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Aproximação ao conceito de Direito


Conceito e problemas fundamentais do Direito

Conceito de Direito?

“Direito é o sistema de normas de conduta social, assistido de proteção coactiva” Castro


Mendes.

Ao contrário das outras normas sociais ou morais, as jurídicas podem sofrer acção coactiva
para que o seu cumprimento seja real.

Direito será então um conjunto de normas que permitem ao destinatário dessas mesmas
normas reger-se. Permite uma coexistência pacífica entre os membros da sociedade. As
normas permitem gerir os interesses de conflito.

“Ubi homo, ibi societas”…. Onde há o Homem há sociedade

O direito tem como objectivo a justiça. Dar a cada um o que é seu.

Porque surge o Direito?

O Direito surge porque o Homem tem necessidade de viver em sociedade (O homem é um


animal social). Esta premissa assenta nas seguintes necessidades:

 Necessidade vital e psicológica: Em grupo os Homens conversam, geram amizades e


afectos, constituem família.
 Necessidade de segurança: Em grupo os Homens defendem-se melhor dos perigos da
Natureza e das tendências agressivas de alguns indivíduos.
 Necessidade económica: Em grupo o Homem procede à divisão de trabalho.
 Necessidade de defesa militar: Em grupo os Homens organizam-se melhor para
enfrentar as agressões de comunidades exteriores.
 Necessidade política: Em grupo os Homens sentem que fazem parte do mesmo
projecto coletivo.

“Ubi societas, ibi ius” onde existe sociedade existe direito

O Direito cria normas para uma existência pacífica, uma harmonia em sociedade.

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“ Ora sendo nós muitos, e sendo o mundo um só, estamos compelidos a repartir esse mesmo
mundo no nosso encontro. E sendo assim o outro aparece sempre como um meio ou um
obstáculo de acesso de cada um ao mundo, e é neste contexto que surgem os conflitos de
interesse.
O direito faz prevalecer o interesse de um dos sujeitos e faz preterir o interesse de outro.
Ex: Dois sujeitos querem passar a ponte ao mesmo tempo em sentidos opostos, mas a via só
tem espaço para um deles.

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Duas premissas do Direito a reter:

1. Ubi homo, ibi societas: O Homem tem uma natureza iminentemente social.

2. Ubi societas, ibi ius: O Homem vive em sociedade, em convivência com os outros
homens, pelo que o Direito vai promover a solidariedade de interesses e resolver o
conflito de interesses, surgindo como uma ordem normativa.

“ Com o fito de obstar á anarquia e ao caos, existe na vida em sociedade uma autoridade social
(Estado) que recebe o poder directivo destinado a:
a) Estabelecer regras de conduta para todos os membros da sociedade – Poder
legislativo/normativo (A.R; Governo)
b) Tomar decisões concretas em relação a cada problema do dia a dia – Poder
decisório/executivo (Governo e estrutura adjacente)
c) Impor com autoridade, as regras de conduta e as decisões concretas aos destinatários
e caso não as cumpram, aplicar-lhes as sanções – Poder sancionatório/Judicial
(Tribunais, polícias) ”

“Compete á autoridade social conciliar, harmonizar os interesses conflituantes de cada um,


fixando a esfera das faculdades, responsabilidades, deveres e ónus de cada um, mediante a
criação de uma ordem normativa”
“A liberdade de cada Homem termina onde começa a liberdade dos outros”

Existem duas concepções da sociedade, uma naturalista que encontra o seu fundamento na
natural sociabilidade do Homem e uma contratualista onde pensadores como:
Hobbes – “O Homem tem uma natureza iminentemente má”( visão pessimista)
Locke – “O Homem era tendencialmente bom mas vivendo em natureza tinha
tendência para julgar e reprimir os outros por violação da lei natural
(visão realista)
Rousseau – “O Homem tem tendência para demonstrar toda a sua bondade vivendo
num estado de natureza” (visão optimista)

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Defendem que a vida em sociedade não era natural, pois resultava de um acordo de vontades.
Assim o Homem que vivia num estado de natureza transitou por celebração de um contrato
social, para o Estado de sociedade. Neste momento priva-se de alguns dos seus direitos
naturais para fomentar o equilíbrio da sociedade regida por uma ordem social.

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Sentidos do Direito
1. Direito Objectivo (Law)
Conjunto de normas jurídicas de conduta social com proteção coactiva;
conjunto de regras de conduta que se impõem a todos os Homens, estabelecidas
objectivamente e a que todos devem obediência. (ex: Direito Civil, Direito do trabalho)
“Está acima do homem” Norma de agir
O Direito rege os Homens. Direito como conjunto de normas
2. direito subjectivo (right)
Vantagens, faculdades, poderes que por aplicação das regras de Direito objectivo, são
atribuídas a pessoas determinadas, uma vez verificados certos eventos previstos
naquelas mesmas regras. (Ex. direito de propriedade, direito de crédito)
“ Está inerente ao sujeito” Faculdade de agir.

O exemplo do art.1305º CC. É uma norma, logo é Direito objectivo, mas o que ela
consagra é direito subjectivo.
3. Outros sentidos
 Direitos aduaneiros – valores pagos sobre mercadorias no atravessar de
fronteiras
 Direitos Reais – Direito sobre as coisas
 Ciência do Direito: ciência social que teoriza cientificamente o Direito
objectivo e os direitos subjectivos. É neste sentido que se diz que o
individuo Y é professor de Direito.

A saber: Direito = Normas jurídicas


Sistema Jurídico = Normas jurídicas + órgãos que as criam e·
aplicam
Ordem Jurídica = Normas jurídicas + órgãos que criam e·
aplicam as normas jurídicas + os seus·
destinatários.

Se analisarmos a Ordem jurídica e a equipararmos a um triângulo vamos encontrar:


 Na base encontram-se os cidadãos num plano de igualdade jurídico-social. Aqui os
cidadãos têm perfeita liberdade para celebrar contratos entre si (direito privado)
em pé de igualdade.

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 Na linha ascendente do triângulo estabelecem-se as relações entre os cidadãos e o
Estado, com este num plano de supremacia. Assim a ordem jurídica estabelece
aquilo que os cidadãos devem à sociedade (ex: pagar impostos)
 Na linha descendente estão as relações entre o Estado e os cidadãos. Aparecendo
este com responsabilidades face aos seus cidadãos. Relações estabelecidas através
dos seus agentes de modo a proporcionar bem-estar aos cidadãos (saúde,
educação)

Alguns conceitos (retirados da correcção do teste de “p ureza jurídica”)

Direito absoluto: Relativo a todos


Direito Relativo: direito de crédito (relativo só ás partes intervenientes)

direito de arrependimento: É um direito potestativo (direito de poder); Se alguém o


exercer a outra parte sujeita-se sem poder responder.

