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GABARITO DA 3a PROVA DE FUNDAMENTOS DE MECÂNICA – 02/12/2023 – 08:00

Abaixo estão os Momentos de Inércia de alguns corpos uniformes por eixos que passam pelo seu centro de massa:
- disco ou cilindro maciço de massa M , raio R, pelo seu eixo: ICM,cil = 21 M R2
- esfera maciça de massa M , raio R, por um eixo que passa pelo seu centro de massa: ICM,esf,1 = 52 M R2
- esfera ôca de massaM , raio R, por um eixo que passa pelo seu centro de massa: ICM,esf,2 = 23 M R2
1 2
- barra de massa M , comprimento L, por um eixo que passa pelo centro de massa, perpendicular à barra: ICM,bar = 12 M L

Parte A - Questões (40,0 pontos, 8,0 ponto por quest~ ao): Para cada afirmação abaixo, comente se
estão corretas ou incorretas e (mesmo se a afirmativa estiver correta) justifique com palavras e/ou equações.

Q1- A variação do momento angular de um sistema nem sempre é paralela à resultante dos torques externos.
A afirmativa está INCORRETA. A única coisa que consegue modificar a quantidade de movimento angular
total de um sistema é a existência de torques externos não nulos, uma vez que a terceira lei de Newton e a
definição de torque fazem com que os torques internos, devidos às forças internas, sejam sempre, no total,
~
nulos. Dessa forma, temos vetorialmente: dℓtotal
dt = ~τext ou d~ℓtotal = ~τext dt, ou seja, a variação da quantidade
de movimento angular será sempre paralela à resultante dos torques externos.
Q2– Uma partı́cula de massa m e velocidade constante ~v (em movimento retilı́neo uniforme), possui um
momento angular (em relação a um certo ponto fixo no espaço) constante, enquanto ela se movimenta.

A afirmativa está CORRETA. A quantidade de movimento angular de Α


um corpo em relação a um determinado ponto A é definida como L ~A = r Α2

rs
~rA × p~, onde ~rA é o vetor posição do corpo em relação ao ponto A e p
φΑ2

enθ
p~ a sua quantidade de movimento, M~v . O vetor p~ é constante, mas o rΑ1 θΑ2
vetor ~rA , que depende do ponto A e da posição do corpo, varia. Então, o Α2
vetor L~ A vai depender do ponto A e da posição do corpo, tendo o módulo
LA = rA p sen θ. À medida que o corpo se movimenta, p fica constante, e φΑ1
rA e θ variam de forma tal que o produto rA sen θ dá sempre a distância
do ponto A à reta do movimento do corpo. Então, LA é constante.
1 p=mv
θΑ1
Q3- Em uma corrida de carrinhos sem motor ladeira abaixo, do alto até a linha de chegada, é melhor escolher
rodas com grande momento de inércia, do que com pequeno momento de inércia.
A afirmativa está INCORRETA. Em qualquer hipótese, mesmo com perdas devido a atrito, resistência do
ar, etc., parte da energia potencial gravitacional será transformada em energia cinética, pois as perdas não
consumirão toda a energia mecânica disponı́vel. A energia cinética de cada roda será a soma das suas energias
cinéticas de rotação e de translação. Temos, então, que Ecin = 21 mv 2 + 21 Iroda ω 2 , que, considerando que
as rodas rolam sem deslizar e que v = ωR, Ecin = 12 (m + Iroda 2
R2 )v . Como a roda terá uma certa energia
cinética (proveniente da gravidade), a forma de ter a r maior velocidade de translação, v, é usar uma forma
Ecin
de roda com o mı́nimo de inércia rotacional, pois v = I , e não dá para alterar nem m nem Ecin .
m+ roda
R2

