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Capítulo 4

Simetria em Mecânica Quântica


Modern Quantum Mechanics - J.J. Sakurai (Revised Edition)

Objetivo do capítulo: discutir em termos gerais a conexão entre simetrias, degenerescências e leis de
conservação.

4.1 Simetrias, Leis de Conservação e Degenerescências


Simetria em Física Clássica
a) Formulação Lagrangeana

Uma maneira alternativa de descrever um sistema clássico é introduzir a Lagrangeana L, que satisfaz a
equação
d ∂L − ∂L  0
dt ∂q̇ i ∂q i
Note que L  Lq 1 , q 2 , … , q N ; q̇ 1 , q̇ 2 , … , q̇ N  é uma função da coordenada generalizada q i e da correspodente
velocidade generalizada q̇ i . Para sistemas conservativos,
L  T−V
onde T é a energia cinética e V  Vq 1 , q 2 , … , q N , a energia potencial.
Lagrangeana do oscilador. No caso do oscilador harmônico, a Lagrangeana é dada por
Lx, ẋ   1 mẋ 2 − 1 kx 2 .
2 2
Usando a equação de Lagrange, encontramos
d ∂L − ∂L  0 → d mẋ  − −kx  0  mẍ  −kx
dt ∂ẋ ∂x dt
Lagrangeana L… , q i  q i , …   L… , q i , … . Se a Lagrangeana não muda sob a ação de um
deslocamento na coordenada q i , isto é,
q i → q i  q i (4.1.1)
então devemos ter
∂L  0 (4.1.2)
∂q i

Logo, em virtude da equação de Lagrange,


d ∂L − ∂L  0 → d ∂L 0
dt ∂q̇ i ∂q i dt ∂q̇ i
ou
dp i
0 (4.1.3)
dt
onde o momento canônico, p i é definido por

p i  ∂L (4.1.4)
∂q̇ i

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 1


Assim, se a Lagrangeana não varia com uma mudança na coordenada canônica q i , temos uma quantidade
que se conserva, que é o momento canônico, p i , conjugado a q i .
b) Formulação Hamiltoniana

Outra maneira alternativa de descrever um sistema clássico é através da Hamiltoniana Hq i , p i , de onde se
obtém as equações de movimento

q̇ i  ∂H , ṗ i  − ∂H
∂q̇ i ∂q i
Para um sistema conservativa, H é definida como
H  T  V.
Se a Hamiltoniana não depender de q i , que é uma outra maneira de dizer que H é invariante sob a
tranformação q i → q i  q i , então, das equações de Hamilton,

 − ∂H  0
dp i
ṗ i ≡
dt ∂q i
Portanto, p i se conserva se H não depender da mudança q i → q i  q i .

Simetria em Mecânica Quântica


 Operador unitário U  operação de simetria.
 U - operador de simetria, independente do sistema possuir ou não a simetria correspondente a U.
 Operações de simetria que diferem da identidade por um fator infinitesimal são definidas como
U  1 − i G (4.1.7)

Sistema possui simetria. Caso o sistema possua a simetria associada ao operador U, então H é
invariante sob esta transformação. Ou seja
U † HU  H (4.1.8)
Mas, isto é equivalente a
G, H  0 (4.1.9)
Constante de movimento. Devido a equação de movimento de Heisenberg, temos
dG  1 G, H  0, (4.1.10)
dt i
o que significa dizer que G é uma constante de movimento.
Relação de comutação e a conservação através do autoket.Podemos encontrar uma conexão entre a
relação de comutação de G com H e a conservação de G do ponto de vista do autoket de G, quando G
comuta com H.
Seja |g ′  o autoket de G para t  t 0 . Neste caso,
G |g ′   g ′ |g ′ .
Em tempos posteriores, o ket pode ser obtido aplicando o operador evolução temporal:
|g ′ , t 0 ; t  Ut, t 0  |g ′ . (4.1.11)
Como G comuta com H, ele também comuta com Ut, t 0   exp−iHt − t 0 /. Portanto,
G |g ′ , t 0 ; t  G Ut, t 0  |g ′   Ut, t 0 G  g ′ Ut, t 0  |g ′  (4.1.12)

Degenerescências
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Suponha que
H, U  0 (4.1.13)
para algum operador de simetria e |n é um autoket de energia com autovalor E n , ou seja,
H |n  E n |n
Então, U|n é também um autoket de energia com o mesmo autovalor, uma vez que
HU|n  UH |n  E n U|n (4.1.14)

Os estados |n e U|n são diferentes. No caso de |n e U|n representarem estados diferentes, sendo iguais
suas energias, eles são estados degenerados. Geralmente U é caracterizado por um parâmetro contínuo,
digamos , e, portanto, todos os estados da forma U |n têm a mesma energia.
Caso específico da rotação. Suponha que o Hamiltoniano do sistema seja invariante por rotação. Logo,
DR, H  0 (4.1.15)
que, necessariamente implica que
J, H  0, J 2 , H  0 (4.1.16)

Estados simultâneos. Neste caso, podemos construir autoestados simultâneos de H, J 2 e J z ,


representado pelo ket |n; j, m. De acordo com o que se mostrou, todos os estados da forma
DR|n; j, m  ∑ |n; j, m ′ D jmm R
′ (4.1.17)
m′

têm a mesma energia E n . Observe que DR|n; j, m é uma combinação linear de 2j  1 estados
independentes, correspondentes aos 2j  1 valores diferentes de m ′ . Para cada valor de m, obtém uma
combinação linear diferente, com a mesma energia. Portanto, DR|n; j, m tem degenerescência 2j  1, que
corresponde aos 2j  1 valores diferentes de m.
Exemplo: elétron num átomo. Neste caso, o potencial pode ser escrito na forma
Vr  V LS r L  S
onde L e S são o momento angular orbital e de spin, respectivamente. Uma vez que r e L  S são invariantes
por rotação, esperamos que cada nível atômico tenha degenerescência 2j  1.
Campo elétrico ou magnético. Submetendo-se o átomo, a um campo elétrico ou campo magnético, por
exemplo, na direção z, a simetria rotacional agora é notoriamente quebrada; como resultado, não se espera
mais que os níveis tenham aquela degenerescência, ou o que dá no mesmo, que os estados caracterizados
por diferentes valores de m tenham a mesma energia.

4.2 Simetrias Discretas, Paridade ou Inversão Espacial


Operações de simetria discreta tratadas neste capítulo: paridade, translação da rede e inversão temporal.
Paridade ou Inversão Espacial. Como aplicada a transformação de sistemas de coordenadas, muda um
sistema dextrogiro em sistema levogiro, como mostrado na figura.

