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Resumos Teoria Geral do Direito Civil

Conceitos
Direito
• Conjunto de orientações que disciplina a vida em sociedade

Direito Civil
• Constitui o corpo fundamental do Direito, na sua globalidade
• Exprime o modo de viver do povo que o criou e que o aplica
• É direito privado comum
• Delimitado por critérios de tipo histórico-cultural: abarca regras e princípios
historicamente derivados do Direito Romano e pausadamente afeiçoados às relações
mais diretas, estabelecidas entre pessoas que compartilhem uma vivência
• Exprime a área da ciência do Direito (aparece no século II a.C.): aquela que resolve casos
concretos civis
• Direito codificado – incluiu-se nos códigos civis
• Direito do da cidade e dos cidadãos
• Quando legislado é público
• Mais comum e mais abstrato de todos os ramos do Direito
• Tem como tarefas a elaboração geral de regras de determinação de fontes, a sua
delimitação no tempo e no espaço, a sua interpretação e a sua integração e aplicação
• É o que resta quando não há qualquer tipo de direito especial para determinada
situação
• É o direito comum a todo o direito (público e privado)

O Direito Civil está dividido em 4 públicos (classificação germânica)


• Direito das obrigações – parte mais extensa do Código Civil
o Regula a generalidade dos contratos e a prática de atos ilícitos
o Trata de situações jurídicas em que alguém é credor de uma pessoa, o dito
devedor (ex.: alunos são credores dos professores, cobram-lhes o dever de
ensinar)
• Direitos reais ou das coisas
o Regula a relação entre pessoas e coisas (ex.: direito de propriedade,
hipoteca, penhor, usufruto)
o É apenas o que é
o Divide-se em direitos de gozo (direito de propriedade), de garantia
(hipoteca) e de aquisição (direito de preferência)
• Direito da família
o Conjunto de regras que pairam à volta da instituição família, que regulam
as relações familiares
o Direito instável e ideológico
• Direito das sucessões
o Regula o que acontece quando uma pessoa morre

O nosso Código Civil respeita a classificação germânica, mas em vez de estar dividido em 4
partes, está dividido em 5 partes. As 4 já indicadas mais a parte geral, que funciona como
uma tentativa de construir uma teoria geral do direito que depois funcionasse na compressão
de todo o direito.

Ciência do direito civil


• Equivale ao grande tronco comum da dogmática jurídica

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Direito privado comum
• Direito que regula as relações que se estabeleçam entre pessoas iguais e que, a esse
nível, trata particularmente os níveis genéricos da regulação
• Ramo do direito privado

Direito público e direito privado


Atualmente existem 3 critérios para distinguir Direito Público de Direito Privado:
• Natureza dos interesses
o Direito público – tem como objetivo a satisfação dos interesses públicos
o Direito privado – tem como objetivo a satisfação dos interesses privados
• Qualidades dos sujeitos
o Direito público – constituído por normas que regulam as relações em que
intervenha o Estado ou qualquer entidade pública em geral
o Direito privado- constituído por normas que regulam as relações entre
particulares
• Posição dos sujeitos na relação jurídica
o Direito público – conjunto de normas que regulam as relações e, que intervenha
o Estado. Vigente o princípio da competência
o Direito privado – constituído por normas que regulem relações entre cidadãos,
ou entre estes e o Estado (ou qualquer outra entidade pública). Vigente o
princípio da liberdade, ou seja, “posso fazer o que me apetecer, desde que
chegue a acordo com o outro sujeito”.

Direito público (continuação)


• É a base legal, aplicável a todos
• Direito especial
• Regula a administração ou as finanças públicas ou quaisquer outros domínios do Estado
• Atende ao interesse do público, dando corpo a situações de soberania e de
subordinação
• Prevalece sobre o direito privado

Situações públicas
• As atuações desenrolam-se segundo a autoridade e da competência

Direito privado (continuação)


• Adere estritamente às pessoas, não carecendo de se justificar pelos fins que prossiga
• Está menos dependente do legislador
• Relações suscetíveis de se estabelecerem entre os seres humanos, por iniciativa destes

Situações jurídicas privadas


• As atuações pautam-se pela igualdade e liberdade

Jurisprudência
• É a palavra que tem sido usada para designar as decisões dos tribunais.

Teorias Materiais (distinção na natureza das próprias regras em si)


• Teoria do Interesse
• Teoria da Importância
• Teoria da Subordinação
• Teoria da Soberania
• Teoria da Tradição

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Teorias do Sujeito (apelo primordial ao tipo de sujeito em relação ou da situação jurídica)
• Teoria do Sujeito Formal
• Teoria do Sujeito Material
• Teoria da Ordenação
• Teoria da Competência
• Teoria da Gestão Pública
• Teoria do Direito Especial (dominante na atualidade)

Pandectistas
• Propuseram o conceito de relação jurídica como tentativa de compreender o direito
• É um vínculo entre duas pessoas que se caracteriza por uma ser titular de um direito
perante a outra que se encontra adstrita a um dever (garantida pela coercibilidade)

Na relação jurídica temos 4 elementos essenciais


• Sujeito
o Pessoas entre as quais se estabelece a relação jurídica
o Titulares do direito subjetivo e dos passivos correspondentes – dever jurídico
ou sujeição
• Objeto
o Tudo aquilo sobre que recaem os poderes do titular do Direito. Ex.: coisas + ou
prestações
• Conteúdo (ou objetivo imediato)
o Direitos e adscrições que corporizam o vínculo entre os sujeitos
• Garantia
o Possibilidade de exercer coercibilidade jurídica

O nosso Código Civil está organizado de acordo com a norma jurídica. Se não encontrarmos
uma regra, pensamos numa relação jurídica e mais facilmente a encontraremos.

Marquês de Pombal
o Lança a Lei da Boa Razão (para resolver os problemas das pessoas devemos
utilizar o direito português ou, quando este não existe o direito das nações
europeias civilizadas e só depois o Direito Romano, quando conforme à boa
razão)
o Objetivo – concentrar o poder do rei e reorganizar o Direito Português

História do Código Civil Português


• Em 1867 surge o 1º Código Civil Português, o Código de Seabra, que reflete os ideias da
Revolução Francesa, embora com influências do mesmo, era mais perfeito que o Código
de Napoleão.
• Código de Napoleão foi o primeiro com maior expansão no mundo.
• Em 1944 (período do Estado Novo) foi constituída uma comissão presidida por Adriano
Vasco, para rever e fazer um novo código. O código de Seabra já não servia porque era
demasiado individualista. Surge, então, o Código Civil de 1966, entrando em vigor em
1967.
• Depois da Revolução de 1974 o Código Civil é alterado, nomeadamente no âmbito do
direito da família.

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Instituto
• Utilizando a definição do Menezes Cordeiro, é um conjunto compactuado de normas e
princípios que permite a formação típica de modelos de decisão

Tipos de instituto
• Instituto da Autonomia Privada
o Designa os mecanismos jurídicos que, em cada ordenamento jurídico, permitem
aos particulares revestir a sua vontade de eficácia jurídica
o É um espaço de liberdade jurídica
o Possibilidade de cada pessoa orientar a sua vida como quiser
o A autonomia pode ser concedida com mais ou menos intensidade (dois graus
de autonomia privada – liberdade de celebração e liberdade de estipulação)
Ø Liberdade de celebração – permite que o sujeito produza efeitos
jurídicos associados à sua vontade de celebrar um determinado ato
Ø Liberdade de estipulação – há modelação do conteúdo, de acordo com
a vontade dos que formam o negócio (ambas as partes estabelecem o
conteúdo do contrato de acordo a sua vontade)
• Instituto da Propriedade
o O CC não define o direito de propriedade, mas o artigo 1305º do CC caracteriza-
o, dizendo que o proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de
uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei
e com observância das restrições por ela impostas”
o Tem um sentido de afetação de uma coisa a uma determinada pessoa
o Tem uma carga ideológica muito forte
o A propriedade é reconhecida no artigo 62º da CRP
• Instituto da Responsabilidade Civil
o Dano corresponde à supressão ou à diminuição de uma vantagem de cumprir
determinado direito
o O que interessa para o direito civil é a reparação do dano
o O princípio geral em matéria de reparação de danos é o de que cada pessoa
sofre os danos que cabem na sua esfera jurídica
o Responsabilidade civil – instituto pelo qual alguém vai suportar na sua esfera
jurídica um dano que ocorreu na esfera jurídica de outrem, através de
indeminização. Para que isto aconteça é necessário que aconteça uma atuação
ilícita e culposa causadora do dano (artigo 483º do CC)

Artigo 483 nº2 do CC, só há responsabilidade sem culpa em duas situações


• Responsabilidade civil pelo risco (responsabilidade objetiva) – prevista nos artigos 499º
e seguintes do CC – o legislador entendeu que há determinadas realidades que são
perigosas que causam dano sem as pessoas terem qualquer culpa, mas estas realidades
também geram vantagens. Ex.: vou a conduzir e rebenta-me um pneu e não consigo
controlar o carro pelo que atropelo alguém (artigo 503º do CC) – se seguirmos a regra
não acontece nada porque não tenho culpa, mas isto é injusto, por isso o legislador criou
casos com responsabilidade pelo risco
• Responsabilidade pelo sacrifício ou por factos ilícitos (o que é contrário à lei, à moral
ou à consciência) – há responsabilidade civil mesmo se a conduta for lícita (o que é
admissível ou permitido) (ex.: artigo 339º ou 81º do CC); exemplifica casos em que
alguém pode, licitamente, provocar um dano, mas tem sempre que indemnizar

Nota: está errado dizer “a lei estipula que” ou num negócio literal “eu estipulo que” porque
estipular vem do latim stipulatio e significa “chegar a acordo”

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Princípio da tipicidade (vem do Direito Romano)
• Os cidadãos podiam produzir contratos de acordo com a sua vontade, desde que
previstos na lei, mas apenas de determinada maneira
• existe no Direito Português, relativamente ao negócio unilateral (artigo 457º do CC)

Negócio jurídico
• é um ato que é fruto da autonomia privada

Autonomia privada em matéria contratual – artigo 405º do CC

Autonomia do direito civil varia


• é máxima no direito patrimonial, por exemplo, mas não no direito da família e algumas
áreas do direito das sucessões

Limite geral à autonomia privada – artigo 280º do CC

Pessoas
• São os destinatários das normas jurídicas
• É o fim do Direito, o Direito é feito para as pessoas
• É um centro de imputação de normas jurídicas
• Sem pessoa não há Direito

Personalidade jurídica
• Qualidade de ser pessoa
• Suscetibilidade de ser titular de direitos e encontra-se adstrito a deveres
• Conceito qualitativa, ou é pessoa jurídica, ou não é
• Esta personalidade adquire-se com o nascimento completo e com vida e cessa com a
morte do indivíduo (artigo 68º do CC)
• Em Portugal, qualquer criança que nasça, mesmo que morra no minuto seguinte,
adquire (e depois perde) personalidade jurídica

Termo da personalidade jurídica


• Artigo 68º nº1 do CC – a personalidade jurídica cessa com a morte (uma pessoa está
morta com a cessação irreversível das funções do tronco cerebral – definida na Lei
141º/99 de 28 de agosto, no artigo 2º. A morte tem que ser atestada por um médico
• Artigo 68º nº2 do CC – presunção de comoriência (quando duas pessoas com ligações
sucessórias morrem em momentos muito próximos e não se consegue determinar
quem morreu primeiro, presume-se que morreram ao mesmo tempo)
• Artigo 68º nº3 do CC – morte declarada (não há dúvidas de que determinada pessoa
morreu, mas ainda não se encontrou ou reconheceu o cadáver)
• Artigos 114º a 119º do CC – morte presumida (tribunal declara que a pessoa está morta
porque já não aparece há muitos anos e tudo indica que ela morreu)

Morte civil
• Em Portugal já não é utilizada
• É quando uma pessoa perde os seus direitos civis devido a uma sentença

Efeitos da morte
• Extinção da personalidade jurídica
• Abertura da sucessão (artigo 2025º do CC)

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• Tutela post mortem dos direitos de personalidade (artigo 71º do CC) – permite aos
herdeiros continuarem a defender direitos de personalidade do falecido (ex.: direito ao
bom nome). As pessoas que aqui vêm referidas podem requerer as providências
previstas no artigo 70º nº2 (Menezes Cordeiro entende que não só podem requerer as
providências como podem pedir a indemnização, mas Maria Raquel Rei pensa que não,
pensa que a tutela post mortem se restringe às providências necessárias)

Violações dos direitos de personalidade


• Em matéria dos direitos de personalidade, temos um problema que respeita às
situações em que as pessoas são de alguma forma ofendidas porque a consequência da
violação destes direitos é apenas a responsabilidade civil (artigo 70º nº2 do CC).
• Com frequência as violações aos direitos de personalidade constituem danos morais e
este dano não é um bem juridicamente trocável por dinheiro. Quando alguém sofre um
dano moral, a indemnização, a responsabilidade civil, traduz-se numa compensação e
não tanto num equivalente
• É possível que, numa violação de um direito de personalidade, um sujeito sofra danos
patrimoniais (ex.: António é advogado e alguém fala mal dele, a sua fama, o seu bom
nome enquanto advogado é atingido e por isso perde clientes – aqui existe uma violação
de um direito de personalidade, o direito à honra, que teve consequências morais e
patrimoniais)
• O inverso também é possível, a violação de um direito patrimonial, mas que gera
consequências morais (ex.: celebro um contrato de empreitada com alguém, definimos
um prazo e o senhor atrasa-se na obra, eu estou numa casa arrendada e acaba o
contrato de arrendamento e eu não consigo suportar o preço de uma casa e o preço da
empreitada, fico deprimida e ansiosa. Uma coisa que em primeira linha é um dano
patrimonial (não cumprimento do contrato) gera também danos morais (depressão,
ansiedade)
• Durante séculos os danos morais não eram indemnizáveis porque não era possível
suprimir o dano; também existi aquém dissesse que, mesmo que fosse possível. Era
imoral ser indemnizada por um dano moral

