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TEORIA GERAL DO

DIREITO CIVIL

PROFESSORA JOELMA SILVA SOUZA


EMENTA DISCIPLINA
I CONTEÚDO PROGRAMÁTICO - 1º. BIMESTRE
1. Noções Introdutórias ao Direito Civil. 1.1. Conceito de Direito. 1.2. Direito Objetivo e
Subjetivo. 1.3. Direito Público e Direito Privado. 1.4. Conceito de Direito Civil. 1.5. Importância
do Direito Civil. 1.6. Utilidade da Codificação. 1.7. Objeto e Divisão. 1.8. Princípios do Direito
Civil. 1.9. Relação do Direito Civil com os Demais Ramos do Direito. 1.10 LINDB
2. História da Codificação Civil Brasileira. 2.1. Direito Português-Brasileiro. 2.2.
Consolidação das Leis Civis de Teixeira de Freitas. 2.3. Esboço de Teixeira de Freitas. 2.4.
Projeto de Nabuco de Araújo. 2.5. Projeto de Felício dos Santos. 2.6. Projeto de Coelho
Rodrigues. 2.7. Consolidação de Carlos de Carvalho. 2.8. O Projeto Beviláqua e o Código de
1916. 2.9. Anteprojeto de 1941. 2.10. Anteprojeto de Orlando Gomes. 2.11. Projeto de 1975 –
Código Civil de 2002.
3. Pessoas Naturais. 3.1. A Pessoa. 3.2. Personalidade e Capacidade. 3.3. Momento da
Aquisição da Personalidade: a Questão do Nascituro. 3.4. Viabilidade e Forma Humana.
4. Incapacidades. 4.1. Capacidade de Direito e de Fato. 4.2. Incapacidade Absoluta. 4.3.
Incapacidade Relativa. 4.4. Suprimento da Incapacidade. 4.5. Cessação da Incapacidade.
5. Fim da Personalidade. 5.1. A Morte como Causa de Extinção da
Personalidade. 5.2. Morte Civil. 5.3. Justificação da Morte. 5.4.
Comoriência.
6. Registro Público. 6.1. Conceito. 6.2. Atos Registráveis. 6.3. Atos
Sujeitos à Averbação.
7. Direitos da Personalidade. 7.1. Conceito. 7.2. Características. 7.3.
Proteção aos Direitos da Personalidade. 7.4. Classificação. 7.5. Direito
à Integridade Física. 7.6. Tratamento Médico. 7.7. Proteção à Palavra
e à Imagem. 7.8. Proteção à Vida Privada. 7.9. Direito ao Nome. 7.10.
Estado da Personalidade.
8. Ausência. 8.1. Conceito. 8.2. Curadoria. 8.3. Sucessão Provisória.
8.4. Sucessão Definitiva. 8.5. Dissolução do Casamento do Ausente.
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2º BIMESTRE
9. Pessoa Jurídica. 9.1. Conceito. 9.2. Histórico. 9.3. Denominação. 9.4.
Natureza Jurídica. 9.5. Classificação. 9.6. Constituição da Pessoa
Jurídica. 9.7. Grupos Despersonalizados. 9.8. Administração. 9.9.
Desconsideração da Personalidade Jurídica. 9.10. Responsabilidade da
Pessoa Jurídica. 9.11. Alteração, Transformação e Extinção.
10. Associações. 10.1. Conceito. 10.2. Estatuto. 10.3. Associados. 10.4.
Assembléia Geral. 10.5. Dissolução.
11. Fundação. 11.1. Conceito. 11.2. Constituição. 11.3. Estatuto. 11.4.
Atuação do Ministério Público. 11.5. Extinção.
12. Domicílio. 12.1. Conceito. 12.2. Importância do Domicílio. 13.3.
Elementos. 12.4. Espécies. 12.5. Pluralidade de Domicílios. 12.6.
Mudança de Domicílio. 12.7. Pessoas Jurídicas.
13. Bens. 13.1. Conceito. 13.2. Classificação. 13.3. Patrimônio.
14. Bens Considerados em Si Mesmos. 14.1. Classificações do Código.
14.2. Bens Imóveis. 14.3. Móveis. 14.4. Bens Fungíveis e Infungíveis.
14.5. Bens Consumíveis e Não Consumíveis. 14.6. Bens Divisíveis e
Indivisíveis. 14.7. Bens Singulares e Coletivos. 14.8. Bens Corpóreos e
Incorpóreos.
15. Bens Considerados uns em Relação aos Outros. 15.1. Bens
Principais ou Acessórios. 15.2. Pertenças. 15.3. Frutos e Produtos. 15.4.
Benfeitorias. 15.5. Acessões.
16. Bens em Relação ao Titular do Domínio. 16.1. Conceito. 16.2.
Classificação. 16.3. Inalienabilidade.
BIBLIOGRAFIA

1) Manual de Direito Civil - Volume Único - 7ª edição 2023 -


Rodolfo Pamplona Filho e Pablo Stolze Gagliano
2) Manual de Direito Civil - Volume Único – Flávio Tartuce
3) Curso de Direito Civil Brasileiro - Teoria Geral do Direito
Civil - Vol.1 - 40ª edição 2023 – Maria Helena Diniz
4) Direito Civil Brasileiro - Vol. 1 - Parte Geral - 21ª edição
2023: Carlos Roberto Gonçalves
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS AO DIREITO CIVIL
Direito vem do latim directum que deriva do verbo dirigere, que significa dirigir, ordenar.

"O Direito é a norma das ações humanas na vida social, estabelecida por uma organização
soberana e imposta coativamente à observância de todos", segundo RUGGIERO e MAROI,
em Istituzioni di diritto privato, 8 ed., Milão, 1955, v.1, § 2º.

Nesse aspecto, Miguel Reale, em Lições Preliminares de Direito, afirma que "aos olhos do
homem comum o Direito é a lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatórias que
garante a convivência social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus
membros".

A Teoria tridimensional do Direito de Miguel Reale (1910 – 2006), um dos mais conhecidos
juristas brasileiros, Miguel Reale, nos trouxe uma nova visão acerca da realidade jurídica,
partindo do pressuposto de que o direito é compreendido sob três aspectos epistemológicos:
fato, valor e norma.
DIREITO CIVIL - CONCEITO

O Direito é um conjunto de regras de conduta, acepção mais interessante, é que se colhe


a memorável definição de Vicente Ráo: “é o direito um sistema de disciplina social
fundado na natureza humana que, estabelecendo nas relações entre os homens uma
proporção de reciprocidade nos poderes e deveres que lhes atribui, regula condições
existenciais dos indivíduos e dos grupos sociais e, em consequência, da sociedade,
mediante normas coercitivamente impostas pelo poder público”
O Direito indica, em realidade, os recíprocos limites a serem observados pelos homens
no convívio social.
Não se imagine, porém, que as regras jurídicas somente sirvam para exortar os atores
sociais a se respeitarem. Não – muito além disso –, aquelas a eles se impõem,
permitindo, assim, que a paz e a segurança sociais tomem lugar, como lastro mínimo
para o bem-estar dos homens.
DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO
DIREITO OBJETIVO: Conjunto de normas de condutas, editadas pelo Estado, sendo voltadas ao regramento da vida em
sociedade.

DIREITO SUBJETIVO: São faculdades asseguradas a determinado sujeito. Nesse caso, às mencionadas faculdades, podem-se
contrapor a existência de deveres, oriundos das normas jurídicas, ou de obrigações advindas, por exemplo, de contratos.

TEORIAS DO DIREITO SUBJETIVO:

1) TEORIA DO PODER DA VONTADE: Savigny e Windscheid - sofrendo severas críticas, em especial pela alegada
inexistência de vontade juridicamente relevante que justifique a existência de direitos para os portadores de deficiências
mentais ou para os infantes.
2) TEORIA DO INTERESSE JURÍDICO: alemão Ihering - dois princípios - o fim prático do direito (o interesse do titular que o
caracteriza) e a sua necessária proteção, desprezando-se o papel da vontade para a caracterização do instituto.
3) RECASENS SICHES: direito subjetivo – em sua mais geral e ampla acepção – é a qualidade que a norma atribui a certas
situações de algumas pessoas, consistente na possibilidade de determinar juridicamente (por imposição inexorável) o
dever de uma especial conduta em outra ou outras pessoas. PROJEÇÃO DO MUNDO REAL: a) o direito subjetivo como
mero reverso material de um dever jurídico de terceiros, imposto pela norma independentemente da vontade de seu titular
(como seriam os direitos de personalidade); b) o direito subjetivo como pretensão (possível nas hipóteses em que o titular
do direito tivesse, à sua disposição, o aparato coercitivo do direito para exigir de terceiros o cumprimento de suas
obrigações); e c) o direito subjetivo como poder de formação jurídica (consistente na faculdade que a norma atribui a uma
pessoa de determinar o nascimento, a modificação ou extinção de relações jurídicas, na hipótese de contratos de
alienações de bens, de cessão de crédito, entre outros).
Oswaldo Aranha Bandeira de Mello - “conferem interesse legítimo aos
administrados as normas de direito objetivo que regem a realização de interesse
coletivo, mas, reflexamente, ao mesmo tempo, satisfazem os interesses de
determinados indivíduos.
Assim, tais particulares, a que as regras concretamente atingem, têm interesse
especial na sua observância”.
Tomemos como exemplo uma invasão de área particular de proteção ambiental
por madeireiros. Nós, mesmo não sendo donos da área, temos interesse legítimo
em provocar o Ministério Público para que, em atenção às normas ambientais,
promova o fim das derrubadas de árvores no terreno.
Apenas o proprietário, porém, terá direito subjetivo para, em nome próprio, mover
ação para que o invasor deixe de derrubar as árvores de seu terreno e saia do
local.
DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO
O Direito tem por objeto assuntos que vão desde a regulação da vida privada até a mais relevante
matéria atinente a assuntos de Estado. Alguns temas, portanto, são inseridos no que se
convencionou chamar Direito Privado e tantos outros no Direito Público.

● Conteúdo da relação jurídica.


● Quando se almeja imediata e prevalecentemente o interesse geral, o Direito é público.
● Será privado se o interesse particular for o objetivo mais importante.

Nesse caso, se a relação jurídica for de coordenação, trata-se, em geral, de Direito Privado.
Sendo, por outro lado, de subordinação, o Direito é Público.

EXEMPLOS:

DIREITO PRIVADO: DIREITO CIVIL, DIREITO EMPRESARIAL

DIREITO PÚBLICO: DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO ADMINISTRATIVO


CONCEITO DE DIREITO CIVIL

Estudo das relações entre as pessoas, admitindo-se que tais relações apresentem
natureza patrimonial ou extrapatrimonial, sujeitas a técnicas e instrumentos inteiramente
diversos. A Constituição da República explicita tal dualidade ao prever, de um lado, a
tutela da dignidade da pessoa humana e de sua personalidade, em todas as suas
possíveis manifestações, como objetivo fundamental da República (CR, art. 1º, III). A
vida (CR, art. 5º, caput), a saúde (CR, art. 6º), a privacidade (CR, art. 5º, X), o direito de
informar e de ser informado (art. 5º, XIV, CR), a liberdade de crença (CR, art. 5º, VI), a
livre expressão da atividade artística e intelectual (CR, art. 5º, IX) são alguns dos
direitos decorrentes da proteção constitucional das relações existenciais. De outro lado,
tem-se a tutela da propriedade (CR, art. 5º, XXII) e da atividade econômica privada (CR,
art. 170, caput) como expressão das relações patrimoniais.
DIVISÃO DO DIREITO CIVIL
De acordo com a divisão do Código Civil de 2002, já observada no Código Civil de 1916 e
herdada do BGB (1900), divide-se o estudo do Direito Civil em Parte Geral (ou Teoria Geral), em
que são apresentados os conceitos fundamentais de que se servirá toda a disciplina do direito
civil (e, muitas vezes, também os diversos outros ramos jurídicos); e uma Parte Especial, na qual
se procede ao estudo dos direitos obrigacionais, responsabilidade civil, direitos reais, direitos de
família e direitos sucessórios.

