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DISCIPLINA: PROCESSO DO TRABALHO I

ASSUNTO: DEFESA DO RÉU


PROFª: Petrucia Danielle

DEFESA DO RÉU

1. BILATERALIDADE DA AÇÃO E DA DEFESA

Em todos os setores do direito processual, a reação à ação é corolário lógico dos


princípios do contraditório e da ampla defesa.
Ação e reação (defesa) caracterizam-se, portanto, pela bilateralidade. A ação é dirigida
contra o Estado Juiz, sendo certo que a resposta do réu também o é. Na ação, o autor
formula um pedido endereçado ao órgão jurisdicional, tendo por escopo produzir efeitos
na esfera jurídica de outra pessoa: O RÉU.

Ao réu também se reconhece o direito fundamental de formular um pedido endereçado


ao órgão jurisdicional, no sentido de que a pretensão do autor seja rejeitada.

Os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa têm natureza dúplice,


pois seus destinatários são o autor e o réu. Aliás, a Constituição Federal elegeu tais
princípios como uma das garantias fundamentais de qualquer litigante, em processo
judicial ou administrativo. Por litigante, deve-se adotar a técnica da interpretação
ampliativa, de modo a abranger toda e qualquer pessoa, física ou jurídica, ou ente
despersonalizado com capacidade postulatória, que figure como parte ou terceiro na
relação jurídica processual.

2. DIREITO DE DEFESA DO RÉU

O direito de defesa do réu, portanto, encontra seu principal fundamento de validade na


Constituição Federal, consubstanciando-se nos princípios do devido processo legal (art.
5-, LIV), da inafastabilidade da jurisdição (art. 5-, XXXV), do contraditório e da
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5-, LV).

O § 3 do art. 841 da CLT (redação dada pela Lei n. 13.467/2017) dispõe que depois de
“oferecida a contestação, ainda que eletronicamente, o reclamante não poderá, sem
o consentimento do reclamado, desistir da ação”, o que confirma que o réu possui um
direito de defesa em relação ao autor.

O CPC/73, em seu art. 297, disciplinava que, após a citação, o réu poderia oferecer
exceção, contestação e reconvenção. Agiu bem o legislador, uma vez que a resposta do
réu abrange essas três modalidades. Na verdade, somente as exceções e a contestação são
verdadeiramente defesas.

Vale dizer, defesa é gênero que tem como espécies a exceção e a contestação. Já a
reconvenção não constitui propriamente defesa. Ao revés, é ação do réu em face do
autor dentro do mesmo processo em que aquele é demandado por este.

A CLT só prevê expressamente a defesa (no sentido de contestação), e duas


modalidades de exceção com suspensão do processo: a exceção de suspeição e a
exceção de incompetência (art. 799, caput).

As demais exceções, nos termos do § 1º do referido art. 799 da CLT, “serão alegadas
como matéria de defesa”.

Não havia regramento próprio na CLT a respeito da reconvenção. Todavia, a Lei n.


13.467/2017 inseriu na CLT o art. 791-A, § 5-, que prevê o cabimento de “honorários de
sucumbência na reconvenção”. Logo, será cabível a aplicação do CPC no que tange à
reconvenção, com alguns temperamentos em função das peculiaridades procedimentais
do processo laboral.

3. PRAZO DA CONTESTAÇÃO

Diferentemente do processo civil, que confere ao réu o prazo de quinze dias para a contestação
do réu (CPC, art. 335), no processo do trabalho, aberta a audiência, o juiz proporá a conciliação
e, não havendo acordo, o reclamado terá 20 (vinte) minutos para aduzir sua defesa, após a
leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes (CLT, arts. 846 e 847).
Portanto, o reclamado tem vinte minutos para apresentar a sua contestação em audiência.

Na prática, porém, sabe-se que o reclamado, em regra acompanhado por advogado,


apresenta a contestação em petição escrita. É o costume processual que, salvo se não implicar
prejuízo para a ampla defesa do réu - que tem o direito de apresentar defesa oral - não gera
nulidade processual.
Como a defesa do réu é apresentada em audiência que, nos termos do art. 841 da CLT,
ocorrerá no mínimo no prazo de cinco dias depois do recebimento da notificação citatória,
tem-se que o réu terá o prazo legal mínimo de cinco dias para preparar a sua resposta escrita (e
vinte minutos para apresentá-la em audiência).

