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IED Privado I

Professor: Vicente Passos


1. Noções introdutórias de Direito Privado

1.1 - A unificação do Direito Privado → O Direito privado é


denominação genérica para o campo do Direito que serve para
regular as relações entre os particulares, nos quais predomina
imediatamente o interesse de ordem particular.
São ramos do direito privado → Direito Civil, Empresarial e
Internacional Privado
O direito público regula relações jurídicas concernentes à
organização e atividade do Estado (acepção lata) e de seus
agregados políticos, bem como as relações jurídicas travadas
entre os cidadãos e essas organizações políticas.
Cuida dos interesses diretos ou indiretos do Poder Público (Estado-
Administração, o Estado-Juiz e o Estado-Legislador).
São ramos do direito público → Direito Internacional Público,
constitucional, processual, administrativo, econômico, tributário e
penal.
Noções introdutórias de Direito Privado (2)

As divisões dos campos do direito têm mais utilidade didática →


interpenetração dos campos jurídicos.
Tentativas de estabelecer critérios distintivos para a “summa
divisio” (divisão entre o direito público e o privado).
a) Pelo interesse visado pela norma.
b) Pelo titular da relação jurídica.
c) Pela autoridade.
Inter-relações entre o direito público e o privado.
OBS - Direitos Difusos tratam dos direitos metaindividuais,
tendo como titulares pessoas indeterminadas em um mesmo
contexto jurídico.
Exemplos: (“novos direitos sociais”) Direito do Trabalho, da
Seguridade Social, do Consumidor, etc.
Noções introdutórias de Direito Privado (3)

Inter-relações entre o direito público e o privado (contin).


Atuação do Estado também em outras áreas do direito privado →
direito de família (regulamentação do casamento, proteção aos
filhos, etc.).
A publicização do direito privado → fenômeno pelo qual o Estado
regula interesses particulares, disciplinando limites e regras para o
exercício de direito dos particulares, como forma de garantir a
segurança jurídica e a paz social.
Exemplos: limitação da autonomia da vontade no direito
contratual, função social dos contratos, função social da
propriedade.
Texto de referência: Paulo Luiz Netto Lobo: Constitucionalização do
Direito Civil:
https://portaldeperiodicos.unibrasil.com.br/index.php/cadernosdirei
to/article/view/2683.
Noções introdutórias de Direito Privado (4)

A unificação do direito privado → tratamento igualitário entre


as obrigações civis e as comerciais, pela inexistência de razão
científica para submeter a regimes distintos relações jurídicas
de natureza idêntica, em razão somente do aspecto subjetivo
de seus integrantes
→ realizado parcialmente pelo CC/2002 (Lei nº 10.406/2002) →
revogação da 1ª parte do Código Comercial.
OBS: Art. 966 CC:
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se
o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
A codificação e a descodificação

Surgimento → séculos XVIII e XIX


Fundamento → necessidade de uniformização da
legislação vigente (conhecimento e certeza).
Espécies:
a) Compilação → agrupamento de normas esparsas,
b) Consolidação → reunião de leis pela determinação de
um assunto em comum (CLT)
c) Códigos → tratam o Direito de forma sistemática.
Críticas → engessamento do Direito
O Código Civil passa a ser um instrumento de garantia do
cidadão para com o Estado.
A codificação e a descodificação (2)

Surgimento → séculos XVIII e XIX


Código Civil francês (1804): separa a Igreja do Estado,
defende o individualismo. Amparado na Declaração de
Direitos de 1789. Fundamentado nos ideais da Revolução
Francesa; assegura o caráter absoluto da propriedade, a
autonomia da vontade e a liberdade contratual.
Código Civil alemão BGB (1896): muito técnico e bem
abstrato, foi elogiado pela abstração e ênfase à boa-fé.
A descodificação: afastamento do dogma da completude
(Bobbio)
Evolução social demandando novas fórmulas legislativas.
Surgimento dos microcosmos jurídicos
Os códigos civis brasileiros

O Código Civil: histórico e conteúdo.


Histórico:
Período colonial → Ordenações Filipinas.
Independência (1822) → manutenção, com ressalvas, das
Ordenações Filipinas, até que fosse feito um Código Civil.
Teixeira de Freitas fez um esboço mais de 5 mil artigos e que
foi rejeitado. Após várias tentativas, o projeto foi
encabeçado por Clóvis Beviláqua, e enviado ao Congresso
em 1900, aprovado em 1916, passando a vigorar em
01/01/1917.
CC/1916: inspirado pelo CC francês, retratou uma
sociedade basicamente rural, patriarcal, e com direitos de
natureza basicamente patrimonial.
Os códigos civis brasileiros (2)

Modificação do CC/1916
Projeto de modificação do CC/16 começou em 1941.
Depois, em 1961, foram compostas várias comissões com o
objetivo de atualizar os vários livros do CC/16 (Orlando
Gomes, Caio Mário, etc).
Em 1969, foi formada nova Comissão integrada por Miguel
Reale (presidente), José Carlos Moreira Alves, Agostinho
Alvim, Clóvis do Couto e Silva entre outros, para elaborar
anteprojeto de Código Civil, posteriormente transformado
em Projeto de Lei nº 634, de 1975, que foi aprovado no
Congresso Nacional pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (vigendo, a partir de 10/01/2003).
Os códigos civis brasileiros (3)

O Código Civil de 2002 (Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002)

* Manteve a estrutura e a redação do CC/1916,


atualizando-o com novas figuras e institutos 1.

* A Parte Geral é dividida em três livros, referentes às


pessoas, aos bens e aos fatos jurídicos (disciplina a relação
jurídica, seu nascimento, evolução, extinção e conteúdo).

A Parte Especial tem cinco livros: do Direito das Obrigações


(Livro I), do Direito de Empresa (Livro II), do Direito das Coisas
(Livro III), do Direito de Família (Livro IV), e do Direito das
Sucessões (Livro V).
Os códigos civis brasileiros (4)

O conteúdo do Código Civil de 2002


Conjunto de direitos, relações e instituições que formam
o seu ordenamento jurídico, o seu sistema legal.
* Ponto de vista subjetivo → relações jurídicas entre os
particulares ou entre eles e o Estado, quando situados
em posição de igualdade e coordenação.
* Ponto de vista objetivo → regras sobre a pessoa, a
família e o patrimônio, ou de modo analítico, os direitos
da personalidade, o direito de família, o direito das
coisas, o direito das obrigações e o direito das sucessões,
ou ainda, a personalidade, as relações patrimoniais, a
família e a transmissão dos bens por morte.
O Direito Civil

