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- O conteúdo deste RESUMO possui por objetivo único e exclusivo auxiliar o aluno no
acompanhamento das aulas.
- Considerando que não se fez a devida referência a outros autores, NÃO PODE O
PRESENTE SER DIVULGADO.
- A leitura deste material não esgota e não dispensa o acompanhamento e estudo da Lei
em sua totalidade.
- Livros utilizados para preparação do presente material:
• Renato Brasileiro, Manual de Processo Penal, vol. único, 2020.
• Aury Lopes Júnior, Direito Processual Penal, 17ª edição, 2020.
• Eugênio Pacelli, Curso de Processo Penal, 24ª edição, 2020.
• Guilherme Souza Nucci, Curso de Direito Processual Penal, 17ª edição, 2020.
• Paulo Rangel, Direito Processual Penal, 27ª edição, 2019.
• Victor Eduardo Rios Gonçalves e Alexandre Cebrian Araújo Reis, Direito
Processual Esquematizado, 2019.
• Norberto Avena – Processo Penal, 11ª edição, 2019.
INQUÉRITO POLICIAL
CONCEITO
Atenção: No âmbito do Juizado Especial Criminal, no qual trata das infrações penais de menor potencial
ofensivo (crimes com pena máxima não superior a dois anos e todas as contravenções penais comuns), NÃO
há necessidade de instauração de inquéritos policiais.
Prevê o art. 69, da Lei nº 9.099/95, que a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará
termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando as requisições dos exames periciais necessários.
NATUREZA JURÍDICA
Como o inquérito policial é mera peça informativa, eventuais VÍCIOS dele constantes não têm o condão de
contaminar o processo penal a que der origem. Havendo, assim, eventual irregularidade em ato praticado no
curso do inquérito, mostra-se inviável a anulação do processo penal subsequente. Afinal, as NULIDADES
PROCESSUAIS concernem, tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os atos praticados
ao longo do processo penal condenatório.
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FINALIDADES
O inquérito policial possui a finalidade de identificar fontes de prova e proceder com a colheita de
elementos informativos acerca da materialidade e autoria da infração penal.
Fontes de prova são todas as pessoas ou coisas que podem ministrar algum conhecimento sobre o fato
delituoso. Ocorre antes do processo, quando integram o processo passam a ser meios de prova.
Elementos informativos são aqueles colhidos na fase investigatória, sem a necessária participação dialética
das partes. Em relação a eles, não se impõe a obrigatória observância do contraditório e da ampla defesa.
Atenção para não confundir prova com elementos informativos. O art. 155 do CPP trouxe a distinção entre
os elementos informativos e a prova.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Como sabemos, a finalidade do inquérito policial é a colheita de elementos de informação quanto à autoria e
materialidade do delito, no intuito de auxiliar o titular da ação penal (MP, no caso de ação penal pública; ou
ofendido ou seu representante legal, no caso de ação penal privada). Tendo em conta que esses elementos
de informação não são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, deduz-se que o
inquérito policial tem VALOR PROBATÓRIO RELATIVO.
Prevalece o entendimento, assim como preconiza o art. 155 do CPP, de que os elementos de informação
colhidos durante a fase investigatória NÃO podem ser utilizados exclusivamente como fundamento
de uma decisão, haja vista que estes são colhidos sem a obrigatória observância dos princípios
constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Importante ressaltar que o próprio art. 155 do CPP faz ressalvas em relação às provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas, as quais, portanto, ainda que produzidas durante o inquérito, podem ser utilizadas
exclusivamente para fundamentar uma sentença condenatória.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
O artigo 155, do CPP, menciona que o juiz, excepcionalmente, pode fundamentar sua decisão com base as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas:
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Provas cautelares: são aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão do
decurso do tempo. Podem ser produzidas na fase investigativa e na fase judicial. Dependem de autorização
judicial, sendo que o contraditório será diferido (postergado). Possui a urgência como elementar, ou seja,
PRECISA DE SER PRODUZIDA DE IMEDIATO, SOB RISCO DE PERECER. Exemplo: interceptação
telefônica.
