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Gênero, sexualidade e educação: como o/a professor/a está

inserido nesse contexto


Kaciane Daniella de Almeida 1
Lilian dos Santos Prestes 2

Resumo

Este trabalho tem a perspectiva de voltar um olhar cuidadoso para a escola, em especial como ela
trabalha questões relacionadas a gênero e sexualidade. Tendo como Alvo os/as professores/as
envolvidos nesse processo, buscando suas percepções quanto à inserção deles nesse contexto
envolto pela sexualidade e educação. O objetivo desse trabalho é ver como essas relações estão
hoje, como o/a professor/a se portam frente ao tema da sexualidade se trabalham e como reagem
frente a algumas situações, que ocorrem no espaço escolar. Para tal foi realizada pesquisa qualitativa
com entrevistas, referente a como eles/as agem frente a esses assuntos e como esses temas estão
presentes no ambiente escolar. A problemática central está inserida no conjunto das discussões que
fazem a tensão entre a constituição de novos conceitos e práticas na escola e de que modo elas
produzem igualdade ou reforçam os preconceitos e as práticas sexistas e homofóbicas.

Palavras-chaves: Educação; Gênero; Sexualidade; Professores/as; Escola.

1
Mestranda Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
kaci_daniella@yahoo.com.br
2
Graduada em ciências sociais pela UFPR, lilian_neoqeav@yahoo.com.br

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Introdução

As mudanças sociais ocorridas com o passar do tempo trouxeram-nos novos desafios e


necessidades, pessoas, lugares, caminhos, trajetórias começaram a serem questionadas, colocados
em diferentes esferas sociais, políticas, econômicas.
A escola é um lugar importante para observar esse processo de mudança, assumindo um
papel de destaque na sociedade contemporânea, onde os conflitos próprios da juventude se tornam o
foco principal das atenções e sem escola não teríamos hoje tantas mudanças positivas quando
pensamos em direitos e deveres. Acima de tudo ela é um espaço de vivência, troca, interação, onde
estamos em contato com diversas culturas, credos e religiões, raças e etnias e diversidades sexual.
Embora esse ambiente nem sempre tenha sido assim, hoje podemos percebê-lo com tais
características.
Esse trabalho entra com um olhar voltado para esse espaço, em especial, como nele são
tratadas as questões que envolvem gênero e sexualidade e como essas relações estão presentes na
escola, observadas pela visão do professor/a, o agente que está em maior contato com os alunos e
alunas, e que muitas vezes se envolve em conflitos de diversas ordens, por estar trabalhando com
esse público tão singular que é a juventude.
Objetivo é perceber como o tema da sexualidade está presente nas práticas educacionais e
como os professores e professoras tem trabalhado esses aspectos, sendo que eles e elas são
tomados/as como referência, pois são os/as profissionais que estão em maior contato com esses
alunos/as. Compreender de um modo mais geral como educadores/as se portam nessa nova
conjuntura educacional, onde e como inserem temas que não fazem parte apenas da sua área de
formação e dos conteúdos específicos, mas são constitutivos das relações dentro da escola e da
sociedade.
Para tal foi feito entrevista qualitativa com onze professores/as da rede pública de ensino da
cidade de Curitiba, esses/as professores/as eram de diversas áreas de conhecimento, português,
matemática, química, artes, historia, sociologia, ciências, o foco principal não era estabelecer uma
relação entre uma disciplina e a temática da sexualidade, mas perceber como o tema proposto como
transversal nos Parâmetros Nacionais Curriculares (PCN’S) estão inseridos na escola, e como é para
os/as professores/as de diversas áreas adaptar seu conteúdo para dar conta dessa demanda.

Nas entrevistas podemos constatar a falta de estrutura da escola para atender a demanda
educacional que a sociedade exige nas dias atuais, e a emergências de outras problemas como a
falta de recursos a permanência da aluno na escola e violência entre outros que acabam assumindo a
frente das principais discussões e secundarizando outros temas tão necessários como esses.

