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PROCESSOS
COLETIVOS

Profª: Patrícia Cavalieri

2022
SUMÁRIO

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PROCESSO CIVIL COLETIVO: CONCEITO, ORIGEM HISTÓRICA, ASPECTOS
GERAIS, PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À TUTELA PROCESSUAL COLETIVA 2

1.1 – Conceito
1.2 – Origem histórica
1.3 – Aspectos gerais do Processo Coletivo
I – Normatização
II – Núcleo Duro
III – Características do processo coletivo brasileiro
IV – Ação coletiva e tutela jurisdicional coletiva
V – Fundamentos
1.4 - Princípios aplicáveis à tutela processual coletiva
I - Acesso à justiça
II - Universalidade da jurisdição
III – Participação
IV – Contraditório
V - Economia processual
VI – Instrumentalidade
VII – Informação
VIII - Extensão da coisa julgada
IX - Obrigatoriedade da execução
X - Adequada representatividade

CAPÍTULO II – SITUAÇÕES JURÍDICAS COLETIVAS: DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU (DIFUSOS, COLETIVOS E
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS) E CASOS REPETITIVOS.

2.1 – Direitos Coletivos lato sensu


2.2 - Casos repetitivos
I – Direitos difusos
II – Direitos coletivos stricto sensu
III – Direitos individuais homogêneos
2.3 – Critérios para a identificação do direito objeto da ação coletiva

CAPÍTULO III – DOS DIREITOS AOS CONFLITOS COLETIVOS: A ADEQUAÇÃO DO PROCESSO COLETIVO ÀS
PECULIARIDADES DO CASO LEVADO A JULGAMENTO (PROPOSTA DE EDILSON VITORELLI)

3.1 – Introdução às ideias do autor


3.2 – Classificação dos litígios coletivos
I – Litígios coletivos de difusão global
II - Litígios coletivos de difusão local
III - Litígios coletivos de difusão irradiada
3.3 – Decisão judicial estrutural (Structural injunction)
3.4 – Cumulação de litígios de difusão irradiada com litígios globais e locais

CAPÍTULO IV – LEGITIMIDADE PARA A PROPOSITURA DE AÇÕES COLETIVAS


4.1 - Correntes:
I - legitimação ordinária
II - Legitimação extraordinária
III – Legitimação autônoma
4.2 - Legitimação ativa 3
4.3 - O problema do interesse do substituto
4.4 - A problemática da legitimidade do MP para os direitos individuais homogêneos
4.5 – Posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais
I – 1ª corrente
II – 2ª corrente
4.6 – Consequência da falta de legitimação coletiva ativa

CAPÍTULO V – COISA JULGADA NAS AÇÕES COLETIVAS


5.1 – Coisa julgada coletiva nas ações que versam sobre direitos difusos ou coletivos stricto sensu
5.2 - Coisa julgada coletiva nas ações que versam sobre direitos individuais homogêneos
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PROCESSO CIVIL COLETIVO: CONCEITO, ORIGEM HISTÓRICA,
ASPECTOS GERAIS E PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À TUTELA PROCESSUAL COLETIVA

1.1 - CONCEITO: Processo coletivo é “aquele instaurado por ou em face de um legitimado autônomo, em que se postula
um direito coletivo lato sensu ou se afirma a existência de uma situação jurídica coletiva passiva, com o fito de obter
um provimento jurisdicional que atingirá uma coletividade, um grupo ou um determinado número de pessoas” (GIDI,
Antônio apud DIDIER JR., 2008, p. 46). 4

Do conceito é possível extrair 3 elementos, quais sejam: a) a legitimação para agir b) a afirmação de uma situação
jurídica coletiva: o direito coletivo lato sensu no polo ativo (ação coletiva ativa), ou dever ou estado de sujeição a este
direito no polo passivo (ação coletiva passiva); c) a extensão subjetiva da coisa julgada
TUTELA JURISDICIONAL

INDIVIDUAL

HOMO-
GÊNEO

COLETIVA DIFUSO

COLETIVO

• INDIVIDUAL: Prevista em procedimento comum/ordinário (CPC), se valendo de seus institutos


processuais (legitimidade, coisa julgada, etc)
• COLETIVO: Prevista em procedimentos especiais, prestada por microssistemas coletivos, formando um
conjunto de regras processuais diferenciadas do CPC (especializadas), criadas para atender direitos
transindividuais
Ex:
Lei de Ação Popular – LAP (lei 4.717/65
Ação Civil Pública – ACP (lei 7.347/85)
Código de Defesa do Consumidor - CDC (lei 8.078/90),
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (lei 8.069/90),
Estatuto da Cidade (lei 10.257/2001),
Estatuto do Idoso (lei 10.741/03),
Estatuto da Pessoa com Deficiência (lei 13.146/15),
Lei de prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica (lei 12.529), etc.
TRANSINDIVIDUAIS / METAINDIVIDUAL

Meta: grego
Prefixos “além de”
Trans: latim

1.2 - ORIGEM HISTÓRICA:


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• ROMA ANTIGA: Romano germânica - sistema de civil law (regras em códigos). As ações populares – as actiones
populares, de natureza penal, foi o primeiro registro que se tem da tutela dos direitos metaindividuais. Afirmar
que as ações coletivas tiveram origem na tradição romana pode causar espanto a muitos, pois nesse tempo ainda
não havia a delimitação precisa da noção de Estado como se concebe hoje. Mas os cidadãos já utilizavam um
instrumento capaz de tutelar não apenas interesse puramente pessoal, mas que pertencessem à coletividade,
pois imperava o sentimento de que a res publica de alguma forma pertencia a todos os cidadãos romanos (ideia
de legitimidade) e que, por isso mesmo, estariam aptos a protegê-las. Cícero escreveu “De Re Publica” (106 a.C),
defesa do que é seu em benefício de toda a coletividade (ideias de direito difuso). Com o fim do Império Romano,
em meados do século 5 d.C, o caminho das ações populares restou incerto. O direito bárbaro não tinha nada
semelhante a essas ações. Entraram em declínio as actiones popularis.

• INGLATERRA – Onde se deu a origem do mecanismo, do procedimento. Países de tradição anglo-saxônicas,


sistema de common law (regras em precedentes).
SÉCULO XII: Alguns doutrinadores sugerem que os romanos não aplicavam as ações popularess em defesa do
direito coletivo. Aduzem que a Inglaterra é apontada como o berço dos litígios coletivos (...) o primeiro caso teria
ocorrido em torno do ano 1199. Foi na Inglaterra que as ações coletivas mais se desenvolveram.
SÉCULO XVII: A bill of peace nada mais era do que uma autorização para processamento coletivo de uma
demanda individual, concedida quando o autor da demanda formulava requerimento expresso de provimento
jurisdicional que incluísse os direitos de todos aqueles que, de alguma forma, estivessem envolvidos no litígio,
tratando a questão de maneira uniforme e, assim, evitando a multiplicidade de processos idênticos. Percebeu-se,
naquela ocasião, que um processo judicial com grande quantidade de pessoas dificultava o andamento do
processo, trazendo insuperáveis inconvenientes ou, simplesmente, injustiça. A fim de cessar essas dificuldades,
admitiram-se exceções à regra geral e foi criada a bill of peace (chave da paz), que permitia processos por
representação (representative actions), através dos quais um ou alguns membros do grupo podiam representar
em juízo o interesse de toda a categoria.
A utilização excepcional das demandas de grupo e o enfraquecimento das Cortes locais e senhoriais durante o
período primitivo-moderno fizeram com que o processamento e o julgamento dessas demandas fossem
concentrados no Tribunal de Equidade. As ações de grupo, que antes eram apreciadas por várias Cortes locais e
senhoriais, passaram a ser processadas e julgadas apenas pela Court of Chancery (Corte da mudança), Corte de
equidade, reduzindo os custos e tornando mais conveniente e convincente o julgamento das demandas por um
Tribunal acostumado com litígios coletivos.

• EUA: Sérgio Cruz Arenhart aponta o efetivo surgimento das class actions, no direito estadunidense,
desenvolvidas a partir do século XIX. São tutelas de indivíduos reunidos em torno de interesses comuns. O
litisconsórcio inviabilizaria o processo. Assim foi desenvolvida a ideia de tutela coletiva.