O Código Civil de 2002 absorveu também, em seu seio, o direito de empresa, na tentativa de
unificação do direito privado, dedicado ao estudo da atividade empresarial e objeto de análise
específica por parte do direito comercial.
DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL

O Direito Civil deverá ser interpretado de acordo com o conjunto de princípios e regras descritos
na Constituição Federal e em tratados internacionais, em razão da hierarquia das leis.

Nem sempre foi assim, haja vista que na época do Estado Liberal a Constituição tinha o papel de
limitar o Estado e o poder político, e o Código Civil o de garantir a amplitude do espaço de
autonomia dos indivíduos, principalmente no campo econômico, o que se denomina autonomia
privada.

A mudança se dá com o Estado Social, que passa a dominar o cenário constitucional no século
XX, buscando que prevaleçam o interesse coletivo e o fim das relações abusivas ao valorizar a
dignidade humana, a justiça social e a isonomia.

No Estado Social as constituições sociais tratam de questões privadas, obrigando as leis


infraconstitucionais a serem interpretadas de acordo com os seus princípios e regras.
O Direito Civil atual mudou bastante. Falamos de um Direito Civil Constitucional
na atualidade.
A ideia é a de que todas as instituições de Direito Civil devem ser lidas à luz dos princípios e
das regras constitucionais, conforme metodologia doutrinária conhecida como
Constitucionalização do Direito Civil ou como “Direito Civil Constitucional”.
Essa metodologia (ou movimento) encontra berço no pensamento do jurista italiano Pietro
Perlingieri e se insurge contra os fundamentos antigos do direito civil clássico para, nas
palavras do professor da UERJ Carlos Nelson Konder, defender um direito civil capaz de ser
um verdadeiro instrumento de “emancipação das pessoas e de transformação social, rumo a
uma comunidade mais justa e solidária”. O professor da UERJ Gustavo Tepedino e a
professora Maria Celina Bodin de Moraes foram os principais responsáveis por trazer essa
metodologia para a doutrina brasileira, que conta atualmente com a adesão de autores do
porte do professor Paulo Luiz Neto Lôbo e Luiz Edson Fachin.
Por essa metodologia, condena-se a visão individualista em que se assentava o Código Civil
de 1916. Miguel Reale costumava afirmar que havia duas leis fundamentais no País: o Código
Civil, que era a “constituição do homem comum”, e a Constituição Federal, que estrutura o
Estado. Essa concepção não retrata, porém, a perspectiva constitucional do Direito Civil, que
fixa a Constituição Federal como a única lei fundamental, à qual deve estar subordinado todo
o direito civil.
O professor Paulo Lôbo destaca que a Constitucionalização do Direito Civil traz duas perspectivas:

Repersonalização e Despatrimonialização do Direito Civil: Que não mais enxerga o indivíduo como
um mero homos economicus. O indivíduo, e não o patrimônio, está no centro da tutela jurídica
- Essas perspectivas enaltecem assim, a dignidade da pessoa humana como vetor de condução do
Direito Civil.

Principais diretrizes do movimento da constitucionalização do Direito Civil

(1) despatrimonialização: o centro da tutela jurídica é a dignidade da pessoa humana, e não o


patrimônio;

(2) repersonalização: a pessoa não é mais vista como um mero agente econômico, e sim como o centro
da tutela do direito;

(3) eficácia horizontal dos direitos fundamentais: os direitos fundamentais, que tradicionalmente eram
aplicados apenas nas relações entre Estado e indivíduo (vertical), devem também ser aplicados a relações
entre particulares (horizontal), a exemplo do princípio do contraditório antes de excluir associado por justa
causa (art. 57, CC) ou de infligir uma sanção a condômino (art. 1.337, CC).

Consequências: Cláusulas abertas e Conceitos indeterminados - liberdade aos civilistas - princípios


constitucionais
DIRETRIZES DO DIREITO CIVIL

Alinhada à perspectiva constitucional do Direito Civil, é preciso recordar que o novo Código Civil foi
elaborado pela comissão de juristas coordenada por Miguel Reale sob três Diretrizes Teóricas, que
também são conhecidas como baldrames axiológicos do Código Civil.

A primeira foi a Socialidade, segundo a qual o novo diploma prestigia a função social do Direito em
oposição ao individualismo marcante do anterior Código.

A segunda é a Eticidade, de acordo com a qual a boa-fé objetiva foi prestigiada pelo novo Código, ao
exigir condutas éticas dos indivíduos.

A terceira é a Operabilidade, à luz da qual o novo Código buscou ser facilmente manuseável pelos
operadores do Direito, do que dá exemplo tanto a reunião dos prazos prescricionais nos arts. 205 e 206
do Código quanto a utilização de conceitos jurídicos indeterminados e de cláusulas abertas para permitir
que o texto normativo satisfaça às necessidades advindas das transformações sociais futuras.
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

Entre os vários princípios gerais de direito, destacamos três aqui que são extremamente úteis para
“decorar” inúmeras regras do Direito Civil. Esses três princípios estão na base da elaboração de várias
regras do Código Civil e das leis extravagantes, além de serem o suporte de vários precedentes
do STJ mesmo quando inexistia lei.
Sobre esses princípios, tivemos a oportunidade de escrever três artigos, que, aqui, serão resumidos de
forma sistemática. Se você tiver mais tempo, leia o artigo completo para aprofundamento.
Estes são os artigos, todos disponíveis no site www.flaviotartuce.adv.br/artigos_ convidados:
a) “O Princípio do Aviso Prévio a uma Sanção”
b) “O princípio da proteção simplificada do luxo, o princípio da proteção simplificada do agraciado e a
responsabilidade civil do generoso”.
PRINCÍPIO DO AVISO PRÉVIO A UMA SANÇÃO
Em regra, antes de infringir qualquer sanção a uma pessoa, deve-se notificá-la previamente a fim de que ela possa se defender,
se justificar ou simplesmente se preparar. Por sanção, deve-se entender qualquer restrição de direito imposta a uma pessoa.
Esse é o princípio do aviso prévio a uma sanção, que decorre do princípio do contraditório (que se aplica a relações entre
particulares) e da boa-fé objetiva.
São vários os exemplos de aplicação desse princípio (e é importante você gravar esses exemplos):
a) Prisão civil do devedor de alimentos: é necessário citar pessoalmente o devedor previamente para, em três dias, pagar a dívida
ou justificar sua inadimplência (art. 528, CPC).
b) Busca e apreensão de veículo alienado fiduciariamente ou objeto de leasing: a ação de busca e apreensão só pode ser
ajuizado se, antes, o devedor tiver sido notificado mediante envio de carta registrada com aviso de recebimento (AR) sem
necessidade de que o próprio devedor tenha sido quem assinou o AR (art. 2º, § 2º, DL 911/1969).
c) Consolidação da propriedade no procedimento de execução extrajudicial de dívida garantida por alienação fiduciária em
garantia sobre imóvel: é necessária notificação prévia do deve dor para, em 15 dias, purgar a mora (pagar a dívida atrasada),
notificação essa que é feita pelo Cartório de Imóveis (art. 26, Lei n. 9.514/1997).
d) Cancelamento de plano de saúde por inadimplemento do cliente: é necessária notificação prévia (art. 13, II, da Lei n.
9.656/1998).
e) Cancelamento do seguro de vida por inadimplemento do segurado: é necessária notificação prévia. Não há lei, mas
jurisprudência do STJ (STJ, REsp 316.552/SP, 2ª Seção, Rel. Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJ 12/04/2004).
f) Negativação do nome do devedor em cadastro de inadimplentes: é forçosa a notificação prévia por parte do órgão cadastral,
sob pena de causar dano moral (art. 43, § 2º, do CDC; STJ REsp 1061134/RS, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe
01/04/2009).
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO SIMPLIFICADA DO AGRACIADO
O Direito Civil protege o agraciado (aquele que é beneficiado por um negócio jurídico gratuito),
mas sem lhe dar prestígio. Vejam os exemplos práticos:

a) Fraude contra credores: Na caracterização da fraude contra credores, o consilium fraudis é


dispensado diante de negócios gratuitos, pois, entre prestigiar o beneficiário de uma liberalidade
e os credores, o direito prefere prestigiar estes últimos diante da função social (art. 158, CC). Se,
porém, se tratar de um negócio oneroso, o consilium fraudis é requisito essencial.

b) Interpretação restritiva: Negócios gratuitos devem ser interpretados restritivamente (art. 114,
CC). De fato, seria injusto permitir que o beneficiário de uma liberalidade adotasse interpretações
extensivas e, com isso, prejudicasse o generoso.

c) Formalidades para negócios gratuitos: o fato de a liberalidade somente trazer ônus ao


generoso exige que ela se exteriorize por uma forma que assegure, ao máximo, certeza do seu
ânimo. O beneficiário da liberalidade não é prestigiado do ponto de vista formal, razão por que a
legislação se inclina – há exceções! - a considerar os negócios jurídicos gratuitos como solenes,
a exemplo da fiança e da doação, que devem ser escritas (arts. 541 e 819, CC)
d) Vícios redibitórios e evicção: o princípio da garantia, que estabelece que o adquirente de um bem tem
direito à higidez da coisa (garantia em caso de vício redibitório) e do direito sobre a coisa (garantia em caso de
evicção), somente é aplicável para contratos onerosos, conforme arts. 441 e 447 do CC. Beneficiários de
gratuidade não podem exigir juridicamente essa garantia de qualidade da coisa ou do direito sobre a coisa. O
generoso, porém, deve responder por indenização apenas no caso de dolo por força do art. 392 do CC.

e) Concessão generosa de prorrogação de prazo de pagamento: à luz do art. 372 do CC, a concessão
obsequiosa de um prazo adicional para o pagamento de uma dívida (prazo de favor) não implica renúncia ao
direito do credor de utilizar essa dívida para, por meio da compensação, extinguir outra. Seria realmente injusto
que o beneficiário da benesse pudesse executar judicialmente o generoso por uma outra dívida, sem que este
último, em defesa, pudesse opor a compensação. A concessão de um prazo de favor afasta a mora (juros
moratórios, multas etc.), mas jamais o direito de o credor valer-se da obrigação dilatada para invocar a
compensação.

f) Responsabilidade do cedente na cessão de crédito gratuita: conforme art. 295 do CC, o cedente
responde pela existência do crédito na cessão onerosa, independentemente de culpa ou dolo. Se, porém, a
cessão for gratuita, o cedente generoso só responde por dolo. Essa regra harmoniza-se com a lógica de justiça
da tutela da gratuidade e se afina com as disposições relativas à evicção (art. 447, CC) e à responsabilidade civil
do generoso (art. 392, CC).

g) Pagamento indevido por meio de transferência gratuita de um imóvel: quem adquire gratuitamente
imóvel de quem o havia obtido como fruto de pagamento indevido não é protegido prestigiosamente: poderá
perder o bem (art. 879, parágrafo único, CC) .

h) Carona (transporte gratuito de pessoas): generoso só responde por culpa grave ou dolo (Súmula n.
145/STJ).
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO SIMPLIFICADA DO LUXO
O Direito Civil protege situações de luxo (aquelas que estão acima da média), mas sem lhe dar prestígio. Vejam
os exemplos práticos:

a) Benfeitorias voluptuárias e posse: o possuidor de boa-fé não pode exigir que elas sejam indenizadas, embora
possa levantá-las se for possível, ao contrário que se dá com as benfeitorias necessárias e úteis (art. 1.219, CC). Em
outras palavras, se um possuidor de boa-fé despende R$ 1.000,00 com a troca da fiação elétrica (benfeitoria
necessária), R$ 4.000,00 com a ampliação do quarto (benfeitoria útil) e R$ 500.000,00 com a contratação de um
famoso pintor para colorir o teto da sala ao estilo da Capela Sistina (benfeitoria voluptuária), ele – ao ser desapossado
do bem por um terceiro com melhor direito – poderá reivindicar a indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis
com direito de retenção, mas não poderá exigir que o reivindicante indenize-lhe as benfeitorias voluptuárias (“o luxo”),
ou seja, as obras que excedem o padrão do homo medius. Esse possuidor poderá apenas, se possível, “levantar”
essa benfeitoria luxuosa, como levar a lâmina do teto contendo a pintura e rebocando o teto para restituir-lhe a
normalidade. O Direito protege o luxo, mas não o prestigia, conforme o princípio da proteção simplificada do luxo.

