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Trabalhista
Defesa no Processo do Trabalho
Revisão Técnico
Prof. Dr. Reinaldo Zychan
Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
Defesa no Processo do Trabalho
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender as modalidades de defesa e o momento de aplicação no processo trabalhista.
UNIDADE Defesa no Processo do Trabalho
Contestação
Tal como a reclamação trabalhista, a contestação poderá ser apresentada sob a forma
verbal ou escrita.
Tratando-se de contestação trabalhista verbal, o reclamante terá o prazo de 20 (vinte)
minutos para aduzi-la em audiência, após a leitura da petição inicial quando não dispen-
sada, nos termos do caput do art. 847 da CLT.
Se a opção for pela contestação escrita, deverá ser protocolizada por meio do sistema
do processo judicial eletrônico até a audiência, de acordo com o parágrafo único do art.
847 da CLT.
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Outrossim, faz-se necessário tomar cuidado com o lapso temporal previsto no art.
841 da CLT, pois uma interpretação equivocada poderia levar a crer que o prazo para a
apresentação de contestação seria de 5 (cinco) dias. No entanto, refere-se ao necessário
espaçamento mínimo entre a data da notificação e a da audiência.
Desse modo, qual o prazo para apresentar contestação? Segundo o art. 847 da CLT, até
a audiência (inaugural). Portanto, pode ser de 5 (cinco) dias, 6 (seis) dias, 7 (sete) dias...,
1 (um) mês, 2 (dois) meses, dependerá da pauta organizada pelo cartório ou pela secretaria.
Importante!
Não confunda! A contestação trabalhista verbal não é apresentada no cartório ou na
secretaria, como ocorre com a reclamação. Ademais, o prazo de oferecimento da defesa
não é de 15 (quinze) dias, como no processo civil. No processo do trabalho, o reclamado
poderá juntar sua contestação, quando esta não for verbal, até a audiência.
Defesas processuais
O reclamado, quando apresenta sua peça de contestação, poderá alegar a existência
de circunstâncias que colocam em xeque os pressupostos processuais ou aspectos da
ação, as quais recebem a denominação de defesas processuais, tradicionalmente conhe-
cidas como preliminares de mérito.
A CLT foi omissa nessa temática; por tal motivo, recorre-se ao CPC, o qual, no art.
337, dispõe sobre a consideração das preliminares:
CPC
Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:
I – inexistência ou nulidade da citação;
II – incompetência absoluta e relativa;
III – incorreção do valor da causa;
IV – inépcia da petição inicial;
V – perempção;
VI – litispendência;
VII – coisa julgada;
VIII – conexão;
IX – incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
X – convenção de arbitragem;
XI – ausência de legitimidade ou de interesse processual;
XII – falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
XIII – indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
Inicialmente, cumpre ressaltar que o inciso II do art. 337 do CPC não se aproveita
integralmente, porque a incompetência relativa (territorial ou em razão do lugar) possui
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UNIDADE Defesa no Processo do Trabalho
procedimento próprio na CLT e deve ser arguida em peça específica, nos termos do art.
800 celetista.
Outra ressalva a ser feita é sobre a perempção, não se empregando o art. 486, § 3º, do
CPC, visto que há regramento distinto na CLT. Consoante o art. 731 da CLT, tratando-
-se de reclamação trabalhista verbal, aquele que não se apresentar ao cartório ou à
secretaria no prazo de 5 (cinco) dias da distribuição da ação, incidirá na pena de perda
de ajuizar perante a Justiça do Trabalho pelo tempo de 6 (seis) meses. Também terá a
mesma punição aquele que der causa por 2 (duas) vezes ao arquivamento previsto no
art. 844 da CLT.
Consoante o art. 337, § 5º, do CPC, com a devida adaptação ao processo do trabalho, com
exceção da convenção de arbitragem, o juiz conhecerá de ofício as preliminares de mérito.
