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Professora: Simara Moraes

Capítulo
Momentos angular
Segundo Young:
O que existe em comum entre os movimentos de um CD, de uma roda
gigante, de uma serra circular e de um ventilador de teto? Nenhum desses
movimentos pode ser representado adequadamente como o movimento
de um ponto, cada um deles envolve um corpo que gira em torno de um
eixo que permanece estacionário em algum sistema de referência inercial.

6.1 Rotação de corpos rígidos


A rotação ocorre em todas as escalas, desde o movimento de elétrons em
átomos até movimento das galáxias inteiras. Precisamos desenvolver métodos
gerais para analisar o movimento de corpos que giram. Neste capítulo vamos
considerar corpos com tamanho e forma definidos, que no caso geral possui
um movimento de rotação combinado com um movimento de translação
Os corpos do mundo real podem ainda ser mais complexos; as forças que
atuam sobre eles podem deforma-los, esticando-os, torcendo-se e
comprimindo-os. No nosso estudo sobre rotação vamos desprezar essas
deformações, ou seja, vamos supor que o corpo possua uma forma definida e
imutável. Esse modelo de corpo ideal denomina-se CORPO RÍGIDO. Neste
capítulo estudaremos a cinemática e a dinâmica de rotação.

Figura 1. (a) A patinadora em movimento de translação pura, o movimento é ao


longo de uma direção fixa. (b) rotação pura, o movimento é em torno de um eixo fixo.

1
Posição, velocidade e aceleração angulares
Vamos começar nosso estudo sobre a rotação de corpos rígidos em torno
de um eixo fixo.

Figura 2. O ponteiro de velocímetro (um exemplo de corpo rígido girando em sentido


anti-horário em torno de um eixo fixo.

A Figura mostra um corpo rígido girando em torno de um eixo fixo. O eixo


passa através do ponto O perpendicular ao plano do diagrama, ao qual
resolvemos chamar de xy.

Posição Angular
Para descrever o movimento de rotação, a maneira mais natural de medir
o ângulo 𝜃 não é em graus, mas sim, em radianos.
Como mostra a Figura 3a, um radiano (1 rad) é o ângulo submetido
quando o comprimento de arco relativo a esse ângulo for igual ao raio da
circunferência considerada.

Figura 3. Medição de ângulo em radianos.

2
Na Figura 3b, um ângulo 𝜃 é submetido por um arco de comprimento s
em uma circunferência de raio 𝑟.
O valor de 𝜃 (em radianos) é igual a 𝑠 dividido por 𝑟:
𝑠
𝜃=
𝑟

Deslocamento angular
Quando um corpo está em rotação, ele está variando a sua posição
angular de modo que num dado momento ela é definida pelo ângulo 𝜃1 e
num instante posterior é definida pelo ângulo 𝜃2 , de modo que o
deslocamento angular entre os instantes considerados é:
∆𝜃 = 𝜃2 − 𝜃1

Velocidade angular
A coordenada 𝜃 na Figura 2 especifica a posição de rotação de um corpo
rígida em um corpo rígido em um dado instante. Podemos descrever o
movimento de rotação de um corpo rígido em termos de uma taxa de
variação de ângulo 𝜃.
Definimos a velocidade angular média 𝜔𝑚 do corpo em um intervalo de
tempo ∆𝑡 = 𝑡2 − 𝑡1 como a razão entre o deslocamento angular
∆𝜃 = 𝜃2 − 𝜃1 e o intervalo de tempo ∆𝑡.
𝜃2 − 𝜃1 ∆𝜃
𝜔𝑚 = =
𝑡2 − 𝑡1 ∆𝑡

A velocidade angular instantânea 𝜔 é o limite de 𝜔𝑚 quando ∆𝑡 tende a


zero, ou seja, a derivada de 𝜃 em relação a t.
∆𝜃 𝑑𝜃
𝜔 = lim =
∆𝑡→0 ∆𝑡 𝑑𝑡
(Definição de velocidade angular)
A relação com a velocidade escalar média depende apenas do raio da
trajetória, portanto, temos:

3
𝑣𝑚 = 𝜔𝑚 . 𝑅

A velocidade escalar instantânea (𝑣) e a velocidade angular instantânea


(𝜔) relacionam-se desta maneira:

𝑣 = 𝜔 .𝑅

Quando o ângulo é medido em radianos, a unidade de medida da


velocidade angular é o radiano por segundo (rad/s). Outras unidades,
como revolução por minuto (rev/min ou rpm), são frequentemente usadas.
Visto que 1 rev = 2𝜋 , duas conversões úteis são

1 rev/s = 2 𝜋 rad/s
2𝜋
1 rev/ min = 1 rpm = rad/s
60

Velocidade angular como vetor - direção e sentido


O vetor velocidade linear (a nossa velocidade comum) tem a mesma
direção do vetor deslocamento linear. Os dois vetores têm a mesma
direção. Isto pode nos levar a pensar que o vetor velocidade sempre tem
a mesma direção do vetor deslocamento. Isto não acontece, por exemplo,
com a velocidade angular. O vetor velocidade angular faz parte de uma
classe diferente de vetor, em que a direção é dada pelo eixo de rotação.
A velocidade angular é uma grandeza física que mede a "rapidez" com
que um objeto gira. Logo, se o objeto gira então ele o faz em torno de um
eixo de rotação. O eixo é, por definição, perpendicular ao plano de rotação
do objeto.
Exemplo: Temos uma roda girante e a seta que representa o vetor
velocidade angular da roda. A direção da seta é, claro, ao longo do eixo
de rotação. Mas e o sentido do vetor?
O sentido do vetor é uma convenção, isto é, não existe uma razão física
para a sua escolha. A convenção que usamos é chamada "Regra da mão
direita".
A regra se aplica da seguinte maneira: Com a mão direita aberta junte os
dedos e envolva a roda. Os dedos, menos o polegar, devem apontar no
sentido em que a roda está girando. O polegar, por sua vez, indicará o

4
sentido do vetor velocidade angular. Se a roda inverte o sentido da sua
rotação a seta apontará no sentido oposto.

Figura 4. Direção e sentido da velocidade angular.

Aceleração angular
Quando a velocidade angular de um corpo rígido varia, ele possui uma
aceleração angular.
Quando você pelada sua bicicleta com mais vigor para fazer as rodas
pararem, você está imprimindo às rodas uma aceleração angular.
Sendo 𝜔1 a velocidade angular instantânea no instante no instante 𝑡1 e
𝜔2 a velocidade angular instantânea no instante 𝑡2 , definimos a
aceleração angular média 𝛼𝑚 no intervalo de tempo ∆𝑡 = 𝑡2 − 𝑡1 como
a variação da velocidade angular dividida por ∆𝑡:
𝜔2 − 𝜔1 ∆𝜔
𝛼𝑚 = =
𝑡2 − 𝑡1 ∆𝑡
A aceleração angular instantânea 𝛼 e dada por
∆𝜔 𝑑𝜔
𝛼 = lim =
∆𝑡→0 ∆𝑡 𝑑𝑡
(definição de aceleração angular)
A unidade usual de aceleração angular é rad/s2.

5
Aceleração angular como um vetor – direção e sentido
Quando um objeto gira em torno de um eixo fixo z, 𝛼⃗ possui apenas um
componente z. Nesse caso, 𝜔 ⃗⃗ está orientada na mesma direção de
quando a rotação é acelerada e no sentido contrário quando a aceleração
é retardada.

Figura 5. Direção e sentido da aceleração angular.

Rotação com aceleração angular Constante


Quando a aceleração angular é constante, podemos deduzir equações
para a velocidade angular e para a posição angular.
Seja 𝜔0 a velocidade angular de um corpo rígido no instante t = 0 e
seja 𝜔 sua velocidade angular em um instante posterior t. A aceleração
angular 𝛼 é constante e igual a aceleração média para qualquer intervalo.
Ou seja,
𝜔 = 𝜔0 + 𝛼𝑡
Para uma dada posição angular inicial 𝜃0 , A relação entre a posição
angular 𝜃 e o tempo t é dada pela equação
1
𝜃 = 𝜃0 + 𝜔0 𝑡 + 𝛼𝑡 2
2
Ao combinar essas equações, obtemos
𝜔2 = 𝜔02 + 2𝛼∆𝜃
Veja que há uma analogia entre o movimento retilíneo e as grandezas no
movimento de rotação.
6
Movimento Uniformemente Movimento Circular Uniformemente
Variado Variado
Grandezas lineares Grandezas angulares
𝑎𝑚 = constante 𝛼𝑚 = constante
𝑣 = 𝑣0 + 𝑎𝑡 𝜔 = 𝜔0 + 𝛼𝑡

