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ONDAS ULTRA-SÔNICAS
INTRODUÇÃO
Dentre os parâmetros acústicos que podem ser usados para caracterizar algum material, a
velocidade de propagação é um dos mais analisados e diversas técnicas têm sido desenvolvidas
para obter estimativas cada vez mais precisas, como a descrita por Ye et al. (1995). Neste
trabalho os autores determinam a velocidade de propagação estimando o tempo que um pulso de
ultra-som leva para se propagar através de uma determinada distância. Um conhecimento "a
priori" da distância permite o cálculo da velocidade da onda. Essas distâncias são, normalmente,
obtidas por "pulsos de referência" gerados por superfícies refletoras localizadas na frente e na
retaguarda da amostra do material a ser analisado. Essa técnica permite somente a determinação
da velocidade média ao longo da distância total percorrida entre as superfícies do material a ser
analisado, ainda que esta seja bastante precisa.
F (t ) = − u (t ) ξ (1)
Na maioria dos textos sobre movimento harmônico usa-se a rigidez da mola, k, cuja
dimensão é expressa em [N/m], para relacionar força com deslocamento. Neste texto, para
2
caracterizar a mola adota-se a compliância, dimensionalmente igual a [m/N], devido a sua
similaridade com o módulo de compressão volumétrico, utilizado para descrever uma das
características de um fluido. As duas constantes para caracterizar a mola, rigidez k ou
compliância ξ são corretas, mas o uso da última facilita as analogias com a equação da onda.
d 2 u (t )
− u (t ) ξ = m ⋅ a(t ) = m ⋅ (2)
dt 2
d 2 u (t ) 1
+ ⋅ u (t ) = 0 (3)
dt 2 ξm
onde o primeiro termo desta equação possui dimensão [m/s2]. Para haver compatibilidade
dimensional entre os termos, a constante 1/ξm deve possuir dimensão [1/s2]. Uma solução
possível para a Eq. (3) é dada pela Eq. (4):
1
u (t ) = u o ⋅ sen ⋅t (4)
ξm
que pode ser verificada por simples inspeção. Na Eq. (4), u0 é a amplitude do deslocamento u(t),
e de acordo com o argumento da função seno, os valores deste deslocamento se repetem quando o
tempo t é um múltiplo de 2π ⋅ ξm , o que caracteriza o período (T) de uma onda, expresso em
segundos [s]. Sendo T o tempo para o qual os valores dos deslocamentos se repetem, haverá 1/T
repetições destes deslocamentos por segundo, o que define a freqüência (f) de uma onda,
expressa em ciclos por segundo ou Hertz [Hz]. Portanto:
1 1 1
f = = ⋅ (5)
T 2π ξm
A Eq. (5) é bastante conhecida da física básica, segundo a qual a freqüência de oscilação de
um sistema massa/mola é dada por:
1 k
f = ⋅ (6)
2π m
3
1
ω = 2πf = (7)
ξm
de modo que a Eq.(4) pode ser reescrita em sua forma mais conhecida:
u (t ) = u o ⋅ sen(ω ⋅ t ) (8)
du (t )
v(t ) = = u o ⋅ ω ⋅ cos (ω ⋅ t ) (9)
dt
dv(t )
a (t ) = = −u o ⋅ ω 2 ⋅ sen(ω ⋅ t ) (10)
dt
Algumas relações entre a energia potencial e cinética do sistema massa/mola serão úteis para
futuras analogias com a propagação de ondas em meios elásticos. Dada a força necessária para
comprimir a mola, a energia potencial (Ep) armazenada quando a mesma é comprimida até o
valor máximo do deslocamento é dada pela Eq. (11):
uo uo u u o2
Ep = ∫ F ⋅ du = ∫ ⋅ du = (11)
0 0 ξ 2ξ
No instante de tempo em que o deslocamento u(t) é zero, a velocidade v(t) atinge seu valor
máximo, v0. Conseqüentemente, toda a energia potencial armazenada pela mola será convertida
em energia cinética (Ec), dada pela Eq. (12):
mv02 m(u 0ω )
Ec = = (12)
2 2
Após a revisão dos conceitos básicos sobre movimento harmônico, analisa-se agora os
princípios que levam à equação de ondas. Entende-se por onda uma perturbação que varia com o
tempo e que se propaga indefinidamente. Ondas mecânicas, como é o caso de uma onda ultra-
sônica, necessitam de um meio físico para que se propaguem, ou seja, a perturbação é um
deslocamento de alguma região ou partícula deste meio físico. De acordo com a direção do
deslocamento, as ondas podem ser transversais ou longitudinais.
O exemplo clássico de uma onda transversal é dado por uma corda, considerada como uma
cadeia de partículas que podem sofrer deslocamentos em direções ortogonais ao comprimento da
corda. A Fig. 2 mostra uma corda que se estende infinitamente para a direita e uma extremidade
livre à esquerda. Aplicando-se um movimento vertical brusco à extremidade da esquerda, haverá
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uma região na extremidade esquerda da corda que sofrerá uma série de deslocamentos que se
propagarão pela corda ao longo da direção z como mostrado na Fig. 2. Estes deslocamentos, que
possuem a forma pulsátil, atendem à definição de onda apresentada no início desta seção pois se
propagam indefinidamente ao longo da corda e o deslocamento sofrido por cada ponto é função
do tempo. No caso em questão, os deslocamentos ocorrem na direção ortogonal à direção de
propagação da onda, o que caracteriza uma onda transversal.
z z
Mas nem sempre a forma de onda em estudo é um pulso como mostrado na Fig. 2.