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 3


Sistema dextrogiro Sistema levogiro
z

novo x

novo y
y

x
novo z

Transformação de paridade sobre kets. Dado o ket |, considere um estado espacialmente invertido, que
é obtido pela aplicação do operador unitário  conhecido como operador paridade, como segue:
| →  | (4.2.1)

Exigimos que o valor esperado de x tomado com relação ao estado invertido tenha o sinal oposto ao do
estado original. Ou seja,
〈|  † x  |  −〈| x | (4.2.2)

Isto é obtido se
 † x   −x (4.2.3)
ou
x   −x (4.2.4)
onde usamos o fato de  ser um operador unitário:  †    †  1
Transformação de |x ′  sob operação de paridade. Como um autoket do operador posição transforma-se
paridade?
Seja,
x |x ′   x ′ |x ′ 

Então
 x |x ′   x ′  |x ′ 
Como  x  − x ,
− x |x ′   x ′  |x ′ 

Então
x |x ′   −x ′   |x ′ 

Esta equação nos diz que |x ′  é um autoket de x com autovalor −x ′ . Portanto, a menos de uma fase, ele
deve ser o mesmo que o autoket da posição |−x ′ . Podemos então escrever,
|x ′   e i |−x ′  (4.2.5)

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Por convenção, adota-se e i  1, ou seja,
|x ′   |−x ′ 
Aplicando novamente o operador 
 2 |x ′   |−x ′   |x ′ .
Então,
2  1
isto é, voltamos ao estado original aplicando  duas vezes. Usando a propriedade da unitariedade,
  1 →  †    †     †
obtém-se que este operador é também Hermitiano. Assim,
 −1   †  . (4.2.7)

Também obtém-se que seus autovalores podem ser apenas 1.

Comportamento do Momento Linear sob Paridade


p  m dx/dt → da mesma forma que x deve ser ímpar sob paridade

Momento como gerador de translações. A figura mostra que uma operação de translação seguida por
paridade é equivalente à paridade seguida por translação em sentido oposto. Ou seja,
translação  paridade  paridade  translação em sentido oposto

dx'

− dx'

Em termos de operadores
Tdx ′   T−dx ′  (4.2.8)

Demonstração: Seja |x ′  um autoket da posição. Então


Tdx ′ |x ′   |x ′  dx ′ 
 |−x ′ − dx ′ 
 T−dx ′ |−x ′ 
 T−dx ′  |x ′ 
de onde segue (4.2.8)
ip  d x ′
Como Tdx ′   1 − , então obtém-se dali

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 5


ip  d x ′ ip  d x ′
 1− †  1  (4.2.9)
 
onde multiplicamos aquela equação por  † pela direita. Então, para um deslocamento fixo dx′, encontramos
ip  d x ′ † ip  d x ′
1−   1
 
− p †  dx ′  p  dx ′
ou seja,
p †  −p ou , p   0 (4.2.10)
Ou seja, o operador momento anticomuta com o operador paridade.

Comportamento do Momento Angular sob Paridade


Uma vez que
L  xp
então
L †  x  p  †  x †  p †  L
então
L  L → , L   0 (4.2.11)

Momento angular como gerador de rotações. Para mostrar que esta propriedade também vale para spin,
devemos usar o fato de que J é o gerador de rotações. Para matrizes ortogonais 3  3, temos
R paridade
R rotação
R rotação
R paridade
(4.2.13)
paridade
onde R é dado explicitamente por

−1 0 0
0 −1 0 ; (4.2.14)
0 0 −1

Os operadores paridade e rotação comutam. Para os operadores unitários, temos a relação correspondente
DR  DR (4.2.15)
Da definição DR  1 − J  n̂ / segue-se
1 − J  n̂ / †  1 − J  n̂ /
de onde se obtém, para uma direção fixa n̂
J †  J ou , J   0 (4.2.16)

Operador momento angular de spin. Para uma partícula com spin, o momento angular total J é dado por
J  LS
Como J,   0 e L,   0 segue-se também que S,   0.
Pseudoescalar. Considere agora operadores do tipo S  x. Sob rotações, eles se transformam da mesma
forma como escalares comuns, tais como S  L ou x  p. Mas, sob inversão espacial, eles se transformam da
seguinte maneira:
S  x  †  S †  x †  S −x   −S  x (4.2.18)

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e assim por diante. O operador S  x é um exemplo de um pseudoescalar.

Propriedade de Paridade das Funções de Onda


Seja x ′  a função de onda de uma partícula sem spin, cujo ket de estado é |
x ′   〈x ′ | (4.2.19)

A função de onda do estado sujeito a uma inversão espacial, representado pelo ket |, é
〈x ′ ||  〈−x ′ |  −x ′  (4.2.20)

O ket | é um autoket do operador paridade. Se | é um autoket do operador paridade, cujos autovalores
são 1 como já vimos, então
|  | (4.2.21)
A correspondente função de onda será
〈x ′ ||  〈x ′ | (4.2.22)
Mas, como já vimos, temos também
〈x ′ ||  〈−x ′ | → 〈−x ′ |  〈x ′ |
Assim, o estado | é par ou ímpar sob operação de paridade, dependendo se a correspondente função de
onda satisfaz

paridade par
−x   x  (4.2.24)
paridade ímpar

Autoket do momento. Nem todas as funções de onda de interesse físico têm paridades definidas. Por
exemplo, o operador momento anticomuta com o operador paridade; logo, o autoket do momento não é

também um autoket do operador paridade. Logo, a função de onda plana, e ipx / , que é a função de onda
para o autoket do momento, não satisfaz (4.2.24).
Autoket do momento angular orbital. Um autoket do momento angular orbital deve ser também um
autoket da paridade, uma vez que esses dois operadores comutam. Seja a função de onda:
〈x ′ |, lm  R  rY ml ,  (4.2.25)

A transformação de x ′ → −x ′ resulta em
r→r
 → − cos  → − cos  (4.2.26)
 →  e im → −1 e m im

Usando a forma explícita,
2l  1l − m! m
Y ml ,   −1 m P l cos  e im (4.2.27)
4l  m! 
m
−1

para m positivo, onde


l−|m|
−1 ml l  |m|! d
l cos  
P |m| sen −|m|  sen 2l , (4.2.28)
2 l l! l − |m|! dcos 
−1 l−m

então sob paridade

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 7


Y ml  − ,     −1 l Y ml ,  (4.2.29)
Então, podemos concluir que
|, lm  −1 l |, lm (4.2.30)
Propriedades de paridades dos autoestados de energia

Teorema Suponha que

H,   0 (4.2.31)

e |n é um autoket não degenerado de H com autovalor E n

H |n  E n |n (4.2.32)

então |n é também um autoket da paridade.

