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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS


DEPARTAMENTO DE FÍSICA
DISCIPLINA: Laboratório de Física A CÓDIGO: FIS 224
EXPERIMENTO 3: PÊNDULO SIMPLES

1 – Objetivo
Nesta prática será obtido o valor do módulo da aceleração da gravidade por meio de
análise gráfica e serão observadas a dependência do período do pêndulo simples com a massa
e comprimento do fio.

2 – Introdução
O pêndulo simples consiste em corpo de massa 𝑚 (massa pontual), preso em uma das
extremidades de um fio ideal (desconsidera-se a massa do fio, já que 𝑚𝑓𝑖𝑜 ≪ 𝑚𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜 ), sendo
a outra extremidade fixa em um suporte. Ao se deslocar a massa por um ângulo 𝜃 qualquer em
relação à sua posição de equilíbrio, e soltá-la, ela executará um movimento periódico.

(a) (b)

Figura 1. (a) Ilustração do sistema físico pêndulo simples. A força peso 𝑃⃗ e a tensão 𝑇

atuam sobre o corpo de massa 𝑚. 𝜃 é o ângulo que o fio faz com a vertical, 𝐿 é o
comprimento do pêndulo. (b) Círculo com um eixo fixo na origem O, de raio 𝑟, mostrando
o relacionamento entre o comprimento de arco 𝑆 e o ângulo 𝜃.

⃗ e a força peso 𝑃⃗ = 𝑚𝑔 são as forças que atuam sobre o corpo de massa 𝑚


A tensão 𝑇
(Figura 1a). A componente tangencial da força gravitacional sempre atua no sentido oposto ao
deslocamento, isto é, sempre aponta para a posição de equilíbrio, no sentido de redução do
ângulo 𝜃 (𝜃 → 0), o que caracteriza essa componente como uma força restauradora (sinal
negativo nas expressões a seguir). A componente radial é a que atua com uma tensão no fio.

1
De acordo com a segunda lei de Newton (∑ 𝐹𝑡𝑎𝑛𝑔𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 = 𝑚𝑎𝑡𝑎𝑛𝑔𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 ), considerando – se
as componentes tangenciais:
2
−𝑚𝑔𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑚 𝑑 𝑆⁄𝑑𝑡 2 (1)

Em que 𝑆 é o comprimento de arco (posição medida ao longo do arco). A relação entre o


comprimento de arco 𝑆 e o ângulo 𝜃 (em radianos) é dada por: 𝑆 = 𝐿𝜃 (Figura 1b). Dessa
forma, a velocidade e a aceleração serão dadas, respectivamente, por: 𝑣 = 𝑑𝑆⁄𝑑𝑡 = 𝐿 𝑑𝜃⁄𝑑𝑡
e 𝑎 = 𝑑2 𝑆⁄𝑑𝑡 2 = 𝐿 𝑑 2 𝜃⁄𝑑𝑡 2 . Substituindo-se a aceleração na equação 1, tem-se:
𝑔 2
−( ⁄𝐿)𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑑 𝜃⁄𝑑𝑡 2 (2)
De acordo com a Figura 1b, considerando-se um movimento ao redor do círculo de
raio 𝑟 (fixado na origem), a distância 𝑟 é constante, enquanto o ângulo 𝜃 muda com o tempo.
Apesar de ser um número puro, adota-se a unidade radianos tal que 360° corresponda a um
ângulo dado por (2𝜋𝑟⁄𝑟) 𝑟𝑎𝑑 = 2𝜋 𝑟𝑎𝑑. Portanto, para fazer a conversão de um ângulo em
graus para um ângulo em radianos (1 𝑟𝑎𝑑 = 360°⁄2𝜋), usa-se:
𝜃(𝑟𝑎𝑑) = (𝜋⁄180°)𝜃(𝑒𝑚 𝑔𝑟𝑎𝑢𝑠) (3)
Note que, de acordo com a equação (2), o movimento não é harmônico simples devido
a presença do termo 𝑠𝑒𝑛𝜃. A intenção é conhecer o comportamento da oscilação do pêndulo
em torno da posição de equilíbrio. Nesse contexto, utiliza-se uma expansão em série de Taylor
da função em torno de um certo ponto, o qual se deseja conhecer o comportamento. Para o
caso do 𝑠𝑒𝑛𝜃, considerando-se apenas os quatro primeiros termos da soma infinita, chega-se
à:
3 5 7
𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝜃 − 𝜃 ⁄3! + 𝜃 ⁄5! − 𝜃 ⁄7! + ⋯ (4)
Para ângulos pequenos (𝜃 ≪ 1, 𝑒𝑚 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑎𝑛𝑜𝑠), os termos de ordem superior a 𝜃 podem ser
desconsiderados tal que 𝑠𝑒𝑛𝜃 ≈ 𝜃. À vista disso, a equação (2) pode ser reescrita da seguinte
maneira:

𝑑2 𝜃⁄ 2 2 𝑔 2𝜋⁄ = 2𝜋√𝐿⁄
𝑑𝑡 2 + 𝜔 𝜃 = 0, em que 𝜔 = 𝐿 e 𝑇 = (5)
⁄ 𝜔 𝑔

Portanto, o movimento de um pêndulo simples de frequência angular 𝜔 e período 𝑇 é


aproximadamente um movimento harmônico simples considerando deslocamento angulares
pequenos (menores do que 15°).
No caso geral, sem a aproximação de pequenos ângulos, ainda desprezando qualquer
força dissipativa, o período não é constante e depende do deslocamento angular da forma:
𝐿 1 𝜃𝑚 1 32 𝜃𝑚
𝑇 = 2𝜋√𝑔 [1 + (22 ) 𝑠𝑒𝑛2 ( ) + (22 ) (42 ) 𝑠𝑒𝑛4 ( ) + ⋯ ], (6)
2 2

2
em que θm é o deslocamento angular máximo da massa (amplitude de oscilação). Pode-se,
então, concluir que, no caso da oscilação de um pêndulo com amplitude inferior a 15º, os
termos senoidais são muito pequenos, sendo o período dependente praticamente apenas do
comprimento L e da aceleração gravitacional, como observado em (5).
A Figura 2 apresenta o conceito de período 𝑇 envolvido na prática. Observe que
período é o intervalo de tempo que separa dois pontos consecutivos de oscilação com a mesma
configuração temporal, isto é, o tempo que o pêndulo precisa para completar um ciclo
completo como mostra cada etapa da figura. Esse ciclo seria um movimento de oscilação que
se inicia em uma posição referência qualquer e volta a sua posição original.

𝟖. 𝟗𝟖𝟐 − 𝟒. 𝟒𝟗𝟒 = 𝟒. 𝟒𝟖𝟖 ≈ 𝟒. 𝟒𝟗 𝒔


Figura 2. Etapas de uma oscilação completa ilustrando a definição de período 𝑇. As imagens foram
geradas usando uma simulação disponível na internet. Fonte: https://www.walter-
fendt.de/html5/phen/pendulum_en.htm.

3
3 – Metodologia

3.1 - Material Utilizado


Objetos de diferentes massas, um fio cuja massa é muito menor do que a massa dos objetos,
uma trena, um transferidor e cronômetro.

3.2 – Procedimentos

Primeira Parte: Variação do comprimento L do fio do pêndulo simples

O aparato experimental para realização das medidas é mostrado na Figura 3. Um


objeto de massa 𝑚 é conectado a um fio, que por sua vez está preso no teto. O transferidor na
parte superior auxilia a marcação angular em que o pêndulo será solto. O comprimento do fio
𝐿 é mensurado por meio de uma trena, cuja referência para a medida é realizada na conexão
do objeto com o fio, a qual está indicada na Figura 3 por uma reta azul escuro.

Primeira Parte: Variação do comprimento L do fio do pêndulo simples

Passos para realização das medidas:

1. Selecione o objeto de massa 𝑚, conecte ao fio e ajuste o fio para que ele fique com o
seu maior comprimento possível de acordo com o aparato experimento disponível.
2. Ajuste a amplitude angular do pêndulo em tono de 13°.
3. Faça a medida do comprimento do fio. Realize a medida de 10 (dez) oscilações
completas utilizando um cronômetro. Determine o período médio desse pêndulo (T =
tempo das 10 (dez) oscilações completas/10). Repita este procedimento mais cinco
vezes para diferentes comprimentos de fio.
4. Complete a tabela abaixo, mantendo todos os valores em unidades do SI.