Existe: direito real ilimitado (poder de dar, vender, usufruir da coisa)


Direito real limitado (pode utilizar a coisa, mas não transmitir a coisa)

Contrato mútuo: Contrato de empréstimo de dinheiro ou algo fungível.


Contrato promessa: Promessa de celebrar um contrato definitivo. Existe para garantir
que esse contrato vai ser realizado numa determinada altura e em determinadas
condições. Se for um contrato com eficácia real é um contrato que garante que o
contrato tem mesmo de ser realizado sem haver hipótese de anular com indemnização.

Normas Jurídicas: tem os seguintes elementos


 Previsão – Elemento de previsão da vida social a regular
 Estatuição – Elemento que impõe a conduta a adoptar pelo sujeito
 Sanção – Elemento que indica a consequência se não se observar a estatuição.

“Uma norma sem sanção é uma norma Imperfeita”


Ramos do Direito:
Direito Público: Direito Constitucional
Direito Penal
Direito Administrativo
Direito Fiscal
Outros…
Direito Privado: Direito Civil Da família
Das coisas
Das obrigações
Sucessório
Do trabalho
Comercial

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Direito e Estado
Estado - Sociedade

 Elementos:
o Povo - conjunto de pessoas submetidas à ordem jurídica estatal.
o Território – Elemento material, espacial ou físico do Estado, marcado por
fronteiras, que podem ser naturais ou artificiais e que compreende a superfície
do solo que o Estado ocupa, o espaço fluvial, marítimo, lacustre e aéreo
o Poder político – Organização necessária ao exercício do poder político

 Funções:
o Função política – Consiste na definição e prossecução pelos órgãos do poder
político, dos interesses essenciais da colectividade.
o Função legislativa - Traduz-se na prática de actos legislativos pelos órgãos
constitucionalmente competentes.
o Função jurisdicional – Consiste no julgamento de litígios suscitados por
conflitos de interesses e na punição da violação das normas jurídicas.
o Função administrativa – Consiste na satisfação das necessidades que incube ao
Estado Português

Relação Estado – Direito


 O Estado só pode ser de Direito pois cabe ao Direito legitimar e limitar a acção ao
Estado. A Justiça não tolera o desrespeito pela dignidade da pessoa humana. Ao
Direito cumpre realizar a justiça e o Estado também lhe deve obediência. Neste
sentido o estado só pode ser de Direito e não um Estado totalitário ou de
opressão.
 Direito infra Estadual e Supra Estadual:
Existe Direito Supra Estadual, direito que está acima do Estado como por exemplo
o direito Internacional Público, e existe também Direito infra estatal, direitos que
regulamentam a sociedade dentro do próprio Estado a um nível inferior.

O objecto de estudo da disciplina será o Direito Estatal

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O Direito entre as Ordens normativas

Norma Jurídica: Norma da natureza ou lei física:


Dirigem-se com carácter imperativo à Referem-se explicativamente aos fenómenos
vontade do homem, podendo ser violadas naturais, não tendo sentido falar-se em
obediência

“A vida em sociedade tem como consequência o aparecimento de regras que


disciplinem a conduta humana: são as chamadas normas de conduta social. Mas não
se cometa o erro de pensar que as normas de conduta social são apenas as normas
jurídicas. São também as normas morais, as normas religiosas, as normas de cortesia
ou trato social, os usos sociais. Todas estas normas têm características comuns de
serem violáveis, ao contrário das leis da natureza que se referem explicativamente aos
fenómenos e que se executam.
Frequência?
Normas jurídicas e restantes: dizem o que deve ser
Normas da natureza: Dizem o que é

Norma Jurídica: Normas morais:


Intersubjectividade (regula as relações entre Intrasubjectividade (respeita à conduta
os homens) / “eu social. O Direito é bilateral isolada do homem) /” eu pessoa”. A moral é
Tem relevância exterior, ou seja, pressupõe unilateral.
sempre uma exteriorização Tem relevância interior (basta o simples
Finalidades: estabelecimento de regras pensar)
essenciais de uma sociedade, visando a Finalidades: aperfeiçoamento individual;
convivência harmoniosa realização do bem
Essência: compatibilizar interesses Essência: consciência ética/ pessoa consigo
conflituantes mesma
Coercibilidade material Coercibilidade psíquica (remorso)

“É usual referir-se que a moral tem relevância interior e que o direito tem relevância
exterior. No entanto considera-se que não é correcta esta distinção entre “interioridade e
exterioridade” porquanto a moral social contém imperativos de conduta para com
terceiros (por exemplo dar de comer a quem tem fome) e o Direito penetra
frequentemente no interior psicológico das acções humanas (por exemplo é mais grave a
pena do homicídio doloso do que do homicídio involuntário ou por negligência). De
qualquer modo ao Direito nada interessam os pensamentos que não se traduzem em actos
e a moral não se satisfaz com uma observância exterior antes exige a intenção.

Pode o cidadão adoptar uma moral diferente daquela que inspira o direito que rege a
sociedade em que se insere?- Pode por objecção de consciência
O cidadão pode efectivamente adoptar uma moral diferente nas situações
excepcionais previstas na lei de objecção de consciência (por exemplo o médico que
não quer realizar um aborto embora a situação esteja permitida pela lei). Nos demais
casos o cidadão não pode desobedecer à lei alegando o carácter imoral da norma tal
como prevê o art. 8º nº2 CC.

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Norma Jurídica Norma religiosa
Criada pelos homens Criadas por seres transcendentes
Regula relações entre os homens para Regula as relações entre os crentes e Deus,
assegurar o respeito pela justiça, pela bem como as relações entre os crentes
segurança e pelos direitos humanos Não é coercível materialmente: obrigam
Coercibilidade material: obrigam todos os apenas os crentes e são dotadas de sanções
cidadãos, sob a ameaça de sanções temporais espirituais ou intraindividuais (castigo
ou terrenas supraterreno)

Norma jurídica Norma de trato social


Estabelece regras essenciais para o convívio Aperfeiçoa o convívio social, tornando-o mais
social. ameno e cordial
Coercibilidade material Não é coercível materialmente (reprovação
social)

Relações entre a ordem jurídica e as demais ordens normativas

 Relações de coincidência: O Direito assume e jurisdiciza algumas ordens normativas,


incorporando-as na ordem jurídica
Ex: não matarás, não roubar, prioridade a ambulâncias, etc.
 Relações de indiferença: Coloca-se numa posição neutra ou de indiferença em relação
á maior parte das normas de outras ordens, nomeadamente no que toca á ordem
religiosa e de trato social
Ex: não cobiçarás a mulher alheia, dar esmola.
 Normalmente, mantém relações próximas com as normas morais.
Ex: Legítima defesa
 Pode por vezes ter relações de conflito
Ex: Questão do aborto, possibilidade de divórcio, casamento homossexual.

