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Como a ideia de gênero está fundada nas diferenças biológicas entre os sexos, ela
aponta para o caráter implicitamente relacional do feminino e do masculino. Assim,
gênero é uma categoria relacional porque leva em conta o outro sexo, em presença ou
ausência. Além disso, relaciona-se com outras categorias, pois não somos vistos(as) de
acordo apenas com nosso sexo ou com o que a cultura fez dele, mas de uma maneira
muito mais ampla: somos classificados(as) de acordo com nossa idade, raça, etnia,
classe social, altura e peso corporal, habilidades motoras, dentre muitas outras. Isso
ocorre nos diversos espaços sociais, incluindo a escola e as aulas de educação física,
sejam ministradas para turmas do mesmo sexo ou não.
Sendo gênero uma categoria relacional, há de se pensar sua articulação com outras
categorias durante aulas de educação física, porque gênero, idade, força e habilidade
formam um "emaranhado de exclusões" vivido por meninas e meninos na escola. Não
se pode concluir que as meninas são excluídas de jogos apenas por questões de gênero,
pois o critério de exclusão não é exatamente o fato de elas serem mulheres, mas por
serem consideradas mais fracas e menos habilidosas que seus colegas ou mesmo que
outras colegas. Ademais, meninas não são as únicas excluídas, pois os meninos mais
novos e os considerados fracos ou maus jogadores freqüentam bancos de reserva
durante aulas e recreios, e em quadra recebem a bola com menor freqüência até mesmo
do que algumas meninas.
Apesar dos corpos masculinos e femininos se constituírem nas mais variadas instâncias
escolares, parece que é na educação física que essa distinção é salientada repetidamente.
Pois ainda hoje, a partir de uma hierarquia das aptidões físicas aceitas socialmente,
considera-se as meninas "naturalmente" mais frágeis do que os meninos, justificando,
assim, a necessidade de uma estrutura especial que proteja as meninas da "brutalidade"
inerente aos meninos.
Assim, principalmente quando nos referimos à educação física escolar no ensino médio,
nos deparamos com um sistema na forma de clubes, onde o que menos importa é o
desenvolvimento motor e integral de todas as capacidades físicas e maior abrangência
de conteúdos. Nesta forma o aluno pode freqüentar os três anos (ou mais, se no ensino
fundamental – anos anteriores, também dispunha do sistema de clubes na educação
física) praticando um único esporte.
“As diferenças entre meninas e meninos certamente não são naturais. As meninas que
aparentam meiguice ou meninos que falam aos gritos são resultantes do modo como as
relações de gênero foram construídas na nossa sociedade ao longo do tempo”.
Lima e Dinis (2007), afirmam que a persistência de uma Educação Física que não
reflete sobre suas práticas e seu papel na formação de seus alunos e alunas acaba,
através de seu silêncio, colaborando para a formação dos estereótipos de homem e
mulher, mantendo assim uma postura supostamente neutra, ajudando na formação de
uma consciência coletiva de que ser homem e ser mulher atende a determinados padrões
e regras normatizadas de conduta. Desta forma fecha-se a porta para as diversas
manifestações de masculinidade e feminilidade existentes, limitando as experiências a
práticas generificadas e estabelecidas como “adequadas” aos meninos ou às meninas.
Além de limitar o conteúdo da Educação Física aos esportes, este tipo de conduta
fortalece a formação de sujeitos adequados a uma sociedade competitiva e
preconceituosa. Mesmo com a consciência de que a formação dos sujeitos ocorre em
diversas instâncias sociais, entre elas a escola. Não podemos ignorar o papel da
Educação Física, uma vez que este campo de saber trata diretamente das questões
ligadas ao corpo. Cabe então repensar o papel desse conteúdo escolar, buscando novas
formas de ensino e novas relações sociais.
Considerações finais