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A Equação de Schrödinger
51
52 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
2πh
p = = h̄k , (3.1)
2πλ
onde a eq. (1.116) foi utilizada para representar 2π/λ através do número de
onda k e a fração h/2π foi abreviada,
h
h̄ = . (3.2)
2π
Essa redefinição da constante de Planck corresponde a transformação para
grandezas angulares, mas não muda conceitos fı́sicos. A eq. (3.1) representa
uma expressão alternativa relacionando o momento a um parâmetro ondular,
aqui, o número de onda.
Através de multiplicar a energia do fóton (2.9) por 2π/2π, pode-se trans-
formar E = hν para propriedades angulares,
2π
E = hν = h̄ω , (3.3)
2π
3.1. EXPLORANDO DE BROGLIE 53
p2
= h̄ω .
2m
Com o momento (3.1),
p2 h̄k 2
ω = = . (3.4)
2mh̄ 2m
A freqüência angular da onda particular é proporcional ao quadrado do
número de onda. Cabe mencionar que a eq. (3.4) não representa o resultado
de uma dedução matematicamente e fisicamente limpa. A eq. (3.4) repre-
senta apenas uma conclusão tirada através de aplicar vários argumentos e
analógias entre ondas e partı́culas como sugeridas por de Broglie. Observa-se
que a eq. (3.4) foi obtida para uma partı́cula livre, ou seja, aquele sistema
que não é afetado por um potencial V (x).
Em geral, o sistema sob consideração não é representado por uma partı́cu-
la livre, mas é afetado por um potencial V (x). A energia clássica torna-se
T + V , ou seja, p2 /2m + V (x). Assim, a associação dessa energia clássica
com a energia (3.3) fornece,
p2
+ V (x) = h̄ω ,
2m
ou, em termos da freqüência,
p2 V (x) h̄k 2 V (x)
ω(x) = + = + , (3.5)
2mh̄ h̄ 2m h̄
onde o momento (3.1) foi utilizado. Comparada com a partı́cula livre repre-
sentada na eq. (3.4), observou-se um termo de dispersão V (x)/h̄ na freqüência
da partı́cula sob influênia do potencial V (x). Escreveu-se a freqüência em
função da coordenada x introduzida pelo potencial. Contudo, a mecânica
clássica fornece a energia total de um sistema como sendo constante (veja a
eq. (1.27) como exemplo). Com ω sendo proporcional à energia através da
eq. (3.3), ω também tem que representar uma constante, ou seja, o termo
54 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
1
sin α = (exp [iα] − exp [−iα]) . (3.10)
2i
Através dessas relações, pode-se facilmente verificar que a exponencial (3.8)
representa uma função de onda para a onda convencional satisfazendo a
equação de movimento (1.129).
Tenta-se a função (3.8) na proporcionalidade (3.7) considerando que a
derivada da exponencial produz a mesma exponencial multiplicada pela deri-
vada do seu argumento. Assim, o lado esquerdo da eq. (3.7) produz,
!
∂Ψ(ϕ)
= −iωA exp [iϕ] = −iωΨ(ϕ) , (3.11)
∂t x
onde ω não foi considerada como dependente de x, mas tratada com constante
no sentido da eq. (3.4) representando a partı́cula livre.
Na eq. (3.11), aparece em ambos os lados a função de onda Ψ(ϕ) como
último elemento. Assim, os termos em frente de Ψ(ϕ) precisam representar a
mesma grandeza fı́sica. Isso permite a definição da freqüência como operador
diferencial temporal,
∂
−iω = ,
∂t
ou,
∂
ω̂ = i , (3.13)
∂t
onde ω̂ representa a freqüência explicitamente escrita como operador. A
eq. (3.12) permite um tratamento semelhante. Antes, multiplica-se um fator
h̄ para dentro da eq. (3.12),
!
∂Ψ(ϕ)
h̄ = ih̄kΨ(ϕ) = ipΨ(ϕ) ,
∂x t
56 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
com,
e,
O lado direito da eq. (3.25) também pode ser calculado facilmente. Cada
derivada de exp [i (kx − ωt)] com respeito à coordenada x produz ik multi-
plicando essa exponencial. Assim,
!
