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A transformação
de Lorentz

Vimos no Capítulo 1 que a mecânica newtoniana, a transformação de Galileu (TG)


e o princípio da relatividade de Galileu (PRG) são compatíveis, isto é, se aplicarmos
a TG a uma das equações da mecânica clássica, a equação preservará sua forma,
satisfazendo assim o PRG. Vimos também que quando juntamos a esse conjunto de
leis as equações de Maxwell, a consistência é perdida, porque essas equações não
são invariantes sob a TG. No Capítulo 1, apontamos três caminhos que poderiam ser
tomados para sanar esse conflito:
a) O princípio da relatividade (PR) não pode ser estendido ao eletromagnetismo.
Nesse caso, existe um referencial absoluto para o eletromagnetismo.
b) A mecânica de Newton e a TG são corretas e o PR pode ser estendido ao eletro
magnetismo. Nesse caso, a formulação de Maxwell do eletromagnetismo não é
correta (porque não é invariante sob a TG) e exige modificação.
c) O PR pode ser estendido ao eletromagnetismo e a formulação de Maxwell do ele
tromagnetismo é correta. Nesse caso, a TG e a mecânica de Newton não são cor
retas e exigem modificações.

Mostramos que a experiência de Michelson-Morley, combinada com as experiên


cias de aberração das estrelas e de Fizeau, constitui evidência forte contra a existên
cia de um éter eletromagnético, que poderia servir como referencial absoluto. Isso
significa que o PR deve ser estendido ao eletromagnetismo. Por outro lado, não tinha
sido feita nenhuma experiência que pudesse ser considerada como teste negativo
para as equações de Maxwell; pelo contrário, essas equações não só tinham sido ca
pazes de explicar todos os fenômenos eletromagnéticos conhecidos, como também
tinham se mostrado fecundas na previsão de novos fenômenos e, sobretudo, tinham
incorporado a óptica como fenômeno eletromagnético. As tentativas de substituir
a teoria eletromagnética de Maxwell por outra compatível com a TG não resistiram
a verificações experimentais. Somos, então, induzidos a adotar o terceiro caminho,
entre os apontados acima.
40 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

Na verdade, o raciocínio apresentado no parágrafo anterior é uma argumentação


a posteriori. É muito difícil descobrir a gênese das teorias científicas. Basta que
o leitor consulte os periódicos científicos dos séculos XIX e XX para ver o número
imenso de conjeturas apresentadas que pareciam razoáveis, mas não sobreviveram
aos testes experimentais. Algumas foram aceitas, chegaram a ter êxito na explicação
de um domínio de observações, passando à categoria de teoria, para logo depois se
rem suplantadas por teorias melhores e caíram no esquecimento. No caso da teoria
da relatividade especial (TRE), é particularmente difícil seguir a evolução das ideias
de Einstein, porque ele próprio, em diferentes ocasiões, apresentou versões diferen
tes da história de suas ideias. Provavelmente a experiência de Michelson-Morley não
desempenhou papel algum. Ela não é citada no artigo de 1905 e ele, em conferências
e entrevistas, diz não se lembrar se a conhecia na época da formulação da teoria(1).
Certamente as assimetrias presentes na eletrodinâmica de Maxwell, citadas na intro
dução de seu artigo (Seção 2.1) e a experiência de Fizeau (Seção 1.7) constituíram
bases empíricas que pavimentaram seu caminho. Parece que Einstein foi guiado por
ideias muito gerais, ligadas a sua crença na unidade da física – para ele, não havia razão
para dar um status especial à mecânica e o PR devia ser aplicável a toda a física(2).
Uma vez estendido o PR ao eletromagnetismo, é necessário procurar uma nova
transformação, sob a qual as equações de Maxwell sejam invariantes, para substituir a
TG. Sob a nova transformação, as leis da mecânica clássica perderão sua invariância e
será, então, necessário inventar uma nova mecânica, invariante sob a nova transfor
mação, para que o PR seja também aplicável a ela. Como sabemos que a mecânica
clássica é aplicável aos fenômenos comuns do mundo, ela deverá ser uma aproximação
da nova mecânica para pequenas velocidades. Com isso, ficará preservada a compati
bilidade da mecânica de Newton com a TG e com o PR para velocidades ordinárias de
corpos macroscópicos. A mecânica clássica continuará a ser a ferramenta utilizável no
cálculo de órbitas de planetas ou de satélites artificiais; como veremos adiante, as velo
cidades envolvidas são ainda pequenas para exigir um tratamento relativístico.

3.1 A trAnsformAção de Lorentz


Nossa meta agora é achar a transformação que conserva invariantes as equações de
Maxwell ao passar de um referencial inercial a outro. Para isso, vamos analisar um
fenômeno eletromagnético simples em dois referenciais inerciais e procurar a trans
formação, de um para o outro, que mantenha o fenômeno invariante.
Consideremos dois referenciais R e R9, cujos eixos são paralelos e cujas origens
coincidem no instante inicial t = t9 = 0. O referencial R’ move-se com velocidade u
paralelamente ao eixo Ox. Uma fonte de luz, na origem do referencial R, emite um
pulso de luz no instante t = 0. Um observador em R vê uma onda esférica de raio ct
se propagar a partir de O. Já o observador em R’ vê uma onda esférica se propagar a
partir de O9 com raio ct9, porque a medida de seu tempo é t9 ? t. As equações dessas
frentes de onda nos dois referenciais são:
x2 + y2 + z2 = c2t, (3.1)
x92 + y92 + z92 = c2t92. (3.2)
3.1 — A transformação de Lorentz 4|

Se aplicarmos a TG (x' = aº — u t, y' = y, z" = 2, t" =


t) à equação da frente de Onda no referencial R", para
Obtê-la em R, teremos:
aº — 2 x u t + u'ºtº + yº+ 2" = cºtº,
que é formalmente diferente da Equação 3.1 da frente
de Onda nO referencial R.

Procuramos uma transformação que mantenha a


equação da frente de Onda invariante quando passa
mOS de um referencial inercial a OutrO e que se redu
Za à TG quando u/c = 0. COm essa última exigência,
estamos procurando fazer que a TG seja uma aproxi
mação da nova transformação a velocidades baixas em
comparação a C. A transformação procurada deve ser
tal que y e e não sofram modificações, porque o movi
mento é ao longo de aº e deve ser linear em aº e t, porque a frente de Onda esférica Se Figura 3.1
propaga com velocidade uniforme. Tentamos a transformação: Um pulso de luz
esférico é emitido

ac" = x — u t, y' = y, z" = 2, t" = t + k x, (3.3) da origem dos


referenciais inerciais
R e R' nO instante t =
Onde k é uma COnstante a ser determinada. Transformamos agora a frente de Onda t'= 0. R. Se desloca
do referencial R" (Equação 3.2) para o referencial R; com essa nova transformação, ao longo do eixo X
Obtemos: do referencial R Com
Velocidade relativa
aº — 2 acut + uºtº + yº + eº = cºtº +2 cºk ta; + cºk "a". u. O raio da onda
esférica observada
Os termos em at se cancelarão se fizermos k = — u/cº ou t = t — ux/cº e teremos em R é r = Cte, em
R", é r" = ct".
aº(1 — uº/cº ) + yº + 2° = cºtº (1 — uº/cº).
Para eliminar o fator (1 — uº/cº), substituímos a transformação dada pelas Equa
ções 3.3 pela transformação

l — — OC
/ 30 — lll / / / C
00 = 1 = /(a — ut), Q/ = /, 2 = 2, t" = T = y t—=x )