Prova: Seja o ket


1 1  |n (4.2.33)
2
De

 1 1  |n  1    2 |n  1   1|n   1 1  |n


2 2 2 2
conclui-se que este ket é um autoket do operador paridade com autovalores 1. Por outro lado, como
, H  0, então

H 1 1  |n  1 1  H |n  E n 1 1  |n


2 2 2

também é um autoket de H com autovalor E n. Por outro lado, |n e 1 1  |n devem representar o
2
mesmo estado, o que do contrário seriam dois estados com a mesma energia, o que contradiz a hipótese
inicial de estados não degenerados. Segue-se que |n, que é o mesmo que 1 1  |n exceto por uma
2
constante multiplicativa, deve ser um autoket do operador paridade com paridade 1. 

Exemplo 1: Oscilador Harmônico Simples. A função de onda do estado fundamental do OHS é


−x ′ /x 0 
2

 0 x   Ce . Logo,
 0 −x ′    0 x ′ 
ou seja, tem paridade par. Portanto, o ket |0 correspondente a esta função de onde é também par:
|0  |0.
O primeiro estado excitado
|1  a † |0 (4.2.34)
deve ter paridade ímpar, uma vez que a † é uma combinação linear de x e p, ambos de paridade ímpar.
Assim,
|1  −|1.
Em geral, a paridade do n-ésimo estado excitado do OHS é dada por
−1 n . (4.2.35)

Exemplo 2: Átomo de Hidrogênio. Devemos sempre observar que a hipótese de estado não degenerado é
muito importante para a aplicação do teorema acima. Um contra-exemplo é o átomo de hidrogênio. Como

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sabemos, o Hamiltoniano neste caso comuta com o operador paridade, uma vez que o potencial de
Coulomb assim permite. Mas, sabemos também que os autovalores da energia só dependem do número
quântico principal n (por exemplo, os estados 2p e 2s são degenerados). Mas, apesar disso, um autoket da
energia
c p |2p  c s |2s 4.2.35)
não é um autoket da paridade.
Exemplo 3: Partícula livre. O Hamiltoniano da partícula livre, H  p 2 /2m, obviamente que comuta com
operador paridade: H,   0. Mas, apesar disso, os autokets de energia deste problema, |p ′ , não são
autokets do operador paridade, uma vez que p ′ anticomuta com . Mas o teorema continua válido, uma vez
que existe aqui uma degenerescência entre |p ′  e |−p ′ , que são estado com a mesma energia. Ou seja,
p ′2
H |p ′   |p ′ .
2m
Neste caso, os autokets da paridade são combinações lineares de |p ′ . Por exemplo,

De fato,

 1 |p ′   |−p ′   1 |−p ′   |p ′    1 |p ′   |−p ′  .


2 2 2
′ ′
Em termos da linguagem das funções de onda em si, e ip x / não têm paridade definida, mas sim, suas
combinações lineares, que resultam em cosp ′  x ′ / e senp ′  x ′ /.

Poço Duplo Simétrico de Potencial


O potencia deste problema é dado na figura abaixo. Devido à simetria, teremos obivamente,
V−x  Vx.
Disto resulta que o Hamiltoniano comuta com a paridade, H,   0.

EA
ES

Estado simétrico |S〉 Estado anti-simétrico |A〉

Esta figura também mostra os dois estados de mais baixa energia, E 1 e E 2 . Explicitamente, suas funções de
onda envolvem seno e cosseno nas regiões classicamente permitidas e senh e cosh na região classicamente
proibida. As soluções são casadas nos pontos de descontinuidades do potencial: a estas soluções
chamaremos de estado simétrico |S e estado anti-simétrico |A. Como não há degenerescências, estes
estados são autokets simultâneos de H e . Os cálculos mostram que E A  E S , onde na figura E S  E 1 e
E A  E 2 . Isto pode ser inferido da figura, notando que a função de onda do estado anti-simético tem uma
curvatura maior, e, portanto, maior energia cinética. A diferença entre as energias E S e E A é muito pequena
quando a barreira central é alta (veja discussão mais adiante).
Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 9
Estados não estacionários. Vamos construir os kets
|R  1 |S  |A (4.2.37a
2
e
|L  1 |S − |A (4.2.37b
2
De acordo com a figura, as funções de onda correspondentes,  R e  L , são fortemente concentradas do
lado direito R e do lado esquerdo L do potencial, respectivamente. Esses kets não são autokets da
paridade. De fato,

|R   1 |S  |A  1 |S  |A  1 |S − |A


2 2 2
 |L

e
|L  |R
Também, os kets |R e |L não são autokets da energia, pois

H |R  H 1 |S  |A  1 E S |S  E A |A ≠ E |R


2 2
A mesma coisa acontece com |L. Estes estados são exemplos clássicos de estados não estacionários.
Evolução temporal. Para sermos mais precisos, vamos considerar que o sistema seja representado pelo
ket |R no instante t  0. Para tempos posteriores,
|R, t 0  0; t  e −iHt/ |R  1 e −iHt/ |S  e −iHt/ |A
2
 1 e −iE S t/ |S  e −iE A t/ |A
2
 1 e −iE S t/ |S  e −iE A −E S t/ |A (4.2.38)
2

No instante t  T/2  2 ,


2E A − E S 
−iE A − E S t −iE A − E S  2
exp  exp
  2E A − E S 
 e −i
 −1.
assim,
|R, t 0  0; t  T/2  e −iE S t/ 1 |S  e −iE A −E S t/ |A
2
 e −iE S t/ 1 |S − |A
2
 |L.
Ou seja, no instante t  T/2, o sistema é encontrado no estado puro |L. Para t  T, |R, t 0  0; t  T está de
volta ao estado puro |R. Logo, em geral, a frequência de oscilação entre os estados puros |R e |L é dada
por

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E A − E S 
 (4.2.39)

que corresponde a um período

T  2 2
  E A − E S  .

Comportamento oscilatório e tunelamento. Este comportamento oscilatório pode também ser considerado
sob o ponto de vista de tunelamento em mecânica quântica. Isto é: uma partícula inicialmente confinada do
lado direito pode tunelar através da região classicamente proibida (barreira central) para o lado esquerdo,
voltar para o lado direito e assim sucessivamente.
Barreira central de altura infinita. Podemos mostrar que os estados |S e |A agora são são degenerados,
isto é, E S  E A  E. Neste caso, os estados |R e |L são autokets de energia. De fato,
H |R  1 E S |S  E A |A  E |R
2
H |L  1 E S |S − E A |A  E |L
2
Porém, devido a degenerescência, |R e |L não são autokets da paridade.