A generalidade dos direitos patrimoniais não se extingue com a morte, mas antes abre a
sucessão

Cadáver
• Beneficia de uma tutela jurídica específica
• Juridicamente é uma coisa, mas é uma coisa especial porque já foi uma pessoa

Pessoas coletivas
• Centro de imputação de normas jurídicas que não corresponde à pessoa humana
o Pessoas coletivas de base pessoal – grupos de pessoas que se juntam para
realizar uma determinada atividade (ex.: clubes de futebol, partidos políticos,
sociedades comerciais)
o Pessoas coletivas de base patrimonial – massas de bens que prosseguem um
determinado fim (ex.: fundações)
o Pessoa rudimentar (conceito introduzido por Menezes Cordeiro) – centros de
imputação, não de normas jurídicas em geral, mas de um pequeno conjunto de
normas. Desafiam o conceito de pessoa jurídica porque não são pessoas
coletivas, mas parece que são, em determinadas e limitadas situações (ex.:
condomínio de um prédio)

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o Maria Raquel Rei – pensa que não têm direitos de personalidade (ex.: o direito
ao bom nome, nas pessoas coletivas tem um sentido comercial, enquanto nas
pessoas singulares é algo interior, as pessoas podem ficar tristes magoadas;
direitos como o direito à vida nem são suscetíveis de ser adquiridos por pessoas
coletivas)
• Registo público para as pessoas coletivas designa-se registo comercial e registo nacional
de pessoas coletivas
• Tem como objetivo permitir aos seres humanos que se organizem e prossigam os seus
interesses da melhor maneira possível
• Estrutura pensada para servir as pessoas singulares
• É uma forma de atuação em modo coletivo das pessoas singulares também porque
quem se prevalece dos interesses, dos bens, e de tudo o que existe numa pessoa
coletiva, é sem dúvida, uma ou um conjunto de pessoas singulares, também
• Têm órgãos e há uma grande liberdade quanto ao desenho desses órgãos – tem que ver
com os previstos no artigo 162º do CC, mas além desses a pessoa coletiva pode ter
muitos mais órgãos

Teses sobre aquilo que é uma pessoa coletiva


• Savigny – fingimos que uma sociedade, uma associação é uma pessoa singular (um ser
humano) e esta ficção permite-nos aplicar a estas entidades regras das pessoas
singulares. Fingimos que existe uma pessoa coletiva para fins práticos
• Teses realistas – a pessoa coletiva de facto existe porque se considera que a
personalidade se atribui a todo o sujeito de uma relação jurídica
• Teses negativistas – a pessoa coletiva é um meio ao serviço do direito. Não existe
propriamente uma pessoa coletiva, existe uma forma de nós satisfazermos os interesses
das pessoas singulares que passa pela admissibilidade de uma estrutura que pode ser
titular de direitos e deveres
• Organicismo – entendia que as pessoas coletivas eram organismos

As pessoas coletivas podem ser muito variadas


• Quanto ao seu fim
o Pessoas coletivas com fim lucrativo – sociedades (civis ou comerciais)
o Pessoas coletivas sem fim lucrativo – associações ou fundações
• Quanto ao seu substrato (aquilo que está subjacente às pessoas coletivas, aquilo que
justificou a personificação daquela entidade)
o Pessoas coletivas associativas – o seu substrato é um conjunto de pessoas que
querem realizar determinada atividade em conjunto (ex.: Benfica; sociedades)
o Pessoas coletivas fundacionais – o seu substrato é o conjunto de vens em regra
bastante significativos afetos à prossecução de determinados fins (Sr.
Gulbenkian)

Regras comuns a pessoas coletivas


• Artigo 160º do CC – princípio da tipicidade/especialidade: a capacidade de gozo das
pessoas coletivas é limitada pelos seus fins
o Menezes Cordeiro – acha que este princípio não impede lá grande coisa
o Maria Raquel Rei – acha que dizer que não temos este princípio é demais
• Artigo 162º do CC - existência de órgãos que servem para exprimir a vontade das
pessoas coletivas. São órgãos obrigatórios:
o Um órgão colegial e ímpar (na medida que têm de ter um número ímpar de
pessoas maior que 1) para administração da pessoa coletiva – normalmente

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chama-se Conselho de Administração, mas também e pode chamar Conselho
diretivo, Comissão executiva, etc.
o Órgão de fiscalização da pessoa coletiva

Associação
• Conjunto de pessoas que pretende desenvolver uma atividade não lucrativa em comum
• Em Portugal, a liberdade de associação tem, inclusivamente, consagração na
Constituição (artigo 46º da CRP). Este artigo garante a liberdade de associação,
liberdade essa que é muito ampla porque as pessoas podem construir associações para
praticamente tudo o que lhes apetecer
• As associações beneficiam de um sistema de aquisição automática de personalidade
jurídica (a personalidade jurídica adquire-se automaticamente a partir do cumprimento
do procedimento)
• Existe também a tutela de liberdade de não pertencer a uma associação (ex.: quero
fazer-me sócia da AAFDL, faço, se não quiser, não faço). Existem, no entanto, algumas
exceções, como a Ordem de Advogados: se eu quero exercer a profissão tenho,
necessária e obrigatoriamente de pertencer à Ordem
• É possível uma associação prosseguir atividades lucrativas, o que ela não pode é fazê-
las com intuito lucrativo (distribuir pelos associados os lucros das atividades)
• Existe a necessidade dos associados contribuírem para a atividade social

Nas associações existem por definição 3 órgãos (artigos 162º e 170º do CC)
• Assembleia – reúne os associados; dispõe de competência residual (todas as
competências que não estejam adstritas a um dos outros órgãos, pertencem à
assembleia – artigo 172º do cc); é o coração da associação
• Conselho de administração – é um órgão executivo, ou seja, cabe-lhe executar as
deliberações da assembleia e a representação – para a pessoa coletiva praticar atos
jurídicos tem de o fazer através de um órgão que é a administração (artigo 163º nº1 do
CC); a pessoa coletiva responde pelos atos deste órgão (artigo 165º do CC)
• Conselho fiscal – tem de ter um presidente; tem funções de fiscalização

Artigo 182º do CC – extinção das pessoas coletivas

Artigo 184º do CC – Quando a associação se extingue entre em liquidação (período em que a


associação tem apenas os poderes necessários para preparar a extinção)

Artigo 166º do CC – Os bens da pessoa coletiva, quando ela se extingue, são entregues a uma
pessoa coletiva com fins semelhantes

Como se constitui uma associação


• Através de um contrato (acordo) entre todas as pessoas que estão interessadas em
constituir-se como associação
• Além disso, existe o estatuto ou pacto social que contém o regulamento da vida daquela
associação. Os estatutos, do ponto de vista físico, são muitas vezes um documento
aparte do contrato de associação, no entanto, quando a pessoa coletiva é muito
simples, é possível que esteja tudo no mesmo documento
o Contrato de associação – identificam-se as pessoas; formaliza-se o desejo de
construir, efetivamente, a associação, dizendo o nome dela; indica-se a sede;
etc.
o Estatuto – quais são os órgãos da associação; maiorias necessárias para
determinados atos; como se faz a eleição dos membros da administração;

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quantos votos tem cada associado; quantas assembleias podem haver por ano;
etc.
• É necessário, para a formação de uma associação, a vontade de personificar
o Menezes Cordeiro e Maria Raquel Rei – as pessoas não são tolinhas por isso
nós temos que ter atenção ao que elas fazem
• A constituição de uma associação dá lugar à aquisição automática de personalidade
jurídica e é possível a constituição de uma associação para qualquer fim (desde que seja
lícito) não lucrativo (artigo 157º do CC)
• Uma vez constituídas estas pessoas coletivas estão sujeitas a publicidade e registo
(artigo 168º do CC) – tem a ver com a necessidade de certeza jurídica

Contrato de associação
• É como um contrato normativo – estabelece regras que têm uma aplicação muito
parecida com a das leis, ou seja, geral e abstrata
• Estes contratos normativos constituem um desafio grande ao jurista porque grande
parte das regras sobre contratos não está pensada para estes contratos, mas antes para
os de execução instantânea
• Deve ser constituído através de escritura pública (artigo 168º nº1 do CC) ou por
constituição imediata da associação

Artigo 980º do CC – Uma sociedade é um acordo, um contrato; as pessoas que firmam este
acordo contribuem com bens ou serviços (obrigação de entrada); têm que exercer, em comum,
uma atividade económica que não seja de mera fruição e que tenha uma finalidade lucrativa (ao
contrário das associações)

Sociedade
• Constitui-se através de um contrato (artigo 980º do CC). Não existe forma especial para
este contrato, exceto se as entradas dos sócios exigirem uma entrada especial (artigo
981º do CC)
• Quanto aos órgãos – os artigos 980º e seguintes do CC, praticamente não falam dos
órgãos da sociedade porque o legislador teve em vista um contrato e não uma pessoa
coletiva
o Assembleia – o código não menciona, no entanto, em vários artigos (artigos
980º e seguintes do CC), se prevê matérias que devem ser tomadas pelos sócios
Ø Carvalho Fernandes – diz que a assembleia não tem que existir porque
os sócios podem deliberar, sem estarem reunidos
Ø Maria Raquel Rei – diz que talvez não seja uma assembleia, mas se
tivermos reuniões por zoom ou reuniões telefónicas tende a dizer que
continua a ser uma assembleia porque os sócios estão reunidos e
deliberam
o Administração – a lei não fala dela, mas prevê a função dos administradores
(artigo 985º do CC); os administradores são o órgão executivos e gerem e
representam a sociedade
• Conjunto de pessoas que se junta e origina uma pessoa coletiva, cujo objetivo é o
exercício de uma atividade económica, com vista a repartir o lucro entre todos
• Quando uma sociedade é responsável por alguma coisa, vamos ver o que ela tem e até
esse limite paga-se, para lá desse limite não há.
• A sociedade permite limitar a responsabilidade das pessoas que atuam no âmbito da
mesma

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Abusos dos mecanismos de personalidade jurídica
• Tratar uma pessoa coletiva como sendo o nosso património pode dar problemas e é
injusto que os credores da sociedade não possam vir reclamar alguma coisa do meu
próprio património porque, durante toda a vida da sociedade, usei-a como se aquilo
fosse um só património e não dois.
• Também é problemática a existência de pessoas que constituem sociedades e as
levam à falência, constituído outra igual logo a seguir.
• Perante estes abusos dos mecanismos de personalidade jurídica foi necessário que os
legisladores os limitassem

Levantamento da personalidade jurídica coletiva faz-se através do artigo 334º do CC, através
do instituto de abuso de direito
• Maria Raquel Rei acha que não; não há outra base legal (enquanto instituto geral) que
nos permita desconsiderar a personalidade jurídica coletiva

O nosso ordenamento jurídico atribui a cada pessoa a possibilidade de se constituir pessoas


jurídicas, mas esta possibilidade é conferida com determinados objetivos. A constituição de
pessoas coletivas também permite que as pessoas limitem, legitimamente, a sua
responsabilidade.
No entanto, há quem abuse – a consequência está prevista no artigo 334º do CC.

Artigo 1007º do CC – formas voluntárias e não tao voluntárias da extinção da sociedade


• Depois da extinção abre-se a fase de liquidificação da sociedade – é necessário um
determinado período de tempo para que os administradores encerrem a atividade das
sociedades. Os bens, quando a sociedade se extingue são partilhados pelos sócios

Personalidade jurídica das sociedades


• Elemento sistemático – as sociedades foram reguladas na parte dos contratos e não das
pessoas coletivas
• Em sítio algum dos artigos 980º e seguintes do CC nós temos um artigo que nos diga que
as sociedades têm personalidade jurídica
• Artigo 981º do CC – a forma da sociedade é determinada pela forma de transmissão das
entradas dos sócios
• Artigo 984º do CC – dá a entender que existem duas pessoas jurídicas
• Artigo 990º do CC – responsabilidade do sócio perante a sociedade
• Artigo 996º do CC – trata das relações da sociedade com terceiros

De facto, existe doutrina nos dois sentidos. A maioria (Menezes Cordeiro) entende que a
sociedade tem personalidade jurídica
• Menezes Cordeiro tem uma opinião muito sensata no ponto de vista da Maria Raquel
Rei que diz que, quando os sócios respeitam aas regras dos artigos 157º e seguintes na
constituição de uma sociedade então temos uma pessoa coletiva; se não respeitarem,
não temos
Nota: mesmo que uma sociedade tenha personalidade jurídica, as sociedades têm autonomia
patrimonial imperfeita (artigo 997º do CC) – sócios tornam-se como que o garante do
pagamento pela sociedade (se houver dívidas vai-se primeiro ao fundo comum, mas depois
deste acabar são os sócios que entram)

Sociedades de advogados são sociedades civis, ou seja, eram sociedades feitas com base no
artigo 980º do CC (sociedades em que existia autonomia patrimonial imperfeita). É necessária

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confiança nas pessoas para aceitarmos responder com o nosso património pelos atos menos
bons que elas possam praticar.
Hoje em dia, como a lei foi alterada, as sociedades de advogados são sociedades civis, mas com
um regime especial, tendo adoto autonomia patrimonial perfeita (pelas dívidas da sociedade,
responde apenas a sociedade)
Existem também sociedades comerciais. A sociedade comercial distingue-se da civil, em
primeira linha, atendendo ao seu objeto: o da sociedade civil é não comercial, enquanto que o
da sociedade comercial o é. Hoje em dia, existem poucas sociedades civis devido ao fim
lucrativo, formam-se mais sociedades comerciais