- - C
nº )2 nuº )2
1—=
C
—=
C

Onde:

1
%= 1. "

nuº )2
1—=
C

Obtemos então:

aº + yº + eº = cºtº,
que é formalmente idêntica à Equação 3.1, de onde partimos.
42 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

Portanto a transformação
′x = γ(x – ut) ′y = y, ′z = z, ′t = γ ⎛ t−cu ⎞
2x ⎟ , (3.4)
⎝⎜ ⎠

denominada transformação de Lorentz (TL), mantém invariante a equação da onda


eletromagnética esférica na passagem do referencial inercial R para o referencial
inercial R!. Esse resultado, demonstrado aqui para um caso particular, é válido para
todas as leis do eletromagnetismo – a TL conserva invariantes as leis do eletromag
netismo na passagem de um referencial inercial a outro. A transformação inversa, de
R! para R, é obtida facilmente, notando que R move-se com velocidade –u em relação
a R!. Trocamos então nas Equações 3.4x, y, z, e t por x!, y!, z! e t! e vice-versa, e
substituímos u por –u.
Essa transformação foi descoberta por Lorentz(3), antes da descoberta indepen
dente de Einstein e, por isso, recebeu seu nome. A TL foi destacada num quadro por
sua importância na TRE; ela será utilizada frequentemente e convém memorizá-la.
Temos agora a seguinte situação: as equações de Maxwell, a TL e o PR são con
sistentes, isto é, não apresentam contradições internas.
O que podemos dizer da mecânica clássica? Seria ela também invariante sob a
TL? Não; como mostraremos no próximo capítulo, a mecânica clássica, a TL e o
PR são inconsistentes.
Observe, porém, que a TL é idêntica à TG quando u/c  0; então a mecânica clás
sica é consistente com a teoria eletromagnética de Maxwell, a TL e o PR, desde que
as velocidades sejam pequenas em relação a c. Se quisermos tratar de velocidades
altas, a mecânica clássica terá de ser modificada para que suas leis sejam invariantes
sob a TL. Mais adiante faremos isso.
A Tabela 3.1 resume uma comparação entre a teoria clássica e a TRE.

tabela 3.1
física clássica tre

referencial absoluto O éter é um referencial absoluto. Não existe referencial absoluto.

Velocidade da luz A
no
movimento
velocidade
referencial
dada
do
fonte.
luz
éter
deve
e independe
ser medida
do A velocidade da luz é absoluta e
independe do movimento da fonte.

relação espaço-tempo Espaço e tempo são independentes e


absolutos. Espaço e tempo são interdependentes e
relativos e formam o espaço-tempo, que
é absoluto.

referenciais
transformaçãoinerciais
entre É feita pela TG. É feita pela TL.

Vamos agora estudar como a TL afeta as leis da física. Iniciaremos repetindo a


análise da variação do tempo e da distância em diferentes referenciais inerciais, mas
3.2 — Dilatação do tempo 43
utilizando agora a TL. Na discussão que segue, utilizaremos sempre a configuração
padrão: dois referenciais inerciais R e R9; R9 se move com velocidade constante u em
relação a R na direção Ox. Não precisaremos levar em conta as coordenadas y e z,
porque elas não se alteram no movimento relativo ao longo de Ox, como se pode ver
nas Equações 3.4.

3.2 diLAtAção do tempo


Dois eventos ocorrem no mesmo lugar (x0) do refe
rencial R nos instantes t1 e t2. Qual é o intervalo de y y9
tempo entre eles, quando vistos por um observador no R R9
referencial R9 (Figura 3.2)?
Precisamos determinar como os tempos t1 e t2 se u
modificam quando medidos por um relógio em R9. Pela
TL temos:

′t1 = γ⎛⎜⎝ t1 − c2
u ⎞⎟⎠ O x0 O9 xx9
x0 ,

′t2 = γ ⎛ t − u2x ⎞ figura 3.2


⎜⎝ 2 c 0 ⎟⎠ . Dois eventos ocorrem no ponto x0 do referencial R, nos
instantes t1 e t2, e são observados no referencial R9 nos
O intervalo de tempo entre os dois eventos no re- instantes t1´e t29.
ferencial R9 é
Dt9 = t29 – t91 = g (t2 – t1) = g Dt0, (3.5)
sendo Dt0 o intervalo de tempo medido no referencial R por um único relógio, situado
no local onde ocorrem os eventos – Dt0 é o chamado tempo próprio.
Entre um evento e outro, R9 se move e os eventos ocorrem em lugares diferentes
de R9; portanto, o intervalo de tempo Dt9 tem de ser medido em dois relógios. Como
g $ 1, Dt9 $ Dt0.
O intervalo de tempo próprio entre dois eventos é menor do que o intervalo de
tempo entre os mesmos eventos medido em qualquer outro referencial. Esse é o fe
nômeno de dilatação do tempo que já tínhamos obtido na Seção 2.4.

3.3 ContrAção do Comprimento


Uma régua em repouso no referencial inercial R (Figura 3.3) tem comprimento pró
prio L0 = x2 – x1. Um observador no referencial R9, que se desloca com velocidade
uniforme u em relação a R, mede o comprimento da régua e acha o valor L. Para
achar a relação entre L e L0, utilizamos a TL:
x1 = g (x91 + u t91),
x2 = g (x92 + u t92).
44 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

Então o comprimento da régua no referencial R é:


y y9
x2 – x1 = g (x92 – x91) + g u(t92 – t91). (3.6)
R R9
Mas, como o observador em R9 está em movimento,
u ao medir as coordenadas das extremidades da régua
x x91 e x92 em momentos diferentes, cometerá um erro
correspondente a seu deslocamento entre as medidas.
Deverá, então, fazer as medidas no mesmo instante,
O9 x9
ou seja, no instante t92 = t91. A Equação 3.6 nos dá, en
tão,

O x1 x2 L0 = g L9. (3.7)
Como g > 1, concluímos que o comprimento da ré
figura 3.3
Uma régua de gua, medido em qualquer referencial que não seja o de repouso dela, será menor do
comprimento que o comprimento próprio. Esse é o resultado já obtido na Seção 2.6 pelo uso direto
L0, em repouso dos postulados de Einstein.
no referencial
R, é medida no
referencial R9.
O observador
em R9 mede as
extremidades Exemplo 3.1
da régua
simultaneamente. Mostraremos aqui como o Exemplo 2.5 pode ser resolvido de maneira mais
simples, utilizando as equações da TL.

Solução
a) O comprimento próprio da nave é L0 = x9B – x9A. Seu comprimento medido
na plataforma, Dx = xB – xA, será menor devido à contração de Lorentz
(Equação 3.7).