Em Síntese
Apenas a incompetência territorial ou em razão do lugar (relativa) não se aplica como
preliminar de mérito da contestação trabalhista, tendo em vista que possui regramento
e procedimento próprio na CLT.
Defesas de mérito
Diferente das defesas processuais que incidem em vícios do processo em si, as de-
fesas de mérito repercutem no direito material postulado pelo reclamante, podendo
dividir-se em: defesa de mérito direta e defesa de mérito indireta.
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Para Élisson Miessa (2021, p. 618), na defesa de mérito direta, “o réu impugna
os fatos constitutivos, negando os fatos e/ou fundamentos jurídicos da inicial”. Já,
na defesa de mérito indireta, “o réu não nega propriamente os fatos constitutivos,
mas alega fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor”. Veja as
situações hipotéticas:
• Exemplo 1: Alípio ajuizou reclamação trabalhista postulando adicional noturno; no
entanto, a reclamada contesta, alegando que nunca houve a prestação de serviço
em horário noturno por parte do empregado (nega-se o fato constitutivo – defesa
de mérito direta);
• Exemplo 2: Marinalva ingressou com reclamação trabalhista, cujo pedido foi o
pagamento de horas extras. Na contestação, a empresa confirma a prestação de
horas acima da jornada habitual; contudo, demonstra a conversão em banco de
horas lícito e devidamente usufruído pela empregada (apresenta-se fato impeditivo
– defesa de mérito indireta).
Da revelia
Segundo o art. 344 do CPC, a revelia é materializada pela ausência de contestação e
acarretará efeitos materiais e processuais – respectivamente, a presunção de veracidade
das alegações de fato contidas na exordial e o julgamento antecipado do mérito.
O art. 844 da CLT determina que a revelia será configurada pelo não compareci-
mento do reclamado à audiência inaugural, acarretando a confissão da matéria de fato.
Todavia, a revelia não produzirá tal consequência, nos termos do § 4º do aludido dispo-
sitivo celetista, se:
• havendo pluralidade de reclamados, algum deles contestar a ação;
• o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
• a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indis-
pensável à prova do ato;
• as alegações de fato formuladas pelo reclamante forem inverossímeis ou estiverem
em contradição com prova constante dos autos.
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UNIDADE Defesa no Processo do Trabalho
Quanto à primeira hipótese, quando não se utiliza nenhum parâmetro para constru-
ção da petição, é possível facilmente esquecer de pontos fundamentais a serem mencio-
nados ou revelar grande desorganização na exposição das ideias.
Desse modo, deve-se organizar as ideias de forma objetiva. Sugere-se a seguinte for-
matação de roteiro:
Quadro 1
• Endereçamento;
• Número do processo;
• Menção ao/à reclamado(a);
• Menção ao/à reclamante;
• Menção à representação pelo(a) advogado(a), à procuração ane-
xa e ao endereço profissional;
• Fundamentação legal da peça: art. 847 da CLT c/c art. 336 do CPC;
Roteiro da peça • Verbo “apresentar” ou “oferecer”;
de contestação • Nome da peça: CONTESTAÇÃO;
• Dos fatos ou resumo da reclamação;
• Das preliminares de mérito (se houver);
• Das prejudiciais de mérito (se houver);
• Do mérito (rebater cada tese da reclamação);
• Conclusão ou requerimentos;
• Fechamento.
Reconvenção
A reconvenção não se enquadra como defesa propriamente dita, classifica-se como mo-
dalidade de resposta. Refere-se a um contra-ataque, em que o reclamado (réu-reconvinte)
insurge-se em face do reclamante (autor-reconvindo) na mesma relação jurídico-processual
em que é acionado.
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autor. Ambas as partes, em consequência, passam a atuar reciproca-
mente como autores e réus. O fundamento do instituto está no princípio
de economia processual, com que se procura evitar a inútil abertura de
múltiplos processos entre as mesmas partes, versando sobre questões co-
nexas, que muito bem podem ser apreciadas e decididas a um só tempo.
De acordo com o art. 343 do CPC, “na contestação, é lícito ao réu propor reconven-
ção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o funda-
mento da defesa”.