Conceito de Direito Civil: “conjunto de princípios e normas


que regulamentam as relações jurídicas comuns de
natureza privada. É o direito que regula a pessoa, na sua
existência e atividade, a família e o patrimônio” (Francisco
Amaral).
Princípios do Direito Civil.
1) Personalidade – aptidão genérica para adquirir direitos e
contrair obrigações.
* Conquista da evolução do direito (escravos e mulheres).
• Característica de quase todas as sociedades modernas,
especialmente em virtude dos tratados internacionais de
direitos humanos.
• Alcança pessoas físicas e as jurídicas.
O Direito Civil (2)

* Compreende, basicamente, o reconhecimento da pessoa


como centro e destinatário do direito civil.
O direito protege-a e garante-lhe a reprodução e a
conservação, por meio dos direitos da personalidade, do
direito de família e do direito patrimonial.
O instituto da personalidade compreende, assim, as normas
sobre o princípio e o fim da existência, qualificação e
exercício dos direitos das pessoas físicas e jurídicas.
Consequências da personalidade:
* Reconhecimento da pessoa como sujeito de direitos e
deveres;
* Reconhecimento da propriedade como direito de domínio
limitado por uma função social;
* Reconhecimento da autonomia privada: poder jurídico
que os particulares têm, nos limites estabelecidos de se
regularem, por sua própria vontade.
O Direito Civil (3)

2) Autonomia: o ser humano é capaz de praticar ou abster-


se de atos.
Possibilidade de auto regulação dos seus interesses, de
acordo com os limites previstos legalmente.
3) Propriedade individual: garantia legal atribuída às pessoas
para a garantia do seu patrimônio licitamente adquirido,
quer seja pelo seu trabalho ou qualquer outra forma em lei
permitida (doação, loteria, etc.).
Garantido constitucionalmente (art. 5º, XXII), como uma
consequência de vivermos num regime capitalista de
produção. Contudo que a propriedade atenderá a função
social.
CF/88: art. 5º, XXII - é garantido o direito de propriedade;
CF/88: art. 5º, XXIII - a propriedade atenderá a sua função
social;
O Direito Civil (4)

CC/02 Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar


e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem
quer que injustamente a possua ou detenha.
* A propriedade é um dos institutos jurídicos que mais
diretamente refletem as mudanças nas condições econômicas
e sociais.
* Envolve várias figuras: propriedade mobiliária e imobiliária,
urbana e rural, intelectual, industrial, patentes, marcas, literária,
artística, científica, etc.
*Limitações derivadas da função social e do abuso de direito
CC/02 Art. 1.228 §1º O direito de propriedade deve ser exercido
em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais
e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
O Direito Civil (5)

CC/02 Art. 1.228. 2º São defesos os atos que não trazem ao


proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam
animados pela intenção de prejudicar outrem.
3) A família: é o desdobramento da personalidade; elo social
mais forte e que dá condições ao ser humano prosseguir a sua
vida, através de laços de fraternidade, de companheirismo, de
mútua assistência e respeito.
O direito de família é o conjunto de princípios e normas que
disciplinam e organizam as relações entre os membros da
mesma família, isto é, entre os cônjuges e entre os parentes.
Trata das normas sobre o casamento e seus efeitos pessoais e
patrimoniais, a dissolução da sociedade conjugai, as relações
de parentesco e os institutos de proteção aos incapazes,
compreendendo, a tutela, a curatela e a ausência.
CF/88. Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial
proteção do Estado.
O Direito Civil (6)

4) A responsabilidade civil: significa, em senso estrito, a


obrigação de indenizar decorrente de ato ilícito.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
5) A sucessão hereditária: através dela se conservam os
bens dentro da mesma família por gerações sucessivas.
Regulado pelo direito das sucessões, consiste na substituição
da pessoa, por sua morte, na titularidade de seu patrimônio,
que é a herança, pelas pessoas que o falecido indicar no
ato de última vontade, chamado testamento (sucessão
testamentária), ou, na ausência dessa disposição, na forma
disposta em lei (sucessão legítima).
Os princípios norteadores do Código Civil

1) A socialidade:, prevalência dos valores sociais sobre os


individuais, porém, valorizando a dignidade humana.
Atenuação do caráter individualista do CC/16 para atender
aos reclamos de uma sociedade mais fraterna e humana.
Funcionalização dos institutos jurídicos
Função social da propriedade: CF/88 e CC/02
Função social do contrato:
CC, art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites
da função social do contrato.
CC, art. 2.035. Parágrafo único. Nenhuma convenção
prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais
como os estabelecidos por este Código para assegurar a
função social da propriedade e dos contratos
Os princípios norteadores do Código Civil
(2)

Exs: modificação do critério de reajuste contratual,


onerosidade excessiva, lesão, etc.
CC/02 Art. 1.631. DURANTE O CASAMENTO E A UNIÃO
ESTÁVEL, COMPETE O PODER FAMILIAR AOS PAIS; na falta ou
impedimento de um deles, o outro o exercerá com
exclusividade.
CC/16: Art. 379. Os filhos legítimos, os legitimados, os
legalmente reconhecidos e os adotivos estão sujeitos ao
pátrio poder, enquanto menores.
Art. 380. Durante o casamento, EXERCE O PÁTRIO PODER O
MARIDO, como chefe da família (art. 233), e, na falta ou
impedimento seu, a mulher.
Referência: Norberto Bobbio: Da estrutura à função.
Os princípios norteadores do Código Civil
(3)

2) Eticidade: aproximação do direito com a justiça


Prioriza a equidade, a boa-fé, a justa causa, os costumes.
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é
válido, ainda provado depois que não era credor.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.
Texto: Visão geral do projeto de Código Civil (Miguel Reale)
Os princípios norteadores do Código Civil
(4)

3) Operabilidade: busca corrigir as imperfeições técnicas do


anterior, e estabelecer conceitos abertos (cláusulas gerais)
que permitem ao intérprete a melhor adequação na análise
do caso concreto.
O CC optou pela utilização de cláusulas gerais, nos casos
em que se exige conceito indeterminado como
“probidade”, “boa-fé” ou “correção”.
As cláusulas gerais são formulações contidas em lei, de
caráter genérico e abstrato, cujos valores devem ser
preenchidos pelo juiz, para que seja dada a decisão mais
correta.
Os conceitos indeterminados são aqueles quando palavras
ou expressões contidas numa norma são vagas/imprecisas,
de modo que a dúvida encontra-se no significado das
mesmas, e não nas consequências legais de seu
descumprimento.
Os princípios norteadores do Código Civil
(5)

Ex: art. 927, parágrafo único ao tratar da atividade de risco


Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
Ex2: art. 473, ao tratar da resilição:.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato,
uma das partes houver feito investimentos consideráveis para
a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito
depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o
vulto dos investimentos.
.
A constitucionalização do Direito Civil