b) Quorum mais rigoroso em condomínio edilício: Para a realização de benfeitorias voluptuárias em


condomínios, não basta o consentimento da maioria dos condôminos, ao contrário do que sucede com benfeitorias
úteis – que se satisfazem com essa maioria absoluta (art. 1.341, inciso I, CC) – e com as benfeitorias necessárias –
que sequer reclamam autorização dos condôminos se não importarem em despesas excessivas (art. 1.341, §§ 1º ao
4º, CC). Benfeitorias voluptuárias, por serem “luxos”, reivindicam um quorum mais rigoroso de dois terços dos
condôminos (art. 1.341, inciso I, do CC). Em outras palavras, benfeitorias que representam “luxos” não são
prestigiadas como as demais benfeitorias, o que reflete mais uma aplicação do princípio da proteção simplificada do
luxo
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO SIMPLIFICADA DO LUXO
c) Redução equitativa indenização (art. 944, parágrafo único, CC): quando há manifesta desproporção entre
o grau de culpa e o dano, o juiz pode reduzir o valor da indenização equitativamente. Assim, se um indivíduo
abalroa o seu veículo contra um carro de luxo cujo conserto custará cinquenta vezes mais o valor que
corresponderia à reparação de um carro comum, é viável aplicar o art. 944, parágrafo único, do CC para permitir
o valor da indenização seja reduzido para um patamar mediano. Isso, porque o luxo ostentado pelo titular do
veículo acaba por expor os demais a um risco acima da média. Se, porém, a colisão tivesse sido provocada
dolosamente por inveja do condutor do veículo comum, a indenização deveria ser o elevadíssimo valor do
orçamento, pois o grau de culpa será proporcional ao dano. É nesse sentido que o direito protege o luxo, mas
não lhe dá prestígio, conforme o princípio em pauta.

d) Móveis suntuosos em imóvel protegido pela impenhorabilidade do bem de família: em regra, os móveis
que guarnecem o imóvel residencial do devedor são impenhoráveis por serem bem de família. Excepciona-se
essa blindagem de impenhorabilidade se esses móveis forem “obras de arte e adornos suntuosos” (art. 2º, Lei n.
8.009/1990). É que esses bens representam “luxos”, ou seja, excedem o limite do padrão do homo medius e,
portanto, não podem receber a mesma deferência jurídica que repousa sobre os demais móveis. Trata-se de
mais um exemplo de aplicação do princípio da proteção simplificada do luxo.

e) Benfeitorias voluptuárias em desapropriação: Na desapropriação por utilidade pública ou para reforma


agrária, as benfeitorias voluptuárias não são indenizadas em dinheiro, ao contrário do que sucede com as
benfeitorias necessárias e úteis (art. 26, Decreto-Lei n. 3.365/41; arts. 5º, XXIV, 184, § 1º, CF; art. 5º, § 1º, da Lei
n. 8.629/1993)
QUESTÕES
Questão 1 (MPT/PROCURADOR/MPT/2017/ADAPTADA)

O Código Civil de 2002 positivou em seus artigos valores inerentes à pessoa humana, que passaram a
orientar a interpretação de institutos do Direito Civil, como, por exemplo, a boa-fé objetiva como
elemento das relações contratuais. Essa mudança de paradigma decorre do que se tem chamado de
constitucionalização do Direito Civil.

Questão 2 (LEGALLE/PROCURADOR/PREF. DE SILVEIRA MARTINS-RS/2014)

Atualmente é possível se falar em um novo Direito Civil, marcado, especialmente, pelos seguintes
elementos, EXCETO:
a) Privatização do Direito Civil.
b) Constitucionalização do Direito Civil.
c) Humanização do Direito Civil.
d) Normatização da biotecnologia.
e) Unificação no plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito Comercial.
QUESTÃO 1 - Certo.
A questão trata adequadamente da constitucionalização do Direito Civil, que preconiza a submissão
desse ramo do Direito à Constituição Federal e da qual decorre a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais (aplicação destes em relações entre particulares), a repersonalização (pessoa humana
não é mais um mero agente econômico, e sim o titular de dignidade) e a despatrimonialização (a
dignidade da pessoa humana é mais importante do que a tutela do patrimônio)
QUESTÃO 2 - Letra a.
Não há falar em privatização do Direito Civil, e sim na sua publicização, assim entendida a tendência
de serem editadas normas de ordem pública para proteger pessoas vulneráveis em contratos civis.
Por isso, o gabarito é a letra “A”. No mais, acresça-se que o novo Direito Civil é marcado pela sua
constitucionalização (movimento que o subordina à Constituição Federal), pela sua humanização (há
uma valorização da dignidade da pessoa humana), pela normatização da biotecnologia (a legislação
tende a regulamentar a biotecnologia, de que são exemplos a presunção de paternidade no caso de
reprodução assistida nos termos do art. 1.597, III a V, do CC, a Lei de Biossegurança e a Resolução
n. 63/2017 – CNJ, que trata da paternidade no caso de reprodução assistida) e pela unificação no
plano obrigacional entre o Direito Civil e o Direito Comercial (as regras de obrigações do Livro das
Obrigações se aplicam para relações civis ou empresariais).
QUESTÃO 3 (AOCP/ADVOGADO/FESE-SUS/2010/ADAPTADA)

Os princípios norteadores do atual Código Civil Brasileiro são

a) Boa-fé, Eticidade e Operabilidade.

b) Socialidade, Legalidade e Operabilidade.

c) Socialidade, Eticidade e Operabilidade.

d) Eticidade, Legalidade e Morabilidade.

e) Efetividade, Adequação e Boa-fé.

QUESTÃO 4 (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015/ADAPTADA)

Os negócios jurídicos que estabeleçam benefício devem ter interpretação ampla.


QUESTÃO 3

Letra c.

As três diretrizes teóricas do CC/2002 são as indicadas na letra “c

QUESTÃO 4

Errada

A interpretação de negócios jurídicos gratuitos (que são aqueles que estabelecem um benefício
patrimonial a outrem sem contraprestação) tem de ser restritiva, e não extensiva (ampla),
conforme art. 114 do CC. O mesmo se dá com as renúncias a direitos: também têm de ser
interpretadas restritivamente (art. 114, CC). Trata-se de um exemplo do princípio da proteção
simplificada do agraciado, de maneira que aquele que será beneficiado com a liberalidade é
protegido, mas sem prestígio. Se faço uma doação a uma pessoa, esse contrato será
interpretado de forma restritiva: não poderá o agraciado “tentar” obter maior benefício por meio
de uma interpretação extensiva.
LEI DE INTRODUÇÃO AO DIREITO BRASILEIRO
Inicialmente, destaca-se que LINDB está positivada no Decreto-Lei 4.657/1942, trata-se de uma norma de
sobredireito, ou seja, uma norma sobre normas (lex legum). A LINDB é dirigida a “atores específicos” (legislador e
aplicador do direito), justamente por isso se diferencia das demais leis que são dirigidas a todos (generalidade).

Observe os arts. 4º e 5º da LINDB: Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito. Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum.

Antes de 2010, a Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB) era chamada de Lei de Introdução ao
Código Civil. A Lei 12.376/2010 alterou sua nomenclatura com o intuito de esclarecer que o Decreto-Lei 4.657/1942
aplica-se a todo o ordenamento jurídico e não apenas ao Direito Civil.

Ademais, a Lei 13.655/2018 introduziu os arts. 20 a 30, consagrando regras de julgamento para a esfera do Direito
Público. De acordo com Tartuce, tal fato provocou um distanciamento ainda maior do Direito Privado, confirmando
que a LINDB é dirigida a todo o ordenamento jurídico.

Portanto, perceba que a Lei de Introdução nunca fez parte do Código Civil de 1916 e tampouco do Código Civil de
2002, é um diploma legal multidisciplinar que se aplica universalmente a qualquer ramo do direito. Logo, um código
geral sobre a elaboração e aplicação das normas jurídicas, possuindo como objetivo a elaboração, a vigência e a
aplicação de leis.
CONTEÚDO DA LINDB
ESTRUTURA DA LINDB
FONTES DO DIREITO
EFICÁCIA, VIGÊNCIA E VIGOR
Vigência, vigor e eficácia são conceitos diversos, embora todas sejam qualidades da norma (ou seja, caracterizam as
normas jurídicas).

A vigência da lei diz respeito ao período da lei, ao tempo de duração da norma, à eficácia temporal da lei (lembra da
questão do TCU acima?), ao lapso temporal durante o qual a lei tem vigor. Ex.: a vigência do CPC/73 é o período
compreendido entre a sua entrada em vigor (1º/JAN/1974, conforme art. 1.220) e a sua revogação, que ocorreu na data da
entrada em vigor do novo CPC (18/MAR/2016).

O vigor é a força vinculante da norma, é a sua condição de sujeitar à norma os fatos. Normas sem vigência podem ainda
estar em vigor. É o que sucede no fenômeno da ultratividade da lei, assim entendido que leis revogadas (sem vigência,
portanto) ainda vinculam (possuem vigor, portanto) fatos ocorridos antes da revogação. A título de exemplo, o Código Civil
de 1916 (CC/16), embora já tenha sido revogado, ainda continua aplicável a contratos celebrados durante a sua vigência.
Isso é uma ultratividade: o CC/16 continua em vigor para os fatos jurídicos ocorridos durante a sua vigência.

A eficácia é a aptidão da norma para produzir efeitos concretos e pode ser social, técnica ou jurídica.

A eficácia social diz respeito à presença de condições fáticas para o cumprimento da norma. A eficácia técnica reporta-se à
presença de condições técnicas para a aplicação. Uma norma que dependa de outra para produzir efeitos concretos é um
exemplo, tal como sucede com as “normas de eficácia limitada”, A eficácia jurídica representa a presença de condições
jurídicas para a produção de efeito concreto.
FORMAÇÃO DA LEI
A formação da lei em sentido amplo envolve três etapas: (1) a de elaboração da lei; (2) a de promulgação da lei; e (3) a de
publicação da lei, que é uma condição de eficácia da lei, pois, sem publicidade, uma lei não pode irradiar efeitos.

A fase da elaboração corresponde ao processo legislativo, disciplinado no art. 59 e seguintes da CF. Tem-se, apenas, uma
proposição legislativa. A promulgação é ato que atesta a existência formal da lei, embora ainda não tenha entrado em vigor.

Promulgar é arrumar o texto final da lei, enumerar adequadamente a norma, inserir a numeração sequencial das leis, indicar
os dispositivos que foram vetados, acrescer a tradicional cláusula de sanção “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber
que o Congresso Nacional e eu sanciono a seguinte lei” no preâmbulo da lei e lançar a assinatura da autoridade-
promulgadora. Promulga-se uma lei, e não um projeto de lei, porque a lei já existe desde o último ato da primeira etapa de
formação da lei.