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Quadro 2
• Endereçamento;
• Número do processo;
• Menção ao/à reclamado(a);
• Menção ao/à reclamante;
• Menção à representação pelo(a) advogado(a), à procuração ane-
xa e ao endereço profissional;
• Fundamentação legal da peça: art. 847 da CLT c/c art. 336 e 343
do CPC;
Roteiro da peça • Verbo “apresentar” ou “oferecer”;
de reconvenção • Nome da peça: CONTESTAÇÃO com RECONVENÇÃO;
• Dos fatos ou resumo da reclamação;
• Das preliminares de mérito (se houver);
• Das prejudiciais de mérito (se houver);
• Do mérito (rebater cada tese da reclamação);
• Da reconvenção;
• Conclusão ou requerimentos;
• Valor da causa;
• Fechamento.
Importante!
Na conclusão da peça, um dos pedidos será o de intimação do reclamante para apresen-
tar defesa à reconvenção, sob pena de incorrer nos efeitos da revelia. Ademais, em razão
da reconvenção, há a necessidade de delimitar o valor da causa.
Exceções
Exceção de incompetência territorial
A despeito da sistemática processual do art. 337 do CPC, aplicável com parcimônia
ao processo do trabalho, a exceção de incompetência territorial (incompetência relativa)
não deve ser arguida como defesa processual (preliminar de mérito); afinal, a CLT traz,
de forma específica, o procedimento a ser adotado em tal circunstância.
Diante de quais situações o reclamado poderá apresentar a exceção de incompetên-
cia relativa em razão do lugar?
A resposta para tal indagação encontra respaldo no art. 651 da CLT, ou seja, quando
a reclamação trabalhista for ajuizada sem a observância das regras constantes no aludido
dispositivo celetista. Portanto:
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a Junta da localização em que o empregado tenha domicílio ou a locali-
dade mais próxima.
§ 2º. A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento, estabeleci-
da neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no
estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção
internacional dispondo em contrário.
§ 3º. Em se tratando de empregador que promova realização de ativida-
des fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado
apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da pres-
tação dos respectivos serviços.
De acordo com o art. 800 da CLT, em 5 (cinco) dias contados da notificação, o recla-
mado deverá apresentar a exceção de incompetência territorial em “peça que sinalize a
existência desta exceção”.
Notadamente, diante da expressão em destaque, o legislador infraconstitucional sina-
lizou a imprescindibilidade de petição específica para impugnar o juízo, inclusive com a
possibilidade de produção de prova oral. Nesse caso, o § 3º do art. 800 da CLT permite
ao excipiente e a suas testemunhas serem ouvidos por meio de carta precatória no juízo
que entende adequado.
Diante do protocolo da peça, ocorrerá a suspensão do processo e os autos serão
destinados à conclusão do magistrado, o qual determinará a intimação do reclamante,
assim como os litisconsortes, se houver, para manifestação no prazo de 5 (cinco) dias.
Proferida decisão acerca da exceção de incompetência territorial, o processo pros-
seguirá, designando-se, nesse contexto, a audiência, a apresentação de defesa, assim
como a instrução processual ante o juízo competente.
A decisão que acolhe ou rejeita a exceção de incompetência territorial possui nature-
za interlocutória, o que, em regra, não admite a discussão de pronto em consequência
ao princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias.
Todavia, excepcionalmente, a Súmula nº 214, c, do TST admite o questionamento
quando a decisão “acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos
para tribunal regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, consoante
o disposto no art. 799, § 2º, da CLT”.
Quadro 3
• Endereçamento;
• Número do processo;
• Menção ao/à excipiente (reclamado(a));
• Menção ao/à exceto(a) (reclamante) ;
• Menção à representação pelo(a) advogado(a), à procuração ane-
Roteiro da exceção xa e ao endereço profissional;
de incompetência • Fundamentação legal da peça: art. 800 da CLT;
territorial • Verbo “apresentar”;
• Nome da peça: EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL;
• Dos fatos;
• Da fundamentação jurídica;
• Dos pedidos;
• Fechamento.