∞ ∞

Estado simétrico |S〉 Estado anti-simétrico |A〉

|R e |L são estados estacionários. O fato de |R e |L serem agora autokets da energia significa que, se o
sistema estiver no estado |R no instante t  0, assim permanecerá para sempre (o período de oscilação
entre os estados |R e |L é agora infinito). Devido a altura infinita da barreira central, não há possibilidade
de tunelamento.
Então, quando existe degenerescência, os autokets de energia que podem ocorrer fisicamente não precisam ser
autokets da paridade.
Observação No caso analisado, o estado fundamental é assimétrico, a despeito do Hamiltoniano ser simétrico por
inversão espacial, tal que, com a degenerescência, a simetria de H não é necessariamente obedecida pelos
autoestados de energia.

Molécula de Amônia
Um sistema que ilustra a importância do poço duplo simétrico é uma molécula de amônia, NH 3 (v. figura).

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 11


N H
H
H
H
H

H
N

Os três átomos de H localizam-se sobre os vértices de um triângulo equilátero. O átomo de N pode estar
acima ou abaixo deste plano, onde as posições cima e baixo são definidas porque a molécula gira em torno
do eixo como mostra a figura. Essas posições de N são análogas a R e L do poço duplo de potencial. Os
autoestados simultâneos da paridade e da energia, são combinações lineares de |R → cima e
|L → baixo . Assim,

|S  1 cima  baixo


2
|A  1 cima − baixo
2

A diferença de energia E A − E S corresponde a uma frequência de oscilação de 24.000 MHz – um


comprimento de onda da ordem de 1 cm, que está na região de microondas. NH 3 é de fundamental
importância para a física dos masers.

Regra de Seleção de Paridade


Suponha que | e | sejam autoestados da paridade:
|    | (4.2.40a
e
|    | (4.2.40b
onde   e   são autovalores da paridade 1.
Pode-se mostrar que
〈|x|  0 (4.2.41)
exceto para    −  . Em outras palavras, o operador x (de paridade ímpar) conecta estados de paridade
opostas. (O dipolo elétrico é um operador deste tipo.)
Demonstração. Seja
〈|x|  〈| −1 x −1 |  〈| −1 x −1 |
     −〈|x| (4.2.42)
ou seja

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−〈|x|, se      1
〈|x| 
〈|x|, se

Assim, para      1 (mesma paridade) 〈|x|  −〈|x|, o que é impossível para valores finitos diferentes
de zero. Logo, o resultado só terá sentido para      −1 (paridade oposta).
Regra de seleção. Em termos das funções de onda correspondentes, o argumento será

   x   d  0 (4.2.43)

se   e   tiverem a mesma paridade (integrando ímpar). Este resultado, conhecido como regra de seleção,
devido a Wigner, é de grande importância na discussão de transições radiativas entre estados atômicos.
Essas transições acontecem entre estados de paridade oposta como consequência formalismo de
expansão em multipolos. Eram conhecidas fenomelogicamente da análise de linhas espectrais, antes da
Mecânica Quântica, como regra de Laporte. Wigner mostrou que a regra de Laporte é uma consequência da
regra de seleção de paridade.

Momento de dipolo. O valor esperado do momento de dipolo num autoestado de energia |n é
proporcional a
〈n|x|n

Se o Hamiltoniano comuta com a paridade,


H,   0
então |n é também um autoket da paridade, se os estados forem não degenerados (veja teorema acima).
Logo, como consequência de (4.2.43),
〈n|x|n  0 (4.2.44)

Para estados degenerados é perfeitamente possível haver momento de dipolo, como veremos no Capítulo 5.
Generalização dos resultados. Operadores que são ímpares sob ação da paridade, tal como p ou S  x, têm
elementos de matriz não nulos somente entre estados de paridade oposta. Por outro lado, operadores que são pares
conectam estados de mesma paridade.

Não-conservação da Paridade
★ Leia esta seção.

4.3 Translação da Rede como Simetria Discreta


Translação da rede → outro tipo de operação de simetria discreta.
Considere o potencial periódico em uma dimensão, onde
Vx  a  Vx,
representado na parte (a) da figura abaixo.

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 13


a a a a a
(a)

a a a a a

(b)
Na prática, podemos considerar o movimento de um elétron numa cadeia regularmente espaçada de íons
positivos.
Operador translação de rede. Seja o operador l que têm as seguintes propridades:
l † xl  x  l, l|x ′   |x ′  l (4.3.1)

Em geral, o Hamiltoniano, H  K  V, não é invariante sob uma translação representada por l para l
arbitrário. Porém, quando l coincide com o espaçamento de rede a, temos
 † aVxa  Vx  a  Vx (4.3.2)

A parte da energia cinética do Hamiltoniano, K ≡ −  ∇ 2 , é invariante sob translação arbitrária. Logo, o


2

2m
Hamiltoniano total satisfaz
 † aHa  H (4.3.3)

Como  é unitário,  †    †  1, encontra-se


Ha  Ha → H, a  0 (4.3.4)

Logo, H e a podem ser diagonalizados simultaneamente. Embora a seja unitário, ele não é um
operador Hermitiano. Em consequência disto, espera-se que seus autovalores sejam números complexos
de módulo 1.
(A) Rede periódica com barreira infinita (parte (b) da figura). Qual é o estado fundamental para o potencial
mostrado na figura (b) acima?
Obviamente é o estado em que a partícula está completamente localizada em um dos sítios da rede.
Seja |n o ket correspondente à situação em que a partícula esteja localizada no n-ésimo sítio. Uma vez que
a barreira de potencial é infinita, este estado é um autoket da energia com autovalor E 0 :
H |n  E 0 |n
Sua função de onda, 〈x ′ |n, é finita apenas dentro do n-ésimo sítio, sendo nula fora dele.
Entretanto, um estado similar localizado em outro sítio da rede tem também a mesma energia E 0 , de
maneira que existe um número infinito de estados fundamentais n, onde −  n  .
|n não é um autoket de a. De fato,
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a |n  |n  1, (4.3.5)
a despeito de  comutar com H. Isto é consistente com o teorema sobre simetria, uma vez que existe
degenerência (infinita). Quando existe degenerescência, a simetria do mundo não necessita ser a simetria
dos autokets de energia.
Autokets simultâneos de H e a. Aqui a situação que acontece com |n é similar àquela do poço duplo
(infinito) de potencial. Os estados |R e |L não são autokets de . Porém, podemos formar combinações
lineares simétrica e assimétrica desses kets, que são autokets de . Seja a combinação linear

|  ∑ e in |n (4.3.6)
n−

onde  é um parâmetro real com − ≤  ≤ . Vamos admitir que | seja um autoket simultâneo de H e a.
Que | é um autoestdo de H é óbvio, uma vez que |n é um autoket com autovalor E 0 . Para o operador
translação de rede, segue-se
 
a |  ∑e in
|n  1  e −i
∑ e in1 |n  1  e −i | (4.3.7)
n− n−

Note que este autoket simultâneo de H e a é parametrizado por um parâmetro contínuo . Além disto, o
autovalor da energia E 0 não depende de .
(B) Rede periódica com barreira finita (parte (a) da figura). Neste caso, a função de onda 〈x ′ |n
correspondente o ket localizado |n tem uma pequena cauda extendendo-se para os sítios vizinhos devido
ao tunelamento quântico. Por conta disto, |n não é mais um autoket de H. Em outras palavras, H não é
mais diagonal na base |n. Devido à invariância translacional de H, todos os seus elementos diagonais
são iguais, ou seja,
〈n| H |n  E 0 (4.3.8)
independente de n, como antes.
Suponha agora que as barreiras sejam muito altas (mais não infinitas). Esperamos que os elementos de
matriz de H entre sítios distantes sejam desprezíveis. Vamos considerar que os únicos elementos fora da
diagonal importantes conectam os vizinhos mais próximos.

