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Aluno: poderia falar novamente sobre a secura e umidade nos pontos cardeias?
Dos quatro pontos cardeias dois são secos e dois são úmidos. Na linha leste-oeste é
evidente a associação, leste é seco e oeste é úmido. Na linha norte-sul o sul é seco e o norte
é úmido. Poderia ver esta última associação pela rotação da água nos hemisférios.
Mas, antes de voltarmos para os signos e para os pontos cardeais, vamos terminar a
lista dos planetas e das faculdades.
Perceber que tem um objeto que sintetiza diversas características dos diversos
sentidos? Isto não é bem o sentido comum, isto já é uma apreensão simples do intelecto,
porque isto subentende a noção de substância, a noção de ente. Então, quando você vê isto
aqui – professor chacoalha uma caixa de fósforos cheia – você está vendo cores, figuras e
ouvindo um som. Você associa tudo isto e diz que aqui tem um ente. Só associar os
diversos objetos dos sentidos não é suficiente para dar uma unidade a isto aqui. Para dar
uma unidade você precisa apreender pelo intelecto que isto é um ente, por apreensão
simples. Mesmo que você não conheça a definição de ente ou de substância você percebe
que isto é uma entidade autônoma.
Percebe, o animal tem apreensão simples intelectiva. As potências que ele não tem
são as que vamos descrever agora, que são o intelecto paciente, o intelecto agente e
vontade. O intelecto paciente, que é o que apreende distintivamente a essência das coisas, é
o mesmo que é capaz de apreensão simples, só que nos animais ele é capaz só de apreensão
simples, e o por quê disto daí nós vamos explicar um pouco mais adiante, provavelmente
amanhã, porque esta é uma explicação importante antes de ir ao zoológico ver o
simbolismo dos animais.
Eu não sei se fizemos no mês passado a associação destas quatro potências que
vimos até agora com os planetas: sentido comum e lua, estimativa e mercúrio, apetite
concupiscível e vênus, apetite irascível e marte.
Não, a alma animal vai ter sete potências como a alma humana, só que três delas
operam de uma maneira distinta da humana. Elas são limitadas por determinadas condições
que não são limitações humanas, próprias da existência humana. Quer dizer, não são só as
quatro já enunciadas que compõem a alma animal, tem mais para adiante. Mas primeiro nós
vamos descrever estas três no seu modo humano para depois explicar quais são as
limitações que estas potências sofrem no animal.
Então vamos pegar primeiro justamente isto. Da apreensão simples o ser humano é
capaz de abstrair notas acidentais das essenciais de um ente. Quer dizer, quando você
percebe um ente você é capaz de distinguir o que é essencial do que é acidental, como
fizemos quando definimos a noção de corpo, e quando pegando as notas do copo vimos que
branco não é uma nota essencial porque nem todos os corpos são brancos, e chegamos à
conclusão que extensão e divisibilidade da extensão são algumas noções que são
indispensáveis ao corpo. Quem fez este trabalho de separação? O que torna possível este
trabalho de separação é justamente a presença do intelecto agente no ser humano. Nós
podemos inteligir de maneira distintiva as essências dos objetos, quer dizer, o que é
essencial em cada ente. No entando nós não distinguimos as essências pelo simples fato de
apreender o objeto. Uma vez que apreendemos o objeto a inteligibilidade dele é possível,
ele é potencialmente inteligível mas não atualmente inteligível. É clara esta diferença?
Quando você percebe um cavalo pelo mesmo ato você já define cavalo na sua mente e já
sabe a definição dele? Não, você tem a possibilidade de distinguir a essência do cavalo na
apreensão.
Com isto nós já distinguimos no ser humano duas potências: o intelecto paciente e o
intelecto agente. O intelecto paciente é aquele que apreende distintivamente a essência e o
intelecto agente é aquele que separa as notas do objeto apreendido para que a gente possa
apreender a essência de modo distinto.
Fora isto nós temos uma outra potência, que é a vontade ou apetite intelectivo. Pelo
simples fato de poder perceber essências concebidas distintamente, separadamente, dos
objetos a gente também pode tender para elas na medida em que elas são apreendidas sob a
noção do bem. À medida em que você pode perceber essências você percebe que algumas
são bens para você e aí você pode desejar essas essências, e desejar todas as noções que se
enquadram na idéia do bem. É clara a distinção entre o apetite intelectivo e os outros dois
apetites?