Provas não repetíveis: é aquela que uma vez produzida não tem como ser novamente coletada em razão
do desaparecimento da fonte probatória. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Não
dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será diferido. Exemplo: Exame de corpo de delito
com ulterior desaparecimento dos vestígios.
Provas antecipadas: são aquelas produzidas com a observância do contraditório real em momento
processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do processo, em virtude de
situações de urgência e relevância. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Dependem
de autorização judicial, sendo que o contraditório será real (contraditório para a prova). Exemplo: testemunha
que está correndo risco de morte (art. 225 CPP).
Atenção: Nos termos do art. 155 do Código de Processo Penal, embora o juiz possua liberdade para apreciar
as provas, é necessária a motivação, e não poderá proferir condenação com base exclusivamente nos
chamados “elementos informativos”. Assim, temos que elementos informativos, isoladamente considerados,
não podem fundamentar uma sentença. Porém, tais elementos não devem ser desprezados durante a fase
judicial, podendo se somar à prova produzida em juízo para auxiliar na formação da convicção do magistrado.
O inquérito policial é presidido pelo Delegado de Polícia, nos exatos termos do art. 2º da Lei nº 12.830/2013:
Há situações excepcionadas por lei em que não cabe ao Delegado de Polícia promover as investigações,
a saber:
• Crime militar: a investigação cabe à própria polícia militar, por meio inquérito policial militar;
• Crime praticado por membro do poder judiciário: a investigação cabe a um desembargador do órgão
especial ou do pleno do tribunal a que estiver vinculado o juiz (art. 33, parágrafo único, da Lei Orgânica da
Magistratura Nacional);
• Crime praticado por membro do Ministério Público: a investigação deve ser conduzida pelo respectivo
Procurador-Geral de Justiça, quando o autor do delito for promotor de justiça, ou pelo membro do MP
designado pelo PGR, se a infração for cometida por membro do Ministério Público da União (art. 41, parágrafo
único, da Lei nº 8625/93 e art. 18, parágrafo único, da LC nº 75/93).
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CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL
PROCEDIMENTO ESCRITO
Pode-se usar um sistema audiovisual nos termos no art. 405, 1º, CPP:
Em princípio, o sistema audiovisual é válido para a fase judicial. Entretanto, nada impede que seja utilizado
também para o inquérito, pois se refere ao investigado e ao indiciado (nomenclatura típica do IP).
Observação: a gravação não pode ser clandestina, ou seja, o investigado precisa ter ciência de que está
sendo gravado.
PROCEDIMENTO DISPENSÁVEL
Para o início do processo (oferecimento da denúncia) é necessário um suporte probatório mínimo, a chamada
justa causa. A justa causa pode estar amparada no IP. Contudo, o IP não é o único procedimento
investigatório, por isso pode ser dispensado, nos termos dos arts. 27 e 39 do CPP.
Se os elementos que venham lastrear a inicial acusatória forem colhidos de outra forma, não se exige a
instauração do inquérito policial. Tanto é verdade que a denúncia ou a queixa podem ter por base, outros
meios não policiais (CPI, COAF, investigação pelo MP – PIP ou PIC, autos de sindicâncias, etc.),
dispensando-se a atuação da polícia judiciária.
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O que é importante é que se tenham elementos quanto a autoria e a materialidade da infração penal,
concluindo-se assim, que o inquérito policial NÃO É IMPRESCINDÍVEL (É DISPENSÁVEL) PARA A
PROPOSITURA DA AÇÃO PENAL.
SIGILOSO
Ao contrário do que ocorre no processo, o inquérito NÃO comporta publicidade, sendo procedimento
essencialmente sigiloso, disciplinando o art. 20, do CPP:
O sigilo é importante para o investigado, de modo a proteger sua intimidade, até que se tenha “certeza” de
seu envolvimento e, ainda, para assegurar a eficácia das investigações, por exemplo, não pode divulgar a
decretação da interceptação telefônica, sob pena da prova restar prejudicada.