=L
Δx 100 m = 80 m.
γ 0 = 1,25

b) Os clarões em A9 e B9 são simultâneos para o piloto, porque a velocidade


da luz não depende do movimento da nave: Dt9 = 0.

c) Obtém-se a separação entre os clarões em A9 e B9, medida no relógio do


observador, de maneira muito mais simples do que a da solução dada no
Exemplo 2.5, utilizando a equação do tempo da TL inversa:

tB = γ ⎛ ′tB+cu ′xB ⎞ , tA = γ ⎛ ′tA +cu ′xA⎞


⎜⎝ 2 ⎟⎠ ⎜⎝ 2 ⎟⎠ ;

Δt = tB – tA = γ ⎛⎜⎝Δ′t+cu2Δ′x⎞⎟⎠ =1,25⎛⎜⎝0+ 0,6c 100 m⎞⎟⎠ = 0,25 µs.


c2
3.4 — Diferença de sincronização de relógios 45
3.4 diferençA de sinCronizAção de
reLógios
Vimos na Seção 2.2 que é trivial sincronizar relógios
situados
estarão no mesmo
sincronizados
sincronizados
em umreferencial.
determinado
para um observador
Noreferencial
entanto,emrelógios
inercial
outro y y9
R R9

referencial inercial? Vamos mostrar que não e calcular u


avador do outro
diferença de sincronização
referencial. dos relógios para o obser-

Supomos que dois eventos ocorram nos pontos x1


t1 x2 do referencial inercial R nos instantes t1 e t2 (t2 >
e x9
O9 x1
), marcados por relógios situados naqueles pontos e x2
previamente
observador que sincronizados
se move com (Figura 3.4). Pela
velocidade TL, um
uniforme u O L0
x

em relação a R observará os eventos nos instantes


′t1 =γ ⎛ t1 −cu2 ⎞ figura 3.4
x1 ⎟ , Dois relógios
⎝⎜ ⎠ situados no
′t2 = γ ⎛ t2 −cu ⎞ referencial inercial
2 x2 ⎟ ,
⎜ R, separados
⎝ ⎠ pela distância L0,
sincronizados, não
marcados em seu relógio. Para ele, o intervalo de tempo entre os eventos será estão sincronizados
em outro referencial
Δ′t = ′t2 – ′t1= γ⎛⎝Δt−cuΔx⎞⎠
⎜2⎟ = γ⎛⎝Δt−cuL0⎞⎠,
⎜2⎟ inercial R9.

onde L0 é a distância própria entre os relógios. Vamos supor agora que os eventos
sejam simultâneos em R. Então, Dt = 0 e
u
Δ′t = −γ L0.
c2
Vemos que os eventos só seriam simultâneos para o observador em R9 se u/c  0,
isto é, para baixas velocidades do observador.
Para determinar a diferença de sincronia dos relógios situados em x1 e x2 para
o observador em R´, há um ponto delicado que precisamos analisar com cuidado.
Observe que Dt9, dado pela equação anterior, é o intervalo de tempo entre os dois
eventos medido no relógio de R9 – e isso não é o que procuramos. Do ponto de vista
do observador em R9, o intervalo de tempo medido por ele é dilatado por um fator g
em relação ao intervalo de tempo medido no referencial R, que se move em relação
a ele (Equação 3.5). Então, de acordo com esse observador
Dt9 = g Dt.
O intervalo de tempo entre os eventos medido nos relógios do referencial R é,
portanto,
Δ′t u
Δt = = − 2 L0. (3.8)
γ c
46 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

Como os eventos são simultâneos em R, o que Δt mede? Δt mede a diferença de


sincronização dos relógios em R para o observador de R!. Note que Δt = t2 – t1 < 0 ou
t2 < t1; então, para o observador em R!, o evento ocorre mais cedo no relógio situado
em x2, ou seja, o relógio em x2 está adiantado em relação ao relógio em x1.

Exemplo 3.2
Na Figura 3.5, um observador C no referencial R
R R! coloca relógios nos pontos A e B, distantes um do
outro 10 minutos-luz e uma lâmpada no ponto in
termediário de A e B, onde permanece. O obser
u vador C’ está no referencial R!, que se move com
velocidade u = 0,6 c relativa a R, paralelamente ao
eixo x. Quando C! passa por Cambos acionam seus
relógios e, nesse momento, C dispara um pulso de
C! luz para sincronizar os relógios A e B.
O!
a) Qual é a distância medida por C! entre os reló
O gios A e B?
A C B
b) Quais são as indicações do relógio de C! quando o
figura 3.5 pulso de luz chega a A e B?
O observador C é
equidistante dos c) Qual é o intervalo de tempo entre a recepção do pulso de luz em A e B, de
relógios A e B no acordo com C?
referencial R. O
observador C!, no d) Quanto tempo o relógio A está adiantado ou atrasado em relação ao relógio
referencial R!, que B, de acordo com C!?
tem velocidade u em
relação a R, passa
por C no momento
em que este dispara Solução
um pulso de luz
para sincronizar os a) A distância de 10 minutos-luz pode ser expressa por 10 c min (observe que
relógios A e B. essa grandeza tem a dimensão de comprimento). A e B estão em repouso
no referencial R, então o comprimento AB em R é um comprimento pró
prio. C! mede um comprimento menor
Lo
L= ;
γ
1 =0,81=1,25;
γ =
L = 1− u2
c2

10⋅c⋅min1,25=8⋅c min (8min-luz).

b) Queremos calcular o intervalo de tempo no referencial R! entre a partida


do sinal de C (C!) e sua chegada à lâmpada A. No referencial R, o inter
3.5 — Transformação das velocidades 47

Valo de tempo entre a saída do pulso de luz de C e Sua chegada em A é


At = 5 min. Podemos usar a TL para transformá-lo do referencial R para
O referencial R':

At" = (*-*) cº
= 1,25 { …-**): cº
10 min.

O leitor poderá calcular O intervalo de tempo no referencial R" entre a saí


da do pulso de luz de C e Sua chegada a B e achará 2,5 min. Observe que
C" se afasta de A e se aproxima de B depois que o pulso de luz é emitido,
por isso At%A > At > At%B.
Para C, o intervalo de tempo entre a recepção dos dois clarões é At = 0,
porque são simultâneos para ele. De acordo com C", o intervalo de tempo
é, no entanto,

*)->{º- 1
0,6 C. 10 cmin

}
|
At' = y At — —
cº cº
= —7,5 min.

O sinal negativo indica a Ordem em que C" percebe Os clarões. Assim,


At" = tº — t% = — 7,5 min < 0,
então t% > t% (para C", o clarão de B precede o de A).
d) Os relógios A e B estão sincronizados em R, mas não em R". A diferença de
sincronização é dada no relógio C" por

At" — "Lo_06c. 100 min_ 6 min


cº cº

De acordo com C", o relógio B está adiantado 6 min em relação ao relógio A.

3.5 TRANSFORMAÇÃO DAS +R + R'

VELOCIDADES
Conhecemos a Velocidade V de uma partícula P nO re
ferencial inercial R e queremos achar sua velocidade
no referencial R", que se desloca com velocidade uni
forme u em relação a R. Como já vimos, é sempre pos- U1 }

Sível girar Os referenciais de modo que u fique paralela


aO eixo Ox. Sem perder a generalidade.
A partícula tem um deslocamento (Ax, Ay, A2) no O

tempo At. Utilizamos a TL para transformar os des


Figura 3.6
locamentos e o intervalo de tempo de um referencial os referenciais inerciais R e R têm velocidade relativa
para O Outro. As componentes da velocidade no refe- u. A velocidade da partícula P no referencial R é v(w, v)
rencial R" são: e no referencial R é v(v., v%).
48 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

Aº_
, — Arº_ Y(Ar-uA) — A " ", -u
30 At / "(…) 1_ " Aº
Ax 1-", o ?

C cº. At c2 *
/ AU
v=*= AU = At = 0, (3.9)
º At" ?/ (u Aa: ?/ ? •

A At — — Aa:
cº } A 1— ——
cº } A 1—=U
cº }
U"2 = -
Os •

7/,

"(…)
A transformação da componente ve pode ser deduzida pelo leitor facilmente.
Se conhecermos a velocidade da partícula no referencial R" e quisermos determi
ná-la no referencial R, isto é, obter a transformação inversa, bastará trocar u por —u
nas Equações 3.8:

_ v% + u v% v.
U, = 11 " … U, =
-

TV U =
-

Y-7_Y (3.10)
gº. } 1…" y 1…"
_

Exemplo 3.3
A luz tem VeloCidade C nO referencial R. Qual é Sua VeloCidade no referencial
R", que se desloca com velocidade u em relação a R, na mesma direção e sen
tido da luz?