n-1 n n+1

Ou seja,
〈n ′ | H |n ≠ 0 somente se n ′  n ou n ′  n  1 (4.3.9)

Em física do estado sólido, esta suposição é conhecida como aproximação tight-binding (ou ligações fortes).
Vamos definir
〈n  1| H |n  −Δ (4.3.10)

Novamente, devido à invariância translacional de H, Δ é independente de n (ou do sítio onde é calculado).


Usando (4.3.8) e (4.3.9), e a ortogonalidade entre |n e |n ′  quando n ≠ n ′ , obtém-se
Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 15
H |n  E 0 |n − Δ |n  1 − Δ |n − 1 (4.3.11)

Observe que |n não é um autoket da energia.


Autokets simultâneos de H e a. Como fizemos anteriormente, vamos construir o estado | como uma
combinação linear da forma

|  ∑ e in |n (4.3.12)
n−

Agora | continua sendo um autoket de a como antes. Para H, temos:
 
H |  ∑ e in H |n  ∑ e in E 0 |n − Δ |n  1 − Δ |n − 1
n− n−
  
 E0 ∑ e in |n − Δ ∑ e in |n  1 − Δ ∑ e in |n − 1
n− n− n−
  
 E0 ∑ e in |n − Δe −i ∑ e in1 |n  1 − Δe i ∑ e in−1 |n − 1
n− n− n−

−i
 E 0 | − Δ e  e |
i

ou seja,
H |  E 0 − 2Δ cos  | (4.3.13)

A grande diferença entre este caso e o anterior é que agora os autovalores da energia dependem do
parâmetro real contínuo . A degenerescência é quebrada para Δ finito e encontramos uma distribuição
contínua de autovalores da energia entre E 0 − 2Δ e E 0  2Δ (veja figura).

banda de energia

E0 + 2Δ
E0
E0 - 2Δ

Significado físico do parâmetro . Seja a função de onda 〈x ′ |. Para do estado transladado da rede
a|, obtém-se
〈x ′ | a|  〈x ′ − a| (4.3.14)
fazendo a atuar sobre 〈x ′ |. Mas, também podemos fazer a atuar sobre |, usando (4.3.7), ou seja,
a|  e −i |:
〈x ′ | a|  e −i 〈x ′ | (4.3.15)
tal que

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〈x ′ − a|  e −i 〈x ′ | (4.3.16)

Solução: Fazendo   ka e introduzindo uma função periódica com período a, u k x ′ , podemos mostrar que

〈x ′ |  e ikx u k x ′  (4.3.17)
é solução de (4.3.16). De fato, substituindo (4.3.17) em (4.3.16), obtém-se explicitamente
′ ′
〈x ′ − a|  e ikx −a u k x ′ − a  e −ika e ikx u k x ′   e −i 〈x ′ |
onde usamos u k x ′ − a  u k x ′ . Esta importante condição é conhecida como teorema de Bloch: A função de

onda de |, que é um autoket de a, pode ser escrita como uma onda plana e ikx vezes uma função periódica com
periodicidade a.

Note que o único fato que usamos foi que | é um autoket de a com autovalors e −i . O teorema de Bloch
continua valendo, mesmo que a aproximação tight-binding não seja uma aproximação válida.
Interpretração dos resultados para |
 a função de onda é uma onda plana caracterizada pelo vetor de propagação de onda k modulada por uma função
periódica u k x ′ 
 existe um corte no vetor de onda k dado por |k|  
a
 para  variando de − a , o vetor de onda varia de −  
a ≤ k ≤ a , conhecida como zona de Brillouin
 os autovalores da energia, E, agora dependem de k :
Ek  E 0 − 2Δ cos ka (4.3.19)
que não depende da forma detalhada do potencial, quando a aproximação tight-binding é válida.

E(k )

E0 + 2 Δ
E0
E0 − 2Δ

π k
− π
2
0 +
2

 devido ao tunelamento, as degenerescências são completamente eliminadas e as energias formam uma banda
contínua entre E 0 − 2Δ e E 0  2Δ

4.4 Simetria Discreta de Inversão Temporal


O termo mais correto seria reversão do movimento.
(A) Inversão temporal em mecânica clássica. Considere a trajetória de uma partícula sujeita a um campo
de força (veja a figura abaixo). Em t  0, a partícula pára (fig. a) e reverte (fig. b) o movimento: p| t0  −p| t0.
A partícula descreve de volta a mesma trajetória. Passando um filme na ordem reversa da trajetória (a) é
muito difícil distinguir-se a sequência correta.

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 17


Reverte
p t  0   − p t  0 

(a) (b)
Pára em t = 0

Mais formalmente, se xt é uma solução da equação


mẍ  −∇Vx , (4.4.1)
então x−t é também uma possível solução para o mesmo potencial.
Campo magnético: ponto de vista macroscópico. Com um campo magnético, podemos ser capazes de
dizer a diferença entre os dois movimentos. De fato, passando o filme da trajetória do elétron espiralando no
campo magnético é possível dizer-se se o filme está na ordem certa ou reversa, ao compararmos o sentido
da rotação com os pólos magnéticos marcados com N e S.