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17-10-11

Direito Natural e Direito Positivo


Direito positivo:
 É o direito posto na sociedade “ ius civitate positum”
 É obra humana, tangível e varia de época para época e de país para país
 Formado pelo conjunto de normas jurídicas reguladoras da convivência humana que
neste momento vigoram em Portugal ou que alguma vez vigoraram numa
comunidade.
 Expressas em códigos e leis avulsas.
Direito Natural:
 Definido como o Direito que devia vigorar, porque assenta na dignidade da pessoa
humana e representa o reflexo imediato da Justiça.
 Emanação da Natureza, da razão ou de Deus
 Regras fundadas na essência humana, não localizadas no tempo nem no espaço. Não
estão vertidas em nenhum código, nem foram feitas pelo homem.

Poderá o Direito Positivo contrariar o Direito Natural?


Duas correntes jurídicas de filosofia do Direito reflectiram sobre esta questão e
assumem as seguintes posições:
 O Jusnaturalismo, que foi a corrente dominante do século V ao século XVI,
propugna que o Direito Natural existe e é superior ao Direito Positivo
condicionando-o. Assim o Direito Positivo não deve contrariar o Direito
Natural.
 O Positivismo Jurídico, com predominância nos séculos XIX e XX, defende que
o Direito Natural não existe e como tal em nada condiciona o Direito Positivo
Defendem que ao se apontar o Direito natural como algo bom e justo e se essa
definição de bom e justo é difícil de definir na sua plenitude, por consequência
o Direito Natural não sendo definível, não existe. Referem ainda:
 O Direito natural não pode ter origem divina porque Deus não existe
 Não é direito porque não é promulgado pois não é criado por uma
autoridade social com legitimidade para o fazer.
 O seu conteúdo é desconhecido e não há consenso
 A violação das normas de Direito natural não acarreta a imposição de
qualquer sanção.

Não obstante, a divergência entre estas duas correntes encontra-se no ponto de saber
se tais leis, porque contrárias ao Direito Natural, são inválidas, pelo que se não lhes
deve obediência “Lex injusta non est lex”
Porém o art. 8º nº2 CC dispõe que mesmo que se considere a lei injusta o seu
destinatário deve-lhe obediência “Dura lex sed lex”
Assim o único expediente que pode ser utilizado perante uma lei injusta será invocar a
sua inconstitucionalidade junto dos tribunais

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Os fins do Direito

O Direito tem como fins a Justiça e a segurança


 A justiça é o principal fim do Direito
“A justiça é um conjunto de valores que se impõem quer ao Estado, quer aos
cidadãos no sentido de dar a cada um o que lhe é devido, e o critério geral
acerca do que, em nome da justiça, é ou não devido a cada um, deve ser
definido em função da dignidade da pessoa humana” – D. Freitas do Amaral
 Existem referências constantes à justiça na CRP – Artigos 1º, 9º,23º,205º
nº1,266 nº2.
 A justiça está estruturada em três modalidades, consoante os sujeitos da
relação:
o Comutativa – visa corrigir os desequilíbrios que se verificam nas
relações contratuais e nos actos involuntários ilícitos interpessoais. É a
justiça do Direito privado.
o Distributiva – rege a repartição dos bens comuns pelos membros da
sociedade segundo um critério de igualdade e proporcionalidade. É a
justiça do Direito público.
o Geral – rege a participação dos membros da sociedade nos encargos
comuns; respeita á obediência da lei.

Equidade – poder-se-á por vezes na procura da justiça, julgar


afastando a lei, tendo em conta as circunstâncias de um caso concreto, numa
tentativa de tornar uma determinada regra mais justa para esse caso
específico.

 Segurança
O direito prossegue outros valores como o da segurança, como por exemplo:
 A segurança internacional, sem a qual não haverá paz entre os povos
 A segurança pública, sem a qual fica perturbada a ordem pública
 A segurança sócio económica, que se consegue através do estimulo à
poupança e do recurso a seguros
 A segurança social que procura assegurar a todos uma base de sustento
 Segurança jurídica que impõe a coação de mecanismos capazes de
contribuir para a certeza do Direito e se necessário sacrificar a justiça:
o “Prescrição” – determina a extinção de direitos subjectivos quando
não exercitados durante certo tempo fixado na lei (art. 309º CC)
o “Caso julgado “- decorrendo um determinado período, passa a ser
insusceptível de recurso, ñ se prolongando infinitamente no
tempo

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o Não retroactividade da lei – impossibilita que as nossas condições
de vida sejam destruídas por uma lei que se aplique no futuro
o Caducidade (art.328º CC e ss)- pela via do qual um direito se
extingue pelo facto de ter decorrido o prazo assinalado na lei ou
derivado da vontade das partes.
o A usucapião - para evitar que alguma coisa seja possuída por
alguém que não é o seu proprietário infinitamente.
o Desconhecimento da lei - não desculpa o não cumprimento da
mesma. “Ignorantia legis non excusat”

Pode por vezes existir sobreposição entre estes dois valores (Justiça e segurança), pois,
“Por vezes há na ordem jurídica uma necessária sobreposição da segurança á justiça. Pense-se
por exemplo na prisão preventiva de um suspeito de prática de um crime que se vem a revelar
inocente. Pense também nos prazos de prescrição estabelecidos por lei por razões de certeza
jurídica.
Outras vezes verifica-se a prossecução paralela de ambos os fins como por exemplo o sujeito
ser condenado fazendo-se assim justiça e assegurando-se que não cometerá crimes enquanto
está encarcerado e servindo também de aviso aos potenciais delinquentes.”

 Declaração dos Direitos do Homem

É uma ideia jusnaturalista que se vem afirmando desde o Século XVII


1215 ............................... Magna Charta Libertatum
1776................................ Bill of Rights
1789................................ Declaração dos Direitos dos Homens e do cidadão
1948................................ Declaração Universal dos direitos do Homem (ONU)
1950................................ Convenção Europeia dos Direitos do Homem (Conselho da Europa)

Este fim do Direito poderá por vezes entrar em conflito com o fim da segurança

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18-10-11

Sistema Jurídico

Considerando a definição de Direito como o sistema de conduta social, assistido de protecção


coativa, podemos concluir que tal noção assenta em três ideias fundamentais:
1.Sistema
2.Norma
3.Proteção coativa