1 1
𝑠 = 𝑠0 + 𝑣0 𝑡 + 𝑎𝑡 2 𝜃 = 𝜃0 + 𝜔0 𝑡 + 𝛼𝑡 2
2 2

𝑣 2 = 𝑣02 + 2𝑎∆𝑠 𝜔2 = 𝜔02 + 2𝛼∆𝜃

Aceleração vetorial
A aceleração resultante (𝑎⃗𝑟 ) é dada pela soma vetorial da aceleração tangencial

(𝑎⃗𝑡 ) e da aceleração centrípeta (𝑎⃗𝑐𝑝 ):

Figura 6. Aceleração resultante no movimento circular


𝑎⃗𝑟 = 𝑎⃗𝑡 + 𝑎⃗𝑐𝑝

2
|𝑎⃗𝑟 | = √|𝑎⃗𝑡 |2 + |𝑎⃗𝑐𝑝 |

|𝑎⃗𝑟 | = √(𝛼𝑅)2 + (𝜔 2 𝑅)2

7
Exemplo:
Um volante circular com o raio 0,4 metros gira, partindo do repouso, com
aceleração angular igual a 2 rad/s².
(a) Qual será a sua velocidade angular depois de 10 segundos?
(b) Qual será o ângulo
descrito neste tempo?
(c) Qual será o vetor
aceleração resultante?
Resolução:
(a) Pela função horária da
velocidade angular:
ω = ω0 + αt
ω = 0 + 2 .10
ω = 20 rad/s
(b) Pela função horária do deslocamento angular:
1
𝜃 = 𝜃0 + 𝜔0 𝑡 + 𝛼𝑡 2
2
1
𝜃 = 0 + 0 + 2. 102
2
𝜃 = 100 𝑟𝑎𝑑

(c) Pelas relações estabelecidas de aceleração tangencial e centrípeta:

8
Exemplo:
O lançador de um disco faz o disco se mover ao longo de uma
circunferência de raio igual a 0,80 m. Em um dado instante, o lançador
gira com velocidade angular de 10 rad/s, que aumenta a 50 rad/s2. Neste
instante, determine a componente tangencial e a componente centrípeta
da aceleração do disco e o módulo da aceleração resultante.

Resolução:
𝑎𝑡𝑔 = 𝑟𝛼 = 0,80 .50,0 = 40 𝑚/𝑠 2
𝑎𝑟𝑎𝑑 = 𝜔2 𝑟 = 102 .0,80 = 80,0 𝑚/𝑠 2
O módulo do vetor aceleração é:

𝑎 = √𝑎𝑡𝑔 2 + 𝑎𝑟𝑎𝑑 2 = 89,4 m/s2

9
Exemplo:
O volante do protótipo de um motor está sendo testado. A posição
angular θ desse volante é dada por:

𝜃 = 2𝑡 3 (rad)
O diâmetro do volante é igual a 0,36m.
a) Ache a o ângulo θ, em radianos nos instantes: t1=2,0 s e t2= 5,0 s.
b) Ache a distância percorrida por uma partícula da periferia do volante
nesse intervalo de tempo.
c) Calcule a velocidade angular média entre t1 e t2 .