Tratando-se de pessoa jurídica de direito público, o prazo mínimo para preparação da


contestação do réu é contado em quádruplo, ou seja, 20 (vinte) dias contados da citação (DL n.
779/69, art. 1-, II). Em síntese, o réu tem direito ao prazo mínimo de cinco dias para preparar a
sua defesa e vinte minutos para apresentá-la em audiência.

De acordo com o parágrafo único do art. 847 da CLT (acrescentado pela Lei n.
13.467/2017), a parte poderá apresentar defesa escrita pelo sistema do PJe até a audiência.

4. ESPÉCIES DE DEFESAS DO RÉU

Os arts. 335 e 343 do CPC preveem apenas duas modalidades de resposta do réu: a contestação
e a reconvenção.

Assim, tendo em vista o princípio da concentração dos atos processuais, o réu poderá, na própria
audiência para a qual fora notificado (na verdade citado e intimado ao mesmo tempo), oferecer
contestação e/ou reconvenção.

No processo do trabalho, as exceções e a contestação deveriam ser oferecidas em audiência,


depois de frustrada a primeira proposta de conciliação. É o que prevê o art. 847 da CLT, in verbis:

“Não havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para aduzir sua defesa, após a leitura
da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes.”

Na prática, porém, em virtude da grande quantidade de audiências e da crescente complexidade


dos conflitos intersubjetivos submetidos à Justiça do Trabalho, não apenas as exceções e a
contestação, como também a reconvenção, são apresentadas por escrito na própria audiência.
Não obstante, parece-nos que é direito fundamental do réu valer-se do comando normativo do art.
847 da CLT e apresentar oralmente, pelo prazo de até vinte minutos, contestação, exceção e
reconvenção.

5. EXCEÇÕES

Em linguagem coloquial, o termo “exceção” significa aquilo que não constitui a regra geral. Do
ponto de vista jurídico, o vocábulo “exceção” comporta multifários significados. Ora significa
simplesmente defesa, ora quer dizer defesa indireta contra o mérito, ora traduz a ideia de defesa
indireta contra o processo, visando a estendê-lo ou a extingui-lo.

A CLT, no entanto, em seu art. 799, dispõe literalmente que, nas “causas da jurisdição da Justiça
do Trabalho, somente podem ser opostas, com suspensão do feito, as exceções de suspeição ou
incompetência”. Logo em seguida, no § 1- do dispositivo em causa, salienta que as “demais
exceções serão alegadas como matéria de defesa”

6. EXCEÇÕES E SUSPENSÃO DO PROCESSO

No processo do trabalho, as exceções de suspeição (e de impedimento, segundo pensamos), não


obstante suspendam o processo, devem ser apresentadas juntamente com a contestação, isto
é, na audiência para a qual fora notificado o reclamado.

Em outras palavras, os arts. 799 e 847 da CLT devem ser interpretados sistematicamente, de
maneira que, em homenagem ao princípio da concentração dos atos processuais, as exceções de
suspeição (ou de impedimento), a contestação e a reconvenção devem ser apresentadas na mesma
audiência inaugural (ou audiência una).

7. EXCEÇÕES DE SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO

As mesmas razões de ordem lógica, jurídica e ética que segura à exceção de suspeição devem ser
estendidas à de impedimento, qual seja, incompatibilizar o juiz para o exercício da função
jurisdicional em determinado processo, a fim de evitar que ele aja com parcialidade, seja por
motivos intrínsecos (suspeição), seja por motivos extrínsecos (impedimento). Tanto a
suspeição quanto o impedimento constituem, pois, matérias de relevante interesse público,
porque dizem respeito à imparcialidade do juiz e à credibilidade do próprio Poder Judiciário
perante a sociedade.

De acordo com o art. 801 da CLT, o juiz, titular ou substituto, é obrigado a dar-se por suspeito, e
pode ser recusado, por alguns dos seguintes motivos, em relação à pessoa dos litigantes:
a) inimizade pessoal;
b) amizade íntima;
c) parentesco por consanguinidade ou afinidade até o terceiro grau civil;
d) interesse particular na causa.