A publicação é o ato que divulga oficialmente o teor da lei. É a condição para a lei entrar em vigor, atendido – se houver – o
período de vacatio legis, instituto a ser estudado adiante. ,

Há controvérsia acerca do momento do surgimento da lei, se seria com a promulgação ou não. Alguns civilistas apontam para
a promulgação como marco inicial, como Maria Helena Diniz. Outros doutrinadores, porém, entendem que o nascimento
ocorre com o último ato da fase de elaboração, de maneira que, no caso de leis ordinárias ou complementares, a lei nasce
antes da promulgação, especificamente com a sanção do Presidente da República ou a rejeição do veto presidencial pelo
Congresso Nacional, após as quais o projeto de lei ordinária transforma-se em uma lei. Para efeito de prova, a lei nasce com
sua promulgação!
PRINCÍPIOS DA OBRIGATORIEDADE, DA VIGÊNCIA
SINCRÔNICA E DA OBRIGATORIEDADE
Princípio da obrigatoriedade da lei - estabelece que há uma presunção de que todos conhecem a lei. O fundamento é o
art. 3º da LINDB, que estabelece que “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. Essa
presunção de ciência da lei é relativa, pois admite prova em contrário a depender do caso concreto e de previsão legal.
Por exemplo, o art. 139, III, do CC admite a anulação do negócio jurídico por erro de direito, flexibilizando o princípio da
obrigatoriedade da lei.

Princípio da vigência sincrônica da lei - A lei entra em vigor simultaneamente em todo o território nacional, do Acre ao
Rio Grande do Sul. Trata-se do princípio da vigência sincrônica da lei, que adota sistema da vigência única, sincrônica ou
simultâneo da lei (também chamado de critério do prazo único).

Princípio da continuidade ou da permanência da lei - De acordo com ele, a lei permanece em vigor até que outra a
revogue, salvo no caso de lei temporária, que já prevê a sua própria caducidade com o advento de um termo. Trata-se do
princípio da continuidade ou da permanência.

A revogação consiste em fazer cessar a eficácia de uma lei, encerrando a sua vigência. Uma nova lei somente
revoga a anterior se entrar em vigor - (1) AB-ROGAÇÃO, quando atinge toda a lei, ou seja, todos os seus dispositivos,
a exemplo do que sucedeu com o CC/1916, que foi ab-rogado pelo CC/2002; (2) DERROGAÇÃO, quando atinge apenas
alguns artigos da lei.
VACATIOS LEGIS, VACATIO CONSTITUTUIONIS E CONTAGEM DO
PRAZO
Em regra, a lei somente entra em vigor após o transcurso de um tempo posterior à publicação e destinado a permitir que os
destinatários tomem ciência e preparem-se para observar a nova lei. Esse lapso temporal entre a publicação e a entrada em
vigor (o início da vigência) da lei chama-se:

(1) VACATIO LEGIS para as normas infraconstitucionais ou

(2) VACATIO CONSTITUTIONIS para a Constituição Federal e uma emenda constitucional. Antes de entrar em vigor, não há
revogação da lei anterior incompatível.

Salvo previsão em sentido contrário, a vacatio legis é de 45 dias após a publicação ou, especificamente para entrar em vigor
em território estrangeiro, de 3 meses (art. 1º, LINDB).

A vacatio constitutionis aplica-se apenas à Constituição Federal e a emendas constitucionais. Não se aplica a regra do art. 1º
da LINDB (que prevê a regra de 45 dias de vacatio legis), pois uma lei ordinária – a LINDB – não pode vincular uma norma
superior – a CF ou uma emenda constitucional. Dessa forma, se a CF ou a emenda constitucional for omissa, a entrada em
vigor será na data de sua publicação.

O art. 1º da LINDB - vacatio legis abrange apenas espécies legislativas - não se aplica às normas infralegais, pois não são
espécies legislativas (não estão no art. 59, CF), e sim espécies de atos administrativos de índole normativo. Ex: decretos
editados pelo Presidente da República para regulamentar lei e de outros atos normativos de autoridades públicas (como uma
portaria do chefe de uma repartição pública). Nesses casos, vigora as regras de Direito Administrativo, segundo a qual o ato
administrativo produz efeitos com a ciência do seu destinatário. Isso significa que, com a publicação do ato, presumir-se-á a
ciência do destinatário e, portanto, a norma infralegal já estará em vigor.
RESPRISTINAÇÃO E EFEITO REPRISTINATÓRIO
Repristinação é o fenômeno jurídico em razão do qual uma norma revogada volta a viger, ressuscita, restaura-se, repristina-
se.

Tradicionalmente, a repristinação – que também pode ser chamada de efeito repristinatório – diz respeito apenas a hipóteses
de repristinação de uma lei em decorrência da revogação da lei revogadora da lei repristinada. Em outras palavras, se uma
Lei “A” é revogada por uma Lei “B”, a repristinação se daria caso a Lei “A” voltasse a viger em razão da superveniente
revogação da Lei “B” por uma Lei “C”.

A LINDB proíbe expressamente a repristinação nesse caso, salvo se houver disposição expressa em contrário. A
repristinação não é automática.

EFEITO REPRISTINATÓRIO: Trata-se dos casos de repristinação de uma norma que havia sido: (1) revogada por uma lei
que, posteriormente, veio a ser declarada inconstitucional em controle concentrado de constitucionalidade; (2) revogada por
uma medida provisória que não foi convertida em lei; ou (3) suspensa por uma lei federal geral que posteriormente foi
revogada nos casos de competência legislativa concorrente do art. 24 da CF. Ora, nessas hipóteses, a ressurreição da norma
revogada ou suspensa é automática e independe de comando expresso.

Não se aplica a esses casos o § 3º do art. 2º da LINDB, que se reserva apenas a casos de revogações sucessivas de leis.
Essas outras situações representam, portanto, hipóteses de repristinação automática
SUJEITOS DE DIREITO
Sujeito de direito opõe-se ao conceito de objeto de direito: aquele representa quem é titular de um objeto.
Sujeito de direito é quem pode ser titular de objetos.

Há duas espécies de sujeitos de direitos: os entes personalizados, assim entendidos os que possuem
personalidade jurídica (pessoas naturais e pessoas jurídicas), e os entes despersonalizados, assim
designados quem, embora não seja pessoa e, portanto, não tenha personalidade jurídica, pode ter direitos e
deveres.

A situação de ente despersonalizado é excepcional e, em princípio, depende de previsão no ordenamento (lei


ou, eventualmente, princípios). O espólio é exemplo clássico, pois representa o conjunto de bens deixados
por uma pessoa falecida e, embora não seja uma pessoa, pode ter direitos e deveres. Contra o espólio
podem ser dirigidas ações judiciais, por exemplo, para cobrar dívidas deixadas pelo finado. O inventariante é
o “administrador” do espólio. Outro exemplo é a massa falida, que é “administrada” pelo síndico e que não se
confunde com a sociedade empresária cuja falência foi decretada. A falência não extingue a sociedade, mas
apenas reúne o seu patrimônio sob a forma de um ente despersonalizado designado de massa falida para
efeito de repartição do patrimônio entre os credores na forma da lei falimentar. Há outros entes
despersonalizados, como os fundos de investimento (art. 1.368-C do CC), o fundo de investimento imobiliário
(art. 1º da Lei n. 8.668/1993) e o grupo de consórcio (art. 3º da Lei n. 11.795/2008).
PERSONALIDADE JURÍDICA DA PESSOA NATURAL
Personalidade jurídica é a aptidão (a potencialidade) de ter direitos e deveres. Quem tem personalidade é
pessoa e, como tal, pode adquirir direitos e deveres. No Brasil Colônia, escravos não tinham personalidade
jurídica, pois não eram potenciais titulares de direitos; eram objetos de direito. As mulheres, em várias
sociedades da história, eram objetos de direito e, portanto, não tinham personalidade jurídica.

Paira controvérsia sobre o início da personalidade jurídica, pois o art. 2º do CC, embora diga que ela se inicia
com o nascimento com vida, afirma que são protegidos os direitos do nascituro desde a concepção. Ora, se o
nascituro tem direitos, é porque ele teria personalidade jurídica. Designa-se de nascituro o embrião em fase de
gestação, de neonato quem acabou de nascer com vida e de natimorto quem nasceu morto.

Há três principais teorias sobre esse tema, mas todas chegam ao mesmo resultado prático com base em
argumentos diversos. Não se pode dizer que uma prevalece sobre a outra diante da fragmentação doutrinária.
TEORIAS DA PERSONALIDADE JURÍDICA
A primeira teoria é a natalista, que pontua o início da personalidade jurídica com o nascimento com vida. Essa
teoria é mitigada, pois protege o nascituro em razão de ele ser potencialmente uma futura pessoa. E, como ele é
uma futura pessoa, deve-se estender a proteção dos direitos da personalidade no que couber, como a integridade
física, a honra etc.

A segunda teoria é a concepcionista, que finca o ponto inicial da personalidade com a concepção, de maneira que
o nascituro já teria personalidade jurídica. Nessa corrente, afirma-se que há dois tipos de personalidade jurídica:
(1) a personalidade formal, que é a aptidão de ter direitos da personalidade; e (2) a personalidade material, que é
a aptidão de ter direitos patrimoniais. O nascituro, para essa teoria, somente teria direitos da personalidade e,
portanto, só teria personalidade formal. Não seria possível registrar um nascituro como titular de um imóvel, pois
ele não teria personalidade material.

A terceira teoria é a da personalidade condicional, para a qual a personalidade jurídica surge com a concepção,
mas fica sujeita a uma condição suspensiva: o nascimento com vida.

Disso decorre que os direitos da personalidade do nascituro podem ser protegidos diante da possibilidade de
proteção de situações jurídicas eventuais, como as sujeitas a condições suspensivas (art. 130 do CC)
NATIMORTO E NASCITURO
O natimorto – assim designado quem nasceu morto, ou seja, quem não respirou – não adquire personalidade
jurídica, mas, como ele era uma potencial pessoa, devem-se estender os direitos da personalidade no que
couber.

Disso decorre que ao natimorto deve-se assegurar proteção à sua integridade física, ao ritual fúnebre próprio
(sepultamento ou cremação), imagem (não se podem tirar fotos para divulgação na imprensa) e, até mesmo, ao
nome.

O enunciado n. 1/JDC é nesse sentido: “a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que
concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura”. No RCPN, embora o natimorto
seja registrado em um livro diverso do de nascimento e de óbito (Livro “C-auxiliar”), o registrador deve lançar o
nome, se os pais indicarem.

Seja como for, por falta de personalidade jurídica, o natimorto não adquire direitos patrimoniais, embora desfrute
de direitos da personalidade. Sob a ótica da teoria concepcionista, até se poderia dizer que o natimorto teria
personalidade formal, mas não material. O exercício da tutela dos direitos da personalidade do natimorto deverá
ser feito por seus familiares na forma do parágrafo único do art. 12 e do parágrafo único do art. 20 do CC.

O nascituro tem direitos da personalidade no que couber, por fundamentos diversos a depender da teoria
adotada (natalista, concepcionista e personalidade condicional).
Qual a natureza jurídica do embrião in vitro e do nascituro? Isso foi perguntado em uma prova oral da AGU.

O STF, valendo-se da teoria natalista, assentou que o nascituro é um ser a caminho da vida (embrião em fase de
gestação), e não é objeto de direito, de maneira que não pode ser objeto de pesquisas científicas. O embrião in
vitro, todavia, é objeto de direito por ser um embrião humano fora do útero e, portanto, sem estar a caminho de
convolar-se em pessoa. É o embrião humano armazenado em laboratório sob c

riopreservação (conservação a cerca de


-196 ºC) e, por ser objeto de direito, não tem direitos da personalidade, o que credencia a sua utilização para fins
científicos dentro das regras de bioética previstas na Lei de Biossegurança, a Lei n. 11.105/2005 (STF, ADI 3510,
Pleno, Rel. Min. Ayres Britto).

O mesmo resultado prático poderia ser obtido sob a ótica da teoria concepcionista (nascituro tem personalidade
formal) ou da personalidade condicional (proteção da situação jurídica de personalidade sob condição
suspensiva).

Outra coisa interessante: cabe dano moral em favor do nascituro?

Como o nascituro tem proteção de direitos da personalidade, é cabível dano moral contra ele. O STJ, porém,
tende a não admitir em situações de danos perpetrados durante a gestação que não gere repercussão durante a
vida da pessoa. Se alguém xinga o nascituro, inexiste dano moral para o nascituro, pois este nada sentiu ou
Processualmente, temos que o nascituro tem legitimidade ativa para propor ações, desde que representado por
sua mãe, que é curadora dos seus direitos.