As reflexões de Guacira Lopes Louro –principalmente- e algumas teorias de Bourdieu sobre


a constituição do espaço escolar esteve presente como reflexão teórica, pois nos permite

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compreender a constituição do espaço escolar e seus desdobramentos quando a produção e
reprodução de uma ordem social que atravessa raça, classe, gênero e sexo.

Educação e Espaço escolar

A educação dentro da nossa sociedade diz respeito a uma série de regras e valores que devem ser
internalizados, sendo que a primeira transmissora desses conhecimentos é a família, que
historicamente esteve ocupando esse papel, em segundo lugar vem à escola que acabou ocupando
um espaço grande. Com o passar do tempo as obrigações familiares foram lentamente se
transferindo para a escola que cada vez mais se ocupava de questões relativas às primeiras formas
de socialização, como os procedimentos de higiene e saúde.
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Durkheim vê a educação como um conjunto de regras e valores que o homem exerce sobre
outro homem é “a influencia das coisas sobre os homens, já pelos processos, já pelos resultados, é
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diversa daquela que provém dos próprios homens;” ele se refere à educação como uma influência
que os adultos exercem sobre os jovens, ou seja ela transmite conhecimentos adquiridos e aceitos
socialmente que devem ser reproduzidos. a educação dessa forma não abriu espaço para as
diferenças dos indivíduos, buscando sempre a idealização de um sujeito perfeito que receberá tudo
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aquilo que lhe for transmitido de forma passiva, uma “educação bancaria”. Para Paulo Freire ensinar
“não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”. Isso pressupõe que devemos conhecer e considerar as diferenças em vários aspectos,
social, étnico racial, gênero e sexualidade, classe e por determinadas regiões geográficas. Aspectos
estes que não vemos contempladas nas práticas educacionais.
Um grande marco quando pensamos nas teorias educacionais é a contribuição que Pierre
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Bourdieu trouxe para essa esfera, onde muitos enxergavam democratização do ensino e
acessibilidade, ele consegue ver, um sistema de reprodução de desigualdades, que se faziam tanto
na ordem simbólica como material e dentro desses espaços às características particulares, origem
social, sexo, etnia, desses indivíduos eram deixadas de lado. O fator classe social é algo muito
presente em suas teorias o que enfatiza a reprodução das desigualdades no ambiente escolar como
uma característica que vem de toda a esfera da sociedade e que a escola só tratou de reproduzi-las.
Em sua forma estrutural não abriu espaço para novas questões e à própria intervenção por parte do
corpo docente não eram consideradas, pois a estrutura aparece como algo rígido e que deve ser
seguido à risca como é colocado para todos, impedindo os indivíduos de se tornarem atores dentro
do processo educacional. E mais especificamente no caso dos professores/as esses estavam
permeados por um ideal de educação, o que talvez não os permitisse enxergar além do
conhecimento cientifico, questões ligadas a outros conhecimentos.