Resolução:
a)

𝜃1 = 2 . 23 = 16 𝑟𝑎𝑑
𝜃1 = 2 . 53 = 250 𝑟𝑎𝑑
b) O volante gira com um deslocamento angular de

𝛥𝜃 = 250 – 16 = 234 rad

O raio r é metade do diâmetro, ou 0,18m então:

𝑆 = 𝑟 . 𝜃 = 0,18 . 234 = 42 𝑚

∆𝜃 250−16
c) 𝜔𝑚 = = = 78 𝑟𝑎𝑑/𝑠
∆𝑡 5,0−2,0

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Exemplo:
Você acaba de assistir a um filme em DVD, e o disco está diminuindo a
rotação até parar. A velocidade angular do disco é igual a 27,5 𝑟𝑎𝑑/𝑠 no
instante 𝑡 = 0 𝑠 e sua aceleração angular é constante e igual a
−10 𝑟𝑎𝑑/𝑠 2 . Uma linha PQ na superfície do disco coincide com o eixo Ox
no instante 𝑡 = 0.

a) Qual a velocidade angular do disco no instante 𝑡 = 0,3 𝑠 ?


b) Qual é o ângulo formado entre a linha PQ e o eixo Ox nesse instante?

Solução:
a) Usando a equação:
𝜔 = 𝜔0 + 𝛼𝑡

𝜔 = 27,5 + (−10,0). 0,30 = 24,5 𝑟𝑎𝑑/𝑠


b) Usando a equação:
1
𝜃 = 𝜃0 + 𝜔0𝑡 + 𝛼𝑡 2
2

𝜃 = 0 + 27,5 .0,30 + 0,5 . (−10,0). 0,32 = 7,80 𝑟𝑎𝑑

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Exemplo:
Você foi solicitado para projetar a hélice de um avião que deve girar a
2400 rpm. A velocidade do avião deve ser de 75 m/s, e a velocidade da
extremidade da lâmina da hélice não pode superar 270 m/s.

a) Qual o raio máximo que a hélice pode ter?


b) Com esse raio, qual é a aceleração da extremidade da hélice?

f = 2400 rpm = 2400. 2π/60s = 251 rad/s

a) O módulo da velocidade é dado por:


𝑣𝑒𝑥𝑡𝑟𝑒𝑚 = √𝑣𝑎𝑣𝑖ã𝑜 2 + 𝑣𝑡𝑔 2

Sendo: 𝑣 = 𝜔𝑟

𝑣𝑒𝑥𝑡𝑟𝑒𝑚 2 = 𝑣𝑎𝑣𝑖ã𝑜 2 + 𝜔2 . 𝑟 2

√𝑣𝑒𝑥𝑡𝑟𝑒𝑚 2 − 𝑣𝑎𝑣𝑖ã𝑜 2
𝑟=
𝜔
√2702 − 752
𝑟= = 1,03 𝑚
251
b) A aceleração centrípeta é:
𝑎𝑐𝑒𝑛𝑡 = 𝜔2 . 𝑟
𝑟𝑎𝑑
𝑎𝑐𝑒𝑛𝑡 = 2512 . 1,03 = 65.000 2
𝑠

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Exemplo:
Um disco gira livremente em torno de um eixo horizontal que passa pelo
seu centro. Uma corda é enrolada no disco e um corpo A, ligado à corda,
é deixado cair sob a ação da gravidade. O movimento de A é
uniformemente acelerado.
Em t = 0s, a velocidade do corpo a é v = 0,04 m/s e em t = 2 s, A desce
0,2 m. Achar as acelerações tangencial e centrípeta neste tempo.

𝑎𝑡 2
Corpo A: 𝑥 = 𝑥0 + 𝑣0 𝑡 + 𝑡 𝑣 = 𝑣0 + 𝑎𝑡 𝑡
2
𝑎𝑡 2
𝑥 = 0,04𝑡 + 𝑡 𝑣 = 0,04 + 0,06𝑡
2

𝑣2
Em 𝑡 = 2 s, 𝑥 = 0,2 m 𝑎𝑐 =
𝑟

𝑎𝑡 (0,04+0,06𝑡)2
0,2 = 0,04. 2 + 2
2 𝑎𝑐 =
2 0,1

𝑎𝑡 = 0,06 𝑚/𝑠 2

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6.2 Energia no Movimento de Rotação
Mostramos que o módulo de velocidade de uma partícula em um corpo
rígido rodando em torno de um eixo fixo é
𝑣 = 𝑟𝜔
onde 𝑟 é a distância da partícula ao eixo e 𝜔 é a velocidade angular do
objeto. A energia cinética de uma partícula de massa 𝑚 é então,
1 1
𝑚𝑣 2 = 𝑚𝑟 2 𝜔2
2 2
A energia cinética total do corpo é a soma das energia cinéticas de todas
as partículas que constituem o corpo,