Cabe pagamento de seguro DPVAT no caso de aborto decorrente de acidente de trânsito? Lembre-se de que o
seguro DPVAT paga uma indenização de cerca de R$ 13.500,00 para o caso de morte (de pessoa) em acidente de
trânsito. A resposta é sim. É cabível o pagamento. Embora a lei do seguro DPVPAT fixe o pagamento do capital
segurado no caso de morte, sem fazer menção a aborto, o nascituro tem personalidade formal segundo a teoria
concepcionista e, por isso, opera-se o fato gerador desse seguro obrigatório com o aborto provocado por acidente
de trânsito (STJ).

Como nascituro possui direitos da personalidade (inclui o direito à integridade física), é assegurada à mulher
gestante o direito a alimentos gravídicos para que o suposto pai contribua, na proporção de sua capacidade
financeira, para o custeio de uma gestação saudável. Com o nascimento com vida, os alimentos gravídicos
convertem-se em alimentos em favor da criança, conforme art. 6º, parágrafo único, da Lei de Alimentos Gravídicos
(Lei n. 11.804/2008).

Uma última questão importante envolvendo nascituro: é possível fazer doação a ele?

Resposta: embora o art. 542 do CC admita a doação ao nascituro mediante aceitação do seu representante legal,
a falta de personalidade jurídica material impede o nascituro de tornar-se proprietário de bens materiais, de
maneira que o mais adequado é entender que essa hipótese é uma doação sob condição suspensiva: se o
nascituro nascer com vida, a doação se aperfeiçoa.
CAPACIDADE JURÍDICA

A capacidade jurídica é a medida da personalidade jurídica, é “a maior ou a menor extensão dos


direitos e deveres de uma pessoa”, como diria Maria Helena Diniz.

Pode ser: de direito (que mede a personalidade quanto à aquisição de direitos e deveres) ou de
exercício (que mede a personalidade quanto ao exercício do direito pessoalmente).

Todos os indivíduos possuem capacidade de direito, mas nem todos, a capacidade de fato. A única
incapacidade existente é a de fato, portanto.

Ao se mencionar os “incapazes” na legislação, necessariamente se está reportando aos incapazes de


fato. Diz-se que há capacidade plena quando a pessoa é capaz de direito e de fato e há capacidade
limitada quando a pessoa é incapaz de fato, embora seja capaz de direito. As hipóteses de
incapacidade de fato devem estar previstas em lei, pois a regra é a de que todas as pessoas são
capazes (a regra é a capacidade, e não a incapacidade).

Vamos tratar das duas espécies de capacidade jurídica: (1) a de direito e (2) a de fato.
CAPACIDADE DE DIREITO
A capacidade de direito (= de gozo ou de aquisição) é a quantificação da personalidade jurídica quanto à
aquisição de direitos e deveres, é medir o quanto uma pessoa é capaz de adquirir direitos e deveres.

Todas as pessoas, sem exceção, têm capacidade de direito (art. 1º do CC). Não existe incapacidade de
direito.

A capacidade de direito é inerente à personalidade jurídica: esta é um conceito sem grau de


quantificação (ou tem, ou não tem) que representa aptidão de ter direitos e deveres, ao passo que
aquela é um conceito quantificável (tem-se maior ou menor grau) que retrata o quanto a pessoa é apta a
adquirir direitos e deveres.

Disso decorre que capacidade de direito e personalidade jurídica se confundem ou se equivalem.

Todavia, não se pode afirmar que os conceitos são sinônimos. E, embora não haja incapacidade de
direito, alguns indivíduos podem ter mais capacidade de direito do que outros, como um brasileiro, que
tem mais aptidão de ter direitos do que estrangeiros

(ex.: estrangeiro tem limites em ter direitos sobre empresa jornalística ou de radiodifusão, conforme art.
231 da CF, e sofre restrições para adquirir imóveis rurais, conforme Lei n. 5.709/1971 e art. 190 da CF).
CAPACIDADE DE FATO OU DE EXERCÍCIO

A capacidade de fato é a aptidão de exercer, por si só,


atos da vida civil.
Como isso exige idoneidade psíquica para a
compreensão dos efeitos jurídicos do ato, há duas
espécies de in capacidade: a absoluta e a relativa.
CAPACIDADE PLENA: CAPACIDADE DE DIREITO +
CAPACIDADE DE FATO
INCAPACIDADE ABSOLUTA
A incapacidade absoluta é o estado civil de quem não possui absolutamente nenhuma idoneidade
psíquica para a compreensão dos efeitos jurídicos do seu ato, ainda que por presunção. Após o
Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015), só há uma hipótese de incapacidade
absoluta: quem tem idade inferior a 16 anos (art. 3º do CC). A menoridade representa uma
presunção de ausência total de discernimento para os atos da vida civil. É presunção absoluta: não
admite prova contrária.
Nesse ponto, cabe uma indagação: apesar de ser usado o adjetivo “absoluta” para designar essa
espécie de incapacidade, realmente há restrição para todos os atos da vida civil? A resposta é um
sonoro NÃO. Quando a lei ou princípios jurídicos autorizarem, o absolutamente incapaz poderá
praticar atos jurídicos sozinhos. Há, portanto, exceções ao regime da incapacidade absoluta.
É evidente que a falta absoluta de idoneidade para compreensão dos efeitos jurídicos do ato é uma
ficção jurídica destinada à proteção do incapaz e, por ser uma presunção, ela só impedirá a prática
solitária de atos jurídicos quando houver razoabilidade. Os limites de exercício a atos da vida civil
não são absolutos. É preciso averiguar a natureza de cada ato jurídico envolvido e do direito
envolvido para fixar se haverá ou não restrições ao absolutamente incapaz.
Ao se tratar de negócios jurídicos, por exemplo, nos quais o agente negocia os efeitos jurídicos do seu ato, o
absolutamente incapaz não pode praticá-lo sozinho, sob pena de nulidade (art. 166 do CC). Há exceções
constitucionais e legais, a exemplo do trabalho por pessoa maior de 14 anos na condição de aprendiz (art. 7º,
XXXIII, CF) e do próprio trabalho de mirins de idade inferior a essa idade mediante autorização judicial em
atividades como de publicidade, de cinema etc. (arts. 149, II, ECA e 406, CLT).

Todavia, ao se cuidar de ato jurídico stricto sensu, em que os efeitos jurídicos procedem da lei, nem sempre haverá
necessidade de idoneidade plena de discernimento para a sua prática, de sorte que o absolutamente incapaz
poderá, a depender do caso concreto, praticá-lo sozinho, conforme art. 185 do CC, que só atrai as regras de
negócios jurídicos quando o caso concreto requerer. Ao nosso aviso, um adolescente de 14 anos que deu à luz
poderia registrar sozinha o nascimento do filho no RCPN, se estiver com a Declaração de Nascido Vivo
(documento subscrito pelo médico que fez o parto atestando o nascimento), pois aí se tem um ato jurídico stricto
sensu para o qual não se deve atrair a sanção de nulidade prevista para os negócios jurídicos no art. 166 do CC.

E, quando se tratar de atos jurídicos stricto sensu ou negócios jurídicos relativos a direitos da personalidade, o
absolutamente incapaz poderá exercê-los sozinho ou, no mínimo, deverá ser ouvido a depender do seu grau de
compreensão e da natureza do direito envolvido. Para a adoção, o maior de 12 anos deve consentir e o menor do
que essa idade deve ser ouvido (art. 28, §§ 1º e 2º, ECA). Na tutela, o maior de 12 anos deve ser ouvido pelo tutor
na forma do art. 1.740, III, do CC. Para a escolha de vestimentas, uma criança de um ano de idade não é ouvida
pelos pais (óbvio), mas um adolescente de 14 anos deve ter a vontade determinante (salvo algum caso
excepcional, como o do mirim querer vestir-se de roupa de banho para ir a uma cerimônia de casamento, por
exemplo). Em igual sentido, o enunciado 138/JDC (“a vontade do absolutamente incapaz (…) é juridicamente
relevante na concretização de situações jurídicas existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem
discernimento bastante para tanto”).
INCAPACIDADE RELATIVA
A incapacidade relativa é o estado civil de quem possui uma idoneidade psíquica para a compreensão dos efeitos jurídicos
dos seus atos em nível inferior ao desejável. O relativamente incapaz tem um grau de discernimento juridicamente
relevante, mas em um grau reduzido a reclamar mecanismos protetivos do Direito. Os casos de incapacidade relativa
estão no art. 4º do CC: um de menoridade (idade entre 16 e 18 anos) e outras hipóteses de insuficiência de autogoverno
(toxicômanos, ébrio habitual, pródigo ou impossibilitado de exprimir a vontade).

Quanto ao caso de menoridade, reitere-se: a partir dos 16 anos, o adolescente torna-se relativamente incapaz.

Em relação ao pródigo, temos o seguinte. Quem, por um desvio de personalidade, tem uma compulsão a gastar o seu
patrimônio é pródigo e, portanto, é relativamente incapaz. Não se trata do mero perdulário ou daquele que, por ato próprio,
quer despender seus recursos. Cuida-se daquele que adota esse comportamento de dilapidação patrimonial por um
problema psicológico, de reconhecimento médico. A prodigalidade não é propriamente um estado de alienação mental,
mas, sim, um desvio de personalidade ou um desvio comportamental conducente a uma incontida dissipação patrimonial.

No tocante ao caso dos toxicômanos e dos ébrios habituais - Quem é viciado em tóxico (e aí também se incluem casos de
uso abusivo de drogas lícitas) ou é ébrio habitual enquadra-se como relativamente incapaz. Trata-se de situação de
verdadeira doença psicológica decorrente da dependência química. A incapacidade relativa do ébrio habitual ou do
drogadito depende de efetiva redução do discernimento da pessoa, pois podehaver situações de ausência de prejuízo à
capacidade de autogoverno.
A embriaguez ou o uso de drogas, por si só, não é suficiente para alterar o estado civil do
indivíduo para relativamente incapaz. O transitório estado de êxtase provocado pelo uso
esporádico (e não habitual) desses elementos não incapacita o indivíduo, que poderá livremente
praticar atos da vida civil. Quem se embriaga ocasionalmente, como o “ébrio social”, não se torna
incapaz.

Os contratos e os demais atos que ele praticar serão plenamente válidos, salvo se a embriaguez
ou o entorpecimento foram involuntários. Incide aí a teoria da libera in causa, segundo a qual
quem voluntariamente se inebria obriga-se por todos os atos que praticar durante o seu estado
de obnubilação.

Se, no Direito Penal – que, por princípio, só é ativado em ultima ratio –, os embriagados
respondem pelos crimes cometidos com base nessa teoria, é inevitável que eles também
respondam pelos seus atos civis com forte na mesma teoria. Em igual sentido, Nelson Rosenvald
e Cristiano Chaves de Farias.
MECANISMO DE PROTEÇÃO DE INCAPACIDADE
Ser incapaz é, na verdade, ser protegido pelo Direito. Sim, o Direito Civil protege os incapazes com regras específicas que
os livram de sofrer prejuízos em atos da vida civil.

Por um lado, o ordenamento concede diversas proteções exclusivas ao absolutamente incapaz, como:

(1) a nulidade dos negócios jurídicos por ele pessoalmente praticados sem representação, conforme art. 166, I, CC,
o que se estende aos atos jurídicos stricto sensu no que couber, conforme art. 185, CC;

(2) a suspensão do prazo da prescrição extintiva, conforme art. 198, I, CC, e do prazo de usucapião contra si,
conforme art. 1.244, CC;

(3) a irrelevância jurídica de eventual mentira do absolutamente incapaz quanto à sua idade, pois o art. 180
do CC somente pune o maior de 16 anos – que é relativamente incapaz – na hipótese de ocultação dolosa
da idade para praticar um negócio jurídico;

(4) na doação pura ao absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação do seu representante legal diante da
presunção de aceitação decorrente da ausência de prejuízo com a liberalidade, conforme art. 543 do CC.