Sexualidade e espaço escolar

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Vista como um importante espaço de intervenção sobre a sexualidade dos adolescentes,
principalmente no que se refere a transmissão de conhecimento a respeito de como se pode evitar o
contagio da AIDS e de outras dst’s, a escola parece ser o ambiente mais propício a se discutir
sexualidade afinal já é fato que programas de Educação Sexual e programas de informação e
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prevenção da Aids estão presentes dentro das escolas , no entanto parece que o mesmo não ocorre
em relação ao gênero pois é possível perceber que nem sempre, ou raramente estes temas são
trabalhados em conjunto, e quando são, há apenas uma apresentação das diferenças biológicas e
físicas.
Assim sendo é preciso perguntar:
Remeter a sexualidade apenas a isso é suficiente para atender a demanda da sociedade e
suas transformações?
Na medida que avança essa questão, em todas as esferas da sociedade, parece-nos que
fica complicado trabalhar sexualidade apenas no âmbito da prevenção e como uma “disciplina”
especifica do currículo escolar. Sendo assim ela entra como um dos temas transversais em diversas
áreas do conhecimento, ou seja, ela deverá ser discutida no espaço escolar como um todo,
entendendo que todos estão envolvidos com a sua sexualidade e com a dos outros também.
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Maria Garcia Castro, Miriam Abramovay e Lorena Bernadete da Silva , apresentam
realidades de diversas cidades brasileiras, investigando sobre a sexualidade e suas diferentes formas
de serem vivenciadas e espaços e de como a escola contribui para o maior conhecimento desse
tema, de forma que não transmita moralismos e repressões.
Fato importante que trazem é como a partir do século XIX e XX começaram a serem
repensados esses modelos de sexualidade, influenciados grande parte pela emergência de
movimentos sociais, como o feminista, e como a modernidade constituiu mudanças de ordem
estrutural na família; na concepção de adolescência; e na universalização do espaço escolar – antes
um espaço de poucos homens, brancos e ricos passou a ser dividido com a diversidade mulheres,
negros e pobres - gerando uma necessidade de repensar a dinâmica desse espaço no qual a
educação mantenha seu caráter institucional e contemple esses novos sujeitos.
Sabe-se que a escola é o local onde as crianças e adolescentes ficam mais tempo, sejam
elas de classe alta ou de uma classe mais baixa, além de ser um espaço de aprendizado, é onde a
maioria vai construir laços sociais de amizade, namoro e formação de identidade. Dessa maneira é
provável que deixe verdadeiras marcas nas pessoas que a freqüentam, marcas essas que irão refletir
por toda vida e terão um grande significado na forma como a pessoa vai pensar, agir e se comportar
enquanto ser social.
O espaço escolar está permeado por problemas que envolvem adolescentes e jovens que
precisam de uma atenção maior e intervenção, como: saúde sexual e reprodutiva, gravidez precoce,
aborto inseguro e as DST/AIDS, obrigando o ambiente escolar se familiarizar com problemas tão
presentes na vida desses jovens e adolescentes. “a juventude é um momento em que e
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experimentação da sexualidade vai possibilitar uma estruturação da identidade” , e esses

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acontecimentos estão presente de forma subjetiva no contexto escolar, sendo assim preconceitos
também estão colocados à sua vida sexual.
Louro8 aponta para algumas atitudes da escola como instituição que distingue os sujeitos,
separa-os em quem pode ter acesso e quem não pode, ela separa internamente os sujeitos,
hierarquiza, ordena. Segundo ela a escola ocidental moderna, separa os adultos das crianças;
católicos de protestantes; ricos de pobres; meninos de meninas, constituindo assim também uma
relação dual fortalecendo os opostos e perpetuando relações de poder já existente.
o espaço escolar traz não somente a escolarização no sentido do conhecimento mas,
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“escolariza o corpo e a mente” constituindo os sujeitos de formas variadas, sem considerar que cada
um tem seu tempo e espaço, mesmo quando estão no espaço escolar que já foi naturalizado pela
nossa cultura e faz parte do processo de socialização. Segundo a autora Flavia de Mattos Motta:

Aprendemos nossa feminilidade ou masculinidade desde que nascemos [...]. Através da socialização, a
criança vai aprendendo sua cultura – inclusive aquilo que diz respeito a gênero: o que é masculino e o
que é feminino e como ser, adequadamente, feminino ou masculino [...]. A escola tem um papel
fundamental na socialização e na disciplinarização dos corpos, das mentes, dos sentimentos e dos
comportamentos dos sujeitos que passam por seus portões. (MOTTA, 2008, p. 68).