Mesmo havendo suspeição do juiz, o parágrafo único do art. 801 da CLT, todavia, considera
suprida a irregularidade se:

a) o recusante houver praticado algum ato pelo qual haja consentido na pessoa do juiz, não mais
podendo alegar exceção de suspeição, salvo sobrevindo novo motivo;

b) constar do processo que o recusante deixou de alegá-la anteriormente, quando já a conhecia,


ou que, depois de conhecida, aceitou o juiz recusado ou, finalmente, se procurou de propósito o
motivo de que ela se originou.

8. PROCEDIMENTO DAS EXCEÇÕES DE SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO

O procedimento da exceção de suspeição (e, segundo pensamos, de impedimento) está regulado


no art. 802 e seus §§ 1 e 2, da CLT, in verbis:

Art. 802. Apresentada a exceção de suspeição, o juiz ou Tribunal designará


audiência dentro de 48 (quarenta e oito) horas, para instrução e julgamento
da exceção.

§ 1 Nas Juntas de Conciliação e Julgamento (atualmente Varas do Trabalho)


e nos Tribunais Regionais, julgada procedente a exceção de suspeição, será
logo convocado para a mesma audiência ou sessão, ou para a seguinte, o
suplente do membro suspeito, o qual continuará a funcionar no feito até
decisão final. Proceder-se-á da mesma maneira quando algum dos membros
se declarar suspeito.

§ 2 Se se tratar de suspeição de Juiz de Direito, será este substituído na forma


da organização judiciária local.

Parece-nos, todavia, que o § 1 do art. 802 da CLT se atrita parcialmente com a Emenda
Constitucional n.24, na medida em que não faz sentido o próprio juiz suspeito (ou impedido)
instruir e julgar a exceção de suspeição contra si oposta. A rigor, o julgamento deveria ser feito
por um órgão colegiado, dele não participando o juiz “interessado”.
O § 1 do art. 802 da CLT, portanto, compatibilizava-se, na primeira instância, quando o órgão
julgador era a Junta de Conciliação e Julgamento, isto é, um órgão colegiado.

O CPC, no entanto, de modo muito mais didático, prevê, em seus arts. 144 e 145, os casos de
impedimento e suspeição, respectivamente:

Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo:

I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do
Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;

II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;

III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério
Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;

IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente,
consanguíneo ouafim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;

V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no


processo;

VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;

VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou
decorrente de contrato de prestação de serviços;

VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro
ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo
que patrocinado por advogado de outro escritório;

IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.

§ 1- Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o


advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade
judicante do juiz.

§ 2- É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz.


§3-0 impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a
membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente
ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo.

Art. 145. Há suspeição do juiz:

I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;

II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o
processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios
para atender às despesas do litígio;

III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou
de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;

IV -interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.

§ 1- Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar
suas razões.

§ 2- Será ilegítima a alegação de suspeição quando:

I - houver sido provocada por quem a alega;

II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido.

No que concerne aos incidentes processuais de impedimento e de suspeição, o CPC dispõe:

Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o
impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará
o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e com
rol de testemunhas.

§ 1- Se reconhecer o impedimento ou a suspeição ao receber a petição, o juiz ordenará


imediatamente a remessa dos autos a seu substituto legal, caso contrário, determinará a autuação
em apartado da petição e, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentará suas razões, acompanhadas
de documentos e de rol de testemunhas, se houver, ordenando a remessa do incidente ao tribunal.

§ 2- Distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus efeitos, sendo que, se o incidente
for recebido:

I - sem efeito suspensivo, o processo voltará a correr;


II - com efeito suspensivo, o processo permanecerá suspenso até o julgamento do incidente.

§ 3 Enquanto não for declarado o efeito em que é recebido o incidente ou quando este for recebido
com efeito suspensivo, a tutela de urgência será requerida ao substituto legal.

§ 4 Verificando que a alegação de impedimento ou de suspeição é improcedente, 0 tribunal rejeitá-


la-á.

§ 5 Acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou de manifesta suspeição, 0 tribunal


condenará 0 juiz nas custas e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o juiz recorrer da
decisão.

§ 6 Reconhecido o impedimento ou a suspeição, o tribunal fixará o momento a partir do qual o


juiz não poderia ter atuado.