∂ 2 Ψ(ϕ)
= i2 k 2 A exp [i (kx − ωt)] = −k 2 Ψ(ϕ) , (3.27)
∂x2 t
e substitui-se esse resultado na eq. (3.26) para obter uma equação de movi-
mento contendo as constantes apropriadas,
∂Ψ(ϕ) −1 ∂ 2 Ψ(ϕ) iω ∂ 2 Ψ(ϕ)
= −iω 2 = . (3.28)
∂t k ∂x2 k 2 ∂x2
Introduz-se os parâmetros determinados para a partı́cula livre. Utilizando
ω da eq. (3.4), a equação de movimento pode ser adaptada à partı́cula com
massa m,
∂Ψ(ϕ) ih̄k 2 ∂ 2 Ψ(ϕ)
= .
∂t 2mk 2 ∂x2
Corta-se k 2 e multiplica-se por ih̄ (=⇒ i2 = −1) para levar essa equação a
uma forma geralmente encontrada em livros-texto,
∂Ψ(ϕ) h̄2 ∂ 2 Ψ(ϕ)
ih̄ = − . (3.29)
∂t 2m ∂x2
60 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
Essa é a equação de onda para uma partı́cula livre, apresentada por Schrödin-
ger no inı́cio de 1926. Hoje em dia, ela é referida como equação de Schrödinger
dependente do tempo representando a equação de movimento para uma onda
partı́cular correspondendo à partı́cula livre.
Recorda-se de novo que a eq. (3.29) foi obtida através de considerações
de de Broglie, mas obtida através de uma dedução matematicamente e fisi-
camente limpa. Ela representa um teorema. A aplicação da eq. (3.29) ao
sistema quântico da partı́cula livre fornece a descrição correta como obser-
vada experimentalmente. Esse sucesso representa a justificativa para o uso
desse teorema. Cabe mencionar que toda a mecânica clássica também é
baseada em teoremas (como aqueles do Newton) que foram aceitos por causa
da sua descrição correta do sistema fı́sico real.
Detalha-se um pouco os resultados obtidos. A eq. (3.26) já foi discutida
na seção anterior permitindo a definição do operador ω̂ (3.13) representando a
freqüência. Concentra-se na eq. (3.27). Através do momento (3.1), identifica-
se k 2 = p2 /h̄2 . A eq. (3.27) foi obtida para a partı́cula livre, ou seja, para o
sistema com energia (1.21), T = p2 /2m. Utilizando essa energia cinética, k 2
torna-se,
k 2 = 2mT /h̄2 .
h̄2
!
∂ 2 Ψ(ϕ)
− = T Ψ(ϕ) . (3.30)
2m ∂x2 t
h̄2 ∂ 2
T̂ = − . (3.31)
2m ∂x2
3.3. A PARTÍCULA LIVRE: ENERGIA 61
p2
T = ,
2m
entre as duas grandezas.
A equação de onda (3.29) pode ser separada em uma equação diferen-
cial descrevendo a dependência temporal e outra equação diferencial para a
descrição da parte espacial. Repetindo o formalismo aplicado à eq. (3.15),
substitui-se Ψ(ϕ) na eq. (3.29) pelo produto (3.16),
∂ h̄2 ∂ 2
ih̄ ψ(x)φ(t) = − ψ(x)φ(t) .
∂t 2m ∂x2
Observa-se que o operador diferencial ∂/∂t não tem efeito na função ψ(x) e
que o operador diferencial ∂ 2 /∂x2 não muda φ(t). Pode-se tratar as funções
citadas como constantes nesses operadores diferenciais e tira-las para frente,
ih̄ dφ(t)
= const , (3.34)
φ(t) dt
h̄2 d2 ψ(x)
− = const . (3.35)
2mψ(x) dx2
ih̄
const = (−iω) φ(t) = h̄ω = E , (3.36)
φ(t)
h̄2 d2 ψ(x)
− = Eψ(x) , (3.37)
2m dx2
produzindo uma equação diferencial que, em geral, precisa ser resolvida. Para
a partı́cula livre, a função ψ(x) já é conhecida, pois tratou-se esse capı́tulo
através das idéias de de Broglie utilizando a função de onda (3.8).
