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GABARITO DA 3a PROVA DE FUNDAMENTOS DE MECÂNICA – TURMA A4 – 27/06/2018

Abaixo estão os Momentos de Inércia de alguns corpos uniformes por eixos que passam pelo seu centro de massa:
- disco ou cilindro maciço de massa M , raio R, pelo seu eixo: ICM,cil = 21 M R2
- esfera maciça de massa M , raio R, por um eixo que passa pelo seu centro de massa: ICM,esf,1 = 52 M R2
- esfera ôca de massa M , raio R, por um eixo que passa pelo seu centro de massa: ICM,esf,2 = 23 M R2
1 2
- barra de massa M , comprimento L, por um eixo que passa pelo centro de massa, perpendicular à barra: ICM,bar = 12 M L

Parte A - Questões (10,0 pontos, 2,0 ponto por quest~ ao): Para cada afirmação abaixo, comente se
estão corretas ou incorretas e (mesmo se a afirmativa estiver correta) justifique com palavras e/ou equações.

Q1- A variação do momento angular de um sistema nem sempre é paralela à resultante dos torques externos.
A afirmativa está INCORRETA. A única coisa que consegue modificar a quantidade de movimento angular
total de um sistema é a existência de torques externos não nulos, uma vez que a terceira lei de Newton e
a definição de torque fazem com que os torques internos, devidos às forças internas sejam sempre, no total,
~
nulos. Dessa forma, temos vetorialmente: dℓtotal
dt = ~τext ou d~ℓtotal = ~τext dt, ou seja, a variação da quantidade
de movimento angular será sempre paralela à resultante dos torques externos.
Q2– Uma partı́cula de massa m e velocidade constante ~v (em movimento retilı́neo uniforme), possui um
momento angular (em relação a um certo ponto fixo no espaço) constante, enquanto ela se movimenta.
A afirmativa está CORRETA. A quantidade de movimento angular de Α
um corpo em relação a um determinado ponto A é definida como L ~A = r Α2

rs
~rA × p~, onde ~rA é o vetor posição do corpo em relação ao ponto A e p

en
p~ a sua quantidade de movimento, M~v . O vetor p~ é constante, mas o rΑ1 φΑ2 θ Α2

θ
vetor ~rA , que depende do ponto A e da posição do corpo, varia. Então, o Α2
vetor L~ A vai depender do ponto A e da posição do corpo, tendo o módulo
LA = rA p sen θ. À medida que o corpo se movimenta, p fica constante, e φΑ1
rA e θ variam de forma tal que o produto rA sen θ dá sempre a distância
do ponto A à reta do movimento do corpo. Então, LA é constante.
1 p=mv
θΑ1
Q3- Em uma corrida de carrinhos sem motor ladeira abaixo, do alto até o fim da ladeira, é melhor escolher
rodas com grande momento de inércia, do que com pequeno momento de inércia.
A afirmativa está INCORRETA. Em qualquer hipótese, mesmo com perdas devido a atrito, resistência do
ar, etc., parte da energia potencial gravitacional será transformada em energia cinética, pois as perdas não
consumirão toda a energia mecânica disponı́vel. A energia cinética de cada roda será a soma das suas energias
cinéticas de rotação e de translação. Temos, então, que Ecin = 21 mv 2 + 21 Iroda ω 2 , que, considerando que
as rodas rolam sem deslizar e que v = ωR, Ecin = 12 (m + Iroda 2
R2 )v . Como a roda terá uma certa energia
cinética (proveniente da gravidade), a forma de ter a r maior velocidade de translação, v, é usar uma forma
Ecin
de roda com o mı́nimo de inércia rotacional, pois v = I , e não dá para alterar nem m nem Ecin .
m+ roda
2
R

