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Essas notas estão baseadas no capítulo 4 do Salinas (ref. 1), capítulo 3 e 4 do Gould&Tobochnik
(ref. 2), capítulos 5 e 6 do Greiner (ref. 3). Ela utilizará também material das refs. 4 e 5,
além de outras que serão citadas ao longo das notas. Em relação ao Reif, material equiv-
alente encontra-se no capítulo (ref. 6). O capítulo 5 da referência 5 trás uma discussão
interessante sobre entropia (similar a que já discutimos aqui, em capítulos anteriores, mas
mais aprofundada). Nesse capítulo faremos também ampla utilização dos conhecimentos de
termodinâmica os quais serão revisados na medida que se julgar necessário.
Vamos considerar aqui, nalmente, uma classe de sistemas físicos com características
especícas e vamos formalizar uma física estatística para essa classe. Como já vimos intro-
duzindo aos poucos, vamos considerar um sistema isolado, rígido, sem interação de nenhum
tipo com nenhum banho (sistema) externo, não trocando energia nem partículas, e mantendo
seu volume constante. Esse sistema será denominado ensemble microcanônico. Seguindo
precisamos especicar o sistema e foi o que zemos, para diversos exemplos, no capítulo
anterior.
3. Estabelecer um postulado estatístico básico que permita utilizar a teoria das proba-
1
essa situação e está baseada na escolha com menor viés ou maior grau de incerteza
(falta de informação sobre o sistema). Não havendo nenhuma interação externa, não
expressão
S = kB ln Ω (1)
está relacionada com o número de possibilidades que o sistema físico pode escolher.
Essa interpretação pode ser estendida para a relação entre a entropia e a falta/perda
Os três primeiros ítens do protocolo já foram amplamente discutidos. Vamos nos concentrar
escolha da eq. 1 para a entropia estatística baseia-se nos resultados que serão obtidos e sua
Vamos inicialmente considerar um sistema simples que nos permita aprender um pouco sobre
o comportamento estatístico e sua relação com os estados macroscópicos. Para isso, consid-
2
(M + N − 1)! (E + N − 1)!
Ω(E, N ) = = (2)
M !(N − 1)! E!(N − 1)!
N
onde M é o número de quanta de energia, E(n1 , ..., nN ) = M ~ω + 2
~ω , e que pode
também ser escrito sob a forma
E N
+ −1 !
Ω(E, N ) = E
~ω
N
2 (3)
~ω
− 2
! (N − 1)!
simples pode ser descrito explicitamente e possui dez microestados diferentes possíveis com
(3 + 3 − 1)! 5! 5.4.3.2.1
Ω(3, 3) = = = = 10 (4)
3!(3 − 1)! 3!2! 3.2.1.2.1
Para um sistema com N =4 e E=6 teríamos, por exemplo, 84 microestados (se não é
difícil enumerá-los é, pelo menos, trabalhoso). Como no exemplo anterior, temos agora o
3
sistema inteiramente caracterizado. Nosso interesse, no entanto, é examinarmos uma situação
mais complexa.
(sistema composto). O sistema total é isolado, rígido e impermeável, ou seja, tem sua energia,
volume e número de partículas xo. Inicialmente, a partição dos dois subsistemas tem as
Vamos distinguir as partículas pelas iniciais em inglês (seguindo a referência 2): green (G),
red (R), black (B), white (W). Inicialmente, consideramos o subsistema A com energia EA = 5
e o subsistema B com energia EB = 1. A energia total do sistema é,
ET = EA + EB = 5 + 1 = 6 (5)
Figura 1: Sistema isolado composto por dois subsistemas, cada um com duas partículas
distinguíveis. Em (a) a parede separando os dois subsistemas é isolante, rígida e impermeável.
Em (b) a parede permite a troca de energia mas permanece rígida e impermeável (não permite
a troca de partículas) A energia total do sistema composto é ca, E = 6. (extraído da ref.