4
Transferidor

Fio Referência para a


medida do
comprimento

Objeto de massa 𝑚

Figura 3. Aparato experimental para o pêndulo simples.

𝑡10 𝑜𝑠𝑐𝑖𝑙𝑎çõ𝑒𝑠 (𝑠)


Cronômetro Resultado final
10
(𝑳 ± ∆𝑳) 𝒎 (𝒕𝟏𝟎 𝒐𝒔𝒄𝒊𝒍𝒂çõ𝒆𝒔 ± ∆𝒕) 𝒔 𝑻 (𝒔) (𝑻 + 𝝈𝑻 ) 𝒔

𝑚=( ± ) 𝑘𝑔

5
Observação 1: A incerteza no período, 𝝈𝑻 , deve ser obtida pelo método da derivada
(apresentar as contas em anexo).
Observação 2: Note que o cronômetro utilizado é um instrumento digital. Esse instrumento
não fornece erro na sua leitura direta. Usualmente, o fabricante do instrumento fornece a
incerteza avaliada. De maneira geral, para instrumento digitais1, tem-se: ∆𝜀 = %(𝑙𝑒𝑖𝑡𝑢𝑟𝑎) +
𝑋 (𝑑í𝑔𝑖𝑡𝑜𝑠 𝑛𝑜 ú𝑙𝑡𝑖𝑚𝑜 𝑎𝑙𝑔𝑎𝑟𝑖𝑠𝑚𝑜). Para o cronômetro utilizado, caso você não tenha acesso
ao manual para verificar a incerteza corretamente, considere a incerteza avaliada dada por:
∆𝜀 = ±0,5% 𝑑𝑎 𝑙𝑒𝑖𝑡𝑢𝑟𝑎.

Segunda Parte: Variação da massa do pêndulo simples

1. Meça a massa do objeto a ser utilizado. Selecione o objeto de massa 𝑚, conecte ao fio
e ajuste o fio para que ele fique com o um comprimento qualquer. Sugestão: Use um
comprimento entre 1,000 – 2,000 𝑚.
2. Ajuste a amplitude angular do pêndulo em tono de 13°.
3. Faça a medida do comprimento do fio. Realize a medida de 10 (dez) oscilações
completas utilizando um cronômetro. Determine o período médio desse pêndulo (T =
tempo das 10 (dez) oscilações completas/10). Repita este procedimento mais cinco
vezes para diferentes objetos (diferentes massas).
4. Complete a tabela abaixo, mantendo todos os valores em unidades do SI. As incertezas
indicadas na tabela são estimadas.
𝑡10 𝑜𝑠𝑐𝑖𝑙𝑎çõ𝑒𝑠 (𝑠)
Cronômetro Resultado final
10
(𝒎 ± ∆𝒎) 𝒌𝒈 (𝒕𝟏𝟎 𝒐𝒔𝒄𝒊𝒍𝒂çõ𝒆𝒔 ± ∆𝒕) 𝒔 𝑻 (𝒔) (𝑻 + 𝝈𝑻 ) 𝒔

𝐿=( ± )𝑚

1
Santoro, A.; Oguri, V.; Mahon, J. R. Estimativas e erros em experimentos de física. Coleção
Comenius, Editora da UERJ, 2008.
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Observação 1: A incerteza no período, 𝝈𝑻 , deve ser obtida pelo método da derivada
(apresentar as contas em anexo).
Observação 2: Note que o cronômetro utilizado no celular é um instrumento digital. Esse
instrumento não fornece erro na sua leitura direta. Usualmente, o fabricante do instrumento
fornece a incerteza avaliada. De maneira geral, para instrumento digitais2, tem-se:
∆𝜀 = %(𝑙𝑒𝑖𝑡𝑢𝑟𝑎) + 𝑋 (𝑑í𝑔𝑖𝑡𝑜𝑠 𝑛𝑜 ú𝑙𝑡𝑖𝑚𝑜 𝑎𝑙𝑔𝑎𝑟𝑖𝑠𝑚𝑜). Para o cronômetro utilizado, caso
você não tenha acesso ao manual para verificar a incerteza corretamente, considere a incerteza
avaliada dada por: ∆𝜀 = ±0,5% 𝑑𝑎 𝑙𝑒𝑖𝑡𝑢𝑟𝑎.

