessoas (contribuintes) ligadas com a parte contrária (Estado) por uma relação jurídica base
(relação jurídica tributária), pois somente é contribuinte ou responsável tributário aqueles que
Logo, na ordem, estamos falando de (i) direitos difusos, (ii) direitos individuais homogêneos
e (iii) direitos coletivos, razão pela qual a alternativa correta é a D.
Questão 10
Certo.
Errado.
Comentário:
55
vítimas podem ser reparadas na proporção de sua lesão. Ou seja, podem buscar a via individual
56
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - E
Questão 3 - C
Questão 4 - C
Questão 5 - C
Questão 6 - C
Questão 7 - D
Questão 8 – D
Questão 9 - D
Questão 10 - ERRADO
57
QUESTÃO DESAFIO
58
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
59
LEGISLAÇÃO COMPILADA
O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço
público.
60
As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo
aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre
o qual não lhe tenha sido dada prévia e adequada informação.
A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para utilização dos serviços de
jurídicas.
61
JURISPRUDÊNCIA
STJ. Corte Especial. AgInt nos EREsp 1623931/PE, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 27/08/2019.
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL CIVIL. SINDICATO. PROPOSITURA DE AÇÃO COLETIVA NÃO
CONSUMERISTA. PRETENDIDA APLICAÇÃO DO ART. 87 DO CDC. PARADIGMA
COM PECULIARIDADES AUSENTES NO ARESTO EMBARGADO. AUSÊNCIA DE
SIMILITUDE FÁTICO-PROCESSUAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA INDEFERIDOS
LIMINARMENTE.
ACÓRDÃO EMBARGADO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA
PACÍFICA.
AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. O acórdão embargado da Segunda Turma - nos autos originários de ação de
repetição de indébito tributário relativamente ao FUNRURAL ajuizada pela
ASSOCIAÇÃO DOS FORNECEDORES DE CANA DE PERNAMBUCO, a ora Agravante
- entendeu que a isenção de custas e emolumentos judiciais prevista no art. 87
da Código de Defesa do Consumidor visa a facilitar a defesa dos direitos dos
consumidores, não sendo aplicável às ações, ainda que coletivas, propostas por
sindicato em defesa dos sindicalizados.
2. O acórdão paradigma da Terceira Turma trouxe como pano de fundo "ação
ordinária em que se discutem as práticas de oferta ao público e de propaganda
enganosa por fundo de pensão e de indevida migração compulsória de
participantes do plano de benefícios REG/REPLAN para o plano REB." Naqueles
autos, entendeu a Turma pela aplicação do art. 87 do Código de Defesa do
Consumidor, de forma subsidiária, à situação de participantes de plano de
previdência privada, defendidos por associação civil em regime de representação,
62
por terem sido vítimas de oferta ao público de propaganda enganosa relacionada
a fundo de pensão, mediante prolação de sentença genérica cuja individualização
será feita em execução individual ou em ação de cumprimento.
3. Constata-se a manifesta ausência de similitude fático-processual das situações
comparadas, inaptas a configurar a alegada divergência jurisprudencial.
4. Ademais, o acórdão embargado decidiu em perfeita harmonia com a
jurisprudência consolidada, pois "é pacífico o entendimento desta Corte Superior
de que a isenção prevista no art. 87 do Código de Defesa do Consumidor destina-
se apenas às ações coletivas, não se aplicando às ações em que sindicato ou
associação buscam o direito de seus associados ou sindicalizados. Precedentes:
AgInt nos EDcl no REsp. 1.263.030/RS, Rel. Min. REGINA HELENA COSTA, DJe
3.9.2018;
AgInt no REsp. 1.623.931/PE, Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, DJe 13.6.2017."
(AgInt no AREsp 681.845/AL, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 13/12/2018, DJe 04/02/2019; sem grifo no
original).
5. Agravo interno desprovido.
(AgInt nos EREsp 1623931/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL,
julgado em 27/08/2019, DJe 02/09/2019).
O art. 87 do CDC prevê: Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este código não haverá
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem
condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados,
não sendo aplicável às ações, ainda que coletivas, propostas por sindicato em defesa dos
sindicalizados.
STJ. Corte Especial. EREsp 1378938-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
20/06/2018 (Info 629).
63
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
ANULAÇÃO DE CLÁUSULAS CONSIDERADAS ABUSIVAS EM CONTRATO DE
PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. 1. LEGITIMIDADE ATIVA DO
MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. RECONHECIMENTO. PRECEDENTES. 2.
INTERPRETAÇÃO LÓGICO-SISTEMÁTICA DA PETIÇÃO INICIAL. DECISÃO EXTRA
PETITA NÃO CONFIGURADA. 3. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS
N. 282/STF E 211/STJ. 4. ILEGALIDADE NA COBRANÇA DE CORREÇÃO
MONETÁRIA PELO INCC APÓS O PRAZO DE ENTREGA DO IMÓVEL. REVISÃO DAS
CONCLUSÕES ESTADUAIS.
IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS E REEXAME DE FATOS E PROVAS. APLICAÇÃO DAS SÚMULAS 5 E
7/STJ. 5. DIVULGAÇÃO DA DECISÃO CONDENATÓRIA PELOS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO. AMPLO CONHECIMENTO DA DECISÃO COLETIVA. FALTA DE
IRREGULARIDADE. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 94 DO CDC. 6. PEDIDOS
ALTERNATIVOS. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE DISPOSITIVO VIOLADO. SÚMULA
284/STF. 7. AGRAVO IMPROVIDO.
1. De fato, os arts. 81 e 82 da Lei n. 8.078/1990 conferem legitimidade ao
Ministério Público para promover ação civil pública em defesa dos interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos do consumidor. Ainda que se trate
de direito disponível, há legitimidade do órgão ministerial quando a defesa do
consumidor de forma coletiva é expressão da defesa dos interesses sociais, nos
termos do que dispõem os arts. 127 e 129 da Constituição Federal.
Precedentes desta Corte.
2. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, não há falar em
julgamento extra petita quando o julgador, mediante interpretação lógico-
sistemática, examina a petição apresentada pela parte como um todo.
2.1. No caso dos autos, a constatação da existência de pedido de nulidade de
todos os serviços relacionados à assessoria técnica, imobiliária, jurídica, incluída
a comissão de corretagem por se tratar de serviço de assessoria imobiliária, além
da ampla divulgação da decisão condenatória pelos meios de comunicação, que,
64
na hipótese, foi eleito pelo magistrado como sendo os jornais de grande
circulação, foi extraída da análise dos fundamentos expostos na petição inicial,
estando a conclusão do Tribunal estadual em sintonia com a jurisprudência deste
Tribunal Superior.
3. O prequestionamento é exigência inafastável contida na própria previsão
constitucional, impondo-se como um dos principais pressupostos ao
conhecimento do recurso especial, sob pena de aplicação, por analogia, da
Súmula 282/STF bem como da Súmula 211/STJ.
3.1. A incidência do art. 1.025 do CPC/2015 exige o reconhecimento, nesta
instância, da negativa de prestação jurisdicional, arguida no recurso especial, o
que não ocorreu no presente caso.
4. A revisão das conclusões estaduais (acerca da ilegalidade da cobrança de
correção monetária pelo INCC após o prazo de entrega da obra) demandaria a
interpretação de cláusulas contratuais e o revolvimento do acervo fático-
probatório dos autos, providências inviáveis no âmbito do recurso especial, ante
os óbices das Súmulas 5 e 7/STJ.
5. Com efeito, a invocação do art. 240 do CPC/2015 não tem pertinência com a
determinação da publicação da condenação imposta pelo Juízo de primeiro grau.
Isso porque o art. 94 do CDC "disciplina a hipótese de divulgação da notícia da
propositura da ação coletiva, para que eventuais interessados possam intervir no
processo ou acompanhar seu trâmite, nada estabelecendo, porém, quanto à
divulgação do resultado do julgamento" (REsp 1.388.000/PR, Corte Especial, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Relator para o acórdão Ministro Og Fernandes,
DJe 12/4/2016).
6. Outrossim, o pedido alternativo de fixação de prazo razoável e de redução das
multas aplicadas por descumprimento, além de se mostrar deficiente por não ter
a recorrente indicado o suposto dispositivo de lei federal violado, o que atrai o
óbice da Súmula 284/STF, também não pode ser acolhido, tendo em vista que o
TJSP entendeu que "as multas foram adequadas e o prazo para aplicação é
imediato, para evitar lesão ainda maior ao consumidor" (e-STJ, fl. 737), sendo
65
assim, para infirmar tais conclusões, seria imprescindível o reexame de provas, o
que é inadmissível nesta instância extraordinária, consoante dispõe a Súmula
7/STJ.
7. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1508585/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 25/05/2020, DJe 28/05/2020).
O Ministério Público possui legitimidade ativa para postular em juízo a defesa de direitos
transindividuais de consumidores que celebram contratos de compra e venda de imóveis com
cláusulas pretensamente abusivas. STJ. Corte Especial. EREsp 1378938-SP, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 20/06/2018 (Info 629). Vale a pena relembrar: Súmula 601-STJ: O
Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e
66
MAPA MENTAL
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Tutela de interesses difusos e coletivos – 13. ed. – São Paulo: Saraiva, 2019.
LEONEL, Ricardo de Barros. Manual de processo coletivo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
MANCUSO. Rodolfo de Camargo. Jurisdição coletiva e coisa julgada. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. A ação civil pública como instrumento de controle judicial das chamadas
políticas públicas. In: MILARÉ, Edis (Coord.) Ação Civil Pública. Lei 7.347/1985: 15 anos. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 2001.
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 18.ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
MIRALÉ, ÉDIS. A Ação Civil Pública na Nova Ordem Constitucional, Saraiva, 1990.
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