Devemos, portanto prestar atenção nas relações existentes na escola para que sejam
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desnaturalizadas e “perceber que as pessoas se agrupam de forma diferente” , pois existe um
conflito marcado por gestos e atitudes que os distinguem, em que posições de meninos se
diferenciam das meninas e isso às vezes aparece como parte da natureza, por exemplo: se diz que é
da natureza dos meninos serem mais agitados, inquietos, gritam mais, correm mais, e que as
meninas são mais quietas prestam mais atenção são mais caprichosas, tranqüilas, caminhos que
perpassam as questões sobre natureza e cultura e não podem ser ignorados, por que o senso
comum diz que sempre foi assim.
A composição do espaço escolar é feita por indivíduos distintos com desejos, ações,
anseios diferentes, mas não diz respiro apenas aos alunos/as que estão dentro destas regras de
normatização e reprodução de um conhecimento produzido por homens brancos, heterossexuais.
o/a professor/a que também é protagonista no meio escolar tem que lidar com sua
sexualidade e muitas vezes esconder o que sente ou até sua orientação sexual, para não sofrer
discriminação, é olhado como o exemplo, e mais uma vez a escola trata de disciplinar esses corpos,
que devem ser apresentados no modelo binário.
Podemos perceber que o papel de educadora e educador não e uma tarefa fácil e não está
apenas em uma profissão, mas está cheia de significados e significantes sociais, que colocam regras
de conduta, moral e comportamental que eles devem seguir. E nem sempre isto está colocado em um
regimento, mas encontra-se no poder coercitivo da sociedade como um todo. Onde até mesmo
esse/a profissional cobra certas condutas de si mesmos/as. Isso fica mais claro quando se atenta
para o papel do cussiculo oculto que cumpre aqui a função de normatizar sem ser notado, segundo a
seguinte definição:
Pode-se definir o currículo oculto da escola como o conjunto de normas sociais, princípios e valores
transmitidos tacitamente através do processo de escolarização. Não aparece explicitado nos planos

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educacionais, mas ocorre sistematicamente produzindo resultados não acadêmicos, embora
igualmente significativos. Em certo sentido, representa a operacionalização - ainda que não declarada -
da função social de controle que a escolarização exerce. (GIROUX, 1986, p. 71)

Segundo tal definição o currículo oculto embora não seja explicito tem um efeito igual ou
talvez maior que aquele que é explicito, pois está ali contribuindo diretamente para a formação do
aluno e para sua percepção a respeito da sociedade.
Assim, percebe-se que a escola transforma, normatiza e direciona atitudes, gestos,
comportamentos e papéis sociais pautados na correlação entre o gênero e o sexo, fazendo com que
este tema que parece não ser muito discutido seja trabalhado de um modo oculto normatizando os
corpos de meninos e meninas, que além de terem as diferenças biológicas consideradas, também
convivem diariamente com a distinção de gênero responsável por construir características específicas
para cada pessoa baseando-se essencialmente na diferença do sexo biológico.
Em relação as construções de normas que regulamentam a sexualidade e a formação de
regras que devem reger o comportamento de meninas e meninos, percebe-se que a princípio a
construção enraizada no espaço escolar parece não ser percebida pelos alunos e professores.

Professoras/es e espaço escolar

Falar de sexualidade não é uma tarefa fácil muitas vezes podemos observar o empurra, empurra que
é esse jogo. Afinal de quem é a responsabilidade? Pergunta muito presente ao longo das entrevistas.
Ora são os pais que não educam, ora é a escola que não está preparada; e não a consenso sobre
essa questão. No mais, essa pergunta coloca de imediato questões relativas à formação e a
desconstrução da heteronormatividade, como uma violência de gênero e como matriz de
inteligibilidade de base sexista, e, que, portanto, fere, de saída os direitos humanos, embora
permaneça sendo considerada a legítima, o que a isenta de colocá-la no contexto das violências,
das patologias, e da marca homofóbica de que é engendradora.
Na verdade essas perguntas assim construídas sobre de quem são as responsabilidades
que estão dentro de um eixo de reflexão binário e dual , incapaz de abranger os níveis
necessários à intermediação e ao estabelecimento das estratégias de formação que possam
abranger Estado, políticas, sistemas educacionais e diretrizes curriculares, como um todo.
Sobretudo, o desafio que se apresentou nesse trabalho diz respeito a práticas da discriminação
social relativa as relações de gênero e sexualidade que marca o cotidiano das escolas, e opera a
desqualificação do outro, podendo, por vezes, acarretar danos de todas as ordens e graves do
ponto de vista pessoal e social. Trata-se, portanto, de desconstruir a hostilidade, a violência, a
agressão ao emocional, o profundo conservadorismo, o tratamento desigual sofrido por matrizes de
inteligibilidade que não sejam normativas e de reconhecer o que rege a própria constituição
federal quando apresenta os direitos sociais, a necessidade de superação das discriminações de
qualquer espécie e a diversidade do valor social.