Intuitivamente, quando se fala em ondas, associa-se às mesmas um formato senoidal, como
mostrado na Fig. 3. De fato, o formato senoidal é facilmente obtido se os movimentos na
extremidade livre da corda também forem senoidais. Isso faz com que haja, em um dado instante
de tempo t, partículas da corda com o mesmo deslocamento u(t) e velocidade v(t). A distância
entre partículas com o mesmo deslocamento u(t) e velocidade v(t) (em módulo e sentido) é
chamada de comprimento de onda, λ.
u(t)
Nota-se que na Fig. 2 é possível encontrar dois pontos nos quais o deslocamento u(t) é o
mesmo, porém a velocidade v(t) não será igual (pode ser até em módulo, porém jamais em
sentido), como mostrado na Fig. 4, o que neste caso impossibilita a aplicação do termo
comprimento de onda.
v2
u
v1
z
Figura 4 – Deslocamentos (u) iguais e velocidades (v1 e v2) iguais em módulo, porém
com sentidos diferentes.
5
Na Fig 3. representa-se os deslocamentos em função da distância z ao longo da corda. Pode-
se também fixar uma distância z e representar os deslocamentos em função do tempo, como
mostrado na Fig. 5.
u(t)
T
λ
c= = fλ (13)
T
O exemplo mais tradicional de uma onda transversal é dado pelas perturbações que se
propagam por uma corda, como mostrado nas Fig. 2, 3 e 4. Para deduzir a respectiva equação da
onda desta propagação, considera-se a Fig. 6, que mostra um segmento infinitesimal δl da corda
sujeito a uma perturbação e submetido a uma tensão ψ.
ψ
δl
du
ψ
z z + dz
Figura 6 – Segmento de corda infinitesimal.
6
Pela Fig. 6, θ é o ângulo formado pela direção de propagação da onda e a tangente da
corda. O valor de θ varia em função da posição z. Portanto,considerando a projeção da força ψ
na direção vertical nas posições z + dz e z, a força F resultante que atua sobre o segmento
infinitesimal é dada pela Eq. (14). É esta força que acelera a massa infinitesimal do segmento ao
longo da direção do deslocamento u.
Como os deslocamentos u são pequenos, o ângulo θ também será, o que permite usar
uma aproximação de primeira ordem para a projeção vertical da força no ponto z + dz, como
mostrado na Eq. (15):
∂ (Ψ ⋅ senθ )
F= ⋅ dz (16)
∂z
Como os ângulos θ são pequenos pode-se aproximar o valor de sen(θ) pela sua tangente,
∂u/∂z, e como a tensão ψ é constante, tem-se que:
∂ 2u
F = Ψ ⋅ 2 ⋅ dz (17)
∂z
Admitindo que a corda possui uma densidade linear η em[kg/m], a massa do segmento
infinitesimal será η dz, e de acordo com a segunda lei de Newton:
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
Ψ ⋅ 2 ⋅ dz = ηdz ⋅ 2 ⇒ Ψ ⋅ 2 = η ⋅ 2 (18)
∂z ∂t ∂z ∂t
Substituindo-se η/ψ por 1/c2, tem-se finalmente a equação da onda transversal para uma
corda, dada pela Eq. (19):
∂ 2u 1 ∂ 2u
= ⋅ (19)
∂z 2 c 2 ∂t 2
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mesma, maior será a velocidade com que a perturbação se propaga. Do mesmo modo, quanto
maior a massa, menor é a velocidade de propagação.
ONDAS LONGITUDINAIS
O modo longitudinal também pode ser observado em estruturas simples, como uma mola
tracionada. É possível impor um movimento vertical repentino (um pulso) na extremidade de
uma mola, tal como feito no caso da corda mostrado na Fig. 2. Neste caso, as perturbações serão
transversais à direção de propagação do pulso, como mostrado na Fig. 7.
u u
z z
Figura 7 – Propagação de um pulso transversal em uma mola.
z z
Ondas transversais não se propagam em fluidos não-viscosos, pois os mesmos não suportam
tensões de cisalhamento. Nestes meios só é possível a propagação de ondas longitudinais, ou de
compressão. Considere-se um fluido ilimitado no qual um de seus planos é submetido a uma
compressão súbita, causando uma aproximação entre as partículas próximas ao plano e um
conseqüente aumento da pressão nesta região. A Fig. 9 mostra um elemento de volume deste
fluido com o plano em questão localizado à esquerda. O súbito aumento de pressão é transmitido
a planos subseqüentes. Depois de terminado o transitório de pressão, a elasticidade do fluido faz
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com que as partículas localizadas no primeiro plano voltem ao seu estado de repouso, mas a onda
de pressão seguirá se propagando para a direita.
P P
z z
Figura 9 – Pulso de pressão aplicado à face de um fluido.
Na prática, a súbita compressão de um plano de um fluido pode ser causada pelo movimento
brusco de uma superfície que delimita o fluido, por exemplo, o êmbolo de uma seringa.
Aplicando-se um movimento repentino ao êmbolo de uma seringa que contenha um fluido, o
aumento de pressão não é instantâneo ao longo do fluido, pois a onda de pressão leva um certo
tempo para se propagar para a região mais afastada. Neste caso, a direção do movimento do
êmbolo é perpendicular à superfície que delimita o fluido. Quando a direção do movimento de
um plano delimitador é paralela à superfície que delimita o fluido, as partículas do fluido
adjacentes ao plano deslizam sobre as partículas de planos subseqüentes, e neste caso, nenhum
movimento pode ser transmitido para partículas subseqüentes, o que explica a impossibilidade de
propagação de ondas transversais em fluidos. Caso o fluido apresente alguma viscosidade, pode
ocorre a transmissão de algum movimento, porém este é rapidamente atenuado.
9
Po Po Po + p Po + p
A Fig. 10 mostra uma redução de volume do elemento de fluido, causada pela passagem da
onda. Porém, há que se considerar também que o mesmo elemento de volume sofre uma
translação, devido à existência de um gradiente de pressão, como mostrado na Fig. 11.
p
dp
z
dz
Po + p + dp Po + p
u u+du
z z+dz
Figura 12 - Deslocamento de u e u + du dos planos em z e z + dz.
10
A Fig. 12 mostra que o elemento de fluido sofre uma deformação volumétrica, definida pela
relação ∆V/V0 , onde V0 é o volume inicial e ∆V a variação de volume devida à passagem da onda
de pressão p. Com estas definições, pode-se definir o módulo de compressibilidade B (bulk
modulus), dado pela Eq. 20. O modulo de compressibilidade B é uma propriedade de materiais,
assim como a densidade, calor específico etc.