Contudo, a separação das variáveis como apresentado nas equações (3.34)
e (3.35) funciona para qualquer sistema fı́sico. A separação é sempre possı́vel
através de formular a função de onda como produto de duas funções com
variáveis independentes como na eq. (3.16). Esse conceito é um conceito
generalizado e aplicável aos sistemas quânticos.
Em resumo, a dependência temporal na equação de Schrödinger pode ser
desacoplada da dependência espacial. A constante de separação é represen-
tada pela energia do sistema. A eq. (3.34) pode ser utilizada para relacionar a
constante de separação const = E com a função de onda temporal. Resolve-
se a eq. (3.34) com ω = E/h̄ e substitui-se na eq. (3.18) para obter,
iE
φ(t) = exp − t , (3.38)
h̄
3.4. EFEITO DO POTENCIAL 63
ih̄ ∂ h̄2 ∂2
φ(t) = − ψ(x) . (3.40)
φ(t) ∂t 2mψ(x) ∂x2
Essa equação foi obtida também para a partı́cula livre na eq. (3.33), onde
a separação das variáveis (3.34) e (3.35) representava o próximo passo na
obtenção da equação espacial. A eq. (3.40) não permite a separação das
variáveis nessa forma, pois a freqüência ω da eq. (3.5) aparecendo em φ(t)
envolve a coordenada. Inclui-se a exponencial (3.18) representando φ(t),
ih̄ h̄2 ∂2
(−iω) exp [−iωt] = − ψ(x) .
exp [−iωt] 2mψ(x) ∂x2
Corta-se exponenciais e junta-se as constantes no lado esquerdo,
h̄2 ∂2
h̄ω = − ψ(x) . (3.41)
2mψ(x) ∂x2
Esse resultado também foi obtido na eq. (3.37) para a partı́cula livre. Porém,
aqui pretende-se discutir a partı́cula sob potencial V (x), ou seja, precisa-se
corrigir a eq. (3.41) para incluir essa restrição.
A freqüência ω foi obtida através das considerações em volta da relação
de de Broglie na eq. (3.5). Utiliza-se essa freqüência na eq. (3.41) para obter,
h̄2 k 2 h̄2 ∂2
+ V (x) = − ψ(x) . (3.42)
2m 2mψ(x) ∂x2
Essa equação não pode ser verdadeira. No lado esquerdo corrigiu-se resulta-
dos para a partı́cula livre através da inclusão de um termo V (x), enquanto
o lado direito da eq. (3.42) ainda representa a partı́cula livre. Corrige-se
também o lado direito da eq. (3.42) incluindo o mesmo termo de correção,
h̄2 k 2 h̄2 ∂2
+ V (x) = − ψ(x) + V (x) .
2m 2mψ(x) ∂x2
O lado esquerdo representa a freqüência (3.5) multiplicada por h̄, ou seja, a
energia Planckiana E do sistema,
h̄2 ∂2
E = − ψ(x) + V (x) .
2mψ(x) ∂x2
3.4. EFEITO DO POTENCIAL 65
3.5 Operadores
A equação diferencial espacial (3.43) é utilizada para a obtenção da energia
E e função de onda espacial ψ(x) do sistema quântico. Transfere-se essa
equação em uma forma mais compacta. Trata-se a função de onda ψ(x) no
lado esquerdo da eq. (3.43) como um fator comum dos dois termos,
h̄2 d2
" #
− + V (x) ψ(x) = Eψ(x) . (3.45)
2m dx2
Tendo em vista que o primeiro dos dois termos na eq. (3.45) representa um
operador diferencial, ψ(x) tem que ser mantida no lado direito dos colchetes.
Nessa forma, a eq. (3.45) permite a identificação fı́sica dos termos envolvi-
dos. O lado direito da eq. (3.45) contém a energia do sistema E multiplicando
a função de onda. Assim, a expressão nos colchetes também tem que repre-
sentar a energia (total) do sistema quântico. Chama-se essa energia Ĥ em
associação com a energia total clássica representada pela função de Hamilton
(1.75),
h̄2 d2
Ĥ = − + V̂ (x) . (3.46)
2m dx2
A eq. (3.46) define o operador de Hamilton Ĥ representando a energia total
do sistema quântico. Ele é composto por dois termos, a energia cinética já
identificada na (3.31) como operador e a energia potencial V̂ (x),
Ĥ = T̂ + V̂ . (3.47)
V̂ = V (x) . (3.48)
3.5. OPERADORES 67
Pode-se ainda argumentar que V (x) envolve coordenadas como, por exemplo,
no potencial harmônico da eq. (1.29), V (x) = kx2 /2. A ação do operador
V̂ nesse caso implica multiplicação da função ψ(x) por kx2 /2. Com k/2
representando uma constante, a função ψ(x) é multiplicada pelo quadrado da
coordenada. Pode-se concluir que um operador representando a coordenada
é a coordenada, ou seja,
x̂ = x . (3.49)
Obteve-se para várias propriedades fı́sicas bem definidas na mecânica
clássica operadores representando essas grandezas na mecânica quântica.