Conceito: “processo de elevação ao plano constitucional


dos princípios fundamentais do direito civil, que passam a
condicionar a observância pelos cidadãos, e a aplicação
pelos tribunais, da legislação infraconstitucional.” (Paulo Luiz
Netto Lobo)
Releitura dos institutos do CC baseados na dignidade
humana (art. 1º III, CF), solidariedade social (art. 3º III, CF) e
igualdade substancial (arts. 3º e 5º, CF)
* releitura de conceitos: contrato, propriedade e família
* criação de novas figuras jurídicas – união de pessoas
do mesmo sexo
* a questão do dogma da completude: o CC
entendido como a constituição do direito privado.
* a mudança de papel do Estado com o
preenchimento de espaços privados.
Eficácia dos direitos fundamentais nas
relações privadas

Os Direitos Fundamentais estão classificados e divididos em:


Direitos Individuais (art. 5º); Direitos Coletivos (art. 5º); Direitos
Sociais (arts. 6º e 193); Direitos à Nacionalidade (art. 12) e
Direitos Políticos (arts. 14 a 17).
Eles trazem limites ao poder do Estado, e,
consequentemente, passam a vincular o Estado ao
cidadão.
O Estado anteriormente foi identificado como o maior
agressor dos direitos das pessoas.
Abusos podem ser também cometidos por particulares,
notadamente daqueles que emanam fonte de poder na
análise do caso concreto.
Recurso Extraordinário n. 201819/RJ
SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIÃO BRASILEIRA DE COMPOSITORES.
EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES
PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO.
I. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. As violações a
direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão
e o Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de
direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição
vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados
também à proteção dos particulares em face dos poderes privados.
II. OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES À AUTONOMIA PRIVADA DAS
ASSOCIAÇÕES. A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu a qualquer
associação civil a possibilidade de agir à revelia dos princípios inscritos nas leis e, em
especial, dos postulados que têm por fundamento direto o próprio texto da
Constituição da República, notadamente em tema de proteção às liberdades e
garantias fundamentais.
O espaço de autonomia privada garantido pela Constituição às associações não
está imune à incidência dos princípios constitucionais que asseguram o respeito aos
direitos fundamentais de seus associados.
III. SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. ENTIDADE QUE INTEGRA ESPAÇO PÚBLICO,
AINDA QUE NÃO-ESTATAL. ATIVIDADE DE CARÁTER PÚBLICO. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM
GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. APLICAÇÃO DIRETA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS À AMPLA DEFESA E AO CONTRADITÓRIO. As associações privadas que
exercem função predominante em determinado âmbito econômico e/ou social,
mantendo seus associados em relações de dependência econômica e/ou social,
integram o que se pode denominar de espaço público, ainda que não-estatal.
A União Brasileira de Compositores - UBC, sociedade civil sem fins lucrativos, integra a
estrutura do ECAD e, portanto, assume posição privilegiada para determinar a
extensão do gozo e fruição dos direitos autorais de seus associados.
A exclusão de sócio do quadro social da UBC, sem qualquer garantia de ampla
defesa, do contraditório, ou do devido processo constitucional, onera
consideravelmente o recorrido, o qual fica impossibilitado de perceber os direitos
autorais relativos à execução de suas obras.
A vedação das garantias constitucionais do devido processo legal acaba por
restringir a própria liberdade de exercício profissional do sócio. O caráter público da
atividade exercida pela sociedade e a dependência do vínculo associativo para o
exercício profissional de seus sócios legitimam, no caso concreto, a aplicação direta
dos direitos fundamentais concernentes ao devido processo legal, ao contraditório e
à ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, CF/88). IV. Recurso Extraordinário Desprovido.

Recurso Extraordinário n. 160222/RJ


II – Constrangimento ilegal: submissão das operárias de indústria de vestuário à
revista íntima, sob ameaça de dispensa; sentença condenatória de primeiro grau
fundada na garantia constitucional da intimidade e acórdão absolutório do Tribunal
de Justiça, porque o constrangimento questionado à intimidade das trabalhadoras,
embora existente, fora admitido por sua adesão ao contrato de trabalho, questão
que, malgrado a sua relevância constitucional, já não pode ser solvida neste
processo, dada a prescrição superveniente, contada desde a sentença de primeira
instância, e jamais interrompida desde então.
Recurso Extraordinário n. 161243/DF
CONSTITUCIONAL. TRABALHO. PRINCÍPIO DA IGUALDADE. TRABALHADOR
BRASILEIRO empregado DE EMPRESA ESTRANGEIRA: ESTATUTOS DO PESSOAL DESTA:
APLICABILIDADE AO TRABALHADOR ESTRANGEIRO E AO TRABALHADOR BRASILEIRO.
C.F., 1967, art. 153, § 1º; C.F., 1988, art. 5º, caput.
I. - Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a empresa
francesa, no Brasil, não foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede
vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade seria restrita ao empregado de
nacionalidade francesa. Ofensa ao princípio da igualdade: C.F., 1967, art. 153, § 1º;
C.F., 1988, art. 5º, caput).
II. - A discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou
extrínseca do indivíduo, como o sexo, a raça, a nacionalidade, o credo religioso,
etc., é inconstitucional. Precedente do STF: Ag 110.846(AgRg)-PR, Célio Borja, RTJ
119/465. III. - Fatores que autorizariam a desigualização não ocorrentes no caso.
IV. - R.E. conhecido e provido.
A personalidade jurídica e as pessoas

Conceito – aptidão genérica reconhecida a toda e


qualquer pessoa para que possa titularizar relações jurídicas
→ ser titular de direitos e deveres.
A personalidade não é só atributo do indivíduo, mas de
qualquer grupo constituído legalmente, assim, mesmo entes
sem personalidade podem ser titulares de direitos e deveres
(condomínio, espólio, etc.).
Nascituro – ente já concebido, mas não nascido.
Ausente – pode estar vivo, mas a lei admite como
morto.
Pessoa cuja possibilidade de vir a existir é admitida para
aquisição de direitos (fideicomissário) - art. 1.951 CC
Sujeito de direito – “é a pessoa a quem a lei atribui a
faculdade ou a obrigação de agir, exercendo poderes ou
cumprindo deveres” (Orlando Gomes) → pessoas físicas (art.
1º) e as jurídicas (art. 44).
A personalidade jurídica e as pessoas (2)