−p
B= (20)
∆V
V0
V0 = S [( z + dz ) − z ] = Sdz (21)
Do mesmo modo, considerando-se o elemento de fluido sob uma variação de pressão, seu
volume V é dado pela Eq. 22.
V = S [( z + dz + u + du ) − ( z + u )] = S [dz + du ] (22)
du
p = −B (24)
dz
Derivando-se a Eq. 24 em relação a z, chega-se a uma das relações fundamentais, dada pela
Eq. 25:
∂p ∂ 2u
= −B 2 (25)
∂z ∂z
A outra relação fundamental é obtida pela aplicação da segunda lei de Newton. Sendo ρ a
densidade do fluido, a massa de um elemento infinitesimal é dada por ρ·S·dz. E como o gradiente
de pressão gera uma força normal à superfície S dada por –dp·S, pode-se deduzir que:
∂ 2u
ρ ⋅ S ⋅ dz ⋅ = −dp ⋅ S (26)
dt 2
11
∂ 2u
Para a aceleração ter o mesmo sentido da força sobre o elemento infinitesimal faz-se
dt 2
necessário o uso do sinal negativo na parcela direita da Eq. 26, pois o gradiente de pressão dp/dz
é negativo (vide Fig. 11).
∂ 2u ∂p
ρ⋅ 2
=− (27)
dt ∂z
∂ 2u ρ ∂ 2u
= ⋅ (28)
∂z 2 B dt 2
A análise dimensional dos termos da Eq. 28 revela que a dimensão do fator ρ/B é igual a
[s2/m2]. Portanto, fazendo com que o termo B seja igual à uma constante chamada de c,
ρ
pode-se reescrever a Eq. 28 como:
∂ 2u 1 ∂ 2u
= ⋅ (29)
∂z 2 c 2 dt 2
onde c possui dimensões iguais a [m/s] e de fato representa a velocidade com que a onda se
propaga. Deve-se observar a similaridade da Eq. 29 com a Eq. 19, que descreve a propagação de
perturbações em uma corda. Atente-se também para o fato do deslocamento u ser função tanto do
tempo t como da posição z. Portanto, uma notação mais correta seria escrever u(t,z) na Eq. 29, e
não simplesmente u. Porém adota-se esta liberdade ao longo deste texto para facilitar a notação.
Esta notação será adotada para outros parâmetros da onda, como velocidade do elemento
infinitesimal v, aceleração do elemento infinitesimal a, e pressão p.
As Eqs. 19 e 29 admitem como solução qualquer função cujo argumento seja ct-z. Por
exemplo, u=ξ(ct-z) é uma solução possível, na qual ξ(ct-z) pode ser uma função exponencial,
gaussiana, senoidal etc. A comprovação da solução pode ser obtida tomando-se as derivadas
parciais do deslocamento em relação ao tempo e a distância, como mostrado nas Eqs. 30, 31, 32 e
33. Nestas equações, o apóstrofo significa a derivada de ξ em relação à seu argumento. As Eqs.
31 e 33 demonstram a Eq. 29 por substituição simples.
∂u
= cξ ′(ct − z ) (30)
∂t
∂ 2u
= c 2ξ ′′(ct − z ) (31)
∂t 2
12
∂u
= −ξ ′(ct − z ) (32)
∂z
∂ 2u
= ξ ′′(ct − z ) (33)
∂z 2
Como exemplo de uma função que atende à Eq. 29, supõe-se uma perturbação com formato
gaussiano, como expresso pela Eq. 34.
2
ξ (ct − z ) = e − (ct − z ) (34)
onde assume-se que a velocidade de propagação da perturbação, c, vale 3 m/s (uma velocidade
lenta, só para efeitos ilustrativos). De acordo com a Eq. 34 para o instante de tempo t = 0 s a
perturbação inicial é mostrada na Fig. 13.
u=1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
z(m)
Figura 13 – Perturbação para t = 0 s.
Após um segundo (t = 1 s), o argumento da função dada pela Eq. 34 vale (3·1-z). A perturbação
neste caso será igual à mostrada na Fig. 13, porém o máximo ocorre em z = 3 m, como mostrado
na Fig. 14.
u=1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
z(m)
Figura 14 – Perturbação para t = 1 s.
u=1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 z(m)
Figura 15 – Perturbação para t 2 s.
13
Também é possível demonstrar que u=ξ(ct+z) também é uma possível solução para a Eq. 29.
Neste caso, seguindo-se os mesmos passos mostrados nas Figs. 13 a 15, observa-se que a
perturbação se propaga para à esquerda. Portanto, uma solução mais geral é admitir a existência
de duas perturbações que se propagam em sentidos opostos, de maneira que u=ξ(ct-z)+ξ(ct+z).
Como observação final sobre a Eq. 29, a solução que quase sempre é admitida é uma
perturbação senoidal, dada por:
2π
u = u0 sen ⋅ (ct − z ) (35)
λ
que também é uma possível solução para a Eq. 29. Nesta solução, o termo 2π/λ é chamado de
“número de onda”, cujo significado físico pode ser observado ao analisar a perturbação para um
tempo fixo, t = 0, por exemplo. Neste caso, os valores da função senoidal se repetem cada vez
que a distância z é um múltiplo inteiro do comprimento de onda λ. Do mesmo modo, analisando-
se a solução para uma posição fixa z = 0, por exemplo, os valores das perturbações se repetirão
para tempos t que sejam múltiplos inteiros de λ/c, o que define o período da onda (inverso da
freqüência), T = 1/f = λ/c, relação que mais uma vez remete à c = f λ. Outra maneira de escrever
a Eq. 35 é dada pela Eq. 36:
u = u0 sen[(ωt − φ )] (36)
onde ω = 2πf e φ (2πz/λ) é uma defasagem que depende da posição z em relação ao comprimento
de onda λ.