Associações sem personalidade jurídica e comissões especiais


• São entidades semelhantes às associações (quando são grupos de pessoas) ou às
fundações (quando são património de afetação), mas sem personalidade jurídica
• Têm menos autonomia do que as pessoas coletivas normais
• São relativamente vulgares (ex.: comissão de festas, associações de finalistas, etc.)
• Estruturas simples, normalmente temporárias, que se fazem e desfazem, com um
determinado objetivo
• Maria Raquel Rei pensa que estamos perante aquilo que Menezes Cordeiro designa por
pessoas jurídicas rudimentares
• Menezes Cordeiro diz que as associações sem personalidade jurídica são verdadeiras
pessoas coletivas e não apenas pessoas rudimentares

Particularidade destas entidades:


• Constituição extremamente informal
• Responsabilidade das associações sem personalidade jurídica reguladas no artigo 198º
do CC
Nota: a autonomia patrimonial é muito pequena e, portanto, os associados correm riscos muito
grandes
• Artigo 200º do CC – responsabilidade pessoal e solidária dos membros da comissão;
natureza fiduciária da relação
Fundações
• É a pessoa coletiva mais difícil porque não é tao vulgar no nosso dia a dia
• Pessoa coletiva de base patrimonial (a lei personifica o património que foi afetado pelo
ser proprietário a um determinado fim)
• Artigo 185º do CC – o fim das fundações não pode ser um qualquer (as associações e as
sociedades podem), tem que ser um fim comunitário
• Em 2012, o legislador tentou dinamizar as fundações – promulgou-se a Lei 24/2012, de
9 de julho, designada por Lei Quadro das Fundações. Esta lei pretende promulgar o
regime geral das fundações
• O património é o coração da fundação, tem que ser suficiente porque a sua insuficiência
pode determinar fusão com outra fundação (artigo 190º nº2 alínea c) do CC) ou até
mesmo a extinção
• Só ganha personalidade jurídica (artigo 6º da Lei Quadro das Fundações) no momento
do ato de reconhecimento e não no ato de instituição
• O destino dos bens das fundações, uma vez que não há intuito lucrativo, é semelhante
ao das associações; os bens da fundação são atribuídos a outra pessoa coletiva que
prossiga aqueles fins, salvo indicação do fundador ou dos estatutos da fundação em
contrário (artigo 186º do CC)

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Lei Quadro das Fundações
• Dá vários exemplos de fins de interesse social no artigo 3º, o que nos ajuda a interpretar
o artigo 185º do CC, em relação ao conceito de interesse social
• Existe uma má vontade nesta lei quanto às fundações que se destinam a ser
parqueamento de património familiar, o que tem a ver com a história das fundações em
Portugal (ordens religiosas e igreja em geral e os morgadios)
• Artigo 20º nº3 – no período de limbo entre a instituição e o reconhecimento, os bens
são administrados pelo fundador, pelos seus herdeiros ou pelo executor testamentário
• Artigo 20º nº4 – as pessoas mencionadas no ponto anterior são responsáveis pessoal e
solidariamente pelos atos praticados em nome da fundação até à altura do
reconhecimento
• Estabeleceu um processo de reconhecimento extraordinário e simplificado para
determinar se há ou não há interesse social (artigo 22º nº6, 7 e 8)

Reconhecimento (artigo 188º do CC)


• É um ato que não existe nas restantes pessoas coletivas
• É um ato de autoridade pública (governo) que reconhece a existência do fim social e a
suficiência do património afetado pelo findador à produção daquele fim
• É um ato discricionário da autoridade
• Depois do pedido de reconhecimento, a instituição da fundação é irrevogável (artigo
185º nº2 do CC)
Como se constituem as fundações?
• Inter vivos (entre vivos) – constituídas por acoro, por escritura pública (é o processo
mais normal) ou de acordo com uma lei especial
• Mortis causa (causa de morte) – constituídas por testamento

Órgãos da fundação (artigo 26º da Lei Quadro das Fundações)


• Obrigatório
o Órgão da administração
o Órgão executivo (para a gestão corrente)
o Órgão da fiscalização
• Com frequência
o Órgão consultivo (constituído por pessoas com determinadas qualificações
naquela área)
Nota: o fundador não é um órgão da pessoa coletiva; dá vida a esta pessoa, mas é extremo

Extinção das fundações (artigo 192º do CC)


• Tal como as restantes pessoas coletivas, uma vez extinta, a fundação entra em
liquidação (artigo 194º nº1 do CC)

Artigo 185º nº4 – existe publicidade

Artigo 186º e 187º do CC – pode-se dizer que se quer uma fundação, pôr património de parte
para tal e deixar a feitura dos estatutos para mais tarde porque o essencial é afetar o património

Pessoas coletivas não são titulares de direitos de personalidade


• Elementos sistemáticos – a tutela dos direitos de personalidade vem regulada no
Código do Processo Civil e ele fala especificamente de pessoas singulares
• Elemento literal – artigo 70º do CC, que regula a tutela geral da personalidade é
bastante clara quando se refere ao “indivíduo” (o indivíduo não é uma pessoa coletiva,
é um ser humano)

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• Os direitos das pessoas coletivas são direitos diferentes e têm um objetivo muito
diferente
• A afetação do bom nome de uma pessoa coletiva pode ser extremamente prejudicial
para a mesma, mas de uma perspetiva económica
• Menezes Cordeiro é da opinião que os direitos de personalidade são para as pessoas
coletivas e singulares

Pessoa singular
• Centro de imputação de normas jurídicas que corresponde à pessoa humana
• São enquadradas de acordo com categorias:
o Identificação – elemento fundamental. A identificação principal de cada ser
humano faz-se através do seu nome, no entanto hoje em dia há outros fatores
de identificação (ex.: naturalidade, nacionalidade, domicílio, estado civil,
residência, etc.). A identificação das pessoas através de números, também, é
muito importante. Existe um registo público para as pessoas singulares (registo
civil)
A generalidade das normas aplica-se indistintamente a pessoas singulares e a pessoas coletivas.

Estado civil (casado, solteiro, viúvo)


• Cada um destes estados tem consequências associadas: há um regime jurídico
significativo que se aplica em função do estado civil das pessoas
• Hoje em dia, deve acrescentar-se dois estados civis – união de facto e insolventes
• A Maria Raquel Rei, confessa ser muito crítica em considerar a união de facto um estado
civil, visto que casar é uma liberdade (as pessoas só casam se quiserem). O conjunto de
normas que hoje existem sobre as uniões de facto é uma forma de forçar as pessoas a
fazerem uma cosia que elas não querem (ex.: se eu quiser casar com uma pessoa e ter
os direitos e obrigações de um casamento eu caso; se eu ano quero, não caos – a
existência de muitas normas como as que temos hoje que se aplicam a pessoas que
estão a viver juntas sem estarem casadas é o legislador a fazer pouco da liberdade das
pessoas)

Insolvente
• Pessoa que deixou de ter dinheiro para pagara todas as suas dívidas vencidas e que foi
declarada como tal pelo tribunal.
• Existe um conjunto de regras muito extensas que se lhes aplica. Discute-se muito na
doutrina se a insolvência é ou não um estado civil
• A Maria Raquel Rei acha que a insolvência é um estado civil porque há um conjunto de
regras que alteram a vida destas pessoas, de maneira muito semelhante daquelas que
existem para o casamento. Estas pessoas têm a sua vida afetada por causa da situação
em que s encontram, tal e qual como no casamento, viuvez, etc.

Domicílio
• Local onde, para certos efeitos, é suposto uma pessoa encontrar-se. É extremamente
relevante porque vivemos num espaço, existimos fisicamente. Existem vários tipos de
domicílios:
o Onde a pessoa tem a sua residência habitual (artigo 82 nº1 do CC). É possível
uma pessoa ter domicílios alternados (viver com permanência em dois sítios ao
mesmo tempo)
Nota: quando as pessoas não têm residência habitual, o seu domicílio é a residência ocasional
ou paradeiro (artigo 82 nº2 do CC)

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• Especial – é por exemplo o domicílio profissional
• Eletivos – eu escolho o domicílio para determinados efeitos
• Obrigatórios – os menores têm domicílio na casa dos seus pais, por exemplo

Capacidade jurídica
• Ao contrário da personalidade jurídica, é um conceito quantitativo. Distingue-se quanto
à capacidade:
o Capacidade de gozo – medida dos direitos e deveres que alguém pode ser
titular
Ø Tendencialmente, as pessoas singulares são genericamente capazes de
gozo (artigo 67º do CC), mas há certas matérias excecionalmente
previstas na lei em que isso não acontece
§ As pessoas singulares com idade inferior a 16 anos não podem
casar (artigo 1601º alínea a) do CC)
§ Os homens, até aos 16 anos, não têm capacidade de gozo de
perfilhar (artigo 1850º nº1 do CC), ou seja, o estabelecimento
da paternidade tem de ser feito de outro modo, tem de ser o
ministério público a estabelecer a perfilhação
§ As pessoas singulares não podem testar até aos 18 anos ou até
à emancipação (artigo 2189º alínea a) do CC)
§ Não é possível adotar até aos 25 ou 30 anos, conforme o estado
civil das pessoas (artigo 1979º nº1 do CC)
§ Existem outras incapacidades fora do CC, por exemplo, o porte
de arama, elegibilidade para Presidente da República, etc.
Ø A incapacidade de gozo não é suprível, ou seja, não é possível os pais,
ou outra pessoa, suprir a incapacidade de gozo
o Capacidade de exercício – medida dos direitos e deveres que alguém pode
exercer pessoal e livremente. Ao contrário da capacidade de gozo, é suprível,
ou seja, dispensável ou substituível
Ø Pessoal – é próprio indivíduo que vai atuar por si mesmo (exemplo de
uma atuação não pessoal: eu tenho um filho de 7 anos e vou comprar
um imóvel em nome dele – eu é que assino a escritura, eu é que
fisicamente comprei o imóvel, mas juridicamente quem comprou o
imóvel foi o meu filho; o meu filho atuou através de mim (instituto de
representação))
Ø Livremente – o indivíduo atua porque quer (ex.: eu quero vender a
minha casa, vendo a casa e ponto, mas se quiser vender a casa do meu
filho já não posso, visto que tenho de pedir autorização ao tribunal
(assistência), aqui já não sou livre)

Representação
• Corresponde à substituição jurídica por virtude da qual uma pessoa age, mas os efeitos
jurídicos produzem-se na esfera do representado

Assistência
• É o modo de suprimento da incapacidade em que uma pessoa concorre com outra,
através da autorização, para a validade do ato
• Aqui quem pratica o ato é a própria pessoa (há uma pessoa que assiste outra e essa
outra pratica o ato por si, pessoalmente, mas não livremente)

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Legitimidade
• Suscetibilidade de uma pessoa exercer uma situação jurídica que resulta não das
qualidades da pessoa, mas da relação da pessoa e da situação jurídica em causa

Esfera jurídica
• Conjunto de direitos e deveres de que uma pessoa é efetivamente titular
• Esta esfera jurídica varia constantemente de pessoa para pessoa quanto à:
o Esfera patrimonial – contém todas as situações jurídicas que juridicamente
sejam trocadas por dinheiro (ex.: garrafas de água)
o Esfera pessoal – direito à honra, direito à vida privada

Património
• Conjunto das situações jurídicas patrimoniais de que alguém é titular ou conjunto dos
bens ou é a garantia geral dos credores

Nota:
• Em matéria de patrimónios separados, por dividas da herança responde o património
da herança e não o meu
• Quando duas pessoas casam, passam a ter um património comum que pode ser maior
ou menor, consoante o regime que escolhem (existem aqui 3 patrimónios, o do homem,
o da mulher e o comum, existindo regras diferentes para cada um)
• Quando contratamos com alguém é fundamental saber qual é o património da pessoa

Princípio da responsabilidade patrimonial (existe desde Marquês de Pombal)


• Quando alguém viola a sua obrigação, a única consequência que sofre é patrimonial, ou
seja, a pessoa paga uma indemnização (em Direito Civil, no Direito Penal não é assim)

Nascituros
• Bebés em gestação
• Direitos destes bebés – é uma matéria que tem evoluído nos últimos séculos a par da
evolução da medicina
• Artigo 66º - os direitos que a lei reconhece aos nascituros são típicos e esses direitos
dependem do nascimento (condição legal – da lei) – ex. artigos 952º, 1854º e 2333º do
CC

Concepturos
• Pessoa que ainda nem foi concebida
• A palavra “nascituro” em sentido amplo inclui concepturos e nascituros. A figura dos
nascituros e dos concepturos coloca o problema de saber quem é o titular dos direitos
dos nascituros entre o momento em que os direitos lhes são atribuídos e o momento
em que eles nascem (artigos 2237º e 2240º)
• Perspetiva de Carvalho Fernandes – nega personalidade ao nascituro e considera-o
sem sujeito de direitos que lhe advenham antes do nascimento por herança ou doação:
se não nascer com vida não chega a ser deles titular, se nascer com vida adquire ao
tempo do nascimento os referidos direitos, sem que ocorra qualquer retroação.
• Perspetiva de Menezes Cordeiro – a personalidade deveria adquirir-se logo com o
momento da conceção, em nome do princípio básico que todo o ser humano é pessoa;
defende que o artigo 66º nº2 tem o sentido de supressão retroativa dos direitos dos
nascituros quando este não chega a nascer com vida

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Porque é que os nascituros e os concepturos só têm os direitos que a lei prevê e apenas se
de facto nascerem? Se considerássemos que estes indivíduos já tinham personalidade jurídica
logo desde a sua conceção criaria uma grande confusão.

Menezes Cordeiro – personalidade jurídica adquire-se no momento da conceção, mas que essa
personalidade jurídica é restrita ao direito à vida (artigo 24º da Constituição) e, portanto, o
nascituro, durante a gestação tem direito à vida e nada mais.

Os concepturos, enquanto tal, não têm direitos. Só têm alguns interesses nos direitos
sucessórios.

