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O Melhor Modo de Ler Mário Ferreira Dos Santos
O Melhor Modo de Ler Mário Ferreira Dos Santos
Caros amigos,
tenho vários livros de Mário Ferreira dos Santos. Li apenas alguns e gostei
muito. Infelizmente eu o conheci tarde. Porém, antes de continuar a leitura,
pensei que não seria mau pedir conselho a quem já o conhece. Queria saber
se há alguma ordem preferencial de leitura das obras desse grande homem.
Cada obra é independente das outras ou existe uma ordem natural, uma
sequência lógica? Seria a sequência cronológica? Ou não?
Além disso, quais são os pré-requisitos para ler Mário Ferreira dos Santos?
Que autores(filósofos) eu devo conhecer?
Obrigado.
Anônimo - 22/01/2009
Sim, existe, e ele mesmo a indica. A julgar pelas suas referências constantes
a obras passadas, penso que a seqüência cronológica é a mais conveniente,
tomando alguns cuidados na seleção. O resultado é este:
1) "Filosofia e Cosmovisão"
2) "Lógica e Dialéctica"
3) "Psicologia"
4) "Teoria do Conhecimento"
5) "Ontologia e Cosmologia"
6) "Tratado de Simbólica"
7) "Filosofia da Crise"
8) "O Homem perante o Infinito" (Teologia)
9) "Noologia Geral" (Antropogènese, Psicogênese e Noogenese)
Depois,
Veja que dá para estudar Mário Ferreira dos Santos a vida inteira. É
recomendável que se conceda bastante tempo a cada livro (dependendo do
caso, até um mês), e que se acompanhe as leituras mais complexas, em
especial a "Filosofia Concreta" de outras mais leves e literárias.
Anônimo - 22/01/2009
Nossa, Pedro, muito obrigado. Foste de muita ajuda.
Anônimo - 24/01/2009
O "Convite à Filosofia" é um excelente começo, de fato, e me penalizo por
não citá-lo. Tem uma importância especial na marcação de território, na
localização mais precisa de cada modo de pensamento e serve para que o
estudante se situe facilmente.
Juliano,
Quanto aos pré-requisitos, dou apenas uma sugestão que funcionou comigo:
leia Gilson, com especial dedicação ao que ele escreveu sobre Santo
Tomás. Familiarize-se com o vocabulário e o gênero de problemas
enfrentado pelos escolásticos. Procure também pelos trabalhos de Mortimer
Adler, que tomava um cuidado tremendo na clareza da exposição filosófica e
na definição dos termos. Nada substitui o manejo seguro de conceitos, e
esses dois são campeões da inteligibildade.
Aos poucos, vão surgindo questões nos livros do Mário Ferreira que só
fazem sentido num contexto escolástico, principalmente quando ele começa
a apresentar Suárez. É fácil ficar perdido nessas sutilezas. E é mais fácil
ainda pegar o bonde andando quando ele entra no pitagorismo, de maneira
que este pode tornar-se um bom fio condutor. Nesse caso, além dos
pensadores medievais vale a pena ler Platão (procure o excelso livro que
Giovanni Reale dedicou a ele, é uma ajuda inestimável).
APR
12
A filosofia de Platão foi, para usar uma terminologia moderna, por mais de
um milênio, a mais “influente” e a mais estimulante.
Qual a razão fundamental de tudo isto? Ele ensinou-nos a olhar a realidade
com novos olhos (ou seja com a visão do espírito e da alma) e a interpretá-la
em uma nova dimensão e com um novo método que recolhe todas as
instâncias postas sucessivamente pela especulação precedente, fundindo-as
e unificando-as, elevando-se a um novo plano de pesquisa alcançado com a
que ele mesmo denominou a “segunda navegação”.
Platão diz expressamente que o filósofo não consiga por escrito as coisas de
“maior valor”. Existe uma tradição indireta que atesta a existência de
“Doutrinas não-escritas” de Platão transmite seus principais conteúdos.
Os escritos não são para Platão a expressão plena e a comunicação mais
signifi-cativa do seu pensamento e que mesmo possuindo nós todos os
escritos de Platão, de todos esses escritos não podemos extrair todo o seu
pensamento, e a leitura e a interpretação dos diálogos devem ser levadas a
cabo numa nova ótica.
Sobre o que compreende o “todo” “as coisas maiores”, “as coisas mais
serias”, ou seja, “os Princípios supremos da realidade”, Platão não quis
escrever nem desejou que algum dos seus discípulos escrevesse. Segundo
a sua opinião, para a maioria o discurso escrito sobre esses temas seria
danoso.
Uma das passagens mais famosas e mais grandiosas que Platão nos deixou
nos seus escritos é, sem dúvida, a passagem central do Fédon. Poder-se-ia
dizer que ela constitui a primeira exploração e demonstração racionais da
existência de uma realidade supra-sensível e transcendente.
As questões metafísicas mais importantes e a possibilidade da sua solução
permanecem ligadas aos grandes problemas da geração, da corrupção e do
ser das coisas e estão particularmente articuladas com a individuação da
“causa” que está no seu fundamento. O problema de fundo é o seguinte: por
que as coisas nascem, por que se corrompem, por que são?