Uma vez que a Eq. 36 mostra uma perturbação senoidal como possível solução da Eq. 29, é
possível determinar a velocidade e aceleração do um elemento infinitesimal de fluido que está
sujeito a este deslocamento. Portanto deduz-se que a velocidade é dada por:
du
v= = u0 ⋅ ω ⋅ cos[(ωt − φ )] (37)
dt
e a aceleração por:
dv
a= = −u0 ⋅ ω 2 ⋅ sen[(ωt − φ )] (38)
dt
Observa-se aqui que a velocidade do elemento infinitesimal, v, não deve ser confundida com
a velocidade de propagação da perturbação, c. Ao passar por um ponto z no espaço, a
perturbação, que se propaga à velocidade c impõe uma velocidade v ao elemento infinitesimal.
14
Tomando-se a Eq. 24, relembrando que c = B
ρ e derivando Eq. 35 em relação à z tem-se
que:
du 2π 2π
p = − ρc 2 = − ρc 2 ⋅ − u 0 ⋅ ⋅ cos ⋅ (ct − z ) = ρ ⋅ c ⋅ u0 ⋅ ω ⋅ cos(ωt − ϕ ) (39)
dz λ λ
p = ρcv (40)
ENERGIA E INTENSIDADE
A Eq. 12 fornece a energia cinética de uma massa m movendo-se a uma velocidade v0.
Analogamente, pode-se dizer que se um fluido possui uma massa por volume unitário igual à ρ, a
energia por unidade de volume para um elemento infinitesimal de fluido que se move à
velocidade v pode ser expressa pela Eq. 41:
1 2
E= ρv (41)
2
A energia da Eq. 41 se propaga pelo fluido, atravessando uma área unitária com velocidade
c. Deste modo, pode-se definir a intensidade I de uma onda, que é a energia que atravessa uma
área unitária por unidade de tempo, expressa em [W/m2], dada pela Eq. 42:
1
I = cE = ρcv 2 (42)
2
Com a intensidade definida pela Eq. 42 é possível estabelecer algumas relações numéricas
para avaliar as grandezas envolvidas. Para isso, supõe-se uma onda de pressão senoidal com
freqüência de 1 MHz e intensidade de 0,1 W/cm2 se propagando na água. Sabendo-se que para a
água c = 1500 m/s e ρ = 1000 kg/m3 pode-se usar a Eq. 42 para determinar a velocidade máxima
com que uma partícula ou elemento infinitesimal de volume da água se desloca. Esta velocidade
resulta em 0,036 m/s. Portanto, a velocidade pode ser expressa pela Eq. 43.
15
v = 0,036 ⋅ sen(2π ⋅ 1x106 ⋅ t + φ ) (43)
O deslocamento u do elemento de volume pode ser obtido integrando-se a Eq. 43, resultando
em uma amplitude de 5,8 nm, o que demonstra que as oscilações dos elementos de fluido são
extremamente pequenas. E com a Eq. 40, pode-se calcular que a amplitude de pressão p resulta
em 54 kN/m2, ou 0,54 atm. Considerando a pressão hidrostática da água igual a 1 atm, a pressão
irá variar entre 1,54 e 0,46 atm. Uma intensidade um pouco maior faria com que a pressão
chegasse a 0 atm (vácuo), mas na prática isso não ocorreria, pois estas regiões rarefeitas seriam
ocupadas pelo ar dissolvido na água e por vapor, causando o surgimento de bolhas. Este processo
é conhecido por “cavitação”.
Outro exemplo que mostra alguns valores reais envolvidos em propagação de ondas pode ser
analisado considerando-se a propagação do som no ar. Admite-se para isso uma onda sonora
senoidal, com freqüência de 1 kHz e magitude de 100 dB, valor que pode ser encontrado a 10 m
de uma turbina de avião. Esta magnitude já é considerada em alguns casos o limiar para uma
sensação auditiva dolorosa. O valor em dB expressa uma razão logarítmica em relação à pressão
do menor som audível (20x10-6 Pa). Logo, uma magnitude de 100 dB corresponde a uma pressão
p que atende à Eq. 44:
p
100 = 20 ⋅ log (44)
20 x10 − 6
o que resulta em uma pressão p igual à 2 Pa. Mesmo para uma onda sonora com magnitude no
limiar da dor, como neste caso, esta flutuação de pressão é pequena em relação à pressão
atmosférica hidrostática, de 100 000 Pa, fato que nos dá uma idéia sobre a sensibilidade extrema
do sistema auditivo. Usando-se a Eq. 40, conclui-se que a velocidade das partículas de ar atingem
um valor de 0,005 m/s, e realizando a integração, obtém-se um deslocamento de 1,2 µm.
Com o valor de 0,005 m/s para a velocidade e sabendo-se que para o ar ρ = 1,2 kg/m3 e c =
330 m/s, pode-se usar a Eq. 42 para se obter uma intensidade de 5x10-6 W/ m2 . A potência total
(P) que atravessa uma área de uma esfera com raio de 10 m que circunda esta fonte sonora (no
caso, o avião) será igual a 4π·102·5x10-6 W , ou seja, 0,0063 W, que equivale a 0,0015 cal/s. Caso
fosse possível captar toda a potência sonora e concentrá-la em um volume de água igual a 1 cm3,
seriam necessários 670 segundos (≈ 11 minutos!) para elevar em 1oC a temperatura deste
pequeno volume. Ou seja, as potências envolvidas em ondas sonoras são extremamente baixas, o
que mais uma vez corrobora a extrema sensibilidade do sistema auditivo humano.
REFLEXÕES EM INTERFACES
Nas seções anteriores obteve-se a solução da equação da onda para perturbações que se
propagam em meios sem qualquer descontinuidade ao longo do caminho de propagação. Neste
caso, as propriedades de cordas ou fluidos são consideradas constantes ao longo do caminho da
propagação. Pode-se interromper a característica homogênea de uma corda fixando-se uma
extremidade da mesma a um suporte rígido, como mostrado na Fig. 16, que mostra uma
perturbação se propagando para a direita, em direção ao suporte rígido.