§7 0 tribunal decretará a nulidade dos atos do juiz, se praticados quando já presente 0 motivo de
impedimento ou de suspeição.

Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, 0 primeiro que conhecer do processo impede que 0
outro nele atue, caso em que o segundo se escusará, remetendo os autos ao seu substituto legal.

Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição:

I - ao membro do Ministério Público;

II - aos auxiliares da justiça;

III - aos demais sujeitos imparciais do processo.

§ 1- A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em petição fundamentada e


devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos.

§2- 0 juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o
arguido no prazo de 15 (quinze) dias e facultando a produção de prova, quando necessária.

§ 3- Nos tribunais, a arguição a que se refere o § 1- será disciplinada pelo regimento interno.

§4- 0 disposto nos §§ 1 e 2 não se aplica à arguição de impedimento ou de suspeição de


testemunha.
Na verdade, tanto o impedimento quanto a suspeição, por dizerem respeito à credibilidade da
imparcialidade do próprio Poder Judiciário perante a sociedade e à segurança jurídica dos
jurisdicionados, deveriam ter os mesmos critérios de procedimento, seja no processo civil, seja
no processo do trabalho, mormente em função da extinção do órgão colegiado na primeira
instância da Justiça do Trabalho.

9. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA

Diz o art. 799, § 2-, da CLT que “das decisões sobre exceções de suspeição e incompetência,
salvo, quanto a estas, se terminativas do feito, não caberá recurso, podendo, no entanto, as
partes alegá-las novamente no recurso que couber da decisão final”.

O procedimento da exceção de incompetência estava regulado nos termos da redação original


do art. 800 da CLT, segundo o qual:

“Apresentada a exceção de incompetência, abrir-se-á vista dos autos ao exceto, por 24 horas
improrrogáveis, devendo a decisão ser proferida na primeira audiência ou sessão que se
seguir”.

Com o advento da Lei n. 13.467/2017, houve alteração do procedimento da exceção de


incompetência territorial, pois o art. 800 da CLT passou a ter a seguinte redação:

Art. 800. Apresentada exceção de incompetência territorial no prazo de cinco


dias a contar da notificação, antes da audiência e em peça que sinalize a
existência desta exceção, seguir-se-á o procedimento estabelecido neste
artigo.

§ 1- Protocolada a petição, será suspenso o processo e não se realizará a


audiência a que se refere o art. 843 desta Consolidação até que se decida a
exceção.

§ 2- Os autos serão imediatamente conclusos ao juiz, que intimará o


reclamante e, se existentes, os litisconsortes, para manifestação no prazo
comum de cinco dias.

§ 3- Se entender necessária a produção de prova oral, o juízo designará


audiência, garantindo o direito de o excipiente e de suas testemunhas serem
ouvidos, por carta precatória, no juízo que este houver indicado como
competente.
§ 4- Decidida a exceção de incompetência territorial, o processo retomará seu
curso, com a designação de audiência, a apresentação de defesa e a instrução
processual perante o juízo competente.

Apresentada a exceção de incompetência territorial, os autos serão imediatamente conclusos ao


juiz, devendo este determinar a imediata intimação do reclamante e, se existentes, dos
litisconsortes, para manifestação no prazo comum de até cinco dias úteis.

Com efeito, o § 4- do art. 800 da CLT permite que o juiz, se entender desnecessária a produção
de provas, rejeite, de plano, a exceção de incompetência territorial, caso em que o processo
continuará seu curso normal, com o aproveitamento da audiência já designada, se não houver
prejuízos para as partes.

Entretanto, se entender necessária a produção de prova oral (CLT, art. 800, § 3°), o juízo designará
audiência, garantindo o direito de o excipiente e de suas testemunhas serem ouvidas, por carta
precatória, no juízo que este houver indicado como competente. Nesse caso, o processo ficará
suspenso para instrução e prolação da decisão sobre o incidente processual provocado pelo
reclamado.

Advertimos o leitor que a expressão “exceção de incompetência terminativa do feito” significa


que, se o juiz acolhê-la, deverá remeter os autos para outro órgão jurisdicional diverso da
Justiça do Trabalho. Noutro falar, a decisão que acolhe a “exceção terminativa do feito”, embora
interlocutória, implica a “terminação” (saída) do processo na Justiça do Trabalho e sua
remessa a outro ramo do Judiciário.