4 – ATIVIDADE EXPERIMENTAL 3 (AE3)

Primeira Parte: Variação do comprimento L do fio do pêndulo simples

1. Foi sugerido medir o tempo de dez (10) oscilações (vários períodos) e determinar a
média do período ao invés de cronometrar apenas um período. Quais são as vantagens
dessa abordagem?
2. Faça o gráfico de 𝑇 versus 𝐿 em um papel milimetrado. Discuta se o comportamento
observado está de acordo com a relação entre 𝑇 e 𝐿 obtida na equação (5).
3. Faça um gráfico linearizado em outra folha de papel milimetrado. Apresente o seu
raciocínio (cálculo) para fazer a linearização da equação.
4. Utilizando o método da melhor reta visual, encontre os coeficientes angular e linear
da reta e escreva o relacionamento analítico entre as grandezas 𝑇 e 𝐿.
5. Qual é o significado físico dos coeficientes encontrados?
6. Determine graficamente o módulo da aceleração da gravidade 𝑔. Escreva o resultado
final para 𝑔 utilizando como referência o número de algarismos significativos
utilizados no resultado final da sua tabela. O valor obtido está de acordo com o valor
nominal conhecido? Quais seriam as possíveis fontes de erros no caso desse
experimento?
7. Faça um gráfico linearizado utilizando uma folha de papel dilog. Apresente o seu
raciocínio (cálculo) para fazer a linearização da equação. Utilizando o método da

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Santoro, A.; Oguri, V.; Mahon, J. R. Estimativas e erros em experimentos de física. Coleção
Comenius, Editora da UERJ, 2008.
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melhor reta visual, encontre os coeficientes angular e linear da reta e escreva o
relacionamento analítico entre as grandezas 𝑇 e 𝐿.
8. Calcule o termo entre parênteses da equação (6) para 𝜃 = 10°, 𝜃 = 30° e 𝜃 = 70°
considerando os três primeiros termos da expansão. Escreva o resultado em função do
período 𝑇1 , ou seja:
1 𝜃𝑚 1 32 𝜃𝑚
𝑇 = 𝑇1 [1 + ( 2 ) 𝑠𝑒𝑛 ( ) + ( 2 ) ( 2 ) 𝑠𝑒𝑛4 ( )]
2
2 2 2 4 2
Discuta o resultado em termos da validade da aproximação para pequenos ângulos.
Baseado no seu resultado, o que você esperaria de um experimento em que se estude
a relação entre o período e a amplitude de oscilação do pêndulo simples?
9. Suponha que você realize o mesmo experimento acima (variação do comprimento do
fio do pêndulo simples) no planeta Júpiter, onde 𝑔 = 24,79𝑚/𝑠 2 . O que você espera
que aconteça com o período 𝑇 do pêndulo simples? O que você espera que aconteça
com o coeficiente angular da reta já linearizada (inclinação)?
10. Considerando-se a oscilação de um pêndulo simples quando o pêndulo passa
exatamente na posição de equilíbrio. Nessa situação, qual é a direção da aceleração?
Justifique. Quando o pêndulo estiver em uma das extremidades (direita ou esquerda).
Nessa situação, qual é a direção da aceleração? Justifique.

Segunda Parte: Variação da massa do pêndulo simples

1. Faça um gráfico em papel milimetrado de 𝑇 versus 𝑚.


2. O que se pode concluir a partir da análise do gráfico? Qual a relação observada entre
o período e a massa do pêndulo simples? Essa relação está de acordo com a equação
(5)? Discuta.

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