Como 𝜔 é o mesmo para todas as partículas de um corpo rígido:

1
𝐸𝑐 = 𝐼𝜔2
2
onde 𝐼 é o momento de inércia de um corpo em relação ao seu eixo de
rotação, o qual é dado por
𝑛

𝐼 = ∑ 𝑚𝑖 𝑟12
𝑖=0
2
No SI, as unidades de 𝐼 são kg.m .
Observando a equação da energia cinética, notamos que ela é análoga
à expressão da energia cinética translacional:
1
𝐸𝑐 = 𝑚𝑣 2
2
onde o momento de inércia 𝐼 é análogo à massa m (ou inércia), e a
velocidade angular (𝜔) é análoga à velocidade linear (𝑣). Entretanto, o
momento de inércia de um corpo depende da localização do eixo de
rotação, e isto deve ser sempre especificado quando se descreve um
momento de inércia.
Para um corpo que não é composto de massas puntiformes discretas,
mas sim de uma distribuição contínua de matéria, o somatório usado na
definição de momento de inércia 𝐼 deve ser calculado pelos métodos do
cálculo integral.

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Exemplo:
Um engenheiro está projetando parte de uma máquina com três
conectores pesados ligados por suportes leves. Os conectores podem ser
considerados como partículas pesadas conectadas por hastes com
massas desprezíveis.
(a) Qual é o momento de inércia desse corpo em relação a um eixo
perpendicular ao plano do desenho passando no ponto A?
(b) Qual é o momento de inércia desse em torno de um eixo que coincide
com a haste BC?
(c) Se o corpo gira em torno de um eixo perpendicular ao plano do
desenho e passa por A, com velocidade angular 4 rad/s, qual é a sua
energia cinética?

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Momento de Inércia em Relação a Diferentes Eixos de Rotação
O momento de inércia de um corpo depende da localização e da
orientação do eixo. Na figura a seguir damos alguns exemplos

Figura 7. Momento de Inércias de vários corpos

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6.3 Dinâmica do movimento de Rotação
Nesta seção vamos definir uma nova grandeza física, o torque, que
descreve a ação giratória ou efeito de torção de uma força. Verificaremos
que o torque resultante que atua sobre um corpo rígido determina sua
aceleração angular, do mesmo modo que a força resultante sobre um
corpo rígido determina sua aceleração angular, do mesmo modo que a
força resultante sobre um corpo determina sua aceleração linear.
Examinaremos também o conceito de trabalho e potência no movimento
de rotação para compreendermos problemas como a transmissão de
energia de um eixo rotor da direção de um carro.
Finalmente, desenvolveremos um novo princípio de conservação, a lei da
conservação de momento angular.
Torques
Vamos agora definir uma nova grandeza física, o torque, que descreve a
ação giratória ou o efeito de torção de uma força. Verificaremos que o
torque resultante que atua sobre um corpo rígido determina sua
aceleração angular, do mesmo modo que a força resultante sobre um
corpo determina sua aceleração linear. Na figura a seguir, uma chave de
boca é usada para afrouxar uma porca presa firmemente.

Figura 8. Forças aplicadas para causar uma torção


O torque fornece uma medida quantitativa de como a ação de uma
força pode provocar ou alterar o movimento de rotação de um
corpo.

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A figura a seguir mostra três exemplos, de como calcular o torque. O
corpo da figura pode girar em torno de um eixo passando pelo ponto O e
é perpendicular ao plano da figura. A tendência da força 𝐹⃗1 para produzir
rotação em torno do ponto O depende do módulo de 𝐹1 . Depende também
da distância perpendicular 𝑙1 1 entre o ponto O e a linha de ação da força.
Denominamos de 𝑙1 de braço da alavanca ou braço do momento da força
𝐹⃗1 , em torno do ponto O. O torque de 𝐹1 em torno de O será: 𝐹1 𝑙1

Figura 9. Forças aplicadas

O esforço de torção ou torque, é então definido como:


𝜏 = 𝐹 .𝑙

Onde a unidade no SI é N.m.