Na verdade, a decisão “terminativa do feito” concerne à declaração judicial de incompetência


absoluta, isto é, incompetência em razão da matéria, da pessoa ou da função, sendo que a alegação
de incompetência absoluta não deve ser objeto de exceção e, sim, de preliminar apresentada
na própria contestação. Tanto é assim que o art. 795, § 1-, da CLT determina que a
incompetência de “foro” deverá ser declarada de ofício pelo juiz. Ora, se deve ser declarada de
ofício, salta aos olhos que se trata, in casu, de incompetência absoluta em razão da matéria.

Já vimos que a “incompetência de foro” diz respeito ao “foro trabalhista”, isto é, concerne à
incompetência absoluta em razão da “matéria trabalhista”, e não à incompetência territorial, como
pode parecer à primeira vista.

Tratando-se a hipótese do art. 800 da CLT de incompetência relativa, isto é, incompetência


territorial, o processo continua tramitando no âmbito da Justiça do Trabalho, uma vez que o juiz
de uma Vara do Trabalho, ao acolher a exceção de incompetência oposta pelo réu e declarar-se
incompetente territorialmente, simplesmente remeterá os autos do processo a outro órgão judicial
da Justiça do Trabalho que entender competente para processar e julgar a demanda.

Cabe ressalvar, contudo, que a letra c da Súmula 214 do TST passou a admitir recurso
ordinário da decisão interlocutória que, acolhendo exceção de incompetência em razão do
lugar (que é relativa), remete os autos para Juízo (Vara) do Trabalho pertencente a Tribunal
Regional do Trabalho distinto daquele a que se vincula o juízo trabalhista prolator da decisão
interlocutória.

10. CONTESTAÇÃO

A contestação é a forma mais usual e contundente de resposta do réu. É uma espécie de reação do
réu à ação do autor. Na linguagem comum, contestação significa negação, resistência, discussão,
debate.

Nos domínios da ciência processual, contestação é uma das modalidades de resposta do réu
pela qual ele exerce seu direito fundamental de defesa em face da ação ajuizada pelo autor. Trata-
se de ato processual pelo qual o réu se insurge, de todos os modos legalmente previstos e
moralmente aceitos, contra a pretensão deduzida pelo autor, na inicial. É também apelidada
de peça de resistência ou peça de bloqueio.

A CLT não define a contestação, uma vez que emprega genericamente o vocábulo “defesa”.
Compatível, portanto, a aplicação subsidiária do art. 336 do CPC, segundo o qual:

Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa,


expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor
e especificando as provas que pretende produzir.

Essa norma consagra, a um só tempo, o princípio da concentração da defesa e o princípio da


eventualidade. Isso quer dizer que o réu deve alegar todo e qualquer tipo ou modalidade de
resistência à pretensão do autor (concentração), para que o juiz conheça das posteriores
eventualmente (eventualidade), se as anteriores forem repelidas.

De tal arte que, mesmo se o réu tiver fundada razão para supor que um só ponto de sua peça de
resistência será suficiente para rechaçar a pretensão do autor, ainda assim deverá alegar toda a
matéria, de fato e de direito, que lhe for possível deduzir em juízo. Se não o fizer no momento
oportuno, que no processo do trabalho é a audiência, estará preclusa a sua pretensão no
processo, salvo quando se tratar de matéria de ordem pública.

No processo do trabalho, não se aplica a parte final do art. 336 do CPC, porquanto desnecessária
a especificação, seja na petição inicial, seja na contestação, das provas que as partes pretendem
produzir. Com efeito, o art. 845 da CLT dispõe que as partes deverão comparecer à audiência
“acompanhadas de suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as demais provas”.

Tanto no processo civil quanto no trabalhista, a contestação por negação geral é ineficaz, arcando
o réu com o ônus de serem considerados verdadeiros os fatos articulados na petição inicial.

Como já vimos, não se aplica ao processo do trabalho o prazo de quinze dias para a contestação
do réu (CPC, art. 335), pois o reclamado terá 20 (vinte) minutos para aduzir sua defesa em
audiência, após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes
(CLT, arts. 846 e 847). Lembramos que o § 3- do art. 841 da CLT dispõe que, depois de oferecida
a contestação, o reclamante não poderá, sem o consentimento do reclamado, desistir da ação.

