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Rafael Falcón 09 de Agosto de 2017

A vida intelectual não pode ser esmagada pela rotina. Ela pode, sim, ser destruída pelo convívio social
excessivo, por distrações descontroladas, pela falta de mortificação dos sentidos, por um espírito superficial e
curioso.

Rafael Falcón: Eu, particularmente, vi muitos talentos frustrados porque não conseguiam ficar dez minutos em silêncio
consigo mesmos. Não há inteligência que sobreviva ao convívio social constante.
Moreno Garcia: Fale mais sobre como não precisar desse convívio e caminhar em direção a um isolamento saudável, por
favor.
Rafael Falcón: Moreno, temos uma inclinação natural à vida em sociedade, mas na prática ela não cumpre sua finalidade,
gera muitos males e precisa ser mortificada. Assim como no caso do jejum, creio que é bom ir cortando aos poucos, e
começar pelas ocasiões que são mais perniciosas ou inúteis.
Rafael Falcón: Há uns três anos que decidi só travar diálogo com dois tipos de pessoa: as que querem me ajudar, e as que
me deixam ajudá-las. Ainda estou implementando a regra nas ocasiões pontuais, mas de modo geral ela hoje está em pleno
vigor.
Pedro De Fraipont Castañon: Rafael Falcón, achei difícil a interpretação do que você falou de mortificar o convívio
social. Até que ponto isso não se torna egoísmo? Afinal, temos que ter um coração largo e procurar salvar as almas dos
nossos amigos (aqueles com quem há, no mínimo, uma admiração mútua) e procurar mais amizades. Para isso, é preciso
crescer em amizade, estar com eles. O que você pensa sobre isso?
Rafael Falcón: É egoísmo: um santo egoísmo. Primeiro você salva a sua alma, depois as dos outros. Não aconteça que
seus amigos se salvem, e você acabe no inferno.
Natan Martins: Eu pensava que a curiosidade - este espírito curioso - era atributo de pessoas inteligentes, cultas. Ou eu
entendi errado, o "espírito curioso" na verdade seria o distraído, levado por fofocas e novidades todos os dias?
Rafael Falcón: Usei exatamente no sentido que você acha positivo. Curiosidade é vício de temperamentos sanguíneos.
Muitas pessoas tidas por cultas levam vida de estudos dispersa, e na prática nunca chegam a lugar algum. Há um abismo
entre a verdadeira sabedoria e um conjunto enorme de informações desconexas.
Juliano Figueiredo de Mattos: Professor, sem querer fugir do tema, mas eu tenho a tendência oposta, ao isolamento social
até excessivo e a uma introspecção exagerada. Me faz até falta um convívio mínimo, mas não tenho nenhuma facilidade
para socializar, então acabo me isolando mais e mais mesmo mesmo que por inércia, com pensamentos do tipo "não vale
a pena nem tentar". Obviamente isso também é um mal, porque perco contato com o mundo real e facilmente fico orbitando
unicamente dentro da minha cabeça, e só o mundo real interessa a um intelectual decente. O senhor tem alguma
recomendação de medidas para solucionar esse tipo de problema?
Rafael Falcón: O que evita a alienação mental são responsabilidades reais. Convívio social só faz tirar você da sua própria
cabeça para escravizá-lo à "cabeça" de um grupo, o que é ainda pior. Trabalhar, casar-se e ter filhos, entrar para um
mosteiro, em suma, tomar sua cruz sobre as costas, é o que faz um homem crescer e o protege da loucura.

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