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UNIDADE Defesa no Processo do Trabalho
CLT
Art. 801. O juiz, presidente ou vogal, é obrigado a dar-se por suspeito,
e pode ser recusado, por algum dos seguintes motivos, em relação à
pessoa dos litigantes:
• inimizade pessoal;
• amizade íntima;
• parentesco por consanguinidade ou afinidade até o terceiro grau civil;
• interesse particular na causa.
Parágrafo único. Se o recusante houver praticado algum ato pelo qual
haja consentido na pessoa do juiz, não mais poderá alegar exceção de
suspeição, salvo sobrevindo novo motivo. A suspeição não será também
admitida, se do processo constar que o recusante deixou de alegá-la an-
teriormente, quando já a conhecia, ou que, depois de conhecida, aceitou
o juiz recusado ou, finalmente, se procurou de propósito o motivo de que
ela se originou.
CLT
Art. 145. Há suspeição do juiz:
I – amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II – que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa an-
tes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes
acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às
despesas do litígio;
III – quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu côn-
juge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro
grau, inclusive;
IV – interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das
partes.
§ 1º. Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem
necessidade de declarar suas razões.
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§ 2º. Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I – houver sido provocada por quem a alega;
II – a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta
aceitação do arguido.
Na terceira hipótese, nos termos dos §§ 1º e 3º do art. 144 do CPC, apenas haverá
a caracterização do impedimento se o defensor público, o advogado ou o membro do
Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz.
Ademais, o magistrado estará impedido quando conferido mandato a membro de escri-
tório de advocacia que tenha, em seus quadros, advogado que individualmente ostente a
condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo.
Por fim, veda-se a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento
do juiz, conforme o § 2º do citado dispositivo do CPC.
Quadro 4
• Endereçamento, de acordo com o endereçamento da Reclama-
Roteiro da exceção ção Trabalhista;
de suspeição • Número do processo;
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UNIDADE Defesa no Processo do Trabalho
Nos autos da Reclamação Trabalhista 1234, movida por Gilson Reis em face da sociedade
empresária Transporte Rápido Ltda., em trâmite perante a 15ª Vara do Trabalho do Recife/
PE, a dinâmica dos fatos e os pedidos foram articulados da seguinte maneira: O trabalha-
dor foi admitido em 13.05.2009, recebeu aviso prévio em 09.11.2019, para ser trabalhado, e
ajuizou a demanda em 20.02.2020. Exercia a função de auxiliar de serviços gerais. Requereu
sua reintegração porque, em 20.11.2019, apresentou candidatura ao cargo de dirigente sin-
dical da sua categoria, informando o fato ao empregador por e-mail, o que lhe garante o
emprego na forma do art. 543, § 3º, da CLT, não respeitada pelo ex-empregador. Ademais,
informou que trabalhava de segunda a sexta-feira, das 5h00min às 15h00min, com inter-
valo de duas horas para refeição; que o intervalo interjornada não era observado, daí por
que deseja que isso seja remunerado como hora extra. Contratado(a) como advogado(a),
você deve apresentar a medida processual adequada à defesa dos interesses da socie-
dade empresária Transporte Rápido Ltda., sem criar dados ou fatos não comunicados.
Disponível em: https://bit.ly/3uE9d3t
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Resolução
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B) Do intervalo interjornada
O Reclamante ressalta que não era observado o intervalo interjornada, em razão
da jornada diária de trabalho, de segunda a sexta-feira, das 5h00min às 15h00min.
Evidentemente, não houve violação ao aludido período de descanso, visto que o in-
tervalo interjornada deverá ser de no mínimo 11 consecutivas entre duas jornadas
de trabalho, consoante o disposto no art. 66 da CLT.
Nesse contexto, o intervalo era devidamente respeitado, uma vez que havia o espa-
çamento de 14 horas entre as jornadas, devendo o pedido de pagamento de horas
extras ser julgado improcedente.