Entretanto, esse sigilo não atinge nunca o juiz e o Membro do Ministério Público.
Em relação ao advogado do investigado do Estatuto da OAB traz, em art. 7º, XIV, com a redação da Lei nº
13.245/2016:
Entretanto, conforme entendimento dos tribunais, o advogado tem acesso às informações já documentadas
no procedimento investigatório, mas não em relação às diligências em andamento (escuta telefônica, por
exemplo, perderia o valor). Nesse sentido, o art. 7º, § 11 do Estatuto OAB.
Art. 7º
(...)
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá
delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a
diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade
das diligências. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)
Há de se destacar que diante da negativa de acesso aos autos da investigação preliminar e instrumentos
processuais poderá o defensor socorrer-se a RECLAMAÇÃO para fazer valer a autoridade da Súmula
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Vinculante 14; ou ainda, ao MANDADO DE SEGURANÇA em nome do advogado (este tem direito líquido e
certo de acesso aos autos do IP); ou ainda, ao HABEAS CORPUS em nome do cliente (estando preso ou em
liberdade).
Além disso, o § 12 do art. 7º do Estatuto da OAB, com a redação dada pela Lei nº 13.245/2016 previu a
responsabilidade do delegado.
E, por fim, haverá crime de abuso de autoridade, nos termos do art. 32 da Lei nº 13.869/2019:
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de
investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer
outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa,
assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças
relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências
futuras, cujo sigilo seja imprescindível: (Promulgação partes vetadas)
INQUISITIVO
O inquérito policial é um procedimento considerado como inquisitivo, o que significar dizer que, em seu tramite
não são observados o contraditório e a ampla defesa (pelo menos não de forma plena).
Há quem defenda que o inquérito é um procedimento sujeito ao contraditório e a ampla defesa (Defensoria
Pública). Por outro lado, há entendimento de que o inquérito continua sendo um procedimento inquisitorial
(Ministério Público e Delegado de Polícia).
O STF reafirmou o caráter inquisitorial do Inquérito, ao negar direito de advogado de ser intimado previamente
da data dos depoimentos e interrogatório.
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colhidos no inquérito não se prestam, por si sós, a fundamentar uma
condenação criminal. A Lei nº 13.245/2016 implicou um reforço das
prerrogativas da defesa técnica, sem, contudo, conferir ao advogado o direito
subjetivo de intimação prévia e tempestiva do calendário de inquirições a ser
definido pela autoridade policial.
(STF. 2ª Turma. Pet 7612/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/03/2019
- Info 933).
DISCRICIONÁRIO
Ao contrário da fase judicial, em que há um rigor procedimental a ser observado, a fase preliminar de
investigações é conduzida de maneira discricionária (liberdade de atuação dentro dos limites traçados pela
lei) pela autoridade policial, que deve determinar o rumo das diligências de acordo com as
peculiaridades do caso concreto.
O rumo das diligências está a cargo do delegado, e os arts. 6° e 7'º, do CPP indicam as diligências que podem
ou devem ser desenvolvidas por ele, mas não há uma ordem certa. Será feito de acordo com o caso concreto.
A autoridade policial pode atender ou não aos requerimentos patrocinados pelo indiciado ou pela própria
vítima (art. 14, CPP), fazendo um juízo de conveniência e oportunidade quanto à relevância daquilo que lhe
foi solicitado.
Atenção: A discricionariedade NÃO É DE CARÁTER ABSOLUTO, existem diligências que são de realização
obrigatória. Por exemplo, não poderá indeferir a realização do exame de corpo de delito, quando a infração
praticada deixar vestígios, art. 158, caput, e art. 184, ambos do CPP.
INDISPONIBILIDADE
O delegado possui certa discricionariedade para instauração ou não do inquérito policial. Contudo, uma vez
iniciado o procedimento investigativo, deve levá-lo até o final, NÃO PODENDO ARQUIVÁ-LO, em virtude de
expressa vedação contida no art. 17 do CPP.