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Os processos de formação que dizem respeito ao modo como se constroem as
subjetividades estão profundamente marcados por políticas e necessitam engendrar-se como novos
no contexto da emancipação. O processo de desconstrução das práticas discriminatórias relativas à
diversidade sexual, a gênero, ao que está incorporado em termos de discriminação e preconceito
também nos livros didáticos e que são decorrentes da heteronormatividade são desafios
sociológicos tanto quanto qualquer outro, dado o seu caráter homofóbico, aos estereótipos de
gênero e as expressões de hostilidade por ele internalizados. De modo que o desafio a uma nova
formação que seja emancipatória, de descontrução do binário que traz em si uma violência de gênero
reproduzido e agindo na construção de novas subjetividades.
Existem ainda os níveis, sociais e familiares, onde todos esses assuntos encontram muitas
resistências, em diversos âmbitos tanto moral, religioso, social, político. Desde longa data a
sociedade vem legitimando o modelo, ainda que muitas investidas tenham sido realizadas, em
vários espaços, mas o fato é que no sistema escolar ainda não se consolidou como algo a ser
debatido e questionado, ainda é muito focalizada em prevenção das DST/AIDS, e o uso de
contraceptivos com intuito de prevenção da gravidez na adolescência e controle de natalidade,
ignorando por vezes, o prazer e o uso dos corpos, como conteúdo dos currículos, das aulas, nos
seus diferentes espaços; o que atualmente está refletido na confusão e desorientação dos
adolescentes e jovens sobre essa questão, mas sobretudo, na homofobia, nas cenas de violência
que se observa na escola cotidianamente.
A emergência de trabalhar esse tema na escola se faz pelo aumento significativo de
problemas relacionados a esses conflitos,quando surgem dúvidas em sala de aula que muitas vezes
se tornam constrangedoras para os professores e professoras, por exemplo, ou quando a própria
mídia exibe fatos recentes como a prática de sexo por estudantes de 13 anos dentro dos banheiros
da escola.
Contudo ainda não há uma discussão suficiente e essa não discussão do assunto por parte
da escola e da comunidade externa, serve-se de uma orientação compartilhada sobre não falar e
evitar comentários, desvinculando assim, o problema da real situação que é sexualidade desses/as
adolescentes. Outro ponto e que ilustram é a tensão entre a família e a escola que é apontado pelos
professores e professoras entrevistados como um abandono da escola pela família, atribuída como
primeiro lugar de discussão sobre sexualidade. Mesmo esses reconhecendo que não deva ser
responsabilidade estrita da família, mas de toda a comunidade, e corpo escolar. Isso revela uma
falta de compreensão da dimensão político do tema, e quanto ele diz respeito ao espaço
formativo da escola como uma instituição, organização, estratégia curricular, responsabilidade dos
gerenciadores e proposta dos conteúdos.
Dos onze professores/as cinco deles/as sendo quatro mulheres dizem que trabalham com
temas ligados a sexualidade. Uma por ser professora de ciências e ter que passar por esse assunto
na sala de aula. Duas delas dizem que usam nas suas disciplinas, artes com figuras de
representação, recortes de jornal que acaba falando de padrão de beleza entre outras coisas. E a
professora de português insere textos e levanta questionamentos. A professora de química diz já ter