A capacidade – é a medida da personalidade. Nem sempre


uma pessoa que tenha capacidade de direito tem a de
fato.
a) capacidade de direito ou de gozo – equivale à
personalidade. Ocorre pelo simples fato da existência da
pessoa natural.
Não se admite sua restrição total, mas a lei pode prever
situações onde haja privações de caráter especial (art. 222,
CF):
CF/88. Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de
radiodifusão sonora e de sons e imagens é PRIVATIVA de
brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de
pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sede no País.
A personalidade jurídica e as pessoas (2)

b) capacidade de fato ou de exercício - possibilidade de o


titular exercer o direito por si só ou por terceiro livremente
escolhido.
Pode ser limitada → falta de discernimento do titular, ou por
um requisito lega. Exercício por meio de terceiros, em nome
do titular do direito de gozo.
Objetivo: proteção dos interesses destas pessoas.
OBS - capacidade jurídica plena ou geral = capacidade de
direito + de fato.
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos,
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos
da vida civil.
OBS.: capacidade ≠ legitimação (análise abstrata X
concreta)
A personalidade jurídica e as pessoas (3)

Legitimidade → é a idoneidade para o exercício de um


direito. É a aferição se a pessoa tem a capacidade
específica para praticar o ato.
Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser
comprados, ainda que em hasta pública:
I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e
administradores, os bens confiados à sua guarda ou
administração;
II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou
direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que
estejam sob sua administração direta ou indireta;
III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores,
peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os
bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou
conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender
a sua autoridade.
Teoria das incapacidades

Teoria das incapacidades – mecanismos de restrições


de direitos, em virtude de particularidades do seu
titular.
A incapacidade só pode incidir sobre a capacidade
de fato, nunca sobre a de direito
Sílvio Rodrigues: “a incapacidade é o reconhecimento
da inexistência, numa pessoa, daqueles requisitos que
a lei acha indispensáveis para que ela exerça os seus
direitos” direta e pessoalmente (acréscimo nosso).
OBS: Incapacidade ≠ vulnerabilidade. A
vulnerabilidade é um estado inerente de risco que
enfraquece um dos contratantes, desequilibrando a
relação jurídica.
* O vulnerável não está impedido de praticar
diretamente qualquer ato.
Teoria das incapacidades (2)

• A proteção legal dada ao incapaz incide sobre todo


e qualquer ato jurídico. A tutela do vulnerável incide
apenas sobre a relação jurídica na qual ele estiver
inserido.
Algumas medidas jurídicas protetivas em favor do
incapaz:
a) não corre prazo de prescrição ou de decadência
contra o absolutamente incapaz (arts. 198, I, e 208);
b) os pais não podem alienar ou gravar com ônus real
os imóveis de filhos menores, nem contrair, em nome
deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples
administração, salvo por necessidade com autorização
do juiz, ouvido o Promotor de Justiça (art. 1.691);
c) ao incapaz é permitido, excepcionalmente, recobrar
o valor pago, voluntariamente, a título de dívida de jogo
ou aposta (art. 814);
Teoria das incapacidades (3)

d) o mútuo (empréstimo de coisa móvel) feito a pessoa


menor, sem prévia autorização do responsável, não
pode ser reavido (art. 588), salvo nas hipóteses previstas
em lei (art. 589);
e) ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação
anulada, pagou a um incapaz, se não provar que
reverteu em proveito dele a importância paga (art.
181);
f) havendo interesse de incapaz, a partilha no
inventário tem de ser judicial, vedada a partilha
amigável, em juízo ou em cartório (art. 2.015)
Incapacidade absoluta – privação da capacidade de
fato, em razão da idade.
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16
(dezesseis) anos.
Teoria das incapacidades (4)

* ECA: criança → até 12 anos. Adolescente → acima de 12


até antes dos 18 anos.
* Vedação do trabalho para menores de 16 anos, salvo na
condição de aprendizes.
* Necessidade de expressa concordância dos maiores de 12
anos para o deferimento da colocação em família
substituta.
Incapacidade relativa → permissão para o exercício de
alguns atos, e outros, por meio de assistência.
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à
maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015)
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
Teoria das incapacidades (5)

III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não


puderem exprimir sua vontade;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada
por legislação especial.
Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio). Art. 3º Para os efeitos de lei,
ficam estabelecidas as definições a seguir discriminadas:
I - Índio ou Silvícola - É todo indivíduo de origem e
ascendência pré-colombiana que se identifica e é
identificado como pertencente a um grupo étnico cujas
características culturais o distinguem da sociedade
nacional;
Os índios não integrados estão sujeitos a um regime tutelar
prestado pela União, por meio da Fundação Nacional do
Índio (FUNAI).
Teoria das incapacidades (6)

Ato praticado sem a assistência do representante legal →


pena de anulabilidade (art. 171, I).
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é
ANULÁVEL o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
Atos que podem ser praticados sem assistência:
Ser testemunha (art. 228, I),
Aceitar mandato (art. 666),
Fazer testamento (art. 1.860, parágrafo único),
Exercer emprego público para o qual não for exigida a
maioridade (art. 5º, parágrafo único, III),
Casar (art. 1.517),
Ser eleitor,
Firmar contrato de trabalho etc.
Teoria das incapacidades (7)

Para propor ações judiciais necessitam de assistência,


devendo ser citados, quando forem réus, juntamente com o
respectivo assistente.
O procurador do relativamente incapaz será o mesmo do
seu representante legal. Havendo conflito de interesse entre
eles, será dado curador especial (art. 1.692), pelo juiz.
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
Participam das relações jurídicas pessoalmente, assinando
documentos, se necessário, mas não podem fazê-lo
sozinhos, mas assistidos por seu representante legal (pai, mãe
ou tutor).
OBS: Se o menor agir de má-fé, escondendo a idade:
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode,
para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se
dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou
se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
Teoria das incapacidades (8)

II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;


A depender do grau de redução de entendimento, pela
intoxicação e dependência, podem ser, excepcionalmente,
colocados sob curatela pelo juiz. Da mesma forma, se a
embriaguez gerar um quadro em que não mais exista a
capacidade de autodeterminação do viciado (art. 84 da
Lei 13.146/2015).
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade;
Pessoa de condição psíquica normal, mas que se
encontrava em situação transitória, a qual não permitia
exprimir sua vontade, em perfeitas condições.
IV – os pródigos
O pródigo só se tornará relativamente incapaz após a
declaração de seu estado, em sentença de interdição.
Teoria das incapacidades (9)

Incide apenas em atos de disposição e oneração do


patrimônio. Pode, inclusive, administrá-lo, mas não pode
praticar atos que possam reduzi-lo, como “emprestar,
transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser
demandado” (art. 1.782). Tais atos dependem da assistência
do curador, sob pena de anulabilidade (art. 171, I).
A sentença não gera limitações aos atos de natureza
existencial.
A capacidade e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Lei nº 13.146/2015).
Capacidade plena da pessoa com deficiência, salvo se não
puder exprimir sua vontade → incapacidade relativa.
Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito
ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de
condições com as demais pessoas.
§ 1º QUANDO NECESSÁRIO, a pessoa com deficiência será
submetida à curatela, conforme a lei.
O nascituro.

