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Caso Mais Geral de Velocidade Relativa - Movimento em Duas ou Três Dimensões

Prof. J. L. Cindra 30/03/2020


r = ro + r´
P é uma partícula em
movimento.

A posição da partícula P, em dado instante, em relação ao referencial


S´(referencial em movimento) é r´, enquanto sua posição em relação ao referencial S
(referencial fixo) é dada pelo vetor de posição r. A posição instantânea da origem do
referencial móvel, O´ é dada pelo vetor de posição ro. A posição instantânea da partícula
P em relação à origem do referencial fixo, o ponto O, é dada por
r = ro + r´.
Trata-se de uma soma vetorial e isso tem de ser considerado com grande atenção.
Derivando em relação ao tempo esta última expressão, encontramos
𝒅𝒓 𝑑𝑟𝑜 𝑑𝑟 ´
= + , logo
𝒅𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡

v = vo + v´ .
consequentemente, temos
v´ = v – vo .
Portanto, a velocidade da partícula P em relação ao referencial móvel
(referencial S´) é igual à velocidade da partícula em relação ao referencial fixo
(referencial S) menos a velocidade do próprio referencial móvel, em relação ao
referencial fixo. E não podemos esquecer que se trata de uma equação vetorial.
Se o movimento se der em um plano (movimento em duas dimensões), então as
velocidades têm duas componentes, se for em três dimensões, terão três componentes.
Ainda mais, o referencial em movimento, com origem em 0´é suposto se deslocar
com velocidade constante vo, logo dvo/dt = 0. Portanto,
dv´/dt = dv/dt, a´ = a.
A aceleração da partícula em relação ao referencial em repouso (referencial com
origem em O) e a aceleração em relação ao referencial em movimento (referencial com
origem em O´) são a mesma.
Na realidade, toda velocidade é relativa, sempre relativa a um dado referencial.
Aqui estamos especificamente tratando de velocidade relativa é simplesmente porque
estamos querendo compreender a relação entre as diferentes velocidades que podem
ter um corpo (partícula), em relação a diferentes referenciais.
Exemplo 1: A água de um rio tem velocidade vo, em relação a qualquer ponto da margem
do rio. Neste caso, a margem do rio constitui um referencial fixo, enquanto a água em
movimento constitui um referencial móvel. Um barco é capaz de desenvolver
velocidade v´ em relação à água do rio. Se ele está descendo rio abaixo, qual é sua
velocidade em relação às margens do rio? E se ele estiver subindo o rio? Resp: Aqui se
trata de um movimento unidimensional. Se o barco estiver descendo o rio, sua
velocidade em relação às margens é v = v´ + vo, caso contrário, sua velocidade em
relação às margens será v = v´- vo.
Exemplo 2: O piloto do barco anterior quer atravessar o rio perpendicularmente às suas
margens. Ele parte de um ponto A em uma das margens e quer chegar em um ponto B,
na margem oposta. Se ele manter o barco perpendicular às margens, devido à
velocidade da água, ele ele arrastado por ela, e chegará em um ponto C, em vez do
ponto B. Para, de fato, alcançar B, ele terá que manter o barco em uma direção fazendo
um ângulo θ acima da perpendicular. Que ângulo é esse? Solução: É conveniente fazer
um esboço geométrico do problema. Este esboço consta da velocidade v´, v e vo,
formando um triângulo retângulo, onde v´ será sua hipotenusa. Assim, tg θ = vo/v. Mas
não conhecemos ainda o valor de v. Conhecemos apenas v´e vo. Mas sabemos que existe
a relação vo = v´senθ. Logo senθ = vo/v´, de onde θ = arcsen(vo/v´). Podemos também
encontrar o módulo de v (módulo da velocidade do barco em relação à margem). O
teorema de Pitágoras nos fornece v´2 = vo2 + v2, de onde temos v = √𝑣´2 − 𝑣𝑜2 .
Exemplo 3. Um avião parte de determinado ponto e tem como objetivo chegar a uma
cidade localizada 800 km ao norte do ponto de partida. Devido a um vento bastante
intenso, o piloto percebe que seu curso deve tomar a orientação de um ângulo θ a leste
do norte. O avião tem uma velocidade de ar igual 500 km/h e chega ao destino em duas
horas. Supondo que o vento continue com a mesma intensidade e mesma orientação
durante todo o voo, determinar o módulo da velocidade do vento e sua orientação em
relação ao ocidente. Solução: Trata-se de um movimento em duas dimensões. Tomemos
o eixo x no sentido de oeste para leste, o eixo y no sentido de sul para norte. A
velocidade do avião em relação ao solo será representada por vs, a velocidade em
relação ao ar (velocidade de ar) será representada por va e a velocidade do vento vo.
Nossa equação vetorial para o problema será vs = vo + va.
Façamos agora a projeção desta equação no eixo x e no eixo y, obtendo duas equações
escalares:
vsx = vox + vax , vsy = voy + vay .
Agora notemos que vs está orientada segundo o eixo y, logo, vsx = 0. Além disso,
vox e voy estão orientadas para a esquerda e para baixo, respectivamente. Por que?
Façamos um esboço do problema no plano xy, de modo que o vetor va forme um ângulo
θ com o eixo y e a velocidade do vento, vo forme um ângulo ϕ abaixo da horizontal,
passando pela extremidade do vetor va. Ainda mais, a velocidade vo tem origem na
extremidade de va e termina na extremidade de vs.
Reescrevendo as equações escalares acima,
va senθ – vo cosϕ = 0; vs = va cosθ – vo senϕ
Temos então vo2 = vs2 + va2 – 2vs va cosθ, de onde encontramos vo.
𝑣𝑎 𝑐𝑜𝑠𝜃−𝑣𝑠
tg ϕ = . De onde obtemos o ângulo ϕ explicitamente.
𝑣𝑎 𝑠𝑒𝑛𝜃