2)
4
Tabela 2: Os doze microestados possíveis para um sistema composto isolado formado por
dois subsistemas A e B com NA = 2, EA = 5,NB = 2, EB = 1. Os doze microestados
possíveis são formados por todas as combinações de microestados A e B . (ref. 2)
Os microestados possíveis para esse sistema isolado estão descritos na Tabela 2. O número
(5 + 2 − 1)! (1 + 2 − 1)!
ΩT = ΩA × ΩB = × = 6 × 2 = 12 (6)
5!1! 1!1!
Reforçamos aqui que estamos tratando de um único sistema com energia total e número
uma restrição interna do sistema. Vamos agora substituí-la por uma divisória que mantém
Nesse caso, a energia dos subsistemas pode variar mas a energia total ET = 6 permanece
O número total de microestados possíveis obtém-se somando sobre ΩA (EA )ΩB (EB ) para
E = EA + EB = 6 constante:
X
ΩT = ΩA (EA )ΩB (ET − EA ) (8)
EA
5
ΩT = (7 × 1) + (6 × 2) + (5 × 3) + (4 × 4) + (3 × 5) + (2 × 6) + (1 × 7) = 84 (9)
Como o sistema é isolado, assumimos, como temos feito até agora, que todos os estados
são igualmente prováveis. Podemos calcular, por exemplo, a probabilidade, PA (EA ), que o
energia do subsistema A,
7 12 15 16 15 12 7
EA = 0 × + 1× + 2× + 3× + 4× + 35 × + 6× =3
84 84 84 84 84 84 84
(11)
6
Tabela 3: Os 84 microestados possíveis do sistema composto isolado com subsistemas A e B
permitindo trocar energia mas mantendo o número de partículas xo em cada subsistema.
ET = EA +EB = 6, NA = 2, NB = 2. Também estão representados o número de microestados
acessíveis para cada subsistema e a probabilidade PA (EA ) do subsistema A ter energia EA .
(ref. 2)
O que podemos concluir desse exemplo simples? Em primeiro lugar, o número de microes-
tados possíveis aumentou de 12 para 84. Isso era esperado, uma vez que uma restrição interna
foi removida. O que acontece com a energia dos subsistemas? Inicialmente, o subsistema
7
A tem energia EA = 6 . Uma vez removida a restrição de troca de energia, a probabilidade
que o sistema A tenha essa mesma energia é 65/84. Por outro lado, a probabilidade que ele
tenha energia menor é 12/84. Finalmente, a probabilidade que o sistema A que em uma
conguração com maior energia é 7/84. Podemos esperar, portanto, que na maior parte dos
com essa tendência quando o número de partículas aumenta? Podemos testar isso com o
programa EinsteinSolids (ref. 2) aumentando o número de partículas. Para que isso tenha
consistência, é importante que a energia também aumente, de forma que EA /NA e EB /NB
iniciais permaneçam constantes. (Por quê?) A Tabela 5 mostra alguns resultados obtidos.
NA = NB P (A → B)
2 0,7738
4 0,9053
8 0,9797
16 0,9988
32 1,0000
S = k ln Ω (12)
onde k é apenas uma constante. Já discutimos essa expressão antes e, mais tarde, faremos
kB . Por ora, vamos apenas vericar essa grandeza no nosso exemplo. Observando esse valor
no nosso exemplo anterior, vemos que o estado mais provável é aquele para o qual S tem seu
valor máximo e também que a entropia do sistema tem maior probabilidade de aumentar
8
quando a restrição interna é removida. Além disso, a equação 12 satisfaz o requerimento da
S(A + B) = k ln Ω = k ln ΩA ΩB
Podemos testar essa identicação com os resultados das simulações. A Tabela 6 mostra
resultados mostram que, para a energia mais provável, ẼA = 4 (e, correspondentemente,
ẼB = 6), temos TA = 2, 70 e TB = 2, 60. Embora essas temperaturas não sejam idênticas (e
nem poderíamos esperar que fossem, uma vez que o sistema é discreto e não contínuo), esse é
o resultado que produz temperaturas mais próximas nos dois subsistemas. Vamos considerar
agora um estado inicial fora do equilíbrio, por exemplo, EA = 2. Nesse caso, a variação
da entropia com a energia, TA−1 pelas nossas denições, mostram que pra o sistema A temos
TA−1 = 0, 60 e para o sistema B temos TB−1 = 0, 30. Portanto, a maior transferência de energia
ocorre de A para B, e a entropia total aumenta, como seria esperado. Na verdade, para esse
9
um aumento de entropia. (Verique que essa é a conguração de maior entropia). Esses
resultados indicam que nossa relação 12 tem um comportamento adequado para a entropia
seis partículas (osciladores de Einstein) e energia total ET = 12. Nesse caso, porém, vamos
considerar o subsistema A como tendo apenas uma partícula e o subsistema B tendo cinco
esse subsistema, sendo composto por apenas uma partícula, é na verdade uma medida de
possível para o subsistema A estar com energia n uma vez que temos apenas uma partícula.