Tratamento jurídico de danos que são provocados no feto:


• Durante a gravidez – indemnizável se essa pessoa vier a nascer
• Durante o parto – indemnizável porque o bebé já adquiriu personalidade jurídica
Nota: os danos da mãe também são indemnizáveis

Problema do dano vida


• Parte do pressuposto que a vida humana não saudável é um dano (tem a ver com
doença ou malformação grave, no sentido de que dá muita despesa)
• Em Portugal, uma pessoa saudável e uma pessoa doente têm o mesmo valor jurídico.
Uma pessoa doente não é um dano.

Direitos de personalidade
• São atribuídos às pessoas só pelo facto de elas serem pessoas
• São inerentes às pessoas
• São uma manifestação jurídica da identidade e da humanidade de cada pessoa
• São um espaço de liberdade para que cada pessoa se desenvolva enquanto ser humano
• São absolutos (não dependem de uma relação jurídica com outra pessoa)
• São pessoais (não podem ser trocados por dinheiro)
• Alguns são pessoalíssimos (tem a ver com realidades muito pessoais e íntimas)
• São indisponíveis (os titulares podem limitar alguns desses direitos, mas não podem
aliená-los)
• Podem existir direitos de personalidade remetidos (relacionados com o artigo 75º nº1
do CC), patrimoniais (ex.: explorações do direito à imagem – há pessoas que
comercializam a sua imagem)
• Alguns direitos são suscetíveis de ser exercidos por representação (não são
pessoalíssimos) e alguma disponibilidade (artigo 81º do CC) – quando alguém limita o
seu direito de personalidade está a dispor de uma forma de exercício do mesmo
• São subjetivos, ou seja, permissões normativas especificas de aproveitamento de bens
de personalidade (corpo e honra)
• Não existe tipicidade nestes direitos em Portugal – artigo 70º nº1 do CC
• Têm um regime muito restritivo em matéria de limitações – previsto no artigo 81º do
CC que se desdobra em dois pontos principais:
o São nulas, ou seja, não produzem efeitos jurídicos, todas as limitações que
contrariem os princípios da ordem jurídica
o As limitações que sejam válidas podem ser revogadas pelo seu titular desde que
haja uma indemnização (indemnização pelo sacrifício ou por atos lícitos)
Nota: nem todas as pessoas têm todos os direitos de personalidade (ex.: um mudo não tem
direito à voz)

Artigo 70º do CC
• Estão protegidos todos os direitos que respeitem o corpo da pessoa e a moral
• A doutrina discute se neste artigo estamos perante um direito geral de personalidade
(direito cujo objeto seria toda a pessoa) ou se estamos apenas perante um princípio

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geral que admite todos os direitos de personalidade (princípio de não tipicidade dos
direitos de personalidade)
• Maria Raquel Rei, Carvalho Fernandes e Menezes Cordeiro – tendem a considerar que
estamos perante uma cláusula geral ou um princípio geral de todos os direitos de
personalidade; não há um único direito de personalidade, existem vários.

Artigo 70º nº2 do CC – A lei estabeleceu uma regra que é uma exceção no nosso direito: o
ofendido pode pedir uma indemnização ou uma outra coisa qualquer, como por exemplo um
pedido de desculpas

Direito fundamental
• Direito que vem previsto na Constituição
• Caracterizar-se não pelo seu objeto, mas pela sua fonte
• Têm regime jurídico próprio
Nota: Existem direitos de personalidade que soa direitos fundamentais (ex.: direito à vida), mas
não devemos confundir porque os direitos fundamentais têm um regime jurídico próprio

Direitos humanos
• Caracterizam-se quanto a sua fonte
• São consagrados em convenções internacionais, tratados internacionais
• Visam proteger os seres humanos onde quer que eles estejam

Direitos humanos/naturais num sentido filosófico


• Aqueles que deviam existir para todos os seres humanos

Direitos pessoais
• Não podem ser trocados por dinheiro
• Existem direitos de personalidade que são pessoais, outros não (ex.: podemos
comercializar a nossa voz)

Ausência
• Figura que não corresponde à situação de alguém que desapareceu, não deixou
representante e tem um património que é preciso cuidar (previsto nos artigos 89º e
seguintes do CC)
• Permite, que quando existe ausência de alguém, o tribunal nomeie um curador
provisório a essa pessoa – o tribunal faz a relação dos bens dessa pessoa que está
ausente, o curador presta uma caução e depois o tribunal entrega os bens ao curador e
o curador trata dos bens dessa pessoa. O curador tem de prestar contas e será
responsável pela administração que fizer dos bens do ausente
• Com o passar do tempo a curadoria pode cessar, nos termos do artigo 98º do CC (se for
pela alínea d) deste artigo, abre-se, também, algum testamento que o ausente tenha
deixado e os curadores definitivos passam a ser tratados como herdeiros – o
ordenamento jurídico começa a agir como se a pessoa tivesse morrido)
• A curadoria também pode cessar nos termos do artigo 112º do CC

Morte presumida (artigos 114º e seguintes do CC)


• Declara-se se a pessoa não voltar passados 10 anos, ou passados 5 se tiver mais de 80
anos
• É um processo judicial e tem os efeitos da morte (artigo 115º do CC)

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Existem 3 grandes categorias de pessoas que são incapazes de exercício:
1. Menores
2. Maiores acompanhados
3. Incapacidade acidental

1. Menoridade
• É a situação daqueles que têm menos de 18 anos (artigo 122º do CC)
• Os menores são genericamente incapazes de exercício (artigo 123º do CC) mas
existem exceções à sua incapacidade de exercício que vêm previstas no artigo
127º do CC
• A sua incapacidade de exercício é suprida pelo poder paternal e
subsidiariamente pela tutela (artigo 124º do CC)
• Menezes Cordeiro – acha que estas exceções são tao amplas que nem deviam
ser chamadas exceções
• Maria Raquel Rei – não concorda com Menezes Cordeiro porque acha que do
ponto de vista metodológico é mais conveniente raciocinarmos desta forma;
não obstante, concorda que algumas das exceções previstas no artigo 127º do
CC são bastante amplas
• Alínea b) do artigo 127º do CC é muito interessante porque tem 3 requisitos que
são cumulativos e que permitem ao menor gradual autonomia
• O menor que tenha violado estas regras, ou seja, que tenha praticado atos fora
das exceções aqui previstas, praticou atos anuláveis (artigo 125º e 287º do CC)
• O menor que tenha casado sem autorização dos pais não tem legitimidade para
anular negócios

Anulabilidade
• É um vício menos grave
• Produz efeitos, mas pode ser destruído e se assim for deixa de produzir efeitos
retroativamente
• O titular do poder paternal ou tutor é quem tem o poder de anular um ato (pode fazê-
lo um ano depois de ter tido conhecimento do ato, ou até à maioridade ou emancipação
do menor, ou seja, se o menor tiver 17 anos e 6 meses, os pais têm 6 meses para anular
o negócio jurídico). Há certas situações em que o menor ou os seus herdeiros também
o podem fazer (o menor pode fazê-lo no ano seguinte a ter obtido a maioridade ou
emancipação, se ainda for possível anular).

Nulidade
• Um contrato ou outro negócio jurídico é nulo (padece de nulidade) quando, devido a
um vício existente no momento em que foi celebrado, não produz os efeitos jurídicos
que diz produzir (ex.: negócio celebrado verbalmente quando a lei impõe que seja por
escrito)
• É uma forma de invalidade, contrapondo-se à anulabilidade
• É uma forma de ineficácia, isto é, de não produção dos efeitos de um negócio
• Nos termos do regime geral (artigo 286º do CC), a nulidade pode ser invocada a qualquer
momento (isto é, sem prazo) por qualquer interessado, e pode (deve) ser declarada
oficiosamente pelo tribunal, ou seja, mesmo que ninguém lho peça
• Artigo 125º nº2 do CC – é possível confirmar os atos anuláveis, ou seja, a pessoa que os
pode anular aceita-os como válidos
Nota: a autorização não vale como confirmação

Artigo 128º do CC – Consagra o dever de obediência dos menores aos seus pais

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Poder paternal (responsabilidades paternais)
• Vem densificado no artigo 1878º do CC
• É um poder funcional ou poder-dever – é uma situação jurídica ativa que é exercida, não
no interesse dos pais, mas sim no interesse dos filhos (dissociação entre o titular do
direito e o titular do interesse protegido pelo direito)
• A incapacidade dos menores que é suprida pelo poder paternal, é suprida pela
representação. Só há exceção do casamento que é mediante autorização dos pais,
desde que maiores de 16 anos – aqui a incapacidade é suprida pelo poder paternal, mas
por assistência
• Em caso de conflito entre os pais (é necessário que os pais estejam de acordo)
relativamente à anulabilidade do negócio, é necessário recorrer ao tribunal (artigo 127º
do CC)

Tutela
• É a forma subsidiária de suprimento de incapacidade dos menores
• Acontece quando os menores não têm pais, ou quando os pais estão inibidos de exercer
o poder paternal
• Vem regulada nos artigos 1921º e seguintes do CC

Artigo 126º do CC
• O dolo do menor (menor que finge que é maior ou emancipado para realizar
determinado negócio jurídico) impede a anulabilidade do ato. Discute-se muito na
doutrina se os pais devem star incluídos neste impedimento
o Menezes Cordeiro – acha que a proibição não deve atingir os pais do menor
o Maria Raquel Rei – acha que os pais não podem anular este ato porque os paus
agem em representação do menor, logo se o menor não tem o direito de anular
o negócio, os pais também não o poderão fazer

A menoridade termina com a maioridade (artigo 130º do CC). Há uma única exceção, prevista no
artigo 131º do CC que é uma ação pendente para tornar aquele menor num maior acompanhados
– nestes casos a incapacidade mantém-se ate ao final da ação.

Instituto da emancipação
• Hoje em dia é raro os menores serem emancipados (só dá pelo casamento – artigo 132º
do CC)
• A emancipação é a antecipação da capacidade jurídica geral – o menor que se emancipa
torna-se maior, ou seja, adquire capacidade de exercício
• Se existir autorização dos pais para casar, os menores adquirirem capacidade jurídica
plena, se não houver autorização dos pais, os menores podem pedir autorização ao
tribunal. Se não houver nenhuma das autorizações e mesmo assim os filhos
conseguirem casar, o casamento é válido, mas os menores não podem administrar bens
que levaram para o casamento ou os bens que obtiveram enquanto estão casados
(continuam a ser administrados pelos pais).

2. Incapacidade dos maiores


• Área muito sensível juridicamente porque estamos a tirar capacidade jurídica
(possibilidade de alguém atuar por si no mundo do direito) a pessoas que
juridicamente são consideradas aptas para modelarem a sua vida nos termos
em que entenderem

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• Aplica-se a maiores por definição, mas é possível, nos termos do artigo 142º do
CC requerer este regime no último ano de menoridade porque existem pessoas
que, infelizmente, nós já sabemos que não têm qualquer condição de exercer
pessoal e livremente os seus direitos e cumprir as suas obrigações
• Para que seja declarada a maioridade acompanhada de alguém, é necessária
uma sentença judicial

Até ao ano de 2019 tínhamos 2 sistemas de incapacidade de maiores


• Interdição – sistema mais limitador que se aplicava às pessoas com uma incapacidade
natural mais intensa (ex.: pessoas em coma, em estado vegetativo, doentes metais
muito graves, etc.)
• Inabilitação – aplicada a casos menos graves de pessoas que precisavam de algum
apoio, mas que na maioria dos casos conseguiam organizar a sua vida ou pelo menos
aquilo que dizia respeito à sua pessoa. Precisavam de ajuda para governar o seu
património, mas não o sue corpo. A inabilitação podia ser suprida pela assistência, as
não era uma prática muito comum
Nota: este modelo é muito antigo e está desatualizado, por um lado quanto aos fundamentos
da incapacidade (eram tabelados e alguns deles não são considerados verdadeiramente
incapacitantes, como a surdez, mudez e cegueira). Para além disso, o sistema que tínhamos era
rígido, não estava adaptado aos problemas que hoje temos relacionados com a velhice, com o
prolongamento da vida e, portanto, com a degradação progressiva das capacidades das pessoas,
entendeu-se que devia, então, ser criado um sistema em que a pessoa pudesse ser apoiada de
forma gradual.

O sistema atual baseia-se em 2 princípios fundamentais (Lei nº49/2018, de 14 de agosto)


• Caracter transitório das limitações (periodicamente, o tribunal vai rever a situação
daquela pessoa e vai constatar se ela continua ou não a precisar do acompanhamento
e se sim, se aquele acompanhamento é adequado à sua condição ou se precisa se ser
ajustado)
• Preservação máxima da capacidade da pessoa (mesmo para um maior acompanhado,
a regra é de que ele é capaz de tudo exceto aquilo que vier previsto na sentença. Só se
limita aquilo que for necessário para a situação transitória daquela pessoa)

Artigo 138º do CC
• Existe uma amplitude grande das causas de incapacitação
• Nas circunstâncias previstas no artigo é necessário que se requeira uma declaração de
maior acompanhado

A incapacidade dos maiores pode ser suprida por representação, por assistência ou por uma
conjugação de ambas. Para além disso, pode ser declarada em termos totais ou de modo parcial.
As medidas de acompanhamento podem abranger o património da pessoa, a própria pessoa ou as
duas coisas, dependendo das necessidades dessa pessoa.
Quanto ao tempo, as medidas podem ser limitadas, sendo certo que são sempre transitórias (artigo
155º do CC)

Maria Raquel Rei


• Acha que existe um problema de inconstitucionalidade no sistema implementado, no
artigo 147º do CC porque pode ser interpretado como permitindo ao tribunal suprimir
a capacidade de gozo de um maior. Isto não é possível porque vai contra o artigo 18º
nº3 da CRP que nos diz que as limitações aos direitos fundamentais têm que ser feitas

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através de uma norma geral e abstrata e uma decisão do tribunal não é uma norma
geral e abstrata.
• A capacidade de exercício pode ser limitada, mas a pessoa pode sempre suprir essa
limitação através dos esquemas de representação e assistência – este artigo 147º, da
maneira que está escrito, permite a interpretação de que o tribunal pode determinar
que determinada pessoa não tem direito a x direito, ou seja, dá a impressão de que o
tribunal pode limitar a capacidade de gozo de uma pessoa e isso é inconstitucional.
Obviamente o artigo não poderá ser interpretado desta maneira.