• NO MUNDO:
a) Até antes da 2ª Guerra Mundial havia a dicotomia entre direito público e direito privado. O Pós-Guerra
(1950/1955) evidenciou o princípio da dignidade da pessoa humana, passando esse a ser o vértice do
pensamento jurídico. Exige-se um patamar mínimo de dignidade entre as relações humanas.

b) Segundo Norberto Bobbio, “há um patamar de multiplicação e de universalização dos direitos”. Assim, uma
sódemanda individual não era mais capaz de levar direitos a todos.

c) Fenômeno da massificação em 3 movimentos:


• Revolução Industrial, um período de grandes transformações econômico-sociais, que teve início na 6

Inglaterra no século XVIII (1760 a 1840);


• Século XX - Década de 1950/1960: início do consumo, publicidade – CONSUMO PADRONIZADO, contrato
de adesão, lesão em massa;
• Décadas de 1980/1990: ápice do consumo sem nenhuma cautela com os impactos e do exagero;
• Pensamento e obra de Garth e Cappelletti – O ACESSO À JUSTIÇA - Para que o processo seja um
instrumento de acesso à justiça, os ordenamentos jurídicos teriam de observar 3 ondas renovatórias de
alterações legislativas:
- Tutela dos necessitados/hipossuficientes: sendo criada, no Brasil, a Defensoria Pública, a Lei de Assistência
Judiciária (de 1950 – instituiu a pobreza por presunção), os Juizados Especiais; a Justiça do Trabalho etc.;

- Coletivização do processo: quando a norma constitucional garante o direito ao acesso à justiça,


notadamente no inciso XXXV do art. 5º da CF/88, ela o garante não só para a tutela dos direitos individuais,
como também dos direitos coletivos (como o próprio título do capítulo, onde tal dispositivo constitucional
está inserido, sugere: “Dos direitos e deveres individuais e coletivos”).

Assim, é necessário que haja um tratamento coletivo para o processo, pois somente assim haverá verdadeiramente
acesso à justiça. Dessa forma, Garth e Cappelletti perceberam a necessidade de serem tutelados pelo processo:

• bens e direitos de titularidade indeterminada: direitos que pertencem a todos e não pertencem a ninguém, e
que, por isso, ficavam normalmente sem tutela. Ex: o meio ambiente e o patrimônio público. Foram então
criados os legitimados coletivos (ex: MP, defensorias, órgãos públicos);
• bens e direitos cuja tutela individual é inviável: basicamente por conta da hipossuficiência, seja cultural (falta de
consciência da população sobre a existência e do direito e seu mecanismo de tutela), econômica (pouca
recompensa na tutela do direito, seja em razão dos custos psicológicos, seja em razão dos custos financeiros;
falta de recursos para custear a assistência jurídica), ou técnica (configuração do processo, que exige demasiado
do autor, a exemplo da produção de provas difíceis). Ex.: consumidor descobre que a caixa de leite que informa
possuir 1 litro, na verdade possui 750 ml. Em situações como esta, é economicamente inviável para o consumidor
processar individualmente a empresa para cobrar alguns litros de leite, mas coletivamente o dano é considerável.
• bens e direitos cuja tutela coletiva é recomendável: do ponto de vista da facilidade e utilidade do sistema
(litígios repetitivos); nesse caso, a tutela do direito individual não é economicamente inviável, mas a tutela
coletiva se releva recomendável em razão da molecularização dos conflitos/reunião dos processos (Kazuo
Watanabe). Não há, aqui, uma preocupação direta com o jurisdicionado, mas sim com o sistema, que deve
potencializar a solução dos conflitos. Ex: é possível citar as causas envolvendo expurgos inflacionários, bastante
repetidas em todo o país.

• NO BRASIL: Até a metade do século XX – década de 1950. A preocupação com a defesa dos interesses
metaindividuais ou transindividuais, ilustrados pelos interesses de grupos, classes ou categorias de pessoas era,
exclusivamente, das relações conflituosas existentes entre o Estado e o indivíduo (público x privado), ou entre um
indivíduo e outro. Por influência lusitana, o Brasil já convive com a ação popular desde as Ordenações
Manuelinas, não obstante era de forma extremamente precária e limitada (na origem só cabia contra atos do
poder público). As ações coletivas (re)surgiram mesmo pela influência direta da doutrina italiana na década de
70, quando emergiu uma doutrina processual coletiva brasileira representada por Barbosa Moreira, Kazuo
Watanabe, Ada Pellegrini Grinover, Waldemar Mariz Oliveira Júnior, e, posteriormente, Antônio Gidi, Nelson
Nery Júnior e Aluísio Mendes, apesar de já existir a vigência da Lei de Ação Popular nº 4.717/1965, em que
qualquer cidadão assumiu a legitimidade para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao
patrimônio público. Mais tarde, a Lei da Ação Civil Pública (LACP, nº 7.347/85), permitindo a defesa do meio
ambiente, do consumidor e do patrimônio cultural por meio de ação judicial promovida pelo Ministério Público,
órgãos públicos ou associações civis.
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1.3 – ASPECTOS GERAIS DO PROCESSO COLETIVO

I – NORMATIZAÇÃO:

a) TUTELA DOS DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS:

Protegidos pelo CPC, que tutela os direitos eminentemente individuais. (pensamento liberal). Congresso Nacional não se
interessa por legislação contrariamente aos interesses de grandes corporações (Mineradora Vale)

• Art. 333 – VETADO - Da conversão da ação individual em ação coletiva (verificar veto) Texto reflexivo.
• Art. 139, X (quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a
Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5º da Lei nº 7.347, de 24
de julho de 1985 , e o art. 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 , para, se for o caso, promover a
propositura da ação coletiva respectiva.)
• Arts. 926 e 927 – Precedentes judiciais obrigatórios (uniformização dos entendimentos).
Common law (EUA)– objetivo qualitativo
Civil law (BR)- quantitativo
• Art. 947 – Incidente de Assunção de Competência (quando o julgamento de recurso envolver relevante questão
de direito com repercussão social sem repetição em múltiplos processos)
• Art. 976 – Incidente de Resolução de Demanda Repetitiva (Repetição de processos com controvérsias sobre
questão unicamente de direito)

b) TUTELA DO DIREITO COLETIVO:

Estabelecida no microssistema coletivo (ou sistema único coletivo ou minissistema. Todas as nomenclatoras utilizadas
pelo STJ). Várias leis específicas. Em 2009 tentou-se unifica-las em um Código de Processo Coletivo, mas o projeto não
passou no CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania). O conjunto de leis cria regras procedimentais
diferenciadas, adaptações que conferem um tratamento coletivo aos institutos processuais. Ex:

• Legitimidade coletiva;
• Competência coletiva;
• Execução coletiva;
• Liquidação coletiva;
• Coisa julgada coletiva.
MICROSISTEMAS NORMATIVOS DO DIREITO COLETIVO

LEI OBJETO DA TUTELA LEGITIMIDADE



Ação Popular 4.717/65

De fato, se observarmos dentro da estrutura de direito coletivo, são inúmeras as outras legislações que compõem este
microssistema, podendo-se citar aqui, apenas a título de complementação, além da ACP e do CDC:

a) Ação Popular - (Lei nº 4.717/65);

b) Mandado de Segurança (Lei nº 12.016/09)

c) Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069 de 1990);

d) As legislações referentes à Habitação e Urbanismo (Estatuto da Cidade – Lei n. 10.257/2001 e Parcelamento do Solo –
Lei n. 6.766/79);

e) Estatuto da Pessoa Portadora de Deficiência (Lei nº 13.146/15);

f) Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741 de 2003);

g) Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/92);

h) Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, Prevenção e Repressão às infrações contra a Ordem Econômica -
LPRICOE (Lei 12.529/11);

i) Ação Civil Pública ( Lei 7.347/85);

j) Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90).

II – NÚCLEO DURO:

O NÚCLEO DURO (ou central) das normas de direito processual coletivo foi formado por: AÇÃO CIVIL PÚBLICA, CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR e LEI DE AÇÃO POPULAR

ACP CDC

LAP
Núcleo Duro. NÚCLEO DURO se encontra onde as leis não se conflitam.

Ex: LAP prevê reexame necessário em favor da coletividade

Ex; LAP prevê prazo prescricional quinquenal para ações que não sejam ressarcimento ao erário.