16
u
z=0
O suporte rígido da Fig. 16 estabelece uma condição de contorno, de modo que para a
posição z = 0, o deslocamento u deve ser nulo para todo e qualquer instante de tempo t. Uma das
soluções possíveis para a onda de perturbação em uma corda sem descontinuidade, dada por
u=ξ(ct-z), entra em conflito com esta condição de contorno, pois para z = 0 haverá algum tempo
para o qual u=ξ(ct). Para atender a condição de contorno, deve-se admitir uma solução com a
forma da Eq. 45
pois para z = 0, u=ξ(ct)- ξ(ct) = 0 para qualquer tempo t. A solução dada pela Eq. 45 representa
duas ondas de perturbação, uma que se propaga para a direita, em uma corda real, e a outra para a
esquerda, em uma corda fictícia ou virtual, conforme mostrado na Fig. 17. Mesmo que o meio
físico não exista, a onda à esquerda é necessária para atender à condição de contorno em z = 0,
podendo ser interpretada como uma onda virtual.
z=0
À medida que o tempo aumenta, as duas ondas da Fig. 17 se encontrarão na interface, onde a
corda está fixa. Pode-se interpretar o fato do deslocamento u na interface ser nulo pela força de
reação que a corda virtual exerce na real. Na verdade, esta força é exercida pela reação do suporte
rígido, que, para manter o deslocamento na interface nulo, desempenha a mesma função da
perturbação virtual. Haverá um instante de tempo em que a posição da perturbação real será igual
a da perturbação virtual, resultando em um deslocamento nulo ao longo de toda a corda, como
mostrado na Fig . 18.
17
z=0
Ainda pela Fig 18 observa-se que ao final os dois pulsos prosseguirão se deslocando, porém
o real será transformado em virtual e vice-versa, ou, dito de outra maneira, ocorreu uma reflexão
na interface e os pulsos retornaram com amplitude e sentido opostos.
Nem sempre uma interface é rígida como a mostrada na Fig. 16. Pode-se admitir uma
interface que exerça uma certa força de reação sobre uma perturbação que se propaga em um
meio, porém a força é insuficiente para garantir que o deslocamento na interface seja zero. Esta
configuração é obtida quando se usam duas cordas com diferentes densidades lineares, como
mostrado na Fig. 19.
z=0
18
Na Fig. 19, a corda à direita, com maior densidade linear, não oferece força de reação
suficiente para manter o deslocamento na interface nulo. Conseqüentemente alguns de seus
elementos são deslocados e este deslocamento se propaga para a direita. No entanto, a reação da
corda com maior densidade linear foi suficiente para produzir a inversão dos deslocamentos na
corda de menor densidade, que se propagarão para a esquerda, conforme mostrado na Fig. 19.
Constata-se então que uma parcela da perturbação incidente foi transmitida e outra, refletida.
Observa-se que o caso mostrado na Fig. 18 é o caso limite para uma corda à direita com
densidade linear infinita (ou seja, imóvel devido à dificuldade em acelerá-la).
A determinação das relações entre amplitudes das ondas incidentes, transmitidas e refletidas
em função das características dos materiais constitui a base de uma das várias técnicas de
caracterização de materiais usando ultra-som. Para determinar estas relações, é necessário usar o
equacionamento desenvolvido nas seções anteriores.
ui = U i sen(ωt − k1 z ) (46)
19
A onda descrita pela Eq. 46 encontra uma interface formada por um material com módulo de
compressão volumétrico B2 e número de onda k2, como mostrado na Fig. 20. Neste caso haverá
uma onda refletida e uma onda transmitida dadas pelas Eq. 47 e Eq. 48 respectivamente.
u r = U r sen(ωt + k1 z ) (47)
u t = U t sen(ωt − k 2 z ) (48)
Nas Eqs. 46 a 48 atribui-se aos deslocamentos os índices i, r e t caso a onda seja a incidente,
refletida e transmitida respectivamente. Além das amplitudes serem distintas, o sinal positivo do
número de onda da Eq. 47 indica que a mesma se propaga para a esquerda, e o número de onda k2
da Eq. 48 indica que a onda está se propagando no segundo meio. Arbitra-se que a interface está
localizada na posição z = 0.
ui + ur = ut (49)
Ui + Ur = Ut (51)
A segunda condição de contorno é obtida tendo-se em mente que a força resultante sobre um
elemento de área na interface deve ser nula, ou seja, a pressão total à esquerda da interface deve
ser igual à pressão à direita, como expresso pela Eq. 52.
pi + pr = pt (52)
pi = − B1 ⋅ U i ⋅ (− k1 ) ⋅ cos(ωt − k1 z ) (53)
p r = − B1 ⋅ U r ⋅ (k1 ) ⋅ cos(ωt + k1 z ) (54)
pt = − B2 ⋅ U t ⋅ (− k 2 ) ⋅ cos(ωt − k 2 z ) (55)
20
B1Uik1 - B1Urk1 = B2Utk2 (56)
Bn
Como para qualquer meio kn = 2π/λn = ω/cn e cn =
ρ n , a Eq. 56 transforma-se em:
e reconhecendo o produto cnρn como a impedância acústica Zn, obtém-se a Eq. (58).
As Eq. 51 e Eq. 58 formam um sistema de equações que permite determinar as relações entre
as amplitudes das ondas refletida e transmitida pela amplitude da onda incidente. De fato,
resolvendo-se o sistema, chega-se facilmente às Eq. 59a e Eq. 59b.
U r Z1 − Z 2
= (59a)
U i Z1 + Z 2
Ut 2Z1
= (59b)
U i Z1 + Z 2
As relações descritas pelas Eq. 59 e Eq. 60 podem ser interpretadas para alguns casos limites.