a energia e, com alguma boa vontade, poderíamos estimar que a relação é do tipo,
10
Pn ∝ e−βn (15)
(mantendo apenas uma no subsistema A), observaremos que os resultados são plenamente
uma vez que o subsistema A possui uma parcela da energia total que não é desprezível. Ou
seja, se pudéssemos considerar um sistema trocando energia com um banho que mantém
sua energia total, a probabilidade do subsistema estar no estado n tem uma dependência
exponencial. Voltaremos a esse caso mais tarde. Podemos adiantar que o parâmetro β será
Boltzmann. Esse resultado será um dos fundamentos para estudarmos sistemas fechados (isto
é, permitem troca de energia mas não de matéria), ou o ensemble canônico. Antes, vamos
enfatizar que a probabilidade Pn não é a mesma que P (E). A identicação na eq. 15 ocorre
apenas porque o subsistema A tem apenas uma partícula . Caso o subsistema A tivesse mais
partículas, então temos que calcular o número de microestados possíveis para a energia E
e a probabilidade P (E) aproxima-se de uma gaussiana no limite de um grande número de
osciladores.
11
Tabela 7: Número de microestados acessíveis ao subsistema A consistindo de apenas uma
partícula, podendo trocar energia com o subsistema B, consistindo de cinco partículas. A
energia total do sistema é ET = 12. O número total de microestados é 6188 e Pn = (1 ×
ΩB )/6188. (ref. 2)
Os resultados que obtivemos até agora mostra que o postulado estatístico de igual prob-
clusive que uma grandeza próxima do que é a temperatura, calculada a partir de uma entropia
12
estatística, comporta-se como a temperatura termodinâmica. Precisamos agora estender essa
estatística de entropia
onde as equações da segunda coluna referem-se a situações onde a parede que separa
os subsistemas deixe de ser isolante, rígida ou impermeável, respectivamente (de cima para
Figura 3: Sistema isolado com dois subsistemas 1, 2 separados por uma divisória, inicialmente
adiabática, rígida e impermeável. (Figura extraída da ref. 1)
13
Seguindo o exemplo simples que discutimos antes, o número de microestados disponível
no sistema como um todo é, para uma situação onde a divisória é rígida, impermeável e
isolante,
Consideremos agora que trocamos a divisória por uma divisória que permita (apenas)
microestatos é,
X
Ω(E, V, N ) = Ω1 (E1 , V1 , N1 )Ω2 (E − E1 , V2 , N2 ) (18)
E1
Ω1 (E1 , V1 , N1 )
P1 (E1 ) = (19)
Ω(E, V, N )
14
d ln Ω = d ln Ω1 + d ln Ω2 (22)
d ln Ω = 0 =⇒ ln Ω = ln Ωmax (23)
