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Rodrigo Xavier Leonardo Arts.

556 e 557

é essencial ao deslinde de conflitos dessa espécie. Compreende-se que este pedido continua a
poder ser formulado com fundamento no art. 497 do CPC.
A possibilidade de cumular pedidos de diferentes naturezas é uma prerrogativa que não afasta
o ônus da alegação, o ônus da prova específico e, tampouco, o cuidado na formulação dos pedi-
dos. Não se pode presumir a existência de pedido indenizatório em ações possessórias.
Há precedente do STJ que julga ser extra petita a condenação ao pagamento de indenização,
em ação possessória, se não há pedido específico a este respeito. Colhe-se da ratio decidendi:
“Não tendo sido a indenização objeto de pedido pela autora não há como se aplicar ao caso o
artigo 920 do CPC” (STJ, 4ª T., REsp nº 1.060.748, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de
18/4/2013).

Art. 556 - É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido


em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos
prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.

Além da fungibilidade, tratada no CPC, art. 554, as ações possessórias também são caracteri-
zadas pela duplicidade. O demandado em ação possessória, ao se defender, pode dirigir ao Poder
Judiciário um pedido possessório, cumulado com pedido indenizatório, em seu favor.
Justamente em virtude do caráter dúplice das ações possessórias, essas medidas podem ser
requeridas pelo réu diretamente em sua contestação, sem que seja necessário apresentar recon-
venção.
Trata-se de uma faculdade que exige a conduta adequada do réu, ou seja, a efetiva formulação
de pedido possessório e eventual pedido de condenação a indenizar em sua contestação. Esses
pedidos não podem ser presumidos pelo magistrado. Eventual decisão possessória em favor do
réu, sem que haja pedido expresso em contestação, ensejará a nulidade da sentença por ser extra
petita.
O réu que formular pedido possessório e pedido indenizatório deverá observar o ônus da afir-
mação, justificando a causa de pedir dos requerimentos endereçados ao juízo e, também, o ônus
da prova do fato constitutivo do seu pedido.
O caráter dúplice das ações possessórias exige do polo autor evidente cautela, pois, além de
correr o risco de restar vencido e sucumbir, como sói ocorrer em qualquer demanda, em virtude
do caráter dúplice dessas ações, o autor pode sofrer a imposição de decisão possessória, de natu-
reza executiva, e a condenação em indenização de perdas e danos. A este respeito, cf. STJ, 3ª T.,
REsp nº 1.483.155, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe de 16/3/2015).

Art. 557 - Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor


quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a
pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.
Parágrafo único - Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a
alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa.

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Rodrigo Xavier Leonardo Art. 557

O art. 557, em linhas gerais, versa sobre a vedação de se buscar a tutela possessória com
fundamento no domínio que, em termos técnicos, corresponderia ao sentido mais amplo da pro-
priedade.
Caso fosse possível ao réu se defender de uma ação possessória mediante a alegação e a pro-
va da propriedade ou, ainda, caso fosse possível ao autor manejar uma ação possessória com
fundamento na propriedade, restariam cambulhados os lindes entre a propriedade, como direito
subjetivo, e a posse, como estado de fato que é protegido pelo ordenamento jurídico.
A vedação à exceptio dominni decorre da distinção entre a posse e a propriedade no direito
brasileiro e encontrou um caminho desuniforme na legislação, até mesmo pelo percurso neces-
sário para o reconhecimento da autonomia da posse. Isso se deu por sucessivas alterações legis-
lativas que, desde o século XX, se iniciaram no art. 505 do Código Civil de 1916, alterado pelo
art. 923, CPC/1973, e pela Lei nº 6.820/1980.
A primeira parte do art. 557, ao enunciar que “na pendência de ação possessória é vedado,
tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio”, aproxima-se do sen-
tido contemporâneo conferido ao tema, ainda que se verifique uma inconveniente ambiguidade.
O que seria uma ação de reconhecimento de domínio? Quais os lindes da vedação? A abran-
gência da regra jurídica seria reduzida à interdição da propositura de uma ação declaratória da
existência da relação jurídica de propriedade (admitindo, como nos parece correto, que a pro-
priedade enseja uma relação jurídica de direito das coisas e não apenas uma situação jurídica,
conforme sustentado por parcela da doutrina) ou, ainda, envolveria toda e qualquer demanda
fundamentada na propriedade?
De certo modo, o sentido da regra jurídica é explicado pelo parágrafo único ao art. 557 do
CPC (que, apenas por essa razão, não se torna redundante): “Não obsta à manutenção ou à rein-
tegração de posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa”. Esse artigo repro-
duz, textualmente, o CC, art. 1.210, § 2º.
A alegação da propriedade ou de outro direito real não pode ser obstáculo, ou seja, não pode
representar um impedimento para o deferimento do pedido possessório, justamente pela relevan-
te diferença entre a tutela possessória e a tutela petitória, que foi objeto dos comentários ao CPC,
art. 554.
Sob essa interpretação, compreende-se que a Súmula nº 487 do STF não pode ter aplicabilida-
de perante o ordenamento jurídico atual: “[...] será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver
o domínio, se com base neste for ela disputada”.
A vedação envolve a propositura de ação de usucapião no curso de disputa possessória, con-
forme precedente do STJ: “[...] 1. A usucapião integra o rol de formas de aquisição originária da
propriedade e, consequentemente, a ação que busca seu reconhecimento, invariavelmente, discu-
tirá o domínio do bem. 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça orienta-se no sentido
de vedar o manejo de ação de usucapião, quando pendente ação possessória envolvendo as mes-
mas partes e o mesmo objeto, conforme inteligência do artigo 923 do Código de Processo Civil”
(STJ, 4ª T., AgRg no AgRg no AREsp nº 318166/SP, Rel. Min. Raul Araújo, DJe de 28/3/2014).
Há corrente doutrinária que defende a manutenção da aplicação da Súmula nº 487 do STF cir-
cunscrita às demandas possessórias em que ambas as partes, autora e ré, formulam e se defendem
de pedido possessório alicerçadas na propriedade.