Solução
Utilizamos a TL para calcular a velocidade da luz no referencial R':
- / C — ?/,
U. = C, então U" = = C

1– "

COmO deveríamos esperar.

Exemplo 3.4
Um problema interessante é a determinação da velocidade da luz em um líqui
do que flui (Veja a experiência de Fresnel-Fizeau na Seção 1.6). A luz se des
loca com velocidade C/m num meio de índice de refração n que, por sua vez, se
desloca com velocidade u em relação ao observador. Fresnel deduziu, utilizan
do argumentos clássicos, a seguinte fórmula (Equação 1.8) para a velocidade
3.6 — Efeito Doppler 49

v da luz em relação ao observador:


c ±⎛ 1 ⎞
v= ⎜ 1− ⎟ u.
n ⎝ n2 ⎠
Uma dedução muito mais simples pode ser obtida utilizando a TRE.

Solução
Podemos usar a fórmula relativística de adição de velocidades (tomamos as ve
locidades da luz e do meio em sentidos opostos e chamamos de v! a velocidade
da luz em relação ao meio):

v= 1+ c
n +uu
′v+′vuu= 1+ ≅⎛⎜⎝nc+u⎞⎟⎠⎛⎜⎝1−cnu⎞⎟⎠≅nc+⎛⎜⎝1−n1⎞⎟⎠u,
2

c2 cn

onde foram desprezados termos em u2/c2. A equação obtida é idêntica à fór


mula de Fresnel.

É interessante observar que Einstein considerava a verificação experimental da


Equação 1.8 por Fizeau uma das importantes bases experimentais da TRE e não
pensou nessa elegante aplicação da composição de velocidades. Essa demonstração
foi feita por Laue(4) só dois anos depois da publicação do artigo de Einstein de 1905.
Ao publicar, em 1917, o livro de popularização da teoria da relatividade já citado(5),
Einstein tratou a experiência de Fizeau como experiência crucial da TRE porque,
para obter o resultado dessa experiência, devemos fazer as velocidades se comporem
de acordo com a TL e não de acordo com a TG.

3.6 efeito doppLer R R!


O efeito Doppler é a variação na frequência de um si- Meio

nal percebida por um observador quando a fonte está


u
em movimento em relação a ele. Antes de atacar o fe
nômeno pela teoria da relatividade, analisaremos, por
métodos da física clássica, o caso do som emitido por
uma fonte em movimento em relação ao observador. Emissor
queOseemissor
tório) com
afasta
velocidade
do
dareceptor
onda u,
sonora estáaono
paralela
(no referencial
eixo
referencial
ROx
do(Figura
labora-
R! Receptor
O x

3.7).
atmosfera
Observe
– está
queem
o meio
repouso
em que
emse
R.propaga
O emissor
o som
emite,
–a figura 3.7
O receptor está em repouso no meio, e o emissor
no intervalo de tempo Δt, uma onda com N cristas, move-se com velocidade u relativa ao meio, afastando
cuja frequência é ν! = N/Δt. Repare que não há nada a se do receptor.
50 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

questionar aqui: N é um número e o tempo é absoluto, portanto, independentes do


movimento da fonte.
A velocidade do som vs em relação ao meio é independente da velocidade do
emissor e depende apenas das propriedades mecânicas (densidade e propriedades
elásticas) do meio. A frente da onda percorre uma distância vs Dt no meio, no inter
valo de tempo Dt. Quando a última crista deixar o emissor, ele terá avançado uDt. A
distância entre a frente e o fim do trem de ondas é (vs + u) Dt. Nesse espaço, existem
N cristas, portanto, o comprimento de onda será

(vs +Nu)Δt
λ= .

Mas a frequência no referencial do emissor é n9 = N/Dt; então


ν=
′ν
1+ , (3.11)
vu
s

sendo n a frequência medida pelo observador no referencial do laboratório e n9 a fre


quência medida no referencial da fonte. Nesse caso, o emissor se afasta do receptor,
u > 0 e n < n9; se o emissor se aproxima do receptor, u < 0 e n > n9.
Se, u > vs (por exemplo, se a fonte é um avião a jato), o efeito é muito grande e
se u/vs << 1,

ν ≅ ′ν⎛ u⎞
⎜ 1− v ⎟ .
⎝ s⎠

Problema 1 Mostre que, no caso em que a fonte está em repouso e o receptor se


afasta, a relação entre as frequências é

ν=′ν⎛⎝ u⎞
⎜ 1− v ⎟ . (3.12)
s⎠

Observe, no entanto, que, quando a velocidade é pequena em relação à velocidade


do som, os resultados são idênticos para emissor ou receptor em repouso.

Passemos agora ao estudo do efeito Doppler para a luz . No caso discutido an


tes, há um meio (o ar) e podemos distinguir o que se move ou está em repouso em
relação a ele, ao passo que para uma onda eletromagnética não há um meio mate
rial, uma vez que o éter é desnecessário e só tem significado o movimento relativo
de emissor e receptor. Vamos analisar uma situação semelhante à anterior: o emis
sor situado no referencial R9 se desloca com velocidade u, em relação ao receptor,
situado no referencial R.
3.6 — Efeito Doppler 51
Os relógios dos referenciais são sincronizados para
marcar t = t! = 0 no momento em que suas origens R R!
coincidem. O emissor é disparado nesse momento e
emite um trem de ondas durante o tempo t!. No refe
u
rencial R!, a frente da onda é emitida na posição x! =
0, no instante t! = 0; no referencial R, ela é emitida na
posição x = 0 no instante t = 0. A traseira da onda é
emitida no referencial R! na posição x! = 0, no instante Emissor
t! e, no referencial R, na posição x no instante t. Pode (0,t!)
mos relacionar a posição e o tempo nos dois referen Receptor (x, t)
ciais pela TL:
= ′x + u′t figura 3.8
x = γ u ′t, No caso da luz,
1− β2 não há meio (não
há éter) de modo
u que só interessa a
′t + ′x velocidade relativa;
t= c2 = γ ′t. o emissor se afasta
1− β2 do receptor com
velocidade u. A
figura representa
No referencial R, o tempo gasto para que a luz percorra a distância que vai da tra o instante de
emissão da traseira
seira da onda em x = g u t! até o receptor, na origem, é
da onda nos dois
referenciais.
c = ut
= Δx c = γu′t
Δt .
c

O relógio de R marcará, na recepção da traseira da onda, um tempo que é a soma


do tempo em que foi emitida a onda e o tempo gasto no percurso entre o ponto de
emissão e o receptor:

t+ Δt = γ′t+γuc′t=γ′t⎛⎝1+uc⎞⎠=′t1+1−ββ
⎜⎟ .

Se interpretarmos a frente e a traseira da onda como dois nós sucessivos da onda,


t + Δt será o período da onda no laboratório e a frequência será dada por:

1 1−1=′ν1+ββ
ν = t+ . (3.13)
Δt = ′t 1−β
1+ β

A frequência medida pelo observador no laboratório é ν e a frequência no referen


cial do emissor é ν!. No caso tratado, a fonte se afasta do receptor; então, u > 0, ß >
0 e ν < ν!. Se a fonte se aproximasse do detetor, teríamos u < 0, ß < 0 e ν > ν!.

