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Direito – conjunto de normas dotadas de proteção coativa que visam reger a vida em
sociedade. O Direito tem por função realizar a justiça, garantir a segurança e o bem-estar
económico e social de uma sociedade, num dado tempo.
o O objeto material do Direito, isto é, a matéria a que ele se reporta é a vida social, as relações
das pessoas entre si (relações inter-humanas). Assim sendo o Direito não é uma mera
realidade abstrata, uma vez que resolvem os casos concretos da vida em sociedade.
o Distinções relevantes:
- Negócio Jurídico Unilateral: há apenas uma declaração de vontade ou, no caso de haver
mais do que uma, todas têm o mesmo conteúdo, são iguais;
- Negócio Jurídico Bilateral (contrato): há duas ou mais declarações de vontade, de
conteúdo diferente ou contrário, mas convergente, ajustando-se reciprocamente, com o
objetivo de produzir um resultado unitário.
Liberdade contratual (art.º 405.º CC) como principal manifestação da autonomia
privada:
- Liberdade de celebração e conclusão de contratos;
- Liberdade de modelação do conteúdo contratual;
- Liberdade de adesão.
Limitações:
- O objeto do contrato tem de respeitar o art.º 280.º do CC;
- São anuláveis os negócios usuários (art.º 282.º do CC);
- Algumas áreas da vida estão limitadas por normas imperativas, em particular quando
relativas à família, às sucessões, entre outras.
2. Responsabilidade Civil:
Os comportamentos (atos ou omissões) causam muitas vezes prejuízos a outras pessoas. Quem
suporta esse prejuízo?
A responsabilidade civil consiste na necessidade imposta pela lei a quem causa prejuízos a
outrem de colocar o ofendido na situação em que estaria sem a lesão, obrigação de
indemnização. Ver artigos 483.º (princípio geral), 484.º, 485.º e 486.º do CC.
Facto ilícito:
O primeiro requisito para se verificar responsabilidade é a existência de um facto humano
voluntário.
Não será facto relevante para este efeito o evento natural onde não intervenha a vontade
humana minimamente determinante. ex: uma inundação que cause danos na habitação de uma
pessoa não é facto para efeitos de responsabilidade civil extracontratual- não é um facto
humano voluntário.
As causas exclusão da ilicitude são circunstâncias que excluem a responsabilidade civil. Estas
causas são uma exceção ao art.1 da CRP.
1. Ação Direto-prevista no 336ºCC
É a situação em que se encontra justificado o recurso à força com o fim de assegurar o
próprio direito quando se verifique a impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios
coercivos normais, e desde que o agente use a força o estritamente necessária. Ex.: Um
filho menor é confiado pelo tribunal à guarda do pai. Num dia, a mãe apodera-se da criança
e tenta fugir. Nestas situações é lícito o impedimento pela força pelo pai para evitar a fuga,
contanto que não exceda os limites impostos pela lei.
2. Legítima defesa-337ºCC
É a situação em que se considera justificado o ato destinado a afastar qualquer agressão
dirigida contra o agente ou contra terceiro, desde que se verifique os seguintes requisitos: -
agressão atual e ilícita; -defesa proporcional. Ex.: António está para lançar fogo a uma seara
de bento. Carlos, que ao passar pelo local se aperceba da situação, agride António,
impedindo-o de consumar o ato. A conduta de António é lícita na medida em que visa
defender o património de Bento e não usou do que os meios necessários.
3. Estado de necessidade-337º
É a situação de constrangimento em que fica quem sacrifica coisa alheia com fim de afastar
um perigo atual de um perigo manifestamente superior. O estado necessidade torna lícitos
certos atos que de outro modo não seriam:
Ex.1: Para apagar um incendio em certa propriedade, causam-se danos na propriedade
contígua. A obrigação de indemnizar cabe ao dono da que foi incendida.
Ex.2: António, para levar o seu irmão ao hospital em estado grave, utiliza um automóvel
alheio, tendo-lhe causado alguns danos. António deverá indemnizar o proprietário do
referido automóvel pelo prejuízo causado.
O nexo de imputação subjetiva(culpa):
Culpa em sentido lato é a imputação de um ato ilícito ao seu autor. A culpa para a
responsabilização civil abrange tanto o dolo como a negligência, ou seja, todas as espécies de
comportamentos contrárias ao direito, sejam intencionais ou não, mas sempre imputáveis ao
causador do dano.