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Conflito de normas entre esse núcleo duro e uma lei específica. Ex: ECA X NÚCLEO DURO (CDC X LAP X ACP)

• CORRENTES PARA A RESOLUÇÃO DO CONFLITO:

1ª – Fredie Didier Jr.: aplicação da regra do núcleo duro para buscar a homogeneidade; (uniformização/seg. jurídica)

2ª - Gregório Assagra de Almeida: aplicação da lei especifica. Regra tradicional da hermenêutica jurídica – lex speciali
impera no caso concreto;

3ª – Fernando da Fonseca: aplicação da lei mais benéfica à proteção do direito invocado. (consumidor, patrimônio
histórico/artístico, erário público)

• TEORIA DO DIÁLOGO DAS FONTES COMO MEIO INTEGRATIVO: A essência da teoria é que as normas jurídicas não
se excluem, supostamente porque pertencentes a ramos jurídicos distintos, mas se complementam.
Criada pelo alemão Erick Jayme e introduzida no BR por Cláudia Lima Marques (UFRS)

a) JURISPRUDÊNCIAS

- SÚMULAS DO STJ QUE CONSIDERAM A APLICAÇÃO DA TEORIA DO DIÁLOGO DAS FONTES:

- Súmula 285: Nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do Consumidor incide a multa moratória
nele prevista. (CC/2002 “Obrigações” x CDC)

- Súmula 297: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras. (CDC x CC)

- Súmula 412: A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional
estabelecido no Código Civil. (Tributário x CC)

- Súmula 469: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde. (CDC x CC)

- Súmula 477: A decadência do art. 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas para obter esclarecimentos
sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários. (CDC x CC)

- Jurisprudência pátria sobre Diálogo das Fontes:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. MULTA APLICADA PELO PROCON POR PRÁTICA DE DUMPING.
CONFLITO ENTRE OS MICROSSISTEMAS LEGAIS DE PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR E DA CONCORRÊNCIA. DIÁLOGO
DAS FONTES. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA ENTRE OS ARESTOS CONFRONTADOS. PEDIDO DO CADE PARA
INGRESSO NO FEITO COMO ASSISTENTE DA EMBARGANTE. INDEFERIMENTO. ARTS. 4º, VI, E 6º, IV, DO CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR. (...) 8. O combate às práticas anticoncorrenciais É medida que se insere,
concomitantemente, nos microssistemas do consumidor (CDC) e da concorrência (Lei 8.884/94). Daí a
legitimidade concorrente e competência ratione materiae dos órgãos de defesa do consumidor (inclusive os
estaduais) para, em favor da incolumidade das relações jurídicas de consumo, exercitarem o poder de polícia que
a lei lhes confere. 9. Diálogo das fontes que, além de aplicável no contexto das normas ou microssistemas
envolvidos, deve, pelas mesmas razões, iluminar o poder de polícia e as competências dos órgãos incumbidos da
implementação legal. 10. Agravo Regimental da Esso não provido. Pedido de assistência formulado pelo Cade
indeferido.[22] STJ - AgRg nos EREsp 938.607/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 06.03.2012 –
grifamos. 10

(Menor tem direito à indenização por violação ao direito da personalidade)


DIREITO CIVIL E CONSUMIDOR. RECUSA DE CLÍNICA CONVENIADA A PLANO DE SA⁄ÚDE EM REALIZAR EXAMES
RADIOLÓGICOS. DANO MORAL. EXISTÊNCIA. VÍTIMA MENOR. IRRELEVÂNCIA. OFENSA A DIREITO DA
PERSONALIDADE.
- A recusa indevida à cobertura médica pleiteada pelo segurado é causa de danos morais, pois agrava a situação
de aflição psicológica e de angústia no espírito daquele. Precedentes - As crianças, mesmo da mais tenra idade,
fazem jus à proteção irrestrita dos direitos da personalidade, entre os quais se inclui o direito à integridade
mental, assegurada a indenização pelo dano moral decorrente de sua violação, nos termos dos arts. 5º, X, in fine,
da CF e 12, caput, do CC/02. - Mesmo quando o prejuízo impingido ao menor decorre de uma relação de
consumo, o CDC, em seu art. 6º, VI, assegura a efetiva reparação do dano, sem fazer qualquer distinção quanto à
condição do consumidor, notadamente sua idade. Ao contrário, o art. 7º da Lei nº 8.078/90 fixa o chamado
diálogo de fontes, segundo o qual sempre que uma lei garantir algum direito para o consumidor, ela poderá se
somar ao microssistema do CDC, incorporando-se na tutela especial e tendo a mesma preferência no trato da
relação de consumo. - Ainda que tenha uma percepção diferente do mundo e uma maneira peculiar de se
expressar, a criança não permanece alheia à realidade que a cerca, estando igualmente sujeita a sentimentos
como o medo, a aflição e a angústia. - Na hipótese específica dos autos, não cabe dúvida de que a recorrente,
então com apenas três anos de idade, foi submetida a elevada carga emocional. Mesmo sem noção exata do que
se passava, É certo que percebeu e compartilhou da agonia de sua mãe tentando, por diversas vezes, sem êxito,
conseguir que sua filha fosse atendida por clínica credenciada ao seu plano de saúde, que reiteradas vezes se
recusou a realizar os exames que ofereceriam um diagnóstico preciso da doença que acometia a criança. (STJ -
Recurso especial provido [23]. STJ - REsp 1037759/RJ, Rela. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 05.03.2010
- grifamos).

- Normas de reenvio:

a) ACP - Art. 21: Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os
dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor. (Direitos Coletivos em Juízo);
b) CDC - Art. 90: Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e da ACP -Lei n°
7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar suas
disposições.

b) APLICAÇÃO DO CPC: Subsidiária ou eventual, somente diante de ausência de regra na legislação especial.

Ex: art. 19, caput da LAP. Remessa obrigatória/reexame necessário visa tutelar direito coletivo discutido no processo e
não a Fazenda Pública (erário), aplicadas após sentenças terminativas (sem mérito) e definitivas de improcedência contra
o coletivo. Embora seja óbvio que se a condenação recair sobre a Fazenda Pública a coletividade será prejudicada.
Portanto, o art. 496 do CPC não pode ser aplicado ao processo coletivo, porque conflita com o art. 19, caput da LAP.

Ex: art. 21 da LAP. Prescrição de 5 anos. É utilizado na ACP que é omissa.


III – CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO COLETIVO BRASILEIRO:

a) Legitimação para agir, normalmente atribuída a um legitimado extraordinário ope legis (por força de lei).
Legitimação coletiva? (ineresse alheio; objeto litigiosos é uma situação coletiva)
No Brasil, há apenas uma ação coletiva ajuizada pela própria comunidade envolvida – legitimação ordinária: a
ação coletiva proposta pelas comunidades indígenas – art. 37 da Lei nº 6.001/73 – Estatuto do ìndio:
“Art. 37. Os grupos tribais ou comunidades indígenas são partes legítimas para a defesa dos
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seus direitos em juízo, cabendo-lhes, no caso, a assistência do Ministério Público Federal ou do
órgão de proteção ao índio”. ;

Ex: ACP, art. 5º = legitimados: MP, DP, entes federativos, associações, etc.

b) O regime da coisa julgada coletiva, que permite a extensão in utilibus (quando há procedência do pedido, é
possível utilizar o resultado da sentença em demandas individuais, transportando para esses casos a coisa julgada
benéfica) para as situações jurídicas individuais;

c) A caracterização do litigio do interesse público, que é requisito para o prosseguimento de um processo coletivo,
flexibiliza o procedimento a favor da tutela de mérito e determina a intervenção obrigatória do MP como custus
legis do ordenamento jurídico em todos os processos (art. 178, I CPC).

IV – AÇÃO COLETIVA X TUTELA JURISDICIONAL COLETIVA:

• AÇÃO COLETIVA: É a demanda que dá origem a um processo coletivo, pelo qual se afirme a existência de uma
situação jurídica coletiva ativa ou passiva exigida para a tutela de grupo de pessoas. EXEMPLO:
- Dissídios trabalhistas,
- Ação de impugnação de mandato eletivo,
- Mandado de Segurança Coletivo, etc.

• TUTELA JURISDICIONAL COLETIVA: É a proteção que se confere a uma situação jurídica coletiva.

V – FUNDAMENTOS

Segundo Didier Júnior, as ações coletivas possuem duas justificativas:

• Fundamento sociológico: aumento das “demandas de massa”. Está ligado, portanto, ao princípio do acesso à
justiça.
• Fundamento político: permitem a solução de diversos conflitos por meio de um só processo, reduzindo os custos,
uniformizando os julgamentos e trazendo previsibilidade e segurança jurídica. Está ligado principalmente ao
princípio da economia processual.
1.4- PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À TUTELA PROCESSUAL COLETIVA

I - Acesso à justiça
II - Universalidade da jurisdição
III – Participação
IV – Contraditório
V - Economia processual
VI – Instrumentalidade
VII – Informação 12
VIII - Extensão da coisa julgada
IX - Obrigatoriedade da execução
X - Adequada representatividade

CAPÍTULO II – SITUAÇÕES JURÍDICAS COLETIVAS: DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU (DIFUSOS, COLETIVOS E
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS) E CASOS REPETITIVOS.

• DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU:

1) Difuso; essencialmente

2) Coletivo stricto sensu; coletivos

3) Individual homogêneo; acidentalmente coletivo

• CASOS REPETITIVOS

Sem a dimensão estrutural dos diversos direitos coletivos lato sensu, a tutela dos direitos dos grupos esbarraria em
resistências técnicas como:

a) A afirmação de que esses direitos não são direitos, mas meros interesses;
b) Que não há titularidade, logo não há possibilidade de se aferir a posição jurídica do grupo em abstrato;
c) Que a pretensão do grupo não encontra guarida no ordenamento jurídico por não ser prevista como pretensão
coletiva (situação jurídica em abstrato).
CDC
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente,
ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível,
de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma 13
relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

IMPORTANTE: Direitos transindividuais não possuem titulares individuais determinados, mas pertencem a uma
comunidade ou coletividade.