S
B trajetória do
elétron

Campo magnético: ponto de vista microscópico. Porém, do ponto de vista microscópico, B é produzido por
cargas em movimento via corrente elétrica; se invertermos a corrente que produz B, então a situação seria
simétrica. Em termos da figura acima, poderíamos concluir que N e S estariam marcados indevidamente.
Outra maneira mais formal de dizer tudo isso é que as equações de Maxwell,
4j
∇  E  4, ∇  E  − 1c ∂B , ∇  B  0, ∇  B − 1c ∂E  c (4.4.2)
∂t ∂t
e a força de Lorentz
F  e E 1
cvB
são invariantes por transformação t → −t, com as condições
E → E, B → −B,  → −, j → −j, v → −v (4.4.3)

(B) Inversão temporal em mecânica quântica. Seja a equação de Schrödinger,


∂
 −  ∇2  V 
2
i (4.4.4)
∂t 2m
Suponha que x, t é uma solução. Podemos verificar que x, −t não é uma solução. Porém,  ∗ x, −t é
uma solução. Por exemplo, seja um autoestado da energia,
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x, t  u n x  e −iE n t/ ,  ∗ x, −t  u ∗n x  e −iE n t/ (4.4.5)
Substituindo-se na equação de Schrödinger, podemos verificar que ambos são solução daquela equação.
Então, a inversão temporal tem alguma coisa a ver com a conjugação complexa. Se em t  0 a função de
onda é dada por
  〈x | (4.4.6)
então a função de onda para o correpondente estado reverso temporal é dado por 〈x | ∗ .

Digressões sobre Operações de Simetria


Observações gerais sobre operações de simetria. Considere a operação de simetria
| → |̃ , | → ̃ 

 Produto interno preservado


̃ ̃   〈|. (4.4.8)
Isto é correto para operadores de simetria unitários (rotação, translação e paridade). No caso da inversão
temporal, que tem a ver com a conjugação complexa, uma condição mais fraca deve valer
̃ ̃   |〈|| (4.4.10)
Como consequência, temos
̃ ̃   〈| ∗  〈| (4.4.11)
que engloba (4.4.8).

Definição A transformação

| → |̃ , | → ̃   | (4.4.12)

é dita ser antiunitária se

̃ ̃   〈| ∗ (4.4.13a)
c 1 |  c 2 |  c ∗1 |  c ∗2 | (4.4.13b)

Nesses casos, o operador  é um operador antiunitário. A relação (4.4.13b) também define um operador antilinear.
 Um operador antiunitário pode ser escrito como
  UK (4.4.14)
onde U é um operador unitário e K é o operador conjugado complexo, que toma o conjugado complexo de
qualquer coeficiente que multiplica um ket. Ou seja,
Kc|  c ∗ K| (4.4.15)

Observação (1) O operador K atuando sobre os kets de base não muda esses kets. De fato, seja | escrito na base
|a ′ . Logo,

|  ∑ |a ′ 〈a ′ | → K|  |̃   ∑ K 〈a ′ ||a ′   ∑ 〈a ′ | ∗ K|a ′ 


a′ a′ a′

 ∑ 〈a | ′ ∗ ′
|a  (4.4.16)
a′

Não há nada o que mudar em |a ′ :

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 19


0

0

|a   1 (4.4.17)
0

0

Observação (2) Por exemplo, se usarmos S z como base, os autokets de S y devem mudar pela ação de K

K 1 |  i |− → 1 | ∓ i |− (4.4.18)


2 2 2 2
Mas se os próprios autokets de S y forem usados como base, K não muda os autokets de S y .
 É sempre mais seguro trabalharmos com a ação de   UK sobre os kets. Se 〈| → 〈̃ |̃   〈|. Então

| → |̃   ∑〈a ′ | ∗ UK |a ′ 
a′

 ∑〈a ′ | ∗ U |a ′ 
a′

 ∑〈|a ′  U |a ′ 
a′

Para |

| → |̃   ∑〈a ′ | ∗ U |a ′  CD
↔ ̃  ∑〈a ′ | 〈a ′ | U †
a′ a′

Logo,

̃ ̃   ∑∑ 〈a ′′ | 〈a ′′ | U † 〈|a ′  U |a ′ 
a ′′ a′

 ∑ ∑〈a ′′ | 〈a ′′ | U † U |a ′ 〈|a ′ 


a ′′ a′

 ∑ ∑〈a ′′ | 〈a ′′ | a ′  〈|a ′ 


a ′′ a′
 a ′′ a ′

 ∑〈a ′ | 〈|a ′   ∑〈|a ′ 〈a ′ |


a′ a′

 〈|  〈| ∗ (4.4.21)

Operador Inversão Temporal

Notação Usaremos a seguinte notação:  - operador antiuinitário geral e Θ - operador inversão temporal.

Considere
| → Θ| (4.4.22)
onde Θ| é o estado de inversão temporal (ou de movimento reverso).
 Se | é um autoket do momento |p ′ , então Θ| → |−p ′ . Da mesma forma, J também reverte por inversão
temporal.
Propriedades fundamentais do operador Θ. Considere um sistema representado pelo ket | no instante
t  0. Num tempo imediatamente postorior, digamos t  t, o sistema é encontrado em

Prof. Abraham Moysés Cohen Mecânica Quântica A 20


|, t 0  0; t  t  1 − iH t | (4.4.23)

onde H é o Hamiltoniano do sistema.
Operações que levam ao mesmo estado

(a) primeiro aplicamos Θ em t  0 e, em seguida, deixamos o sistema evoluir sob a influência de H:

1 − iH t Θ| (4.4.24a

ou
(b) primeiro consideramos um estado ket no instante t  −t e então aplicamos o operador Θ
Θ|, t 0  0; t  −t (4.4.24b
veja a figura abaixo.

Momento
antes da inversão
Momento
antes da inversão

Momento
após a inversão

t=0
t=0
Momento
após a inversão

t = +δt
t = -δt
(a) (b)
Matematicamente,

1 − iH t Θ|  Θ 1 − iH −t | (4.4.25)


 
ou, se for válida para qualquer ket, então
− iHΘ  ΘiH (4.4.26)
ou ainda, em termos de uma equação de operadores
− iHΘ  ΘiH (4.4.27)

Observação O operador Θ tem que ser um operador antiunitário. Leia os argumentos no livro de texto.
Sendo assim,
ΘiH  −iΘH (4.4.30)
e, portanto,
HΘ  ΘH → H, Θ  0 (4.4.31)

Observação Como alertamos anteriormente, é melhor evitar o uso de um operador antiunitário sobre um estado bra.
Porém, podemos usar
〈|Θ| (4.4.32)

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 21


que sempre será entendido como
〈|  Θ| (4.4.33)
e nunca como
〈|Θ  | (4.4.34)

Comportamento de operadores por inversão temporal


Seja
|̃   Θ |, |  Θ | (4.4.35)

Identidade:

〈| X |  〈̃ | Θ X † Θ −1 |̃  (4.4.36)

Demonstração: Vamos definir


CD
| ≡ X † |  〈|  〈| X
onde X é um operador linear Xa|  b|  aX|  bX| , mas não necessariamente Hermitiano. Então,