Desse modo, o braço da alavanca da força 𝐹⃗2 é a distância perpendicular
𝑙2 . Já a linha de ação de 𝐹⃗3 passa pelo ponto de referência O, de modo
que o braço da alavanca 𝐹⃗3 é zero e seu torque em relação ao ponto O é
igual a zero.
Escolhemos como torque positivo o que produz rotação no sentido
contrário ao dos ponteiros do relógio e torque negativo o que
produz rotação no mesmo sentido dos ponteiros do relógio.

Sendo assim os torques de 𝐹⃗1 e de 𝐹⃗2 em torno de O são:


𝜏 = +𝐹1 . 𝑙1 e 𝜏 = −𝐹2 . 𝑙2

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Forma Vetorial do Torque

Na figura a seguir temos as opções para calcular o torque de uma força


𝐹⃗ aplicada em um ponto P definido pelo vetor posição 𝑟⃗ em relação a um
ponto escolhido O.

Figura 10. Braço de alavanca

O torque será :
𝜏 = 𝐹 . 𝑙 = 𝑟 𝐹 𝑠𝑒𝑛𝜙

Onde 𝑙 = 𝑟 é o braço da alavanca e a força perpendicular será 𝐹 𝑠𝑒𝑛𝜙

O torque pode ser representado pelo produto vetorial entre 𝑟⃗ e 𝐹⃗ . Assim:


𝜏⃗ = 𝑟⃗ × 𝐹⃗
A direção do torque é perpendicular ao plano formado por 𝑟⃗ e 𝐹⃗ sendo seu
sentido dado pela regra da mão direita, conforme figura a seguir.

Figura 11. Regra da mão direita.

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Exemplo
Um bombeiro hidráulico, incapaz de afrouxar a conexão de um tubo,
encaixa um pedaço de tubo de sucata (uma alavanca) sobre a haste da
chave de grifo. A seguir ele usa seu peso todo de 900 N, ficando em pé
na extremidade da alavanca. A distância entre o centro da conexão e o
ponto onde o peso atua é 0,80 m, e o eixo da alavanca faz um ângulo de
19º com a horizontal. Calcule o módulo, a direção e o sentido do torque
que ele aplica em torno do centro da conexão do tubo.

Figura 12. (a) Alavanca. (b) Diagrama vetorial.

Resolução:
𝜏 = 𝐹 . 𝑙 = 𝑟 𝐹 𝑠𝑒𝑛𝜙
𝜏 = 900 . 0,8 . 𝑠𝑒𝑛109° = 680 𝑁. 𝑚
Ou

𝜏 = 900 . 0,8 . 𝑠𝑒𝑛71° = 680 𝑁. 𝑚

Uma Visão pela Energia

É possível demonstrar que a energia cinética de um corpo rígido que


possui translação e rotação é dada pela relação:

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Trabalho e Potência do Movimento de Rotação

Figura 13. Uma força tangencial atuando sobre um corpo que gira produz trabalho.

Exemplo
Um anúncio fazendo propaganda da potência desenvolvida pelo motor de
um automóvel afirma que o motor desenvolve 1,49x105 W para uma
rotação de 6000 rpm. Qual o torque desenvolvido pelo motor?

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Momento Angular
Uma grandeza análoga ao momento linear de uma partícula é o momento
angular, uma grandeza vetorial designada por 𝐿⃗⃗.

Figura 14. Momento angular.

Para uma partícula com massa 𝑚, velocidade 𝑣⃗, momento linear e vetor
posição em relação a uma origem O de um referencial inercial, definimos
o momento angular 𝐿⃗⃗ como:
𝐿⃗⃗ = 𝑟⃗ × 𝑝⃗ = 𝑟⃗ × 𝑚𝑣⃗
Que pode ser escrita considerando a componente perpendicular do vetor
𝑝⃗
𝐿 = 𝑚 𝑣 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜙 = 𝑚𝑣𝑙

onde 𝑙 é o braço da alavanca para 𝑝⃗.