Sim. Uma diferença que é crucial, mas que é derivada da diferença de alcance, é o
fato de que como você com o apetite intelectivo se volta para as noções ele é livre em
relação aos sujeitos nos quais inerem estas noções. Então você pode conceber o bem, uma
noção que corresponde ao bem, e perceber que esta noção pode existir de diversos modos
em diversos sujeitos. Embora a vontade esteja necessariamente ordenada ao apetite da
noção ela não está necessariamente ordenada a nenhum destes objetos nos quais se realiza
aquela noção.
Vamos à correspondência com os planetas. Destas três potências últimas o intelecto
agente corresponde a saturno, o intelecto paciente corresponde a júpiter e a vontade
corresponde ao sol. A analogia destas potências com estes planetas tem o mesmo princípio
das outras: a aparência sensível dos astros que eles têm para nós na Terra.
Júpiter corresponde ao intelecto paciente justamente por ser dos astros aquele que
tem o brilho mais irradiante e mais luminoso, o que mais parece luz pura, do mesmo modo
que o ato do intelecto paciente é aquele que mais plenamente ilumina a mente.
Saturno é comparada ao intelecto agente justamente por ser o menos luminoso dos
astros, aquele que tem a luz mais fraca e mais pálida, e a atividade do intelecto agente é
aquela que não é gratificante nela mesma, é a atividade mais obscura e mais difícil das
potências da alma e você não encontra felicidade ou um fim nela mesma, ela encontra
repouso no ato do intelecto paciente.
Por outro lado o sol corresponde à vontade por ser de todos os astros aquele que
significa presença imediata da luz. O sol é o astro mais presente na existência, do mesmo
jeito que a vontade no ser humano é justamente a presença do ser absoluto. A evidência de
que um ser humano é é a força de liberdade da vontade.
Aluno pergunta.
Porque se o intelecto paciente representa a luz na sua forma mais pura, pelo menos
do ponto de vista humano, a vontade representa a luz presente de modo quase que vital no
interior do ser.
A lua representa o sentido comum justamente por causa da capacidade de variação
da luminosidade da lua. Uma característica do sentido comum é justamente a variação do
efeito da apreensão sensível no sujeito que apreende. O sujeito que apreende pelos sentidos
é capaz de uma reação muito variada em relação ao objeto da apreensão. Basta vocês
perceberem, por exemplo, a diferença que tem entre a apreensão de um banquete quando
você está com muita fome ou quando você está sem nenhuma fome. O mesmo objeto pode
gerar uma reação interna muito diferente em circunstâncias diferentes. Quer dizer, o valor
subjetivo da apreensão sensível realmente depende do sujeito, de uma condição do sujeito e
não de uma condição do objeto.
As analogias com o sol e a lua são fáceis de fazer porque todo mundo já viu e
reparou no sol e na lua no céu. Para os outros cinco não é tão fácil porque a gente nunca
reparou na aparência deles. Então para a gente eles são pontos luminosos mais ou menos
iguais. A maior parte das pessoas não consegue nem distinguir os planetas de estrelas no
céu. Mas quando a gente observa cuidadosamente a gente vê que entre os cinco planetas
existem grandes diferenças na sua aparência sensível. E a característica do brilho ou da
aparência de mercúrio é que ele é quase faiscante, ele parece que lança centelhas de luz no
céu.
É, mas o ácido não chove em nós. Se chovesse talvez vênus simbolizasse o inferno.
Mas esta questão sobre simbolismo é fácil, uma coisa simboliza algo porque a gente a
percebe de determinado jeito e não de outro. E às vezes no mesmo objeto você pode
perceber aspectos diferentes e eles simbolizarem coisas diferentes. O leão é por um lado o
leão de Judá, que é o Cristo, e por outro lado o demônio é como um leão que está pronto
para nos devorar – isto está nos atos dos apóstolos se não me engano. Então aí no mesmo
objeto nós estamos percebendo aspectos contrários e cada um destes aspectos tem um
simbolismo distinto. Então é claro que a chuva ácida em vênus também tem um
simbolismo, mas este simbolismo é irrelevante do ponto de vista astrológico, onde a gente
vai procurar descobrir o simbolismo do céu visto da Terra. Ora, então o céu visto da Terra
não tem nada a ver com a chuva ácida em vênus, ou com a atmosfera de metano em júpiter.