Vamos analisar o mesmo sistema sob o ponto de vista termodinâmico. Para isso, iden-
ticamos a energia total E com a energia interna U para o sistema isolado. A entropia se
escreve,
e o diferencial é,
dS = 0 =⇒ S = Smax (26)
entropia nos sistemas com N nito (quer dizer, pequeno) que analisamos nas simulações. Na
15
S = k ln Ω(E, V, N ) + const. (28)
tipos que analisamos no cálculo do número de microestados, não inuencia no cálculo das
∂S1 ∂S2
dS = dS1 + dS2 = dE1 + dE2 =0 (29)
∂E1 N,V ∂E2 N,V
onde S é determinado pela eq. 27 (ou eq. 28). Como dE1 + dE2 = 0, e das eqs. de
estado, temos
T1 = T2 (30)
De forma similar, podemos considerar que a divisória agora é móvel. Nesse caso, temos,
∂S1 ∂S2
dS = dS1 + dS2 = dV1 + dV2 =0 (31)
∂V1 E,N ∂V2 E,N
p1 p2
= (32)
T1 T2
p1 = p 2 (33)
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Anda, podemos considerar que a divisória entre os dois volumes seja permeável (troca de
∂S1 ∂S2
dS = dS1 + dS2 = dV1 + dV2 =0 (34)
∂N1 E,V ∂N2 E,V
e então,
µ1 µ2
= =⇒ µ1 = µ2 (35)
T1 T2
Vamos considerar agora o caso do gás ideal clássico, monoatômico. Calculamos no capítulo
π 3N/2 V N
Ωcl (E, δE, V, N ) = (2m)3N/2 E 3N/2−1 δE
Γ(3N/2) h3N
π 3N/2 V N
= g(E)δE = (2m)3N/2 E 3N/2−1 δE (36)
Γ(3N/2) h3N
e a entropia é,
Temos então,
3N 3N 3N
S=k ln(2m) + − 1 ln E + ln π − ln Γ(3N/2) + N ln V − 3N ln h + ln δE
2 2 2
(38)
17
3N 3N 3N
ln Γ(3N/2) ≈ − 1 ln −1 − −1
2 2 2
3N 3N 3N
≈ ln − (39)
2 2 2
3N 3N 3N 3N 3N 3N
S ≈ k ln(2m) + ln E + ln π − ln + + N ln V − 3N ln h + ln δE
2 2 2 2 2 2
" ( 3/2 )#
3 V 4πmE
≈ Nk + ln (40)
2 h3 3N
1 ∂S 3 1 3
= = N k =⇒ E = N kT (41)
T ∂E V,N 2 E 2
e,
p ∂S Nk
= = =⇒ pV = N kT (42)
T ∂V E,N V
ideal. Note que o resultado nal não depende da normalização que utilizamos (δv → h)
nem tampouco da espessura da região de energia δE . Na verdade, poderíamos ter calculado
termodinâmica.
18
Podemos reescrever a entropia na forma,
3 N kB T
S = N kB ln 3
(2πmkB T )3/2 (43)
2 ph
que nos dá a mesma dependência para o gás ideal que tínhamos na termodinâmica.
S = k ln ω
A expressão 40, no entanto, não é correta para descrever a entropia de um gás ideal. A
entropia é uma grandeza extensiva. Ou seja, ela deve aumentar com N quando o número
de partículas aumenta. Esse resultado não tem essa dependência. E e V aumentam com
logarítmo permanece com uma dependência em V que aumenta com N (o que, considerando
coisa está faltando na nossa contagem dos microestados para corrigir esse resultado!