Q4– O efeito estufa vai derreter as calotas polares e o nı́vel do mar vai subir, tirando a água gelada dos
polos e acumulando-a principalmente no equador. É de se prever que isso deve aumentar ligeiramente
a duração do dia da Terra (seu perı́odo de rotação).
A afirmativa está CORRETA. Com uma grande massa de gelo nas calotas polares, há uma grande massa de
matéria perto do eixo de rotação da Terra. Se esse gelo se derreter, aumentando o nı́vel dos oceanos, uma boa
parte dessa massa vai se dirigir para perto do equador, se afastando do eixo. Com isso, o momento de inércia
da Terra, como um todo, vai aumentar. Como não há torques externos (todo o processo é interno), o momento
angular da Terra tem que ficar constante. Ao se aumentar o momento de inércia, após o derretimento das
calotas polares, numa certa proporção, a velocidade angular da Terra deve diminuir (e, consequentemente,
o perı́odo deve aumentar) na mesma proporção, para manter o momento angular constante.
Q5- Em um avião monomotor, a hélice gira no sentido horário, vista pelo piloto, sentado atrás dela. Ao
virar para a sua esquerda num vôo horizontal, o piloto sente que o avião tende a embicar para baixo.
A afirmativa está INCORRETA. Em relação ao piloto, a hélice possui momento angular que aponta na
mesma direção de sua velocidade angular, isto é, do piloto para a hélice (ele está atrás dela), portanto para
a frente do avião. Ao virar para a esquerda, pela regra da mão direita, o piloto tem que aplicar um torque
para cima no sistema. Como ~τ = d~ℓ/dt, teremos uma variação de momento angular na mesma direção, isto
é, para cima, pois d~ℓ = ~τ dt. Então, o momento angular da hélice (que é o do sistema), sofre uma variação
para cima e o avião tende a empinar para cima.
Lfin dL

Lhel
Parte B - Problemas (20,0 pontos: P1 = 6,0 pontos, P2 e P3 = 7,0 pontos cada)
P1– Um satélite artificial de massa m está em órbita circular bem
m
acima do equador terrestre, de tal forma que o seu perı́odo seja F
Pdia , igual ao da rotação da Terra (raio RT , massa MT ≫ m).
Determine, justificando o seu raciocı́nio, em termos de RT , MT ,
m, Pdia e G: (6 pontos)
P1.1– a altura h, acima do equador terrestre, que o satélite deve ser RT h
colocado para ter uma órbita com o perı́odo Pdia (3 pontos);
P1.2– a velocidade orbital linear de translação que o satélite possui nessa
situação (3 pontos). MT
Solução

Na figura mostramos a força, F que o satélite sofre da Terra. Essa


força é a resultante sobre o satélite e, como tal, é a força centrı́peta
em seu movimento orbital. Conhecemos o raio desse movimento,
RT + h, e seu perı́odo, Pdia . Portanto, conhecemos a aceleração centrı́peta, acentr = ω 2 r.
P1.1– Partindo do raciocı́nio acima,  2
MT m MT m 2 2π
F =G 2 =G = ma centr = mω (R T + h) = m (RT + h) (1)
r (RT + h)2 Pdia
ou, simplificando,
2
 2
 13 r
2
MT Pdia 3 MT Pdia 3 MT Pdia
G = (R T + h) e (R T + h) = G = G . (2)
4π 2 4π 2 4π 2
Dessa forma, a altura h solicitada é (note que não depende da massa do satélite)
r
2
MT Pdia
3
h= G 2
− RT .

P1.2– Na situação acima, onde a distância do satélite ao centro da Terra é dada pela Eq. (2), e seu perı́odo
sendo Pdia , podemos usar as equações do movimento circular uniforme, vorb = ωorb r, e

vorb = ωorb r = (RT + h) . (3)
Pdia
Levando o resultado da Eq. (2) na Eq. (3)
 2
 13 r
2π MT Pdia 3 GMT
vorb = G = 2π
Pdia 4π 2 Pdia