1. Sistema
O Direito é um sistema normativo, portanto, um conjunto articulado e coerente de normas
jurídicas ditadas por princípios e orientadas para certos fins. Isto porquê?
 As normas encontram-se articuladas entre si de uma maneira coerente,
orientadas para um determinado fim. Não pode haver conflitos entre elas de
modo a potenciar segurança.
 Existe uma interpretação sistemática, nunca de uma maneira isolada mas sim com
critérios lógicos e técnicos.
 Integração de lacunas (art10º,nº3, do CC): Actividade que permite a integração de
norma em casos não regulados. Existem duas situações aplicáveis.
o Analogia: Aplicar uma norma análoga
o Aplicação do “Espírito do sistema” ou seja o legislador cria uma
“norma” para um caso específico tendo em atenção que essa norma
não pode ser conflituante com as restantes normas do sistema Esta
norma não ganha carácter de lei mas é somente aplicada a esses caso
particular.
 Este conjunto de normas está organizado, enquadrado e enformado por
princípios gerais. Os princípios gerais do Direito:
o Princípio da boa fé
o Princípio da liberdade contratual
o Princípio do Estado de Direito Social
o Princípio do “pacta sunt servanda”
o Princípio da confiança
o Princípio da justiça distributiva
 Vigora o princípio da ordem jurídica, portanto em cada sociedade existe uma,
e apenas uma, ordem jurídica
 Existe a preocupação de uma interpretação e aplicação uniformes do Direito,
não haver disparidade em acórdãos.
 Vigora neste sistema o princípio da plenitude da ordem jurídica
(arts. 10º e 8º,nº1, do CC e 20º da CRP).

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“Existe sempre uma solução adequada para oferecer ao cidadão que reclama
justiça, mesmo que não exista lei expressa directamente aplicável ao caso.”

No art.10º temos a referência à integração de lacunas


No art. 8º vemos que o tribunal não pode abster-se de julgar, ou seja, não
pode optar por um “ non liquet”
No art.20º CRP está referido o direito de acesso à justiça e direito de tutela
jurisdicional efectiva.

Frequência
????
Caracteres e aspetos do sistema jurídico

 Coercibilidade: Uso da força para poder executar a norma jurídica aplicável, mesmo
contra a vontade do destinatário.
“ A coercibilidade ou a possibilidade de proteção coativa significa que o sistema
jurídico é dotado de um conjunto de meios que permite assegurar o cumprimento das
normas jurídicas pela força física se necessário for e mesmo contra a vontade dos seus
destinatários”

 Âmbito de aplicação do sistema jurídico: Nem tudo é regulado pelo direito


“O Direito não pretende logicamente regular tudo de modo a cercear totalmente a
liberdade das pessoas. Nem isso seria possível dado que a vida é muito mais colorida
do que a imaginação do legislador. Por outro lado outras normas de conduta social
regulam a vida em sociedade além das normas jurídicas (normas de cortesia social,
morais e as religiosas) ”

O direito actua de dois modos:


1. Ao impor condutas: Quer positivas (acção) – art.1038, al. a, CC
Quer negativas (omissão) - art. 1038, al. c, CC

2. Ao permitir: Possibilidade de agir (materialmente sobre algo)


Autonomia de vontade/liberdade contratual (1)

Permite ao sujeito regulamentar os seus interesses designadamente mediante a celebração


(1)
de contratos

Será que as pessoas podem ilimitadamente querer sujeitar ou não sujeitar à tutela do Direito
os acórdãos e os contratos que celebrem entre si?
Regra: Os acórdãos entre pessoas sobre os seus interesses e conduta futura são tutelados pelo
Direito

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Excepção: Simples acordos que não tem tutela jurídica como é o caso dos acordos de
cavalheiros (acordos que versam sobre matéria sobre a qual regra geral se concluem negócios
jurídicos mas que excepcionalmente foram realizados sem intuito negocial)
Ex: os casos de pura obsequiosidade.

 Equidade: uma forma justa de aplicar a justiça sem aplicar a lei.


“ A equidade é um modo jurídico de resolver litígios que se caracteriza pela atribuição
ao juiz de dois poderes que ele em regra não tem, tal como prevê o art.4º, al.a ,do CC
a) Poder de não aplicar as normas legais que de outro modo seriam
aplicáveis aquele caso
b) Poder de decidir pelos próprios critérios e consoante as
circunstâncias específicas do caso aquele mesmo caso.

 Princípio da plenitude da ordem jurídica


“Dos princípios que enformam o sistema jurídico, dada a sua generalidade, podem
extrair-se as soluções para a maioria das questões jurídicas não previstas positivamente.
É possível resolver os casos não previstos directamente na lei, através da integração de
lacunas, nos termos do art.10º do CC
Ver também art. 8º,nº1, do CC e art. 20º da CRP

20-10-11

Norma Jurídica em sentido estrito:


Noção: em sentido estrito, a norma é um elemento do conceito de Direito e traduz-se
na “ligação de uma estatuição á previsão de um evento ou situação”

Estrutura:

Previsão: Representação da vida social que se pretende regular.


Frequência
É hipotética, pois ainda não se verificou, podendo vir a observar-se
????
Em regra a previsão é geral e abstracta, pois é aplicada a uma generalidade de pessoas e sem
ter uma situação específica.
Só muito raramente poderá ser singular e concreta como nos casos em que regula um
determinado cargo.
Poderá por vezes aparecer subentendida ou oculta (ex. art.1322º CC)
Não aparece sempre no inicio das normas, podendo por vezes aparecer posteriormente á
estatuição (ex, art.122º)

Estatuição: A norma vai impor ou uma conduta activa ou passiva que há-de ser
obrigatoriamente prosseguida ou então a produção de um efeito jurídico.
Temos por exemplo o art.879º CC que tem um exemplo de uma estatuição com imposição de
uma conduta activa. Por outro lado o art.1038,al.d, CC é um exemplo de uma conduta passiva.
No caso de a estatuição apresentar uma produção de efeito jurídico temos o exemplo do art.
122º CC

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Sanção: Basicamente é a consequência da violação da estatuição. Caso exista um
comportamento que não vá de acordo com o que está descrito na estatuição acarreta uma
sanção. Nem todas as normas contem sanção, logo são chamadas de Normas imperfeitas.