Primeiramente, se não houver interface alguma, o meio é contínuo e Z1 = Z2. Neste caso não há
onda refletida e toda a onda incidente é transmitida. Se o segundo meio for muito mais denso que
o primeiro, Z2 → ∞, não havendo onda transmitida e toda a onda é refletida com inversão dos
deslocamentos. Se o segundo meio for extremamente rarefeito Z2 → 0, e surge uma onda refletida
com igual amplitude. Mas também há uma implicação que foge ao senso comum, pois no
segundo meio surge uma onda transmitida cuja amplitude é o dobro da incidente. Pode-se pensar
que houve alguma violação da conservação de energia, o que não é o caso, como será
demonstrado em seções adiante. Mas este fato pode ser associado ao caso de ondas transversais
que se propagam em cordas. Se uma corda é ligada a uma segunda corda com densidade
desprezível, haverá um pulso refletido na primeira corda com amplitude igual ao pulso incidente.
Para atender a condição de contorno do deslocamento na segunda corda, deve haver um pulso
com o dobro da amplitude do pulso incidente.
Uma análise semelhante pode ser feita para a relação entre as amplitudes das pressões
refletidas e transmitidas e a incidente. Para z = 0, tomando-se a razão entre as Eq. 54 e Eq. 53:
pr U Z − Z1
=− r = 2 (60)
pi U i Z1 + Z 2
21
ω
c 22 ρ 2U t
pt B2U t k 2 c2 Z 2U t 2Z 2
= = = = (61)
pi B1U i k1 2 ω Z1U i Z1 + Z 2
c ρ1U i
2
ci
Assim como na análise feita para os deslocamentos, verifica-se a coerência das Eq. 60 e Eq.
61 para os casos extremos. Se Z2 → 0, a pressão transmitida é zero, o que é obvio, pois um meio
sem densidade não requer força alguma para ser acelerado, e a pressão refletida é igual à
incidente mas com magnitude oposta. Se Z2 → ∞, a pressão transmitida é o dobro da incidente,
o que novamente parece violar alguma lei de conservação de energia. Porém, com as Eq. 40 e
Eq. 42 pode-se concluir que a intensidade é expressa por:
1 p2 p2
I= = (62)
2 ρc 2 Z
que é uma primeira sinalização de que não há inconsistência alguma nos resultados, pois a Eq. 62
afirma que pode haver pressão com intensidade próxima a zero se Z2 → ∞. Além disso, elevando-
se a Eq. 60 ao quadrado e dividindo as pressões por 2ρ1c1:
p r2
2
p r2 2 ρ1c1 I r (Z 2 − Z1 )
= = = (63)
pi2 pi2 I i (Z1 + Z 2 )2
2 ρ1c1
pt2
⋅ Z2
pt2 2 ρ 2 c 2 It Z2 4 Z 22 I 4Z1 Z 2
2
= 2
= ⋅ = 2
⇒ t = (64)
pi pi I i Z 1 (Z 1 + Z 2 ) I i (Z1 + Z 2 )2
⋅ Z1
2 ρ1c1
As Eq. 63 e Eq. 64 são perfeitamente coerentes no que diz respeito à conservação de energia,
pois para Z2 → ∞ ou Z2 → 0 a intensidade transmitida It → 0 e a refletida Ir → 1.
ABSORÇÃO E ATENUAÇÃO
22
A atenuação pode ser definida como uma redução da intensidade de uma onda ultra-sônica.
Sendo assim, a primeira causa de atenuação é de cunho puramente geométrico, causada pela
divergência do paralelismo de uma frente de onda. As equações apresentadas neste texto são
adequadas para descrevera propagação de ondas planas, porém é difícil consegui na prática uma
onda plana. A maioria das ondas ultras-sônicas pode ser considerada plana em regiões próximas à
face do transdutor emissor da onda, porém a frente tende a ser concêntrica à medida que a frente
de onda se afasta do transdutor, como mostrado na Fig. 21, onde as linhas cheias representam as
frentes de onda. Lembrando que a intensidade é a potência por unidade de área, a intensidade I2
será necessariamente menor que a intensidade I1, pois em posições mais afastadas a mesma
potência será distribuída por áreas maiores.
Direção de
propagação
I1
I2
Outro motivo para ocorrer atenuação de intensidade em uma onda ultra-sônica é atribuído à
existência de partículas aleatoriamente dispersas em um meio, com dimensões pequenas em
relação ao comprimento da onda incidente. Como mostrado na Fig. 22, uma onda ultra-sônica
que incide sobre uma partícula irá gerar uma onda esférica que irá se propagar por todas as
direções. Este processo é conhecido por “espalhamento”, termo que sugere que uma parcela da
intensidade é espalhada por todas as direções. Desta maneira, uma parcela de intensidade é
subtraída da onda incidente, que prossegue com intensidade menor e, portanto, atenuada.
23
haverá uma expansão na direção transversal à direção da compressão, que se propagará como
uma onda transversal. Como uma parcela da onda longitudinal é convertida para uma onda
transversal, há uma atenuação da intensidade da primeira, como mostrado na Fig. 23. Diz-se que
esta atenuação é devida à conversão de modo.
Finalmente, um dos fatores que mais contribui para a atenuação é a condutividade térmica
dos meios nos quais a onda se propaga. A compressão de um fluido por uma onda de pressão é
um processo termodinâmico que causa uma elevação da temperatura da região comprimida. A
condutividade térmica do meio faz com que haja uma conversão da energia acústica em energia
térmica, reduzindo com isso a intensidade da onda.
Também há que se considerar que uma onda de compressão movimenta elementos do fluido.
Em fluidos viscosos a conversão da energia acústica em calor se dá pelo atrito dos elementos de
fluido, podendo-se definir um coeficiente de atenuação µa como mostrado na Eq. 65.
2ηω 2
µa = (65)
3 ρc 2
A = Ao e − µ a z (66)
RADIAÇÃO
Nesta seção será descrito o processo de geração de uma onda de compressão, que leva ao
entendimento de como são feitos os transdutores usados para irradiar diferentes materiais. O
elemento gerador mais simples que se pode obter é uma fonte pontual, com dimensões pequenas
24
em relação ao comprimento da onda irradiada por ele. Uma fonte pontual que varie seu diâmetro
periodicamente irá irradiar uma onda de compressão em todas as direções. Neste caso as frentes
de onda são esféricas e concêntricas. Usando o princípio de Huygen, pode-se calcular a geometria
de frentes de ondas causadas por fontes com geometria mais complexa, pois é possível decompor
a fonte de geometria complexa em várias fontes pontuais e somar os resultados de cada uma
delas.
