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Oscilações: o pêndulo simples

IF/UnB - Física 2 Experimental

Objetivo: Caraterizar o movimento oscilatório de um pêndulo real e as condições em que ele


pode ser considerado um pêndulo simples. Descrever matematicamente as variáveis relevantes de
um sistema oscilante por meio de uma análise dos dados coletados.
Conhecimentos explorados: Leis de Newton, momento de inércia, forças características em
sistemas oscilantes, ferramentas gráficas e de aquisição de dados.

MATERIAIS

• Pêndulo fisico com duas massas acoplado a sensor


de ângulo,
• Placa de aquisição de dados DrDaq (Pico Techno-
logy),
• Software de aquisição de dados DrDaq,
• Computador,
• Balança de precisão (0.1 g),
• Régua milimetrada.

INTRODUÇÃO

A quase totalidade dos fenômenos físicos no mundo


envolve direta ou indiretamente algum tipo de oscilação.
Conseqüentemente, a física das oscilações é um tópico
de suma importância e entendê-la bem significa estar a
meio caminho de entender uma boa parte da fenomeno-
logia da maioria dos processos físicos. Historicamente,
pode-se dizer que o pêndulo representa o início do es-
tudo das oscilações e nos dedicaremos a entendê-lo com Figura 1. Diagrama de forças do pêndulo simples.
cuidado. Vamos reproduzir aqui a descrição matemática
do movimento de um pêndulo.
Considere o pêndulo simples descrito na figura 1, que ou, resumidamente,
também mostra as forças envolvidas em um dado instante
da oscilação. Para que um movimento seja oscilatório é d2 θ g
2
= − sin θ. (2)
necessário existir uma força de restauração, que cresce dt L
na medida em que se afasta de uma determinada posição
Essa é a equação de movimento. A solução exata dessa
e aponta sempre em direção a essa posição, conhecida
equação é difícil, mas pode-se obter uma boa aproxima-
como posição de equilíbrio. Se a força crescer propor-
ção para ângulos pequenos que a torna muito mais sim-
cionalmente com a distância de afastamento da posição
ples. Para isso basta notar que o seno do ângulo é dado
de equilíbrio do sistema, o resultado é conhecido como
pela seguinte série de Taylor:
movimento harmônico simples. No caso do pêndulo, a
variável que oscila é o ângulo θ em torno da linha ver-
θ3
tical e sobre o objeto oscilante atuam a força peso e a sin θ = θ − + ... (3)
3!
tensão da corda que o sustenta.
A componente da força tangencial à trajetória é a força Para ângulos bem pequenos, o termo cúbico é muito me-
restauradora. A distancia percorrida pelo objeto pode ser nor que o termo linear e pode ser desprezado com boa
descrita por Lθ, em que θ é medido em radianos. Assim, precisão. Para se ter uma idéia, um ângulo de 10º cor-
pode-se escrever a seguinte equação responde a 0,1745 radianos. O seno desse ângulo é
d2 (Lθ)
F = ma = m = −mg sin θ, (1) sin(0, 1745 rad) = 0, 1736,
dt2
2