tropia já discutida. Antes de encontrarmos o que está faltando, vamos discutir um exemplo
instrutivo que, historicamente, é conhecido como paradoxo de Gibbs, mesmo que o termo
paradoxo talvez não seja apropriado como discutiremos mais tarde. Para isso, vamos con-
19
siderar um sistema formado por dois subsistemas com dois gases ideais diferentes, A e B, a
mesma temperatura e pressão (g. 4). Antes vamos reescrever a entropia com a ajuda da
eq. 41:
" ( 3/2 )#
3 V 4πmE
S = Nk + ln
2 h3 3N
3 V
= Nk + ln 3
(2πmkT )3/2 (44)
2 h
Figura 4: Sistema isolado com dois subsistemas em equilíbrio térmico e mecânico e preenchi-
dos por dois gases diferentes, A e B. (extraído da ref. 3)
Vamos remover a divisória e deixar os dois gases se misturarem. Os dois gases se mistu-
ram no volume total e um novo equilíbrio é atingido. A energia interna depende apenas da
temperatura e não depende do volume (eq. 41). Como a energia interna permance constante
durante todo o processo, o mesmo acontece com a temperatura e a pressão. Antes de re-
entanto, muda. E, pela nossa experiência, devemos esperar que ela aumente. A essa vari-
utilizando a eq. 44. Vamos calcular primeiro a entropia antes de removermos a divisória.
20
(0) (0) (0)
Stotal = SA (T, VA , NA ) + SB (T, VB , NB )
3 VA 3/2 3 VB 3/2
= NA k + ln (2πmkT ) + NB k + ln (2πmkT ) (45)
2 h3 2 h3
(1) (0)
∆S = Stotal − Stotal
VA + VB VA + VB
= NA k ln + NB k ln >0 (47)
VA VB
irreversível.
Consideremos agora a situação onde os dois gases ideais são idênticos. Nesse caso, a
situação nal é representada pelas variáveis (T, VA +VB , NA +NB ) uma vez que temos NA +NB
partículas do mesmo gás no volume VA + VB . A diferença de entropia é exatamente a mesma,
∆S > 0.
Se tivermos um momento de desatenção poderíamos dizer que o resultado é normal.
No entanto, ele é claramente errado. Como antes e depois de retirarmos a divisória, com
a temperatura e pressão sendo a mesma nos dois subsistemas, não há nenhum processo
21
Vamos analisar a situação de forma mais detalhada. Sob o ponto de vista microscópico,
é óbvio que mesmo para as partículas idênticas, uma vez a divisória retirada, as partícu-
macroscópico. Elas compõe o conjunto de estados microscópicos que reetem o mesmo es-
tado macroscópico. Onde está o problema então? Do ponto de vista clássico, nenhum! As
tipo de partícula (isto é, do spin da partícula), sabemos que quanticamente as partículas são
croscópicos Ω(E, δE, V, N ) temos que levar em conta a indistinguibilidade das partículas, isto
é, só podemos considerar congurações equivalentes como estados microscópicos diferentes
croscópicos para o caso quântico dividindo o número de estados microscópicos pelo fator
N !:
g(E)δE 1 g(E)δE
Ω(E, δE, V, N ) = → (48)
h3N N ! h3N
fator na contagem dos microestados no sistema clássico. Vamos analisar o que acontece com
forma,
" ( 3/2 )#
3 V 4πmE
S = Nk + ln − k ln N ! (49)
2 h3 3N
22
e utilizando a aproximação de Stirling (ln N ! ≈ N ln N − N ), temos,
" ( 3/2 )#
5 V 4πmE
S = Nk + ln (50)
2 N h3 3N
utilizando E = 23 kT ,
5 V
S(T, V, N ) = N k + ln (2πmkT )3/2 (51)
2 N h3
VA + VB VA + VB
∆S = NA k ln + NB k ln (52)
VA VB
5 VA + VB 3/2
∆S = (NA + NB )k + ln (2πmkT )
2 (NA + NB )h3N
5 VA 3/2
− NA k + ln (2πmkT )
2 NA h3N
5 VB 3/2
− NB k + ln (2πmkT ) (53)
2 NB h3N
temperatura não mudam durante o processo de mistura, e como no estado inicial estamos
VA VB VA + VB
= = (54)
NA NB NA + NB
e então,
23
∆S = 0 (55)
fator de Gibbs daqui para frente mas com a ressalva de que para utilizá-lo somente quando
as partículas não são distinguíveis (embora classicamente elas sempre são!!!). Em situações
onde podemos distinguir as partículas, como por exemplo quando as partículas estão presas
Vamos analisar agora a entropia sob o ponto de vista da média sobre o ensemble. Para isso,
ˆ
1 3N
< f >= 3N d q d3N p f (qν , pν )ρ(qν , pν ) (56)
h
1
ρmq = , E ≤ H(qν , pν ) ≤ E + δE
Ω
= 0 , todos os outros casos (57)
24
Temos então,
ˆ
1 3N
S(E, V, N ) = 3N d q d3N p ρmq (qν , pν )(−k ln ρmq (qν , pν )) (59)
h
ˆ
1 3N 1 1
S(E, V, N ) = 3N d q d3N p (−k ln )
h Ω Ω
ˆ
1 1 3N
= = k ln Ω 3N d q d3N p
Ω h
1
= k ln Ω Ω = k ln Ω (60)
Ω
pressão 59 é mais geral que a eq. 58 uma vez que podemos utilizá-la para qualquer densidade
S = h−k ln ρi (61)
E V
E, V, N → ∞ com densidades constantes: = ,v= , onde e v são constantes (62)
V N
25
6.6 Aplicações
Vamos aplicar os resultados obtidos para os casos discutidos nos capítulos anteriores.