〈| X |  〈|X  |  〈|  〈̃ |̃ 


 〈̃ |Θ|  〈̃ |Θ X † |  〈̃ |Θ X † Θ −1 Θ|
 〈̃ |Θ X † Θ −1 |̃ 
que prova a identidade. Em particular, para observáveis Hermitianos A, obtemos
〈| A |  〈̃ |Θ A † Θ −1 |̃   〈̃ |Θ AΘ −1 |̃  (4.4.40)

Existem duas classes de observáveis físicos que obedecem essas regras de transformação:
Θ AΘ −1  A (4.4.41)
São chamados de pares ou ímpares por transformação de inversão temporal, repectivamente.
Assim,
〈| A |  〈̃ | A |̃    〈̃ A |̃  ∗ (4.4.42)

Valores esperados. Se |  |, obtém-se


〈| A | → 〈| A |   〈̃ | A |̃  ∗   〈̃ | A |̃  (4.4.43)

onde 〈̃ | A |̃  é o valor esperado tomado em relação ao estado de tempo reverso.
Exemplo 1: Valor esperado de p. O valor esperado de p no estado de tempo reverso deve ter o sinal
oposto ao do estado original. Então
〈| p |  − 〈̃ | p |̃ 
tal que p é um operador ímpar, ou seja,
Θ p Θ −1  −p (4.4.45)
Isto implica que
p Θ |p ′   −ΘpΘ −1 Θ|p ′ 
 −Θp|p ′ 
 −p ′ Θ |p ′  (4.4.46)
o que concorda com a asserção anterior de que

Prof. Abraham Moysés Cohen Mecânica Quântica A 22


Θ |p ′   |−p ′  exceto por uma fase

Exemplo 2: Valor esperado de x. De maneira similar, obtém-se


ΘxΘ −1  x
Θ |x ′   |x ′  exceto por uma fase
da condição necessária de que
〈| x |  − 〈̃ | x |̃ 

Invariância das relações de comutação fundamentais


(a) Posição-momento. Neste caso,
x i , p j   i ij
Aplicando Θ em ambos os lados desta equação,
Θx i , p j   Θi ij → Θx i , p j Θ −1 Θ  −i ij Θ
ou
x i , −p j Θ  −i ij Θ  x i , p j Θ  i ij Θ

(b) Momento angular. De maneira similar, para preservar


J i , J j   i ijk J k (4.4.52)
o operador momento angular deve ser ímpar por inversão temporal,
ΘJΘ −1  −J (4.4.53)
o que é consistente para sistemas sem spin, uma vez que, neste caso J  x  p. De fato,
ΘJΘ −1  Θx  pΘ −1  x  ΘpΘ −1  −x  p  −J

Função de onda
Partícula no instante t  0 no estado |. Sua função de onda, 〈x ′ |, aparece no coeficiente de expansão na
representação da posição:

|   d 3 x ′ |x ′ 〈x ′ |


Aplicando o operador Θ, encontra-se

Θ |   d3x′ Θ |x ′ 〈x ′ |

  d 3 x ′ |x ′ 〈x ′ | ∗
onde usamos Θ|x ′   |x ′ . Em termos de função de onda,
x ′ , t  0 → Θ x ′ , t  0   ∗ x ′ , t  0.

Parte angular de x . A parte angular de x , Y ml ,  tranforma-se como


m −m
Y ml ,  → ΘY ml ,   Y m∗
l ,   −1 Y l , 

Como Y ml ,  é uma função de onda para |l, m, deduz-se que
Θ|l, m  −1 m |l, −m (4.4.58)

Função de onda do tipo x   RrY m


l , . Para a função de onda deste tipo, a corrente de

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 23


probabilidade

jx, t   Im ∗ ∇ (2.4.16)


m

tem direção contrária ao movimento dos ponteiros do relógio, enquanto que para o estado de tempo
reverso, tem sentio oposto a esse (v. figura abaixo).

~
j j

Teorema Suponha que H é invariante por inversão temporal e o autoket da energia |n é não degenerado; então, a
correspondente autofunção da energia é real (ou mais geralmente, uma função real vezes um fator de fase
independente de x).

Prova: Observe inicialmente que

HΘ|n  ΘH|n  E n Θ|n, (4.4.59)

tal que |n e Θ|n têm a mesma energia. Com a hipótese de estado não degenerado, conclui-se que |n e
Θ|n representam o mesmo estado, o que, do contrário, teríamos dois estados diferentes com a mesma
energia E n , que estaria em contradição com a hipótese inicial. Sejam então as funções de onda para |n e
Θ|n representadas por 〈x ′ |n e 〈x ′ |n ∗ . Como elas são iguais, devemos ter

〈x ′ |n  〈x ′ |n ∗ (4.4.60)

para todos os propósitos – ou, mais precisamente, podem diferir no máximo por um fator de fase
independente de x. 

Então, por exemplo, se temos um estado ligado não degenerado, sua função de onda é sempre real.

No átomo de hidrogênio com l ≠ 0 e m ≠ 0, a autofunção da energia caracterizada pelos números quânticos


n, l, m é complexa porque Y ml é complexa; mas, isto não contradiz o teorema, uma vez que |n, l, m e |n, l, −m
são degenerados. Similarmente, a função de onda de uma onda plana e ipx/ é complexa, mas ela é
degenerada com e −ipx/ .

O operador Θ depende da representação usada


Autokets da posição, |x ′ , como base. Para t  0, vimos que, para um sistema sem spin, a função de
onda para o estado de tempo reverso é obtida, tomando-se apenas o complexo conjugado. Neste caso
Θ  K, pois K e Θ têm o mesmo efeito quando atuam nos kets de base |a ′  ou |x ′ . Logo, Θ  K x , onde
o índice x é para lembrar que usamos os autokets da posição como base.
Autokets do momento,  |p ′ , como base. Agora a situação é diferente, porque Θ tranforma |p ′  em |−p ′ .
Logo,

|   d 3 p ′ |p ′ 〈p ′ | → Θ|   d 3 p ′ |−p ′ 〈p ′ | ∗   d 3 p ′ |p ′ 〈−p ′ | ∗ (4.4.61)

Para a função de onda p , por inversão temporal transforma-se em

Prof. Abraham Moysés Cohen Mecânica Quântica A 24


p ′  →  ∗ −p ′ 

Neste caso, Θ  K p .
sto mostra que a forma particular de Θ depende da representação particular que é usada.

