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Resumo do capítulo 5 – Física Moderna

5.3 A interpretação de Born para funções de onda


Uma propriedade importante e muito interessante de funções de onda pode ser vista
colocando-se g=i, que especifica a forma da função de onda da partícula livre. Obtendo
assim: ψ ( x ,t )=cos (kx−ωt)+i sen( kx−ωt ).
A função de onda é complexa, isto é, contém o número imaginário i. A fim de obter
uma forma de satisfazer as quatro hipóteses relativas à equação de Schroedinger usando
uma função de onda puramente real para a partícula livre, encontramos que não havia
modo razoável de fazê-lo. Apenas quando foi permitido que a partícula livre tivesse
parte imaginária na qual g se tornou igual a i, foi obtido êxito. A equação contém um i
porque ela relaciona a primeira derivada temporal com uma segunda derivada espacial.
Como uma função de onda da mecânica quântica é complexa, ela especifica
simultaneamente duas funções reais, sua parte real e sua parte imaginária.
O fato de que as funções de onda sejam funções complexas não deve ser considerado
um ponto fraco da teoria da mecânica quântica. Na realidade, esta é uma característica
desejável, porque fica evidente que não devemos tentar dar às funções de onda uma
existência física, da mesma forma que damos a ondas na água. A razão disso é que uma
grandeza complexa não pode ser medida por qualquer instrumento físico real.
Uma função de onda na realidade contém toda a informação que o princípio da incerteza
permite que tenhamos a respeito da partícula associada. A ligação básica entre as
propriedades da função de onda ψ ( x ,t ) e o comportamento da partícula associada é
expressa em termos da densidade de probabilidade P( x ,t ). Essa grandeza especifica a
probabilidade, por unidade de comprimento do eixo x, de encontrar a partícula próxima
da coordenada x em um instante t.
A relação entre a densidade de probabilidade e a função de onda é:
P( x ,t )=ψ∗( x ,t) ψ ( x ,t ).
Onde o símbolo ψ∗(x ,t) representa o complexo conjugado de ψ ( x ,t ).
O postulado de Born diz que: Se, no instante t, é feita uma medida de localização da
partícula associada à função de onda ψ ( x ,t ),então a probabilidade P(x ,t )dx de que a
partícula seja encontrada em uma coordenada entre x e x+ dx é igual a ψ∗(x ,t)ψ ( x ,t )
dx.
Como o movimento de uma partícula está relacionado com a propagação de uma função
de onda associada (a relação de de Broglie), estes dois entes devem estar associados no
espaço. Isto é, a partícula deve estar em algum local onde as ondas tenham uma
amplitude apreciável. Portanto, P(x,t) deve ter um valor apreciável onde ψ (x ,t ) tiver
um valor apreciável.
Evidentemente, há outras funções reais que podem ser geradas de ψ (x ,t ). Um exemplo
é o valor absoluto, ou módulo, |ψ ( x ,t )|.
É interessante considerar a analogia entre o eletromagnetismo e a mecânica quântica. A
relação entre a densidade de fótons em um campo de radiação eletromagnética e o
quadrado do vetor de campo elétrico é análoga a relação entre a densidade de
probabilidade e a função de onda multiplicada por seu complexo conjugado. Considere,
por exemplo, que o vetor campo elétrico é uma solução para a equação de onda do
campo eletromagnético, enquanto que a função de onda é uma solução para a equação
de onda da mecânica quântica. As duas grandezas especificam as amplitudes das ondas,
embora o vetor campo elétrico seja real e a função de onda seja complexa. Portanto, o
quadrado da amplitude das ondas, E2 , dá sua intensidade, no caso eletromagnético,
enquanto que é necessário tomar a amplitude multiplicada por seu complexo conjugado,
ψ∗ψ , para obter uma intensidade real, no caso da mecânica quântica. No caso
eletromagnético, a intensidade das ondas é proporcional à sua densidade de energia.
Como cada fóton do campo eletromagnético possui uma energia de hν , a densidade da
energia é, por sua vez, proporcional à densidade de fótons.
O princípio da incerteza nos dá a justificativa fundamental de por que a mecânica
quântica se expressa na forma de probabilidade, e não de certezas. A mecânica clássica
diz que podemos prever exatamente onde a partícula será encontrada em uma medida
subsequente, caso desejemos. Mas, quando aplicada a sistemas microscópicos, a
mecânica clássica está errada. Não só é impossível prever a partir da mecânica clássica
exatamente aonde uma partícula em um sistema microscópico estará em uma medida
subsequente, como também é impossível prever precisamente a partir dessa teoria, as
probabilidades relativas encontrar a partícula em várias posições. A mecânica clássica
nos permite fazer previsões precisas à respeito dessas probabilidades relativas, porque
ela leva em conta quantitativamente o fato fundamental da vida do mundo microscópico
– o princípio da incerteza.
O primeiro ponto abordado por Born, a respeito da dependência espacial de ψ em algum
instante inicial ser suficiente para determinar completamente sua dependência espacial
em qualquer instante posterior, é consequência do fato de que ψ satisfaz à equação de
Schroedinger, que contém apenas a primeira derivada temporal.
Podemos dizer então que o comportamento de uma dada função de onda de um sistema
é previsível, no sentido que a equação de Schroedinger para a energia potencial
correspondente determinará exatamente sua forma em algum instante posterior em
termos de sua forma em algum instante inicial.
5.4 Valores esperados
Considere uma partícula e sua função de onda associada ψ ( x ,t ). Em uma media de sua
posição no sistema descrito pela função de onda, haveria uma probabilidade finita de
encontrá-la em qualquer coordenada x no intervalo de x a x + dx, desde que a função de
onda fosse não nula nesse intervalo. Em geral, a função de onda é não nula em uma
região extensa do eixo x.
Segundo o postulado de Born, a probabilidade de encontrar a partícula entre x e x + dx
é:
P( x ,t )=ψ∗(x ,t) ψ ( x ,t ).
Imagine que fazemos essa medida uma série de vezes para sistemas idênticos descritos
pela mesma função de onda ψ ( x ,t ) sempre para o mesmo valor de t, e que registramos
os valores de x nos quais encontramos a partícula. Podemos usar a média dos valores
observados para caracterizar a posição em um instante t da partícula associada à função
de onda ψ ( x ,t ). Chamamos este valor médio de valor esperado da coordenada x da
partícula no instante t. É fácil ver que o valor esperado de x, que é notado x , será:

x= ∫ x P( x , t)dx
−∞

A razão é que o integrando nesta expressão é exatamente o valor da coordenada x


ponderada pela probabilidade desse valor. Portanto, obtemos a média dos valores
observados ao integrá-lo. Usando o postulado de Born para calcular a densidade de
probabilidade em termos da função de onda, obtemos:

x= ∫ ψ∗( x , t ) x ψ (x , t) dx
−∞

Os termos no integrando são escritos na forma mostrada a fim de preservar a simetria.


A coordenada x e a energia potencial V(x,t) são dois exemplos de grandezas dinâmicas
que podem ser utilizadas para caracterizar o comportamento da partícula. Exemplos de
outras grandezas dinâmicas são o momento r e a energia total E. O valor esperado do
momento é dado por:

ρ=∫ ψ∗( x , t) ρ ψ (x ,t )dx
−∞

Entretanto, para calcularmos esta integral, o integrando ψ∗(x ,t) ρ ψ (x , t) deve ser
expresso como uma função das variáveis x e t. Mas na mecânica quântica, o princípio
da incerteza nos diz que não é possível escrever ρ em função de x, pois ρ e x não podem
ser conhecidos simultaneamente com precisão total. Nem é possível escrever ρ em
função de t. Devemos procurar outra forma de expressar o integrando em termos de x e
t. Pode-se encontrar uma sugestão considerando-se a função de onda da partícula livre
que é:
Isto indica que há uma associação entre a grandeza dinâmica ρ e o operador diferencial
−ih ¿ . Pode-se encontrar uma associação análoga entre a grandeza dinâmica E e o
operador diferencial ih ¿ derivando a função de onda da partícula livre ψ ( x ,t ) em
relação a t. Obtemos:

Substituindo as grandezas dinâmicas ρ e E por seus operadores diferenciais associados,


temos:
É equivalente a postular a equação de Schroedinger. A validade dessas associações não
tem restrição. A função de onda contém todas as informações sobre a partícula
associada que o princípio da incerteza permite que tenhamos.
5.5 A equação de Schroedinger independente do tempo
A utilidade das funções de onda mais do que justifica o trabalho necessário para obtê-
las. Isto é feito resolvendo a equação de Schroedinger:

Usando a função energia potencial V(x,t) que descreve apropriadamente as forças que
atuam sobre a partícula considerada.
A técnica padrão para resolução de equações diferenciais parciais consiste em procurar
soluções na forma de produto de funções, cada uma delas contendo apenas uma das
variáveis independentes que aparecem na equação. A técnica, chamada separação de
variáveis, é utilizada porque reduz imediatamente uma equação diferencial parcial a um
conjunto de equações diferenciais ordinárias.
A técnica consiste em procurar soluções nas quais a função de onda y(x,t) possa ser
escrita como o produto: y(x,t)= y (x)j(t)
Onde o primeiro termo da direita é uma função apenas de x, e o segundo termo, uma
função apenas de t. Vamos obter na realidade que as soluções na forma admitida
existam, desde que a energia potencial não dependa explicitamente de t, podendo ser
escrita como V(x). A separação de variáveis levará à conclusão que a função y (x) é
uma solução para a equação diferencial:
Chamada de equação de Schroedinger independente do tempo. Observe que essa
equação é mais simples do que a equação de Schroedinger para a mesma energia
potencial, porque envolve apenas uma variável independente, x, e é portanto, uma EDO.
A técnica nos dará ainda informações sobre a função j(t) que especifica a dependência
temporal em função de onda. De fato, ela mostrará que j(t) satisfaz a uma equação
diferencial ordinária simples, que pode ser resolvida através da expressão: j(t)= e-iEt/h.
Onde E é a energia total da partícula do sistema. Vamos aplicar à equação de
Schroedinger.
Substituindo a forma que supomos para a solução, y(x,t)= y (x)j(t), na equação de
Schroedinger, e nos restringindo a energias potenciais independentes do tempo, que
podem ser escritas como V(x), obtemos:
A constante G é dita constante de separação. A equação temporal, (5-38), é uma
equação diferencial ordinária de primeira ordem simples. Todas as técnicas para a
obtenção de soluções envolvem a suposição de uma forma geral para a solução, a
substituição dessa forma na equação diferencial e a determinação da forma específica
necessária para a solução.
Considere que a equação (5-38), após transposições, pode ser escrita como:
dφ(t ) −iG
= φ (t) (5-39)
dt h
Esta equação nos diz que a função φ (t), que é sua solução, tem a propriedade de sua
primeira derivada ser proporcional à própria função. E φ (t)=eat. onde a é uma
dφ(t )
constante a ser determinada. Derivando a solução, temos: =αφ(t ).
dt
Substituindo em (5-39), temos:
Vemos que φ (t) é uma função oscilatória do tempo de frequência n=G/h. Mas a
frequência também pode ser escrita como n=E/h, onde E é a energia total da partícula
associada a função de onda correspondente a φ (t).
Sendo G=E, temos:

A equação (5-43) é chamada equação de Schroedinger independente do tempo, pois a


variável temporal t não aparece na equação. Suas soluções independentes do tempo y(x)
determinam, por meio de (5-44), a dependência espacial das soluções y(x,t) da equação
de Schroedinger.
Para todos os casos, a equação de Schroedinger não contem o número imaginário i, e
portanto, suas soluções y(x) não são necessariamente funções complexas, são ditas
autofunções.
5.6 As propriedades necessárias às autofunções
Para ser uma função aceitável, é necessário que uma autofunção y(x) e sua derivada
tenham as seguintes propriedades:

Estas exigências são feitas de forma a garantir que a autofunção seja uma função “bem
comportada” matematicamente.
Para que dy(x)/dx seja finita, é necessário que y(x) seja contínua. Isso ocorre porque
qualquer função sempre tem uma primeira derivada infinita nos pontos em que é
descontínua. A necessidade de que dy(x)/dx seja contínua pode ser demonstrada
considerando a equação de Schroedinger independente do tempo, que é escrita como:

Para V(x), E e dy(x) finitos, vemos que d2 dy(x)/dx2 deve ser finita. O que exige que
dy(x)/dx seja contínua, pois qualquer função que tenha sua primeira derivada
descontínua terá uma segunda derivada infinita no mesmo ponto.
A importância de serem feitas essas exigências para as propriedades de soluções
aceitáveis da equação de Schroedinger independente do tempo não pode ser
subestimada.

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