Vamos considerar o caso de N dipolos magnéticos localizados e com spin 1/2 na presença de
N
X
H = −µB B σj (63)
j=1
Obs.: utilizamos B para o campo magnético no lugar de H , apenas para evitar confusão
com o símbolo que utilizamos para o operador hamiltoniano.
O número de microestados é,
N!
Ω(E, N ) = h i h i (64)
1
2
N − µBEB ! 12 N + E
µB B
!
Observe que não introduzimos o fator de correção de Gibbs uma vez que os spins estão
1 E 1 E
ln Ω(E, N ) = ln N ! − ln N− ! − ln N+ ! (65)
2 µB B 2 µB B
1 E 1 E 1 E
ln Ω(E, N ) ≈ N ln N − N − N− ln N− + N−
2 µB B 2 µB B 2 µB B
1 E 1 E 1 E
− N+ ln N+ + N+
2 µB B 2 µB B 2 µB B
26
1 E 1 E
= N ln N − N− ln N−
2 µB B 2 µB B
1 E 1 E
N+ ln N+ (66)
2 µB B 2 µB B
No limite termodinâmico,
S(E, N ) 1
s() = lim = lim k ln Ω
E
E,N →∞; N = N E
E,N →∞; N = N
1 1 1
= k ln N + 1− ln 2 − 1− k ln N − 1− k ln 1 − (67)
2 µB B 2 µB B 2 µB B µB B
1 1 1
1+ k ln 2 − 1+ k ln N − 1+ k ln 1 +
2 µB B 2 µB B 2 µB B µB B
1 1
= k ln 2 − 1− k ln 1 − − 1+ k ln 1 +
2 µB B µB B 2 µB B µB B
1 ∂s k k
= = ln 1 − − ln 1 + (68)
T ∂ 2µB B µB B 2µB B µB B
física para a qual a temperatura é positiva refere-se a região com energia < 0. Na energia
mínima, u = −µB B , temos todos os spins alinhados com o campo. Nesse caso, só há um
nula, isto é, quando metade dos spins estão alinhados paralelo ao campo e a outra metade
alinhados anti-paralelo ao campo. Nesse caso, como já sabemos, a entropia é máxima (maior
27
Figura 5: Entropia em função da energia por partícula para o paramagneto ideal de spins
localizados.(extraído da ref. 1)
1−
2µB B µB B
= ln
kT 1+
µB B
1− µB B
=⇒ e2µB B/kT =
1 + µB B
2µB B/kT
e −1
=⇒ =2µ B/kT
µB B e B +1
µB B
=⇒ = µB B tanh (69)
kT
M µB N1 − µB N2
m= = (71)
N N
28
e,
= −mB (72)
µB B
m = −µB tanh (73)
kT
1 gµB B
m = − gµB tanh (74)
2 2kT
magnético (em unidades de kT /µB ). Para altos campos, ou temperaturas baixas, o sistema
ca saturado, isto é, os spins cam todos alinhados (m/µB → ±1, dependendo do sinal do
spins começam a perder o alinhamento e a energia tende ao valor nulo. O gráco mostra
quando o sistema está completamente alinhado com o campo e este sofre uma inversão de π.