A persecução criminal é de ordem pública, e uma vez iniciado o inquérito, não pode o delegado de polícia
dele dispor. Se diante de uma circunstância fática, o delegado percebe que não houve crime, nem em tese,
não deve iniciar o inquérito policial. Daí que a autoridade policial não está, a princípio obrigada a instaurar de
qualquer modo o inquérito policial, devendo antes se precaver, aferindo a plausibilidade da notícia do crime,
notadamente aquelas de natureza apócrifa (delação anônima).
Contudo, uma vez iniciado o procedimento investigativo, deve levá-lo até o final, não podendo arquivá-
lo, em virtude de expressa vedação contida no art. 17 do CPP.
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OFICIALIDADE
A realização do inquérito policial é atribuição de um órgão oficial do Estado (Polícia Judiciária), com a
presidência deste incumbida a autoridade policial do respectivo órgão (Delegado de Polícia – art. 2º, § 1º, da
Lei nº 12.850/13).
OFICIOSIDADE
Ao tomar conhecimento de notícia de crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial
é obrigada a agir de ofício, independentemente de provocação da vítima e/ou qualquer outra pessoa.
No caso de crimes de ação penal pública condicionada à representação e de ação penal de iniciativa
privada, a instauração do inquérito policial está condicionada à manifestação da vítima ou de seu
representante legal.
TEMPORÁRIO
O inquérito policial não é ad eternum, devendo haver prazo para sua conclusão, que irá variar de acordo com
a natureza da infração penal praticada. Discorreremos em maiores detalhes em tópico específico.
Instauração do IP nos crimes de ação penal pública condicionada ou de ação penal de iniciativa
privada
Para que o delegado instaure o inquérito policial deverá haver provocação do ofendido/representante legal,
não podendo instaurá-lo de ofício.
Nos casos de crimes de ação penal privada, a instauração do inquérito policial depende de REQUERIMENTO
da vítima ou seu representante legal; enquanto os de ação penal condicionada, depende de
REPRESENTAÇÃO do ofendido.
Art. 5º. § 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-
la.
Em alguns crimes, ditos de ação pública condicionada, a persecução criminal está a depender de autorização
do Ministro da Justiça, também chamada de requisição.
Nos crimes de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial pode ser instaurado das seguintes
formal:
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De ofício: nos crimes de ação penal pública incondicionada a instauração do IP poderá ocorrer de ofício, isso
porque o Delegado de Polícia também está vinculado ao princípio da obrigatoriedade, de modo que, a partir
do momento que ele toma conhecimento da existência de um crime de ação penal pública incondicionada ele
é obrigado a agir (exemplos: registro de ocorrência, notícia veiculada pela imprensa). Deve-se lavrar a
PORTARIA – peça inaugural do inquérito policial.
Há entendimento na doutrina de que a requisição da instauração de inquérito policial pela autoridade judiciária
é incompatível com o sistema acusatório e com a garantia da imparcialidade, isso porque o CPP precisa ser
lido a luz da Constituição Federal de 1988.
Notícia oferecida por qualquer do povo (delatio criiminis): qualquer pessoa do povo, ao tomar
conhecimento da prática de crime de ação penal incondicionada pode levá-lo ao conhecimento do Delegado,
o qual, verificado a procedência das informações, deverá instaurar inquérito através da peça inaugural, qual
seja, a PORTARIA.
Auto de Prisão em Flagrante – APF: quando a autoridade policial se depara com um flagrante delito. A
despeito de não constar expressamente do art. 5º do CPP, o auto de prisão em flagrante é, sim, uma das
formas de instauração do inquérito policial, funcionando o próprio auto como a peça inaugural da investigação,
aliás, é a maneira mais comum de instauração de inquéritos policiais.
A notícia do crime pode ser endereçada a autoridade policial (delegado), ao membro do Ministério Público ou
ao magistrado.