Mercúrio está associado a estimativa por sua aparência faiscante ou cintilante e estas
faíscas representam justamente as relações potenciais entre um ente e os diversos elementos
do meio, que é justamente o objeto de percepção da estimativa, quer dizer, quais são as
intenções possíveis dos entes em relação àquele ente. A estimativa no pássaro percebe uma
intenção possível em gravetos que é a de servir de parte para fazer ninhos. Esta relação é
única, só existe quando você junta um passarinho com um graveto. O que não quer dizer
que ela é puramente subjetiva, ou subjetiva no sentido pejorativo. É uma relação real, o
graveto realmente serve para alguma coisa para o passarinho, e é o graveto que serve para
isto, de modo que isto é uma possibilidade de fato da conjugação entre passarinho e
graveto. Ou quando a ovelha percebe que o lobo é inimigo também isto não é subjetivismo,
isto é uma apreensão perfeitamente objetiva mas de uma relação única entre aquele objeto e
aquele sujeito e não da natureza universal do objeto. Não quer dizer que a essência do
graveto seja ser parte de um ninho ou a essência do lobo seja ser inimigo de ovelhas. É
simplesmente uma das possibilidades reais. O Aristóteles no começo da “Física” fala disso
daí, ele fala da necessidade que a semente tem de que chova e da chuva. Se não chover a
semente está ferrada. Então existe uma intenção possível da chuva em relação à semente de
que ela serve para a semente florecer, germinar. Não é porque a chuva quer fazer isto ou
porque esta é a função essencial da chuva, mas esta relação é objetiva. Independente do
gosto da semente ou do gosto da chuva quando elas se ligam elas se ligam para fazer isto.
O que é apreendido pela estimativa não é algo que pertence unicamente ao objeto
nem unicamente ao sujeito, mas é uma realidade que pertence à ordem das relações entre
aquele sujeito e os diversos objetos.
A relação entre vênus e o apetite concupiscível vem de dois traços do brilho de
vênus: um que vênus é de fato o planeta de brilho mais suave e mais agradável dos
planetas, e o outro que vênus só pode ser visto logo antes do nascer do sol ou logo depois
do pôr do sol. Ele só pode ser visto perto do horizonte leste ou perto do horizonte oeste e
isto simboliza justamente o caráter dual dos atos do apetite concupiscível. Este tem duas
colunas de atos em relação a objetos e que tendem para coisas opostas. Quer dizer, você
tem de um lado a categoria do desejável e do outro lado a categoria do indesejável. Esta
dualidade também tem em mercúrio porque também a estimativa apreende relações
segundo a categoria da utilidade e da hostilidade, e mercúrio também só é visto pouco antes
do nascer do sol ou pouco depois do pôr do sol.
Sim, e que não são funções essenciais dos seres. Você perceber que uma pedra serve
para quebrar uma castanha é perceber uma intenção possível e real da pedra, uma função
real da pedra em relação a você e a castanha, mas isto não define a essência da pedra. Você
não pode dizer que pedra é o objeto que serve para quebrar castanhas. Esta apreensão não
tem nada de essencial, embora seja verdadeira.
Aluno: por isso que primeiro nós temos a aula e depois vamos no Bar Lagoa.
Isso mesmo. É fácil fazer uma analogia entre a exclusividade da causa formal e a
secura extrema da terra. E inclusividade se parece com o ar, porque é fácil associar a
umidade extrema do ar à inclusividade, que é a perfeição da causa material. O ar de todos
os elementos é o mais adaptável. A atratividade é naturalmente comparada à frieza extrema
da água. E também é fácil associar a força ou a capacidade de comunicar movimento com o
extremo calor do fogo.
Unidade, bondade e verdade nós já comparamos com cardinal, fixo e mutável.
Então agora é fácil fazer uma comparação entre cada signo e uma combinação de dois
atributos do ser, um atributo próprio do ser e uma qualidade ou perfeição do ser enquanto
causa. Então se associarmos unidade à força teremos um signo cardinal de fogo: áries.