É possível demonstrar que A taxa de variação do momento angular de


uma partícula é igual ao torque da força resultante que atua sobre ela.
𝑑𝐿⃗⃗
= 𝑟⃗ × 𝑝⃗ = 𝜏⃗
𝑑𝑡

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Momento Angular de um Corpo Rígido

O momento angular total da fatia do corpo é a soma dos momentos


angulares de todas as partículas.
𝐿 = ∑ 𝐿𝑖 (∑ 𝑚𝑖 𝑟𝑖2 ) 𝜔 = 𝐼𝜔
Podemos adotar esse procedimento para todas as fatias do corpo
paralelas ao plano xy. O nos dará por final, após análise:

𝐿⃗⃗ = 𝐼⃗𝜔

Vale também para um sistema de partículas:


𝑑𝐿⃗⃗
∑ 𝜏⃗ =
𝑑𝑡

Exemplo

A hélice da turbina de um motor a jato possui momento de inércia 2,5


kg.m2 em torno do eixo de rotação. Quando a turbina começa a girar, sua
velocidade angular em função do tempo é dada por:
𝜔 = 40𝑡 2
a) Calcule o momento angular da hélice em função do tempo e ache seu
valor em 𝑡 = 3 𝑠.
b) Determine o torque resultante que atua sobre a hélice em função do
tempo e calcule seu valor para 𝑡 = 3𝑠.

𝐿 = 𝐼 𝜔 = 2,5.40𝑡2 = 100𝑡 2
No instante 𝑡 = 3 𝑠 𝐿 = 900 𝑘𝑔. 𝑚2 /𝑠
𝑑𝐿
𝜏=
𝑑𝑡
No instante 𝑡 = 3 𝑠
𝜏 = 200 . 3 = 600 𝑁. 𝑚

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Lei da Conservação do momento angular
Essa conservação decorre diretamente da relação:
𝑑𝐿⃗⃗
∑ 𝜏⃗ =
𝑑𝑡

Quando ∑ 𝜏⃗ = 0, , então 𝐿⃗⃗ é constante.

Quando o torque externo resultante que atua sobre um sistema é


igual a se, o momento angular do sistema permanece constante, se
conserva.

Aplicações
Um patinador que dá uma pirueta apoiado na ponta de um patim sobre o
gelo, um acrobata e um mergulhador, todos utilizam esse princípio.
Suponha que um acrobata acabou de sair de um salto com os braços e
pernas estendidos, girando no sentido anti-horário em tono de seu centro
de massa. Quando ele fecha os braços e as pernas, seu momento de
inércia 𝐼𝑐𝑚 em relação ao centro de massa passa de um valor grande 𝐼1 a
um valor menor 𝐼2 .
A única força externa que atua sobre o acrobata é seu peso, que não
possui nenhum torque em relação ao eixo que passa pelo centro de
massa. Logo, o momento angular da acrobata 𝐿𝑧 = 𝐼𝑐𝑚 𝜔𝑧 , permanece
constante, e sua velocidade angular 𝜔 cresce a medida que 𝐼𝑐𝑚 diminui.
Ou seja:
𝐼1 𝜔1𝑧 = 𝐼2 𝜔2𝑧

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Exemplo
Um acrobata está em pé sobre uma mesa giratória, mantendo os braços
estendidos horizontalmente com um halteres de 5 kg em cada mão. Ele
está girando em torno de um eixo vertical e completa uma volta em 2,0 s.
Calcule a nova velocidade angular do acrobata, quando ele aproxima os
dois halteres do estômago, e discuta como isso modifica sua energia
cinética. Seu momento de inércia (sem os halteres) é igual a 3,0 kg.m2,
quando seus braços estão estendidos, diminuindo para 2,2 kg.m2 quando
suas mãos estão próximas do estômago. Os halteres estão inicialmente
a uma distância de 1,0 m do eixo e a distância final é igual a 0,20 m.
Considere os halteres como partículas.