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Rodrigo Xavier Leonardo Art. 558

Essa interpretação não é condizente com o CPC, art. 557. Se não é possível, seja ao autor seja
ao réu, intentar nova ação com fundamento no domínio, que é uma vedação maior, nessa regra
está abrangida a vedação menor de se obter de uma tutela possessória com fundamento na pro-
priedade, ainda que autor e réu, simultaneamente, incorram neste mesmo equívoco.
A interpretação proposta encontra conformidade com dois enunciados das Jornadas de Direito
Civil do CJF/STJ: a) Enunciado nº 78 da I Jornada de Direito Civil do CJF/STJ: “Tendo em vista
a não recepção, pelo novo Código Civil, da exceptio proprietatis (art. 1.210, §2.º) em caso de
ausência de prova suficiente para embasar decisão liminar ou sentença final ancorada exclusiva-
mente no ius possessionis, deverá o pedido ser indeferido e julgado improcedente, não obstante
eventual alegação e demonstração de direito real sobre o bem litigioso”; b) Enunciado nº 79 da
I Jornada de Direito Civil do CJF/STJ: “A exceptio proprietatis, como defesa oponível às ações
possessórias típicas, foi abolida pelo Código Civil de 2002, que estabeleceu a absoluta separação
entre os juízos possessório e petitório”.
A vedação prevista no CPC, art. 557, e, também, no CC, art. 1.210, § 2º, é conforme à Cons-
tituição, não representando violação ao direito de manejo da ação petitória, que poderá ser exer-
cido após o término da demanda possessória.
O CPC, art. 557, no entanto, abre uma via para a propositura de ações que digam respeito à
propriedade quando forem movidas contra terceiros, ou seja, contra partes diversas daquelas que
integram a relação jurídica processual da ação possessória.

Art. 558 - Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de


posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta
dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único - Passado o prazo referido no caput, será comum o
procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.

Para a interpretação do art. 558, deve-se distinguir a chamada posse nova, perdida ou amea-
çada a menos de ano e dia, e a posse velha, perdida ou ameaçada há mais tempo. A distinção terá
consequências no rito e na tutela processual.
A ação possessória voltada para proteger a posse nova (atingida dentro de ano e dia) seguirá
o rito especial da Seção II do Capítulo sob comento (CPC, art. 560 e seguintes), o que permite o
deferimento de tutela de urgência com fundamento em provas circunscritas à questão possessó-
ria (CPC, art. 561), inclusive sem a oitiva da outra parte (CPC, art. 562, primeira parte), como
exceção à vedação do procedimento comum, do deferimento de tutela de urgência sem a oitiva
da outra parte (CPC, art. 9º).
A contagem do prazo para qualificar a posse como nova ou velha terá o termo inicial a partir
dos atos de esbulho ou de turbação. No caso de turbação continuada, o prazo se inicia a partir do
primeiro ato de turbação. Caso haja a passagem da turbação para o esbulho, o prazo para a ação
de reintegração de posse inicia da data da efetiva perda da posse.
Em qualquer um dos casos, de turbação ou esbulho de posse nova ou velha, a ação manterá
a natureza possessória. A natureza jurídica da sentença será a mesma. O rito a ser observado,
todavia, será o comum.

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