O resultado obtido mostra que o fator que corrige a frequência no efeito Doppler
relativístico só depende de ß, ou seja, de u, que é a velocidade relativa de emissor e
detetor, como seria esperado na TRE.
52 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

Problema 2 Faça o cálculo do efeito Doppler para o caso em que a fonte de luz
está em repouso e o receptor se aproxima dela com velocidade u. Mostre que o
resultado é igual ao obtido na Equação 3.13. Só poderia ser assim, porque na teo
ria da relatividade importa apenas a velocidade relativa (não há referencial abso
luto).

É interessante comparar o resultado clássico com o relativístico quando a veloci


dade da fonte é muito menor do que a velocidade do som e da luz respectivamente.
No caso do som, a Equação 3.11 nos dá:
ν = 1+′ν ≅′ν⎛⎝1−vus⎞⎠
⎜⎟ para u << vs.
vu

E no relativístico (Equação 3.13),


1−β
ν = ′ν 1+ β ≅ ′ν⎛ 1−u
c⎞
⎜⎝ ⎟⎠ para u << c. (3.14)

O desvio relativístico da frequência é igual, portanto, ao desvio clássico, em pri


meira ordem (desprezando termos em b2).
O efeito Doppler relativístico até segunda ordem (b2) foi comprovado por H. E.
Ives e G. R. Stilwell (1938, 1941)(6) em experiências com feixes atômicos de hidro
gênio. Nessas experiências, íons moleculares de hidrogênio eram acelerados em po
tenciais elétricos fortes e, no processo de desintegração dos íons, formavam-se áto
mos de hidrogênio excitados. As velocidades dos átomos do feixe estudado eram da
ordem de 0,005 c. A luz emitida pelos átomos do feixe, no processo de desexcitação,
observada por espectroscopia, deve sofrer um desvio Doppler, por causa do movi
mento deles em relação ao observador no laboratório. O comprimento de onda l0, da
luz emitida pelos átomos de hidrogênio, numa ampola fechada, pode ser considerado
como se fosse de átomos em repouso, porque as velocidades são baixas e dirigidas
aleatoriamente em todas direções.
Os experimentadores tomaram como comprimento de onda da luz desviada pelo
efeito Doppler a média dos comprimentos de onda da luz emitida pelos átomos do
feixe no sentido de seu movimento e no sentido contrário (Equação 3.12):

λmédio=12(λfrente+λatrás)=12λ0 ⎛⎝1+1−ββ+1−1+ββ⎞⎟⎠= 1−
λ0β2
⎜ .

A dependência em b2 mostra que o efeito observado é de segunda ordem. Os ex


perimentadores acharam Dl = lmédio –l0 > 0,0074 nm, enquanto o valor previsto pela
TRE era > 0,0072 nm. A concordância é, portanto, excepcionalmente boa.
As experiências de Ives e Stilwell são importantes para a teoria da relatividade,
porque constituem a primeira verificação experimental direta, até segunda ordem
em b, da dilatação do tempo entre referenciais inerciais e têm assim um papel aná
3.7 — O modelo do Big Bang 53
logo ao das experiências de Michelson-Morley em relação ao comprimento. Em con
junto, as duas experiências poderiam constituir a base empírica sobre a qual a TRE
poderia ter sido edificada.
Uma verificação excepcionalmente precisa do efeito Doppler de segunda ordem
foi obtida, com a descoberta do efeito Mössbauer (1958), que é tratada na Seção 7.4.
A teoria da relatividade prevê também um efeito Doppler transversal, isto é, uma
variação da frequência quando a luz é observada em direção perpendicular à direção
do movimento da fonte. Esse efeito não é previsto pela física clássica. O fenômeno se
deve ao fato de que o tempo flui de maneira diferente nos referenciais do emissor e
do detetor e, portanto, não pode existir no caso clássico, em que o tempo é absoluto.
As frequências são inversamente proporcionais aos inversos dos tempos nos referen
ciais respectivos; então:

′ν= 1′t=γ1t=(1−β2)12ν.
(3.15)
Vemos que o efeito transversal é de segunda ordem em u/c.

3.7 o modeLo do big bAng


Em 1917, ano seguinte ao da publicação da teoria da relatividade geral (TRG), Eins
tein publicou um trabalho que inaugurava o casamento da TRG com a cosmologia,
criando um novo e ativo campo da física. Nesse trabalho, para obter um universo iso
trópico, homogêneo, ilimitado, mas espacialmente finito e estacionário – modelo de
acordo com as observações astronômicas da época –, ele introduziu, nas equações de
campo da TRG, uma constante Λ (constante cosmológica). Anos depois, comenta
ria que aquela tinha sido a maior tolice de sua vida.
Justamente naquele ano, Vesto Slipher publicou os resultados de suas observa
ções, mostrando que a luz proveniente de 21 entre 25 nebulosas espirais estudadas
sofria um desvio Doppler para o vermelho, o que indicava um afastamento delas em
relação ao observador (posteriormente, foi possível mostrar que as quatro que não
obedeciam à regra geral pertenciam ao Grupo Local, galáxias ligadas à Via-Láctea
pela gravitação). Era o passo inicial que conduziria a astrofísica a um notável de
senvolvimento e tornaria a TRG uma ferramenta indispensável à formulação de seus
modelos.
Edwin P. Hubble, continuando as observações de Slipher descobriu que as nebu
losas eram de fato galáxias e que a presença nelas de estrelas variáveis Cefeidas per
mitia estimar suas distâncias até nossa galáxia. Um gráfico da velocidade de recessão
das galáxias, calculada pelo efeito Doppler, em função da distância, calculada pelo
brilho das Cefeidas(7), mostra que a velocidade de recessão é proporcional à distân
cia da galáxia ao observador: v = H r, sendo H a chamada constante de Hubble, de
terminada empiricamente nesse gráfico (Figura 3.9).
Essa série de observações permitiu concluir que as galáxias estão se afastando
umas das outras – pois não havia sentido em imaginar a Terra como centro do uni
54 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