IV – Das conclusões
Pelo exposto, requer o acolhimento da prescrição quinquenal na hipótese de even-
tual condenação e a consequente pronúncia de mérito.
Outrossim, requer a improcedência dos pedidos veiculados na exordial, assim como
o pagamento das despesas processuais e dos honorários advocatícios de sucumbên-
cia, de acordo com o art. 791-A da CLT.
Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos, em especial
a prova documental, testemunhal, pericial e outras que se fizerem necessárias, as
quais, desde já, ficam requeridas.
Nestes termos,
pede deferimento.
Local e data.
Advogado(a)
OAB/XX nº ____
Contratado(a) pela empresa Clínica das Amendoeiras, em razão de uma reclamação trabalhis-
ta proposta em 12.12.2019 pela empregada Jussara Péclis (número 1146-63.2019.5.18.0002,
2ª Vara do Trabalho de Goiânia), o/a advogado(a) analisa a petição inicial, que contém os
seguintes dados e pedidos: que a empregada foi admitida em 18.11.2015 e dispensada sem
justa causa em 15.07.2017 mediante aviso prévio indenizado; que a homologação da ruptu-
ra aconteceu em 23.07.2017; que havia uma norma interna garantindo ao empregado com
mais de 10 anos de serviço o direito a receber um relógio folheado a ouro do empregador, o
que não foi observado; que a ex-empregada cumpria jornada de segunda a sexta-feira, das
15h00min às 19h00min, sem intervalo; que recebia participação nos lucros (PL) uma vez
a cada semestre, mas ela não era integrada para fim algum. A autora postula a multa do
art. 477 da CLT porque a homologação ocorreu a destempo; condenação em obrigação de
fazer materializada na entrega de um relógio folheado a ouro; hora extra pela ausência de
pausa alimentar; integração da PL nas verbas salariais, FGTS e aquelas devidas pela ruptura,
com o pagamento das diferenças correlatas. A empresa entrega ao/à advogado(a) cópia do
recibo de depósito das verbas resilitórias na conta da trabalhadora ocorrido em 24.07.2017
e cópia dos regulamentos internos vigentes ao longo do tempo, em que existia previsão de
concessão do relógio folheado a ouro, mas, em outubro de 2015, foi substituído por um novo
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regulamento, que previu a entrega de uma foto do empregado com sua equipe. Analisando
cuidadosamente a narrativa feita pela empresa e a documentação por ela fornecida, apre-
sente a peça pertinente à defesa, em juízo, dos interesses dela, sem criar dados ou fatos não
comunicados. Disponível em: https://bit.ly/3uEdX9h
Resolução
Processo nº 1146-63.2012.5.18.0002
CLÍNICA DAS AMENDOEIRAS, devidamente qualificada nos autos da ação em epígra-
fe, proposta por JUSSARA PÉCLIS, por seu/sua advogado(a) que esta subscreve (pro-
curação anexa), com endereço em ________, onde recebe correspondências e
notificações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com base no
art. 847 da CLT, oferecer CONTESTAÇÃO, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:
1 Sinopse da petição inicial
Na petição inicial, a Reclamante alega que foi admitida em 18.11.2015 para uma
jornada de segunda a sexta-feira, das 15h00min às 19h00min.
Outrossim, dispensada em 15.07.2017 mediante aviso prévio indenizado, cujas ver-
bas resilitórias foram pagas em 24.07.2017.
Resumidamente, a ex-empregada requer, equivocadamente: multa do art. 477 da
CLT; condenação em obrigação de fazer materializada na entrega de um relógio
folheado a ouro; horas extras pela ausência de pausa alimentar; integração da PL
nas verbas salariais, FGTS e rescisórias.
2 Da prejudicial de mérito
Verifica-se que a extinção do contrato de trabalho da reclamante ocorreu em
17.08.2017, considerado o prazo do aviso prévio proporcional indenizado.
