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ESTERIÓTIPOS MASCULINOS E FEMININOS E SUAS INFLUÊNCIAS NAS

PRÁTICAS CORPORAIS – Alice Mello Oliveira da Silva

Gênero refere-se às diferenças entre homens e mulheres. Gênero é entendido como a


construção social que uma dada cultura estabelece ou elege em relação a homens e
mulheres.

Considerando as relações de gênero como socialmente construídas, pode-se perceber as


características correspondentes à relação de poder masculino e feminino. Essas relações
ganham feição “naturalmente” por serem praticadas, repetidas, recontadas. Tais
características são na verdade construídas ao longo dos anos, segundo o modo como as
relações entre o feminino e o masculino foram se agregando socialmente.

Como a ideia de gênero está fundada nas diferenças biológicas entre os sexos, ela
aponta para o caráter implicitamente relacional do feminino e do masculino. Assim,
gênero é uma categoria relacional porque leva em conta o outro sexo, em presença ou
ausência. Além disso, relaciona-se com outras categorias, pois não somos vistos(as) de
acordo apenas com nosso sexo ou com o que a cultura fez dele, mas de uma maneira
muito mais ampla: somos classificados(as) de acordo com nossa idade, raça, etnia,
classe social, altura e peso corporal, habilidades motoras, dentre muitas outras. Isso
ocorre nos diversos espaços sociais, incluindo a escola e as aulas de educação física,
sejam ministradas para turmas do mesmo sexo ou não.

As reflexões sobre o corpo e sua cultura podem explicar as posturas corporais e as


evoluções desde o homem primitivo até o atual. Desde a descoberta do primeiro
instrumento de trabalho do homem, considerado a mão, desde a postura bípede, das
linguagens corporais, tudo pode se explicar através da diversidade dos movimentos e
das necessidades do homem. Esta reflexão evolutiva pode ser trabalhada na Educação
Física escolar através de expressões corporais como: "dança, jogos, lutas, exercícios
ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímicas, e outros que podem ser
identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo
homem historicamente criados e culturalmente desenvolvidos".

Sendo gênero uma categoria relacional, há de se pensar sua articulação com outras
categorias durante aulas de educação física, porque gênero, idade, força e habilidade
formam um "emaranhado de exclusões" vivido por meninas e meninos na escola. Não
se pode concluir que as meninas são excluídas de jogos apenas por questões de gênero,
pois o critério de exclusão não é exatamente o fato de elas serem mulheres, mas por
serem consideradas mais fracas e menos habilidosas que seus colegas ou mesmo que
outras colegas. Ademais, meninas não são as únicas excluídas, pois os meninos mais
novos e os considerados fracos ou maus jogadores freqüentam bancos de reserva
durante aulas e recreios, e em quadra recebem a bola com menor freqüência até mesmo
do que algumas meninas.

Apesar dos corpos masculinos e femininos se constituírem nas mais variadas instâncias
escolares, parece que é na educação física que essa distinção é salientada repetidamente.
Pois ainda hoje, a partir de uma hierarquia das aptidões físicas aceitas socialmente,
considera-se as meninas "naturalmente" mais frágeis do que os meninos, justificando,
assim, a necessidade de uma estrutura especial que proteja as meninas da "brutalidade"
inerente aos meninos.

Assim, principalmente quando nos referimos à educação física escolar no ensino médio,
nos deparamos com um sistema na forma de clubes, onde o que menos importa é o
desenvolvimento motor e integral de todas as capacidades físicas e maior abrangência
de conteúdos. Nesta forma o aluno pode freqüentar os três anos (ou mais, se no ensino
fundamental – anos anteriores, também dispunha do sistema de clubes na educação
física) praticando um único esporte.

O que acentua os estereótipos de gênero nas aulas de educação física na escola é a


determinação das atividades por sexo, por exemplo, a menina dança e o menino joga
futebol. Se o objetivo das aulas é desenvolver as qualidades físicas, e as habilidades
motoras, que são igualitárias aos dois sexos, se são trabalhados a expressão corporal e o
ritmo, são para os dois sexos, se for à força também se destina aos dois. O que não pode
ocorrer é um sexo ser mais privilegiado em relação às oportunidades que o outro devido
às características físicas serem mais determinantes em um sexo do que no outro. Com
isso nas aulas de educação física acabam ocorrendo desentendimentos entre os alunos.