Q4– O efeito estufa vai derreter as calotas polares e o nı́vel do mar vai subir, principalmente no equador.
Isso deve aumentar ligeiramente a duração do dia da Terra (seu perı́odo de rotação).
A afirmativa está CORRETA. Com uma grande massa de gelo nas calotas polares, há uma grande massa de
matéria perto do eixo de rotação da Terra. Se esse gelo se derreter, aumentando o nı́vel dos oceanos, uma boa
parte dessa massa vai se dirigir para perto do equador, se afastando do eixo. Com isso, o momento de inércia
da Terra, como um todo, vai aumentar. Como não há torques externos (todo o processo é interno), o momento
angular da Terra tem que ficar constante. Ao se aumentar o momento de inércia, após o derretimento das
calotas polares numa certa proporção, a velocidade angular da Terra deve diminuir (e, consequentemente, o
perı́odo deve aumentar) na mesma proporção, para manter o momento angular constante.
Q5- Em um avião monomotor, a hélice gira no sentido horário, vista pelo piloto, sentado atrás dela. Ao
virar para a sua esquerda num vôo horizontal, o piloto sente que o avião tende a embicar para baixo.
A afirmativa está INCORRETA. Em relação ao piloto, a hélice possui momento angular que aponta na
mesma direção de sua velocidade angular, isto é, do piloto para a hélice (ele está atrás dela), portanto para
a frente do avião. Ao virar para a esquerda, pela regra da mão direita, o piloto tem que aplicar um torque
para cima no sistema. Como ~τ = d~ℓ/dt, teremos uma variação de momento angular na mesma direção, isto
é, para cima, pois d~ℓ = ~τ dt. Então, o momento angular da hélice (que é o do sistema), sofre uma variação
para cima e o avião tende a empinar para cima.
Lfin dL

Lhel
Parte B - Problemas (08:00 – 60,0 pontos: P1 = 18,0 pontos, P2 e P3 = 21,0 pontos cada)
P1– Um cilindro simétrico e rı́gido de raio
R e massa M , cujo momento de inércia
em torno de seu eixo é I, rola sem
deslizar por uma pista plana inclinada
M, I
de um ângulo θ, sob o efeito da gravi-
dade. Dê suas respostas em termos de
R
I, R, g, M e θ (há atrito, mas os coefi-
cientes de atrito não são conhecidos). Mg
P1.1– Localize na figura todas as forças
(especifique ponto de atuação, di-
N
reção e sentido) que atuam no ci-
lindro, enquanto ele rola. Fat
P1.2– Há conservação de energia cinéti-