O nascituro: concebido, porém, não nascido ainda.


Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do
nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.
As teorias natalista e concepcionista.
Direito à vida (art. 5º CF), art. 7º do ECA que impõe
a salvaguarda do nascimento do nascituro,
através do reconhecimento do direito à assistência
pré-natal.
Alimentos gravídicos (Lei nº 11.804/08)
Arts. 124 a 128 CP criminalização do aborto.
A proteção dedicada ao nascituro, entrementes, não
obsta o reconhecimento da possibilidade de aborto do
feto anencefálico, (STF, Tribunal Pleno, ADPF 54/DF, Rel.
Min. Marco Aurélio), uma vez que, além da falta de
viabilidade potencial de vida humana, há de se
preservar a integridade física e psíquica da gestante.
A emancipação

O nascituro também tem direito aos danos morais


pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-
lo conhecido em vida tem influência na fixação do
quantum” (STJ, Ac. 4ª T., REsp. 399.028/SP, Rel. Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU 15.4.2002, p. 232)
A emancipação: aquisição da capacidade civil, antes
da idade legal.
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos,
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os
atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a
incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do
outro, mediante instrumento público,
independentemente de homologação judicial, ou por
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver
dezesseis anos completos;
A emancipação (2)

II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela
existência de relação de emprego, desde que, em
função deles, o menor com dezesseis anos completos
tenha economia própria.
Não causa efeito na esfera penal;
Gera a responsabilidade patrimonial do emancipado,
salvo se o foi por dolo dos pais;
Não gera direitos vinculados a uma idade biológica
Espécies:
a) convencional; concessão dos pais, ou de um deles,
através de escritura pública feita no Tabelionato de Notas
e registrada no CRC, sem a necessidade de
homologação judicial.
A emancipação (3)

b) Judicial: concedida pelo juiz, ouvido o tutor, caso o


menor tenha 16 anos (art. 5º, § único, I, 2ª parte).
c) legal: concedida por previsão legal, automaticamente.
c.1 – casamento
Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento
de quem não atingiu a idade núbil, observado o disposto no art.
1.517 deste Código.
c.2) exercício de emprego público efetivo
c.3) colação de grau em curso de ensino superior
A pessoa natural

A pessoa natural (pessoa física)


Equívoco na definição de pessoa natural como o ser
humano biologicamente concebido → possibilidades
trazidas pela biotecnologia → concepção artificial, através
das técnicas de fertilização medicamente assistida
(fertilização in vitro e inseminação artificial)
Art. 1º - Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem
civil.
Nascido vivo é aquele que respira e tem batimentos
cardíacos após a retirada completa do produto da
concepção.
Comprova-se o nascimento com vida através da presença
de ar nos pulmões → docimasia hidrostática de Galeno ou
docimasia pulmonar e tem efeitos práticos no direito
sucessório
A pessoa natural (status)

Estado civil (status). Orlando Gomes → estado (status) “é a


noção técnica destinada a caracterizar a posição jurídica
da pessoa no meio social”.
É a posição jurídica da pessoa no meio social, de modo a
produzir efeitos diversos.
Espécies:
a) Quanto ao estado individual,
a.1) idade (maior ou menor de 18 anos);
a.2) capacidade - capaz ou incapaz
a.3) sexo - masculino e feminino, sem prejuízo do
reconhecimento dos transgêneros
b) Quanto ao estado familiar (estado civil):
b.1) matrimônio (solteiro, casado, divorciado, viúvo)
A pessoa natural (status - 2)

b.2) parentesco (mãe, pai, filho, irmãos, sogro, nora,


cunhado). Decorre de laços de sangue (pai, mãe, filho,
avô, avó, netos, irmãos, tios, sobrinhos e primos) ou de
afinidade, entre um dos cônjuges e os parentes do
outro (sogro, sogra, nora, genro, cunhado).
Na linha direta → ascendentes (pais, avós, bisavós) e
descendentes (filhos, netos e bisnetos).
Na linha colateral → irmãos, primos, tios, sobrinhos.
c) Quanto ao estado político (qualificação a partir de
sua posição frente à nação a que pertence)
c.1) nacional – nato ou naturalizado
c.2) estrangeiro
As ações de estado: atuam para que o titular do direito
possa defender estes estados judicialmente, quer seja para
declarar a existência de situações jurídicas (investigação de
paternidade) bem como para criar, modificar, ou extinguir
(divórcio).
A pessoa natural (status - 3)

Não geram os efeitos da revelia, embora deva ser


declarada (art. 345, II, CPC/15).
Exemplos: (i) a interdição e a redesignação de estado
sexual (relativas ao estado pessoal); (ii) o divórcio, a
anulação de casamento e a investigação de
paternidade (dizendo respeito ao estado familiar); (iii) a
ação de aquisição de nacionalidade brasileira
(concernente ao estado político).
OBS - posse de estado → a projeção da teoria da
aparência na estruturação do estado da pessoa.
Francisco Amaral: a posse de estado é “o exercício
constante e público dos fatos próprios de tal estado, é
a situação aparente de uma pessoa”.
Prova-se pela demonstração de nome, tratamento e fama,
correspondendo à publicidade na utilização do estado da
pessoa que se alega ter.
A pessoa natural (extinção)

Extinção da pessoa natural


Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a
morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos
casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva.
A morte → parada cardíaca prolongada e ausência
de respiração, o que acarreta a cessação total e
permanente dos órgãos vitais, mas, para efeitos de
transplantes basta a morte encefálica.
Em razão da dificuldade de delimitar o conceito de
morte encefálica, um dos profissionais da Medicina
responsáveis pela declaração deve ser neurologista.
Com o óbito, haverá uma modificação subjetiva nas
relações jurídicas patrimoniais mantidas pelo falecido
(de cujus), que passam a ser titularizadas por seus
sucessores (art. 1.784).
A pessoa natural (extinção)

Lei dos transplantes (Lei 9434/97): Art. 3º A retirada post


mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano
destinados a transplante ou tratamento deverá ser
precedida de diagnóstico de morte encefálica,
constatada e registrada por dois médicos não
participantes das equipes de remoção e transplante,
mediante a utilização de critérios clínicos e
tecnológicos definidos por resolução do Conselho
Federal de Medicina.
Em razão da dificuldade de delimitar o conceito de
morte encefálica, um dos profissionais da Medicina
responsáveis pela declaração deve ser neurologista.
Com o óbito, haverá uma modificação subjetiva nas
relações jurídicas patrimoniais mantidas pelo falecido
(de cujus), que passam a ser titularizadas por seus
sucessores (art. 1.784).
A pessoa natural (extinção - 3)