verso – e, em consequência, fazer a conjetura de que


1) o universo está em expansão. Podemos compreender
s–
m50 isso facilmente: imagine um balão de borracha sendo
k
3
0 enchido e dois pontos em sua superfície, à distância
1
de 1 cm, que se afastem com velocidade v; quando
m
e 40
( estiverem à distância n cm, se afastarão à velocida
o
ã
ss de nv. O valor atualmente aceito para a constante de
e 30
ce Hubble, H > 15 km s–1/106 anos–luz, é bem inferior
r
e Coroa Boreal ao valor por ele calculado, com base nas observações
d 20
e disponíveis em sua época. Com esse novo valor de H,
d
a Ursa Maior
d
ic
pode-se calcular que as distâncias entre as galáxias
o
le 10 Virgem
Perseu aumentam aproximadamente 1% em 200 milhões de
V anos.
1 2 3 As observações de Slipher e Hubble estavam de
Distância (em 109 anos-luz) acordo com os resultados de Aleksandr Friedmann,
que havia demonstrado, em 1922, que uma das solu
figura 3.9 ções possíveis das equações da TRG era um universo em expansão. Foi Georges Le
A constante de
maître quem fez em 1927 a conjetura de que o universo estava em expansão, tendo
Hubble pode ser
calculada neste sua origem num átomo primordial, que teria explodido no início da história cósmi
gráfico linear, ca. O apelido “big bang” para essa conjetura foi dado derrisoriamente pelo astrofísico
que representa Fred Hoyle (que acreditava num universo estacionário), mas foi afinal o que ficou
as velocidades
de recessão das como nome. O modelo foi recebendo aperfeiçoamentos até os dias de hoje, quando
galáxias em função Stephen Hawking e Roger Penrose demonstraram matematicamente que a TRG de
de suas distâncias Einstein implica o início do universo e do tempo numa singularidade.
à Via Láctea. Os
aglomerados Em 1948, George Gamow conjeturou, baseado no modelo do big bang, que o es
de galáxias são
identificados
tado do universo nos estágios iniciais de sua evolução seria caracterizado por densi
pelos nomes das dade de radiação e temperatura extraordinariamente elevadas. Previu que seria pos
constelações onde sível observar os resquícios dessa radiação como uma radiação de fundo isotrópica,
são observados no
com o espectro de corpo negro, tendo seu máximo desviado pelo efeito Doppler para
céu (Adaptada de
Ferris, Timothy, a região de microondas, devido à imensa velocidade de expansão do universo.
Coming of age in
the milky way, Nova A primeira estimativa de Gamow para a temperatura dessa radiação de fundo, de
York: Doubleday, cerca de 50 K, foi logo corrigida, numa teoria de Ralph Alpher e Robert Herman, para
1998). cerca de 5 K. Em 1965, Arno Penzias e Robert Wilson trabalhavam com uma antena
de comunicações para satélites quando observaram um ruído de fundo, isotrópico,
de energia correspondente à temperatura de 2,7 K, cuja origem não conseguiam ex
plicar. Era exatamente a radiação prevista por Gamow e a descoberta levou à premia
ção de Penzias e Wilson com o Nobel de física. Corrigindo-se o valor de 5 K calculado
alguns anos antes, com o valor da constante cosmológica de Hubble conhecida em
1965, obtém-se a temperatura de 2,7 K, em extraordinário acordo com o valor obser
vado. A radiação de fundo de microondas constitui uma das mais fortes evidências
em favor do modelo do big bang.
O modelo do big bang e a lei de Hubble permitem obter qualitativamente a idade
e a dimensão do universo. Vemos que H tem a dimensão (tempo)–1; seu inverso terá
a dimensão de tempo e pode ser associada imprecisamente à idade do universo:
Notas 55

≈ 3⋅1017 s ≈1010 anos.


H
1
Multiplicando esse valor pela velocidade da luz, obteremos a dimensão máxima
que o universo poderia ter alcançado a partir da explosão inicial:

cH
1 ≈1026 m,

que denominamos, também sem maior rigor, raio do universo.

Exemplo 3.5
Um par de linhas característico do espectro de potássio é observado no labora
tório em 395 nm. Quando o espectro da luz proveniente de uma certa galáxia
é observado, o mesmo par é identificado em 447 nm. Qual é a velocidade de
recessão da galáxia?

Solução
Observamos um desvio do espectro da galáxia para comprimentos de onda
maiores, ou seja, um desvio para o vermelho, que indica afastamento da galá
xia. O desvio percentual é:
Δλ 52
=13%.
λ = 395
Vamos supor que a velocidade de afastamento da galáxia seja pequeno em re- * Discussões detalha
lação à velocidade da luz, ß << 1. Podemos usar então a aproximação para o das e bem documen
efeito Doppler (Equação 3.13) tadas do papel da
experiência de MM
ν ≅ ′ν(1− β), na gênese da TRE
λ =νc ′ν(1− c β) ≅ ′λ(1+ β), podem ser encon
Δλ
λ =≅ tradas no excelente
ensaio “Einstein,
′λλ− λ ≅ β. Michelson, and the
‘crucial’ experiment”,
capítulo 8, do livro
de Holton, Gerald,
Portanto, ß > 0,13. A galáxia observada se afasta com velocidade u > 0,13 c. Thematic origins of
scientific thought,
Harvard University
Press, Cambridge,
Notas Mass: EUA ,1988 e
nos capítulos 6, 7 e
(1) O papel desempenhado pela experiência de Michelson-Morley (MM) na gênese da TRE
8 de Pais, Abraham,
é difícil de deslindar*. Nas palavras do próprio Einstein, “Não há, de fato, um caminho Sutil é o Senhor,
lógico que leva ao estabelecimento de uma teoria científica mas apenas tentativas cons a ciência e a vida
trutivas controladas pela cuidadosa consideração de conhecimento factual”. A expe de Albert Einstein,
riência de MM não é citada no artigo fundamental de 1905, a não ser de passagem e indi Nova Fronteira: Rio
retamente, quando se faz referência ao “insucesso das experiências feitas para detectar de Janeiro, 1997.
56 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

qualquer movimento da Terra em relação ao éter”. Em um livro de divulgação publicado


em 1917**, Einstein toma a experiência de Fizeau como experimentum crucis da TRE,
por estarem seus resultados de acordo com a TL e não com a TG; a experiência de MM é
mencionada num contexto de comprovação experimental e não de fundamentação. Per
guntado quando teria ouvido pela primeira vez a respeito da experiência de MM, respon
deu: “Não é fácil, não estou seguro quando ouvi pela primeira vez sobre a experiência.
Não estou consciente que ela tenha me influenciado diretamente durante os sete anos
em que a relatividade foi minha vida. Penso que supunha que o resultado deveria ser
verdadeiro”***. Em diferentes ocasiões – entrevistas, conferências e cartas –, muitos
anos depois da publicação da teoria, Einstein deu respostas ambíguas e, às vezes, con
traditórias sobre quando teria tomado conhecimento da experiência de MM, mas sempre
reafirmando que a influência dela na formulação da TRE havia sido indireta, porque para
ele bastavam: a) o fenômeno da aberração da luz das estrelas; b) a experiência de Fizeau
sobre o arrastamento de éter; c) e, principalmente, a convicção de que a fem induzida
numa espira em movimento num campo magnético nada mais era do que a manifestação
de um campo elétrico.
Há uma descrença bastante generalizada no meio científico a respeito do papel secun
dário que Einstein deu à experiência de MM na gênese da TRE. No entanto, o ponto de
vista dele está exposto com clareza numa carta, escrita um ano antes de seu falecimento,
ao historiador F. G. Davenport, e pode ser compreendido e aceito:
“Antes do trabalho de Michelson, já era sabido que, dentro dos limites de precisão das
experiências, não havia influência do estado de movimento do sistema de coordenadas
(referencial) nas leis dos fenômenos. H. A Lorentz tinha mostrado que isso pode ser
compreendido com base em sua formulação da teoria de Maxwell para todos os casos
em que a segunda potência da velocidade do sistema pudesse ser desprezada (efeitos de
primeira ordem)... Em meu desenvolvimento próprio, o resultado de Michelson não teve
influência considerável. Não me recordo mesmo se já o conhecia quando escrevi meu pri
meiro artigo sobre o assunto (1905). A explicação é que eu estava firmemente convicto
** Einstein A., de que não existia movimento absoluto e meu problema era apenas como isso poderia
A teoria da ser conciliado com nosso conhecimento da eletrodinâmica. Pode-se, portanto, entender
relatividade especial por que a experiência de Michelson não desempenhou nenhum papel em minha luta pes
e geral, Contraponto soal, ou, pelo menos, nenhum papel decisivo****”.
Editora Ltda., Rio
de Janeiro, 2000 Por que, então, a maioria das exposições didáticas da TRE, incluindo este texto, toma a
(tradução brasileira experiência de MM como experiência crucial? Simplesmente por razões pedagógicas. O
de Über die Spezielle caroço da TRE é o princípio da invariância das leis da física à transformação entre refe
und die Allgemeine renciais inerciais e a teoria poderia perfeitamente ser construída sem a experiência de
Relativitätstheorie, MM, como é provável que Einstein o tenha feito. A vantagem dessa experiência, porém,
Gemeinverständlich.
é que ela, ao dar um resultado nulo para a velocidade da Terra em relação ao éter, deixa
de 1916).
clara para o estudante, de forma bastante concreta, a impossibilidade de escolher um
*** Shankland, R.S., referencial como absoluto para as leis do eletromagnetismo e leva diretamente à genera
American Journal of lização do PR ao eletromagnetismo.
Physics, 31 (1962)
47-57.
(2) A pesquisa científica tem mostrado de maneira cada vez mais clara que a física não pode
**** Carta a F. C.
ser separada em ramos estritamente independentes. Considere, por exemplo, um fenô
Davenport
(02/02/1954). Cópia
meno como o atrito, tratado usualmente na mecânica; sua compreensão só é possível
existente nos arquivos quando se faz uso de conceitos da física atômica e do eletromagnetismo. A física é essen
Einstein, citada nos cialmente indivisível, como a natureza, e só é separada em seções (mecânica, termodinâ
livros referidos em *, mica, eletromagnetismo etc.) por razões metodológicas, pedagógicas ou históricas. Note
nas páginas 343 e 172, como os físicos procuram formular teorias cada vez mais abrangentes: a eletricidade, o
respectivamente. magnetismo e a óptica são unificadas pela teoria de Maxwell, por exemplo.
Notas 57
Para Einstein não havia razão para que o princípio da relatividade ficasse restrito à me
cânica e essa ideia levou-o a estendê-lo a toda a física. A procura da unidade foi um
guia-mestre em seu trabalho científico e permeia toda sua obra. Em suas próprias pala
vras: “A verdadeira meta de minha pesquisa sempre foi a simplificação e a unificação do
sistema da física teórica”*. Depois do grande êxito das teorias da relatividade restrita e
geral, Einstein dedicou a maior parte de seus esforços, desde 1918 até o fim de sua vida,
à procura, sem êxito, de uma teoria que uniria a teoria eletromagnética com a teoria da
gravitação numa única teoria de campo unificado.