Caberá ao delegado, diante do fato aparentemente típico que lhe é apresentado, iniciar as investigações.
O MP, diante de notícia crime que contenha em si elementos suficientes revelando a autoria e a materialidade,
dispensará a elaboração do inquérito, oferecendo a denúncia; diante de notícia crime deficiente, poderá
requisitar diligências à autoridade policial.
Já o magistrado, em face da notícia crime que lhe é apresentada, poderá remetê-la ao MP, para providências
cabíveis, ou requisitar a instauração do inquérito policial.
Espécies
Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por meio de suas atividades
rotineiras ou comunicação informal. Exemplo: a autoridade tem notícia da infração através de suas
investigações ou pela imprensa.
A chamada delação apócrifa ou notitia criminis inqualificada é o que vulgarmente chamamos de denúncia
anônima.
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Em que pese a Constituição Federal consagrar a livre manifestação de pensamento, vedando o anonimato
(art. 5º, IV), certo é que a polícia deve acautelar-se diante da notícia anônima, e proceder às investigações
com cuidado redobrado, porém não deixando de atuar.
Nesse sentido é que STF e STJ têm admitido ser possível a deflagração da persecução penal pela chamada
denúncia anônima, desde que esta seja seguida de diligências realizadas para averiguar os fatos nela
noticiados antes da instauração do inquérito policial, ou seja, apenas quando precedida de diligências
preliminares que atestem a verossimilhança dos fatos noticiados (STJ- Sexta Turma, HC 237.164; STF-
Segunda Turma- HC 105484).
Autoridade policial toma conhecimento da infração penal através de um expediente escrito. Exemplos:
requisição por parte do juiz, requisição do Ministério Público ou representação do ofendido.
É aquela apresentada juntamente com o infrator preso em flagrante. Pode representar hipótese de notícia
crime espontânea, quando quem realiza a prisão é a própria autoridade policial ou seus agentes, ou
provocada, quando quem realiza a prisão é um particular (art. 301, CPP). Assim a autoridade policial é
obrigada a tomar conhecimento do fato, ainda que não quisesse.
DELATION CRIMINIS
Delatio criminis ocorre quando qualquer pessoa do povo comunica à autoridade policial, ou ao membro do
Ministério Público, ou ao juiz, acerca da ocorrência da infração penal.
Subdivide-se em:
- Postulatória: a vítima ou qualquer do povo comunica o fato a autoridade policial e pede a instauração do
inquérito.
INCOMUNICABILIDADE DO INVESTIGADO
O artigo 21 do CPP dispõe que a incomunicabilidade do indiciado que dependerá sempre de despacho nos
autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
Segundo a doutrina majoritária, o artigo 21 do CPP não foi recepcionado pela Constituição de 1988.
Se o acusado possui o direito ao advogado, não faz sentido ele não ter direito de se comunicar.
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No entanto, para a prova da OAB, mesmo que se considere a possiblidade de incomunicabilidade do
indiciado, por se tratar de medida bastante rigorosa, deve-se atentar para as seguintes regras:
• Não se aplica ao Juiz, ao Ministério Público e ao advogado (é prerrogativa do advogado comunicar-se com
seus clientes presos, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração).
O prazo para conclusão do inquérito irá variar conforme a situação prisional do investigado, se solto ou se
preso.
Como regra geral, para os crimes da atribuição da polícia civil estadual, o prazo para a conclusão do inquérito
é de 10 dias, estando o indiciado preso, e de 30 dias, se o agente está solto. Este último prazo comporta
prorrogação, a requerimento do delegado e mediante autorização do juiz (art. 10, § 3º, CPP), não
especificando a lei qual o tempo de prorrogação nem quantas vezes poderá ocorrer.
Prazos Especiais
➢ Justiça Federal
Os inquéritos a cargo da polícia federal, se o indiciado estiver preso, o prazo para conclusão do inquérito
é de 15 dias, prorrogável por igual período, pressupondo autorização judicial (art. 66 da Lei n° 5.010/1966).