A intensidade de uma onda esférica decai com o quadrado da distância r da fonte que a
causou. Isso é facilmente observado ao se constatar que, caso não haja atenuação, a intensidade I
multiplicada pela área é sempre constante e igual à potência irradiada W, como mostrado na Eq.
67.
W
I= (67)
4πr 2
A uma distância r muito maior que o comprimento de onda λ, as frentes de ondas esféricas
podem ser consideradas planas, como mostrado na Fig. 24.
25
Na realidade, as frentes de onda geradas por um disco são mais complexas que as mostrada
na Fig. 25. Considerando-se os elementos infinitesimais de área de um disco como fontes
pontuais, pode-se aplicar o princípio de Huygen para cada um dos elementos pontuais e somar os
resultados para se ter o campo irradiado, como mostra a Fig. 26. Nesta figura, um elemento de
área dS de um disco de raio a se comporta como uma fonte pontual e irradia frentes de ondas
esféricas. O valor da pressão P no ponto (r,θ) pode ser determinado por meio da integração das
ondas geradas pelos vários elementos de área do disco.
x θ r z
P(r,θ)
Elemento de área dS
Pode-se integrar os campos gerados pelos elementos infinitesimais de área para determinar a
intensidade da onda em algum ponto do eixo z, (neste caso θ = 0). Designando-se esta
intensidade por Iz, e normalizando-a em relação a uma intensidade máxima I0, o resultado desta
integral é dado pela Eq. 66.
Iz
I0
π
= sen 2 ⋅
λ
( a + z − z )
2 2
(66)
A Eq. 66 indica que a intensidade ao longo do eixo z varia de modo significativo. De fato, a
intensidade atinge valores máximos quando o argumento da função seno é múltiplo impar de 90o,
logo:
π
λ
( )
⋅ a 2 + z 2 − z = (2m + 1) ⋅
π
2
(67)
26
2
4a 2 − (2m + 1) λ2
zmax = (68)
4λ (2m + 1)
Para obter alguns resultados previstos pela Eq. 68, considera-se um transdutor com raio de
0,5 cm, irradiando uma onda senoidal com freqüência de 3 MHz na água. O comprimento de
1500 m / s
onda, λ, será 6
= 0,5 x10− 3 m . A Tabela 1 mostra os valores da distância z onde a
3 x10 Hz
intensidade é máxima para alguns valores do índice m.
m z(mm)
0 50
1 16
3 9,4
... ...
Nota-se pelos valores da Tabela 1 que à medida que o índice m aumenta, a distância z se
torna mais próxima à face do transdutor. O índice m pode ser incrementado até que a distância z
seja igual a zero, o que corresponde à posição onde está localizada a face do transdutor. Fazendo-
se zmax = 0, obtém-se o valor 9 para o índice m. Como conclusão, há nove máximos de
intensidade entre a face do transdutor e um ponto localizado a 50 mm da mesma.
Os resultados sugerem um cuidado que deve ser tomado ao procurar irradiar uma região de
um meio com a máxima intensidade possível. Erroneamente pensa-se que regiões próximas à
face do transdutor fornecem as maiores intensidades, quando na verdade é possível que haja
intensidades nulas. De fato, assim como a Eq. 67 afirma que ocorrem máximos de intensidade
para múltiplos ímpares de 90o, a intensidade atinge valores mínimos para múltiplos de 180 º,
como mostrado pela Eq. 69.
π
λ
( )
⋅ a 2 + z 2 − z = nπ (69)
27
chamada zona de Fresnel e a segunda, para distâncias maiores que 50 mm, onde a intensidade
decai com o inverso da distância, chamada zona de Fraunhofer.
O transdutor em forma de disco mostrado na Fig. 25 pode ser usado para produzir ondas
ultra-sônicas se imerso em um fluido. Estes discos são construídos com cerâmicas piezoelétricas,
que alteram sua espessura quando submetidos a um campo elétrico. Este campo elétrico é
produzido metalizando-se as faces do disco cerâmico e aplicando-se uma diferença de potencial
sobre as mesmas, como mostrado na figura 28. Conforme a polaridade da diferença de potencial
aplicada sobre o disco haverá uma contração ou expansão em sua espessura.
- +
Figura 28 – Disco piezoelétrico submetido a um campo elétrico.
Na prática, só uma face do disco é usada para irradiar o fluido. A outra face é acoplada a um
cilindro de algum outro material, de onde saem os fios que conduzem a diferença de potencial às
faces do disco, como mostrado na Fig. 29.
- +
Figura 29 – Disco acoplado a material cilíndrico.
28
O formato do transdutor mostrado na Fig. 29 facilita sua imersão em um meio fluido, como
mostrado na Fig. 29. A alteração da espessura do disco acelera os elementos de fluido que estão
em contato com a face exposta. A primeira vista, a aplicação repentina de uma diferença de
potencial constante no transdutor causaria uma alteração correspondente de sua espessura e uma
conseqüente variação de pressão no fluido em contato com a face. Esta variação de pressão se
propagaria como uma frente de onda, mostrada na Fig. 29 como uma região de tom cinza sob a
face do transdutor. A pressão do fluido localizado em algum ponto z localizado no eixo ortogonal
à face do transdutor aumentaria repentinamente depois de algum tempo, determinado pela
velocidade de propagação da onda no fluido.
z
Pz(t)
Pz(t)
29
z
Pz(t)
Pz(t)
V(t) Pz(t)
V(t)
z
t t
O mesmo transdutor usado para gerar uma onda de compressão ultra-sônica pode ser usado
para captar uma onda. Assim como uma cerâmica piezoelétrica apresenta uma deformação em
suas dimensões quando submetida a uma diferença de potencial, pode haver uma diferença de
potencial gerada entre as faces metalizadas da cerâmica caso a mesma seja submetida a uma
compressão. Uma onda ultra-sônica incidente em uma cerâmica é capaz de efetuar esta
compressão, sendoportanto detectável por este tipo de transdutor. Este é o princípio de
transdutores usados em ensaios do tipo pulso-eco, pois o mesmo transdutor usado para emitir
uma onda ultra-sônica é usado para captar os sinais de eco refletidos por estruturas colocadas ao
longo do caminho de propagação do pulso. Evidente que não se mede a variação de pressão
imposta pela onda diretamente, mas sim a variação de diferença de potencial associada à onda.