O Dano:
Quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situação que existiria, se não se
tivesse verificado o evento que obriga à reparação. Tal reconstituição é possível de alcançar
através de reconstituição natural (art.º 562.º) ou mediante o pagamento de uma indemnização
em dinheiro (art.º 566.º).
No entanto na responsabilidade civil, a indemnização nunca poderá exceder o montante dos
prejuízos que é a regra comum ou critério geral para a fixação do montante da indemnização,
quer seja fundada em dolo como em culpa. O dano ou prejuízo é sempre a ofensa ou a lesão de
um interesse. O dano poderá ser patrimonial (avaliável em dinheiro) ou moral (não avaliável
em dinheiro).
Classificação de Danos:
1. Danos Patrimoniais e Danos não Patrimoniais:
− Danos patrimoniais: são aqueles que incidem sobre interesses de natureza material ou
económica, uma vez que se refletem no património do lesado. Ex.: Os estragos feitos
numa coisa ou privação do seu uso.
− Danos não patrimoniais (art.º 496.º): São objeto de indemnização, logo avaliáveis
pecuniariamente. Os valores que são violados é que não são traduzidos em dinheiro.
Ex.: o sofrimento ocasionado pela morte de uma pessoa; o desgosto derivado de uma
injuria ou as dores físicas produzidas por uma agressão.
3. Boa-Fé
− Exprime a preocupação pela ordem jurídica dos valores ético-jurídicos da comunidade;
− Cria uma abertura no Direito, reconhecendo como válidas considerações normativas de
fontes não jurídicas;
− Assume relevância principal no âmbito dos contratos (ex.: Art.º 243.º n.º 2 ou art.º 291.º n.º
3 do Código Civil);
− Acompanha a relação contratual desde o início, acompanha a sua vida, e continua após a
sua cessação;
− Conexa com o princípio da confiança – atribuindo efeitos jurídicos a uma situação que
seria, de outra forma, apenas aparente.
6. Relevância da Família
O direito civil português contém entre os seus princípios básicos o reconhecimento da família.
é uma realidade natural e social, cuja existência se manifesta, antes de mais, em planos ou
domínios da vida estranhos ao plano jurídico. Se a família e os valores e sentimentos nela
contidos têm um fundamento pessoal, por que a razão disciplina do Direito esta matéria?
Por duas ordens de razões:
1. A ordenação da família não contém uma disciplina de todos os problemas respetivos em
termos acabados, tornando-se necessária uma formulação certa, precisa e completa do
regime jurídico correspondente;
2. Existirem regras jurídicas que disciplinam a família, consagra vivamente o sentimento dos
deveres e direitos dos membros da família, e permite, em situações de crise, disciplinar com
justiça e certeza a posição dos sujeitos.
O Direito da Família é caracterizado por um acentuado predomínio de normas imperativas, isto
é, de normas que os particulares não podem afastar. É um ramo do direito civil muito sensível
às modificações das estruturas políticas, económicas e sociais, designadamente religiosas.
Basta pensar no tratamento que cada sociedade dá ao problema da admissibilidade ou rejeição
do divórcio, do casamento religiosa ou civil, da união de facto em condições análogas às dos
cônjuges, do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A atual CRP os arts.36º, 67º, 68º e 69º contém normas respeitantes à família. Ao direito da
família dedica o CC um livro- o Livro 4 (arts.1576º a 2020º), como exigência dos novos
princípios constitucionais.
Art.º 1576.º - podemos considerar a família como o conjunto das pessoas unidas por vínculo
emergentes do casamento, do parentesco, da afinidade e da adoção.
A reforma de 1977 deu uma redação ao art.1577º, passando a definir o casamento como “o
contrato celebrado entre 2 pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante
uma plena comunhão de vida, nos termos das disposições deste CC”.
Redação da seguinte Lei n.º 9/2010: Art.º 1577.º - Noção do casamento. Nos termos do
art.1587º, o casamento é católico ou civil.
O casamento (civil ou católico) dissolve-se por morte ou por divórcio.
- Parentesco - Art.º 1578.º; é o vínculo entre 2 pessoas resultantes de uma delas descender
da outra ou ambas terem um progenitor comum.