A lei não tratou do prazo do investigado solto, de modo que diante do silêncio, aplicar-se-á o prazo do CPP
subsidiariamente, ou seja, 30 dias para a conclusão, prorrogáveis mediante solicitação do delegado e
autorização do juiz, cabendo a este estipular o prazo, haja vista o silêncio da lei sobre o quanto de
prorrogação. Nada impede, a toda evidência, que haja mais de uma prorrogação.
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Art. 66. O prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias,
quando o indiciado estiver preso, podendo ser prorrogado por mais quinze
dias, a pedido, devidamente fundamentado, da autoridade policial e deferido
pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo.
Parágrafo único. Ao requerer a prorrogação do prazo para conclusão do
inquérito, a autoridade policial deverá apresentar o preso ao Juiz.
O inquérito policial será concluído no prazo de 30 dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 dias, quanto
solto. O parágrafo único dispõe que os prazos podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público,
mediante pedido justificado de polícia judiciária.
Caso o indiciado esteja preso, o encerramento do inquérito policial militar deve ocorrer em 20 dias. Já se
solto estiver, o prazo é de 40 dias, prorrogáveis por mais vinte dias pela autoridade militar superior, desde
que não estejam concluídos exames ou perícias já iniciados, ou haja necessidade de diligências
indispensáveis à elucidação do fato (art. 20, caput, § 1°, CPPM).
Art 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o indiciado estiver
preso,
contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou
no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, contados a partir
da data em que se instaurar o inquérito.
Prorrogação de prazo:
§ 1º Este último prazo (indiciado estiver solto) poderá ser prorrogado por mais
vinte dias pela autoridade militar superior, desde que não estejam concluídos
exames ou perícias já iniciados, ou haja necessidade de diligência,
indispensáveis à elucidação do fato. O pedido de prorrogação deve ser feito
em tempo oportuno, de modo a ser atendido antes do término do prazo.
- Preso: 20 dias
O § 1º do art. 10 da Lei nº 1.521/1951 prevê o prazo de 10 dias para a conclusão do inquérito policial. Todavia,
não faz distinção entre indiciado preso ou solto, logo o prazo é único, NÃO contemplando prorrogação.
Art. 10. (...)
§ 1º. Os atos policiais (inquérito ou processo iniciado por portaria) deverão
terminar no prazo de 10 (dez) dias.
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- Prazo de 10 para preso ou solto.
No que se refere aos prazos aplicados para conclusão do inquérito policial quando o indiciado estiver preso,
estes NÃO serão aplicados quando se tratar de PRISÃO TEMPORÁRIA, haja vista que, tratando-se de prisão
temporária, o prazo para conclusão do IP será o prazo de duração desta, ou seja, o prazo para conclusão
do IP quando o indiciado estiver preso temporariamente será de:
- Regra: 05 dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2º, caput,
da Lei nº 7.960/89);
- Crimes hediondos ou equiparados: 30 dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade (art. 2º, § 4º, da Lei nº 8.072/90).
1ª corrente: o prazo terá como termo inicial a data da efetivação da prisão (data em que se executar a
ordem de prisão). Trata-se aqui de prazo material, ou seja, inclui-se o dia de começo e exclui o último dia
(art. 10 do CP).
2ª corrente: não se pode confundir o prazo da prisão, que tem natureza penal, com o prazo para a conclusão
do inquérito, que tem natureza processual.
Excesso do Prazo
Sendo abusivo e desproporcional, a prisão deverá ser objeto de relaxamento. Todavia, um excesso tolerável,
não acarretará demais problemas, até porque pode ser compensado no decorrer do processo.
ESQUEMATIZANDO
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CRIMES CONTRA A 10 dias 10 dias
ECONOMIA POPULAR Improrrogável Improrrogável
PRISÃO TEMPORÁRIA 5 dias, prorrogável por mais 5 ----------
dias.