θ θ
ca do cilindro? Qual o motivo?
P1.3– Há conservação de momento li-
near do cilindro? Qual o motivo?
P1.4– Há conservação de momento angular do cilindro? Qual o motivo?
P1.5– Há conservação de energia mecânica no cilindro? Qual o motivo?
P1.6– Calcule o valor da força de atrito estático necessária, para que o cilindro role sem deslizar.
P1.7– Calcule a aceleração linear do centro do cilindro, paralela ao plano.
P1.8– Calcule a aceleração angular do cilindro em torno de seu centro.
Valores: P1.1, P1.6, P1.7 e P1.8: 3,0 pontos cada; P1.2, P1.3, P1.4 e P1.5: 1,5 ponto cada.
Solução
P1.1– As forças que atuam no cilindro são (1) seu peso (M g), que atua no centro de massa, pois o cilindro
é simétrico, (2) a normal entre o cilindro e o plano, N , e (3) a força de atrito, Fat . A normal e a força de
atrito atuam no ponto de contato entre o cilindro e o plano. O cilindro, se a força de atrito não existisse,
desceria sem rodar, e o cilindro, portanto, tende a arrastar o plano para baixo, sofrendo a reação para cima.
As forças estão desenhadas na figura.
P1.2– A energia cinética varia se houver realização de um trabalho total diferente de zero. Os trabalhos da
força de atrito e da normal são nulos, pois essas forças atuam em um ponto que não se move (o cilindro
rola sem derrapar sobre o plano). O trabalho realizado pelo peso, porém, é positivo e não nulo. Então, pelo
teorema trabalho-energia cinética, não há conservação de energia cinética, pois o trabalho total é > 0.
P1.3– A força resultante não é nula (tanto que o cilindro vai rolar plano abaixo aceleradamente). Portanto,
pela definição de força, F~resultante = d~ p
dt , temos que o momento linear varia com o tempo, e d~ p = F~resultante dt.
Portanto, não há conservação do momento linear.
P1.4– O torque resultante também não é nulo. Se calcularmos o torque das 3 forças desenhadas na figura
em relação ao ponto de contato, nem o atrito nem a normal contribuem, mas o peso faz um torque entrando
no desenho. Se calcularmos o torque em relação ao centro do cilindro, apesar de o peso e a normal no
contribuı́rem, agora o atrito faz um torque entrando no desenho. Portanto, também pela definição de
~
torque, temos que ~τres = ddtℓ , e não há conservação do momento angular.
P1.5– A normal, como vimos, nunca realiza trabalho, pois é sempre perpendicular ao deslocamento do
cilindro (e, além disso, atua em um ponto que está sempre parado). O peso é uma força conservativa. O
atrito, como a normal, também não realiza trabalho, pois seu ponto de aplicação está sempre parado. Isso
se deve ao fato do cilindro rolar sem derrapar. Portanto, a energia mecânica se conserva, pois o trabalho
de forças não conservativas é nulo.
P1.6– O cilindro não possui resultante perpendicular ao plano inclinado. Portanto,
N − M g cos θ = 0 −→ N = M g cos θ. (P 1.1)
Na horizontal, temos, supondo positivo para baixo no plano,
M g sen θ − Fat = M a. (P 1.2)
Não conhecemos nem Fat nem a, a aceleração linear do centro do cilindro, e não temos mais equações a
usar, considerando somente a translação. Temos, portanto, que considerar a rotação do cilindro. Como o
momento de inércia do cilindro em torno de seu eixo (que passa pelo centro) foi fornecido, vamos calcular
o torque das três forças identificadas em relação a esse eixo e usar τtotal,eixo = Ieixo α, onde α é a aceleração
angular do cilindro em torno do seu eixo.
O peso não exerce torque em relação ao eixo pois atua diretamente nele. A normal também não exerce
torque, mas agora porque o ângulo entre o vetor de seu ponto de aplicação em relação ao eixo e ela própria
é tal que seu seno é nulo. Dessa forma, em relação ao eixo do cilindro, o torque total é
τtotal,eixo = τ(Fat ,eixo) = RFat sen90◦ = RFat = Iα. (P 1.3)
e aponta para dentro da figura. Como o cilindro rola sem deslizar, temos que as velocidades e acelerações
lineares de seu centro estão diretamente relacionadas com as velocidades e acelerações angulares por
veixo = ωR e aeixo = αR. (P 1.4)
Mas, na Eq. (P 1.4), temos que aeixo é exatamente a aceleração da Eq. (P 1.2), e α é a mesma da Eq. (P 1.3).
Então podemos substituir α = a/R na Eq. (P 1.4) e escrever
a Fat R2
RFat = Iα = I ou a= . (P 1.5)
R I
Levando a da Eq.(P 1.5) na Eq. (P 1.2),
Fat R2 R2 I + M R2
   