(3) Woldemar Voigt (1850-1919) foi quem primeiro publicou, em 1887, a descoberta, exceto
por um fator de escala, do sistema de equações que seria depois denominado transfor
mação de Lorentz por Poincaré. Em 1900, Joseph Larmor (1857-1942) descobriu inde
pendentemente a transformação exata (Equações 3.4) e, além disso, demonstrou que a
contração de FitzGerald-Lorentz era uma consequência dela. Em 1899, Lorentz desco
briu independentemente a transformação exceto por um fator de escala e, em 1904, na
forma exata.
A TL, descoberta pelos antecessores de Einstein, era uma ferramenta matemática útil
para certos objetivos, porém, sua interpretação não era óbvia para o físico do século XIX
– por exemplo, como interpretar os tempos t e t´? Lorentz propôs chamar o tempo t tem
po geral e o tempo t´ tempo local, mas é claro que, para ele, o tempo verdadeiro era t,
o tempo do referencial do éter. Não foi, portanto, capaz de dar a interpretação correta
aos tempos t e t´ como tempos verdadeiros em referenciais inerciais diferentes e dessa
forma abolir o tempo absoluto.
Poincaré, deu um passo adiante e tratou t! como um conceito físico. Para ele, se dois
observadores em movimento relativo sincronizam seus relógios por meio de sinais lu
minosos, ambos marcam tempos locais – nenhum deles marca o tempo verdadeiro.
Como requerido pelo princípio da relatividade, argumentava ele, o observador não
sabe se está em repouso ou em movimento absoluto. Vemos quão próximo Poincaré es
tava da teoria da relatividade: ele usava o princípio da relatividade, criticava a intuição
de simultaneidade, negava o tempo absoluto e previa que uma nova mecânica deveria
ser construída. No entanto, sua crítica ao conceito de simultaneidade se referia a locais
diferentes de um mesmo referencial e não a diferentes referenciais em movimento rela
tivo e sempre acreditou que era necessário tomar como hipótese adicional para construir
a nova mecânica a contração de FitzGerald-Lorentz. Nunca chegou, de fato, a criar uma
teoria completa e coerente, mas, sim, o programa para uma possível teoria.
A descoberta da TL por Einstein foi feita a partir dos postulados de sua teoria e, por
tanto, independente das anteriores. Em seu trabalho no escritório de patentes de Berna
tinha pouco acesso à literatura científica; mesmo de Lorentz, a quem admirava imensa
mente, só conhecia em 1905 os trabalhos publicados até 1895, como afirmou repetidas
vezes. Na verdade, seus notáveis artigos de 1905 foram feitos em completo isolamento
da comunidade científica. Era próprio de sua natureza a reflexão independente; desde os
tempos de estudante mostrara gosto pela solidão.
*Dukas, Helen e
Hendrik A. Lorentz (1853-1928) merece um comentário à parte pelo papel que desem
Hoffmann, B. (org.)
penhou nas transformações por que passou a física no final do século XIX e por sua Albert Einstein
influência na criação da teoria da relatividade. A grande importância do trabalho de Lo o lado humano.
rentz está na ligação dos novos conceitos da física atômica (átomos, elétrons e radiação) Brasília, Editora
com as teorias de Fresnel e Maxwell de maneira coerente. Já em 1895, ele interpretava Universidade de
as equações de Maxwell em termos de cargas e correntes de partículas fundamentais – Brasília, 1985, p.15.
58 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

que chamava íons – e introduzia a força que atua sobre um “íon” de carga e que se move
num campo eletromagnético (E, B): a força que hoje chamamos força de Lorentz (em
1899, ele denominava íons os portadores de carga elétrica). Lorentz era admiravelmen
te criativo e explorava todos os caminhos que a física clássica oferecia para atingir seus
propósitos. Poincaré, que era seu amigo e admirador, criticou-o sutilmente pelo excesso
de hipóteses que formulava, mudando-as constantemente, quando percebia caminhos
melhores.
Seu conhecimento amplo, profundo e coerente, associado a um caráter modesto, pacien
te e justo (veja seu relacionamento com FitzGerald na nota 6 do Capítulo 1) faziam de
Lorentz uma pessoa muito admirada e estimada no meio científico (Einstein tinha par
ticular estima e respeito por ele). Em 1902, junto com P. Zeeman, ele foi agraciado com
o Prêmio Nobel, por seus trabalhos em espectroscopia, que se tornariam fundamentais
para o desenvolvimento da velha e da nova física quântica. Lorentz passou toda sua vida
na Holanda, tendo saído de seu país pela primeira vez aos 45 anos para participar num
congresso científico do outro lado da fronteira. Quando faleceu, tinha se transformado
em pessoa admirada e respeitada por seus concidadãos; durante a cerimônia de seu
enterro, os sistemas de correios e telefones da Holanda suspenderam suas atividades
durante três minutos, em sinal desse respeito e admiração.

(4) Max von Laue (1879-1960) foi um dos primeiros físicos a aceitar a TRE. Tomou conheci
mento dela por meio de Planck, de quem era assistente, e marcou uma visita a Einstein
em Berna para discutir alguns aspectos da teoria. Relata que ficou muito impressionado
ao encontrar um jovem físico, de sua idade, como autor da teoria. Em 1907, von Laue
publicou a nota sobre o tratamento relativístico da experiência de Fizeau (veja o Exem
plo 3.3) e foi autor da primeira monografia sobre a teoria. Foi agraciado com o prêmio
Nobel em 1914, alguns anos antes de Einstein, pela descoberta da difração de raios X em
cristais.