Como se resolve esta questão?


• Quanto ao casamento, o artigo 1601º alínea b) do CC impede as pessoas que padeçam
de demência notória
• Quanto à perfilhação, temos a mesma coisa no artigo 1850º do CC
• Quanto ao testamento temos um problema porque o artigo 2189º do CC refere apenas
a limitação através da sentença proferida num processo de acompanhamento de
maiores e por isso temos que recorrer ao artigo 2199º do CC, que nos diz que o
testamento pode ser anulado se existir incapacidade acidental do testador

Existem alguns princípios que podem ser observados ao longo do regime dos maiores
acompanhados
• Supletividade (artigo 140º nº2 do CC) – se uma pessoa tiver uma família que a apoie
naquilo que ela precise e esse apoio for suficiente, não se deve requerer o estatuto de
maior acompanhado
• O tribunal deve estabelecer as medidas estritamente necessárias ao suprimento da
incapacidade natural daquela pessoa (artigo 145º do CC)
• Exceções à incapacidade (têm a ver, sobretudo, com o exercício de direitos pessoais e
com os negócios da vida corrente), previstas no artigo 147º do CC
• Prestação de contas (artigo 151º nº2 do CC)
• Caráter gratuito do acompanhamento (artigo 151º nº1 do CC)
• Os atos que venham a ser praticados pelo maior acompanhado em violação ao regime
jurídico estabelecido na sentença são anuláveis (artigo 154º do CC)

Antes deste regime, quer a inabilitação quer a interdição eram públicos (inclusive o bilhete de
identidade tinha essa nota), por isso entra em cena o artigo 153º nº1 do CC estabelecendo que
pode haver publicidade na medida daquilo que é entendido ser necessário, de acordo com a
situação da pessoa. O nº2 prevê o registo civil das pessoas (existe um conjunto de normas que
passa a ser aplicado à vida civil deste indivíduo).

Novo regime dos maiores acompanhados


• Vantagens – flexibilidade de maior adaptação a um conjunto de incapacidades naturais
que passaram a existir na nossa sociedade e que não estavam contempladas no regime
anterior
• Desvantagens
o Flexibilidade (decidir para a pessoa x o que é que é adequado e não existir um
tabelamento é necessário muito tempo)
o É difícil arranjar uma pessoa disposta a acompanhar

Artigo 156º do CC – Permite que o maior, antes de ficar muito debilitado, celebre um mandato
com outra pessoa com vista a que essa pessoa o ajude futuramente, estabelecendo os termos
de ajuda

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Lei nº25/2012 de 16 de julho
• Consagra a figura do procurador para cuidados de saúde (pessoa que toma aquelas
decisões difíceis em matérias de saúde)
• Criada ao mesmo tempo que a figura do testamento vital (documento em que a pessoa
diz quais são os tratamentos medico que quer ou não quer receber numa situação e que
não se possa exprimir)

3. Incapacidade acidental (artigo 257º do CC)


• Menezes Cordeiro trata da figura nos vícios
• Carvalho Fernandes trata nas incapacidades
• É uma figura muito ampla
• Esta pessoa não é um maior acompanhado, mas pontualmente é considerado
incapaz porque não consegue compreender o que está a fazer (ex.: casos de
embriaguez e consumo de estupefacientes graves; casos de extrema
perturbação)
• Para permitir a anulabilidade do negócio tem que ser notória ou conhecida do
destinatário da declaração (declaratário)
• Aplica-se a qualquer pessoa (no caso dos maiores acompanhados existe
expressamente uma remissão que vem no artigo 154 nº3 do CC, que nos diz que
antes do anúncio do início do processo, os atos podem ser anulados com
recurso à incapacidade acidental)

Indemnização
• Serve de apoio ao lesado
• Caráter punitivo para o que lesa
• Caráter dissuasor e preventivo

Artigo 496º nº1 do CC – Admite a indemnização por danos morais, mas apenas se, pela sua
gravidade, merecerem tutela do direito
• Menezes Cordeiro – é crítico e propõe que a indemnização que se admita sempre que
um direito de personalidade for violado porque acha que todos os danos morais que
resultem de violações de personalidade são sempre graves
• Maria Raquel Rei – acha que o artigo é mais equilibrado do que a solução de Menezes
Cordeiro porque não faz sentido permitir uma indemnização por qualquer
contrariedade, as pessoas não podem ser “piegas”. A eliminação da palavra gravidade
no artigo proporciona problemas jurídicos que não merecem tratamentos porque são
banalidades, não têm importância. Os tribunais não têm que estar ao serviço de pessoas
hipersensíveis

As pessoas coletivas podem reclamar danos morais?


• Maria Raquel Rei pensa que não. As pessoas coletivas também sofrem danos em alguns
direitos que têm muita semelhança com os danos morais, sobretudo quando afeta o seu
bom nome (artigo 484º do CC prevê esta situação), mas o bom nome da pessoa coletiva
tem repercussões patrimoniais e não morais. Os danos morais são danos que afligem
uma pessoa porque ela é pessoa – uma pessoa coletiva, por definição, não tem este tipo
de danos

Como se calcula uma indemnização por danos morais?


• Artigo 496º nº4 do CC remete para o artigo 494º - este artigo manda calcular a
indemnização de acordo com a equidade (imparcialidade) e manda atender alguns

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aspetos em particular – é um dos poucos exemplos em que o tribunal está autorizado a
resolver um caso de acordo com a equidade

Dano morte
• É a supressão da vida de uma pessoa
• É o dano que é sofrido pelo morto
• Há autores que entendem que o dano morte não existe. Porque se o morto já não existe
como é que ele vai sofrer o dano?
• Menezes Cordeiro – entende que o dano morte existe efetivamente e seria
extremamente formalista não admitirmos o dano morte. Além disso violaria a harmonia
do sistema jurídico admitir que a violação do direito à vida ficava sem indemnização.
Para Menezes Cordeiro quando alguém perde o direito à vida, ganha o direito a ser
indemnizado
• Maria Raquel Rei (posição tradicional) – concorda que é estranho termos que
indemnizar alguém, por, por exemplo estragar-lhe o estojo, mas não termos que
indemnizar se a matarmos. O legislador verificou que o dano morte era um dano
diferente dos outros e, por causa disso, criou um regime especial (artigo 496º nº2 e nº3
do CC) – existe o dano morte, mas quem o vai receber não é o cujos, mas antes as
pessoas mencionadas no artigo

Menezes Cordeiro entende que a par do direito do morto (de cujos) existe o direito das pessoas que
estão indicadas no artigo 496º nº2 e nº3 do CC a serem indemnizados pelo seu dano

Maria Raquel Rei acha que este direito existe, mas que está protegido no artigo 496 nº4 do CC

Danos dos familiares


• São danos por reflexo ou danos por ricochete (matéria muito discutida na doutrina e na
jurisprudência)
• Existe um conjunto de autores que pretende estender os danos reflexos para além do
dano morte. A existência destes danos é uma exceção ao princípio de que a
responsabilidade é individual

Direito objetivo
• Cria realidades específicas porque através de determinados mecanismos e, em último
recurso, através do uso da força nós conseguimos impor determinadas noções

Pessoas jurídicas
• São uma realidade jurídica como as outras
• As pessoas singulares têm uma particularidade de corresponder diretamente com uma
pessoa real

Comunhão
• Por vezes a lei exige que determinados direitos e deveres sejam cumpridos em conjunto
pelos vários titulares de uma situação jurídica
• Não existe personalidade coletiva aqui (ex.: comunhão hereditária – para vender um
bem herdado por várias pessoas, todas têm de estar de acordo)

Coisas
• É muito difícil definir uma coisa porque existem inúmeras
• Artigo 202º do CC – muito criticado por ser circular; é infeliz; ajuda pouco, mas não está
errado

23
• Uma coisa é aquilo que tem existência física (existência física é diferente de existência
corpórea) delimitada (tem princípio, meio e fim) e autónoma (ex.: as páginas de um
livro não têm autonomia, mas se as arrancarmos de lá passam a ter), não é uma pessoa
nem um animal, é apropriável e pode ser objeto de relações jurídicas
• Existem muitos direitos que não podem incidir sobre partes da coisa (ex.: eu posso
vender um livro, mas não posso vender uma página de um livro)
• Podemos arrendar um quarto, mas não podemos vender um quarto porque não é
possível haver direitos de propriedade sobre pates de coisa
• Os bens de personalidade não são coisas, a menos que tenham autonomia (ex.: cabelo
depois de cortado)
• Lei 8º/2017, de 3 de março veio alterar o CC, estabelecendo o estatuto jurídico dos
animais
o Maria Raquel Rei acha que esta lei é patética porque o legislador foi mexer no
CC sem compreender muito bem o que estava a fazer; criou um subtítulo
autónoma que tem 3 artigos sobre os animais com artigos que explicam aquilo
que já se sabia antes
• As coisas têm um regime jurídico próprio (regime dos direitos reais). Este regime é mais
exigente do que o regime das prestações porque as coisas têm grande importância na
vida das pessoas
• Costuma-se falar de coisas imateriais – na definição apresentada, as coisas imateriais
não estão incluídas porque não têm existência física
• Não são realidades humanas

Coisas imateriais
• Não se lhes aplica o regime jurídico das coisas
• É algo que não tem matéria, não é uma animal nem uma pessoa
• Tem autonomia
• É delimitado
• Pode ser objeto de relações jurídicas
• Não tem existência física

Direitos às vezes são considerados coisas imateriais. Hoje em dia, é errado dizer que os direitos
são coisas

Artigo 1303º do CC – regime de autor e propriedade industrial são as regras que regulam a
generalidade dos direitos imateriais. A própria legislação diz que os direitos imateriais estão
sujeitos a um regime especial pelo que não faz sentido considera-los coisas

Domínio público
• É uma área que tem tido uma evolução muito diferente ao longo dos seculos e de país
para país. As regras dependem da tradição e até mesmo da política de cada país

Pessoas coletivas públicas


• Estado e outras entidades
• Podem ter bens de domínio público e bens de domínio privado

Bens de domínio público


• Estão afetos à satisfação dos interesses do público (ex.: praias, estradas, mar)
• Por vezes a utilização do bem público carece de autorização

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• Enquanto os bens estiverem no domínio público não é possível aliená-los e não é
possível serem objeto de apropriação individual, usucapião (aquisição de propriedade
com fundamento de longa duração), etc.
Bem
• Tem um conceito mais amplo do que a coisa porque um bem é tudo aquilo que tem
utilidade para o homem

Estudamos coisas através de classificações


• Coisas corpóreas – quando têm um corpo
o Artigo 1302º do CC – as coisas corpóreas são suscetíveis dos direitos reais – são
sempre suscetíveis de posse (controlo material de uma coisa) e podem ser
objeto de direito de propriedade
• Coisas incorpóreas – quando não têm corpo; não são suscetíveis de posse (ex.:
eletricidade)
• Coisas fungíveis (artigo 207º do CC)
o coisas que se determinam pelo seu género, qualidade e quantidade, quando
constituam objeto de relações jurídicas – ex.: 2 bifes porque se determinam
pelo seu género (bifes), pela qualidade (do lombo, por ex.) e pela quantidade
(2)
o Não existem relações jurídicas que se estabeleçam sobre uma coisa fungível
quando ela não está determinada
o As coisas fungíveis acabam por ser substituíveis
o Em alguns casos, é possível haver divisibilidade objetiva e subjetiva
• Coisas não fungíveis (ou infungíveis) – coisas individualizadas pelas suas próprias
características
• Coisas consumíveis (artigo 208º do CC)
o Quando o seu uso regular importa a sua destruição (ex.: maçã – o seu uso
regular implica que eu a coma) ou alienação
o O consumo pode ser natural ou jurídico (ex.: dinheiro)
o O regime jurídico das coisas consumíveis é diferente
o Com frequência são suscetíveis de perda ou de deterioração
• Coisas não consumíveis – admitem o uso reiterado sem destruição da sua substância
• Coisas móveis (artigo 205º do CC)
• Coisas imóveis (artigo 204º do CC)
o Menezes Cordeiro – coisa imóvel é a parte delimitada da crosta terrestre e tudo
aquilo que a ela esteja ligado
o Prédios rústicos e urbanos (um prédio rústico é uma parte delimitada do solo e
as construções nele existentes não têm autonomia económica; um prédio é
urbano quando consiste num edifício incorporado no solo com terrenos que lhe
sirvam de logradouro (quintal ou jardim, é um espaço não edificado ao lado do
imóvel), aqui o que interessa é que o terreno seja totalmente secundário, ao
contrário dos prédios rústicos)
Ø As partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos são coisas que
perderam autonomia e passaram a estar agregadas à coisa imóvel (ex.:
se eu tiver um pomar e lhe colocar uma cerca, a cerca tinha autonomia,
mas passa a ser parte integrante do pomar – quando eu vendo o pomar,
eu vendo o pomar e a cerca)
o A água de um rio é uma coisa imóvel quando corre num rio; se a pusermos numa
caneca já não é
o Direitos inerentes aos imóveis - o que o legislador pretendeu foi aplicar aos
direitos inerentes aos imóveis o regime jurídico das coisas imóveis)

