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Como é trabalhado as relações de gênero nos anos iniciais

Quando as crianças chegam à escola dos anos iniciais do ensino fundamental


são portadoras de inúmeras marcas que caracterizam sua personalidade e suas
atitudes. Tais marcas são reflexos de suas vivências, que por sua vez representam
as manifestações sociais, econômicas, políticas e culturais de uma sociedade. Logo,
a infância é bastante influenciada por estes fatores supracitados.
É na escola o principal lugar que podemos perceber as implicações das
representações e crenças sociais das crianças. Então, pode-se destacar que as
relações de gênero estão circunscritas neste contexto e são muitas vezes
responsáveis por direcionar as práticas infantis tanto na escola como em todos os
ambientes sociais que as crianças pertencem. Dessa forma, considerando a
importância das relações de gênero nos anos iniciais do ensino fundamental,
apresentaremos neste artigo algumas reflexões sobre a temática gênero e educação
na infância.
As reflexões que levaram a compreender que as questões de gênero sempre
estiveram presentes na vida das crianças, influenciando desde suas atividades
lúdicas nos ambientes de socialização até suas interações no ambiente escolar.
Neste sentido, ressaltou-se a necessidade que os professores dos anos iniciais do
ensino fundamental possuem para mediar as relações dos alunos a fim de que
consigam interagir de forma harmônica e produtiva em suas práticas sociais.
De acordo com Heilborn (2017, p.1), temos a seguinte definição de gênero:

Gênero é um conceito das ciências sociais que se refere à construção social


do sexo. Significa dizer que a palavra sexo designa agora, no jargão da
análise sociológica, somente a caracterização anatomofisiológica dos seres
humanos e a atividade sexual propriamente dita. O conceito de gênero
existe, portanto, para distinguir a dimensão biológica da social. O raciocínio
que apoia essa distinção baseia-se na ideia de que há machos e fêmeas na
espécie humana, mas a qualidade de ser homem e ser mulher é realizada
pela cultura.
Diante do exposto, fica claro que o conceito de gênero passa pela dimensão
social e cultural e não é determinada pelos aspectos biológicos. Este fato levou a
refletir que os homens e as mulheres tanto constituem como constroem uma cultura.
Entende-se que as crianças passam por um processo de construção cultural de suas
identidades e não são só suas características físicas que determinam o seu papel na
sociedade. Podendo mencionar que quando as crianças são pequenas estão
propícias a muitas interações, tanto de adultos, quanto de adolescentes e outras
crianças.
No entanto, é fácil deparar com alguns preconceitos em relação a essas
interações e o fator que mais contribui para a mitificação destas relações interativas
é a questão de gênero, pois mesmo vivendo em um mundo contemporâneo,
dinâmico e complexo ainda há práticas que reafirmam atitudes como a distinção
entre os brinquedos de meninos e das meninas, estabelecendo até mesmo regras
para o brincar de cada criança pertencente ao sexo masculino e ao feminino. Pode-
se observar que nesta situação não ocorre uma reflexão substancial em relação ao
prazer que a criança teria ao manipular determinados objetos lúdicos.
É plausível a constatação de que a falta de questionamento acerca dos
brinquedos oferecidos às crianças já se tornou banalizada na sociedade. Logo, a
normalidade que as coisas são encaradas impede que as crianças vivenciem
momentos de desenvolvimento e aprendizagem devido à ausência de objetos
lúdicos diferenciados e o contato com crianças do sexo oposto. Ao chegar na escola
este fato de discriminação sexual permanece e acaba acarretando, em alguns
casos, problemas para a plena efetuação de atividades escolares na sala de aula e
também em outras atividades nos momentos de intervalo no ambiente escolar.
Levando em consideração que atividade lúdica que é típica da criança, em
idade escolar depara-se com a afirmação de Carneiro (2015) que identifica nas
atividades lúdicas três importantes funções, ou seja, a socializadora, a psicológica e
a pedagógica. Podendo destacar que em todas estas funções das práticas lúdicas
as relações de gênero estão presentes, e é sobretudo na escola dos anos iniciais do
ensino fundamental que percebemos tais influências.
Na perspectiva da socialização, tem o conhecimento, por exemplo, que
determinados jogos só possuem sentido quando jogados junto com alguém, logo a
interação é necessária para a eficácia da ação. Portanto, quando se fala em
interação remetem as relações humanas em sociedade e como os ambientes sociais
são constituídos por homens e mulheres, como também por meninos e meninas
quando se refere ao universo infantil, existe a necessidade de visualizar no outro um
elemento referencial.
É justamente, nestas atitudes que há representações de gênero, em alguns
jogos os meninos apresentam um comportamento ativo e já em outros jogos
destinados as meninas, elas apresentam comportamentos passivos. Nota-se aí uma
dicotomia entre as possíveis posturas de meninos e meninas que são muitas vezes
fruto de imitações provenientes do mundo dos adultos. Por um lado, de acordo com
a socialização entre crianças do mesmo sexo é possível obtermos um
comportamento quase que idêntico entre as crianças.
Ainda levando em consideração a socialização podemos ressaltar que na
escola ao serem propostos jogos educativos, os professores precisam estar atentos
para realizarem uma mediação pedagógica eficiente, pois os jogos que possuem
regras pré-definidas podem sofrer modificações após o diálogo entre alunos e
alunas, de modo a não favorecer uns em detrimento dos outros. Assim, as regras
existentes após a discussão serão cumpridas e rigorosamente respeitadas pelos
indivíduos envolvidos neste processo.
Assim, estariam diante de uma relação democrática entre os seres
pertencentes a cada sexo. Não ocorrendo, portanto, a imposição do poder de uns
em relação aos outros. É importante lembrar que práticas de subordinação precisam
ser discutidas e abolidas desde cedo com as crianças para evitar preconceitos
relativos às questões sexuais.
Compreende-se que as relações de gênero na escola dos anos iniciais do
ensino fundamental são presentes nas práticas escolares e refletem aspectos
sociais, históricos e culturais, dentre outros, do mundo dos adultos. Sendo assim, na
infância as crianças apreendem-se posturas e comportamentos que homens e
mulheres efetuam na sociedade. São as interações propiciadas com o universo dos
adultos e com o mundo infantil que possibilitam as crianças em pleno
desenvolvimento e a consolidação das aprendizagens.
Dessa forma, as crianças em idade escolar acabam construindo suas próprias
identidades com base em padrões fixados pela cultura. Destacando que a cultura de
gênero ocupa um importante espaço na construção do conhecimento acerca de
aspectos que envolvem as relações sociais como também na busca de se auto
identificar de acordo com os padrões existentes na sociedade.
REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Maria Ângela Barbato. O jogo e suas diferentes concepções. Revista


da associação brasileira de psicopedagogia, São Paulo, v. 14, n.33, 2015. p. 30-34

HEILBORN, Maria Luiza. Gênero: Uma Breve Introdução. São Paulo, Cortez.
2017.

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