Por outro lado, há uma proteção exclusiva ao relativamente incapaz: a anulabilidade dos negócios jurídicos
praticados solitariamente por ele (art. 171, I, CC). No caso de absolutamente incapaz, essa proteção é mais
exasperada por envolver nulidade
Trabalho APS

TEMA: Direito Real de Laje com fulcro na Dignidade da Pessoa Humana e Direito à
Moradia

SUGESTÃO: histórico do instituto, natureza jurídica, princípios norteadores, aspectos


procedimentais de instituição e extinção.
(MÍNIMO DE 3 LAUDAS)

NORMAS DA ABNT

INTRODUÇÃO

DESENVOLVIMENTO

CONCLUSÃO
CAPACIDADE JURÍDICA DOS INDÍGENAS
Quanto à disciplina normativa da capacidade jurídica dos indígenas, que, no CC/1916, mereceram assento
entre os relativamente incapazes, passou a ser remetida à legislação especial, que regula autonomamente
a matéria. É o que dispõe o artigo 4º, parágrafo único, do CC/2002:

CC/02. Art. 4 º (...) Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
( Lei nº 13.146, de 2015)

Vale ressaltar que a codificação revogada usava o termo “SILVÍCOLA” (aquele que vive na selva), o que
também constava no projeto do Código vigente. Porém, o vocábulo foi substituído por “índio”, tornando a
regra civilista harmônica com o texto constitucional de 1988.

A Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, consagrando sistema de proteção específico, instituiu a FUNAI
(Fundação Nacional do Índio). A FUNAI exerce poderes de representação e apoio ao indígena.

Há ainda o Estatuto do Índio, Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que regula a situação jurídica dos
índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los,
progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional.
CAPACIDADE JURÍDICA DOS INDÍGENAS
Segundo Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, “a Lei n. 6.001 de 1973 (Estatuto do Índio), considera o indígena, em
princípio, agente absolutamente incapaz, reputando nulos os atos por eles praticados sem a devida representação.
Ressalva a lei, todavia, a hipótese de o indígena demonstrar discernimento, aliado à inexistência de prejuízo em
virtude do ato praticado, pelo que, aí, como exceção, poderá ser considerado plenamente capaz para os atos da vida
civil”.

Estatuto do Índio. Art. 8º São nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa estranha à
comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente.

Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso em que o índio revele consciência e conhecimento do
ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos.

Para os referidos autores, “a constante inserção social do indígena na sociedade brasileira, com a consequente
absorção de valores e hábitos (nem sempre sadios) da civilização ocidental, justifica a sua exclusão, no Código Civil
de 2002, do rol de agentes relativamente capazes. Por isso, não é razoável firmar-se a premissa da sua absoluta
incapacidade, como quer a legislação especial. Apenas em hipóteses excepcionais, devidamente comprovadas,
deve ser reconhecida a sua completa falta de discernimento, para efeito de obter a invalidade dos atos por si
praticados. Assim, acreditamos que a melhor disciplina sobre a matéria é considerar o indígena, se inserido na
sociedade, como plenamente capaz, podendo ser invocada, porém, como norma tuitiva indigenista, não como
presunção absoluta, mas sim como situação verificável judicialmente, inclusive com dilação probatória específica de
tal condição, para a declaração de nulidade do eventual negócio jurídico firmado
TOMADA DE DECISÃO APOIADA (TDA)
O EPD acresceu o art. 1.783-A ao CC para instituir um novo instituto de amparo às pessoas com deficiência,
“Tomada de Decisão Apoiada” (TDA). O art. 84 do EPD estabelece que a pessoa com deficiência pode ser submetida
à curatela e assegura que ela, facultativamente, requeira a TDA.

A TDA decorre de pedido da própria pessoa com deficiência e é facultativo (art. 85, § 2º, do EPD e art. 1.783-A do
CC). Enquanto a curatela destina-se a incapazes – no meio dos quais podem estar pessoas com deficiência sem
discernimento adequado –, a TDA destina-se a pessoas com deficiência que, embora tenham discernimento para a
prática dos atos, querem dois apoiadores para prestar-lhes auxílio. Devem ser nomeados dois apoiadores, conforme
o caput do art. 1.781 do CC.

Como a curatela para pessoas com deficiência física prevista no antigo art. 1.780 do CC foi revogada pelo EPD,
infere-se que a TDA é sua substituta. Assim, se uma pessoa com deficiência física, por exemplo, não consegue
deslocar-se com facilidade, ela poderia pedir a TDA a fim de que os apoiadores pratiquem atos em seu nome e
administre os seus bens. Os apoiadores devem prestar contas periodicidade (arts. 1.756, 1.757, 1.781 e 1.783-A, §
11 do CC e art. 84, § 4º, do EPD), e é fato que eles não são meros conselheiros, mas podem praticar atos em nome
da pessoa com deficiência, além de também poderem ser conselheiros da pessoa. Isso dependerá dos termos da
nomeação judicial dos apoiadores. A periodicidade dessa prestação de contas deve ser anual diante do art. 1.783-A,
§ 11, do CC e do art. 84, § 4º, do EPD, e não bienal, pois esses dispositivos, nesse tema, afastam a incidência dos
arts. 1.757 e 1.781 do CC

E, embora terceiros possam exigir a assinatura dos apoiadores em conjunto com a pessoa apoiada, a TDA não
incapacita a pessoa com deficiência a praticar ato jurídico algum, de maneira que, à míngua de previsão legal em
sentido diverso, inexiste qualquer fundamento legal para considerar nulo ou anulável atos praticados sem a
participação dos apoiadores
CURATELA
A incapacidade fora dos casos de menoridade merece nossa atenção. Nos casos de incapacidade não decorrente de
menoridade, o instituto de amparo destinado ao incapaz é a curatela. A curatela de incapazes está disciplinada a partir do art.
1.767 do CC e nos arts. 84 ao 87 do EPD. A curatela é, na verdade, instituto de amparo mais amplo por se aplicar também a
situações que não sejam de incapacidade, como no caso de ausentes (art. 22 do CC), de nascituro (art. 1.779 do CC), de bens
da herança destinados a quem não foi concebido ainda (art. 1.800 do CC), de bens da herança jacente (art. 1.819 do CC).

A nomeação de curador de incapaz depende de prévio reconhecimento do estado civil de incapaz, o que é feito por meio da
interdição, que é o instituto destinado a reconhecer a incapacidade. A interdição deve sujeitar-se ao procedimento especial de
jurisdição voluntária disciplinada a partir do art. 747 do CPC.

No caso de a incapacidade envolver pessoa com deficiência, os arts. 6º e 85 do EPD prevê que a curatela só pode atingir
direitos de natureza patrimonial, sem alcançar aspectos existenciais.
EMANCIPAÇÃO
TARTUCE conceitua a emancipação como “o ato jurídico que antecipa os efeitos da aquisição da
maioridade e da consequente capacidade civil plena, para data anterior àquela em que o menor atinge a
idade de 18 anos, para fins civis. Com a emancipação, o menor deixa de ser incapaz e passa a ser
capaz. Todavia, ele não deixa de ser menor”.

Conforme o artigo 5º do CC/02, a menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica
habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Seu parágrafo único acrescenta que cessará, para os
menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público,
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver
dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em
função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
De acordo com o Código Civil, a emancipação poderá ocorrer nas seguintes situações – rol taxativo (numerus clausus):

a) Emancipação voluntária parental: concedida por ambos os pais ou um deles na falta do outro. Não é necessária a
homologação perante o juiz, é concedida por instrumento público e registrada no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Naturais. Para que ocorra a emancipação voluntária parental, o menor deve ter, no mínimo, 16 anos completos.

b) Emancipação judicial: é concedida por sentença do juiz. A decisão judicial afasta a necessidade de escritura pública.

c) Emancipação legal matrimonial: é a que se dá pelo casamento do menor. Ressalta-se que o divórcio, a viuvez e a
anulação do casamento não implicam no retorno à incapacidade.

d) Emancipação legal, por exercício de emprego público efetivo: esta hipótese deve ser interpretada a incluir todos os
casos envolvendo cargos ou empregos públicos, desde que haja nomeação de forma definitiva. Portanto, estão afastadas
as hipóteses de serviços temporários ou de cargos comissionados.

e) Emancipação legal, por colação de grau em curso de ensino superior reconhecido: neste caso, deve ser o curso superior
reconhecido, não sendo aplicável à regra para o curso de magistério antigo curso normal.

f) Emancipação legal, por estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego, obtendo o menor
as suas economias próprias, visando a sua subsistência: neste caso é necessário que o menor tenha ao menos 16 anos,
revelando amadurecimento e experiência desenvolvida.

Tanto a emancipação voluntária quanto a judicial devem ser registradas no Registro Civil das Pessoas Naturais,
sob pena de não produzirem efeitos. A emancipação legal produz efeitos independentemente desse registro.
FIM DA PERSONALIDADE JURÍDICA

MORTE CIVIL: Trata-se de um conceito do Direito e varia no tempo e no lugar. Por exemplo,
na Idade Média, quando alguém virava padre, era considerado “morto” civilmente, pois já
não poderia ter direitos e deveres na ordem civil. Teoricamente, em um país de religião
radical, poderia ser considerado morto quem se apostasse da fé oficial. Vamos, então, ver
como a morte é tratada no Brasil.

A morte civil é a forma de extinção da personalidade jurídica da pessoa natural. Ela pode ser
de duas espécies:

(1) real, que coincide com a morte biológica, que ocorre com a cessação da atividade
cerebral, ou seja, com a morte encefálica, conforme art. 3º da Lei n. 9.434/1997;

(2) presumida, que se aplica a situações em que o corpo da pessoa desapareceu, de modo
a não se saber se houve ou não morte real. A morte presumida depende de previsão legal.
Há duas situações de morte presumida.
MORTE PRESUMIDA

A primeira é a morte presumida sem declaração de ausência, que se configura quando há


extrema probabilidade de morte de uma pessoa na forma do art. 7º do CC.

Isso ocorre quando, cessadas as buscas, não se encontra pessoa que:

(1) desapareceu em situação de perigo à vida que torne extremamente provável a morte, ou

(2) não é encontrado após dois anos do fim de uma campanha (guerra, guerrilhas etc.) e tenha
sido feito prisioneiro ou tenha desaparecido.

Nesses casos, o juiz fixará a data provável da morte, de modo que a sentença poderá autorizar
o registro do óbito no Cartório.
MORTE PRESUMIDA

A segunda hipótese é a de morte presumida com declaração de ausência. Nesse caso, o momento
da morte será aquele em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva, conforme art. 6º do CC.

O art. 88 da Lei n. 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos – LRP) prevê a “justificação do óbito”,
permitindo que o juiz autorize o registro do óbito de pessoa que desapareceu em uma catástrofe ou
em uma campanha, desde que esteja comprovada a presença dela no local e que não seja possível
encontrar o seu cadáver.

Seja como for, há quem sustente a subsistência desse procedimento, alegando que ele se aplicaria a
situações de certeza da morte de uma pessoa sem que se possa identificar o corpo, como na
hipótese de morte de alguém que é derretido ao cair dentro de um vulcão ou de quem desaparece em
uma explosão de um prédio. Segundo essa corrente, para a justificação de óbito, não há necessidade
de fim de diligências de buscas nem de fixação de data provável da morte.