Lei a utilização de critérios clínicos e tecnológicos


definidos por resolução do Conselho Federal de
Medicina.
Efeitos causados pela extinção da pessoa natural:
A imediata cessação de todos os direitos e obrigações
Abertura da sucessão (art. 1.784), gerando a
transmissão imediata, do patrimônio do falecido aos
seus sucessores;
A dissolução da relação conjugal (art. 1.571, I)
Extinção de contratos personalíssimos
Cessa a obrigação de alimentos, para ambas as partes
(art. 1.697), transmitindo-se aos herdeiros do
alimentante as parcelas vencidas e não paga.
A pessoa natural (extinção - 4)

A morte presumida:
• Quando a lei autoriza a abertura da sucessão
definitiva (art. 37, CC)
• Quando não é necessária a decretação de
ausência: (art. 7º, CC)
CC, Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem
decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava
em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito
prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término
da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses
casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas
as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
provável do falecimento
A pessoa natural (extinção - 5)

• Art. 88, da Lei 6.015/73 (justificação de óbito)


Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação
para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em
naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer
outra catástrofe, quando estiver provada a sua
presença no local do desastre e não for possível
encontrar-se o cadáver para exame
• Art. 1º da Lei 9.140/95:
Art. 1º São reconhecidos como mortas, para todos os
efeitos legais, as pessoas que tenham participado, ou
tenham sido acusadas de participação, em atividades
políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 5 de
outubro de 1988, e que, por este motivo, tenham sido
detidas por agentes públicos, achando-se, deste
então, desaparecidas, sem que delas haja notícias.
A pessoa natural (extinção - 6)

Comoriência: Art. 8º Se dois ou mais indivíduos


falecerem na mesma ocasião, não se podendo
averiguar se algum dos comorientes precedeu aos
outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
Ausência (arts. 22/39)
1ª fase – curadoria de bens do ausente: arts. 22/25
2ª fase – sucessão provisória: arts. 26/36
3ª fase – sucessão definitiva - arts. 37/39
O Registro Civil e a Lei 6.015/1973

O Registro Civil
→ publicidade aos fatos jurídicos essenciais à vida em
sociedade, dando → segurança e eficácia a tais fatos.
→ dar validade a certos fatos jurídicos ► constituição
da PJ, aquisição de propriedade de um imóvel.
A Lei nº 6015/73, que dispõe sobre a matéria elenca os
registros
I - o registro civil de pessoas naturais;
II - o registro civil de pessoas jurídicas;
III - o registro de títulos e documentos;
IV - o registro de imóveis
O Registro Civil e a Lei 6.015/1973 (2)

• CC, art. 9º Serão registrados em registro público:


I - os nascimentos, casamentos e óbitos;
II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do
juiz;
III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
IV - a sentença declaratória de ausência e de morte
presumida.
Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:
I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do
casamento, o divórcio, a separação judicial e o
restabelecimento da sociedade conjugal;
II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou
reconhecerem a filiação;
O nome da pessoa física

O nome
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele
compreendidos o prenome e o sobrenome.
Forma de identificação da pessoa. É direito
personalíssimo, extrapatrimonial. O registro é sua prova.
O direito ao nome é intransmissível, imprescritível, e
irrenunciável, não podendo ser alienado por ato inter
vivos ou “mortis causa”. Já o nome comercial pode ser
comercializado.
Divisão:
a) prenome – é o 1º nome; o nome de batismo, podendo
ser simples ou composto.
b) patronímico – é o nome de família, também chamado
de sobrenome.
Apelido tanto é o patronímico, no sentido de “nome ou
apelido de família”, como o cognome (Pelé, Xuxa).
O nome da pessoa física (2)

O agnome não tem previsão no CC, e é a designação


que serve para diferenciar alguém na família (Neto,
Filho, Júnior).
Alteração do nome:
Necessárias – mudança do estado de filiação
(reconhecimento ou negação de paternidade,
adoção), preservando-se o nome de família.
Voluntárias – decorrem da vontade.
a) Casamento
b) Arts. 56/57 da LRP (com redação dada pela Lei
14.382/22)
Art. 56. A pessoa registrada poderá, após ter atingido a
maioridade civil, requerer pessoalmente e
imotivadamente a alteração de seu prenome,
independentemente de decisão judicial, e a alteração
será averbada e publicada em meio eletrônico.
O nome da pessoa física (3)

§1º A alteração imotivada de prenome poderá ser feita na via


extrajudicial apenas 1 (uma) vez, e sua desconstituição
dependerá de sentença judicial.
§2º A averbação de alteração de prenome conterá,
obrigatoriamente, o prenome anterior, os números de
documento de identidade, de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas (CPF) da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil,
de passaporte e de título de eleitor do registrado, dados esses
que deverão constar expressamente de todas as certidões
solicitadas.
Art. 57. A alteração posterior de sobrenomes poderá ser
requerida pessoalmente perante o oficial de registro civil, com a
apresentação de certidões e de documentos necessários, e
será averbada nos assentos de nascimento e casamento,
independentemente de autorização judicial, a fim de:
I - inclusão de sobrenomes familiares;
II - inclusão ou exclusão de sobrenome do cônjuge, na
constância do casamento;
O nome da pessoa física (4)

III - exclusão de sobrenome do ex-cônjuge, após a


dissolução da sociedade conjugal, por qualquer de suas
causas;
IV - inclusão e exclusão de sobrenomes em razão de
alteração das relações de filiação, inclusive para os
descendentes, cônjuge ou companheiro da pessoa que teve
seu estado alterado
§2º Os conviventes em união estável devidamente registrada
no registro civil de pessoas naturais poderão requerer a
inclusão de sobrenome de seu companheiro, a qualquer
tempo, bem como alterar seus sobrenomes nas mesmas
hipóteses previstas para as pessoas casadas.
§7º Quando a alteração de nome for concedida em razão
de fundada coação ou ameaça decorrente de colaboração
com a apuração de crime, o juiz competente determinará
que haja a averbação no registro de origem de menção da
existência de sentença concessiva da alteração, sem a
averbação do nome alterado, que somente poderá ser
O nome da pessoa física (5)

procedida mediante determinação posterior, que levará em


consideração a cessação da coação ou ameaça que deu
causa à alteração.
§ 8º O enteado ou a enteada, se houver motivo justificável,
poderá requerer ao oficial de registro civil que, nos registros
de nascimento e de casamento, seja averbado o nome de
família de seu padrasto ou de sua madrasta, desde que haja
expressa concordância destes, sem prejuízo de seus
sobrenomes de família.
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a
sua substituição por apelidos públicos notórios.
Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda
admitida em razão de fundada coação ou ameaça
decorrente da colaboração com a apuração de crime, por
determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o
Ministério Público.
O nome da pessoa física (6)

c) Art. 55 da LRP – exposição da pessoa ao ridículo


§1º O oficial de registro civil não registrará prenomes
suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores,
observado que, quando os genitores não se conformarem
com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso
à decisão do juiz competente, independentemente da
cobrança de quaisquer emolumentos.
A proteção ao nome
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por
outrem em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio
em propaganda comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza
da proteção que se dá ao nome.
Domicílio da pessoa física

