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Aula 1
- Introdução a Pitágoras.
- Introdução a Mário Ferreira dos Santos
- O pitagorismo por Mário Ferreira.
Reale p.43
Mário p.61
Sabedoria das Leis Eternas
Antigo TCC
Julián Marías p.50
Aula 2
Aula 3
Aula 4
- O sonho de Pitágoras
- A década Pitagórica
- Pitagorismo concreto?
- Encerramento.
Aula 1
1. Introdução
Não sou escolástico nem neoescolástico, porque sigo também outras ideias,
aparentemente afastadas, mas que conciliam, numa síntese, aquele
pensamento com o que provém do pitagórico-platônico, fato que exponho e
demonstro em meus livros.1
O Pitágoras e o Tema do Número serve bem a esse propósito por ser algo raro na
obra do Mário: é um livro organizado. Qualquer um que tenha estudado Mário e não
apenas lido sabe que aquilo é um saco de gatos; os conceitos ficam espalhados em livros
e não são nem de longe bem estruturados linearmente como encontramos por exemplo
em Kant. Isso significa que para entender alguma coisa em Mário, somos remetidos ao
adágio de Schopenhauer: quem quiser me ler, terá de o fazer até a última linha. [NOTA]
Mas aqui não procuramos uma análise exaustiva. O livro mesmo que nos
propomos a seguir como programa deverá bastar por si mesmo dentro dos limites de
nosso propósito dado, que é estudar como Mário Ferreira interpretava o pitagorismo e
como ele pretende usar isso na Filosofia Concreta. Sendo assim, comecemos pelo
começo. Quem foi Mário Ferreira dos Santos?
Teçamos uma pequena biografia deste autor que tanto nos legou. Mário Dias
Ferreira dos Santos foi um filósofo brasileiro nascido no município de Tietê, em São
Paulo, no dia 3 de janeiro de 1907, filho do português Francisco Dias Ferreira dos
Santos e da amazonense Maria do Carmo Santos. Seu pai foi um dos pioneiros do
cinema nacional, produzindo algumas dezenas de filmes, entre os quais o chamado O
Crime dos Banhados, o primeiro longa-metragem da filmografia mundial. Mário, ainda
criança, participou de alguns filmes do pai, como Os Óculos do Vovô.2
Mário dizia a seus filhos que um dos motivos de sua inquietação filosófica eram
as divergências entre a crença maçônica de seu pai e o catolicismo de sua mãe;
Francisco Santos era admirador da educação jesuíta, o que mais tarde o levou a
matricular o pequeno Mário no Ginásio Gonzaga, em Pelotas, Rio Grande do Sul, para
onde a família se mudara logo antes. Ingressou na Faculdade de Direito de Porto Alegre
em 1925, e estreou advogado antes mesmo de formar-se, e m 1928. Bacharelou-se em
Direito e Ciências Sociais em 1930, mas abandonou a profissão para trabalhar na
empresa cinematográfica de seu pai, simultaneamente à direção do jornal A Opinião
Pública, onde apoiou a revolução de 1930, mas não sem criticar os atos do novo
Mário morreu em casa, cercado de sua esposa Yolanda, suas filhas Iolanda (com
I) e Nadiejda, seus genros Fernando e Wilmar. Aproximando-se do fim, pediu que o
erguessem, pois considerava indigno morrer deitado; assim, morreu de pé, recitando o
Pai-Nosso, em 11 de abril de 1968.
Pitágoras e o pitagorismo
Agora tratemos um bocado sobre história da filosofia. É um fenômeno muito
engraçado hoje em dia que muitos, em especial os mais novos, adorem ler sobre seitas
secretas e ocultismo. Mas é ainda mais engraçado que em qualquer canto de livraria
esotérica encontremos coisas do tipo “o segredo revelado”, “a doutrina secreta” e coisas
Giovanni Reale irá apontar essa teoria como certa percepção de regularidade
matemática. E de fato os pitagóricos acertaram muito ao conceber isso, pois foi nisso
que descobriram as escalas musicais. Como Reale aponta, da diversidade dos sons
produzidos por martelos batendo, que são determinados pelos materiais e pelo peso dos
objetos que se chocam e da diversidade dos sons produzidos pelo monocórdio que
variam segundo a proporção do tamanho e do material da corda, deduz-se uma estrutura
de proporção que Mário chamará de estrutura de proporcionalidade intrínseca, algo que
muitos de nós talvez conheçam como essência. Nisso, os pitagóricos descobriram as
relações harmônicas de oitava, quinta, e quarta. Se hoje temos violões, o devemos aos
pitagóricos. Essa mesma estrutura de proporcionalidade foi usada na astronomia e na
medição da durações dos dias, estações, e tutti quanti.
Para além disso, os pitagóricos associavam essa proporção à justiça, que era
vista como certa estrutura de equidade, que como aponta Reale, coincidente e
simbolizada pelo número 4 ou 9 – 2x2 ou 3xe, o quadrado do primeiro par ou primeiro
ímpar.
Entre essas e outras, os pitagóricos foram galgando os números até vê-los como
princípios, ou certa estrutura regente da realidade, números reais no sentido mais pleno
do termo. Assim, todas as coisas derivam ou são regidas pelos números, entendidos do
modo dito, como estrutura de proporcionalidade. Reale aponta um dado interessante: os
números, mesmo como princípio, não são o primum que estamos acostumados; mas eles
mesmos derivam de certos componentes, a saber, dois: o limitado e o ilimitado, ou, o
indeterminado e o determinado, que se não me falha a memória, na filosofia aristotélica,
darão origem ao que se chamou quantidade contínua e quantidade discreta.
Essa dualidade, nos números mesmos, é simbolizada pelo par e pelo ímpar; o
indeterminado no primeiro e o determinado no segundo.