Algumas notas sobre a estrutura da norma jurídica:


 Quando a regra jurídica não apresenta sanção será uma norma imperfeita ou
incompleta (lex imperfecta) ou então não é uma norma jurídica.
 Os anglo-saxónicos chamam “soft law” a todas as modalidades de normas reguladoras
de conduta social, desprovidas de sanção. Por exemplo:
o Simples propostas, conselhos e opiniões
o Resoluções não vinculativas
o Códigos de conduta

31-10-11

Caracteres da norma jurídica em sentido estrito


 Hipoticidade: A norma aparece como uma hipótese ainda antes de acontecer. Os
efeitos que estatuem só se produzem se se verificarem os factos previstos.
 Generalidade: A generalidade contrapõem-se à individualidade, de facto a norma
aplica-se a uma categoria abstracta de pessoas, a um número indeterminado de
sujeitos e não a ninguém em particular.
 Distinguimos duas situações:
o Generalidade horizontal: a norma jurídica dirige-se a uma generalidade de
pessoas pensando numa generalidade de destinatários e não numa pessoa
concreta. Com efeito as normas aplicam-se a todos os que se encontram numa
determinada situação (como por exemplo, as normas aplicáveis a todos os
condutores de veículos automóveis).
o Generalidade vertical: aqui o preceito define a competência de um cargo ou
ofício, mas não deixa de se dirigir a uma categoria geral de pessoas que
ocupam aquele cargo ou exercem aquele ofício. É o caso das normas que
estipulam as funções do Presidente da República.
 Abstração: A norma jurídica aplica-se não a um caso concreto, mas a um número
indeterminado de situações subsumíveis á categoria prevista.
“A norma prevê a conduta de forma abstracta ou seja pela indicação e um padrão ou
modelo de conduta afastando todas as particularidades concretas de uma única
conduta irrepetível. Portanto a norma está aparelhada para aplicação futura.

Outros caracteres apontados pela doutrina:

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 Imperatividade: A norma jurídica impõe uma conduta, um comportamento. Com
efeito a norma jurídica não sugere ou aconselha uma conduta, mas antes impõe esse
mesmo comportamento. Mesmo quanto às normas permissivas estas não são
desprovidas de características da imperatividade dado que o comando que nelas se
manifesta resulta de uma articulação de normas imperativas.
 Violabilidade: A norma jurídica é violável, ou seja, padece da susceptibilidade de ser
violada ou não acatada já que se dirige ao Homem enquanto ser livre que pode eximir-
se ao cumprimento das condutas que lhe são impostas, tal como sucede com as
demais normas de conduta social. Recorde-se que as leis da natureza ao contrário das
normas de conduta social não são violáveis, ou seja, executam-se e exprimem um ser,
ao contrário que as demais normas de conduta social exprimem um dever ser.
 Bilateralidade: Alguns autores falam de bilateralidade, na medida em que é próprio da
regra jurídica ligar entre si dois ou mais sujeitos de maneira que a posição de uns é
contrapartida da posição dos outros. Existem no entanto algumas normas jurídicas em
que tal asserção não corresponde à verdade. É o caso da norma que pune os maus
tratos aos animais. Na verdade o que os autores pretendem exprimir é a sociabilidade
da regra jurídica. De facto a regra jurídica não se ocupa de posições individuais senão
para demarcar uma posição socialmente relevante do sujeito.
 Coercibilidade: Traduz-se na possibilidade de usar a força para impedir ou reprimir a
violação da norma. Note-se porém que a coercibilidade não se manifesta
necessariamente em coerção efectiva. Aliás a maior parte das imposições legais são
acatadas pelos destinatários. Refira-se ainda que em certos casos não sendo
materialmente possível assegurar o cumprimento da estatuição a coercibilidade vai
funcionar como a imposição de uma sanção. Por exemplo em caso de homicídio
manifesta-se por uma aplicação de uma sanção criminal e por uma sanção do dano da
morte.

Norma jurídica em sentido lato


Corresponde ao elemento autónomo da forma por que nos aparece a ordem jurídica,
designadamente os textos legais.
A grande variedade e heterogeneidade de normas jurídicas justificam que as
agrupemos em várias categorias segundo critérios ou pontos de vista:

Normas éticas  Em face de uma determinada situação deve seguir-se


uma determinada conduta
 Existe um dever
 O acto contrário é ilícito e implica uma sanção
 Ex: art. 483º CC
Normas técnicas  Dada uma determinada previsão, a conduta é um
meio de realizar certo fim
 Não se trata de um dever mas de um ónus (*)
 O acto contrário não é ilícito mas acarreta apenas
uma sanção em sentido impróprio do termo
 Ex: art. 875º CC
(*) Ónus: corresponde justamente á necessidade de observar uma conduta não em absoluto, mas como o meio de atingir um

determinado fim em si mesmo indiferente para o direito

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Normas de estatuição  Projetam o seu comando sobre a vida social, ou seja
material a sua estatuição reporta-se a actos dessa vida
 Ex: art. 1323º CC
Normas de estatuição jurídica  Normas cujo conteúdo se esgota no plano jurídico
 Estatui-se algo, mas sob a forma de consequência
jurídica
 Ex: art. 130º CC

5-11-11 / 7-11-11

Normas ordenadoras  Composta por previsão, estatuição e sanção


Normas sancionatórias  A sanção decorre da existência de outras normas
jurídicas

Normas directas  São aquelas cujos destinatários são intervenientes na


vida social
Ex: art.406º CC
Normas indirectas  São aqueles cujos destinatários são aqueles que
pretendem aplicar normas jurídicas e resolver
problemas de direito (juízes, advogados,
solicitadores )Ex: art.939º CC
o Normas remissivas (remissão explícita ou
implícita)
o Normas de aplicação de leis no tempo
o Normas de Direito Internacional Privado

Normas remissivas: São aquelas que não regulam directamente determinada matéria, mas
antes remetem para outras regras que contém o regime aplicável
 Remissão explícita: referem expressamente as normas para que remetem
 Remissão implícita: Estas não remetem expressamente para uma norma mas
estabelecem que o facto ou situação a regular se considera igual ao facto ou situação
disciplinada por outra norma para a qual implicitamente remete.

Normas universais  Aplicam-se em todo o território do Estado. São as


normas emanadas da A.R. ou do Governo.
Normas regionais  Só se aplicam a uma certa fracção do território do
Estado, mormente uma região. Tal é o caso das
normas criadas pelas Assembleias legislativas
Regionais
Normas locais  Aplicam-se apenas no território duma autarquia
local. É o caso das normas criadas pelos municipios

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Norma perfeita  Leges perfectae - só determinam a nulidade dos
actos contrários, sem aplicação de pena
Ex: art.2189º CC
Norma menos que perfeita  Leges minus quam perfectae: Não estabelecem a
invalidade do acto contrário, mas determinam que
não produzirá todos os seus efeitos
Ex: art. 1604º, al.a)
Norma mais que perfeita  Leges plus quam perfectae: determinam a nulidade
dos actos que a violam e aplicam, ainda, uma pena
aos infractores
Ex: art. 280º,nº1,CC
Norma imperfeita  Norma que não tem sanção.
Ex: a norma que estabelece as competências do
Presidente da Republica

 Normas de interesse e ordem pública: Regulam os altos interesses sociais que se


confundem com o bem comum e portanto não podem ver a sua aplicação afastada
pela vontade dos seus destinatários. O acto que viola esta norma é nulo. (normas
imperativas para tutelar o interesse público
Art. 1602º e 1631º al.a)
 Normas de interesse e ordem privada: Normas que regulam interesses particulares e
cuja aplicação pode ser afastada pela vontade das partes.
Ex: art.777ºCC, art.772º CC