ou seja, até cerca de 10º comete-se um erro de cerca de


0,5% ao assumir que sin θ = θ. Assim, mantendo-se ape-
nas o primeiro termo, a equação de movimento fica sim-
plificada,
d2 θ g
2
= − θ, (4)
dt L
e agora possui solução exata. Se no instante t = 0 s o
pêndulo estiver deslocado da posição de equilíbrio de um
ângulo θ0 , então é fácil verificar que a solução para essa
equação é dada por
θ(t) = θ0 cos(ωt + φ), (5)
em que φ é um ângulo arbitrario que serve para ajustar a
posição do tempo t = 0. Substituindo (5) em (4), pode-se
mostrar que a frequência angular ω, em rad.s−1 , é dada
por
r
2π g
ω= = , (6)
T L
de onde se deduz que o período de um pêndulo simples
no limite de pequenas amplitudes, ou seja, θ0 pequeno,
não depende da amplitude e é dado por
s
L
T = 2π . (7)
g
Na medida em que a amplitude de oscilação aumenta, Figura 2. Pêndulo utilizado no experimento.
o período deixa de ser constante e passa a depender da
própria amplitude de oscilação. A condição para se ter
um período independente da amplitude de oscilação é a em que θ0 é o ângulo de lançamento do pêndulo, ou seja,
de que a força restauradora seja sempre proporcional ao
p
o ângulo máximo, e T0 = 2π L/g é o limite do período
afastamento da posição de equilíbrio. Digamos que se para pequenas amplitudes. O resultado algébrico mostra
queira iniciar a oscilação com θ = 90◦ = π/2 rad. Para que, como esperado, o período cresce com o ângulo.
esse ângulo, a força restauradora é igual ao próprio peso
mg. Por outro lado, se fossemos obedecer à regra de que o
afastamento é proporcional ao deslocamento, deveríamos O PÊNDULO DO LABORATORIO
ter uma força restauradora igual a θmg, ou seja, 1, 72 ×
mg, cerca de 70% superior ao valor real. Assim, para
Descrição: A figura 2 é uma ilustração do pêndulo
esses grandes ângulos, a força restauradora é menor que
que é usado no laboratório. Ele é constituído de um eixo
a força que deveria existir para um movimento harmônico
de sustentação, uma haste de aço (densidade = 0,384
simples. Conseqüentemente, o objeto é menos acelerado
g/cm) de 2 mm de diâmetro e 90 cm de comprimento e
de volta à sua posição de equilíbrio do que seria esperado,
um peso de ferro. Pode-se mover a posição desse peso
resultando em um aumento do tempo gasto para retornar
pela haste, o que permite investigar a dependência do
à posição de equilíbrio. Em outras palavras, o período
período do pêndulo em função da distância desse peso ao
aumenta com a amplitude de oscilação.
eixo de sustentação. Um segundo peso será introduzido
A dependência do período com a amplitude pode ser
mais à frente, quando tratarmos do pêndulo físico com
estimada levando-se em consideração a expansão em série
duas massas. A leitura manual do ângulo pode ser feita a
de Taylor do seno do ângulo ou por considerações de
partir do cursor angular que se move junto com o pêndulo
energia. É possível mostrar que a solução aproximada
sobre um transferidor graduado feito de aço.
para o período do pêndulo é dada por
Medindo o periodo de oscilação manualmente:
s     O período pode ser medido utilizando-se um cronômetro
L 1 θ0
T (θ0 ) = 2π 1 + sin2 + ... ou utilizando o sistema de aquisição de dados ligado ao
g 4 2 (8) computador. Este último é a forma como os dados são
   
1 2 θ0 coletados no laboratório.
= T0 1 + sin + ... ,
4 2 Medindo o ângulo de oscilação com o sistema de
3

aquisição de dados: O eixo de sustentação do pêndulo tela da simulação e confira os valores dessas grandezas
está acoplado a um sensor angular (desenvolvido aqui em função do tempo.
mesmo no laboratório), que permite ao computador fazer A simulação também permite que você coloque uma ré-
uma leitura da posição angular do pêndulo (em graus). gua (ruler) ou um cronômetro (stopwatch) na tela.
Tipicamente, a precisão da leitura angular é de aproxi- Há também um medidor do período do pêndulo. Clique
madamente ±1 grau (um bom exercício é verificar isso). no item correspondente na parte esquerda inferior da tela
para medir o período do seu pêndulo oscilando.

ANALISANDO OS DADOS COLETADOS a) Efeito da amplitude θ0 no período de oscila-


ção T (medida de T em função de θ0 ).
Esse procedimento visa mostrar que o período do pên-
Os dados coletados correspondem à variação do ângulo
dulo aumenta com a amplitude de oscilação.
θ com o tempo. Como o pêndulo oscila, é natural que a
função que descreve a oscilação seja dada por uma função 1. Na simulação, mantenha fixos os valores de com-
oscilatória no tempo, do tipo primento do pêndulo, massa e gravidade. Mante-
nha o botão que controla o atrito (friction) em zero
θ(t) = θ0 cos(ωt + φ). (9) (none).
O período de oscilação T está relacionado com a 2. Coloque o pêndulo para oscilar com amplitude
freqüência angular por ω = 2π/T . Lembramos que no ≈ 50◦ e meça o período do pêndulo.
tempo t = 0, o pêndulo pode se encontrar em uma posi-
ção arbitrária. Essa posição arbitrária pode ser ajustada 3. Varie a amplitude e meça o período novamente.
através do ângulo de fase φ . Escrevendo-se φ = 2πt0 /T , Faça ≈ 10 variações da amplitude, entre ≈ 50◦ e
a expressão 9 assume a forma: ≈ 3◦ . Faça uma tabela contendo os seus dados de
  período e amplitude.