Observação: crimes hediondos: 30
dias, prorrogável por mais 30 dias
* Se o art. 3º-B do CPP, incluído no Pacote Anticrime, o qual se encontra suspenso por tempo indeterminado pelo STF,
passa a valer, tal prazo poderá ser PRORROGADO UMA VEZ POR ATÉ 15 DIAS.
A reprodução simulada dos fatos é a famosa reconstituição do crime; tem a finalidade de verificar se a infração
foi praticada de determinado modo. Nesse caso, o suspeito não é obrigado a contribuir com a diligência,
uma vez que ninguém é obrigado a produzir provas contra si (nemo tenetur se detegere), porém, estará
obrigado a comparecer.
Cumpre ressaltar que NÃO será admitida reprodução simulada do fato que contrarie a moralidade ou a
ordem pública (por exemplo, crimes contra a dignidade sexual).
INDICIAMENTO
É a cientificação ao suspeito de que ele passa a ser o principal foco do inquérito, ou seja, o indiciamento é o
ato através do qual a autoridade policial (o delegado de polícia) demonstra estar convencido da materialidade
de um delito e de que um (ou vários) investigados são os autores.
Só cabe falar em indiciamento se houver um lastro mínimo de prova vinculando o suspeito à prática delitiva,
o que se faz após análise técnico-jurídica do fato, indicando-se autoria, materialidade e circunstâncias,
como dispõe a Lei nº 12.830/2013.
Art. 2º (...)
O indiciamento é ato privativo do Delegado de Polícia (art. 2º, § 6º, da Lei nº 12.830/13). Ou seja, não cabe
ao promotor nem ao juiz determinar que o delegado de polícia indicie um investigado.
NÃO é ato discricionário, pois se fundamenta nas provas colhidas durante as diligências. Se as provas
apontam um suspeito, ele DEVE ser indiciado; se não apontam, o delegado não pode indiciar ninguém.
Atenção: o indiciamento não vincula o Ministério Público. Assim, da mesma forma que o delegado só irá
indiciar entender que estão presentes os elementos necessários para isso, o promotor de justiça também só
irá oferecer a denúncia se estiver convencido da justa causa para tal, independentemente de a autoridade
policial ter indiciado ou não algum investigado.
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Momento do Indiciamento
É um ato exclusivo da fase investigatória. Se o processo criminal já teve início, sem que tenha tido o
indiciamento formalmente, não é mais possível o indiciamento, constituindo-se em constrangimento ilegal.
Os autos do inquérito, integrados com o relatório, serão remetidos ao Judiciário (art. 10, § 1°, CPP), para
que sejam acessados pelo titular da ação penal (leia-se Ministério Público).
Nos moldes do previsto no CPP a tramitação dos autos é a seguinte, sai da polícia até o juiz, e do juiz ao
Ministério Público.
Não obstante, existem algumas legislações estaduais prevendo a tramitação direta de inquéritos policiais
entre a Polícia Judiciária e o Ministério Público.
Nessa linha, a Resolução nº 63/2009 do Conselho da Justiça Federal trata da possibilidade de tramitação
direta, ou seja, salvo hipóteses em que houver necessidade de intervenção judicial, os autos devem tramitar
diretamente entre a Polícia e o Ministério Público.
No Distrito Federal o procedimento de tramitação de inquéritos policiais no primeiro grau de jurisdição está
regulamentada pela Resolução nº 10, de 28 de agosto de 2017, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territórios.
Providências a serem adotadas pelo Ministério Público ao ter vista do Inquérito Policial
Deverá requerer a permanência dos autos em cartório, para aguardar a manifestação do ofendido.
Art. 19, CPP. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do
inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa
do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente,
se o pedir, mediante traslado.
a) Oferecer denúncia contra a pessoa suspeita de ter cometido o crime, caso entenda que já há indícios
suficientes de autoria e prova da materialidade;
b) Caso o inquérito não tenha apurado os elementos que o MP repute imprescindíveis ao oferecimento da
denúncia, abre-se a oportunidade da requisição de novas diligências, que terão por finalidade
complementar o material que já foi colhido (art. 16, CPP).