- Afinidade - Art.º 1584.º; o vínculo que liga um dos cônjuges aos parentes do outro. Já não
há afinidade nem qualquer vínculo jurídico familiar entre um dos cônjuges e os afins do
outro.
- Adoção - Art.º 1586.º; define como: “O vínculo que, à semelhança da filiação natural, mas
independentemente dos laços do sangue, se estabelece legalmente entre 2 pessoas nos
termos do art.º 1973.º e seguintes.
É uma fonte de relações familiares que foi reintroduzida no nosso ordenamento jurídico
pelo atual CC. Trata-se de um vínculo que estabelece entre 2 pessoas um parentesco legal,
por oposição ao parentesco natural, do tipo paternidade filiação.
7. Fenómeno sucessório
− O destino das relações jurídicas depois da morte
− O chamamento dos sucessores à herança
− A quota indisponível
− O testamento e o contrato sucessório
Relação Jurídica
Relação Jurídica - vínculo entre 2 ou mais pessoas (singulares ou coletivas) ao qual as normas
jurídicas atribuem direitos e obrigações.
É composta por:
- Sujeito: as pessoas (singulares ou coletivas) entre as quais existe um vínculo digno de
proteção jurídica;
- Objeto: é o que dá origem à relação jurídica, corresponde à realidade sobre que recai o
poder do sujeito ativo, realidade essa que pode ser uma coisa (art.º 202.º a 212.º CC), uma
prestação, uma pessoa ou um direito. Tem de respeitar o artigo 280.º do CC;
- Facto Jurídico: todo o facto humano ou evento natural produtor de efeitos jurídicos;
- Garantia: é o conjunto de providências coercivas postas à disposição do titular do direito,
destina-se, em princípio, à indemnização de danos patrimoniais ou não patrimoniais
causados pelo incumprimento de uma obrigação.
Assim sendo a relação jurídica existe entre sujeitos, incide sobre um objeto, emerge de um
facto jurídico e está dotada de garantia.
Direitos potestativos – poderes jurídicos de, por um ato de livre vontade, só por si ou de acordo
com uma decisão judicial, produz efeitos jurídicos que se impõem à outra parte.
Podem ser:
- Constitutivos – produzem a constituição de uma nova relação jurídica;
- Modificativos – produzem a modificação de uma relação jurídica já existente;
- Extintivos – produzem a extinção de uma relação jurídica existente.
Pode ser:
- Capacidade de gozo: é o conteúdo necessário da personalidade jurídica, ligada à faceta da
titularidade, pelo que consiste na aptidão de ser sujeito ativo ou passivo de relações
jurídicas.
- Capacidade de exercício: capacidade de agir, é a suscetibilidade de praticar atos jurídicos
pessoal e livremente, ou seja, a capacidade para atuar juridicamente, exercendo direito ou
cumprindo deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigações.
As incapacidades (menoridade ou maior acompanhado) são de exercício, não de gozo.
A capacidade jurídica surge com a maioridade ou a emancipação para as pessoas singulares.
Incapacidade Jurídica
Incapacidade de exercício – casos em que o grau de imaturidade ou impreparação das pessoas
afeta a capacidade do governo das suas vidas e bens, não está apto para exercer um
determinando direito de que é titular, esta incapacidade pode ser suprida.
Incapacidade de gozo – casos em que determinada pessoa não tem aptidão para ser sujeito ativo
e passivo de certas relações jurídicas. Ao contrário da incapacidade de exercício, a
incapacidade de gozo é insuprível.