θ(t) = θ0 cos (t − t0 ) , (10) 4. Faça um gráfico do período em função do seno ao
T
quadrado da metade da amplitude, ou seja, T vs
em que t0 corresponde ao tempo que se deve aguardar, sin2 (θ0 /2) e compare o seu resultado com a expres-
desde o instante em que foi iniciada a aquisição, para que são (8) (obs: lembre-se que o ângulo usado no ar-
o pêndulo chegue à posição de ângulo máximo. gumento de funções trigonométricas é radiano. As-
sim, dependendo do instrumento usado para calcu-
lar o seno, pode ser necessária uma conversão).
PROCEDIMENTOS DE MEDIDA
5. Faça uma regressão linear dos dados e verifique se
Devido à pandemia do novo Coronavirus não teremos o coeficiente angular da reta é igual a T0 /4, como
aulas presenciais. Isso significa que não poderemos fa- previsto em (8) (ou equivalentemente, que a razão
zer as medidas no laboratório, utilizando o Pêndulo mos- entre o coeficiente angular e o ponto de corte é igual
trado na Figura 2. Faremos, então, uma simulação do a 1/4).
experimento com um pêndulo simples. O objetivo é ve-
b) Efeito da distância L, do peso ao eixo, no
rificar, utilizando uma simulação do experimento, a de-
periodo de oscilação (T em função de L).
pendência do período do pêndulo com os seguintes fato-
res: amplitude do movimento, comprimento do pêndulo, 1. Na simulação, mantenha fixos os valores de massa e
massa do pêndulo e valor da aceleração da gravidade. gravidade. Mantenha o botão que controla o atrito
Abra o experimento do Pêndulo no site PHET (friction) em zero (none).
https://phet.colorado.edu/sims/html/pendulum-
lab/latest/pendulum-lab_pt_BR.html 2. Coloque o pêndulo para oscilar com amplitude
e selecione a opção “Lab”. . 10◦ e meça o período do pêndulo.
A simulação permite alterar os seguintes parâmetros
do pêndulo: comprimento, massa, o valor da gravidade e 3. Faça ≈ 10 variações do comprimento, entre ≈ 0, 1m
a presença (e intensidade) de atrito. e ≈ 1m. Em todas as medidas mantenha a ampli-
Para colocar o pêndulo em movimento, arraste massa até tude constante. Faça uma tabela contendo os seus
um ângulo à sua escolha e solte a massa. O pêndulo pas- dados de período e comprimento.
sará a oscilar. √
4. Faça um gráfico do período T em função de L e
Com o pêndulo oscilando, a simulação pode mostrar na verifique se o resultado obedece à expressão (7).
sua tela o vetor velocidade da massa, o vetor aceleração e √
um gráfico da energia, todos em função do tempo. Clique 5. A partir do gráfico de T vs L, encontre o valor de
nos itens correspondentes na parte superior esquerda da g que você usou na simulação.
4

c) Efeito da massa, m, no periodo de oscilação 1. Na simulação, mantenha fixos os valores de com-


(T em função de m). primento e massa. Mantenha o botão que controla
o atrito (friction) em zero (none).
1. Na simulação, mantenha fixos os valores de compri- 2. Coloque o pêndulo para oscilar com amplitude
mento e gravidade. Mantenha o botão que controla . 10◦ e meça o período do pêndulo.
o atrito (friction) em zero (none).
3. Faça ≈ 10 variações da aceleração da gravidade,
entre ≈ 0, 1 m/s2 e ≈ 25 m/s2 . Em todas as
2. Coloque o pêndulo para oscilar com amplitude
medidas mantenha a amplitude constante. Faça
. 10◦ e meça o período do pêndulo.
uma tabela contendo os seus dados de período e
aceleração da gravidade.
3. Faça ≈ 10 variações da massa, entre ≈ 0, 1kg e √
≈ 1, 5kg. Em todas as medidas mantenha a ampli- 4. Faça um gráfico do período T em função de 1/ g
tude constante. Faça uma tabela contendo os seus e, a partir da análise do gráfico, obtenha o valor de
dados de período e massa. L usado na simulação.

4. Faça um gráfico do período T em função de m e BIBLIOGRAFIA


analise o resultado obtido.
Halliday, Resnick e Walker, Fundamentos de Física:
d) Efeito da aceleração da gravidade g, no peri- Gravitação, Ondas e Termodinâmica, Livros Técnicos e
odo de oscilação (T em função de g). Científicos Editora S.A.

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