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o Estão sujeitas a registo público e os direitos que incidem sobre as coisas imóveis,
para terem eficácia perante terceiros, carecem de estarem registadas
o Para celebrar negócios em nome de outrem em relação a imóveis, é vulgar a lei
exigir determinadas autorizações que não exige quando os negócios são
relacionados com as coisas móveis
• Coisas divisíveis (artigo 209º do CC) – uma coisa é divisível quando sendo dividida não
perde valor (claro que perde valor proporcionalmente, mas a soma das parcelas é igual
à coisa na sua totalidade) – ex.: chá numa garrafa é divisível porque ao pô-lo em
copinhos, ao dividi-lo, não perde valor
• Coisas indivisíveis – ex.: ao partirmos uns óculos a meio eles deixa de ser funcionais e,
consequentemente, perdem valor – os óculos são indivisíveis
• Coisas futuras (artigo 211º do CC) – são as coisas que não estão em poder do disponente
ou que este não tem direito, ao tempo da declaração negocial (ex.: coisas que não
existem – eu vendo ao Pingo Doce as minhas uvas do ano que vem)
• Coisas presentes – coisa que existe no momento da declaração negocial ou a que, nesse
momento, esteja na disponibilidade do declarante

A classificação entre coisas imóveis e móveis é especialmente importante, devido às regras de


forma. Por norma, os negócios sobre coisas imóveis estão sujeitas a uma forma especialmente
solene. Por outro lado, há certos direitos que são privativos de coisas móveis ou de coisas
imóveis:
• Arrendamento, Superfície, a Propriedade Horizontal, a Hipoteca (exceto numa
situação) são negócios que só existem tendo por objeto coisas imóveis
• Aluguer, Penhor, etc. são negócios específicos das coisas móveis

Existe uma categoria “intermédia” quanto ao regime jurídico, entre as coisas móveis e as coisas
imóveis que é a categoria das coisas móveis que se mexem (ex.: automóveis, aviões, navios,
etc.). como as coisas se mexem, o legislador criou um sistema de matrícula: a matrícula é como
se fosse o nome, é a identificação de cada uma destas coisas móveis, que permite identificar a
coisa e os direitos que sobre ela incidem. O artigo 502º nº2 do CC manda-nos aplicar às cosias
móveis sujeitas a registo o regime jurídico das coisas móveis, exceto aquilo que não seja
especialmente regulado

Posse
• Conceito jurídico diferente do conceito de propriedade
• O possuidor é aquele que controlo materialmente a coisa, o proprietário é aquele que
tem uma permissão normativa especifica de aproveitamento da coisa

Notas:
• Podem existir coisas fungíveis e não fungíveis meramente subjetivas
• As coisas fungíveis colocam muitas dificuldades – existe um regime próprio (artigos 539º
a 542º do CC)

Benfeitoria (artigo 216º do CC)


• É uma despesa feita para conservar ou melhorar uma coisa (ex.: pintar uma casa,
remendar um casaco). Podem ser:
o Necessárias – quando evitam a perda, destruição ou deterioração da coisa (ex.:
remendar o casaco)
o Úteis – quando não sendo indispensáveis para o valor da coisa aumentam o seu
valor (ex.: forrar um casaco)

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o Voluptuárias – quando não sendo indispensáveis para a conservação da coisa,
nem lhe aumentando o valor de uso (a utilidade), servem apenas para deleite
do benfeitorizante (ex.: construir uma piscina numa moradia não aumenta o
valor de uso da moradia nem é necessário – a menos que seja uma estratégia
para valorizar o imóvel)

Estas 3 classificações são importantes, sobretudo em casos em que o benfeitorizante (a pessoa que
faz a despesa) não é o proprietário da coisa – ex.: por vezes a pessoa que tem a posse da coisa não
é proprietária (ex.: arrendatário) e é vulgar que o inquilino faça algumas benfeitorias na coisa.
Às vezes as benfeitorias também podem ser feitas de má fé (ex.: ladrão que rouba computador
todo estragado, arranja-o e é obrigado a devolvê-lo, mas quando o devolve o proprietário já recebe
o computador com uma série de benfeitorias incluídas – o computador sem os arranjos valia 100,
com os arranjos vale 1000, o que fazer? O ladrão fica com o prejuízo? O dono paga a valorização?
O ladrão retira as benfeitorias do computador? – esta matéria vem tratada nos artigos 1273º a
1275º do CC e o regime jurídico associados às benfeitorias depende da sua classificação

Relações entre coisas:


• Parte componente – é uma parcela de uma coisa (ex.: mangas de uma camisola são uma
parte componente da mesma); é possível que algumas partes componentes antes
tenham tido alguma autonomia (ex.: parafusos da mesa), mas no momento não a têm.
O regime da parte componente é o regime da coisa
• Parte integrante – não é uma coisa porque não tem autonomia, mas já teve e se for
separada da coisa pode voltar a ter autonomia – isto é importante porque há negócios
sobre partes integrantes e nesses negócios os efeitos reais só se produzem depois da
parte integrante ser separada da coisa – artigo 408º do CC (ex.: eu hoje vendo a janela
da minha casa à Joana e combino com ela que ela é que cá vem com o empreiteiro tirar
a janela; amanha vendo a minha casa à Sara; na semana que vem a Joana bate à porta
de casa, a Sara abre e a Joana diz-lhe que veio buscar a janela; a Sara diz “bem, ela
vendeu-me a casa com a janela, tu não vieste buscá-la antes, por isso agora não te dou
a janela” – como a janela não foi separada, a Joana não adquiriu a propriedade e neste
momento o proprietário já não sou eu, é a Sara que já não está disponível para vender
a janela. O direito da Joana sobre a parte integrante antes da separação é um mero
direito de crédito, não é um direito real
• Fruto (artigo 212º do CC) – é tudo aquilo que a coisa produz periodicamente sem
prejuízo da sua substância; nem todas as coisas são frutíferas; podem ser, consoante a
produção resulte da natureza da própria coisa ou das relações jurídicas, naturais (frutos
das árvores) ou civis (juros)

Nota:
• A coisa imóvel produz uma renda, a coisa móvel produz um aluguer
• As regras dos frutos vêm previstas nos artigos 213º e 214º do CC

• Coisa acessória (artigo 210º do CC) – são coisas móveis que, não constituindo partes
integrantes, estão afetas por forma duradoura ao serviço ou ornamentação da coisa
principal (ex.: ferro e tábua; telemóvel e carregador)

Nota: o problema exposto no artigo 210º nº2 do CC é que existem determinadas coisas
principais que não funcionam sem as coisas acessórias e vice-versa. Em virtude disto, surgiram
inúmeras teorias, sendo que as mais populares consideram que as coisas acessórias (lato sensu)
têm categorias

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• Coisa acessória (stricto sensu) – coisa acessória com valor autónomo, desafetável da
coisa principal e sem a qual a coisa principal não perde a sua utilidade normal
• Pertença – coisa acessória sem valor autónomo e sema a qual a coisa principal perde a
sua utilidade

Uma coisa não é necessariamente constituída por um só artigo, há coisas que têm várias peças
(ex.: garrafa térmica e tampa – se comprarmos uma garrafa térmica sem tampa, a garrafa não
serve para nada). O que acontece é que há determinadas partes componentes que não têm uma
ligação material com a coisa principal (ex.: chave da porta – a chave é uma coisa diferente, mas
faz parte da porta) – apesar de poderem não ter ligação material à coisa principal, não deixam
de ser componentes da mesma e, portanto, não deixam de estra abrangidos pelos negócios que
se faz em relação à coisa principal.

Artigo 206º do CC – contrapõe coisas simples a coisas compostas


• Essa não é a opinião maioritária – a doutrina contrapõe coisas simples (aquelas que não
são constituídas por várias coisas) às coisas complexas (aquelas onde há uma agregação
física ou jurídica dos elementos). Assim teríamos
o Dentro das coisas complexas
Ø Coisas compostas – agregação física de elementos (automóvel é
constituído por travões, motor, pneus, etc.)
Ø Coisas coletivas
o Dentro das coisas coletivas
Ø Coisas coletivas em sentido estrito – as coisas que formam a coisa
principal são tratadas em conjunto (ex.: par de sapatos, baralho de
cartas, etc.)
Ø Universalidades de facto – pluralidade de coisas móveis que pertencem
às mesmas pessoas, tem um destino unitário, mas cada coisa pode ser
tratada individualmente, são extensíveis e são fungíveis entre si (ex.:
rebanho, livros de uma biblioteca, etc.). Além de coisas, incluem
também direitos – ex.: herança, estabelecimento comercial, etc.

Artigo 201 alínea d) do CC – diz-nos que, na ausência de uma leia especial, se aplica o regime
das coisas aos animais, desde que não seja incompatível com a sua natureza
• Os animais sempre foram tratados de uma forma diferente das coisas precisamente por
terem vida. A figura jurídica dos animais deve ser entendida num sentido histórico (não
são nem as pessoas, nem os seres microscópicos)

Lei nº 92\95, de 12 de setembro e decreto-lei nº314/2003, de 17 de dezembro – sobre os


deveres das pessoas relativamente aos animais

Coisas – baldios
• São um tipo de coisas muito desafiante do ponto de vista jurídico porque estamos
habituados a lidar com o conceito de propriedade e até de direito subjetivo que implica
a apropriação do bem e implica uma utilização em exclusividade (ex.: o facto de alguém
ter uma casa e não a utilizar na sua totalidade, não faz com que o direito deixe de
proteger o direito de a ter, mesmo que não a utilize na totalidade porque nos
habituámos a que a propriedade, a que o direito seja um direito de afetação de uma
coisa a uma pessoa, independentemente dessa pessoa usar ou não usar, portanto,
existe uma apropriação, uma exclusividade no uso que é protegida pelo direito – esta
forma de utilização dos bens é típica do direito romano e mostra um certo

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individualismo transposto para o direito e para a forma como nós nos relacionamos com
as coisas; existe uma afetação dos bens aos fins das pessoas individualmente
consideradas e o direito subjetivo também está ao serviço disto, porque o direito
subjetivo é uma afetação de um bem a uma pessoa, pessoa essa que tem a permissão
normativa especifica de utilização/aproveitamento dessa coisa). No entanto, há formas
de aproveitamento diferentes, que não passam pela apropriação, como por exemplo a
comunhão conjugal – o marido e a mulher são titulares de bens que não são nem de
um, nem de outro, são dos dois, mas são dos dois de uma forma estranha porque um
deles não pode pedir ao outro a separação, ou seja, não pode dizer que afinal vão dividir;
só se eles se separarem é que podem partilhar os bens, até lá os bens são comuns
• Forma de utilização de um bem que não passa pela apropriação
• É um terreno ou uma parte de um terreno que é possuído e gerido por uma comunidade
local e que em regra constitui aquilo que se designa pelo logradouro (palavra jurídica
para designar o quintal) comum dos compartes (pessoas que utilizam o baldio). Esta
comunidade local utiliza a coisa na medida das suas necessidades
• O poder político sempre lutou contra os baldios por várias razões, mas
fundamentalmente porque os baldios subaproveitam os terrenos precisamente porque
o terreno baldio é de todos e não é de ninguém, e o que não é de ninguém,
normalmente, não é aproveitado intensivamente, não é cuidado da melhor maneira
• No século XIX e sobretudo no século XX, os baldios passaram a ser administrados pelas
autarquias, pelos municípios e depois, em 1976, houve uma lei (que já foi revogada) que
restituiu os terrenos baldios às comunidades locais
o Maria Raquel Rei: acha esta lei um bocadinho estranha porque considera que
manipula um bocadinho os baldios porque sempre se regeram por direito
consuetudinário e a lei de 1976 exige, para que o baldio seja reconhecido que
as comunidades se constituam como comunidades baldias e que criem
determinados órgãos que são estabelecidos na lei, ou seja, tentou-se
democratizar o baldio que não é um sistema de utilização democrática.
• Não há sucessão nos baldios
• Os bens dos baldios não são bens do domínio público. Não é qualquer pessoa que pode
utilizar os bens, só os compartes
• Hoje em dia, tenta-se rentabilizar. Uma das formas com a qual se tenta fazer isso é
através do arrendamento de alguns desses espaços para os aerogeradores.
o Maria Raquel Rei: acha muito duvidoso que isso possa ser feito porque o baldio
não é uma associação e, portanto, não faz sentido nenhum rentabilizar o baldio
a este nível. Para alem disso, a lei trata o baldio como um logradouro comum,
pelo que a sua utilização correta é uma utilização individual e não capitalista.
• As pessoas que fazem parte dos baldios são os eleitores dos sítios onde existem baldios

Aquilo que temos hoje é a Lei nº75/2017, de 17 de agosto. Particularidades:


• Os bens sujeitos ao regime baldio podem ser utilizados por qualquer morador da área
do baldio, de acordo com os costumes ou as deliberações do baldio
• Não há uma utilização em comum como se de uma associação se tratasse, há uma
utilização individual por parte de um conjunto de pessoas, ainda que existam algumas
regras de utilização
• Os bens dos baldios são bens que se encontram fora do comércio
• São bens impropriáveis, indisponíveis, impenhoráveis, imprescritíveis e insuscetíveis de
usucapião – se os órgãos do baldio fizerem asneira, a pessoa que sofreu o dano não o
vai ver ressarcido, porque não existe qualquer tipo de responsabilidade civil
• É possível atribuir a qualidade de comparte a alguém que não seja eleitor
• O baldio não tem personalidade jurídica, apesar de ter órgãos próprios

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• Correspondem àquilo que o professor Menezes Cordeiro chama de “pessoas
rudimentares” e têm autonomia patrimonial imperfeita

Natureza jurídica dos baldios


• Maria Raquel Rei – acha que não há um direito de propriedade, há um direito diferente,
um direito baldio. Há um regime subjetivo original, sem duvida, que é a comunidade dos
compartes, mas também há um regime objetivo original, portanto não é um direito de
propriedade como os outros, porque não há apropriação enquanto que no direito de
propriedade há afetação jurídica do bem a pessoas individuais.