Nesse caso, a ex-empregada deveria ajuizar a demanda até 17.08.2019, ou seja, até
dois anos após o encerramento do vínculo empregatício.
No entanto, realizou somente em 12.12.2019 e, por isso, a contestante articula os
fatores prescricionais, consoante os preceitos do art. 7º, XXIX, da CF/1988, do art. 11
da CLT e da Súmula nº 308, I, do TST.
Portanto, está configurada a prescrição bienal, também denominada prescrição to-
tal, restando prescritas todas as pretensões da reclamante, o que deverá acarretar
a extinção do processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, II, do CPC.
3 Do mérito
A) Multa do art. 477 da CLT
A reclamante postula o pagamento de multa sob a alegação de suposta violação
do dispositivo celetista quanto à homologação da ruptura contratual, efetuada em
23.07.2017.
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UNIDADE Defesa no Processo do Trabalho
Entretanto, o art. 477 da CLT não define prazo para tal ato por parte do empregador,
a única ressalva é acerca do lapso temporal para pagamento das verbas resilitórias,
cujo depósito na conta da trabalhadora ocorreu em 24.07.2017, ou seja, nove dias
após a comunicação da dispensa.
O referido prazo da CLT é de dez dias, contados da extinção do contrato de trabalho;
portanto, não há que se falar em multa e o pedido deve ser julgado improcedente.
B) Da obrigação de fazer
A Reclamante informa que havia uma norma interna garantindo ao empregado com
mais de um ano de serviço o direito a receber um relógio folheado a ouro do empre-
gador, o que não foi observado.
Diante dos regulamentos internos vigentes ao longo do tempo, verifica-se que exis-
tia previsão de concessão do relógio folheado a ouro, mas, em outubro de 2015, foi
substituído por um novo regulamento, o qual previa apenas a entrega de uma foto
do(a) empregado(a) com sua equipe.
Portanto, é indevida a obrigação de fazer, visto que a alteração da norma interna ocor-
reu antes da admissão da empregada. Consoante a Súmula nº 51, I, do TST, cláusulas
regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só
atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento.
C) Do intervalo intrajornada
A Reclamante ressalta que cumpria jornada de segunda a sexta-feira, das 15h00min
às 19h00min, sem intervalo e, por conta disso, deveria receber horas extras.
No entanto, não há que se falar em recebimento de horas extras, pois exercia suas
atividades apenas em quatro horas diárias e não há direito há qualquer intervalo,
conforme o art. 71, § 1º, da CLT.
Por isso, indevido o pedido de horas extras.
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Outrossim, protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos, em
especial pelo depoimento pessoal do autor, sob pena de confesso, perícias, juntada
de documentos, oitiva de testemunhas.
Nestes termos,
pede deferimento.
Local e data.
Advogado(a)
OAB nº ___
Você foi contratado(a) pela Floricultura Flores Belas Ltda., que recebeu citação de uma re-
clamação trabalhista com pedido certo, determinado e com indicação do valor, movida em
27.02.2018 pela ex-empregada Estela, que tramita perante o juízo da 50ª Vara do Trabalho
de João Pessoa/PB e recebeu o número 98.765. Estela foi floricultora na empresa em ques-
tão de 25.10.2012 a 29.12.2017 e ganhava mensalmente o valor correspondente a dois sa-
lários mínimos. Na demanda, requereu os seguintes itens: – a aplicação da penalidade cri-
minal cominada no art. 49 da CLT contra os sócios da ré, uma vez que eles haviam cometido
a infração prevista no referido diploma legal; – o pagamento de adicional de penosidade,
na razão de 30% sobre o salário-base, porque, no exercício da sua atividade, era constan-
temente furada pelos espinhos das flores que manipulava; – o pagamento de horas extras
com adição de 50%, explicando que cumpria a extensa jornada de segunda a sexta-feira,
das 10h00min às 20h00min, com intervalo de duas horas para refeição, e aos sábados, das
16h00min às 20h00min, sem intervalo; – o pagamento da multa do art. 477, § 8º, da CLT,
porque o valor das verbas resilitórias somente foi creditado na sua conta 20 dias após a
comunicação do aviso prévio, concedido na forma indenizada, extrapolando o prazo legal.