M g sen θ − Fat = M ou M g sen θ = Fat 1 + M = Fat , (P 1.6)
I I I
de onde podemos tirar a força de atrito  
I
Fat = M g sen θ . (P 1.7)
I + M R2
P1.7– Levando o valor da Eq. (P 1.7) na Eq. (P 1.2), temos, depois de resolver para a
M g sen θ
a= (P 1.8)
M + RI2
P1.8– A aceleração angular é dada pela Eq. (P 1.4),
a M g sen θ M g sen θR
α= = I
= (P 1.9)
R R M + R2 M R2 + I
P2– (08:00) Em um parque de diversões há um pequeno carrossel cujo raio é R, e cuja massa é M . O carrossel
consiste, na verdade, de um cilindro que pode girar em torno de seu eixo vertical, cujo momento de
2
inércia em torno desse eixo é ICM = MR 2 . Uma criança de massa m corre com a velocidade V0 em
direção a um ponto do carrossel, e a projeção da linha que dá a direção de seu movimento passa a
uma distância r do eixo do carrossel. A criança pula sobre o carrossel quando este está parado e se
agarra nele, ficando em sua borda e passando a girar com ele. O eixo do carrossel não deixa o centro do
mesmo sair do lugar. Em termos dos dados fornecidos (m, M , R, r, T ), responda o que se pede abaixo,
justificando o seu raciocı́nio (21,0 pontos).
P2.1– Qual a velocidade angular do carrossel e da V0 (antes)
criança, imediatamente após a criança ter
se agarrado ao carrossel? (9 pontos) m (depois)
Contando a partir do instante em que a r
criança atinge o carrossel e passa a se mover
com ele com a velocidade angular calculada
anteriormente, o sistema freia e chega ao re- eixo
pouso após T segundos. Considerando que
o torque do atrito no eixo do carrossel, o
M
torque retardador que freiou o carrossel, foi R
constante, calcule:
P2.2– a aceleração angular e o torque retardador
devido ao atrito (6 pontos)
P2.3– o ângulo percorrido pelo carrossel durante
os T segundos, até parar. (6 pontos) Solução
P2.1- Quando a criança pula sobre o carrossel, age sobre este e sofre a reação. Estas são forças internas. As
forças externas que atuam sobre o sistema são a gravidade e a força que o eixo do carrossel (preso à Terra)
faz sobre o mesmo. A gravidade (peso do carrossel e da criança) é vertical e é anulada pela componente
vertical da força que o carrossel sofre de seu eixo. Entretando, nada anula a componente horizontal da
força externa. Então, não há conservação de quantidade de movimento linear durante processo. Também
não há conservação de energia cinética, uma vez que a criança se agarra no carrossel, numa espécie de
colisão inelástica. Resta saber se há algum torque externo resultante, para verificarmos se há conservação
de quantidade de movimento angular. As forças internas entre a criança e o carrossel não exercem torque
lı́quido. Como os pesos estão na vertical, o torque que podem exercer sempre estarão na horizontal (pela
definição de torque) e não poderão afetar o movimento do carrossel em torno de seu eixo, que é vertical. O
torque devido à força que o eixo faz sobre o carrossel, em relação a esse eixo, também pode ser desprezado,
por se tratar de uma colisão. Então, imediatamente antes e depois da colisão, há conservação de quantidade
de movimento angular na direção vertical.
Como há conservação de quantidade de movimento angular na direção vertical, temos que Li = Lf .
Inicialmente o carrossel está parado e não contribui para a quantidade de movimento angular do sistema.
Somente a criança se movimenta e, em relação ao eixo do carrossel, sua quantidade de movimento pode ser
calculada com a definição de momento angular em relação ao eixo do carrossel, L ~ E = ~rE × ~p. Esse vetor
aponta para dentro da figura acima (entrando no papel) e tem o módulo:
Li = Lcri,i + Lcar,i = |~rE × m~v | + 0 = mv0 r.
Depois que a criança se agarra à borda do carrossel, o sistema começa a girar em torno de seu eixo, com uma
certa velocidade angular, Lf = Itotal ω. O momento de inércia do sistema é constituido de uma contribuição
da carrossel e uma da criança, nele agarrada. Como reconhecemos anteriormente que o torque externo em
relação ao eixo do carrossel é nulo, a equação de conservação que escrevemos acima se refere a esse eixo.
Então temos de calcular o momento de inércia com relação a esse eixo:
1
Itotal,eixo = Icar,eixo + Icri,eixo = M R2 + mR2 . (P 2.1)
2
Então temos a velocidade angular imediatamente depois da colisão, ωD :
mv0 r mv0 r
mv0 r = Itotal ωD −→ ωD = = 1 2 + mR2
. (P 2.2)
Itotal 2 M R
P2.2- Se o carrossel, após a criança ter se agarrado a ele, possui a velocidade angular, ωD , calculada na
Eq. (P 2.2) e pára (ω = 0) após T segundos, podemos calcular sua aceleração angular, suposta constante, por
 