• Ex: Lei 12.529/2011 (Regula a proteção ao abuso de concorrência) – art. 1º: a coletividade é a titular dos bens
jurídicos protegidos por esta lei.
• Ex: CRFB/88 – art. 232 – Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo
em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o MP em todos os atos do processo.

1 – DIREITOS DIFUSOS – art. 81, § único, I CDC:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível,
de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato (sem que haja entre elas uma relação
jurídica base);

EXEMPLO:

- publicidade enganosa ou abusiva veiculada pela televisão, rádio, jornais, revistas, painéis publicitários;

- proteção ao meio ambiente hígido, sadio e preservado para as presentes e futuras gerações;

- preservação da moralidade administrativa;

- segurança pública.

- proteção da comunidade indígena, da criança e do adolescente, das pessoas portadoras de deficiência;

- o dano difuso gerado pela falsificação de produtos farmacêuticos por laboratórios químicos inescrupulosos;

- a destruição, pela famigerada indústria edilícia, do patrimônio artístico, estético, histórico turístico e paisagístico;

- defesa do erário público;

- o dano nefasto e incalculável de cláusulas abusivas inseridas em contratos padrões de massa;

- produtos com vícios de qualidade ou quantidade ou defeitos colocados no mercado de consumo; a pública.
2 – DIREITOS COLETIVOS STRICTO SENSU – art. 81, § único, II, CDC:

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base. (anterior à lesão)

A relação jurídica base pode se dar entre os membros da affectio societatis ligados pelo órgão de classe (Ex: advogados
inscritos na OAB) ou pela ligação de um grupo de pessoas com a parte contrária (contribuintes de determinado imposto), 14

ligados ao ente estatal competente pelo lançamento do tributo.

EXEMPLO DE RELAÇÃO-BASE:

- associados de uma determinada associação,

- acionistas da sociedade;

- advogados associados;

- contribuintes de um mesmo tributo.

DISTINÇÃO ENTRE DIREITO DIFUSO E COLETIVO STRICTO SENSU:

→No caso de publicidade enganosa, a “ligação” com a parte contrária também ocorre, só que em razão da lesão e não do
vínculo precedente, o que configura como direito difuso e não coletivo stricto sensu.

→ Coletivos stricto sensu: determinabilidade e consequente coesão do grupo, categoria ou classe anterior à lesão.

3 – DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

• Possuem origem nas class actions for damages, ações de reparação de danos coletivos do direito norte-
americano.
• Ficção legal criada pelo direito positivo brasileiro com a finalidade única e exclusiva de possibilitar a proteção
coletiva de direitos individuais com dimensão coletiva. – “tese jurídica geral” que beneficie, sem distinção, os
substituídos. Tanto que a sentença terá efeitos ERGA OMNES (art. 103, III CDC), ou seja, titulares dos direitos
individuais serão abstrata e genericamente beneficiados.
• Direitos nascidos em consequência da própria lesão, em que a relação jurídica entre as partes é post factum
lesivo, ou seja, dele decorra a homogeneidade entre os direitos dos diversos titulares de pretensões individuais.
• Grupo de vítimas de origem comum.
ORIGEM COMUM: “não significa, necessariamente, uma unidade factual e temporal. As vítimas de uma
publicidade enganosa veiculada por vários órgãos de imprensa e em repetidos dias de um produto nocivo à
saúde adquirido por vários consumidores em largo espaço de tempo e em várias regiões têm, como causa de
seus danos, fatos com homogeneidade tal que os tornam a ‘origem comum’ de todos eles.” (Teori Zavascki).
• São direitos subjetivos na concepção, divisíveis, individualizáveis, com titularidade determinada e disponíveis.
• Na origem, tais interesses ou direitos atingem um grande número de pessoas de tal ordem que permite uma
defesa única pelo substituto processual.
• Não são meros litisconsórcios multitudinários, mas podem ser provenientes de litisconsórcio. Revelam-se antes
como espécie de tutela molecular dos ilícitos que afetam bens jurídicos coletivos ou coletivizados para fins de
tutela. Uma ação coletiva para a defesa dos direitos individuais homogêneos não significa a simples soma das
ações individuais. Ao contrário, caracteriza-se a ação coletiva por interesses individuais homogêneos exatamente
porque a pretensão do legitimado concentra-se no acolhimento de uma tese jurídica geral referente a
determinados fatos que pode aproveitar a muitas pessoas. O que é completamente diferente de apresentarem-
se inúmeras pretensões singularizadas, especificamente verificadas em relação a cada um dos respectivos
titulares do direito.
• São indivisíveis (fixação da tese jurídica geral) e indisponíveis até o momento de sua liquidação e execução (o 15

quinhão devido a cada vítima pode ser individualizado).


• Para parte da doutrina, não possuem natureza de direitos coletivos, mas de direitos individuais coletivamente
tratados. Teori Zavascki: diferentemente da “roupagem” (direito processual) são “genuínos direitos subjetivos
individuais”, porque existem antes e independentemente do processo. Didier entende que não.
• EXEMPLOS:
- familiares das vítimas de um acidente aéreo - Chapecoense;
- uma indústria de produtos químicos através de suas atividades, deixa ocorrer um vazamento de produtos
tóxicos e consequentemente ocorre contaminação da água a ser consumida pelos consumidores;
- os consumidores que adquirem o mesmo produto produzido em série com o mesmo defeito;
- pedidos de pagamento de adicionais de periculosidade, de insalubridade aos trabalhadores de uma empresa,
pagamento horas extras etc;
- Ação coletiva de responsabilidade civil pelos danos individualmente causados (art. 91 e segts CDC). A
determinação dos indivíduos lesados quando ingressarem como assistentes litisconsorciais ou quando se
habilitarem para a liquidação de sentença (97 CDC).

A PROBLEMÁTICA DA LEGITIMIDADE DO MP PARA OS DIREITOS INDIVIDUAIS


HOMOGÊNEOS
Súmula 601, STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos
difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da
prestação de serviço público.

Origem: análise e julgamento do RECURSO ESPECIAL N. 929.792-SP (2007/0018251-5):

EMENTA ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CONCESSÃO DE TRANSPORTE URBANO DE PASSAGEIROS. TARIFA


FIXADA POR DECRETO DO PREFEITO MUNICIPAL. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA QUESTIONAR O
SEU VALOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REVOGAÇÃO DA TARIFA POR ATO JUDICIAL. INCABIMENTO DO DEVER DE RESTITUIR,
POR PARTE DA EMPRESA CONCESSIONÁRIA, OS VALORES COBRADOS NO PERÍODO DE VIGÊNCIA DO DECRETO
MUNICIPAL FIXADOR DA TARIFA. PRESUNÇÃO DE VALIDADE DOS ATOS DO PODER PÚBLICO. BOA-FÉ OBJETIVA. RECURSO
ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. O Ministério Público tem legitimidade subjetiva ativa para promover Ação Civil
Pública ou Coletiva para tutelar não apenas direitos difusos ou coletivos de consumidores, mas também direitos
individuais homogêneos, inclusive quando decorrentes da prestação de serviços públicos. Precedente: AgRg no AREsp
255.845/SP, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 10.8.2015.

A súmula foi uma concretização do pensamento já assente nos Tribunais no sentido de que o Ministério Público tem
legitimidade ativa para intentar ação civil pública para defesa de:
a) qualquer direito difuso:

b) qualquer direito coletivo stricto sensu;

c) direitos individuais homogêneos desde que:

i- sejam direitos indisponíveis OU

ii- sejam direitos disponíveis de interesse social (aqui incluída a parte final da súmula “DIH dos consumidores, ainda que
decorrentes da prestação de serviço público”, como é o caso de ação que discute a legalidade da tarifa de transporte 16
público – STJ, 1ª Turma, REsp nº 929.792/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, d.j. 18/02/2016)

• POSICIONAMENTOS DOUTRINÁRIOS E JURISPRUDENCIAIS – CORRENTES:

1ª corrente: O MP tem legitimidade ativa para defesa de qualquer direito difuso, coletivo e individual homogêneo, com
base nas fórmulas abertas do art. 129, III, CRFB:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:

III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e
social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

art. 25, IV, “a”, LONMP; (Lei Orgânica Nacional do MP)

Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em
outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:

IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:

a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao


consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e
a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
art. 6º, VII, “d”, LOMPU. (Lei Orgânica do MP da União)

Art. 6º Compete ao Ministério Público da União:

d) outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos;

art. 1º, IV c/c art. 5º, LACP;


17
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº
12.529, de 2011).

IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)

Referida corrente argumenta que o art. 129, III, CRFB/88 e art. 1º, IV, LACP/85 não fizeram menção aos direito individuais
homogêneos, porquanto o CDC, promulgado apenas em 1990, é que criou, no art. 81, parágrafo único, III, os direitos
individuais homogêneos como espécie dos direitos coletivos lato sensu.

Tanto é assim que as leis posteriores, como a LONMP/93 e a LOMPU (LC75/93), já englobaram os direitos individuais
homogêneos como hipóteses em que o MP é legitimado ativo.

2ª corrente (STJ): É necessário verificar se a defesa dos direitos é compatível com o perfil constitucional do Ministério
Público. Assim, conforme art. 129, III, CRFB, ele estaria legitimado de maneira genérica apenas à defesa de direitos
difusos e coletivos. Quanto aos direitos individuais homogêneos, teríamos de nos deter no art. 127, CRFB, que diz:

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do


Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.

Desse modo, o MP teria legitimidade para defender em juízo qualquer direito difuso, qualquer direito coletivo stricto
sensu, mas, quanto aos direitos individuais homogêneos, apenas teria legitimidade em duas hipóteses, quais sejam:

a) desde que sejam indisponíveis OU;

b) sendo disponíveis, que tenham interesse social.

Exemplos de direitos individuais indisponíveis:

Ex1: pedido de concessão de medicamento; internação para uma criança;

Ex2: pedido de concessão de alimentos para um idoso em face dos filhos (art. 229, CRFB).

Exemplos de direitos individuais disponíveis, mas de relevância social:

Diz o STJ (Resp 347.752/SP) que “a relevância social pode ser objetiva (decorrente da própria natureza dos valores e bens
em questão, como a dignidade da pessoa humana, meio ambiente, saúde, educação) ou subjetiva (aflorada pela
qualidade especial dos sujeitos – grupo de idosos, crianças – ou pela repercussão massificada da demanda).
Ex1: em caso de loteamentos irregulares ou clandestinos, inclusive para que haja pagamento de indenização aos
adquirentes (REsp 743678);

Ex2: na defesa de mutuários do Sistema Financeiro de Habitação (STF AI 637853 AgR);

Ex3: defesa do direito dos consumidores de não serem incluídos indevidamente nos cadastros de inadimplentes (REsp
1.148.179-MG);

Ex4: Legalidade de edital de concurso público para diversas categorias profissionais de determinada Prefeitura, em que se
previa que a pontuação adotada privilegiaria candidatos que já integrariam o quadro da Administração Pública municipal 18

(STF RE 216443);

Ex5: ação coletiva em defesa dos direitos individuais homogêneos dos beneficiários do seguro DPVAT, tendo em vista a
relevância social (entendimento este exarado pelo STF – RE 631.111 – que fez com que o STJ cancelasse a súmula 470,
STJ).

Ex5: Ação civil pública para tutelar não apenas direitos difusos ou coletivos de consumidores, mas também direitos
individuais homogêneos, inclusive quando decorrentes da prestação de serviços públicos (direito do consumidor), como é
o caso da ação que discute a legalidade de fixação da tarifa de transporte público. (STJ, no REsp 929.792/SP - 18/02/2016)

A tutela efetiva de consumidores possui relevância social que emana da própria Constituição Federal (arts. 5º, XXXII, e
170, V). (STJ. 3ª Turma. REsp 1254428/MG, d.j 02/06/2016).

O Ministério Público tem legitimidade ativa para a propositura de ação civil pública destinada à defesa de direitos
individuais homogêneos de consumidores, ainda que disponíveis, pois se está diante de legitimação voltada à promoção
de valores e objetivos definidos pelo próprio Estado (STJ. 3ª Turma. REsp 1254428/MG, julgado em 02/06/2016)

• EXERCÍCIO: QUESTÃO DE PROVA DE CONCURSO PARA O CARGO DE MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE AL

O Ministério Público tem legitimidade para defender os direitos e interesses dos consumidores em juízo, a título coletivo:

a) Somente quando se tratar de interesses ou direitos difusos e individuais homogêneos.


b) somente quando se tratar de interesses ou direitos difusos e coletivos.
c) quando se tratar de interesses ou direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos.
d) somente quando se tratar de interesses ou direitos difusos.
e) somente quando se tratar de interesses ou direitos coletivos.

Comentários

A alternativa C está correta. Conforme destacado em nossos comentários, a defesa dos interesses dos consumidores em
juízo possui relevância social, de modo que o MP teria legitimidade para a defesa não só dos direitos difusos ou coletivos
stricto sensu, mas também dos direitos individuais homogêneos.

• MP e DIH DISPONÍVEIS

A lei conferiu ao Ministério Público legitimidade para defesa de direitos disponíveis, nos casos da Lei n. 7.913/89 e da Lei
n. 11.101/05. Nestas hipóteses, a lei atribui legitimação para propor ação de responsabilidade por danos causados aos
investidores no mercado de valores mobiliários, bem como para ser substituto processual em ação revocatória.
Entretanto, nos casos em que não há expressa previsão legal e o direito é disponível, a doutrina e jurisprudência
divergem.

José dos Santos Carvalho Filho afirma que “o Ministério Público atuar em defesa de interesses individuais homogêneos
disponíveis, estará agindo em desconformidade com o quadro normativo vigente e, como a atuação está fora de suas
atribuições, será ela (a defesa) inconstitucional[4]”.

Entretanto, há interesses individuais que, quando considerados em seu conjunto, passam a ter significado ampliado, de
19
resultado maior que a simples soma das posições individuais, e cuja lesão compromete valores comunitários privilegiados
no ordenamento jurídico. Tais interesses individuais, visualizados nesta dimensão coletiva, constituem interesses sociais
para cuja defesa o Ministério Público está constitucionalmente legitimado.

Interesses sociais: Quando se mencionam os interesses sociais, a interpretação principal é que o Ministério Público atue
a favor de temas de interesse da sociedade como um todo, “que estejam próximos de um interesse geral, e não de
interesses privados”, de acordo com o Promotor de Justiça Oswaldo Luiz Palu. Entende-se como interesse social aquele
que reflete o que a sociedade entende como “bem comum”. Por exemplo, quando um prefeito desvia dinheiro público
destinado à construção de creches, isso irá afetar as pessoas que: a) pagaram impostos e esperam algum retorno deles e
b) as pessoas que precisam daquelas creches. Portanto, esse é um problema considerado de interesse público e necessita
da intervenção do Ministério Público – com a devida investigação dos fatos, a acusação e abertura de um inquérito.
Nesse caso, um Promotor de Justiça do Patrimônio Público que exercerá esse papel.

Interesse individual indisponível: Um interesse individual indisponível é o direito de um indivíduo e, ao mesmo tempo, é
de interesse e relevância pública – nesses casos, o direito público é mais relevante que o próprio direito individual. Uma
pessoa jamais pode abrir mão desses direitos. Já o termo “indisponível” vem exatamente da ideia de ele não estar à
disposição em certo momento ou estar inacessível a quem possui tal direito. Por isso, é dever do Ministério Público atuar
nas áreas em que cidadãs e cidadãos têm seus direitos individuais indisponíveis de alguma forma. São exemplos: o direito
à vida, o direito à saúde, o direito à educação, o direito à liberdade. Nenhuma pessoa pode renunciar a esses direitos, em
prol do bem público – e o MP deve atuar a fim de garanti-lo, mesmo que o indivíduo não peça para que ele o faça.

Por exemplo: um homem é testemunha de Jeová e, por conta de sua religião, recusa-se a doar sangue a seu filho, que
está muito doente e precisa de uma transfusão. São dois direitos individuais indisponíveis que estão em conflito: o direito
à religião, por parte do pai, e o direito à vida, por parte do filho. As interpretações do direito, feitas pelas doutrinas
jurídicas, colocam a importância de um direito sobre o outro. O direito à vida se sobrepõe a qualquer outro; portanto,
nesse caso, o Ministério Público deve agir com a finalidade de proteger o direito que o menino tem à vida.