P2– Uma partı́cula de massa m realiza um movimento cir-


cular uniforme sobre uma mesa sem atrito. A partı́cula
está presa a uma extremidade de um fio (sem massa
m R2
e inextensı́vel), cuja outra extremidade passa por um R1
furo no centro da mesa e que é presa debaixo desta
numa massa desconhecida. Não há atrito do fio com a
mesa, pelo furo. A velocidade angular da massa m é
ω1 e o raio do cı́rculo é R1 e a massa desconhecida está
M=?
em repouso. (7 pontos)
P2.1- Determine a massa desconhecida, M , que equilibra o
R1−R2
sistema, em termos de m, R1 , ω1 e g (2 pontos).
A massa pendurada, agora conhecida, é então puxada mais um pouco para debaixo da mesa por uma
força, sendo mantida presa nessa nova posição, e o novo raio do movimento da partı́cula passa a ser
R2 (<R1 ). Determine, justificando o seu raciocı́nio, em termos de m, R1 , R2 , ω1 e g:
P2.2- a nova velocidade angular da partı́cula de massa m, ω2 (2 pontos),
P2.3- a nova tensão no fio (2 pontos),
P2.4- o trabalho total realizado sobre o sistema no processo (1 ponto).
Solução
Em primeiro lugar, vamos identificar as forças que atuam nas partes do problema. As forças que atuam na
massa desconhecida são seu peso (exercido pela Terra, que sofre a reação) e a força da parte vertical do fio
(que sofre a reação). Como essa massa está em repouso, a resultante dessas duas forças tem que ser zero e
a força que o fio faz na massa tem que ser igual ao seu peso, M g.
O fio, então, é puxado para baixo pela massa, por uma força igual a M g, mas não se acelera. Como o
fio não possui massa, ele tem que ser puxado pela outra extremidade por uma força igual em módulo à que
a massa m a puxa para baixo. Quem faz essa força é a partı́cula de massa m, que sofre a reação.
Sobre a partı́cula de massa m atuam seu peso (vertical para baixo, exercido pela Terra, que sofre a
reação), a normal com a mesa (para cima, exercida pela mesa, que sofre a reação) e o fio (que sofreu a reação
ao ser puxado pela partı́cula). Como não há atrito, essas são as únicas forças atuantes.
P2.1- Nem a massa desconhecida nem a partı́cula sobre a mesa se movimentam na vertical. Então,
particula : N + 0 + (−mg) = 0 −→ N = mg, e (4)
massa desconhecida : Tfio + (−M g) = 0 −→ Tfio = M g. (5)
Na horizontal, a única força que atua na partı́cula (exercida pelo fio, Tfio ), é igual à sua força centrı́peta
Tfio = macentr = mω 2 r = mω12 R1 . (6)
Igualando as eqs. (5) e (6), temos
mω12 R1
M g = mω12 R1 ou M= . (7)
g
P2.2- Ao se puxar a massa pendurada para baixo, reduzindo o raio do movimento da partı́cula, a tensão
no fio não consegue exercer qualquer torque em relação ao furo por onde passa. Com isso, a quantidade de
movimento angular da partı́cula em relação ao furo tem que ficar constante. Inicialmente, a quantidade de
movimento angular é

~ 1 × p~1 | = |R
ℓ 1 = |R ~ 1 × m~v1 | = R1 mv1 sen 90◦ = R1 mv1 = mR2 ω1 (= I1 ω1 ) (8),
1

onde usamos que v = ωr, que a velocidade é tangencial ao movimento (fazendo um ângulo de 90◦ com o fio).
Note que o momento de inércia da partı́cula em relação ao furo é I1 = mR12 , e que poderı́amos usar isso, no
cálculo de ℓ1 . Pelo nosso raciocı́nio, o momento angular não pode mudar e, portanto,
ℓ2 = mR22 ω2 = ℓ1 = mR12 ω1 ,
de onde tiramos que  2
R1
ω2 = ω1 . (9)
R2
P2.3- Da Eq. (6), podemos escrever que, na nova situação, a nova tensão no fio será

Tfio = macentr,2 = mω 2 r = mω22 R2 . (10)