Nessa corrente, alguns autores consideram essa hipótese como de morte real, de morte presumida
ou de ambas as espécies de morte, a depender do caso concreto.
Outros doutrinadores entendem que se o corpo não foi identificado, há apenas um
juízo de probabilidade (ainda que alto) de morte. Não há certeza da morte. A pessoa
pode vir a aparecer. O art. 88 da LRP tratava, pois, de morte presumida sem
ausência. Alerte-se que esse dispositivo só cuidava de casos em que não for
encontrado o cadáver, daí porque não se lhe pode aplicar a casos em que vestígios
deste foi encontrado.
No caso de quem caiu em um vulcão ou de quem se despedaçou em uma
explosão, se tiverem sido encontrados vestígios do cadáver com sinais de
identificação (como DNA), tem-se morte real, sem necessidade de aplicar o art. 88
da LRP. O oficial de registro não depende de decisão judicial prévia para lavrar o
assento de óbito, pois aí a morte é real. A pessoa competente poderá fazer a
declaração de óbito na forma do art. 79 da LRP. E mais: o médico ou outro agente
competente poderiam atestar a morte para respaldar o oficial de registro.
COMORIÊNCIA
Comoriência significa a morte simultânea de duas ou mais pessoas. O art. 8º do CC presume a
comoriência quando duas ou mais pessoas faleceram numa mesma ocasião sem se poder
identificar quem morreu em primeiro lugar. Isso pode ocorrer por eventos fáticos diversos,
desde que o momento do óbito de cada um dos comorientes seja o mesmo e inexista
possibilidade de identificar quem morreu primeiro. Se acontece um acidente mortal com um
avião e, na mesma ocasião, alguém tem um infarto em outro lugar do mundo, pode-se falar de
comoriência entre o passageiro daquele avião e o titular do coração fatigado, se não houver
como identificar quem morreu em primeiro lugar.

A principal utilidade da presunção de comoriência do art. 8º do CC é deixar claro que um dos


comorientes não será herdeiro do outro, visto que a transmissão hereditária ocorre com a
morte. Assim, se há comoriência de um casal sem filhos, o patrimônio de cada um será
transferido, por sucessão causa mortis, aos respectivos ascendentes que estiverem vivos, nos
termos do art. 1.829 do CC. Se um deles tivesse morrido em primeiro lugar, os bens dele
seriam transferidos ao cônjuge que sobreviveu um pouco mais, de modo que, com a morte
deste, esses bens e os demais que lhe pertenciam se reverteriam em prol dos ascendentes
REGISTROS PÚBLICOS

Conceito - Comporta dois significados.


• No sentido amplo: abrange todos os assentos registrais e é sinônimo
de inscrição, vale dizer, de todo e qualquer ingresso de título no fólio
real.
• Em seu sentido estrito: é o assento principal e diz respeito,
especialmente, à constituição e modificação de direitos reais sobre os
imóveis matriculados, além de outros fatos/atos que repercutem na
propriedade imobiliária (v.g. contrato de locação com cláusula de
vigência em caos alienação; penhora; pacto antenupcial e etc), ou
ainda, que, por foça de lei, devem ser registrados no Registro de
Imóveis (empréstimos por obrigação ao portador ou debêntures).
LEGISLAÇÃO:
1) CF/88 - Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter
privado, por delegação do Poder Público.
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos
notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus
atos pelo Poder Judiciário.
§ 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos
relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro.
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público
de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura
de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.
2) LEI 6015 DE 1973
3) LEI 8935 DE 1994
4) LEI 9492 DE 1997
ESPÉCIES DE REGISTROS
1) Registros públicos prestados diretamente pelo Estado: Nos termos da Lei nº 8.934/94, o Registro
Público de Empresas Mercantis e atividades afins, será exercido em todo o território nacional, de forma
sistêmica, por órgãos federais, estaduais e distrital. Seus serviços serão exercidos, em todo o território
nacional, de maneira uniforme, harmônica e interdependente, pelo Sistema Nacional de Registro de
Empresas Mercantis (SINREM), composto pelos seguintes órgãos:

• Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (DREI), da Secretaria de Governo


Digital da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia;

• Juntas Comerciais que se subordinam-se, administrativamente, ao governo do respectivo ente federativo


e, tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração.

2) Registros públicos prestados em caráter privado, por delegação do Poder Público: De acordo com
o artigo 236 da CF/88, os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação
do Poder Público. Trata-se de serviços que foram delegados aos particulares e passaram a ser exercidos
em caráter privado

• Tabelionato de notas; • Tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos; • Tabeliães de


protesto de títulos; • Oficiais de registro de imóveis; • Oficiais de registro de títulos e documentos e
civis das pessoas jurídicas; • Oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdição e
tutelas; • Oficiais de registro de distribuição.
ATOS REGISTRÁVEIS E ATOS SUJEITOS À AVERBAÇÃO

O artigo 172 da Lei nº 6.015/1973 dispõe que no Registro de Imóveis serão feitos o registro e a averbação dos títulos ou
atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintivos de direitos reais sobre imóveis, inter vivos ou mortis causa, quer
para sua constituição, transferência e extinção, quer para sua eficácia em relação a terceiros, quer para sua disponibilidade.

REGISTRO: No sentido amplo: abrange todos os assentos registrais e é sinônimo de inscrição, vale dizer, de todo e
qualquer ingresso de título no fólio real. E em sentido estrito: é o assento principal e diz respeito, especialmente, à
constituição e modificação de direitos reais sobre os imóveis matriculados, além de outros fatos/atos que repercutem na
propriedade imobiliária (v.g. contrato de locação com cláusula de vigência em caos alienação; penhora; pacto antenupcial e
etc), ou ainda, que, por força de lei, devem ser registrados no Registro de Imóveis (empréstimos por obrigação ao portador
ou debêntures).

AVERBAÇÃO: A averbação é o assento acessório, informadora de qualquer ato ou fato que implique modificação do teor
do registro ou da qualificação do titular do direito real registrado (v.g. divórcio, modificação do nome e etc). Igualmente, a
declaração de invalidade do registro e a extinção do direito real imobiliário devem ser objeto de averbação, pela qual se
opera o cancelamento do registro.

O rol dos atos de registro (sentido estrito) está previsto no artigo 167, I e, a seu turno, as situações/atos de averbação
constam do inciso II, do mesmo dispositivo da Lei nº 6.015/1973.
DIREITOS DA PERSONALIDADE
Os direitos da personalidade constituem a categoria jurídica fundamental do sistema, ou seja, todo o sistema jurídico é
concebido a partir da ótica de tais direitos. Para o Direito, pessoa é quem possui personalidade jurídica, merecendo uma
proteção fundamental/elementar, que será consagrada por meio dos Direitos de Personalidade.

Os direitos de personalidade constituem uma categoria especial de direitos subjetivos reconhecida ao titular da
personalidade para que ele possa desenvolvê-la plenamente, estando voltados à sua esfera privada. Tal entendimento,
inclusive, pode ser extraído do art. 1º do CC:
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Pablo Stolze conceitua direitos da personalidade como aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e
morais da pessoa em si e em suas projeções sociais.
Cristiano Chaves salienta que os direitos de personalidade são direitos básicos e fundamentais que, hoje garantidos
pelo Código Civil, dão ao direito privado as características constitucionais impostas pela nova ordem introduzida pela
Carta Política de 1988 (tábua de valores), diferente do que ocorria com o Código Civil de 1916 de caráter puramente
patrimonialista.
CLÁUSULA GERAL DE PROTEÇÃO À PERSONALIDADE
O direito brasileiro reconhece uma cláusula geral de proteção à personalidade, todos os direitos à personalidade estão atrelados a
cláusula geral da DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (CF) é o que protege a personalidade, todos direitos da personalidade se
ligam a ela, e é por isso que o rol é exemplificativo.

Nesse sentido, o Enunciado 274 da I JDC: 274 — Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo
Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da
dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da
ponderação.

O conceito de dignidade da pessoa humana é aberto, abrangendo integridade física e psíquica, liberdade e igualdade e o mínimo
existencial, o que caracteriza o seu núcleo duro.

a) Integridade física e psíquica – a exemplo do dever de alimentação adequada, previsto na Lei 11.346/06 e da decisão do STF na
ADI 4275/DF, em que se reconheceu a possibilidade de nome para os transexuais por meio de autodeclaração.

b) Liberdade e igualdade – a exemplo da decisão do STF na ADI 4277/DF (reconhecimento da natureza familiar da união
homoafetiva) e no RE 898.060/SC (reconhecimento de pluriparentalidade, ou seja, possibilidade de ter duas mães e/ou dois pais)

c) Mínimo existencial (direito ao patrimônio mínimo) – significa a proteção do patrimônio livremente adquirido. Por exemplo, a
proteção ao bem de família (Lei 8.009/90), bem como o art. 833, II do CPC que trata de impenhorabilidade dos móveis que
guarnecem o lar.
CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DA PERSONALIDADE

O art. 11 do CC aponta duas características proeminentes dos direitos da personalidade: intransmissibilidade e


irrenunciabilidade. Os direitos da personalidade são indisponíveis. Ao contrário do que uma interpretação rápida poderia
permitir, os direitos da personalidade podem sofrer limitação voluntária nas exceções previstas em lei, portanto são
RELATIVAMENTE INDISPONÍVEIS.

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não
podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Enunciados da JDC do CJF:

JDC 4 – Art.11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem
geral.

JDC 139 – Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não
podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.

Podem decorrer também da autonomia de vontade, a exemplo do Boxe em que há uma limitação da integridade física.
• ABSOLUTOS: não no sentido de não poderem sofrer relativização (já vimos que podem sofrer limitação,
bem como pode ser utilizada a Teoria da Ponderação), mas sim no sentido de serem oponíveis erga omnes.

• EXTRAPATRIMONIAIS: porém sua violação pode implicar em efeito patrimonial.

• IMPENHORÁVEIS: não possuem valor patrimonial, com as exceções do art. 833 do CPC.

• INATOS: vitalícios, podendo a sua tutela ser reconhecida pos mortem, como visto acima.

• IMPRESCRITÍVEIS: não há prazo extintivo para requerer a sua proteção.

O STJ (REsp 816.209/RJ), no entanto, criou uma exceção (art. 14 da lei 9.140/95) nos casos de tortura
ocorrida durante o regime militar, a reparação por dano moral decorrente de tortura é IMPRESCRITÍVEL.

Obs.: A imprescritibilidade dos direitos da personalidade não implica na imprescritibilidade da reparação do


dano, vale dizer, o direito não se extingue pelo não uso, mas o direito de exigir reparação pelo dano ao
direito se extingue.
O Código Civil de 2002 passou a tratar dos direitos da personalidade entre os seus artigos 11 a 21.

Os direitos da personalidade são aqueles inerentes à pessoa (natural ou jurídica), dotados de


personalidade jurídica, que têm por objetivo promover a defesa da integridade física, moral e
intelectual.

Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona conceituam os direitos da personalidade como “aqueles que têm
por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais”.

Pontes de Miranda, em sua obra Tratado de Direito Privado, a respeito dos direitos da
personalidade, assevera que "com a teoria dos direitos de personalidade, começou, para o mundo,
nova manhã do direito. Alcança-se um dos cimos da dimensão jurídica".

O que se busca proteger com tais direitos são os atributos específicos da personalidade, sendo esta a
qualidade do ente considerado pessoa.
ATRIBUTOS DO DIREITO DA PERSONALIDADE

- Intransmissibilidade;

- Irrenunciabilidade;

- Incomunicabilidade;

- Impenhorabilidade;

- Imprescritibilidade;

- Perpetuidade;

- Oponibilidade Erga Omnes


CC/02 - Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Todavia, no tocante aos direitos da personalidade com valoração econômica, tanto a doutrina quanto a
jurisprudência entendem pela possibilidade de cessão de tais direitos, ou seja, a faceta patrimonial dos
direitos da personalidade pode ser objeto de negócio jurídico (cessão), tal como autoriza o artigo 28
da Lei nº 9.610/98, que disciplina o direito do autor (direito autoral): “Lei nº 9.610/1998. Art. 28.

Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica”.

O STJ, no Info 606, referendou a possibilidade de disposição voluntária dos direitos de personalidade,
desde que não permanente nem geral, estando condicionado à prévia autorização do titular e devendo
sua utilização estar de acordo com o contrato estabelecido entre as partes.
PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

a) Preventiva: principalmente por meio do ajuizamento de ação com postulação de tutela inibitória,
objetivando evitar a concretização da ameaça de lesão ao direito da personalidade;

b) Repressiva: por meio da imposição de sanção civil (pagamento de indenização) ou penal


(persecução criminal) em caso de a lesão já haver se efetivado.