Nesse caso, o sistema adquire a energia máxima e ca instável.
29
Figura 6: Magnetização por partícula em função do campo aplicado para um paramagneto
ideal de spins localizados. (extraído da ref. 1)
Figura 7: Energia por partícula em função da temperatura para o paramagneto ideal com
spin 1/2.
µ2
∂m µB B
χ(T, B) = = B cosh−2 (75)
∂B kT kT
30
Para campo nulo temos,
C
χ0 (T ) = χ(T, B = 0) = (76)
T
onde C = µ2B /k > 0. Essa é a conhecida lei de Curie (descoberta pelo físico francês Pierre
Curie) para o paramagnetismo.
Podemos ainda calcular a probabilidade p que um spin é +1/2, isto é, n = N1 /N. Uti-
= −µB Bn + µB B(1 − n)
1 1 µB B
=⇒ n = 1− = 1 − tanh
2 µB B 2 kT
µB B/kT
e 1
= µ B/kT = (77)
e B + e−µB B/kT 1 + e−2µB B/kT
e,
e−2µB B/kT
1−n= (78)
1 + e−2µB B/kT
uma determinada temperatura T. Esse resultado cará mais claro no contexto do ensemble
canônico que discutiremos mais tarde.
31
1
En1 ,...,nN = M ~ω + N ~ω (79)
2
E N
+ −1 !
Ω(E, N ) = E
~ω
N
2 (80)
~ω
− 2
!(N − 1)!
E N E N E N
S(E, N ) = k ln Ω(E, N ) ≈ + − 1 k ln + −1 − + −1
~ω 2 ~ω 2 ~ω 2
E N E N E N
− − k ln − + −
~ω 2 ~ω 2 ~ω 2
−(N − 1)k ln(N − 1) + (N − 1) (81)
1
s() = lim k ln Ω(E, N )
E,N →∞; = N
E
N
1 1 1 1
= k + ln + −k − ln − (82)
~ω 2 ~ω 2 ~ω 2 ~ω 2
1 ∂s k 1 1
= = ln + − ln − (83)
T ∂ ~ω ~ω 2 ~ω 2
32
1 ~ω
= ~ω + ~ω/kT (84)
2 e −1
2
∂ ~ω e~ω/kT
cv = =k 2 (85)
∂T kT [e~ω/kT − 1]
2
eΘE /T
ΘE
cv = k 2 (86)
T [eΘE /T − 1]
Se considerarmos agora três direções independentes (i.e, três osciladores harmônicos in-
2
eΘE /T
ΘE
Cv = 3N cv = 3R 2 (87)
T [eΘE /T − 1]
2
~ω
Cv → 3R e−~ω/kT (88)
kT
especíco com a temperatura é do tipo αT + βT 3 . O termo cúbico pode ser explicado pelas
vibrações de rede mas é necessário introduzir uma dispersão na energia, isto é, não há apenas
uma frequência de oscilação como no modelo de Einstein. Essa correção foi introduzida por
33
Figura 8: Comparação entre os valores experimentais do calor especíco do diamante com
o modelo teórico de Einstein com ΘE = 1320 K. (ver A. Einstein, Ann. Physik 22, 186
(1907)) (extraído da ref. 9)
Debye. Já o termo linear, que domina para temperaturas muito baixas, é a contribuição
O livro do Salinas (ref. 1) trata ainda de dois outros exemplos que são ilustrativos. O
sistema de dois níveis, que serve de introdução ao gás de Boltzmann. O sistema de dois
estados microscópicos é,
N!
Ω= (89)
N1 !(N − N1 )!
N!
Ω= E
E
(90)
N− ε
! ε
!