• JURISPRUDÊNCIAS:

STJ:

- PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSUMIDOR. TELEFONIA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
ALEGAÇÃO GENÉRICA. SÚMULA 284/STF. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. FORNECIMENTO DE LISTA IMPRESSA. NÃO OBRIGATORIEDADE, EXCETO A PEDIDO EXPRESSO DO USUÁRIO. ART.
213, § 2º, DA LEI N. 9.472/97.DANOS MORAIS. CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS. AFASTAMENTO. [...] 4. O fornecimento
obrigatório de listas impressas a todos os usuários acarretaria relevante impacto ambiental.
- PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DE INTERESSE
INDIVIDUAL DISPONÍVEL. ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 1. Por se tratar de interesse individual disponível e
não caracterizada a relação como consumerista, carece o Ministério Público de legitimidade para ajuizar ação civil pública
com o intuito de assegurar a aplicação do regime estatutário a inativos e pensionistas originários do regime celetista.
Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 739.742/PB, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 06/02/2014, DJe 27/02/2014)

20
STF:

- E 635109 AgR Órgão julgador: Primeira Turma. Relator(a): Min. LUIZ FUX. Julgamento: 22/02/2019. Publicação:
18/03/2019. Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. RESTABELECIMENTO DE
BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS IMBUÍDOS DE RELEVANTE INTERESSE SOCIAL.
LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

- RE 213631. Órgão julgador: Tribunal Pleno. Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO. Julgamento: 09/12/1999. Publicação:
07/04/2000. EMENTA: MINISTÉRIO PÚBLICO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE
RIO NOVO-MG. EXIGIBILIDADE IMPUGNADA POR MEIO DE AÇÃO PÚBLICA, SOB ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE.
ACÓRDÃO QUE CONCLUIU PELO SEU NÃO-CABIMENTO, SOB INVOCAÇÃO DOS ARTS. 102, I, a, E 125, § 2º, DA
CONSTITUIÇÃO. Ausência de legitimação do Ministério Público para ações da espécie, por não configurada, no caso, a
hipótese de interesses difusos, como tais considerados os pertencentes concomitantemente a todos e a cada um dos
membros da sociedade, como um bem não individualizável ou divisível, mas, ao revés, interesses de grupo ou classe de
pessoas, sujeitos passivos de uma exigência tributária cuja impugnação, por isso, só pode ser promovida por eles
próprios, de forma individual ou coletiva. Recurso não conhecido.

- Ementa: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL COLETIVA. DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS (DIFUSOS E
COLETIVOS) E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. DISTINÇÕES. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ARTS. 127 E
129, III, DA CF. LESÃO A DIREITOS INDIVIDUAIS DE DIMENSÃO AMPLIADA. COMPROMETIMENTO DE INTERESSES SOCIAIS
QUALIFICADOS. SEGURO DPVAT. AFIRMAÇÃO DA LEGITIMIDADE ATIVA. 1. Os direitos difusos e coletivos são
transindividuais, indivisíveis e sem titular determinado, sendo, por isso mesmo, tutelados em juízo invariavelmente em
regime de substituição processual, por iniciativa dos órgãos e entidades indicados pelo sistema normativo, entre os quais
o Ministério Público, que tem, nessa legitimação ativa, uma de suas relevantes funções institucionais (CF art. 129, III). 2.
Já os direitos individuais homogêneos pertencem à categoria dos direitos subjetivos, são divisíveis, tem titular
determinado ou determinável e em geral são de natureza disponível. Sua tutela jurisdicional pode se dar (a) por iniciativa
do próprio titular, em regime processual comum, ou (b) pelo procedimento especial da ação civil coletiva, em regime de
substituição processual, por iniciativa de qualquer dos órgãos ou entidades para tanto legitimados pelo sistema
normativo. 3. Segundo o procedimento estabelecido nos artigos 91 a 100 da Lei 8.078/90, aplicável subsidiariamente aos
direitos individuais homogêneos de um modo geral, a tutela coletiva desses direitos se dá em duas distintas fases: uma, a
da ação coletiva propriamente dita, destinada a obter sentença genérica a respeito dos elementos que compõem o
núcleo de homogeneidade dos direitos tutelados (an debeatur, quid debeatur e quis debeat); e outra, caso procedente o
pedido na primeira fase, a da ação de cumprimento da sentença genérica, destinada (a) a complementar a atividade
cognitiva mediante juízo específico sobre as situações individuais de cada um dos lesados (= a margem de
heterogeneidade dos direitos homogêneos, que compreende o cui debeatur e o quantum debeatur), bem como (b) a
efetivar os correspondentes atos executórios. 4. O art. 127 da Constituição Federal atribui ao Ministério Público, entre
outras, a incumbência de defender “interesses sociais”. Não se pode estabelecer sinonímia entre interesses sociais e
interesses de entidades públicas, já que em relação a estes há vedação expressa de patrocínio pelos agentes ministeriais
(CF, art. 129, IX). Também não se pode estabelecer sinonímia entre interesse social e interesse coletivo de particulares,
ainda que decorrentes de lesão coletiva de direitos homogêneos. Direitos individuais disponíveis, ainda que homogêneos,
estão, em princípio, excluídos do âmbito da tutela pelo Ministério Público (CF, art. 127). 5. No entanto, há certos
interesses individuais que, quando visualizados em seu conjunto, em forma coletiva e impessoal, têm a força de
transcender a esfera de interesses puramente particulares, passando a representar, mais que a soma de interesses dos
respectivos titulares, verdadeiros interesses da comunidade. Nessa perspectiva, a lesão desses interesses individuais
acaba não apenas atingindo a esfera jurídica dos titulares do direito individualmente considerados, mas também
comprometendo bens, institutos ou valores jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma comunidade maior de
pessoas. Em casos tais, a tutela jurisdicional desses direitos se reveste de interesse social qualificado, o que legitima a
propositura da ação pelo Ministério Público com base no art. 127 da Constituição Federal. Mesmo nessa hipótese, 21

todavia, a legitimação ativa do Ministério Público se limita à ação civil coletiva destinada a obter sentença genérica sobre
o núcleo de homogeneidade dos direitos individuais homogêneos. 6. Cumpre ao Ministério Público, no exercício de suas
funções institucionais, identificar situações em que a ofensa a direitos individuais homogêneos compromete também
interesses sociais qualificados, sem prejuízo do posterior controle jurisdicional a respeito. Cabe ao Judiciário, com efeito,
a palavra final sobre a adequada legitimação para a causa, sendo que, por se tratar de matéria de ordem pública, dela
pode o juiz conhecer até mesmo de ofício (CPC, art. 267, VI e § 3.º, e art. 301, VIII e § 4.º). 7. Considerada a natureza e a
finalidade do seguro obrigatório DPVAT – Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Lei
6.194/74, alterada pela Lei 8.441/92, Lei 11.482/07 e Lei 11.945/09) -, há interesse social qualificado na tutela coletiva
dos direitos individuais homogêneos dos seus titulares, alegadamente lesados de forma semelhante pela Seguradora no
pagamento das correspondentes indenizações. A hipótese guarda semelhança com outros direitos individuais
homogêneos em relação aos quais - e não obstante sua natureza de direitos divisíveis, disponíveis e com titular
determinado ou determinável -, o Supremo Tribunal Federal considerou que sua tutela se revestia de interesse social
qualificado, autorizando, por isso mesmo, a iniciativa do Ministério Público de, com base no art. 127 da Constituição,
defendê-los em juízo mediante ação coletiva (RE 163.231/SP, AI 637.853 AgR/SP, AI 606.235 AgR/DF, RE 475.010 AgR/RS,
RE 328.910 AgR/SP e RE 514.023 AgR/RJ). 8. Recurso extraordinário a que se dá provimento. (RE 631111, Relator(a): Min.
TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 07/08/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-
10-2014)

- Ementa: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DE
INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DISPONÍVEIS. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PRECEDENTES. 1.
O Ministério Público possui legitimidade para propor ação civil coletiva em defesa de interesses individuais homogêneos
de relevante caráter social, ainda que o objeto da demanda seja referente a direitos disponíveis (RE 500.879-AgR, rel.
Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe de 26-05-2011; RE 472.489-AgR, rel. Min. Celso De Mello, Segunda Turma, DJe
de 29-08-2008). 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (RE 401482 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI,
Segunda Turma, julgado em 04/06/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-119 DIVULG 20-06-2013 PUBLIC 21-06-2013)

- Tribunal de Justiça de Santa Catarina TJ-SC - Apelação Cível : AC 0017897-95.2011.8.24.0039 Lages 0017897-
95.2011.8.24.0039

Empresa América Latina Logística (ALL) DANO ECOLÓGICO – VAZAMENTO DE ÓLEO DIESEL – MORADORES PRÓXIMOS –
DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS DIFUSOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS – DANOS MORAIS EM FAVOR DOS AUTORES
LIMITADOS À SEGUNDA SITUAÇÃO. Os direitos difusos são aqueles marcados pela impessoalidade: não existe um titular;
não se conseguem apontar as pessoas que tenham uma aproximação jurídica maior ou menor. Por isso são ditos
transindividuais, visto que ultrapassam posições específicas. São também qualificados como indivisíveis, pois não é viável
fracioná-los, cindi-los. Não se podem apontar porções diferenciadas que toquem a este ou àquele; tampouco se
consegue vislumbrar a sua compreensão departamentalizada. Por extensão, toda uma coletividade está a eles vinculada,
ainda que alguns possam, por circunstâncias de fato, estar mais sujeitos aos seus influxos. “Instaura-se entre os destinos
dos interessados tão firme união, que a satisfação de um só implica de modo necessário a satisfação de todos; e,
reciprocamente, a lesão de um só constitui, ipso facto, lesão da inteira coletividade.” (Barbosa Moreira). Isso não afasta a
possibilidade de que um fato ofensivo a direito difuso atinja prerrogativa individual. Em outros termos, um mesmo fato
pode simultaneamente ter mais de um enquadramento. Conforme o caso e a postulação, a questão poderá ser tratada
como interesse difuso, coletivo em sentido estrito ou individual homogêneo. Na hipótese, a pretensão é para que
moradores próximos ao local afetado pelo derramamento de combustível sejam indenizados em razão da contaminação
a que ficaram expostos. Em que pese a comprovação do vazamento de óleo diesel em estação de propriedade da
acionada (que gera dano difuso), isso não cria necessário prejuízo pessoal aos circunstantes, que poderão, é claro, ter
direito à reparação se comprovarem malefício individualizado. No caso concreto, demonstraram-se moléstias quanto a
uma porção dos autores, que merecem na mesma medida a reparação por danos morais.