Cita-se o momento (3.14), a energia cinética (3.31), a energia potencial (3.48),
e a energia total (3.47). Existem outros operadores, como aquele represen-
tando a freqüência (3.13). A expressão de propriedades mecânicas através
de operadores representa um conceito geral:
Postulado 2: Propriedades fı́sicas da mecânica clássica são representadas por oper-
adores lineares na mecânica quântica.
Na tab. 3.1 resumiu-se os operadores mais importantes na mecânica quântica
e suas ações.
68 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
Pode-se facilmente verificar que essa relação vale para todos os operadores
mencionados. Cita-se o momento representado pelo operador diferencial
(3.14),
d
p̂ = −ih̄ ,
dx
como exemplo. Utilizando duas funções f (x) e g(x), a eq. (3.50) torna-se,
d
p̂ (f (x) + g(x)) = −ih̄ (f (x) + g(x))
dx
d d
= −ih̄ f (x) − ih̄ g(x)
dx dx
= p̂f (x) + p̂g(x) .
√
Um exemplo para um operador não linear é representado por  = .
Aplicando esse operador à soma de dois números f e g, obtém-se,
q q √
 (f + g) = f + g 6= f + g,
da parte imaginária,
0.6
0.2
-0.2
-0.6
ψ(x) = sin x
ψ 2 (x) = sin2 x
-1
0 π/2 π 3π/2 2π
x
onde foi aproveitado que a integral de sin2 x produz π entre zero e 2π. A
equação obtida pode ser utilizada para arrumar a amplitude A,
s
1
A = ± .
π
Esse cálculo mostra que o fator de amplitude A de uma função de onda pode
√
ser determinada através do critério de normalização (3.59). Com A = 1/ π,
a função utilizada, ψ(x) = A sin x fornece uma distribuição probabilı́stica
apropriadamente normalizada. A função,
1
ψ(x) = √ sin x ,
π
72 CAPÍTULO 3. A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER
h̄2 d2
" #
− + V (x) ψ(x) = Eψ(x) .
2m dx2
Ĥψ = Eψ . (3.60)
com um operador genérico Â, uma função f (x), e um escalar a. Esse tipo
de equação chama-se uma equação de valores próprios. Â é o operador a ser
estudado. f (x) chama-se função própria e representa uma solução para o op-
erador  produzindo o número a chamado valor próprio (ou auto-valor). A
equação de Schrödinger espacial (3.60) possui essa estrutura e, consequente-
mente, é uma equação de valores próprios.
Apresenta-se através de um exemplo a tarefa exigida para resolver uma
equação de valores próprios. Especifica-se o operador,
d
 = ,
dx
e procura-se função e valor próprio. Para isso, escreve-se a equação de valores
próprios (3.61) para o operador Â,
d
f (x) = af (x) .
dx
Traduz-se essa equação: Procura-se uma função que é proporcional à sua
primeira derivada. Conhece-se funções com essa caracterı́stica, as exponen-
ciais. Tenta-se um exponencial do tipo,
c = a,
ou seja, a função f (x) = B exp [cx] representa uma função própria para o
operador  fornecendo o valor próprio c.
A energia E do sistema quântico é obtenı́vel através de um procedimento
geral a partir da equação de Schrödinger (3.60) assumindo que a função de
onda seja conhecida. Para isso, multiplica-se a eq. (3.60) do lado esquerdo
pelo complex conjugado da função de onda, ou seja, por ψ ∗ ,
ψ ∗ Ĥψ = ψ ∗ Eψ .
ψ ∗ Ĥψ = Eψ ∗ ψ .