Platão entendia por “Idéia”, em certo sentido, algo que constitui o objeto
específico do pensamento, para o qual o pensamento está voltado de
maneira pura, aquilo sem qual o pensamento não seria pensamento: suma, a
Idéia platônica não é de modo algum um puro ser de razão e sim um ser e
mesmo aquele ser que é absolutamente, o ser verdadeiro.
Além disso, convém notar o seguinte. Os termos idéa e eidos derivam ambos
de ideiv que quer dizer “ver”. Na língua grega anterior a Platão, eram
empregados sobretudo para designar a forma visível das coisas, a forma
exterior e a figura que se capta com o olhar, portanto, o “que é visto”
sensível. Sucessivamente idea e eidos passaram a indicar, por transferência,
a forma interior, ou seja, a natureza específica da coisa, a essência da coisa.
Esse segundo uso, raro antes de Platão, torna-se estável na linguagem
metafísica do nosso filósofo.
Portanto, Platão fala de Idea e de Eidos sobretudo para indicar essa forma
inte-rior, essa estrutura metafísica ou essência das coisas de natureza
puramente inteli-gível, antes “da Idéia platônica, que é qualidade,
imaterialidade, e finalidade, há a idéia democritiana, que é quantidade,
materialidade e necessidade. O salto fundamental de Platão tornou-se
possível por meio da “segunda navegação”: as formas ou Idéias platônicas
são o originário qualitativo imaterial, são realidades de caráter não físico,
mas metafísico. É justamente a Platão que remonta a criação das
expressões “a visão da mente”, “a visão da alma”, para indicar a capacidade
da inteligência para pensar e captar a essência.
As coisas que captamos com os olhos do corpo são formas físicas; as coisas
que captamos com o “olho da alma” são, ao contrário, formas não-físicas: o
ver da inteligência capta formas inteligíveis que são, exatamente, essências
puras. As idéias são as essências eternas do bem, do verdadeiro, do belo,
do justo, e assim por diante, que a inteligência, quando se protende no
máximo da sua capacidade e se move na pura dimensão do inteligível,
consegue “fixar” ou “ver”. Para Platão há uma conexão metafísica entre a
visão do olho da alma e o objeto em razão do qual tal visão existe.
O ver intelectivo implica, como sua razão de ser, o objeto visto intelectivo, ou
seja a Idéia. Um nexo sintético radical, justamente uma estrutural entre
visão-visto-forma-ser. Portanto, na teoria das Idéias, Platão exprime
verdadeiramente um dos traços espirituais supremos da cultura grega.
Cada Idéia é uma “unidade” e, como tal, explica as coisas sensíveis que dela
participam, constituindo deste modo uma multiplicidade unificada. O
verdadeiro conhecimento consiste em saber uni-ficar a multiplicidade numa
visão sinótica que reúne a multiplicidade sensorial na unidade da Idéia da
qual depende. Para Platão, a própria natureza do filósofo se manifesta
exatamente em saber captar e possuir essa unidade.
O professor do general
Nascido na Macedônia,Aristóteles foi tutor de ninguém menosque
Alexandre, o Grande
Ao lado de Platão, Aristóteles é considerado o mais importante filósofo da
Grécia. Mas, segundo os padrões de sua época, ele não era exatamente grego,
já que nasceu na cidade de Estagira, na Macedônia – local visto pelos atenienses
como um reino bárbaro. Filho de Nicômaco, um médico da corte do rei Amintas
III, ele partiu ainda jovem para estudar em Atenas. Lá se tornou um dos mais
destacados alunos da Academia, a escola filosófica fundada por Platão. Em 343
a.C., Aristóteles se torna tutor de Alexandre, neto de Amintas III e herdeiro do
trono macedônio. Depois de oito anos de aprendizado, o aluno assume o poder e
dá início a uma série de conquistas: derrota os persas, ocupa a Babilônia e
estende seus domínios (e as fronteiras da Grécia, transformada em império) até
a Índia. Sabe-se muito pouco, entretanto, sobre o que ele aprendeu com
Aristóteles. O principal tema das lições podem ter sido os poemas de Homero,
base da educação grega naquela época (talvez venha daí a obsessão do
conquistador pela Ilíada e sua crença de que descenderia do herói mítico
Aquiles). Enquanto Alexandre é aclamado como “o Grande”, Aristóteles retorna
a Atenas, onde funda sua própria escola, o Liceu. Lá começa a impor, com sua
filosofia, uma influência muito mais duradoura que a que seu pupilo alcançou
com a espada. Em 323 a.C., após a morte de Alexandre, uma forte reação
antimacedônica toma conta de Atenas, o que faz com que o filósofo deixe a
cidade. Ao partir, ele diz que não gostaria de dar aos atenienses a chance de
“cometer um novo crime contra a filosofia” (numa alusão a Sócrates, que fora
condenado à morte). No exílio, morreria um ano depois, aos 63 anos.
Saiba mais
Livro
A Política, Aristóteles, Martins Fontes.