• OBS: 22

- direitos individuais homogêneos: TUTELA COLETIVA REPRESSIVA (posterior à lesão)

- direitos difusos e coletivos stricto sensu : TUTELA COLETIVA PREVENTIVA (inibitória)

• COMO SE EFETIVA OS DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS? PROCEDIMENTO/RITO:

Aferição do núcleo de homogeneidade – PROCEDIMENTO: 3 fases:

1ª fase de conhecimento (tutela coletiva/homogêneo) para aferir - an debeatur (se é devido)


- quid debeatur (o que é devido)
- quis debeatur (quem deve)

2ª fase de liquidação e execução (individual/heterogêneo) para aferir - cui debeatur (para quem deve)
- quantum debeatur (o quanto é devido)

3ª fase recuperação fluída (fluid recovery) A questão volta ao núcleo da homogeneidade para garantia da integralidade da
tutela, garantia da reparação integral, em atenção ao MACROBEM objeto da tutela coletiva e ao interesse publico
primário. Se em 1 ano não houver habilitação de interessados, os legitimados poderão liquidar e executar. Será aferido
apenas o quanto é devido (QUANTUM DEBEATUR) e os valores serão revertidos para o FDD (Fundo de Defesa de Direitos
Difusos) previsto na Lei de Ação Civil Pública (7.347/85) e no art. 100 do CDC)

• CRITÉRIOS PARA A IDENTIFICAÇÃO DO DIREITO OBJETO DA AÇÃO COLETIVA

- Antônio Gidi: “não é a matéria, o tema, o assunto abstratamente considerados, mas o direito subjetivo específico que
foi violado (rectius que se afirme violado)”;

- Nelson Nery Jr.: é o tipo de pretensão (pedido) que classifica um direito ou interesse difuso, coletivo ou individual;

- Didier Jr: é a fusão entre o direito subjetivo (afirmado) e a tutela requerida, como forma de identificar, na demanda, de
qual direito se trata e, assim, prover adequadamente a jurisdição. Ex: em determinada ação onde se afirme a lesão
cometida por veiculação de publicidade enganosa o autor da ação deverá descrever os fatos que justificam a demanda e
embasam sua pretensão: 1) fatos (causa de pedir mediata ou remota), que originam lesão de direitos individuais; 2) um
direito afirmado (causa de pedir imediata ou próxima), que pode ser configurado (em tese) como DIH por ter origem
comum e se estender a vários titulares de direitos individuais hipoteticamente lesados; e 3) um pedido imediato de
condenação genérica, de acordo com o direito afirmado.
• DOS DIREITOS COLETIVOS AOS CONFLITOS COLETIVOS: A ADEQUAÇÃO DO PROCESSO COLETIVO ÀS
PECULIARIDADES DO CASO LEVADO A JULGAMENTO – PROPOSTA DE EDILSON VITORELLI* 23

*Livro de professor brasileiro recebe prêmio internacional


Obra de Edilson Vitorelli foi eleita a melhor do mundo pela International Association of Procedural Law

Um livro escrito pelo professor brasileiro Edilson Vitorelli, mineiro radicado em São Paulo, foi eleito pela
International Association of Procedural Law como a melhor obra sobre processo do mundo, escrita por um
autor com menos de 40 anos.
O livro, intitulado “O devido Processo legal coletivo”, editado pela Revista dos Tribunais, acaba de ganhar
uma segunda edição, comemorativa da ocasião. É a primeira vez que o prêmio, que é atribuído a cada
quatro anos, será entregue a um autor brasileiro ou a uma obra publicada no Brasil.
A obra é resultado da pesquisa de doutorado do autor e teve sua primeira edição publicada em 2016.
Durante a pesquisa, realizada na Universidade Federal do Paraná, sob orientação do Professor Luiz
Guilherme Marinoni, o autor foi professor visitante na Universidade de Stanford e pesquisador visitante na
Universidade de Harvard, ambas nos Estados Unidos.
Para Vitorelli, a premiação representa, mais que uma conquista pessoal, um reconhecimento da
comunidade acadêmica internacional da qualidade da pesquisa acadêmica produzida no Brasil. “Imaginar
que um júri composto pelos maiores expoentes da área de processo no mundo, com um professor dos
Estados Unidos, um da Itália, um da França, um do Japão e um do Chile possam eleger um livro brasileiro
para receber esse destaque parecia verdadeiramente impossível. Nosso país tem uma tradição jurídica
muito rica, mas ainda pouco reconhecida internacionalmente”.
O livro propõe novas bases para o desenvolvimento de processos coletivos, que são utilizados nos casos de
lesões ao meio ambiente, aos consumidores, ao patrimônio histórico, dentre outros. Para o autor, o
segredo do sucesso foi aliar a pesquisa acadêmica à atividade prática. “Como procurador da República, tive
oportunidade de trabalhar com muitos processos coletivos, que são de atribuição do Ministério Público
Federal. Esses casos foram importantes para que as ideias do livro pudessem ser construídas a partir da
experiência concreta, sem abstrações que desconsiderem aquilo que, de fato, acontece nos processos.
Prática e teoria precisam ser complementares, não inimigas”. Além do Ministério Público Federal, Vitorelli
atua como professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie em Campinas e do mestrado da
Universidade Católica de Brasília.
O autor espera que o prêmio seja um estímulo para os pesquisadores e alunos do curso de Direito. “Temos
muitos cursos de Direito e muitos alunos, mas ainda é muito difícil pesquisar no Brasil. Nosso acesso a
bancos de dados está longe de ser ideal, assim como as condições daqueles que querem se dedicar ao
trabalho científico. Eu tenho a sorte de integrar instituições que valorizam a formação acadêmica e
profissional. Isso ainda é exceção. Espero que mais estudantes e cientistas possam se dedicar à missão de
produzir conhecimento de qualidade”.
O prêmio será entregue ao professor em novembro, durante o Congresso Mundial de Processo, no Japão.
O livro está disponível em bit.ly/devidoprocesso.

Disponível in https://ucb.catolica.edu.br/portal/noticias/livro-de-professor-brasileiro-recebe-premio-
internacional/

Não obstante as diferenças entre os direitos coletivos, o processo coletivo é basicamente o mesmo, pouco importa o tipo
do direito – ressalvadas algumas peculiaridades (publicação de edital ou intervenção da vítima em DIH).
Ex: ambiente ambiental no meio do oceano Atlântico e o rompimento da barragem da Samarco (Mariana/2016) geram
ambos ações coletivas que versam sobre direitos difusos, com idêntico procedimento, independentemente das
profundas diferenças que existem entre ambos os casos.

PROCEDIMENTO COMUM: É como se qualquer tipo de conflito pudesse tramitar, adequadamente, pelo mesmo e único
modelo de procedimento comum, criado pela Lei 7.347/85 (estabelece objeto, legitimados, desistência e abandono da
ação, litisconsórcio, documentos necessários à instrução da inicial, liminar, execução/cumprimento de sentença,
recursos, efeitos da coisa julgada, litigância de má-fé, prazos, etc). Tal procedimento de iniciativa legislativa é abstrato,
em tese, não concretiza suficientemente o princípio da adequação. O princípio do devido processo legal impõe que se 24
construa um processo adequado às peculiaridades do caso concreto a partir do tipo de conflito (até porque a partir do
tipo de direito já se viu que não há como diferenciar o procedimento).

Edilson Vitorelli construiu uma tipologia dos litígios coletivos, que se diferenciam, basicamente, em razão de 2 variáveis:

a) Conflituosidade: tão mais conflituoso será o litígio quanto menos uniforme for a posição dos membros do grupo
diante do conflito (seja porque existem subgrupos com interesses diversos, seja porque há conflito dentro do
próprio grupo);
b) Complexidade: o litígio será tão mais complexo quanto maior for a variedade de formas pelas quais ele pode ser
resolvido juridicamente.

