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DEFESA DO RÉU
O § 3 do art. 841 da CLT (redação dada pela Lei n. 13.467/2017) dispõe que depois de
“oferecida a contestação, ainda que eletronicamente, o reclamante não poderá, sem
o consentimento do reclamado, desistir da ação”, o que confirma que o réu possui um
direito de defesa em relação ao autor.
O CPC/73, em seu art. 297, disciplinava que, após a citação, o réu poderia oferecer
exceção, contestação e reconvenção. Agiu bem o legislador, uma vez que a resposta do
réu abrange essas três modalidades. Na verdade, somente as exceções e a contestação são
verdadeiramente defesas.
Vale dizer, defesa é gênero que tem como espécies a exceção e a contestação. Já a
reconvenção não constitui propriamente defesa. Ao revés, é ação do réu em face do
autor dentro do mesmo processo em que aquele é demandado por este.
As demais exceções, nos termos do § 1º do referido art. 799 da CLT, “serão alegadas
como matéria de defesa”.
3. PRAZO DA CONTESTAÇÃO
Diferentemente do processo civil, que confere ao réu o prazo de quinze dias para a contestação
do réu (CPC, art. 335), no processo do trabalho, aberta a audiência, o juiz proporá a conciliação
e, não havendo acordo, o reclamado terá 20 (vinte) minutos para aduzir sua defesa, após a
leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes (CLT, arts. 846 e 847).
Portanto, o reclamado tem vinte minutos para apresentar a sua contestação em audiência.
De acordo com o parágrafo único do art. 847 da CLT (acrescentado pela Lei n.
13.467/2017), a parte poderá apresentar defesa escrita pelo sistema do PJe até a audiência.
Os arts. 335 e 343 do CPC preveem apenas duas modalidades de resposta do réu: a contestação
e a reconvenção.
Assim, tendo em vista o princípio da concentração dos atos processuais, o réu poderá, na própria
audiência para a qual fora notificado (na verdade citado e intimado ao mesmo tempo), oferecer
contestação e/ou reconvenção.
“Não havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para aduzir sua defesa, após a leitura
da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes.”
5. EXCEÇÕES
Em linguagem coloquial, o termo “exceção” significa aquilo que não constitui a regra geral. Do
ponto de vista jurídico, o vocábulo “exceção” comporta multifários significados. Ora significa
simplesmente defesa, ora quer dizer defesa indireta contra o mérito, ora traduz a ideia de defesa
indireta contra o processo, visando a estendê-lo ou a extingui-lo.
A CLT, no entanto, em seu art. 799, dispõe literalmente que, nas “causas da jurisdição da Justiça
do Trabalho, somente podem ser opostas, com suspensão do feito, as exceções de suspeição ou
incompetência”. Logo em seguida, no § 1- do dispositivo em causa, salienta que as “demais
exceções serão alegadas como matéria de defesa”
Em outras palavras, os arts. 799 e 847 da CLT devem ser interpretados sistematicamente, de
maneira que, em homenagem ao princípio da concentração dos atos processuais, as exceções de
suspeição (ou de impedimento), a contestação e a reconvenção devem ser apresentadas na mesma
audiência inaugural (ou audiência una).
As mesmas razões de ordem lógica, jurídica e ética que segura à exceção de suspeição devem ser
estendidas à de impedimento, qual seja, incompatibilizar o juiz para o exercício da função
jurisdicional em determinado processo, a fim de evitar que ele aja com parcialidade, seja por
motivos intrínsecos (suspeição), seja por motivos extrínsecos (impedimento). Tanto a
suspeição quanto o impedimento constituem, pois, matérias de relevante interesse público,
porque dizem respeito à imparcialidade do juiz e à credibilidade do próprio Poder Judiciário
perante a sociedade.
De acordo com o art. 801 da CLT, o juiz, titular ou substituto, é obrigado a dar-se por suspeito, e
pode ser recusado, por alguns dos seguintes motivos, em relação à pessoa dos litigantes:
a) inimizade pessoal;
b) amizade íntima;
c) parentesco por consanguinidade ou afinidade até o terceiro grau civil;
d) interesse particular na causa.
Mesmo havendo suspeição do juiz, o parágrafo único do art. 801 da CLT, todavia, considera
suprida a irregularidade se:
a) o recusante houver praticado algum ato pelo qual haja consentido na pessoa do juiz, não mais
podendo alegar exceção de suspeição, salvo sobrevindo novo motivo;
Parece-nos, todavia, que o § 1 do art. 802 da CLT se atrita parcialmente com a Emenda
Constitucional n.24, na medida em que não faz sentido o próprio juiz suspeito (ou impedido)
instruir e julgar a exceção de suspeição contra si oposta. A rigor, o julgamento deveria ser feito
por um órgão colegiado, dele não participando o juiz “interessado”.
O § 1 do art. 802 da CLT, portanto, compatibilizava-se, na primeira instância, quando o órgão
julgador era a Junta de Conciliação e Julgamento, isto é, um órgão colegiado.