Afirmou, ainda, que foi obrigada a aderir ao desconto para o plano de saúde, tendo assina-
do, na admissão, contra a sua vontade, um documento autorizando a subtração mensal.
A sociedade empresária informou que, assim que foi cientificada do aviso prévio, Estela
teve uma reação violenta, gritando e dizendo-se injustiçada com a atitude do empregador.
A situação chegou a tal ponto que a segurança terceirizada precisou ser chamada para con-
ter a trabalhadora e acompanhá-la até a porta de saída. Contudo, quando deixava o portão
principal, Estela começou a correr, pegou uma pedra do chão e a arremessou violentamente
contra o prédio da empresa, vindo a quebrar uma das vidraças. A empresa informa que
gastou R$ 300,00 na recolocação do vidro atingido, conforme nota fiscal que exibiu, além
de apresentar a guia da RAIS comprovando possuir sete empregados, os contracheques da
autora e o documento assinado pela empregada autorizando o desconto de plano de saúde.
Diante dessa narrativa, apresente a peça pertinente na melhor defesa dos interesses da
reclamada. Disponível em: https://bit.ly/3fT6u0C
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UNIDADE Defesa no Processo do Trabalho
Resolução
(espaçamento de 10 linhas)
Processo nº 98.765
FLORICULTURA FLORES BELAS LTDA., devidamente qualificada nos autos da ação
em epígrafe, proposta por ESTELA, por seu/sua advogado(a) que esta subscreve
(procuração anexa), com endereço profissional em __________, onde recebe
correspondências e notificações, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência,
com fulcro no art. 847 da CLT c/c o art. 343 do CPC, oferecer CONTESTAÇÃO COM
RECONVENÇÃO, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:
I – Do resumo da reclamação trabalhista
A reclamante exerceu a função de floricultura na empresa reclamada no período de
25.10.2012 a 29.12.2017, com jornada de segunda a sexta-feira (das 10h00min às
20h00min, com intervalo de duas horas) e aos sábados (das 16h00min às 20h00min),
tendo como remuneração mensal dois salários mínimos.
Em resumo, a ex-empregada postula aplicação da penalidade do art. 49 da CLT, adi-
cional de penosidade, horas extras, multa do art. 477 da CLT e devolução de valores
descontados a título de plano de saúde.
Ressalta-se que os haveres postulados são equivocados, conforme demonstrado a seguir.
II – Preliminar de mérito: incompetência absoluta da Justiça do Trabalho
A reclamante requer a aplicação da penalidade cominada no art. 49 da CLT contra os
sócios da reclamada, em razão do cometimento da infração tipificada.
Todavia, consoante o art. 114, IX, da CF/1988, compete à Justiça do Trabalho pro-
cessar e julgar controvérsias decorrentes da relação de trabalho, o que não envolve
matéria criminal.
Em razão disso, nos termos do art. 337, II, do CPC, cumpre à parte requerida, antes de
discutir o mérito, alegar a incompetência absoluta.
Portanto, a postulação não tem guarida perante à Justiça do Trabalho, que se mostra
incompetente no processamento e julgamento.
III – Da prejudicial de mérito: da prescrição quinquenal
A reclamante laborou de 25.10.2012 a 29.12.2017 na empresa reclamada e ajuizou
reclamação em 27.02.2018.
Nesse contexto, a trabalhadora terá direito apenas à reparação dos últimos cinco
anos do contrato de trabalho, os quais são contados da propositura da ação, nos
termos do art. 7º, XXIX, da CF/1988, do art. 11 da CLT e da Súmula nº 308, I, do TST.
Desse modo, se, no entendimento de Vossa Excelência, alguma condenação for de-
vida, que seja o referido lapso temporal observado, restando prescritas todas as pre-
tensões anteriores a 27.02.2013, com a consequente pronúncia de mérito, de acordo
com o art. 487, II, do CPC.