Súmula 403 STJ: Independe de prova do prejuízo a


indenização pela publicação não autorizada de
imagem de pessoa com fins econômicos ou
comerciais.
Domicílio: “lugar onde estabelece residência com ânimo
definitivo, convertendo-o em regra, em centro principal
de seus negócios jurídicos ou de sua atividade
profissional” (Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona).
Sede principal dos negócios da pessoa. Envolve a ideia
de residir (vida privada) e a externa (atividades).
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela
estabelece a sua residência com ânimo definitivo
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas
residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á
domicílio seu qualquer delas.
Domicílio da pessoa física (2)

Residência indica o estabelecimento de uma pessoa em


determinado lugar
Elementos do domicílio:
Objetivo: permanência em determinado lugar, em razão
da atividade que desenvolve.
Subjetivo: ânimo de ter esse lugar como sede de seus
interesses.
Importância para o direito processual:
CPC: Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em
direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no
foro de domicílio do réu.
§ 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado
no foro de qualquer deles.
§ 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele
poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de
domicílio do autor.
O domicílio da pessoa física (3)

✓ Tipos:
Domicílio voluntário (art. 70);
Domicílio necessário ou legal (art. 76);
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor
público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu
representante ou assistente; o do servidor público, o lugar
em que exercer permanentemente suas funções; o do
militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica,
a sede do comando a que se encontrar imediatamente
subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver
matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a
sentença.
- Domicílio contratual ou convencional: (art. 78).
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes
especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os
direitos e obrigações deles resultantes.
O domicílio da pessoa física (4)

Pluralidade de domicílios:
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às
relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares
diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações
que lhe corresponderem.
Domicílio da pessoa jurídica:
Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração
municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as
respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem
domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
§1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em
lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio
para os atos nele praticados.
O domicílio da pessoa física (4)

Pluralidade de domicílios:
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às
relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares
diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações
que lhe corresponderem.
Domicílio da pessoa jurídica:
Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração
municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as
respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem
domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
§1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em
lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio
para os atos nele praticados.
A pessoa jurídica

1– Conceito e noções gerais


“Conjunto de pessoas ou de bens, dotado de personalidade
jurídica própria e constituído na forma da lei, para
consecução de fins comuns” (Carlos Roberto Gonçalves).
O ordenamento jurídico empresta autonomia e
independência, dotando-as de estrutura própria e
personalidade jurídica distinta daqueles que a instituíram.
* Concretização de certos objetivos só poderiam ser
alcançados através da reunião entre as pessoas.
2 – Características
a) personalidade jurídica distinta dos seus instituidores,
adquirida a partir do registro de seus estatutos;
Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus
sócios, associados, instituidores ou administradores.
A pessoa jurídica (2)

b) patrimônio também distinto dos seus membros (exceto no


caso de desconsideração da pessoa jurídica);
c) existência jurídica diversa de seus integrantes (é
presentada por eles, não se confundindo a personalidade de
cada um);
d) não podem exercer atos que sejam privativos de pessoas
naturais, em razão de sua estrutura biopsicológica;
e) podem ser sujeito passivo ou sujeito ativo em atos civis e
criminais
3 – Natureza jurídica
3.1 - Teorias negativistas
3.2 - Teorias afirmativistas.
Teoria da ficção (Windscheid, Savigny): a pessoa jurídica seria
uma abstração, uma ficção criada pelo Direito, pois só os
sujeitos dotados de vontade poderiam, por eles mesmos, ser
titulares de direitos.
A pessoa jurídica (3)

Teoria da realidade objetiva (organicista): analogia aos seres


humanos. Assim, ela seria a soma do “corpus” (conjunto de
bens) + o “animus” (vontade dos seus membros). Não
explicava como esse ser adquire vida própria.
Teoria da realidade técnica: sua constituição ocorre por uma
técnica jurídica, que enseja a personificação desse grupo.
Esse processo lhe atribui capacidade jurídica.
Logo, a existência da pessoa jurídica de direito privado
depende da inscrição do seu ato constitutivo no órgão
competente.
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de
direito privado com a inscrição do ato constitutivo no
respectivo registro, precedida, quando necessário, de
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-
se no registro todas as alterações por que passar o ato
constitutivo.
A pessoa jurídica (4)

4 - Pressupostos de existência
a) Vontade humana criadora (affectio societatis): decorre
do interesse das partes em criarem uma pessoa jurídica, e
através dela desenvolverem os objetivos pretendidos.
b) Organização de pessoas ou destinação de um patrimônio
afetado a um fim específico;
c) observância das condições legais para a sua instituição: a
PJ terá que se adequar às determinações para obter seu
registro, sendo que, para algumas atividades deverá haver
uma autorização do Estado para o seu funcionamento
Art. 1.123. A sociedade que dependa de autorização do
Poder Executivo para funcionar reger-se-á por este título, sem
prejuízo do disposto em lei especial.
Parágrafo único. A competência para a autorização será
sempre do Poder Executivo federal
A pessoa jurídica (5)

O Brasil adota um sistema misto denominado de sistema das


disposições normativas → para a concessão de
personalidade, necessária apenas a adequação das regras
vigentes para a constituição da PJ.
Isto corresponde à elaboração do ato constitutivo (estatuto nas
associações, o contrato social nas sociedades simples e
empresárias e a escritura pública ou testamento para as
fundações), bem como o devido registro de tal ato constitutivo
d) licitude do objetivo.
5 - surgimento da pessoa jurídica: realização do registro dos
estatutos sociais da pessoa jurídica no Cartório do Registro
Civil das Pessoas Jurídicas (em caso de fundação,
associação ou sociedade simples) ou na Junta Comercial
(quando se trate de sociedade empresarial ou
microempresa). ou no Cartório de Registro Público de
Empresas Mercantis (art. 1.150 CC e art. 114, LRP)
A pessoa jurídica (6)