CC/02. Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar
perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de
morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou
qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Conforme Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, “Tal norma é a regra geral codificada quanto à tutela dos
direitos da personalidade, sendo aplicável subsidiariamente inclusive às hipóteses disciplinadas pelo
seu art. 20, que se refere especificamente ao direito de imagem”.
ESPÉCIES DE DIREITOS DA PERSONALIDADE
Direito à Vida: É a proteção da existência da pessoa natural e do nascituro. É o direito mais precioso do ser
humano, que sintetiza e concentra, em si, todos os demais direitos.

Direito à Liberdade: É a faculdade de agir segundo sua consciência, observando-se os limites da liberdade alheia.

Direito à Liberdade de Pensamento: É certo que o direito de liberdade compreende a liberdade de pensamento.
Contudo, dada a sua peculiaridade de ser a forma de expressão da individualidade do ser humano, o direito à
liberdade de pensamento merece destaque como direito autônomo.

Direito ao Corpo e partes separadas: É o uso do corpo como lhe aprouver, exceto se atentar contra a vida, saúde
física e mental. Veda a comercialização de partes do corpo. Assim, o corpo, como projeção física da individualidade
humana, também é inalienável, embora se admita a disposição de suas partes, seja em vida, seja para depois da
morte, desde que, justificado o interesse público, isso não implique em mutilação, e não haja um intuito lucrativo.

Nesse sentido, dispõe o CC/02: CC/02. Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. Parágrafo
único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Direito ao Cadáver (Honra Póstuma): É a proteção dos restos mortais até a decomposição natural. O CC/02
também se preocupou com o tema do direito ao cadáver, conforme se depreende da análise do seu artigo 14:

CC/02. Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou
em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer
tempo.

Para Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, “Se a personalidade jurídica termina com a morte da pessoa natural (mors
omnia solvit), poder-se-ia defender, com bastante razoabilidade, que deixaria de existir também sobre o cadáver
qualquer direito como emanação da personalidade jurídica. Todavia, com fundamento na ideia de que é preciso
proteger a dignidade do ser humano — e seus restos mortais lhe representam post mortem —, tem-se admitido a
preservação, como direito da personalidade, do cadáver”.

Vale ressaltar que o referido artigo tutela a possibilidade de o doador manifestar a sua vontade de dispor do seu
corpo para estudos para além de sua morte. Nesse sentido, Reinaldo Velloso dos Santos, recomenda a lavratura de
escritura pública de declaração da vontade de doar o corpo para fins de estudos e pesquisa. A declaração pelo então
interessado poderá ser feita por meio da Diretiva Antecipada de Vontade, junto ao Tabelião de Notas de sua escolha.
DIRETIVA ANTECIPADA DE VONTADE OU TESTAMENTO VITAL

A Diretiva Antecipada de Vontade, também denominada de Testamento Vital, trata-se de um documento lavrado no Tabelionato de
Notas que exterioriza a vontade de uma pessoa que esteja no gozo de suas capacidades mentais, materializando a autonomia de sua
vontade de forma prévia quanto a disposição do próprio corpo.

A Resolução nº 1.995/2012 do Conselho Federal de Medicina regulamentou as diretivas antecipadas de vontade. Seu artigo 1º
assim as define:

“Resolução nº 1.995/2012 do CFM. Art. 1º Definir diretivas antecipadas de vontade como o conjunto de desejos, prévia e
expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que estiver
incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade”.

Nesse sentido, trata-se de um eficiente meio de determinação da vontade prospectiva do indivíduo que opta em vida, de forma
plena e com capacidade, por doar ou não seus órgãos post mortem.

Direito à Integridade Física: É a proteção à saúde pessoal, mantendo-se, portanto, a incolumidade corpórea e intelectual,
repelindo-se as lesões causadas ao funcionamento normal do corpo humano.

Neste ponto, há uma questão interessante, que seria os limites do poder da vontade individual em confronto com a necessidade de
intervenções médicas ou cirúrgicas. Inclusive, sobre o tema, o CC/02 dispõe o seguinte:

CC/02. Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Direito à Integridade Psíquica: A pessoa é um ser psíquico atuante, que interage socialmente. Nessa classificação inclui-se
o direito à liberdade, inclusive de pensamento, à intimidade, à privacidade, ao segredo, além do direito referente à criação
intelectual, consectário da própria liberdade humana.

Aqui, levam-se em conta os elementos intrínsecos do indivíduo, como atributos de sua inteligência ou sentimento,
componentes do psiquismo humano.

Direito ao Nome: É o direito ao nome da pessoa natural ou jurídica, com proteção específica constante entre os artigos 16 a
19 do CC/02.

CC/02. Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao
desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.

Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.

Lei nº 14.382, de 2022, alterou o artigo 56 da Lei nº 6.015/1973, permitindo ao seu titular, a qualquer tempo, alterá-lo na
serventia
AUSÊNCIA
O instituto da ausência está localizado topograficamente dentro do título “Das pessoas naturais”, imediatamente após o
capítulo da personalidade e da capacidade.

Seu fundamento primordial remete ao princípio da dignidade da pessoa humana, uma vez que a pessoa – enquanto
sujeito de direito e deveres – está no núcleo do sistema jurídico, de tal modo que as normas jurídicas, sobretudo as de
direito privado, repercutem diretamente sobre a efetividade da dignidade da pessoa humana, notadamente quando
garantem o exercício de direitos de ordem existencial.

Nesse sentido, a ausência, enquanto instituto jurídico, por relacionar-se com a extinção da personalidade civil da pessoa
natural, ganha relevo no Código Civil de 2002, que passa a disciplinar sua ocorrência no mundo real, seja quanto ao
momento em que será tida por juridicamente ocorrida, mas, sobretudo, as consequências jurídicas de sua decretação,
tanto para a pessoa declarada ausente, quanto para a sucessão dos negócios e situações jurídicas que gravitavam em
torno do ausente.

Em linhas gerais, a ausência se relaciona com a pessoa natural que desaparece de seu domicílio sem deixar notícias,
conforme previsão expressa do artigo 22, do Código Civil. A ausência era tratada pelo CC/1916 como causa de
incapacidade absoluta da pessoa. Atualmente, a ausência enquadra-se como tipo de inexistência por morte.

Assim, releva destacar, tal como bem observado pelo professor DANIEL CARNACCHIONI, que o ausente, onde quer
que esteja, terá personalidade civil, reconhecida e tutelada pelo Estado. O CC/02 dissociou a ausência de incapacidade.
Conceito
Primeiramente, impera salientar que o próprio artigo 6º do CC/02, segunda parte, prevê que o ausente deve ser
tratado como se morto fosse havendo declaração de morte presumida, nos termos dos arts. 22 a 39 da vigente lei
geral privada.

Portanto, repise-se que o ausente não pode ser tratado como absolutamente incapaz, conforme fazia a codificação
anterior (Código Civil de 1916).

O CC/02 conceitua ausência no artigo 22: Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se
não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de
qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.

Tem-se por ausente aquela pessoa que desaparece, sem que ninguém tenha conhecimento a respeito de seu
destino, não tendo deixado representante ou procurador para administrar seus bens. Trata-se da primeira
hipótese de declaração de ausência, em que o juiz, a pedido do Ministério Público ou de qualquer
interessado, declara a ausência da pessoa e nomeia um curador para administrar os bens do ausente.

O artigo 23 do CC/02, traz a segunda hipótese de declaração de ausência com nomeação de curador, no caso
de ter o ausente deixado mandatário que não queira ou não possa exercer o mandato.

CC/02. Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário
que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.
Requisitos

A lei previu como requisito obrigatório o desaparecimento da pessoa natural, sem deixar notícias
de seu paradeiro e, ainda, sem procurador ou representante para administrar-lhe os bens. Tal
situação fática caracteriza a ausência.

Mesmo deixando procurador, excepcionalmente, poderá ser declarada a ausência – hipótese em


que haja poderes insuficientes ou renúncia ao mandato.

Para CARNACCHIONI a sentença declaratória de ausência é constitutiva do efeito jurídico que lhe
é peculiar – arrecadação de bens e nomeação de curador, sendo o registro no Registro Civil das
Pessoas Naturais de caráter publicitário e informativo, bem como ainda para fins de
anotações/averbações nos demais atos assentados nessa serventia especializada – nascimento,
casamento e etc.
Efeitos na dissolução da sociedade conjugal
Inicialmente, relevante destacar o que prevê o artigo 1571, §1º, do CC/02: O casamento
válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a
presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.
Assim, forçoso concluir que para que se possa declarar a morte presumida do ausente é
imprescindível que, analisando o caso concreto, as circunstâncias autorizem a abertura da
sucessão definitiva, conforme regra de presunção estabelecida pelo artigo 6º, do mesmo
códex:
CC/02. Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume se esta,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva.
Assim, a sociedade conjugal se extingue com a presunção de morte do ausente, a qual
ocorrerá quando findo o prazo de 10 anos, após o trânsito em julgado da sentença de
sucessão provisória, oportunidade em que, nos termos da lei, está autorizado o pedido de
abertura da sucessão definitiva.
1º Fase da Ausência - Curadoria dos bens do ausente
A primeira fase é a fase da curadoria dos bens do ausente. Nela, desaparecendo a pessoa sem notícias e não
deixando qualquer representante, é nomeado um curador para guardar seus bens, em ação específica proposta pelo
Ministério Público ou por qualquer interessado.

CC/02. Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado
representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou
do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador

Assim, primeiramente, a lei supõe o desaparecimento da pessoa e adota medidas para fins de preservação do
patrimônio do ausente em seu próprio benefício.

Os legitimados para requerer ao juiz a declaração de ausência são: Ministério Público ou qualquer interessado.

Trata-se de procedimento de jurisdição voluntária, de modo que não há lide. Nessa oportunidade o único objetivo
é reconhecer a ausência da pessoa, nomear curador para arrecadar e administrar os bens do ausente.

Se o ausente não possuir bens, é necessária a declaração de ausência?

É igualmente possível, uma vez que, ainda que não haja bens passíveis de administração, a declaração de
ausência inicia um processo de reconhecimento do estado da pessoa desaparecida, que, oportunamente, pode
acarretar efeitos não patrimoniais, tais como: estado civil do cônjuge; alimentos; e etc.
2ª Fase da Ausência - Sucessão Provisória

Nessa fase, abre-se o inventário e defere-se a posse dos bens do ausente aos
sucessores. Tal como o próprio nome indica, tal sucessão é provisória porque a lei
previu certas restrições à posse dos sucessores do ausente.

São essas restrições na posse dos bens que caracterizam essa 2ª fase do
procedimento. Aberta a sucessão provisória cessa a fase de curadoria dos bens do
ausente.

Prevê o CC/02 (artigo 26) que decorrido 1 ano da arrecadação dos bens do ausente
ou 3 anos, caso ele tenha deixado representante ou procurador, poderão os
interessados requerer a declaração e ausência e abertura da sucessão provisória.

CC/02. Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele
deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a
sucessão.
3ª Fase - Sucessão Definitiva
A fase da sucessão provisória cessa com:
• O retorno do ausente;
• Certeza jurídica da morte do ausente;
• 10 anos após o trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória.
A última fase é denominada de “sucessão definitiva”, e ocorrerá 10 anos depois de passar em julgado a
sentença que concede a abertura da sucessão provisória. Após tal prazo, podem os interessados
(legitimados para sucessão provisória) requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções
prestadas, cessando todas as restrições gerais e especiais existentes na fase da sucessão provisória.
CC/02. Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da
sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das
cauções prestadas.
Não há conversão automática da sucessão provisória em definitiva, demandando novo pedido, com a
necessária prolação de nova sentença, a qual opera a abertura da sucessão definitiva.
Nessa fase, o interesse dos sucessores prepondera sobre os do ausente, diferentemente do que
ocorre na 2ª fase.

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