ω − ωD 1 mv0 r
ω = ωD − αT −→ α= =− . (P 2.3)
T T 12 M R2 + mR2
O momento de inércia desse sistema  é constante.  Então
 podemos escrever que ~τeixo = Itotal,eixo α
~, e
1 2 2 1 mv0 r mv0 r
τeixo = M R + mR − =− . (P 2.4)
2 T 21 M R2 + mR2 T
O sinal negativo diz que o torque é oposto à velocidade inicial e aponta para fora do desenho. Tal resultado
seria encontrado se usássemos d~ℓ ∆L~ 0 − mv0 r mv0 r
~τ = ≈ = =− .
dt ∆T T T
P2.3- Para calcular o ângulo que o carrossel girou até voltar ao repouso (após o tempo T ), basta calcular o
deslocamento angular que ele sofreu. Como supusemos que a aceleração angular foi constante, usamos:
1 1
θf inal = θinicial + ωo T + αT 2 , ou θf inal − θinicial = ∆θ = ωo T + αT 2 . (P 2.5)
2 2
Usando os resultados das Eqs. (P 2.2) e (P 2.3),  podemos escrever: 
mv0 rT 1 1 mv0 r 1 mv0 rT
∆θ = 1 2 + mR2
+ − 1 2 + mR2
T2 = 1 . (P 2.6)
2 M R 2 T 2 M R 2 2 M R2 + mR2
O mesmo resultado pode ser encontrado usando que o trabalho realizado pelo torque retardador tem de ser
igual à variação de energia cinética de rotação nos T segundosapós a criança
ter pulado sobre ocarrossel:
2
mv0 r 1 1 1 mv0 r
Wtotal = ∆Ecin,rot = τE ∆θ = − ∆θ = 0 − Itotal ωo2 = − M R2 + mR2 1 2 2
. (P 2.7)
T 2 2 2 2 M R + mR
Na Eq. (P 2.7) utilizamos resultados das Eqs. (P 2.1), (P 2.2) e (P 2.4). O sinal do trabalho do torque (negativo)
se deve ao fato do torque ser oposto à velocidade angular inicial. Simplificando para encontrar ∆θ obtemos
a resposta da Eq. (P 2.6).
P3– (08:00) O bloco de massa M está pendurado e ligado por um cordão leve (sem massa) e inextensı́vel,
a um cilindro sólido e uniforme de massa m e raio r, de forma a estar preso no eixo do cilindro, como
mostra a figura. O fio passa por uma polia (raio R, momento de inércia I em torno de seu eixo) e não
desliza em sua borda. O atrito no eixo da polia é desprezı́vel, mas existe atrito entre o cilindro e a
mesa, de modo que o cilindro rola sem deslizar por sobre a mesa. O momento de inércia de um cilindro
uniforme de massa m e raio r, em relação ao seu eixo é 12 mr2 . Admitindo que o cordão não deslize
sobre a polia, que o cilindro não derrape sobre a mesa mas somente role, e que não há quaisquer perdas
de energia por atrito, determine, em termos de m, M , I, R, r e g (se achar que falta dado, inclua esse
dado e justifique): (21 pontos, explique o seu raciocı́nio) polia sem atrito no eixo
T2 T2 m
P3.1– o módulo da aceleração linear do bloco
pendurado, (6 pontos) R I r
o cilindro rola sem deslizar
P3.2– a tensão no cordão entre esse bloco e a polia,
(6 pontos) T1
P3.3– a tensão no cordão entre a polia e o cilindro,
(6 pontos) T1
P3.4– a aceleração angular do cilindro. (3 pontos)