Quanto à relação com a vontade dos seus destinatários, as normas jurídicas podem ser:

 Normas imperativas: a sua aplicação não depende da vontade das pessoas. Impõem
um dever, um comportamento que pode ser positivo ou negativo. Assim temos:
o Normas preceptivas: imposição de uma conduta por meio de uma acção, um
facere
Ex: art.1320,nº2 CC
o Normas proibitivas: imposição de uma conduta por meio de uma omissão, um
non facere
Ex: art.1347º CC; grande parte das normas penais

 Normas permissivas: permitem ou autorizam certos comportamentos e podem ser:


o Normas facultativas: permitem ou facultam certos comportamentos,
reconhecendo determinados poderes ou faculdades e deixando ao arbítrio do
indivíduo praticar ou não esses actos
 Permissão pura; ex: art.1036º CC
 Concessão de autonomia de vontade, ou seja, a auto regulamentação
dos interesses dos destinatários da norma (o particular tem a
possibilidade de auto regulamentar a sua vontade. Ex: art.223º CC

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o Normas supletivas: suprem a falta de manifestação da vontade das partes
sobre determinados aspectos dum negócio jurídico que carecem de
regulamentação. Se as partes não tiverem manifestado uma vontade contrária
á prescrição legal, a norma supletiva tem o mesmo valor das demais, e
portanto o seu cumprimento já não depende da vontade das partes
Será possível identificar normas supletivas pelas seguintes expressões: Na falta
de convenção em contrário, excepto se o próprio contrato o dispensar, na
falta de estipulação das partes. Ex: art.772º CC
Existem situações em que o legislador afasta a possibilidade de se tratar de
norma supletiva, nomeadamente quando utiliza a expressão “ Não obstante
convenção em contrário”. Ex: art.1037º CC (norma imperativa), 988º CC.

o Normas interpretativas: Determinam o alcance e o sentido de certas


expressões ou declarações negociais susceptíveis de dúvida
Dão-nos o conceito para melhor compreensão do artigo. Podem consistir em
definições e classificações legais
 Normas interpretativas da lei; ex: art.349º CC
 Normas interpretativas de negócios jurídicos; ex: art.2227º CC

Quanto à plenitude do seu sentido, as normas jurídicas distinguem-se em:

 Normas autónomas: Podem produzir efeitos só por si, contém em si valoração


jurídica, imperativa ou permissiva. São normas que constituem um universo lógico
ainda que consideradas isoladamente das demais
Ex: art.1323º CC
 Normas não autónomas: São aquelas cujo sentido só é perceptível se estiverem
conjugadas a outra ou outras normas jurídicas, vivendo na sua dependência.
Para produzir efeitos jurídicos, têm que se ligar a outras normas
Ex: 1543ºCC, 939ºCC,1023ºCC
o Normas interpretativas
o Normas remissivas
 Remissão explícita
 Remissão implícita

Em relação ao âmbito pessoal de validade, as normas jurídicas classificam-se em:

 Normas Gerais: São aquelas que constituem o regime regra aplicável á generalidade
das situações ou relações jurídicas de um determinado tipo (sector de relações que
disciplinam)
Ex: art.219º CC
 Normas especiais: São as que, em termos de concordância com as normas gerais,
regulam, de forma particular, uma espécie de situações ou relações jurídicas, tendo
exactamente em conta particularidades que tipifiquem tais relações
Ex: Normas de Direito comercial, Direito Penal militar, etc.

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 Normas excepcionais: São as que, em contradição com as normas gerais disciplinam,
um sector restrito de relações jurídicas. Consagram um ius singulare
Todas as normas que exigem forma são excepcionais
Ex: art.875º CC; art.11º CC

A diferença das normas excepcionais face às normas especiais, é que as normas especiais
diferem das normas gerais apenas por irem mais além contemplando particularidades sem
contraditarem as grandes linhas contidas nas normas gerais, enquanto que as normas
excepcionais estatuem em oposição aos princípios contidos nas normas gerais.

7-11-11

Protecção coactiva

A protecção coactiva pode ser fundamentalmente de duas espécies:


 Protecção preventiva: pode ocorrer antes de ocorrer a conduta que viola a estatuição
da norma jurídica, com o intuito de evitar essa violação.
Ex: pedir um embargo de uma obra num terreno do qual sou proprietário. Obra essa
iniciada por um terceiro e sem consentimento prévio.
 Protecção repressiva: pode ocorrer após a violação da norma, tendo então por
principal fim repor a situação como existia antes da violação e reprimir o agente
violador com a aplicação de uma sanção que pode ser de dois tipos:
o Sanção material: traduz-se na imposição da prática de um acto, resultando
materialmente no cumprimento coactivo, na reintegração, na reparação ou na
punição.
o Sanção jurídica: Altera os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente violador da
norma
Ex: o negócio jurídico com juros usurários é nulo - art. 282º, 284º CC

“A sanção é a reacção da ordem jurídica perante a inobservância das suas normas”


“A sanção é uma consequência desfavorável normalmente prevista para o caso da
violação de uma regra, e pela qual se reforça a imperatividade desta”

Sanções materiais:
Sanções compulsórias: São aquelas que visam, embora tardiamente, coagir o infractor a
adaptar a conduta devida e a que a violação não se prolongue no tempo. Por isso cessam logo
que a norma jurídica desrespeitada seja observada.
 Sanção pecuniária compulsória: Será aplicável nas prestações de facto infungível
(facto que apenas pode ser prestado, pelo obrigado, e não por outra pessoa em sua
substituição), com excepção das que exigem qualidades científicas do obrigado.
Traduzem-se na imposição ao devedor de um pagamento de uma quantia pecuniária,
por cada dia de atraso ou por cada infracção.

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Art. 829ºA CC
Ex: devolução de uma colecção de moedas que A emprestou a B e que este ainda não
devolveu pese vontade expressa de A em as reaver.

 Direito de retenção: Art.754º CC


Ex: A entrega o seu carro na oficina de B para reparação e recusa-se a pagar o valor da
reparação; B retêm o veículo enquanto A não lhe pagar o montante devido.