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IV – Do mérito
A – Do adicional de penosidade
A reclamante postula o pagamento de adicional de penosidade de 30%, tendo em
vista que, no exercício da sua atividade, conforme alegação, era constantemente
furada pelos espinhos das flores que manuseava.
O art. 7º, XXIII, da CF/1988 prevê o adicional de remuneração para atividades penosas,
remetendo a regulamentação ao legislador infraconstitucional, o que não ocorreu.
Dessa maneira, o pedido do citado adicional deve ser julgado improcedente, visto
que pendente de lei disciplinando.
B – Da multa do art. 477, § 8º, da CLT
A reclamante, equivocadamente, informa que o pagamento das verbas rescisórias
ultrapassou o prazo legal, pois os valores foram creditados na sua conta 20 dias após
a comunicação do aviso prévio indenizado.
No entanto, o art. 477, § 6º, da CLT prevê que o pagamento dos valores constantes
do instrumento de rescisão deverá ser efetuado até dez dias contados do término do
contrato, e não da comunicação da dispensa.
Consequentemente, o pedido não encontra respaldo legal, o que acarreta a sua im-
procedência.
C – Das horas extras
A reclamante alega que faz jus ao recebimento de horas extras com adicional de
50%, em razão de excesso da sua jornada, a qual era de segunda a sexta-feira, das
10h00min às 20h00min, com intervalo de duas horas, e aos sábados, das 16h00min
às 20h00min, sem intervalo.
Notadamente, a jornada semanal da ex-empregada totalizava 44 horas semanais, o
que repercute ao limite legal, conforme o art. 7º, XIII, e o art. 58 da CLT.
Portanto, não há que se falar em horas extras e o pedido deverá ser julgado improcedente.
D – Do plano de saúde
A reclamante afirma que foi obrigada a aderir ao desconto para o plano de saúde,
tendo assinado, na admissão, e contra sua vontade, um documento autorizando a
subtração mensal, o qual segue anexo.
Inicialmente, cumpre ressaltar que o vício de vontade deve ser comprovado pela par-
te reclamante, conforme distribuição do ônus da prova previsto no art. 818, I, da CLT.
Outrossim, a OJ nº 160 da SBDI-1 estabelece que é inválida a presunção de vício de
consentimento resultante do fato de ter o empregado anuído expressamente com
descontos salariais na oportunidade da admissão, cabendo demonstração concreta.
Ademais, a Súmula nº 342 do TST preconiza a validade dos descontos salariais efetu-
ados pelo empregador com autorização prévia e por escrito do empregado para ser
integrado em planos de assistência médico-hospitalar.
Desse modo, não houve ilegalidade nos descontos e o pedido deve ser julgado
improcedente.
V – Da reconvenção
Consoante o art. 343 do CPC, na contestação, é lícito ao requerido propor recon-
venção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o
fundamento da defesa, o que se faz pelas razões de fato e de direito a seguir.
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UNIDADE Defesa no Processo do Trabalho
Local e data.
Advogado(a)
OAB nº ___
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Manual de audiência e prática trabalhista
CISNEIROS, G. Manual de audiência e prática trabalhista. 6. ed. Rio de Janeiro: Foren-
se; São Paulo: MÉTODO, 2020.
Vídeos
Processo do Trabalho | Kultivi – Defesas do Reclamado | CURSO GRATUITO
https://youtu.be/jC6uumjm8pM
Como fazer uma Contestação Trabalhista com Reconvenção – Victor Stuchi
https://youtu.be/y7eV3D-mzAs
Leitura
Acórdão
https://bit.ly/3i69nhl
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UNIDADE Defesa no Processo do Trabalho
Referências
MIESSA, É. Curso de direito processual do trabalho. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2021.
SCHIAVI, M. Manual de direito processual do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2018.
THEODORO JÚNIOR, H. Curso de direito processual civil. 61. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. v. I.
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