Então qualquer objeto sutil ou corpóreo que manifeste de modo evidente estes dois aspectos
do ser simultaneamente, combinados, vai entrar na categoria de áries e vai ser dito que é
uma coisa significada pelo signo de áries e que serve para simbolizar o signo de áries para
nós. Se combinarmos bondade, que é traço dos signos fixos, com exclusividade a gente vai
ter o signo fixo de terra: touro. E aí qualquer objeto corpóreo ou sutil que manifeste estes
dois traços do ser vai ser associado ao signo de touro e vai servir para simbolizar o signo de
touro para a gente e evidenciar o signo de touro, e assim por diante:
Então vamos dizer que estes são os traços ontológicos que definem os signos. A
razão de unidade dos signos, a razão de definição de cada signo e de distinção de um signo
do outro. Esta razão é suficiente para sabermos o que é um signo? Depende. Se esta razão
foi abstraída de objetos ela é razão suficiente para compreeendermos o que é um signo. Se a
gente só foi notificado dessas razões isto não é suficiente. Então para compreendermos
realmente o que é cada signo vamos ter que pegar alguns objetos que manifestem de modo
quase que exclusivo estas razões e deles abstrair as noções dos signos, e daí entendê-las
claramente pelo intelecto paciente. Daí que vem a utilidade de observar animais para ver o
simbolismo dos signos. Porque os animais também tem uma outra característica que facilita
a compreensão disto neles. Os animais também pertencem evidentemente à ordem sutil da
existência fundamentalmente. Existir como animal é apetecer fundamentalmente, é
realizar o apetite. Mas os animais têm uma diferença em relação ao homem: a
participação que eles têm na inteligência, ou na atividade intelectiva, é inversa da do
homem. Quer dizer, se o homem na ordem sutil existe como um sujeito inteligente, as
espécies animais na ordem sutil existem como objeto de inteligência. O intelecto num
animal é como que um objeto fixo ao qual ele tem que corresponder necessariamente.
Como o animal não pode apreender noções intelectivas, como nós podemos apreender
a noção de qualquer coisa, ele só pode apreender a noção da espécie dele, e ele só pode
apetecer aquilo. Daí que os membros de uma mesma espécie animal sejam tão menos
capazes de diferenciação uns dos outros do que o ser humano. Se você pegar trinta
leões eles não são capazes de ser muito diferentes uns dos outros, não como se você
pegar trinta pessoas. A gente vê que toda diferenciação pessoal num animal tem que
implicar em diferenciação na estrutura corpórea. A estrutura corpórea tem que ser
completamente diferente para que ele seja completamente diferente. Mas não tem
uma formiga guardiã, outra que cata alimentos, entre outras? Aí você vê que as
diferenças corpóreas entre a formiga que corresponde a uma função e a formiga que
corresponde a outra são imensas, enquanto que isto não é assim no ser humano. Quer
dizer, todas as funções humanas exigem fundamentalmente o mesmo aparato físico, porque
o ser humano é capaz de se diferenciar por funções porque ele é um sujeito inteligente.
Então ele escolhe as funções de acordo com as noções que ele apreende e que podem ser
inúmeras. Enquanto que o leão não, ele só apreende a noção de espécie leão. Ele só é capaz
de apetecer segundo aquela espécie. É isto que facilita a observação dos signos nos animais
e dificulta um pouco a observação dos signos nos seres humanos. Porque um único
indivíduo humano é capaz de corresponder a todas as noções dos seres nos diversos
aspectos de sua vida, enquanto que o animal não, para ele determinados aspectos do ser são
evidentes e outros são ininteligíveis. Então ele necessariamente corresponde àqueles. E aí
você vê nele aquele aspecto.
Então nós vamos pegar os animais, observar suas características sensíveis, construir
uma imagem típica de cada espécie e nessa imagem típica perceber as características deste
ou daquele signo. Também não basta a pura e simples observação sensível do animal. Entre
o sentido e a inteligência existe a atividade da imaginação. A atividade da imaginação aí vai
servir para a gente esquecer numa espécie animal aquilo que é irrelevante do ponto de vista
simbólico para facilitar a compreensão de um tipo correspondente a um signo. Então
quando a gente for no zoológico olhar os animais a primeira coisa que a gente vai fazer é
olhá-los e tentar ver se eles manifestam unidade, bondade ou verdade, se eles manifestam
exclusividade, inclusividade, atratividade ou força. Então é bom ir refletindo nessas sete
noções nos próximos dias para ver se elas se tornam claras. Alguma dúvida?