Se θ = 300, a) Qual o valor de vs ? b) Qual é o valor de vo? c) Qual é o valor do ângulo ϕ?


Resp. vs = 800 km/2h = 400 km/s, vo = 250 km/h, aproximadamente 8o.

Movimento Circular Uniforme


Trata-se de um movimento com velocidade de
módulo módulo constante, porém sua direção está se
alterando alterando constante, na medida em que a partícula
se se move ao longo de um círculo de raio R.
A velocidade v = vx i + vy j . É fácil ver por meio desta
Figura que vx = - vsenθ, vy = v cosθ

Mas,
𝑦 𝑥
senθ = 𝑟 , cosθ = 𝑟 ,
𝑣 𝑣 𝑑𝑦 𝑑𝑥 𝑣
Então v = - 𝑟 (y i – x j). Portanto, a aceleração ac = - 𝑟 ( 𝑑𝑡 i - 𝑑𝑡 j) = - 𝑟 (vy i – vx j)

𝑣2
ac = (cosθ i + senθ j), mas er = cosθ i + senθ j representa o vetor
𝑟
unitário na direção do raio r, orientado a partir do centro. Então
𝑣2
ac = - er .
𝑟

Esta é a aceleração centrípeta, aceleração na direção radial, orientada para o centro do


𝑣2
círculo de raio r. O módulo desta aceleração é simplesmente ac = . A orientação da
𝑟
aceleração centrípeta é sempre no sentido do centro da curva (centro do círculo) e
sempre perpendicular à direção da velocidade instantânea v.
O movimento circular uniforme é um movimento periódico. O tempo necessário,
para o corpo executar uma volta completa ao longo da circunferência é o seu período T.
O número de vezes que o corpo completa o movimento circular na unidade de tempo é
a frequência f. Por outro lado, como a relação entre s, representando o comprimento
da circunferência e seu raio r é simplesmente s = 2π r. Mas, s = vT. Igualando estas duas
2𝜋
últimas expressões, temos vT = 2πr, logo, v = r. É de uso geral denominar por ω a
𝑇
grandeza 2π/T, logo v = ω r. Portanto, a aceleração centrípeta ac pode também ser
escrita sob a forma

ac = - ω2 r,
onde ω é chamada de velocidade angular. A frequência f é o inverso do período: f = 1/T
e a velocidade angular 𝜔 = 2𝜋f = 2π/T.
É também possível determinar a aceleração centrípeta por um método um pouco mais
sintético. Inicialmente, tomemos uma circunferência de raio r e indiquemos as
velocidades em dois pontos distintos da circunferência: pontos P e Q. Indiquemos o
ângulo central formado pelos raios em P e Q por θ. Em seguida, transportemos
paralelamente a velocidade em P para o ponto Q, de modo que o ângulo formado entre
as duas velocidades no ponto Q é também θ. Agora, por meio da semelhança de
triângulos , temos
𝑣
Δv= Δr,
𝑟

Notemos que Δr = r eθ, Δv = veθ

Logo, dv/dt = v deθ/dt = - vdθ/dt


𝒗𝟐
ac = - er.
𝒓
𝒅𝒆𝒓
eθ = 𝒅𝒕
= -senθ i + cos θ j representa o vetor unitário na direção tangencial,
perpendicular à direção radial, indicada pelo vetor er. Verifique que er.eθ = 0.
Exemplo: Um satélite em órbita circular em torno da Terra está a uma altura h = 300
km acima da superfície da Terra. O período do satélite é T = 98 min. a) Qual é a
velocidade orbital do satélite? b) Qual o valor da aceleração da gravidade nessa altura?
Solução: Na expressão para a aceleração centrípeta, r deve ser a distância do centro da
Terra até o satélite. Portanto, r = R + h, onde R é o raio médio da Terra.
𝑣2
ac = 𝑅+ℎ, v = ωr, ω = 2𝜋/𝑇, T = 98min = 5,88x103 s. 2π = 6,28, ω = 1,07x10-3 rad/s

R = 6,34 x106 m , h= 0,3x106 m., logo r = 6,64 x 106 m.


v = 1,07x6,64x 103 m/s = 7,10 x 103 m/s , ou v = 25,56 x103 km/h.
ac = 7,59 m/s2. A aceleração da gravidade nessa altura é igual à
aceleração centrípeta. Logo, g = 7,59 m/s2 nessa altitude.
Obs: Todo este conteúdo se encontra no Capítulo IV do Vo. 1 do livro Fundamentos de
Física - Halliday e Resnick.

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