Menoridade:
Entende-se por menoridade a situação de incapacidade jurídica dos menores. A incapacidade
jurídica do menor tem início com o seu nascimento e cessa com a maioridade, aos dezoito anos
(causa normal do termo da incapacidade do menor nos termos do artigo 130.º do Código Civil),
ou ainda com a emancipação pelo casamento, a partir dos 16 anos (artigos 132.º e 1601.º, alínea
a) do CC). Os efeitos da menoridade relativamente à capacidade de gozo são limitados,
podendo afirmar-se que o menor tem capacidade genérica de gozo (artigo 67.º do CC). As
limitações previstas relativamente à capacidade de gozo têm incidência sobretudo no plano não
patrimonial (por exemplo, limitações relativas à capacidade de contrair casamento e de
perfilhar – artigos 1601.º e 1850.º do CC – e ao direito de testar – artigo 2189.º do CC). É no
plano da capacidade de exercício que se projetam, com relevância, os efeitos da menoridade,
podendo ser afirmado que os menores apresentam uma incapacidade genérica de exercício
(artigo 123.º do CC), que determina a anulabilidade dos atos por estes praticados (artigo 125.º
do CC). No entanto, esta incapacidade de exercício não é absoluta, já que o artigo 127.º do CC,
entre outras disposições legais, prevê uma série de exceções, isto é, um conjunto de atos para
os quais o menor é considerado capaz. Em estrita conexão com o problema da capacidade dos
menores, coloca-se a questão da sua imputabilidade, isto é, a suscetibilidade de o menor
responder pelas consequências dos seus atos ilícitos e danosos. Neste contexto, resulta do n.º 2
do artigo 488.º do CC que o menor se presume civilmente inimputável até perfazer sete anos
de idade, ainda que esta presunção possa ser afastada. Os meios de suprimento da incapacidade
do menor são as responsabilidades parentais, reguladas nos artigos 1877.º e seguintes do CC
(meio principal de suprimento), a tutela (meio subsidiário das responsabilidades parentais) e a
administração de bens (meio complementar dos meios anteriormente indicados).
Maior acompanhado:
(Lei 49/2018, de 14/08; art.º 138.º a 156.º CC; art.º 891.º e ss CPC)
Define judicialmente tipos de atos para cuja prática o maior necessita de intervenção de um
acompanhante.
- Causas: razões de saúde, deficiência ou de comportamento que impeça o exercício “pleno,
pessoal, consciente” dos direitos ou cumprimento de obrigações, ainda que
temporariamente.
As medidas devem ser concretizadas caso a caso e podem traduzir-se em representação ou em
assistência, ou em “intervenções de outro tipo”, que a sentença determine totais ou parciais
(art.º 145.º CC)
O acompanhamento limita-se ao necessário (art.º 145.º CC) e só podem abranger direitos
pessoais e negócios da vida corrente (art.º 147.º CC).
O acompanhamento pode ser requerido pelo próprio, ou por terceiros com autorização do
visado, sendo esta autorização suprível pelo tribunal (art.º 141.º CC). O Ministério público tem
legitimidade e não carece de autorização. A vontade do acompanhado é relevante na escolha
do acompanhante (art.º 143.º CC). O acompanhante deve privilegiar a saúde e bem-estar do
acompanhado (art.º 146.º CC).
Os atos praticados sem o necessário acompanhamento são considerados inválidos.
Domicílio
- Art.º 82.º - Domicílio voluntário geral
- Art.º 83.º - Domicílio profissional
- Art.º 87.º - Domicílio legal dos empregados públicos
Ausência - regime jurídico do seu suprimento
- Art.º 89.º - Nomeação de curador provisório
- Art.º 91.º - Legitimidade
- Art.º 94.º - Direitos e obrigações do curador provisório
- Art.º 98.º - Termo da curadoria
- Art.º 99.º - Justificação da ausência
- Art.º 100.º - Legitimidade
- Art.º 104.º - Curadores definitivos
- Art.º 112.º - Termo da curadoria definitiva
Morte presumida:
- Art.º 114.º - Requisitos
- Art.º 115.º - Efeitos
- Art.º 118.º - Óbito em data diversa
- Art.º 119.º - Regresso do ausente
- Art.º 120.º - Direitos que sobrevivem ao ausente
Pessoas Coletivas
Pessoas Coletivas – constituídas por uma coletividade de pessoas ou por uma massa de bens,
dirigidos à realização de interesses comuns ou coletivos, às quais a ordem jurídica atribui
personalidade jurídica.
São pessoas autónomas, com património próprio, sendo, portanto, centros de imputações de
direitos e deveres. O Estado, os Municípios, as fundações, as sociedades comerciais, as
sociedades civis, etc., são pessoas coletivas.
(Ver art.º 157.º, 159.º, 162.º, 166.º do CC)
Sociedades:
Podem ser civis ou comerciais. As sociedades civis são aquelas em que duas ou mais pessoas
se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade
económica, que não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa
atividade (art.º 980.º CC). As sociedades comerciais têm por objeto a prática de comércio e
adotam uma das formas enunciadas pelo Código das Sociedades Comerciais. As sociedades
civis têm personalidade jurídica, ao passo que as comerciais não têm, a princípio.