No sistema do PJe (Processo Judicial Eletrônico), o parágrafo único do art. 847, acrescentado pela
Lei n. 13.467/2017, prevê que a parte poderá apresentar defesa escrita até a audiência.

A Resolução CSJT n. 241/2020 dispõe, em seu art. 22, que a “contestação ou a reconvenção e
seus respectivos documentos deverão ser protocolados no PJe até a realização da proposta de
conciliação infrutífera, com a utilização de equipamento próprio, sendo automaticamente
juntados, facultada a apresentação de defesa oral, na forma do art. 847, da CLT”.

A contestação pode ser dirigida: contra o processo ou contra o mérito.

11. CONTESTAÇÃO CONTRA O PROCESSO

Na contestação contra o processo, o réu ataca não a lide, o pedido, a pretensão ou o bem da
vida vindicado pelo autor, e sim o processo ou a ação:

No primeiro caso, alega que não foram satisfeitos os pressupostos processuais, como a
incompetência absoluta, a inépcia da inicial, a coisa julgada, a litispendência etc.; no segundo,
aduz que não estão presentes as condições da ação, como a possibilidade jurídica do pedido, a
legitimação do autor para a causa e o interesse processual.
A contestação contra o processo, também conhecida por defesa processual ou simplesmente
objeção, está prevista no art. 337 do CPC, que, a nosso ver, é aplicável com algumas adaptações
ao processo do trabalho.

Assim, compete ao réu, antes de discutir o mérito, isto é, antes de se insurgir contra os fatos e o
pedido constantes da petição inicial, alegar:

I -inexistência ou nulidade da citação;

II - incompetência absoluta e relativa (vide CLT, arts. 799, § 2- e 800);

III -incorreção do valor da causa;

IV -inépcia da petição inicial;

V-perempção;

VI -litispendência;

VII - coisa julgada;

VIII - conexão;

IX -incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;

X - convenção de arbitragem;

XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;

XII -falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;

XIII -indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

• Incompetência absoluta

No processo do trabalho, como já vimos, a incompetência relativa é arguida por meio de exceção
(CLT, art. 800).

A incompetência absoluta é suscitada na própria contestação, como questão preliminar. A


incompetência absoluta é a primeira preliminar que deve ser levantada pelo réu, pois, se o
juiz é absolutamente incompetente, não poderá praticar atos decisórios no processo. Na verdade,
o juiz absolutamente incompetente não poderá, em princípio, extinguir o processo, e sim remeter
os autos ao juízo para quem declinar a competência (CPC, art. 64, § 3-).
Caso o réu não suscite a incompetência absoluta, o órgão julgador deverá decretá-la em qualquer
tempo ou grau de jurisdição (na instância ordinária).

Vale dizer, tanto o juiz do trabalho quanto o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho
têm o dever de decretar, de ofício, a incompetência absoluta.

OBS: Por interpretação lógica e sistemática, não poderá ser decretada de ofício pelo TST
(instância extraordinária), pois o recurso de revista exige o prequestionamento, como veremos
mais adiante.

• Inépcia da petição inicial

Como preliminar, deve o réu suscitar a inépcia da petição inicial na própria contestação. A
decretação da inépcia da inicial implica extinção do processo sem resolução do mérito. Se apenas
um pedido é inepto (cumulação de pedidos), o processo será extinto apenas com relação a este
pedido.

Considera-se inepta a petição inicial que não preenche os requisitos formais exigidos pela
legislação processual (CLT, art. 840, § 3s; CPC, art. 330, § 1º).

• Inexistência ou nulidade da citação

A citação é um pressuposto processual de existência (constituição) da relação processual, pelo


menos na perspectiva do réu. Para a validade do processo, é indispensável a citação do réu (CPC,
art. 239). Sem citação, salvo nos casos do art. 239 do CPC (indeferimento da petição inicial ou
improcedência liminar do pedido), há vício insuperável, pois não existirá processo e,
consequentemente, a sentença nele proferida será inexistente.