Inversão Temporal para um Sistema de Spin ½


Seja |n̂ ;  o autoket do operador S  n com autovalor /2, dado na Seç. 3.2, ou seja,
|n̂ ;   D z n̂ , D y n̂ , |  e −iS z / e −iS y / |
onde n̂ é caracterizado pelos ângulos polar  e azimutal . Então
Θ |n̂ ;   Θ e −iS z / e −iS y / |
 Θ e −iS z / Θ −1 Θe −iS y / Θ −1 Θ|n̂ ; 
∗ ∗
 e −i−S z /  e −i−S y /  Θ|n̂ ; 
 e −iS z / e −iS y / Θ|n̂ ; 
 |n̂ ; −.
onde usamos (4.4.53). Por outro lado, pode-se verificar facilmente que
|n̂ ; −  e −iS z / e −iS y / |
ou seja,
e −iS z / e −iS y / Θ|n̂ ;    e −iS z / e −iS y / |
Portanto
e −iS z / e −iS y / Θ   e −iS z / e −iS y / e −iS y /
ou, escrevendo Θ  UK, e observando que K |  |, obtém-se
Θ   e −iS y / K

Usando a relação (3.2.44), ou seja,


 
e −in̂ /2  cos − i  n̂ sen
2 2
2S y
para n̂  ŷ,    e   n̂   y  encontra-se

2S y
e −iS y /  −i

Logo,
2S y
Θ   e −iS y / K  −i K (4.4.65)

onde  é uma fase arbitrária (um número complexo de módulo igual a 1).
Efeito de Θ sobre um estado mais geral de spin ½. Observe que
2S y
e −iS y / |  −i |  −i 2 S y |
 

 0 −i 1 0 0
 −i 2  −i 
 2 i 0 0 i 1
  |−

Da mesma forma,
Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 25
2S y
e −iS y / |−  −i |−  −i 2 S y |−
 

 0 −i 0 −i −1
 −i 2  −i 
 2 i 0 1 0 0
 − |

Assim,
Θ c  |  c − |−   e −iS y / K c  |  c − |−  e −iS y / c ∗ |  c ∗− |−
  c ∗ |− − c ∗− |
Aplicando Θ novamente,
Θ 2 c  |  c − |−   e −iS y / K  c ∗ |− − c ∗− |
  e −iS y /  ∗ c  |− −  ∗ c − |
 −|| 2 c  |  || 2 c − |−
 − c  |  c − |− (4.4.69)

ou
Θ 2  −1 (4.4.70)
(onde −1 significa −1 vezes o operador identidade), para qualquer orientação de spin.
Generalização para J. Podemos provar que
Θ 2 |j semi-inteiro  − |j semi-inteiro (4.4.72a
Θ 2 |j inteiro   |j inteiro (4.4.72b
então os autovalores de Θ 2 são dados por −1 . 2j

Demonstração. Para um j arbitrário,


Θ  e −iJ y / K (4.4.73)

Para um ket | expandido na base dos |jm, ou seja,


|  ∑|jm〈jm|
jm

obtém-se

Θ 2 |  Θ ∑ Θ |jm〈jm| Θ ∑ e −iJ / K |jm〈jm|


y

m m

 Θ  ∑ e −iJ y / |jm〈jm| ∗
m

   ∗ ∑ e −2iJ y / |jm〈jm|
m

 || e2 −2iJ y /
∑ |jm〈jm| (4.4.74)
m

Mas,
e −2iJ y / |jm  −1 2j |jm (4.4.75)

Prof. Abraham Moysés Cohen Mecânica Quântica A 26


com é evidente das propriedades dos autoestados de momento angular por rotação de 2.
O estado j inteiro pode significar estado de spin. Para um sistema de dois elétrons, j inteiro em
(4.4.72b) pode significar o estado de spin
1 | −  |−  (4.4.76)
2
O importante é que apenas o j seja um número inteiro.
Da mesma maneira, j semi-inteiro , pode significar, por exemplo, um sistema de 3 elétrons em qualquer
configuração.
Observação Para um sistema constituído exclusivamente de elétrons, qualquer sistema com um número ímpar (par)
de elétrons – idependentemente de sua orientação espacial (por exemplo, momento angular orbital relativo) – é ímpar
(par) pela aplicação de Θ 2 ; não precisam nem ser autoestados de J 2 .

★ Leia o restante da seção.

Interações com Campos Elétricos e Magnéticos; Degenerescência de Kramers


(a) Interações com campos elétricos
Partícula carregada num campo elétrico, H  K  V, sendo
Vx   ex  (4.4.85)
onde x  é o potencial eletrostático. Como  é uma função real do operador (par) x, então
Θ, H  0 (4.4.86)

Apesar de Θ comutar com o Hamiltoniano, isto não leva a uma lei de conservação. A razão é que
ΘUt, t 0 |   U ∗ t, t 0 e −iJ y / K|   U ∗ t, t 0 Θ| 
ou seja,
ΘUt, t 0  ≠ Ut, t 0 Θ (4.4.87)

Degenerescência de Kramers. Outra consequência da invariância por inversão temporal é a


degenerescência de Kramers.
Suponha que Θ, H  0 e seja |n e Θ|n o autoket da energia e seu estado de tempo reverso, pertencente a
mesmo autovalor da energia E n
H|n  E n |n
HΘ|n  ΘH|n  E n

Questão: |n e Θ|n representam o mesmo estado?

Em caso positivo,
Θ|n  e i |n (4.4.88)
Aplicando Θ novamente,
Θ 2 |n  Θe i |n
 e −i Θ
 |n (4.4.89)

Sistemas com j semi-inteiro.Esta relação é impossível de se concretizar para sistemas com j semi-inteiro,
para os quais, Θ vale sempre −1. Assim, somos levados a concluir que, para sistemas compostos de um
2

Capítulo 4 Simetria em Mecânica Quântica 27


número ímpar de elétrons num campo elétrico externo E, cada nível deve ser pelo menos duplamente
degenerado, não importando quão complicado E possa ser.

(b) Interações com campos magnéticos


Neste caso, o Hamiltoniano pode conter termos do tipo
S  B, p  A  A  p, B  ∇  A  (4.4.90)
onde o campo magnético é considerado com um campo externo. Os operadores S e p são ímpares por
transformação de inversão temporal; portanto, essas interações levam a
ΘH ≠ HΘ (4.4.91)

Como exemplo trivial, para um sistema de spin ½, o estado spin para cima | e seu estado de tempo
reverso |− não têm a mesma energia num campo magnético externo. Em geral, a degenerescência de
Kramers num sistema contendo um número ímpar de elétrons pode ser levantada, aplicando-se um campo
magnético externo.
Observação (1) Note que, quando tratamos B como um campo externo, não mudamos B por inversão temporal; isto
é devido ao elétron atômico ser visualizado como um sistema quântico fechado, ao qual aplicamos o operador
inversão temporal.
Observação (2) Não devemos confundir a observação (1) com as observações anteriores relacionadas à invariância
das equações de Maxwell (4.4.2) e da equação da força de Lorentz fazendo t → −t e (4.4.3). Ali, aplicamos a inversão
temporal a todo o universo, por exemplo, até às correntes no fio que produzem o campo B.

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