* Casos especiais de registro:


a) na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para as
sociedades anônimas que pretendam lançar ações no
mercado
b) TSE para os partidos políticos (art. 7º da Lei no 9.096/95).
c) entidades de classe – (sociedades simples ou unipessoal
de advogados → OAB: arts. 15 e 16, § 3º, da Lei nº 8.906/94)
d) sindicatos (Ministério do Trabalho, pela questão territorial).
* Casos especiais de prévia autorização estatal:
a) estabelecimentos bancários, de seguro, de montepio e
caixas econômicas (salvo as cooperativas e os sindicatos
profissionais e agrícolas legalmente organizados) - art. 192, I,
II, III, CF/88
A pessoa jurídica (7)

b) empresas de mineração (Decreto-lei n° 227/67 – Código de


Mineração) e as empresas de exploração e aproveitamento
industrial das águas e da energia elétrica (Decreto nº
24.643/34 – Código de Águas).
c) empresa estrangeira – CC e Instrução Normativa DREI
(Departamento de Registro Empresarial e Integração) nº 7, de
05/12/2013,
* Elementos constantes do registro
Art. 46. O registro declarará:
I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o
fundo social, quando houver;
II - o nome e a individualização dos fundadores ou
instituidores, e dos diretores;
III - o modo por que se administra e representa, ativa e
passivamente, judicial e extrajudicialmente;
A pessoa jurídica (8)

IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à


administração, e de que modo;
V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais;
VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino
do seu patrimônio, nesse caso.
O processo de constituição da PJ se divide em duas fases:
a) o momento do ato constitutivo - elaboração, por escrito,
do documento básico da sociedade (estatuto ou contrato
social)
b) o momento do registro público, referente à inscrição do ato
constitutivo no órgão competente
A pessoa jurídica (9)

6 - As sociedades irregulares ou de fato (art. 986 e ss)


Não terão personalidade e capacidade, mas serão
responsáveis por deveres perante terceiros.
A responsabilidade será solidária e ilimitada (art. 990).
Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente
pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem,
previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.
7 - Entes despersonalizados: São entidades que se formam
independentemente da vontade dos seus membros ou em
virtude de um ato jurídico que os vincule a determinados bens,
sem que haja a affectio societatis” (Carlos Roberto Gonçalves)
“Constituem um conjunto de direitos e obrigações, de pessoas e
de bens sem personalidade jurídica e com capacidade
processual, mediante representação” (Maria Helena Diniz)
A pessoa jurídica (10)

Certos entes não podem se conter dentro dos parâmetros da


PJ, previstos no CC, por ausência de requisitos necessários à
sua subjetivação, não obstante atuem ativa e passivamente
em Juízo.
Estes grupos despersonalizados não decorrem da vontade,
mas de uma previsão legal, por certas hipóteses da vida.
CPC: Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e
passivamente:
• V - a massa falida, pelo administrador judicial;
• VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador;
• VII - o espólio, pelo inventariante;
• XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico.
OBS: a herança jacente é o patrimônio sem herdeiro
conhecido (art. 1.819) e a herança vacante (arts. 1820 e 1823)
é o patrimônio sem que haja herdeiro habilitado, após findo o
inventário.
A pessoa jurídica (11)

8 – Capacidade e presentação da pessoa jurídica


A PJ tem uma capacidade jurídica especial, pois sua área de
atuação estará delineada por seus atos constitutivos e na
própria lei. A prática de atos que exorbitem os limites da sua
atividade poderá gerar a sua ineficácia.
Exs.: financeira sem autorização legal; empresa de locação que
faz obra de engenharia, etc.
Por não ter existência física, a PJ dependerá da existência de
um órgão (conselho, diretoria) para manifestar seus interesses e
praticar seus atos, através de alguém que tecnicamente
falando, a presente, pois a PJ não é um incapaz.
Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores,
exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato
constitutivo.
Enunciado 145 da 3ª Jornada de Direito Civil: O art. 47 não
afasta a aplicação da teoria da aparência.
A pessoa jurídica (12)

9 – Classificações da pessoa jurídica


9.1 - Quanto à nacionalidade
a) nacional – que adquiriu personalidade pelo direito brasileiro;
organizada conforme a lei brasileira e que tem no Brasil a sua
sede principal e os seus órgãos de administração.
b) estrangeira - formada em outro país, e que não poderá
funcionar no Brasil sem autorização do Poder Executivo.
Obedecem à lei nacional de sua origem, porém suas
agências ou filiais no Brasil estejam sob a lei nacional, inclusive
no que respeita à autorização para funcionamento.
9.2 – Quanto à estrutura interna
a) Corporação – é o conjunto de pessoas que atua com fins e
objetivos próprios (sociedades, associações, partidos políticos
e entidades religiosas).
b) Fundação – é o conjunto de bens arrecadados com
finalidade e interesse social.
A pessoa jurídica (13)

9.3 – Quanto às funções e capacidade


a) Pessoa jurídica de direito público – é o conjunto de pessoas
ou bens que visa atender a interesses públicos, sejam internos
ou externos.
a.1) Pessoa jurídica de direito público interno: a União, os
Estados, o Distrito Federal, os Territórios, os Municípios, as
autarquias, as associações públicas e as demais entidades de
caráter público em geral.
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:
I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
A pessoa jurídica (14)

Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas


jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de
direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu
funcionamento, pelas normas deste Código.
Incluem-se no inciso V, as agências reguladoras (ANATEL, ANS,
etc.) e as fundações públicas.
As fundações públicas são pessoas jurídicas de direito público
interno, instituídas por lei específica mediante a afetação de um
acervo patrimonial do Estado a uma dada finalidade pública.
São exemplos de Fundações Pública: Funai, Funasa, IBGE,
Funarte e Fundação Biblioteca Nacional.
OBS. - As PJ de direito público e que tenham estrutura de
Direito Privado (empresas públicas e das sociedades de
economia mista), são regulamentadas, no que couber e
quanto ao seu funcionamento, pelo CC.
A pessoa jurídica (15)

Empresas públicas são pessoas jurídicas de direito privado,


integrantes da Administração Indireta, instituídas pelo Poder
Público, mediante autorização de lei específica, sob qualquer
forma jurídica (Ltda., S/A, etc) e com capital exclusivamente
público, para a exploração de atividades de natureza
econômica ou execução de serviços públicos
Exemplos de empresas públicas: Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos - ECT; Serviço Federal de Processamento de
Dados - SERPRO; Caixa Econômica Federal - CEF, etc.
Sociedades de economia mista são pessoas jurídicas de
direito privado, integrantes da Administração Indireta,
instituídas pelo Poder Público, mediante autorização legal, sob
a forma de sociedade anônima e com capitais públicos e
privados, para a exploração de atividades de natureza
econômica ou execução de serviços públicos.
Eexemplos de sociedades de economia mista: o Banco do
Brasil S/A e a Petrobrás (Petróleo Brasileiro S/A).

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