O CPC, no entanto, de modo muito mais didático, prevê, em seus arts. 144 e 145, os casos de
impedimento e suspeição, respectivamente:
Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo:
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do
Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério
Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente,
consanguíneo ouafim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou
decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro
ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo
que patrocinado por advogado de outro escritório;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o
processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios
para atender às despesas do litígio;
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou
de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
§ 1- Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar
suas razões.
II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido.
Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o
impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará
o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e com
rol de testemunhas.
§ 2- Distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus efeitos, sendo que, se o incidente
for recebido:
§ 3 Enquanto não for declarado o efeito em que é recebido o incidente ou quando este for recebido
com efeito suspensivo, a tutela de urgência será requerida ao substituto legal.
§7 0 tribunal decretará a nulidade dos atos do juiz, se praticados quando já presente 0 motivo de
impedimento ou de suspeição.
Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, 0 primeiro que conhecer do processo impede que 0
outro nele atue, caso em que o segundo se escusará, remetendo os autos ao seu substituto legal.
§2- 0 juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o
arguido no prazo de 15 (quinze) dias e facultando a produção de prova, quando necessária.
§ 3- Nos tribunais, a arguição a que se refere o § 1- será disciplinada pelo regimento interno.
9. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA
Diz o art. 799, § 2-, da CLT que “das decisões sobre exceções de suspeição e incompetência,
salvo, quanto a estas, se terminativas do feito, não caberá recurso, podendo, no entanto, as
partes alegá-las novamente no recurso que couber da decisão final”.
“Apresentada a exceção de incompetência, abrir-se-á vista dos autos ao exceto, por 24 horas
improrrogáveis, devendo a decisão ser proferida na primeira audiência ou sessão que se
seguir”.
Com efeito, o § 4- do art. 800 da CLT permite que o juiz, se entender desnecessária a produção
de provas, rejeite, de plano, a exceção de incompetência territorial, caso em que o processo
continuará seu curso normal, com o aproveitamento da audiência já designada, se não houver
prejuízos para as partes.
Entretanto, se entender necessária a produção de prova oral (CLT, art. 800, § 3°), o juízo designará
audiência, garantindo o direito de o excipiente e de suas testemunhas serem ouvidas, por carta
precatória, no juízo que este houver indicado como competente. Nesse caso, o processo ficará
suspenso para instrução e prolação da decisão sobre o incidente processual provocado pelo
reclamado.
Já vimos que a “incompetência de foro” diz respeito ao “foro trabalhista”, isto é, concerne à
incompetência absoluta em razão da “matéria trabalhista”, e não à incompetência territorial, como
pode parecer à primeira vista.
Cabe ressalvar, contudo, que a letra c da Súmula 214 do TST passou a admitir recurso
ordinário da decisão interlocutória que, acolhendo exceção de incompetência em razão do
lugar (que é relativa), remete os autos para Juízo (Vara) do Trabalho pertencente a Tribunal
Regional do Trabalho distinto daquele a que se vincula o juízo trabalhista prolator da decisão
interlocutória.
10. CONTESTAÇÃO
A contestação é a forma mais usual e contundente de resposta do réu. É uma espécie de reação do
réu à ação do autor. Na linguagem comum, contestação significa negação, resistência, discussão,
debate.
Nos domínios da ciência processual, contestação é uma das modalidades de resposta do réu
pela qual ele exerce seu direito fundamental de defesa em face da ação ajuizada pelo autor. Trata-
se de ato processual pelo qual o réu se insurge, de todos os modos legalmente previstos e
moralmente aceitos, contra a pretensão deduzida pelo autor, na inicial. É também apelidada
de peça de resistência ou peça de bloqueio.
A CLT não define a contestação, uma vez que emprega genericamente o vocábulo “defesa”.
Compatível, portanto, a aplicação subsidiária do art. 336 do CPC, segundo o qual:
De tal arte que, mesmo se o réu tiver fundada razão para supor que um só ponto de sua peça de
resistência será suficiente para rechaçar a pretensão do autor, ainda assim deverá alegar toda a
matéria, de fato e de direito, que lhe for possível deduzir em juízo. Se não o fizer no momento
oportuno, que no processo do trabalho é a audiência, estará preclusa a sua pretensão no
processo, salvo quando se tratar de matéria de ordem pública.
No processo do trabalho, não se aplica a parte final do art. 336 do CPC, porquanto desnecessária
a especificação, seja na petição inicial, seja na contestação, das provas que as partes pretendem
produzir. Com efeito, o art. 845 da CLT dispõe que as partes deverão comparecer à audiência
“acompanhadas de suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as demais provas”.
Tanto no processo civil quanto no trabalhista, a contestação por negação geral é ineficaz, arcando
o réu com o ônus de serem considerados verdadeiros os fatos articulados na petição inicial.
Como já vimos, não se aplica ao processo do trabalho o prazo de quinze dias para a contestação
do réu (CPC, art. 335), pois o reclamado terá 20 (vinte) minutos para aduzir sua defesa em
audiência, após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes
(CLT, arts. 846 e 847). Lembramos que o § 3- do art. 841 da CLT dispõe que, depois de oferecida
a contestação, o reclamante não poderá, sem o consentimento do reclamado, desistir da ação.