OBS: a titularidade de um direito coletivo somente pode ser definida diante de alguma lesão ou ameaça concreta. A
partir do conflito concreto define-se qual é o grupo titular do direito. “Não importa de quem é o meio ambiente de uma
ilha virgem e deserta, que se localize no meio do Oceano Pacífico. Pelo menos não até que ele (meio ambiente) seja
lesado ou, pelo menos, ameaçado.”

Com base nessa variável, Vitorelli afirma que os litígios coletivos podem ser de difusão GLOBAL, LOCAL ou IRRADIADA,
classificação que definirá a titularidade, legitimação, competência, etc.

I – LITÍGIOS COLETIVOS DE DIFUSÃO GLOBAL:

É aquele em que a lesão ou a ameaça de lesão não atinge diretamente os interesses de qualquer pessoa. O grau de
conflituosidade do grupo titular do direito é muito baixo, pois os indivíduos que os compõem são atingidos de modo
uniforme pela lesão e praticamente não há interesse pessoal no conflito. Tendem a ser litígios menos complexos.

• EX: lesão a meio ambiente (vazamento de pequena quantidade de óleo no meio do oceano).
• OBJETO: mais facilmente identificado.
• TITULARES: As pessoas sofrem do mesmo modo as consequências da lesão.
• LEGITIMADOS: tendem a ser órgãos públicos cuja atuação se relacione à proteção do bem jurídico lesado (MP,
Defensoria pública, PROCON, associação como GREENPEACE, etc).
• COMPETÊNCIA: juízo do foro do local da lesão ou da ameaça.
• AUTOCOMPOSIÇÃO: a possibilidade é mais alta.
• CONFLITUOSIDADE: é muito baixa.

II – LITÍGIOS COLETIVOS DE DIFUSÃO LOCAL:

É aquele em que a lesão ou ameaça de lesão atinge diretamente grupo de indivíduos que compartilham de identidade
própria comum ou de uma mesma perspectiva social, como as que atingem diretamente comunidades tradicionais
(índios ou quilombolas), minorias e trabalhadores.
• EX: lesão ambiental causada em território indígena; direito de igualdade de gênero das mulheres; direitos dos
trabalhadores da indústria metalúrgica
• TITULARES: grupo diretamente atingido com a lesão.
• LEGITIMADO: ente da própria sociedade civil (sindicatos ou associação de defesa dos direitos das mulheres) ou,
excepcionalmente, o próprio grupo, como no caso das comunidades indígenas. Em havendo vulnerabilidade
social de certos grupos, órgãos públicos assumem a legitimação (MPT, MPF, FUNAI, etc). Os grupos podem
participar ativamente por meio de audiências públicas ou intervenção amicus curiae.
• COMPETÊNCIA: se a lesão é local, fica mais fácil identificar.
• AUTOCOMPOSIÇÃO: grande chance, a exemplo dos litígios trabalhistas 25

• GRAU DE CONFLITUOSIDADE: médio, porque tende a ser mais coesa, embora existam divergências internas
dentro do próprio grupo, frequentes nos casos de empregados e indígenas.

III – LITÍGIOS COLETIVOS DE DIFUSÃO IRRADIADA:

É aquele em que a lesão atinge diretamente os interesses de diversas pessoas ou segmentos sociais, mas essas pessoas
não compõem uma comunidade, não têm a mesma perspectiva social e não serão atingidas na mesma medida pelo
resultado do litígio, o que faz com que suas visões acerca de seu resultado desejável sejam divergentes e, não raramente,
antagônicas.

• EXEMPLO: construção de hidrelétrica (No início: impactos ambientais e sociais. No decorrer do empreendimento,
aspectos urbanos) e proibição da queima da palha de cana de açúcar em regiões canavieiras (equilíbrio ecológico
X empregabilidade).
• TITULARES: pessoas atingidas pela lesão, subgrupos com interesses heterogêneos, facilmente identificados,
atingidos em graus diferentes de intensidade.
• LEGITIMADO: mais fácil de ser identificado porque tem que ser adequado à tutela coletiva e pluralidade de
interesses (muitas vezes contrapostos) em torno do litígio. Tende a ser o MP. Lesados poderão intervir como
colegitimado (assistente litisconsorcial) ou amicus curiae. O amplo contraditório é o que causa o problema:
implica em dificuldades na duração razoável do processo coletivo. Por isso quanto maior a representatividade
possível, melhor.
• COMPETÊNCIA: o foro do local onde estejam as pessoas mais proximamente atingidas pela lesão, o epicentro da
lesão.
• AUTOCOMPOSIÇÃO: conflituosidade de alta complexidade, devido aos múltiplos resultados para o litígio e a
presença de grupos e subgrupos. Acordos devem contemplar os diversos interesses, com a participação dos
adequados representantes, autocomposições parciais celebradas com subgrupos. Daí Vitorelli afirmar que o
dogma da indivisibilidade da tutela coletiva é não apenas inaplicável, mas verdadeiramente ruim para a
construção do devido processo legal coletivo.
• DECISÃO JUDICIAL: muito provavelmente será estrutural (structural injunction), ou seja, aquela que busca
implementar uma reforma estrutural (structutral reform) em um ente, organização ou instituição, com o objetivo
de concretizar um direito fundamental, realizar uma determinada política pública ou resolver litígios complexos.
O processo em que essa sentença se constrói é chamado de PROCESSO ESTRUTURAL. Parte-se da premissa de
que a ameaça que as organizações burocráticas representam para a efetividade das normas constitucionais não
pode ser eliminada sem que tais organizações sejam reconstruídas.

• CUMULAÇÃO DE LITÍGIOS DE DIFUSÃO IRRADIADA COM LITÍGIOS GLOBAIS E LOCAIS

A alta conflituosidade dos litígios de difusão irradiada costuma envolver a discussão sobre situações jurídicas e grupos
diversos. Assim pode haver exemplos em que um mesmo processo situações jurídicas digam respeito a litígios globais ou
locais, além da difusão irradiada. Nesses casos a fragmentação da tutela jurisdicional poderá ser recomendável para
atender ao devido processo legal referente a cada espécie de litígio.
EXEMPLO: Desastre ambiental de Mariana/MG pelo rompimento da Barragem de Fundão/ 2015 – Manifestação do STF
em conflito de competência que reuniu todas as ações coletivas tramitando no juízo federal de BH/MG como solução
mais racional no “conjunto de imposições judiciais já direcionadas á empresa Samarco, tomar medidas dotadas de mais
efetividade que não corram o risco de ser neutralizadas por outras decisões judiciais provenientes de juízos distintos,
além de contemplar o maior número de atingidos”. Há várias razões macroscópicas dos danos ocasionados:

a) Por se tratar da capital do estado mais atingido pelo desastre (local do dano);
b) Prevenção (primeiras ações coletivas ajuizadas);
c) O pedido era mais amplo nas ações ajuizadas. 26

COMPETÊNCIA - Lei 7.347/85 – ACP:

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo
juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único: A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

Contudo, a tutela das comunidades locais atingidas poderia revelar-se mais adequada se promovida nas próprias
localidades atingidas → litígio local, questões como falta de água potável, prejuízos individuais homogêneos que gerem
indenização, direitos dos indígenas Krenak, dos trabalhadores ribeirinhos de extração de areia e pescadores artesanais e
da zona costeira atingida, ressarcimento patrimonial e moral de vítimas e familiares.

Essa exceção à regra de competência legal (conexão e continência) foi expressamente ressalvada pelo STF:

“Há que se ressalvar, no entanto, as situações que envolvam aspectos estritamente humanos e
econômicos da tragédia (...) ou mesmo abastecimento de água potável que exija soluções
peculiares ou locais, as quais poderão ser objeto de ações individuais ou coletivas, intentadas
cada qual no foro de residência dos autores ou do dano. Nesses casos devem ser levadas em
conta as circunstâncias peculiares e individualizadas decorrentes do acidente ambiental, sempre
com base na garantia de acesso facilitado ao Poder Judiciário e da tutela mais ampla e irrestrita
possível. Em tais situações, o foro de Belo Horizonte não deverá prevalecer, pois significaria
óbice à facilitação do acesso à justiça, marco fundante do microssistema da ação civil pública.”

CONCLUSÃO: Diferenças entre conflitos justificam as variações sobre a competência, possibilidade de autocomposição,
legitimação para a causa, intervenção de terceiro, conteúdo da decisão. Sendo assim, o conflito coletivo (e não o direito
coletivo) deve ser o fator de adequação do processo coletivo para a construção de um devido processo legal coletivo.

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