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Exemplo
A Figura mostra duas rodas A e B, ligadas por uma correia. O raio de B é
três vezes maior do que o de A. Qual seria a razão dos momentos de
inércia IA/IB, se (a) ambas tivessem o mesmo B momento angular e (b)
ambas tivessem a mesma energia cinética de rotação? Suponha que a
correia não escorregue.

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REFERÊNCIAS

Bibliografia Básica:

SEARS, M. W. Z; YOUNG, H. D; FREEDMAN, R. A. Física I: Mecânica.


12ª edição. Editora Addison- Wesley Publi, 2008.

HALLIDAY, R; RESNICK, R; WALKER, J. Fundamentos de Física:


Mecânica. 4ª edição. Rio de Janeiro. Editora LTC, 2002 (vol.1).

TIPLER, Paul A. Mecânica, Oscilações e Ondas, Termodinâmica. 6ª


edição. Rio de Janeiro. Editora LTC, 2012

Bibliografia Complementar:
NUSSENSVEIG, H. M. Curso de Física Básica: Mecânica. 4ª edição. São
Paulo. Editora Blücher, 2002

JEWETT JR, J. W., SERWAY, R. A. Princípios de Física: Volume I:


Mecânica Clássica. 1 ed. São Paulo: CENGAGE LEARNING, 2012.

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Lista de exercício (não avaliativa)

Cinemática da rotação
1. Uma partícula de massa 3kg realiza um movimento circular uniforme com
velocidade de módulo constante, descrevendo um raio de 4m e dando 720
voltas no sentido horário em 3 minutos. Determine:
a) o período e afrequência (resp: 1/4 s; 4 Hz);
b) o módulo da aceleração centrípetra (resp: 256π2 m/s2);
c) o módulo da força centrípetra (resp: 768π2 N);
d) o módulo da aceleração tangencial, se existir (resp: at = 0);
e) a aceleração resultante (resp: 256π2 m/s2);
f) o módulo da velocidade angular (resp: 8π rad/s).

2. A equação horária S = 100 + 20t, no S.I, descreve o movimento circular de uma


partícula que realiza um movimento circular uniforme de raio 2m. Determine:
a) a sua frequência e período (resp: f = 5/π Hz; T = π/5 s);
b) a velocidade angular, em módulo (resp: 10 rad/s);
c) o nº de voltas que a partícula dá em 20 segundos (resp: 100/π voltas);
d) o módulo da aceleração centrípetra (resp: 200 m/s2); e) o nº de voltas que
ela gasta para percorrer 6280m (resp: resp: 500 voltas).

3. Calcule a frequência e o período das extremidades dos ponteiros de hora,


minuto e segundo de um relógio, em Hz e em segundo respectivamente.
Ponteiro de segundos: T = 60s ; f = 1/60 Hz
Ponteiro de minutos; T = 3600 s; f = 1/3600 Hz
Ponteiro de horas: T = 43200 s; f = 1/43200 Hz

4. Duas polias A e B de raios respectivamente 20 cm e 10 cm estão acopladas


por um fio ideal que passa pelas suas periferias sem deslizar. A polia A gira com
frequência de 40 Hz. Calcule:
a) a frequência da polia B (resp: 80 Hz);
b) a velocidade angular das polias A e B (resp: ωA= 80π rad/s; ωB = 160π
rad/s);
c) a velocidade linear das polias A e B (resp: vA = 1600π cm/s; vB = 1600π
cm/s) ;
d) a aceleração centrípeta da polia A (resp: 128000π2 cm/s2);
e) a aceleração centrípeta da polia B (resp: 256000π2 cm/s2).

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Torque
5. (Uerj 2014) A figura abaixo ilustra uma ferramenta utilizada para apertar ou
desapertar determinadas peças metálicas.

Para apertar uma peça, aplicando-se a menor intensidade de força possível,


essa ferramenta deve ser segurada de acordo com o esquema indicado em:

a)

b)

c)

d)
6. (UFSM) Segundo o manual da moto Honda CG125, o valor aconselhado do
torque, para apertar a porca do eixo dianteiro, sem danificá-la, é 60 Nm. Usando
uma chave de boca semelhante à da figura, a força que produzirá esse torque
é:

a) 3,0 N b) 12,0 N c) 30,0 N d) 60,0 N e) 300,0 N

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