Reintegração ou sanções reconstitutivas:


 Sanção material reintegradora por reconstituição natural: Se o cumprimento coactivo
não for possível tem lugar a reintegração repondo-se em princípio as coisas no estado
em que as mesmas existiriam se a norma não tivesse sido violada, ou seja, impõe-se a
reconstituição natural ou in natura tal como prevê o art. 562º CC
 Execução específica:
o Entrega judicial de coisa determinada que o devedor se obrigou a entregar ao
credor (art.827º CC)
o Prestação de facto fungível cuja execução o credor pode requerer que seja
feita por outrem à custa do devedor (art.828º CC)
o Prestação de facto negativo: se o devedor não deve realizar determinada obra,
e mesmo assim a realiza, se for possível desfaze-la, a obra é desfeita pelo
devedor ou à sua custa. (art.829º)
o O contrato promessa em que a sentença produz os mesmos efeitos que o
contrato prometido (art.830º CC)
 Sanção material reintegradora por equivalente ou sucedâneo pecuniário:
Não sendo possível a reconstituição natural, tem lugar a reintegração por sucedâneo
ou equivalente pecuniário, ou seja, tenta-se produzir uma situação equivalente através
de bens patrimoniais do mesmo valor ou do seu preço em dinheiro tal como prevê o
art.566º CC

Reparação ou sanções compensatórias: Quando não é possível a reintegração ou ela não


repara totalmente a violação cometida, lança a ordem jurídica mão de ideia de reparação, ou
seja, impõe-se algo que represente para o violador um sacrifício em contrapartida da violação
e representa para o lesado uma satisfação em contrapartida da lesão sofrida.

8-11-11

Sanções punitivas:
Aplicam um mal ao infractor como castigo da violação de uma norma jurídica:

 Sanção criminal: Estabelecidas pelo Direito Penal.É a sanção correspondente à prática


de um crime, podendo ser privativa (pena de prisão) ou não privativa (pena de multa)
da liberdade
 Sanção Civil: É estabelecido pelo Direito civil em relação a condutas indignas
Ex: art.2034º e 1649 CC

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 Sanção disciplinar: É a sanção aplicável à infracção de deveres de determinadas
categorias profissionais no exercício da respectiva actividade laboral
Ex: despedimento, suspensão
 Sanção contra ordenacional: É geralmente dimanada da Administração pública e pune
com coimas certas condutas susceptíveis de lesarem certos interesses fundamentais
Ex: coima ambiental, coima fiscal, etc.

A pena corresponde ao sacrifício imposto ao agente violador da norma, em atenção á


sua culpa, pelo que se distingue da indemnização pecuniária, cuja medida se afere pelo
dano.
O dano é calculado nos termos do art. 564º CC, e vai ser constituído por dois
elementos:
 Dano emergente: corresponde ao prejuízo causado imediatamente pela
violação da norma
 Lucro cessante: corresponde ao benefício que o lesado deixou de obter em
consequência dessa mesma violação de norma.
Ex: Um acidente com um taxista: temos como dano emergente o carro
danificado e temos como lucro cessante o rendimento que o taxista deixou de
obter em consequência da imobilização da viatura.

Sanções Jurídicas

Aplica-se quando a violação da norma se destina a projectar os seus efeitos na ordem jurídica.
Estamos então no domínio dos actos, com os quais se pretendem efeitos jurídicos, ou seja,
estamos no domínio dos negócios jurídicos.
Esta sanção irá traduzir-se na alteração ou invalidação de um efeito jurídico.
 Inexistência jurídica: ocorre quando nem sequer aparentemente se verifica qualquer
materialidade de certo ato jurídico e neste caso nem sequer produz quaisquer efeitos,
não havendo sequer necessidade de um reconhecimento da sua invalidade.

 Invalidade: o ato existe materialmente, mas sofre de um vício que conduz a que não
produza os efeitos jurídicos a que tende. Por isso, se possível, deve ser restituído tudo
o que tiver sido prestado. Compreende duas modalidades:
 Nulidade (art.286º CC): Destina-se a salvaguardar o interesse público e
verifica-se quando o acto não produz desde o início os efeitos jurídicos a que
tendia. Como ofende um interesse público não carece de ser invocada por
quaisquer interessados, mas sim por qualquer pessoa que tenha interesse na
não produção dos efeitos jurídicos.
Não existe a possibilidade de confirmar
Art.289º CC: “tem efeitos retroactivos”
É consequência dos seguintes vícios:

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 Vício de forma; art.220º CC: é exigida forma para celebrar um
determinado contrato. Se tal não se verificar implica a nulidade do
negócio.
Ex: Compra de imóvel (art.875º CC)
 Vício de objecto; art.280º CC: O objecto do contrato é contrário á lei,
logo o contrato é considerado nulo
Ex: Contrato de arrendamento para efectuar tráfico de
estupefacientes.
 Falta de vontade:
o Falta de consciência da declaração: art.246º CC
Ex: Situação do leilão; acenar/ confusão com licitar
o Coacção física: art.246º CC
Ex: forçar, fisicamente, alguém a assinar algo
o Declarações não sérias: art.245º CC
o Simulação de algo; art. 240º CC:
Ex: duas partes em conluio declaram algo que na realidade
nunca aconteceu
 Contrariedade á lei: art.294º CC

 Anulabilidade (art.287º CC)


Traduz-se na atribuição ao titular do interesse protegido, lesado pela conduta
violadora, do poder de arguir se for sua vontade a anulabilidade do negócio,
ou seja o poder de destruir os efeitos jurídicos resultantes da celebração de
um negócio ilegal.
Assim que é realizado produz efeitos, mas podem ser retroactivamente
destruídos se invocada a anulabilidade.
Existe um prazo de um ano para recorrer (a partir da cessação do vício); tem
de partir de quem tenha legitimidade por via de uma acção.
É confirmável, ou seja é provável escolher ou não invocar essa anulabilidade
Decorre das seguintes situações:
 Incapacidade do agente:
o Menoridade; art.125º CC: um menor de idade não pode
realizar negócios jurídicos
o Interdição; art.138º CC e ss: não existe capacidade do sujeito
para reger bens e a própria pessoa
o Inabilitação; art.152º CC e ss: Não existe a capacidade para
reger bens.
 Vícios da vontade (e divergências entre a vontade e a declaração)
o Erro do vício: a vontade declarada não corresponde à vontade
real do declarante. Art.251º CC; art.252º CC
o Dolo: consiste no engano provocado ao declarante, ou no
aproveitamento do engano do declarante - art.253º CC
o Coacção moral: declaração negocial feita sob uma ameaça
com o intuito de obter essa declaração. Art.255º CC

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o Incapacidade acidental: alguém que temporariamente
embriagado vende o seu veiculo por um valor irrisório
art.257ºCC

 Ineficácia em sentido estrito (art.270º e ss): Supõe que o acto não possui, segundo a
lei, qualquer vício intrínseco, mas não obedece a um requisito extrínseco, a algo
exterior ao acto em si, tal como a lei o configura, mas de que depende a sua eficácia.
Nesse caso, o acto pode não produzir quaisquer efeitos ou apenas parte dos seus
efeitos jurídicos.
Pode apresentar uma:
 Condição suspensiva: determinado negócio só começa a produzir efeitos a
partir da total verificação de determinado evento.
 Condição resolutiva: produz efeito desde o inicio, mas se ocorrer
determinado evento, deixa de produzir esses efeitos, tendo também
efeitos retroactivos.

