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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

12ª CÂMARA CÍVEL - PROJUDI


RUA MAUÁ, 920 - ALTO DA GLORIA - Curitiba/PR - CEP: 80.030-901

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0014916-57.2019.8.16.0000 – 2ª VARA CÍVEL DE


PARANAGUÁ

AGRAVANTES: JACIRA CONSTANTE

AGRAVADO: ESPÓLIO DE AFONSO SUAVE E MARIA CONCEIÇÃO SUAVE

RELATOR: Juiz ALEXANDRE GOMES GONÇALVES (EM SUBSTITUIÇÃO AO DES.


ROBERTO MASSARO)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AÇÃO DE


MANUTENÇÃO DA POSSE. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO QUE
RECONHECEU O DIREITO DOS AGRAVADOS PERMANECEREM NO
IMÓVEL. DISCUSSÃO SOBRE O DOMÍNIO QUE NÃO TEM LUGAR
NESTE RECURSO, TAMPOUCO NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
VEDAÇÃO EXPRESSA DO ARTIGO 557, CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO
DO CPC. IMPOSSIBILIDADE DE SUSPENDER O CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA PARA AGUARDAR A DECISÃO DA AÇÃO DE
ADJUDICAÇÃO. MANDADO DE REINTEGRAÇÃO DEVIDAMENTE
CUMPRIDO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

I. RELATÓRIO

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra a


decisão do evento 46.1 dos autos de cumprimento de sentença nº
0000306-38.1989.8.16.0129, que indeferiu o pleito de suspensão do
processo até julgamento da ação de adjudicação compulsória a que se
referem os autos nº 15292-54.2013.

Sustenta a agravante, em suma (evento 1.1 dos autos


recursais): que os autos de origem se referem a ação de manutenção de
posse ajuizada pelos agravados em face da agravante; que a sentença
julgou procedente o pedido; que, iniciado o cumprimento de sentença,
opôs exceção de pré-executividade alegando que a ação foi convertida em
reintegração de posse sem pedido, pugnando pelo recolhimento do mandado
de reintegração de posse, o que foi indeferido; que, na sequência,
informou ter vencido certame licitatório para aquisição do imóvel junto
à Prefeitura, que se negou a adjudicar o imóvel à agravante, em razão
da existência de ação da manutenção de posse; que ajuizou ação em face
do Município e pediu o sobrestamento do feito, o que foi indeferido;
que está pendente ação para aquisição da propriedade do imóvel e seria
um contrassenso ter de desocupar imóvel licitamente adquirido.
Afirmando a presença dos requisitos legais, pugnou pela antecipação da
tutela recursal para suspensão da ordem de reintegração de posse,
provendo-se ao fim o recurso para isso.

A antecipação da tutela recursal foi indeferida pela


decisão do evento 5.1 destes.

Houve contrarrazões no evento 16.1, pelo desprovimento


do recurso.

É o relatório.

II. VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO

Presentes os requisitos de admissibilidade, intrínsecos


e extrínsecos, conheço do Agravo de Instrumento.

Sem maiores delongas, o recurso não comporta provimento,


haja vista a inexistência da probabilidade do direito.

A ordem de reintegração de posse decorre de sentença


transitada em julgado, que reconheceu o direito dos agravados de
permanecerem na posse do imóvel.

A tutela possessória ora perseguida, como bem afirmado


na decisão atacada, não pode deixar de ser cumprida por qualquer
discussão meritória sobre o domínio do imóvel, a uma porque já
reconhecido o direito do possuidor, e a duas porque expressamente
vedada pela letra do artigo 557, caput e parágrafo único, do CPC.

Sobre o tema, a razão de ser da proibição da discussão


do domínio nas ações possessórias:

“O juízo da ação possessória, para realmente viabilizar


o alcance da tutela possessória, não pode se permitir
discussões inerentes ao domínio, sob pena de a tutela
jurisdicional, que deveria ser outorgada à posse, ser
deferida sempre em favor do proprietário. Note-se que o
possuidor esbulhado pelo titular do domínio não teria
sequer razão para propor a ação de reintegração de
posse, já que o proprietário-demandado sempre receberia
a tutela jurisdicional. É a própria autonomia do
conceito de posse diante da propriedade que exige a
limitação na cognição. Por isso, corretamente, afirma o
artigo 557, § único do CPC, que a alegação de
propriedade ou qualquer outro direito sobre o bem não
impede a tutela exclusiva da posse.

Não há dúvida que a restrição à discussão do domínio é


constitucional. Tal restrição não viola o direito de
propriedade nem, muito menos, o direito de defesa ou o
direito de ação. A restrição tem o objetivo de tornar
possível a prestação de uma forma de tutela
jurisdicional imprescindível à situação jurídica do
possuidor. Não há posse ou situação jurídica de
possuidor sem tutela jurisdicional possessória e não há
efetiva e adequada tutela jurisdicional possessória sem
restrição à discussão do domínio. Não fosse assim, a
posse e o possuidor estariam ao desamparo da tutela do
Estado. A restrição, além de estar fundada na posse,
está baseada no direito fundamental à tutela
jurisdicional adequada e efetiva dos direitos (art. 5º,
XXXV, CF). A propriedade pode ser tutelada mediante o
exercício do direito do de ação depois de esgotado o
juízo possessório.” (Novo Código de Processo Civil
Comentado, Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz
Arenhart, Daniel Mitidiero, 3ª Ed., Editora Revista dos
Tribunais, p. 708/709)

Veja-se que, quanto ao que demanda a agravante neste


recurso, não há probabilidade do direito, o que já foi dito na decisão
agravada, nada mais precisando ser acrescentado. Adicionalmente, não há
pertinência sobre alguma probabilidade de direito da agravante sobre o
imóvel, cuja discussão sobre o domínio não tem lugar neste recurso,
tampouco no cumprimento de sentença da ação possessória.

Portanto, o deferimento da suspensão do cumprimento de


sentença não faz nenhum sentido.

Ademais, o mandado de reintegração de posse já foi


devidamente cumprido, conforme auto de reintegração do mov. 52.1 dos
autos de origem.

Ante o exposto, voto no sentido de conhecer do Agravo de


Instrumento e negar-lhe provimento.

III. DECISÃO

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 12ª Câmara


Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em
julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de JACIRA
CONSTANTE MOREIRA.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargadora


Ivanise Maria Tratz Martins, sem voto, e dele participaram Juiz Subst.
2ºgrau Alexandre Gomes Gonçalves (relator), Desembargador Rogério Etzel
e Juiz Subst. 2ºgrau Luciano Carrasco Falavinha Souza.

14 de agosto de 2019

ASSINATURA DIGITAL

ALEXANDRE GOMES GONÇALVES

JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM 2º GRAU

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