Utilizando a Eq. (9), temos


" 2 #2 4
R14 2

R1 R1

Tfio = mω22 R2 =m ω1 R2 = m ω12 R2 = m ω . (11)
R2 R2 R23 1

P2.4- Dentre as forças identificadas anteriormente, as que podem realizar trabalho são o peso da massa
pendurada, a força extra que atuou nela fazendo-a baixar (desconhecida) e as tensões, pois o peso da partı́cula
sobre a mesa e a normal não realizam trabalho (pois são perpendiculares ao deslocamento). Não é possı́vel
usar a definição de trabalho e integrar, pois a força extra é variável e não se deu como é sua dependência com
a posição. Porém, tem-se o teorema que diz que “o trabalho total é igual à variação de energia cinética”. e
basta, portanto, calcular essa variação entre as situações inicial (1) e final (2), Wtotal =∆Ecin =Ecin,2 − Ecin,1 .
A massa pendurada estava parada inicialmente e continua parada na situação final. A energia cinética da
partı́cula sobre a mesa, inicial e final, é, utilizando o resultado da Eq.(9).
   2
1 1 1 1 1 R1
Ecin,1 = I1 ω12 = mR12 ω12 e Ecin,2 = I2 ω22 = mR22 ω22 = I1 ω12 (12)
2 2 2 2 2 R2
e
  " 2 #
1 2 2 R1
Wtotal = ∆Ecin = mR1 ω1 −1 (13)
2 R2
P3– Uma barra uniforme e fina, de massa M e com- pino de apoio
primento L é suspensa em uma extremidade por
um pino em torno do qual pode girar livremente,
sem qualquer atrito. Inicialmente a barra está
θ
parada na posição vertical. Uma partı́cula de
massa m e velocidade inicial V na direção hori- CM
sistema
zontal colide com a extremidade livre (de baixo) M,L
da barra, ficando grudada na mesma. Calcule,
justificando o seu raciocı́nio, em termos de M , CM
m, L, V e g: (7 pontos). haste h
P3.1– a velocidade angular do conjunto (a massa
m agora grudada na barra) em relação ao CM
sistema
pino de apoio, imediatamente após a colisão
(2,5 pontos);
P3.2– a distância que o centro de massa do con-
junto está do pino de apoio, imediatamente
após a colisão (2,0 pontos); m V
P3.3– se a velocidade V não for muito grande, en-
contre o ângulo máximo θ que o conjunto
alcançará, em sua oscilação após a colisão
(2,5 pontos); Solução
Trata-se de uma colisão, durante a qual atuam as forças internas entre a partı́cula e a barra e as forças
externas: os pesos (da partı́cula e da barra) e a força que o pino faz na barra. Na vertical as forças podem se
anular durante a colisão, mas na horizontal não tem jeito de anular a componente horizontal da força do pino.
Portanto, a quantidade de movimento linear não se conservará na horizontal durante a colisão, pois existe
força externa nessa direção. Entretanto, em relação ao ponto onde o pino segura a barra, imediatamente
antes e depois da colisão, nenhuma força consegue fazer torque. Os pesos não exercem torques em relação ao
ponto onde atua o pino por causa do ângulo e o pino por atuar exatamente nesse ponto. As forças internas,
por serem de módulos iguais, terem a mesma direção, sentido oposto e atuarem exatamente mo mesmo ponto
de contato, não exercem torques em relação a nenhum ponto do universo. Portanto, o torque total, durante
a colisão, é nulo em relação ao ponto onde o pino atua. . . e, consequentemente, a quantidade de movimento
angular em relação a esse ponto tem que se conservar.
P2.1- A quantidade de movimento angular inicial do sistema em relação ao ponto onde o pino atua é dada
somente pela massa m em movimento, pois a barra está parada. Imediatamente após a colisão a barra com
a massa presa em sua extremidade estarão girando em torno do pino com a velocidade angular solicitada ω.
Portanto, usando a definição L ~ pino = ~rpino × p~,
M L2
 
2
Lini,pino = mV L = Lfin,pino = Itot,pino ωfinal = + mL ωfinal (14)
3
onde se usou a tabela dada no inı́cio da prova para encontrar o momento ! de inércia do conjunto “barra e
massa” em relação ao pino. Portanto mV L m V
ωfinal = ML2 = M . (15)
3 + mL
2
3 +m
L
P3.2- O centro de massa da barra, pelo fato de ela ser uniforme, está em sua metade, a uma distância L2
de sua extremidade superior, onde está o pino. Pela definição de posição de centro de massa, em relação ao
pino (considerando positivo para baixo) !
M L2 + mL M
2 +m
ycm = = L. (16)
M +m M +m
P3.3- Imediatamente após a colisão o sistema começa a girar em torno do pino com a velocidade angular
encontrada na Eq.(15), tendo, portanto energia cinética. Considerando a posição inicial do centro de massa do
sistema como sendo nosso referência de altura para o cálculo da energia potencial, a energia potencial inicial
será nula e a energia mecânica inicial do sistema, imediatamente após !
a colisão,
#2 é Emec,ini=E!cin,ini + Epot,ini
2
"
m2

1 1 M L m V 1
Emec,ini = Itot,pino ω 2 + 0 = + mL2 M
= M
V 2. (17)
2 2 3 3 + m L 2 3 + m
O problema diz que não há atrito no eixo do pino e, portanto, a energia mecânica deve ser conservada. Na
posição final do conjunto, não haverá movimento (ou seja, não haverá energia cinética) e toda a energia será
potencial gravitacional com o centro de massa do sistema a uma certa altura h da posição inicial do centro
de massa do sistema, Emec,fin = 0 + (M + m)gh ! e !
M
V2 m2 2 + m
h= M
 = ycm (1 − cos θ) = L (1 − cos θ), (18)
2g 3 + m (M + m)
M +m
de onde tiramos cos θ, onde θ é o ângulo máximo que o sistema oscilará!em relação à vertical
V2 m2
cos θ = 1 − M
 M  . (19)
2gL 3 +m 2 +m

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