No sistema do PJe (Processo Judicial Eletrônico), o parágrafo único do art. 847, acrescentado pela
Lei n. 13.467/2017, prevê que a parte poderá apresentar defesa escrita até a audiência.
A Resolução CSJT n. 241/2020 dispõe, em seu art. 22, que a “contestação ou a reconvenção e
seus respectivos documentos deverão ser protocolados no PJe até a realização da proposta de
conciliação infrutífera, com a utilização de equipamento próprio, sendo automaticamente
juntados, facultada a apresentação de defesa oral, na forma do art. 847, da CLT”.
Na contestação contra o processo, o réu ataca não a lide, o pedido, a pretensão ou o bem da
vida vindicado pelo autor, e sim o processo ou a ação:
No primeiro caso, alega que não foram satisfeitos os pressupostos processuais, como a
incompetência absoluta, a inépcia da inicial, a coisa julgada, a litispendência etc.; no segundo,
aduz que não estão presentes as condições da ação, como a possibilidade jurídica do pedido, a
legitimação do autor para a causa e o interesse processual.
A contestação contra o processo, também conhecida por defesa processual ou simplesmente
objeção, está prevista no art. 337 do CPC, que, a nosso ver, é aplicável com algumas adaptações
ao processo do trabalho.
Assim, compete ao réu, antes de discutir o mérito, isto é, antes de se insurgir contra os fatos e o
pedido constantes da petição inicial, alegar:
V-perempção;
VI -litispendência;
VIII - conexão;
X - convenção de arbitragem;
XII -falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
• Incompetência absoluta
No processo do trabalho, como já vimos, a incompetência relativa é arguida por meio de exceção
(CLT, art. 800).
Vale dizer, tanto o juiz do trabalho quanto o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho
têm o dever de decretar, de ofício, a incompetência absoluta.
OBS: Por interpretação lógica e sistemática, não poderá ser decretada de ofício pelo TST
(instância extraordinária), pois o recurso de revista exige o prequestionamento, como veremos
mais adiante.
Como preliminar, deve o réu suscitar a inépcia da petição inicial na própria contestação. A
decretação da inépcia da inicial implica extinção do processo sem resolução do mérito. Se apenas
um pedido é inepto (cumulação de pedidos), o processo será extinto apenas com relação a este
pedido.
Considera-se inepta a petição inicial que não preenche os requisitos formais exigidos pela
legislação processual (CLT, art. 840, § 3s; CPC, art. 330, § 1º).
A inexistência de citação torna inexistente a relação jurídica processual para o réu, salvo, é claro,
nas hipóteses do art. 239 do CPC, que é aplicável supletiva e subsidiariamente ao processo do
trabalho (CLT, art. 769; CPC, art. 15).
Se a citação existe, mas apresenta defeito capaz de tornar inválido o processo e a sentença nele
proferida, temos a hipótese de pressuposto processual de validade (desenvolvimento) da relação
jurídica deduzida em juízo. A citação nula pode ser, em tese, fustigada por ação rescisória. É o
que se dá, por exemplo, quando não observado o prazo mínimo de cinco dias entre a data do
recebimento da notificação citatória e a audiência (CLT, art. 841), sendo tal prazo computado em
quádruplo para as pessoas jurídicas de direito público. Tanto na citação inexistente quanto na
citação nula, se o réu comparece espontaneamente à audiência e apresenta sua defesa, não haverá
invalidade a ser decretada (CPC, art. 214, § 1°).
E se o réu comparecer apenas para arguir a nulidade, será considerada realizada a citação na data
em que ele ou seu advogado for intimado da respectiva decisão (CPC, art. 239, § 1°).
De acordo com o § 1- do art. 337 do CPC: “Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando
se reproduz ação anteriormente ajuizada”. Uma ação é idêntica à outra quando em ambas figuram
as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido (CPC, art. 337, § 2°).
Esses dispositivos são aplicáveis ao processo do trabalho, seja em razão da lacuna normativa, seja
em função da compatibilidade com os seus princípios peculiares. Dá-se a litispendência quando
se repete ação que está em curso, isto é, quando há duas ou mais ações idênticas tramitando
perante o mesmo ou juízos diversos. Já a coisa julgada ocorre quando se repete ação que já foi
decidida por sentença de que não caiba recurso.
OBS:
Advertimos que a desistência da ação não se equipara à “perempção celetista” (CLT, arts. 731 e
732), como se infere do seguinte julgado:
Quanto à incapacidade da parte e defeito de representação, vale registrar que o art. 337,IX, do
CPC determina que o réu, em preliminar, tem o ônus de alegar questões relativas à incapacidade
postulatória, à incapacidade de ser parte ou incapacidade para estar em juízo. Havendo defeito de
representação (CPC, art. 75), cabe ao réu levantar a questão preliminarmente, devendo o juiz
observar o disposto no art. 76 do CPC, aplicável ao processo do trabalho (TST/IN n. 39/2016, art.
3-, I)
• Carência de ação