Representação
• Consiste numa substituição jurídica pela qual uma pessoa atua em nome, no interesse
e por conta de outra, produzindo os efeitos da atuação diretamente na esfera do
representado (ex.: pais em representação dos filhos)
• É uma figura relevante porque é uma forma de aumentarmos as possibilidades de
atuação de uma pessoa (permitem a uma pessoa estra em vários sítios ao mesmo
tempo, através do seu representante). Possibilitam relações jurídicas profissionais

Requisitos:
• Alguém atua em nome de outrem – invoca o nome de outra pessoa (ex.: eu compro o
casaco do Telmo me nome do meu irmão)
• Atuar no interesse de outrem
o Atuar tendo em vista os interesses do representado, o que não significa que os
negócios sejam sempre fantásticos
o Origina o fenómeno da prestação de contas (o representante deve prestar
contas ao representado)
o Não implica que os interesses do representante também não estejam
envolvidos (ex.: nenhum pai tem interesse em que o filho seja malcriado,
educam-nos para o interesse deles e para o seu próprio interesse)
o A atuação no interesse do representado faz com que a representação seja ou
um poder-dever ou, em qualquer caso, um poder de exercício vinculado
• Atuação por conta do representado – tem em vista que as situações jurídicas passem
para a esfera jurídica de outra pessoa (pode estar associado ao mandato sem
representação ou à interpretação real de pessoas). Não interessa ao representado que
se saiba que ele está envolvido
• Efeitos jurídicos produzem-se diretamente na esfera jurídica do representado – tenta
transmitir que o representante é como se fosse transparente (ex.: se eu for ao café
comprar pão à minha mãe, o dono do café vai olhar para mim como se eu fosse a minha
mãe)

Dificuldades da representação
• Normas jurídicas estão pensadas para a ausência de representação; quando
introduzimos um fenómeno de representação temos que lidar com dois blocos de
normas (ex.: regras de compra e venda + regras de representação)
• Em vez de haver problemas em duas pessoas, pode haver em três, do ponto de vista
técnico complica sempre a vida de um jurista

O representante deve ter sempre capacidade ou poder de decisão; o representado pode dar
instruções, mas o representado é que decide o negócio.

Núncio

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• Pessoa que não tem poder de decisão, não é representante; é um mero transmissor da
vontade do representado (ex.: procuração para casamento – artigo 1620º nº2 do CC –
uma pessoa pode casar por procuração, mas não é o procurador que escolhe o
conjugue, a única coisa que ele faz é dizer que sim)
• Artigo 250º do CC – a figura que está prevista neste artigo é a do núncio

Existem 3 tipos de representação e para qualquer uma delas, para haver representação, tem
que haver um fundamento qualquer, é preciso uma fonte para essa representação
• Legal – é uma representação típica. Só existe, praticamente, quando a lei a prevê (daí o
nome). Tem que ser analisada caso a caso porque cada tipo de representação legal tem
o seu regime (ex.: representação paternal)
• Orgânica – é designada por algumas pessoas como representação imprópria porque
ocorre quando alguém faz parte do órgão de uma pessoa coletiva e quando o órgão da
pessoa coletiva atua não temos duas pessoas jurídicas a atuar, temos só uma que não
age por conta de outrem, temos apenas a pessoa coletiva. Aplicam-se-lhe as regras das
pessoas coletivas:
o Alguns autores – quando o órgão da pessoa coletiva atua, não temos duas
pessoas a atuar, temos apenas a pessoa coletiva e daí decorre que não se
deveria chamar representação
o Maria Raquel Rei – acha que é preferível dizer que há representação orgânica
porque há todas as semelhanças entre esta representação e as outras
• Voluntária – é o paradigma de todos os fenómenos de representação. É a representação
verdadeira. Tem a sua origem na vontade de uma ou duas pessoas (radica na autonomia
privada, na liberdade).
o Funda-se na autonomia privada, ou seja, na vontade das pessoas. A fonte de
uma representação voluntaria é o negócio jurídico que confere poderes de
representação. O negócio jurídico pode ser de dois tipos:
Ø Negócio jurídico unilateral – procuração (artigos 262º e seguintes do
CC)
Ø Negócio jurídico bilateral – os poderes de representação podem ser
expressos ou implícitos. O mandato (artigos 1157º e seguintes do CC) é
um negócio jurídico bilateral

Mandato
• Contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou mais atos jurídicos por
conta da outra
• Pode ser celebrado com poderes de representação (ex.: advogado) ou sem poderes de
representação
• Bilateral
• O mandatário tem o dever de celebrar negócios jurídicos

Procuração
• Unilateral
• O procurador tem o poder de celebrar negócios jurídicos
• Discute-se na doutrina da jurisprudência se o negócio jurídico da procuração não terá
outro negócio subjacente, ou seja, se a procuração não será apenas uma fachada – dar
poderes a uma pessoa para atuar na minha esfera jurídica é um ato gravíssimo pelo que
isso não acontece sem uma explicação
o O artigo 265º do CC parece indicar que a procuração tem que ter um negócio
que lhe serve de base, mas a última parte pode abrir a porta a razões abstratas

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Ø Maria Raquel Rei – pensa que 99% das procurações têm um negócio de
base subjacente, mas tem que admitir que possa acontecer sem um
negócio de base, advertindo apenas que não é de aconselhar
• A regra é que a procuração não tenha prazo, mas a pessoa pode estabelecê-lo e é
prudente que o faça
• Existem 2 grandes tipos de procuração – procuração normal (ordinária) e a procuração
no interesse do terceiro
• As procurações são negócios com particularidades
o Capacidade do procurador (artigo 263º do CC) – o procurador costuma ter
apenas a capacidade necessária para entender aquilo que vai fazer
o Falta ou vícios da vontade e estados subjetivos relevantes (artigo 259º do CC)
– implica conjugar a vontade do procurador e a do representado. É de difícil
aplicação
o Forma da procuração (artigo 262º nº2 do CC) – a procuração tem a forma do
negócio que o representado pretenda que o procurador celebre
o O terceiro pode exigir a prova dos poderes representativos (artigo 260º do CC)
– se o terceiro não exigir a prova dos poderes representativos, no caso de algo
correr mal, a responsabilidade é dele
o Artigo 264º do CC – refere-se à substituição do procurador
o Artigo 261º do CC – prevê os negócios consigo mesmo que originam conflitos
de interesse, permitindo que o negócio seja anulado, se o representado não o
tiver consentido na celebração
o Artigo 265º do CC – refere-se se à extinção da procuração. A relação de base é
normalmente um mandato, um contrato de trabalho, um contrato de agência,
etc.
o Quando a procuração se extingue, o representante deve devolver o documento
(medida de segurança) – artigo 267º do CC
o Artigo 266º do CC – conjunto de regras de proteção de terceiros quando a
procuração é alterada ou revogada

Institutos relacionados com a representação


• Representação sem poderes (artigo 268º do CC)
o Ocorre quando alguém invoca poderes de representação que não tem
o Tem como efeito que um negócio sem poderes de representação é ineficaz ao
representado (não produz efeitos na esfera jurídica do representado)
o O artigo permite a ratificação do negócio
o O terceiro pode revogar o negócio antes da ratificação (artigo 268º nº3 do CC)
• Abuso de poderes de representação (artigo 269º do CC) – há um procurador que se
afasta daquilo que ele sabe que é o interesse do representado. Se o terceiro souber do
interesse do representado podemos aplicar o artigo 268º do CC porque no artigo 269º
do CC o terceiro merece proteção, mas no 268º não merece

Situação jurídica
• É o efeito jurídico perspetivado a partir da esfera jurídica de cada pessoa, ou seja, a
situação jurídica é o resultado da aplicação do direito objetivo (normas jurídicas) a uma
pessoa concreta numa determinada situação (ex.: a norma que diz que é proibido matar
dá origem, em termos de situação jurídica, ao dever de não matar; artigo 879º do CC
está redigido a partir dos efeitos jurídicos, os efeitos de compra e venda – quando uma
pessoa compra um bem, na sua esfera jurídica nasce o direito de propriedade, nasce o
dever de pagar o preço e nasce o direito de receber a coisa, assim como na esfera
jurídica do vendedor nasce a extinção por transmissão do direito de propriedade, o

32
direito a receber o preço e o dever de entregar a coisa (são efeitos jurídicos que resultam
da aplicação das regras de compra e venda))

Classificação das situações jurídicas


• Ativa – o titular da situação jurídica é destinatário de uma norma permissiva ou de uma
norma que confere um poder (ex.: direito de receber o preço – porque resulta da
aplicação de uma norma permissiva ou do poder de reclamar o preço) – cria situações
que soa vistas como vantagens do sujeito
• Passiva – o titular de uma situação jurídica é destinatário de uma norma proibitiva ou
de uma norma que impõe uma conduta, portanto, uma norma de obrigação (ex.: dever
de não matar – porque resulta da aplicação de uma norma proibitiva) – criam
circunstâncias que são sentidas como desvantagens
• Absoluta – é aquela que existe só por si só (ex.: direito de propriedade)
• Relativa – é aquela que para existir precisa de outra de sinal contrário (ex.: dever de
pagar o preço / direito de receber o preço). São situações jurídicas assimétricas, eu não
posso ter o dever de pagar o preço, se não houver alguém com o direito de o receber

Tipos de situações jurídicas ativas


• Direito subjetivo
o É o efeito jurídico ativo por excelência
o Do ponto de vista técnico é a expressão da liberdade das pessoas no mundo do
Direito
o Podem distinguir-se em patrimoniais e não patrimoniais; disponíveis e não
disponíveis, etc.
o É uma construção jurídica
Ø Maria Raquel Rei – é uma situação jurídica relativamente à qual já se
escreveu muito. Aconselha a que decoremos uma definição e que a
percebamos minimamente
Ø Menezes Cordeiro – um direito subjetivo é uma permissão normativa
especifica de aproveitamento de um bem
• Poderes ou faculdades – quando as posições jurídicas são ativas são menos complexas
o Maria Raquel Rei. confessa não ser fundamentalista acerca dos termos – se a
lei não estabelece regras não cabe aos doutores fazê-lo; por vezes é mais prático
falar em poderes ou faculdade em vez de direito (a lei utiliza muitas vezes estas
palavras com muita flutuação)
• Direito funcional – posição jurídica ativa e caracteriza-se por ser conferida em razão do
exercício de uma função e, precisamente por isso, deve ser exercida no interesse da
prossecução dessa função
• Expectativa
o É uma situação jurídica ativa
o Há muita divergência quanto à definição
o É a situação de uma pessoa que ainda não é titular de uma determinada
situação jurídica ativa, mas já beneficia de certos instrumentos jurídicos que
protegem a eventualidade dessa pessoa, no futuro, vir a ser titular da situação
jurídica em causa (ex.: eu não tenho direito sobre os bens dos meus pais, mas
sou filha única e, portanto, herdeira legitimária - não me podem afastar da
sucessão pelo que apesar dos bens não serem meus, no futuro é muito provável
que aqueles bens venham a ser meus. Assim, sendo a lei no presente,
estabelece determinados mecanismos jurídicos para proteger esta
eventualidade de eu, no futuro, vir a ser proprietária daqueles bens – ex.: se eu
tivesse irmãos e os meus pais quisessem fazer-lhes vendas precisavam da minha

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autorização, artigo 877º do CC; em certas situações posso impugnar alguns atos
que os meus pais pratiquem)
o Expectativa de facto – é um desejo, uma esperança (ex.: eu tenho uma tia
solteira rica e tenho a esperança que ela faça um testamento em meu favor,
mas a lei não protege isso)
• Proteção indireta
o É uma situação jurídica ativa, mas é ainda mais ténue do ponto de vista da
permissão que concede do que a expectativa
o O titular da proteção indireta não é protegido diretamente através de uma
atribuição pelo ordenamento jurídico de uma permissão ou de um poder, mas
antes proibindo-se os outros todos de fazer determinada cisa ou obrigando-se
os outros todos a agir de determinada maneira que indiretamente acaba por
beneficiar aquela pessoa (ex.: a lei manda a que as pessoas que fabricam os
iogurtes coloquem a data de validade em cada caixinha de iogurtes, ou seja, se
um consumidor comer um iogurte que não tenha ata de validade e que tenha
um problema por causa disso, essa pessoa tem direito a uma indemnização – a
pessoa não tem o direito de não ficar doente nem o direito de não comer
comida estragada, no entanto há aqui uma proteção indireta que resulta do
facto de os produtores de iogurtes terem que colocar a data de validade nos
produtos (artigo 483º do CC))
• Proteções reflexas
o Modo de funcionar é o mesmo das proteções indiretas, ou seja, há uma pessoa
que beneficia não de uma permissão, mas sim do resultado de normas de
obrigação ou de proibição que têm como destinatário todas as outras pessoas
ou um conjunto grande de outras pessoas que dá como resultado uma
vantagem para esta tal pessoa, mas nas proteções reflexas não temos associado
a este efeito aquilo que vem previsto no artigo 483º do CC, ao contrário da
proteção indireta
o O legislador quando estabeleceu aquela proteção, não teve em atenção os
interesses daquelas pessoas e portanto elas não têm direito a ser indemnizadas
( o que acontece aqui é muito semelhante ao caso da expectativa de facto, isto
é, há uma pessoas que beneficia reflexamente das normas de obrigação ou
proibitivas destinadas a outras pessoas por sorte, porque essas normas existem
mas não têm qualquer pretensão decorrente da violação das normas pelas
outras pessoas)

Permissão normativa – espaço de liberdade que tem como fonte uma norma

Específica – é aqui utilizada em contraposição com as permissões genéricas (ex.: liberdade de


contratar ou de casar é uma permissão genérica); para ser específica é preciso que haja uma
afetação de algum bem a uma pessoa concreta (ex.: o meu telemóvel está afeto a mim, então
eu tenho um direito sobre ele, eu posso fazer o que quiser com ele porque o direito me permite
que eu atue especificamente sobre ele)

De aproveitamento de um bem – tem como objetivo salientar a concretude do direito subjetivo,


isto é, o direito subjetivo tem um objetivo concreto, ou seja, tem um bem sobre o qual ele incide
(ex.: mesmo no caso dos direitos de personalidade que não são tão palpáveis como o de
propriedade, por exemplo, existe sempre um bem concreto que é afeto a uma pessoa: a honra,
a saúde, etc.)