(5) Referência ** da nota 1.

(6) Ives H. E., Stilwell G. R., J. Opt. Soc. Am. 28, 215 (1938); 31, 349 (1941).

(7) As estrelas variáveis Cefeidas são astros gigantes, que têm três ou mais vezes a massa do
Sol. Elas pulsam, variando em brilho ao mesmo tempo que variam em tamanho. A pulsa
ção da estrela está ligada ao ciclo de processos termonucleares envolvendo núcleos de
hidrogênio e hélio. O período é diretamente relacionado ao brilho intrínseco da estrela,
isto é, em termos astronômicos, a sua grandeza absoluta. Conhecida a grandeza de uma
Cefeida e sabendo que o brilho cai com o quadrado da distância, o astrônomo pode cal
cular sua distância.

Problemas
Resolva os problemas 2.4, 2.5 e 2.6 do Capítulo 2 utilizando a TL.
3.1 Dois homens, situados nas extremidades A e B de uma nave espacial, cujo com
primento próprio é 60 m, atiram um contra o outro. Ela tem velocidade c/5 em
relação a uma plataforma espacial. Uma testemunha na nave diz que eles atira
ram simultaneamente. O que diz uma testemunha situada na plataforma, quan
Problemas 59
to à ordem dos tiros e ao intervalo entre eles (refira-se ao homem da frente e ao
da traseira da nave em sua resposta)?
Resposta: O da frente atirou 40,8 ns antes.
3.2 Um observador numa plataforma espacial, cujo comprimento próprio é 100 m,
mede a velocidade de uma nave que passa por ele e acha 0,5 c. Por meio de
um arranjo experimental que permite medir as posições das extremidades da
nave simultaneamente, determina 60 m de comprimento dela. a) Qual é o com
primento da nave em repouso? b) Qual é o comprimento da plataforma para o
piloto da nave? c) Qual é o intervalo de tempo no relógio da nave entre as duas
medidas realizadas pelo observador da estação? d) Para o observador na pla
taforma, quanto tempo leva a nave a passar por ele? e) Para o piloto, quanto
tempo leva a plataforma a passar por ele?
Respostas: b) D = 86,6 m; c) Δt = 0,115 μs; e) Δt = 0,46 μs.
3.3 Uma nave espacial se move com velocidade 0,9 c em relação a uma plataforma
cujo comprimento próprio é 100 m. O controlador da plataforma, situado no
meio dela, aciona simultaneamente (em seu relógio) sinalizadores luminosos
existentes nas extremidades da plataforma. Ache a separação espacial e tem
poral dos clarões dos sinalizadores no referencial da nave.
Resposta: Δt = 0,687 μs (indique a ordem temporal dos clarões vistos na
nave).
3.4 Um observador vê duas partículas se moverem em sentidos opostos, ambas
com velocidade 0,99 c em relação a ele. Qual é a velocidade de uma partícula
em relação à outra? Comente esse resultado.
3.5 Uma partícula que se move com velocidade c/2 no referencial R do laboratório
emite um fóton na direção e sentido de sua trajetória. a) Calcule a velocidade
do fóton, em módulo e direção, no referencial R! da partícula. b) Repita o cálcu
lo para o caso em que o fóton é emitido numa direção perpendicular à trajetória
da partícula.
Resposta: b) v = c, θ = 60o.

3.6 Demonstre que na transformação do referencial R para o referencial R!, na


configuração usual dos referenciais, x2 – ct2 = x!2 – ct!2 (essa expressão é um
invariante de Lorentz, muito conveniente na solução de problemas).
3.7 A
dz/dt
velocidade
no referencial
de uma partícula tem componentes vx = dx/dt, vy = dy/dt e vz =
R!, que se move comRvelocidade u, nav!
e v!x = dx9/dt!, direção
y = dy9/dt!
x, em
e v!
relação a R. no referencial
z = dz!/dt!
a) Demonstre
u2 v!x = (vx – u)/(1 – u vx/c), v!y = vy (1 – u2/c2)1/2/(1 – u vx /c2) e v!z = vz(1 –
que
a /c2)/(1 – uvx/c2). b) Ache a transformação inversa. Deduza a expressão para
grandeza v!2= v!x2 + v!y2 + v!y2 em termos de vx, vy e vz. c) Mostre que se v =
c, v! é também igual a c (supondo u < c).
3.8 Uma astronave tem uma velocidade 0,9 c em relação à Terra. Qual deve ser a
velocidade em relação à Terra de uma outra nave que deseja ultrapassá-la com
uma velocidade de 0,5 c relativa a ela?
Resposta: 0,9665 c.
60 Capítulo 3 — A transformação de Lorentz

3.9 No referencial R são observados dois eventos A (x1 = 1, y1 = y0, z1 = z0, ct1 = 2)
e B (x2 = 5, y2 = y0, z2 = z0, ct2 = 1). Ache a velocidade do referencial R9, que se
move ao longo do eixo x, no qual os eventos são simultâneos.
Resposta: u = – c/4.
3.10 Um pulso de laser é enviado da Terra para a Lua. Qual deveria ser a velocidade
de uma nave espacial que vai da Terra para a Lua para que o astronauta ob
servasse a saída do pulso da Terra e sua chegada à Lua como acontecimentos
simultâneos?
3.11 Uma nave espacial tem uma antena de comprimento l, que forma um ângulo u
com a direção de seu movimento. Qual é o comprimento e a direção da antena,
medidos por um observador de outra nave que passa por ela, movendo-se na
mesma direção e sentido com velocidade relativa u? Faça uma aplicação para
u = 135° e l = 1,0 m.
Resposta: l9 = 0,866 m, u9 = – 54,7o.

3.12 Duas partículas são projetadas simultaneamente de um ponto do referencial R,


em direções ortogonais, com velocidades iguais v. Qual é a velocidade de uma
das partículas em relação à outra?
3.13 Uma linha espectral de uma galáxia distante é observada e mostra um desvio de
5% em relação à mesma linha observada no laboratório. Qual é a velocidade de
afastamento da galáxia em relação à Terra e qual a sua distância?
3.14 Um avião, dirigindo-se para um aeroporto, envia um sinal pelo radar e recebe o
sinal refletido na antena do aeroporto, com um aumento fracionário Dn/n = 6,6
3 10–7. Qual é a velocidade do avião?
Resposta: 712 km/h.
3.15 Um astronauta deseja medir sua velocidade de aproximação a um planeta. En
via um sinal de radar de frequência n = 5 · 109Hz e compara essa frequência
como eco, observando um desvio de 90 kHz. Calcule a velocidade da nave. Qual
será o erro se a aproximação clássica for usada no cálculo?
Resposta: Na aproximação clássica, b = 18· 10–6, erro > 0,33 · 10–9.
3.16 Um motorista atravessou um sinal vermelho e depois alegou ao guarda ter visto
o sinal verde pelo efeito Doppler. O guarda, que era estudante de física, multou
-o por excesso de velocidade. Supondo que o motorista tenha falado a verdade,
qual era sua velocidade?
3.17 O espectro óptico de um feixe de átomos é observado na mesma direção do
feixe (átomos se afastando do observador) e na direção ortogonal a ele. Se a
velocidade dos átomos do feixe é b = 0,01, qual é a diferença entre as frequên
cias de uma determinada linha, nos dois espectros, em função da frequência da
mesma linha no espectro dos átomos em repouso.

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