Protecção preventiva
Existem também meios de prevenção que se destinam a afastar a eminência da violação da
estatuição da norma:
 Medidas de segurança
o Privativas da liberdade (art.91º ss e 104 e ss do CP)
Internamento de certos inimputáveis ou imputáveis com anomalias psíquicas,
consideradas perigosos e assim retirando do circuito social indivíduos que pela sua
conduta, possam pôr em perigo os seus semelhantes.
o Não preventivas de liberdade (art.100º a 104º CP)
Medidas de igual modo julgadas aptas a evitar o cometimento de actuações
previsivelmente praticáveis, que atinjam interesses primordiais de terceiros.

 Procedimentos cautelares (art.381º e ss do CPC)


o Especificados: especialmente previstos no CC
 Arrolamento (421º e ss)
 Arresto (406º e ss)
 Embargo de obra nova (412º e ss)
o Não especificados: Não estão regulamentados especialmente no CC. Estão
regulamentados no artº381º CC

 Medidas de coacção (art.196º e ss do CPP)


A partir do momento em que o sujeito é considerado arguido podem-se estabelecer as
seguintes medidas:
o Aplicação de termo de identidade e residência
o Obrigação de apresentação periódica
o Caução
o Suspensão de exercício de actividade

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o Obrigação permanência habitação
o Prisão preventiva

“Devem observar-se determinados requisitos para aplicar determinadas medidas de coacção:


204º CPP”

 Inabilitação de autor de um determinado delito para o exercício de certa actividade ou


profissão (proibição de exercer certa actividade a titulo definitivo).

Meios de tutela jurídica: Justiça pública e justiça privada

Consoante a qualidade do seu agente protector, a protecção coactiva ou a tutela dos direitos
pode ser:

Justiça pública, “heterotutela”

A tutela pública do Direito assume-se como regra geral. Incumbe efectivamente ao


Estado, através dos tribunais, órgão de soberania a quem compete administrar a
justiça (art. 202ºCRP), reconhecer aos cidadãos o direito de acção, isto é conceder a
todo o titular do direito violado a providência necessária à reintegração efectiva desse
direito (artº20 CRP e art. 2º, nº2, CPC)
Regra:“art.1º, 1ª parte, CPC”

Justiça privada:”autotutela”

A garantia opera por acção do próprio titular do direito ameaçado, ofendido ou


violado que reage por sua força e autoridade contra tal ameaça, ofensa ou violação. Os
meios de tutela privada de direito, devem ser seguidos do recurso aos meios coercivos
normais, procedimentos cautelares e acções subsequente.
Excepção:“art.1º, 2ª parte, CPC”

Elemento fundamental:
 Da acção directa é evitar a inutilização prática de um direito do próprio sujeito
 Da legítima defesa é a agressão actual e ilícita de um direito do agente ou terceiros
 Do estado de necessidade é afastar o perigo de um dano manifestamente superior

o Acção directa (art.336º CC)


Esta acção é legítima quando ocorrem os seguintes pressupostos:
1. Se destine a realizar ou assegurar o próprio direito.
2. Seja impossível recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais

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3. Seja indispensável para evitar a inutilização prática desse direito
4. O agente não pode exceder o necessário para evitar o prejuízo, ou
seja, deve haver racionalidade de meios
5. Não pode sacrificar interesses superiores aos que o agente visa
assegurar ou realizar.

Ex1: Marido prepara-se para levar um quadro valioso, para ocultar na


iminência de um processo de divórcio, a esposa barra a saída para impedir tal
facto.
Ex2: Eliminação da resistência do proprietário que impede o acesso ao seu
prédio necessário para o combate a um incêndio.

o Legítima defesa art.337º CC


A admissão da legítima defesa é uma imposição do Direito natural. Por mais
aperfeiçoados que sejam os meios de tutela pública, esta modalidade de
justiça privada haverá necessariamente de se manifestar.
A defesa é legítima quando ocorrem os seguintes pressupostos
(cumulativamente)
a. Agressão ilegal, injusta ou ilícita: é a ilegalidade deste que justifica que
o agredido, defendendo-se, agrida por sua vez, com o fim de obstar a
que o mal se consume.
b. Em execução ou iminente/actualidade: Se é agressão passada, não se
justifica a reacção. Se é futura, poderá recorrer-se aos meios
coercivos; não há agressão apenas nos casos em que o agente ameaça
de qualquer forma a integridade física do ofendido.
c. Contra a pessoa ou património do agente ou terceiro: a agressão
pode-se dirigir contra a pessoa ou o património do defendente ou de
terceiro
d. Impossível recorrer à força pública: só é admitida quando não for
possível recorrer á autoridade pública
e. Existir racionalidade dos meios empregues: O prejuízo causado pelo
acto não deve ser manifestamente superior ao que resultar da
agressão.

o Erro acerca dos respectivos pressupostos art.338, CC


Avaliada casuisticamente

o Estado de necessidade art.339, CC


 Distingue-se da legítima defesa pela reacção sobre a esfera jurídica de
outrem por quem está ameaçado por um perigo que não resulta de
agressão alheia.
 Difere da acção directa porque esta visa a conservação prática de um
direito, enquanto naquele se procura evitar a consumação ou
ampliação de um acto.

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 O prejuízo provocado em estado de necessidade deve ser
indemnizado pelo agente ou até por terceiro tal como prescreve o
art.339º,nº2, CC.
Ex: condutor que realiza uma manobra de salvamento, para evitar um
atropelamento de uma criança, ou ciclista descontrolado.

o Consentimento do lesado art. 340º, CC


Ex: simples cortar de cabelo, uma intervenção cirúrgica, uma tatuagem

o Direito de resistência art.21º CC


Ex: Ordem de um polícia para retirar um carro que está bem estacionado

o Defesa da posse art.1277º CC


Ex: o inquilino chega a casa e tem a fechadura mudada; Pode forçar a
fechadura para entrar

o Defesa da propriedade art.1314º CC


Ex: o Sr. X encontra uma cabra na sua propriedade que já havia danificado
colheitas que se cifravam já no valor da cabra. Após várias tentativas de a
expulsar, mata-a.

o Direitos reais art. 1315 CC

o Tribunais arbitrais art.209º,nº2, CRP


Órgãos jurisdicionais criados por particulares em conflito que confiam a certos
profissionais especializados a resolução desse conflito. Das decisões arbitrais,
poderá caber recurso para os tribunais judiciais.

o Segurança privada
A lei permite em certos casos, e dentro de dados limites que a segurança de
pessoas e bens, possa ser organizada por empresas privadas especialmente
licenciados para o efeito.

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