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trabalhado com um projeto sobre sexualidade onde parava a sua aula e começava a discutir, os
alunos perguntavam identificando-se ou não, e era respondido, relatado por ela a participação de
todos e a aceitação do projeto, que acabou pela disposição do tempo e aula se curto e ela ter que dar
conta de todos os procedimentos legais da escola. O professor de sociologia diz também abordar a
temática quando fala da instituição família e de movimentos sociais, mas não avança nessa questão.
Os/as professores/as de matemática e de física mostraram mais resistência em trabalhar o
tema, ambos atribuíram a falta de preparo e de domínio do assunto, uma vez que relataram não se
sentir bem tendo que falar do tema em sala, indicando profissionais capacitados para tal e
redirecionando a proposta de transversalidade do tema, ainda que ambos reconheceram que
medidas de formação para os alunos são de fundamental importância, a professora de matemática
diz nunca ter tido a oportunidade de conversar sobre o tema mostrando a barreira erguida entre ela e
a sexualidade, contudo ela não está fecha a possibilidade de inserir o tema em suas aulas, mas
insiste que necessita de formação.
Esses professores que não trabalham com o tema da sexualidade formalmente em sala de
aula relatam que informalmente conversam com os alunos que vem perguntar sobre namoro
relacionamentos e a opinião deles, ou seja mesmo não abordando o assunto como parte de sua
grade de conteúdos ele está presente nas relações entre professor/a e aluno/a.
Chama a atenção o fato de que no aspecto formativo todos apontam não ter na formação
acadêmica preparo sobre como abordar sexualidade, e até posteriormente apontam como inexistente
ou deficitária a formação oferecida pelo estado. Levantando o ponto, que conhecimentos usam em
sala de aula? Passam de seu desprendimento pessoal como professor/a de procurar cursos fora,
para a formação complementar, em outros casos adaptam algum conteúdo visto na academia pra o
contexto escolar. E muitos levam aquilo que tem como valores para a sala de aula e visto por esse
ângulo esses valores são distintos, o que pode gerar um situação de preconceito ou intolerância.
Podemos perceber que quando eles são perguntados como eles se portam diante do
assunto eles apontam para uma naturalidade, ou seja, o tema é presente nas relações cotidianas e
precisa ser encarado como qualquer outra relação de forma natural, contudo ainda é apontado um
mal estar por muitos em conversar sobre essas questões. Embora todos sem exceção achem
relevante a abordagem da sexualidade na escola.
Os assuntos referentes a sexualidade como namoro, sexo, gravidez, e outros são vistos
com naturalidade dentro do processo amadurecimento, em especial na idade da adolescência, não
sendo apontado de forma negativa pela maioria, mas com as restrições colocadas na escola com
sendo um local impróprio para relacionamentos e demonstrações de afeto. Os/as professores/as
reconhecem as limitações da escola e das regras nesse sentido, pois todos os perguntados, sem
exceção, já presenciaram relacionamento afetivo entre os alunos, contudo dentro dos limites encaram
como uma relação saudável como ocorre entre todas as pessoas, passando por cima das regras
rígidas da escola de proibir namoro entre alunos, o que aparece e o ambiente escolar repleto de
“namoricos” e se todos fossem levados à secretaria só se trataria desse assunto o tempo todo, não
fazendo parte de uma prioridade sobre os outros assuntos.

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Referente a percepção de desigualdade no ambiente escolar os professores relatam que a
educação é igual, pois o mesmo conteúdo que é colocado para o menino é colocado para a menina,
contudo, quanto à cidadania e igualdade para os dois existe uma discordância. E quando referido a
questão da homossexualidade dentro da escola os relatos são de muitos preconceitos com esses
alunos, por parte de toda a escola, direção, professores, colegas. Sendo que muitos são impedidos
de manifestar suas preferências quanto ao estilo adotado, por ser destinado a um grupo, ou a
meninas ou a meninos. Dentre os professores tem-se a preocupação com a discriminação vinda por
parte dos outros professores, pois quando perguntados da parte de quem vinham os preconceitos
alguns citaram dos próprios professores, em relação aos alunos gays e mostraram certa preocupação
se o tema tiver que ser tratado por esses professores que carregam consigo atitudes
preconceituosas.