O relacionamento entre meninos e meninas é comum vermos a presença de conflitos,


resistências e até mesmo exclusão entre eles. Para isto, um dos objetivos dos Parâmetros
Curriculares Nacionais de ensino é levar os alunos a serem capazes de: “participar de
atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros,
reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si e dos outros,
sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais”.

As aulas de Educação Física sempre tiveram o esquadrinhamento do corpo e a


exposição das habilidades como centro de sua prática. Os alunos e alunas precisam
expor-se frente aos demais, realizar as atividades perante os olhares avaliativos de
colegas, professoras e professores. A exposição das fraquezas ou das qualidades faz
com que a aula de Educação Física sirva como forma de vigilância, uma vez que a aluna
e o aluno estão sendo observados o tempo todo, avaliados e julgados. Na Educação
Física - mais do que em qualquer outra matéria curricular, pois tem o corpo como objeto
de intervenção direta - o indivíduo se vê exposto, controlado em seus gestos e avaliado
de acordo com suas capacidades físicas. O corpo é o alvo primeiro da intervenção
disciplinar e através dele buscam-se outros aspectos do sujeito: a alma pura, o espírito
nobre, a moral elevada, o trabalho honesto.

Nesta fase da adolescência, o(a) aluno(a) se vê influenciado pela mídia e avanço


tecnológico. A escola é uma porta aberta para que os adolescentes descubram e se
conheçam no universo das suas idéias

“As diferenças entre meninas e meninos certamente não são naturais. As meninas que
aparentam meiguice ou meninos que falam aos gritos são resultantes do modo como as
relações de gênero foram construídas na nossa sociedade ao longo do tempo”.

Lima e Dinis (2007), afirmam que a persistência de uma Educação Física que não
reflete sobre suas práticas e seu papel na formação de seus alunos e alunas acaba,
através de seu silêncio, colaborando para a formação dos estereótipos de homem e
mulher, mantendo assim uma postura supostamente neutra, ajudando na formação de
uma consciência coletiva de que ser homem e ser mulher atende a determinados padrões
e regras normatizadas de conduta. Desta forma fecha-se a porta para as diversas
manifestações de masculinidade e feminilidade existentes, limitando as experiências a
práticas generificadas e estabelecidas como “adequadas” aos meninos ou às meninas.
Além de limitar o conteúdo da Educação Física aos esportes, este tipo de conduta
fortalece a formação de sujeitos adequados a uma sociedade competitiva e
preconceituosa. Mesmo com a consciência de que a formação dos sujeitos ocorre em
diversas instâncias sociais, entre elas a escola. Não podemos ignorar o papel da
Educação Física, uma vez que este campo de saber trata diretamente das questões
ligadas ao corpo. Cabe então repensar o papel desse conteúdo escolar, buscando novas
formas de ensino e novas relações sociais.

Considerações finais

Baseando-se no princípio da educação integral, a Educação Física deve proporcionar


vivências aos seus alunos que não estejam nem explicita, nem implicitamente fundadas
em estereótipos de gênero, contribuindo para o desfazer de preconceitos. As razões
apontadas para justificar esse tratamento diferenciado tendem a basear-se nas diferenças
biológicas entre os sexos, não se considerando as influências sociais e culturais a que
todos estão sujeitos durante o seu desenvolvimento.

Contudo, a relação de gênero que se estabelece socialmente no âmbito da educação


física escolar e todas as suas significâncias, são postas em confronto permanente.
Objetivando-se assim que os modelos que culturalmente idealizamos ou tentamos
repassar como o ser absoluto, é muito mais que apenas uma visão de mundo. As
diferenças entre homens e mulheres são bem presentes nesta fase da adolescência,
identificando uma construção social que permeia esses laços e continua interligado na
relação entendida de gênero.

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