34
E E E E E E
S(E, N ) = k ln Ω(E, N ) = N ln N − N − N − ln N − + N− − ln +
ε ε ε ε ε ε
E E E E
= N ln N − N − ln N − − ln (91)
ε ε ε ε
e no limite termodinâmico,
s() = −k 1 − ln 1 − − k ln (92)
ε ε ε ε
(atenção para a notação: = E/N =energia média por partícula, enquanto que ε é a
A equação de estado é,
1 ∂s kh i
= = ln 1 − − ln (93)
T ∂ ε ε ε
εe−ε/kT
= (94)
1 + e−ε/kT
com metade das partículas em cada um dos níveis de energia. Utilizando a eq. 94, vemos que
essa situação ocorre para T ε, como pode ser visto na gura 10. Fisicamente, essa condição
equivale a uma situação em que os dois níveis de energia praticamente não se distinguem.
35
Figura 9: Entropia em função da energia por partícula para o sistema de partículas com dois
níveis de energia. (extraído da ref. 1)
1
p1 =
1 + e−ε/kT
e−ε/kT
p2 = (95)
1 + e−ε/kT
36
Figura 10: Energia por partícula em função da temperatura para o sistema de partículas com
dois níveis de energia. (extraído da ref. 1)
Boltzmann considerou um modelo simples para tratar um gás. Esse modelo serve também
como generalização do sistema de dois níveis. No seu modelo, as partículas podem assumir
das partículas. Denimos os números de ocupação {Nj } como sendo o número que designa
quantas partículas temos em cada nível de energia. O número de estados microscópicos
N!
Ω({Nj }; E, N ) = (96)
N1 !N2 !...
e temos as restrições,
X
N = Nj
j
X
E = εj Nj (97)
j
37
Para encontrarmos o número de estados microscópicos quando o sistema atinge o equilíbrio
calculamos o valor máximo de Ω com as restrições dadas pelas eqs. 97. Para isso, utilizamos
f ({Nj }; E, N ) = ln Ω({Nj }; E, N ) +
! !
X X
+ λ1 N − Nj + λ2 E − εj Nj (98)
j j
∂f
= − ln Nk − λ1 − λ2 εk = 0 , k = 1, 2, ... (99)
∂Nk
Podemos escrever,
e então,
Nk e−λ1 e−λ2 εk
= −λ1 P −λ2 ε
N e je
k
e−λ2 εk
= (101)
Z1
onde,
X
Z1 = e−λ2 εj (102)
j
38
−λ2 εk
P
k εk e 3
X
E = εk Nk = N P −λ ε
= kT
je 2
2 j
k
∂ 3
=⇒ − ln Z1 = kT (103)
∂λ2 2
1
εk → mv 2 (104)
2
e,
ˆ 3/2
3 −(1/2)λ2 mv 2 2π
Z1 → d ve = (105)
λ2 m
de onde temos,
∂ ln Z1 3 3
− = + λ−1
2 = kT (106)
∂λ2 2 2
1
⇒ λ2 = (107)
kT
Nk
→ p(v)d3 v (108)
N
onde,
3/2
mv 2
2πkT
p(v) = exp − (109)
m 2kT
39
Referências
[1] Sílvio R. A. Salinas, Introdução à Física Estatística, EdUSP, 1997.
[2] Harvey Gould e Jan Tobochnik, Statistical and Thermal Physics, Princeton Uni-
[3] Walter Greiner, Ludwig Neise e Horst Stöcker, Thermodynamics and Statistical
[5] James P. Sethna, Statistical Mechanics: Entropy, Order Parameters, and Com-
1965.
[7] Federik Reif, Física Estadística, Berkeley Physics Course vol. 5, Editorial Reverté.
[8] Entropy Special Issue, Gibbs paradox and its resolutions, editor convidado Theo M.
Nieuwenhuizen
(http://www.mdpi.com/journal/entropy/special_issues/gibbs_paradox/).
[9] Charles Kittel, Introduction to Solid State Physics, John Wiley & Sons, 7a. ed.
1996.
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