30
DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES ACÚSTICAS DE MATERIAIS
No que diz respeito à espessura do material, pela Fig. 31 pode-se observar que a frente de
onda emitida dura um determinado número de ciclos. Portanto, é necessário que a espessura do
material seja pelo menos maior do que cerca de 10 comprimentos de onda do pulso emitido para
que se possa discernir os pulsos refletidos nas interfaces, como mostrado na Fig. 33. Observando-
se as diferenças de potencial geradas pelos ecos provenientes de reflexões nas interfaces, há um
2z
pulso no instante de tempo t1 = 1 , onde c1 é a velocidade de propagação no meio líquido.
c1
2 z 2 ⋅ ( z2 − z1 )
Posteriormente surge um pulso em t2 = 1 + , onde c2 é a velocidade de propagação
c1 c2
no material. Caso a distância z2 – z1 diminua, a diferença entre os tempos t2 – t1 poderá diminuir
até que os pulsos correspondentes se sobreponham, como mostrado na Fig. 34.
31
z1 z2 z
v(t)
t1 t2 t
Figura 33 – Pulsos refletidos nas interfaces entre um meio líquido e um material.
z1 z2 z
v(t)
t1 t2 t
“1” T1
R1
-R1T1 z
-R1T1 T2
z1 z2
32
Admitindo um pulso incidente com amplitude de pressão unitária (“1”), a Eq. 60 fornece a
amplitude R1 do pulso refletido na face da amostra localizada na posição z1. Designando-se a
impedância acústica do material por Zs e a da água por Zw, tem-se que:
Zs − Zw
R1 = (60)
Zs + Zw
2Z s
T1 = = 1 + R1 (61)
Zs + Zw
Do mesmo modo pode-se deduzir que um pulso que se propaga pelo material será transmitido
para a água e sua amplitude será multiplicada por:
2Z w
T2 = = 1 − R1 (62)
Zs + Zw
O pulso que se propaga no interior do material sofrerá uma nova reflexão na face da amostra
localizada em z2. Se a amplitude da pressão refletida por uma interface água/material é
multiplicada por um valor R1, a amplitude da reflexão de uma interface material/água será
multiplicada por um fator -R1. Sendo assim, o pulso de amplitude T1 sofrerá uma reflexão e
retornará com amplitude -R1T1. Ao ser transmitida para a água, esta última amplitude será
multiplicada por T2, o que resulta em um pulso com amplitude -R1T1T2.
2d
cs = (63)
t2 − t1
Uma vez obtidos os valores para Zs e Zw, pode-se estimar os coeficientes R1, T1 eT2. De
posse destes valores pode-se estivar a relação entre a amplitude A2 do pulso refletido na face do
material localizada na posição z2 e a amplitude A1 do pulso refletido na face do material
localizada na posição z1 . Como já visto, estas amplitudes são teoricamente iguais a -R1T1T2 e R1
respectivamente, e sua relação é dada pela Eq. 64.
33
A2 − R1T1T2
= (
= −T1T2 = − 1 − R12 ) (64)
A1 teorico R1
A relação entre amplitudes dada pela Eq. 64 é uma relação que ocorreria caso não houvesse
atenuação da onda no interior do material pelo qual ela se propaga. Sem atenuação a redução da
amplitude devesse tão somente a perda de intensidade da onda devido ao fato de uma parcela da
mesma ser desviada para outro sentido de propagação, mas neste caso não há perda de energia e
em um dado instante de tempo a intensidade de todas as ondas refletidas e transmitidas se
mantém igual à intensidade da onda incidente.
A2
A
1 teórico
atenuação = (65)
A2
A
1 exp erimental
A2
A1 teórico
20 log
A2
A1
atenuação[dB ] = exp erimental (66)
2d
onde o fator 2 do denominador da Eq. 66 deve-se ao fato da onda se propagar por uma distância
igual dobro da espessura d do material.
34
cágua (t 3 − t1 )
d= (67)
2
d
cs = (68)
d (t − t )
+ 2 3
cágua 2
Nas Eqs. 67 e 68, t1 é o tempo de chegada do pulso refletido pela face superior do material, t2 é o
tempo de chegada do pulso refletido pela superfície de vidro polido que atravessa o material, e t3
é o tempo de chegada do pulso refletido pela superfície de vidro, sem passar pelo material . A
velocidade de propagação do ultra-som na água, cágua, é obtida por uma tabela que a relaciona
em função da temperatura, encontrada no trabalho de Greenspan & Tschiegg (1959) . A Fig. 36
ilustra melhor esses tempos de chegada.
CONCLUSÕES
O uso de ondas ultra-sônicas pode ser extremamente útil para estimativa de algumas
propriedades acústicas de materiais, como a velocidade de propagação de ondas longitudinais e
atenuação. Estas propriedades diferem significativamente entre materiais, e podem ser usadas
para diferenciá-los entre si. Ao longo deste texto foram vistos os princípios básicos de
propagação e geração de ondas ultra-sônicas, bem como a teoria de reflexão e transmissão de
ondas entre interfaces de diferentes materiais. Os tópicos aqui abordados permitem que se
entenda o método de caracterização mais simples e usual, descrito por Selfridge (1985), porém há
outros mais complexos que podem ser vistos nas referências bibliográficas a seguir.
35
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