Mg
Solução

Na figura foram indicadas as forças que atuam no sistema. Na massa M atuam o seu peso (vertical para
baixo, reação na Terra) e a tensão T1 da corda pendurada. Na polia, a corda pendurada, por não possuir
massa, faz a tensão T1 para baixo. Ainda atuam na polia o seu peso (vertical para baixo, reação na Terra),
uma força do eixo (ambas atuam no centro da polia) e a tensão da parte horizontal da corda, T2 . Note que
as tensões não são iguais em princı́pio, pois a polia possui inércia rotacional. No cilindro em cima da mesa
atuam seu peso (vertical para baixo, reação na Terra), a normal da mesa (vertical para cima, reação na
mesa), a tensão T2 da parte horizontal da corda e uma força de atrito (horizontal, reação na mesa). Como
a corda puxa o cilindro pelo seu centro, ele não tende a rodar e, ao tentar se movimentar em translação,
tenderá a arrastar a superfı́cie da mesa para a frente, sofrendo uma força de atrito para trás. Mas, mesmo
que não se perceba isso, podemos supor um dos sentidos e, se estivermos errados, ao final encontraremos um
valor negativo para seu módulo. Vamos, de fato, supor um sentido contrário ao do nosso raciocı́nio acima.
Vamos começar escrevendo as equações da segunda lei de Newton, para translação e rotação das partes
do sistema. Para a massa pendurada,
M g − T1 = M a (P 3.1),
onde não conhecemos T1 nem a. Para o cilindro em cima da mesa temos
vertical : mg − N = 0 −→ N = mg (P 3.2)
horizontal : T2 + Fatrito = mA, (P 3.3)
onde T2 , A (a aceleração do centro de massa do cilindro), e Fatrito são desconhecidos. A força de atrito é
estática e não pode ser relacionada com qualquer coeficiente de atrito, pois não está em seu limite. Como
a corda não estica nem encolhe, a aceleração do centro do cilindro será igual, em módulo, à aceleração com
que o bloco pendurado desce, A = a, e podemos re-escrever a Eq.(P 3.3) como
T2 + Fatrito = ma (P 3.3a).
Ainda temos 4 incógnitas (T1 , T2 , a e Fatrito ), mas somente 2 equações (P3.1 e P3.3a). Não temos mais
equações de translação e temos de investigar a segunda lei para a rotação da polia e do cilindro.
Para a polia, o torque total será a soma dos torques das 4 forças que que nela atuam. O melhor ponto
para calcular esse torque é o eixo da polia. Em relação ao eixo da polia, nem o seu peso nem a força que
o próprio eixo faz produzem torques. As tensões T1 e T2 produzem torques de sentidos opostos e vamos
considerar que T1 ganha: a
(T1 − T2 )R = Iαpolia = I , (P 3.4)
R
onde usamos a relação entre a aceleração angular da polia e a aceleração de sua periferia (igual à do fio).
Ainda falta uma equação para resolver o problema. Vamos estudar a rotação do cilindro em cima da
mesa. Existem dois pontos em relação aos quais podemos calcular o torque resultante, o centro do cilindro e
o seu ponto de contato com a mesa. O mais favorável é o seu ponto de contato com a mesa, pois nele atua a
força de atrito e, em relação ao mesmo, o torque dessa força será nulo. O momento de inércia do cilindro em
relação ao ponto de contato pode ser calculado pelo teorema dos eixos paralelos, uma vez que o momento
de inércia do cilindro em relação ao seu centro de massa (eixo) foi dado. O novo momento de inércia será
mr2 3
Icil,P = + mr2 = mr2 . (P 3.5)
2 2
Os torques em relação ao ponto de contato do cilindro com a mesa da força de atrito e da normal são nulos
(pois atuam exatamente nesse ponto). Também é nulo o torque do peso, dessa vez por causa do ângulo entre
o vetor do ponto de aplicação do peso em relação ao ponto de contato e o próprio peso (180◦ ). O único
torque não nulo será o causado pela tensão T2
3 3 a 3
rT2 = Icil,P αcil = mr2 αcil = mr2 = mra, (P 3.6)
2 2 r 2
onde usamos a relação entre a aceleração angular do cilindro em torno do ponto de contato e a aceleração
linear de seu centro, que é igual à aceleração linear do fio. Podemos calcular diretamente a relação entre T2
ea 3
T2 = ma. (P 3.7)
2
Repetindo e re-escrevendo as equações (P3.1), (P3.3a), (P3.5) e (P3.7), temos um conjunto de 4 equações e
4 incógnitas
M g − T1 = M a (P 3.1),
T2 + Fatrito = ma (P 3.3a),
a
T1 − T2 = I 2 , (P 3.4a)
R
3
T2 = ma. (P 3.7)
2
Levando (P3.7) em (P3.4a) 3 a

I 3

T1 − ma = I 2 , ou T1 = + m a. (P 3.8)
2 R R2 2
P3.1– Levando (P3.8) em (P3.1), encontramos a
 
I 3 Mg
Mg − + m a = M a, ou a= . (P 3.9)
R2 2 M + RI2 + 23 m
P3.2– Levando (P3.9) em (P3.8), encontramos T1
   
3 I 3 I Mg
T1 = m+ 2 a= m+ 2 . (P 3.10)
2 R 2 R M + RI2 + 23 m
P3.3– Levando (P3.9) em (P3.7), encontramos T2
3 3 Mg
T2 = ma = m (P 3.11).
2 2 M + RI2 + 23 m
P3.4– A aceleração angular do cilindro será
a Mg
αcil = = . (P 3.12)
r r(M + RI2 + 23 m)
Note que usando as Eqs.(P 3.3a) e (P 3.7) acha-se que Fatrito = − 21 ma, ou seja, NEGATIVA, e a direção do
atrito na figura está ERRADA.

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