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CONHECIMENTO
E CONSCIÊNCIA
CONHECIMENTO E CONSCIÊNCIA 3
OLAVO DE CARVALHO
CONHECIMENTO
E
CONSCIÊNCIA
Uma Breve Introdução à Filosofia
RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ARTES LIBERAIS
1995
CONHECIMENTO E CONSCIÊNCIA 5
NOTA PRÉVIA
Este texto compõe-se de duas de aulas que, no
curso “Introdução à Vida Intelectual”, dei a alunos do Rio e
de São Paulo, em julho de 1989. Gravadas em fita, foram
transcritas por Stella Caymmi, Luiz Cláudio Lima
Amarante, Guilherme Motta, Maria Elisa Ortemblad, Meri
Angélica Harakawa e Ana Célia Rodrigues. Não acrescentei
nada, e procurei, sempre que possível, conservar a
informalidade da exposição oral, de modo que o leitor,
lendo este texto, se sentisse participante do curso.
Explicação do título: “Momento de Lucidez” é o
objeto material destas aulas, que começam pelo estudo
descritivo de uma experiência vivida, na qual o homem
toma consciência do conjunto da sua vida como um trajeto
dotado de sentido no rumo geral da existência histórica e
cósmica. Esta experiência já aconteceu algum dia a todos
— ou deveria ter acontecido, se não vivessem
entorpecidos por um “cotidiano” que hoje os imbecis
idealizam por mera falta de imaginação — e é o objeto que
me serviu de amostra para começar um estudo sobre a
fenomenologia da consciência — objeto formal destas
aulas.
6 CONHECIMENTO E CONSCIÊNCIA
TAREFA
A tarefa que aqui proponho aos alunos consiste em:
Primeiro, responder às perguntas abaixo. Cada aluno deve
fazê-lo individualmente, sem perguntas ou consultas de
espécie alguma ao professor e aos colegas. Redigir as
respostas com a máxima fidelidade e clareza, traduzindo o
seu pensamento mais sincero. Segundo, ler as respostas
dadas por outros colegas e fazer a sua crítica, do ponto de
vista: (a) da sinceridade e da autenticidade; (b) da clareza
e da coerência do pensamento.
PERGUNTAS
1. Você se lembra claramente de ter vivido
momentos de lucidez como os mencionados por Lavelle?
Eles foram freqüentes ou raros?
2. O que os motivou, na maior parte das vezes? Um
acontecimento? Uma leitura? Uma conversa com alguém?
O quê, afinal?
3. Em que consiste, segundo a sua própria
observação de si mesmo, a diferença de tom vital entre
estes momentos privilegiados e os outros?
CONHECIMENTO E CONSCIÊNCIA 9
CONSCIÊNCIA1
Já mencionei aqui, em outra ocasião, o tema da
consciência, a propósito de um texto de Maurice Pradines
extraído do Tratado de Psicologia Geral. No entanto, creio
que o estudo deste tópico, como aliás de muitos outros
num curso de filosofia, não está satisfatório ao esgotar-se
no plano de mero conceptualismo, do conhecimento
meramente por conceitos. Conhecer o enunciado de um
conceito não é o mesmo que conhecer uma coisa real. Uma
coisa é saber o conceito de mãe, outra é ser capaz de
reconhecer a própria mãe.2 Alguém que tenha sido
afastado da mãe quando criança e nunca mais a tenha
visto sabe perfeitamente o que é mãe, mas isto não quer
dizer que reconheceria a sua se a visse.
No curso habitual do pensamento, não nos
podemos sempre reportar às coisas pela intuição: seria
muito complicado. Usamos, então, os conceitos, esquemas
mentais que permitem que nos refiramos às coisas por
uma espécie de abreviatura lógica. No entanto, muitas
1
Aula de 22 de junho de 1989 (Rio de Janeiro).
2
Também é certo que sermos capazes de reconhecer nossa própria mãe
não nos dá de imediato um conceito claro do que é mãe em geral e
essencialmente. Notem bem, aliás, a distinção: o conceito, quando o é
em sentido pleno, não se distingue do conhecimento empírico do singular
só por mostrar a generalidade de certos traços, mas sim aquilo que no
objeto faz com que ele seja o que é, ou seja, por destacar aquilo que
nele, enquanto ele mesmo, é principal. A operação de conceptualizar não
se confunde portanto com a mera “generalização”, que pode ter algo de
mecânico. Ela é uma operação qualitativa e hierarquizante.
CONHECIMENTO E CONSCIÊNCIA 11
II.
CONHECIMENTO 3
O exercício feito na primeira metade da aula visava
a duplo efeito. O primeiro era trazer o dado à consciência.
Desde que fazemos um estudo da consciência, devemos
trazer a consciência à luz da própria consciência; um
momento de consciência privilegiado é revivido na
recordação, agora, através da consciência reflexiva.
De posse deste dado, começamos, então, a
descrição fenomenológica. Nesta descrição, observamos as
características, os traços proeminentes deste momento,
descrevemos os traços sem os quais este momento não
seria o que é, os traços que fazem com que ele seja isto e
não outra coisa. Estes traços nós os definimos na aula
passada (ver quatro itens na página ...).
De posse da descrição, dela extraímos o conceito,
que é um esquema mental que, como uma fôrma, pode
recobrir todas as experiências individuais de um mesmo
tipo, ou referentes a uma mesma espécie de objetos.
No exercício feito na aula anterior, cada um teve de
rever apenas a sua própria experiência e mais nenhuma,
3
Aula de 23 de junho de 1989 (Rio de Janeiro).
40 CONHECIMENTO E CONSCIÊNCIA
APÊNDICE
CONSCIÊNCIA E INCONSCIÊNCIA
Resumo de:
Maurice Pradines, Tratado de Psicología General, t. 1, El
Psiquismo Elemental, trad. Nelly A. Furtuny y Elba B.
Roggeri, Buenos Aires, Kapelusz, 1962 (trad. de Traité de
Psychologie Générale, 3e. éd., Paris, P.U.F., 1948).
INTRODUÇÃO
OS ASPECTOS GERAIS DA VIDA MENTAL
CAPÍTULO I
Consciência e Inconsciência
I. A consciência como força de coesão
A consciência é uma atividade. Ali onde aparece a
consciência, ela surge da bruma do automatismo ou do
adormecimento, sempre com esta virtude de eficiência.
Recolhe um ser disperso: faz com que atue no presente
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ERRATUM
Heil, mein Kommandant!
Hitler foi nomeado Chanceler do Reich a 30 de
janeiro de 1933 e não a 20 de abril, que na realidade é a
data de seu nascimento.
Mit freudlichen grüssen,
Frau Schulz (nome de guerra do Standartenführer
Von Marzien Reginen).