Considerações finais

Como parte final desse trabalho fico satisfeita em perceber que dentro das hipóteses dessa pesquisa
algumas foram confirmadas, como: a falta de condições familiares, estruturais, de apoio para levantar
o tema da sexualidade; a não capacitação desses profissionais que são orientados pela legislação
para trabalhar o tema; o não conhecimento de alguns da legislação. Pois essas demandas já estão
colocados como conflituosas em um longo espaço de tempo, e esse trabalho serviu para mostrar que
ainda sofrem com desafios semelhantes necessitando de mudanças significativas na sua
organização e estruturação.
As contrariadas foram: a de não se sentirem responsável pelo assunto, por não estar dentro
de sua área de conhecimento; a de abrirem mão do método das aulas impossibilitando a inserção de
outros temas; e quanto à relevância da abordagem do assunto.
Dos pontos confirmados admito não haver nenhuma surpresa mediante a falta de condições
que é perceptível dentro da escola, e, não somente referente a essa questão levantada, mas a outras
tantas, que também fazem parte do nosso cotidiano, e a falta de atualização desses profissionais
causa o desconhecimento e esquecimentos de algo que deveria estar em constante debate, que é a
legislação e como implementar na escola.
Dos pontos contrários a minha perspectiva, trouxe grande alivio saber que reconhecem esse
tema como de grande relevância dentro da escola e que de certa forma a maioria se sentem
responsáveis por essa educação e abertos a inserção desse conteúdo em suas disciplinas, sem
esquecer da formação apropriada.
Espero que os pontos levantados nesse trabalho possam servir como meio de comunicação
sobre os problemas que se tem na escola com os professores/as para a abordagem de temas
recentes, mas necessários para formação dos sujeitos. Como a escola tem um caráter dinâmico e
abrangente de assuntos de diversas ordens, e diretamente ou indiretamente são incorporadas a ela
sem ser devidamente planejado, e depois vai ficando e não recebe mais atenção, intervenção,
orientação, a não ser em casos extremos.

9
Nesse primeiro contato com os/as professores/as percebe que existe o interesse em
resolver esses conflitos, contudo não há espaço tanto físico, pedagógico ou psicológicos para debate
e contribuição para a formação de alunos e alunas, professores e professoras e toda a comunidade
escolar, em uma educação que possibilite o contato com o diferente e acima de tudo o respeito a
essas diferenças.
Notas de fim

1
DURKHEIM,Emile. Educação e Sociologia. São Paulo: editora, ano 1978. 11° edição
2
Ibid., p 33.
3
FREIRE, 1996, p 47.
4
NOGUEIRA C. M.; NOGUEIRA M. A., 2002 apud BOURDIEU.
5
Lei Estadual nº 11.733, de 28 de maio de 1997. Autoriza o Poder Executivo a implantar
campanhas sobre Educação Sexual, a serem veiculadas nos estabelecimentos de ensino
estadual de primeiro e segundo graus do Estado do Paraná. Lei Estadual nº 11.734, de 28 de
maio de 1997. Torna obrigatória a veiculação de programas de informação e prevenção da AIDS
para os alunos de primeiro e segundo graus, no Estado do Paraná.
6
CASTRO, ABRAMOVAY, SILVA. 2004.
7
Ibid., p.33
8
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação. Uma perspectiva pós-estruturalista,
Petrópolis: Vozes, 1997.
9
Ibid., p.56.
10
Ibid., p.58.

Referências
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reprodução) Petrópolis, Vozes, 1986, Apud ROMANELLI, Ailse Therezinha Cypreste disponível
em:
<http://64.233.163.132/search?q=cache:8jKxUCXFNwIJ:www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histe
dbr/seminario/seminario4/trabalhos/trab002.rtf >. Acesso em: 16 out. 2009

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