A inexistência de citação torna inexistente a relação jurídica processual para o réu, salvo, é claro,
nas hipóteses do art. 239 do CPC, que é aplicável supletiva e subsidiariamente ao processo do
trabalho (CLT, art. 769; CPC, art. 15).

Se a citação existe, mas apresenta defeito capaz de tornar inválido o processo e a sentença nele
proferida, temos a hipótese de pressuposto processual de validade (desenvolvimento) da relação
jurídica deduzida em juízo. A citação nula pode ser, em tese, fustigada por ação rescisória. É o
que se dá, por exemplo, quando não observado o prazo mínimo de cinco dias entre a data do
recebimento da notificação citatória e a audiência (CLT, art. 841), sendo tal prazo computado em
quádruplo para as pessoas jurídicas de direito público. Tanto na citação inexistente quanto na
citação nula, se o réu comparece espontaneamente à audiência e apresenta sua defesa, não haverá
invalidade a ser decretada (CPC, art. 214, § 1°).
E se o réu comparecer apenas para arguir a nulidade, será considerada realizada a citação na data
em que ele ou seu advogado for intimado da respectiva decisão (CPC, art. 239, § 1°).

• Litispendência e coisa julgada

De acordo com o § 1- do art. 337 do CPC: “Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando
se reproduz ação anteriormente ajuizada”. Uma ação é idêntica à outra quando em ambas figuram
as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido (CPC, art. 337, § 2°).

Esses dispositivos são aplicáveis ao processo do trabalho, seja em razão da lacuna normativa, seja
em função da compatibilidade com os seus princípios peculiares. Dá-se a litispendência quando
se repete ação que está em curso, isto é, quando há duas ou mais ações idênticas tramitando
perante o mesmo ou juízos diversos. Já a coisa julgada ocorre quando se repete ação que já foi
decidida por sentença de que não caiba recurso.

• Perempção e falta de caução

A perempção prevista no CPC (art. 337, V).

OBS:

Advertimos que a desistência da ação não se equipara à “perempção celetista” (CLT, arts. 731 e
732), como se infere do seguinte julgado:

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nfí


13.015/14. DESISTÊNCIA DE RECLAMAÇÕES TRABALHISTAS
ANTERIORES. PEREMPÇÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. Da interpretação
sistêmica dos arts. 731, 732 e 844 da CLT, tem-se que a desistência da ação
não enseja a perempção. Com efeito, o art. 732 daCLT refere-se
expressamente ao arquivamento de que se ocupa o art. 844 da CLT, ou seja,
em decorrência do não comparecimento do reclamante à audiência, o que não
se confunde com a hipótese de desistência da ação. Delineado o quadro fático
de que os arquivamentos foram ocasionados por desistência do reclamante, e
não por falta de seu comparecimento à audiência, não há se falar em
perempção. Recurso de revista conhecido e provido (TST-RR 89-
72.2016.5.08.0209, lâ T., Rei. Min. Walmir Oliveira da Costa, DEJT 15-6-
2018).
• Conexão e continência

Ainda em sede de preliminar, o réu deve levantar a questão da existência de conexão ou


continência. É importante salientar que o acolhimento da preliminar de conexão ou continência
não leva à extinção do processo, e sim à reunião perante o juízo prevento das ações que tramitam
separadamente, que será o competente para a instrução e o julgamento simultâneo (CPC, art. 58),
sendo incabível a reunião de ações quando em qualquer delas já houver sentença,
independentemente de seu trânsito em julgado.

• Incapacidade da parte E defeito de representação

Quanto à incapacidade da parte e defeito de representação, vale registrar que o art. 337,IX, do
CPC determina que o réu, em preliminar, tem o ônus de alegar questões relativas à incapacidade
postulatória, à incapacidade de ser parte ou incapacidade para estar em juízo. Havendo defeito de
representação (CPC, art. 75), cabe ao réu levantar a questão preliminarmente, devendo o juiz
observar o disposto no art. 76 do CPC, aplicável ao processo do trabalho (TST/IN n. 39/2016, art.
3-, I)

• Carência de ação

São condições da ação a legitimidade (ativa e passiva) e o interesse processual


(necessidade/utilidade/adequação). Com o CPC/2105, a possibilidade jurídica do pedido (ou
melhor, da demanda) deixou de figurar como uma das condições da ação.

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