Dentro do direito subjetivo podemos ter


• Direito comum – todos os outros que não são potestativos

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• Direitos ou poderes potestativos
o É uma permissão normativa especifica de aproveitamento do poder de,
unilateralmente, produzir efeitos na esfera jurídica de outrem ou no
ordenamento jurídico
o São direitos invioláveis
o É absoluto
o Alguém pode produzir efeitos jurídicos na esfera jurídica de outra pessoa ou no
ordenamento jurídico no geral, sem depender da vontade de outra pessoa (ex.:
eu faço uma proposta ao António para lhe comprar o seu telemóvel, pelo que o
António tem o poder potestativo de dizer que sim, automaticamente, portanto,
através da sua vontade, o contrato forma-se e eu passo a ser a proprietária do
telemóvel enquanto o António deixa de o ser; eu passo a ter o dever de pagar o
preço e o direito de receber o telemóvel – há um conjunto de efeitos jurídicos
(artigo 879º do CC) que se produzem na minha esfera jurídica, inclusive, e neste
caso também na do António, que se produzem apenas por vontade do António:
se o António não quiser vender o telemóvel nada disto acontece)
o Exceção – é um direito subjetivo potestativo que se caracteriza por constituir
um contrapoder ao permitir ao seu titular, licitamente, recusar-se a cumprir
uma situação jurídica a que está adstrito (ex.: comprei o telemóvel ao António,
mas não tenho o dinheiro para pagar, então o António só me entrega o
telemóvel quando lho pagar – artigo 428º do CC. Ora, nos termos do 879º, o
António vendeu o telemóvel, logo, tem o dever de entregar o telemóvel, mas
pode, licitamente, recusar-se a entregar o telemóvel enquanto eu não pagar). É
a possibilidade de uma pessoa paralisar o exercício do meu direito
Ø Dilatórias – quando atrasa, paralisa o direito alheio (ex.: não me
entrega o telemóvel até eu chegar com os 100€ ao multibanco)
Ø Perentórias – quando extingue o direito de outra pessoa ou paralisa-o
por tempo indeterminado (ex.: prescrição – após determinado período
de tempo sem que o credor tenha exercido o seu direito, a lei diz que
ele já não o pode exercer mais; no nosso ordenamento jurídico o prazo
geral de prescrição é de 20 anos (artigo 309º do CC) – o devedor pode
dizer que não paga)

Tipos de situações jurídicas passivas


• Obrigação
o É o paradigma das situações jurídicas passivas
o É a situação jurídica da pessoa que se encontra na necessidade jurídica de
praticar, ou não, um determinado comportamento (ex.: comprei um telemóvel
pelo que tenho a obrigação de pagar o preço; a pessoa que me vendeu tem a
obrigação de me entregar o telemóvel)
o Podem ser mais ou menos complexas – quando são muito simples,
normalmente, chamam-se deveres (não se dividem noutros – pagar o preço é
um dever / dar uma aula é uma obrigação porque podemos dividi-la noutros
deveres como preparar a aula, não falar muito depressa, esclarecer dúvidas,
etc.)
• Sujeição
o É a irmã gémea do direito potestativo
o É uma situação jurídica absoluta, ou seja, não depende de outra,
designadamente do direito potestativo para existir, no entanto elas andam
sempre a par porque quando há um direito potestativo também há uma
sujeição

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o Situação jurídica daquele que pode ver a sua esfera jurídica alterada por efeito
exclusivo da vontade de outrem (ex.: eu propus ao António comprar-lhe o
telemóvel – depois de fazer a proposta e enquanto ele não responder eu fico
numa situação de sujeição, eu fico à mercê do António)
o É uma situação inviolável e absoluta, isto é, apesar de haver uma relação prática
entre estas duas situações jurídicas, não há uma dependência estrutural, uma
não depende da existência da outra
o É a situação daquele que não pode fazer nada para alterar os efeitos jurídicos
que se vão produzir na sua esfera jurídica quer ele queira quer não

Ónus ou encargo – é a situação jurídica passiva na qual se encontra alguém que tem o dever de
praticar uma determinada conduta, no entanto, se não praticar a conduta a consequência é que
essa pessoa não vai ter uma vantagem
• Maria Raquel Rei e Menezes Cordeiro – incluem nas passivas historicamente o ónus ou
encargo tem sido visto como um dever e não como uma vantagem e, além disso, nem
todos os deveres têm uma sanção acoplada

Vicissitudes das situações jurídicas


• São despoletadas por factos jurídicos, portanto, por ocorrências no mundo real que
provocam alterações no mundo do direito. Podem ser de 3 tipos
o Constitutivas – quando dão origem a uma situação jurídica (ex.: contrato de
compra e venda porque se adquire o direito de propriedade)
o Modificativas – nos casos em que o facto jurídico modifica a situação jurídica
(ex.: eu comprei o telemóvel ao António por 100€ e fiquei de lhe dar o dinheiro
para a semana; para a semana chego ao pé dele e digo-lhe que afinal não
consigo arranjar os 100€, só consigo arranjar 95€ e, portanto, preciso de um
desconto de 5€ - se o António aceitar fazer o desconto estamos perante uma
vicissitude modificativa)
o Extintivas – quando o facto jurídico extingue a situação jurídica (eu e o António
celebramos o contrato, mas arrependemo-nos e chegámos ao acordo de que o
telemóvel fica com o António na mesma, eu não tenho de pagar o preço)
• Correspondem ao seu regime jurídico, que pode ser um regime negocial ou um regime
legal

Tese da Maria Raquel Rei sobre o abuso do direito


• Com toda a franqueza acha que ambas as teorias são um bocadinho estéreis: o que é
importante aqui é nós percebermos o que está em causa e como é que funciona, ou
seja, saber como é que esta figura apareceu no nosso ordenamento jurídico e como é
que a fazemos funcionar no caso concreto. Saber aplicar o artigo 334º do CC

Artigo 334º do CC – este artigo diz-nos que para além da configuração do direito, também o
exercício tem limites. É um artigo muito propenso à chamada jurisprudência do sentimento –
não é isso que se pretende, ou seja, não se trata de fazer justiça
• A palavra direito neste artigo deve ser entendida como situação jurídica ativa
o Menezes Cordeiro – entende que o abuso do direito também se aplica a
situações jurídicas passivas
o Maria Raquel Rei – não concorda com MC porque nos termos do artigo 9º do
CC não é possível interpretar a palavra direito como dever
• Exceder manifestamente = exceder sem qualquer dúvida os limites impostos pela boa-

• É necessário que o excesso se traduza na violação de um de 3 conceitos

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o Bons costumes – correspondem a regras de moral sexual ou familiar, bem como
a regras deontológicas de uma determinada comunidade
o Fim económico-social – corresponde ao objetivo económico-social daquele
direito; às vezes não existe um fim económico-social
o Boa-fé – aqui está no sentido objetivo, ou seja, corresponde aos valores
fundamentais do sistema jurídico

Princípio da tutela da confiança aplicada ao abuso de direito


• Significa que uma pessoa não pode praticar determinado ato que, em princípio, está no
âmbito da permissão subjetiva de que essa pessoa é destinatária
• A doutrina e a jurisprudência identificaram 4 requisitos que se têm que verificar no
caso concreto para que determinada pessoa venha a ser protegida
o Tem que existir uma situação de confiança e isso significa que a pessoa que
confia tem subjetiva ética, isto é, tem que ignora que está a lesar um direito
alheio, mas depois de ter tentado de alguma forma informar-se (quem acredita
porque acredita não é protegido, temos que estar perante uma pessoa que
acredita porque não tem uma razão para não acreditar naquilo depois de se ter
informado)
o É preciso que haja uma justificação para a confiança, isto é, é preciso que haja
elementos objetivos que tenham conduzido a que aquela pessoa criasse a
situação de confiança
o É preciso que exista imputação da confiança, isto é, é preciso que os factos
objetivos que conduzem à situação de confiança sejam atribuíveis à pessoa que
vai sofrer as consequências da proteção da confiança
o Investimento de confiança, isto é, não basta a pessoa acreditar, é preciso que
a pessoa que acreditou num determinado estado de coisas tenha feito um
investimento, tenha feito despesas ou tenha organizado a sua vida em função
daquela situação

Princípio da primazia da materialidade subjacente


• O direito quando estabelece determinadas normas, pretende que uma determinada
consequência aconteça, isto é, não se basta com a aparência, com a forma, não basta
cumprir formalmente as normas e materialmente os objetivos do direito não estarem
preenchidos (ex.: professor vem dar-nos a aula de matemática, mas fala da qualidade
das chamuças do bar)

Abuso de direito
• É um mecanismo excelente para funcionar como válvula de segurança do sistema
jurídico, isto é, há muitos casos que não conseguimos resolver de outra maneira senão
através da aplicação da figura do abuso do direito, no entanto, quando existirem
mecanismos de direito estrito para solucionar um determinado problema, ou seja,
quando existir uma norma jurídica que resolva aquele problema em concreto, não
vamos recorrer a uma cláusula geral como a do abuso de direito para conseguir uma
solução que com toda a facilidade se consegue com uma norma de direito estrito
• Ao longo do tempo a doutrina e a jurisprudência foram identificando ocorrências típicas
de casos de abuso de direito, isto é, situações concretas em que o abuso de direito adota
determinadas formas que são quase sempre as mesmas. Então foram-se construindo
figuras, que são figuras de abuso de direito, mas que o descrevem um pouco mais. O
mais famoso de todos é o venire contra factum proprium.

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Venire contra factum proprium
• Caso de abuso de direito no qual o abuso se concretiza em duas condutas contraditórias,
ou seja, o sujeito faz uma coisa e a seguir faz outra contrária à primeira

Nota:
• As pessoas são completamente livres de mudar de ideias, o que não pode acontecer é
a pessoa mudar de ideias e com isso violar a confiança que legitimamente criou, ou seja,
se é para mudar de ideias eu não devo criar em alguém a expectativa de que não vou
mudar de ideias

O que acontece quando há abuso de direito?


• O artigo 334º do CC diz-nos que a consequência é a ilegitimidade. A consequência pode
ser:
o A paralisação do exercício jurídico (é ilegítimo o exercício, portanto significa que
eu não posso exercer o direito daquela maneira, tenho que parar)
o Quando o exercício jurídico se traduza na prática de atos jurídicos, é possível
dizer que um exercício abusivo dá lugar a um ato nulo (artigo 294º do CC); a
regra da invalidade no direito civil é a nulidade, portanto, quando um ato é
contrário à lei é nulo
o Responsabilidade civil – para que um ato seja abusivo, o artigo 334º do CC não
exige que o ato seja praticado com culpa (a responsabilidade, como já vimos, só
existe, fora dos casos especificamente previstos na lei, se houver culpa, o que
significa que para que o ato abusivo seja um ato suscetível de responsabilidade
civil é preciso que alem de abusivo o ato seja culposo – temos que conjugar o
artigo 334º do CC com o disposto no artigo 483º do CC); o que acontece aqui é
que o abuso de direito permite considerar que o ato abusivo é um ato ilícito e,
portanto, através do artigo 483º do CC, se o ato for ilícito e culposo é possível
arbitrar uma indemnização à pessoa que sofreu danos com aquele ato. O artigo
334º do CC, a propósito desta consequência da responsabilidade civil tem sido
bastante utilizado por alguma doutrina.

Colisão de direitos
• Artigo 335º do CC – para aplicarmos este artigo temos que hierarquizar os direitos,
temos que saber quais são os direitos superiores e os direitos da mesma espécie;
existem muitas propostas para a interpretação deste artigo, mas nenhuma delas é
consensual
o Maria Raquel Rei acha que depende muito do caso concreto e da
fundamentação que seja aplicada em cada caso, mas o que lhe parece pacifico
é nós admitirmos que os direitos que têm dignidade constitucional, na medida
dessa dignidade constitucional, e os direitos que tenham proteção penal, na
medida, também, da proteção penal, são superiores aos que não têm. Um
direito que tenha sido entendido como merecedor de consagração
constitucional é, obviamente, superior a um que não tenha consagração
constitucional, sobretudo se estiver no capítulo dos direitos, liberdades e
garantias que são direitos especialmente protegidos, têm eficácia imediata e
determinam a inconstitucionalidade das leis que os pretendem violar. No caso
da tutela penal o raciocínio é o mesmo. Estas regras de funcionamento do artigo
335º do CC são regras que pressupõem distinção entre os direitos e que exigem
na solução bastante bom senso. É normal que, tal como o abuso de direito, deve
ser utilizada quando não existirem regras de direito estrito para aplicar.

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Erros comuns:
• Dizer que os direitos são superiores aos outros. Alguns direitos de personalidade são superiores
a outros direitos, mas não por serem direitos de personalidade (ex.: o direito à vida é um direito
de personalidade superior aos restantes direitos na medida e que tem consagração
constitucional e tutela penal; já o direito à imagem, que, também, é um direito de
personalidade, não tem consagração constitucional nem tutela penal, pelo que é claramente
inferior). Os direitos de personalidade podem ser entendidos como tendo alguma
proeminência sobre os outros com base no artigo 70º nº2 do CC – é um tipo de proteção que
existe nos direitos de personalidade e que não existe nos outros, mas não é por isso que tem
que prevalecer sempre.
• Não é por um direito ser pessoal e outro ser patrimonial que o pessoal tem mais valor (ex.:
tenho uma casa com 3 quartos, mas só ocupo um, não é por isso que um sem abrigo tem que
vir dormir para um dos meus quartos – não há nada na lei que diga que o meu direito
patrimonial é menos importante que o direito pessoal do sem abrigo)

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