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c) Promoção de arquivamento do inquérito policial, caso conclua que não há crime ou que não existem
“provas” suficientes, mesmo já tendo sido feitas todas as diligências investigatórias possíveis;
d) Requerer ao juiz que decline a competência ou que suscite conflito de competência, caso avalie que
o atual juízo não é competente para apurar o delito investigado.
LEMBRANDO: A autoridade policial, ainda que convencida da inexistência do crime, não poderá mandar
arquivar os autos do inquérito já instaurado (art. 17 do CPP), devendo encaminhá-lo ao Ministério Público.
MUITO CUIDADO, considerando as alterações promovidas no art. 28 do CPP pelo Pacote Anticrime (Lei nº
13.964/19).
No caso de ação penal pública, quando o MP entender que o inquérito não obteve êxito algum, não havendo
lastro probatório mínimo de materialidade e autoria que consubstancie justa causa para o oferecimento da
denúncia, bem como nem existe, no momento, expectativa de que novas diligências vão mudar esse cenário,
o membro do MP irá requerer ao juiz o arquivamento do inquérito policial e, caso este concorde com o
pedido, ele irá homologá-lo, arquivando o IP.
Todavia, caso o juiz discorde do pedido formulado pelo membro do MP, ele deverá encaminhar ao
Procurador-Geral para que este decida sobre o arquivamento (art. 28, CPP).
» Oferece a denúncia
» Designa outro membro do MP para oferecer a denúncia (não poderá enviar para aquele que requereu o
arquivamento, em virtude da independência funcional). Esse novo membro designado será um longo manus
do Procurador-Geral.
Atenção: quem arquiva o IP é o juiz, mas desde que provocado pelo MP.
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autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na
forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Efetivadas as comunicações formais, ausente pedido voluntário de revisão da vítima (ou seu representante),
investigado ou autoridade investigadora, devidamente certificado o prazo, “sobem” os autos para
homologação do arquivamento pelo órgão competente da Instituição do Ministério Público que pode
confirmar ou divergir, total ou parcialmente, caso em que será designado novo membro do Ministério
Público para o exercício da ação penal, mantendo sua natureza de ato complexo.
Em suma, o arquivamento do IP, com a nova redação dada pela Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime), temos
o fim do controle judicial, passa a ser EXCLUSIVAMENTE no âmbito do MINISTÉRIO PÚBLICO, SEM
intervenção do JUIZ (NÃO há mais HOMOLOGAÇÃO JUDICAL do arquivamento do IP – a revisão e
homologação passam a ser competência do órgão de revisão dentro do próprio MP), em harmonia com o
sistema acusatório.
Importante ressaltar que a eficácia do artigo 28, caput, do Código de Processo Penal, na redação dada pela
Lei nº 13.964/19 (Alteração do procedimento de arquivamento do inquérito policial) ESTÁ SUSPENSA
POR TEMPO INDETERMINADO PELO STF (Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade
6.299/DF). Nos termos do artigo 11, §2º, da Lei n. 9868/99, a redação revogada do artigo 28 do Código de
Processo Penal permanece em vigor enquanto perdurar esta suspensão. Ou seja, continua válido o
procedimento previsto no art. 28, caput, do CPP, com a redação anterior ao advento do Pacote
Anticrime (tópico 2.10.1), enquanto perdurar a suspensão.
DESARQUIVAMENTO
Em princípio, o arquivamento do inquérito não gera efeito definitivo, podendo ser revista a situação a qualquer
tempo, inclusive porque novas provas podem surgir. Ocorre que a autoridade policial, segundo o preceituado
em lei, independentemente da instauração de outro inquérito, pode proceder a novas pesquisas, o que
significa sair em busca de provas que surjam e cheguem ao seu conhecimento.
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julgada formal e coisa julgada formal e material, a depender do fato de a decisão judicial em questão ter
apreciado (ou não) o mérito da conduta do agente.
Em outras palavras: uma vez que o inquérito era arquivado, bastava realizar o debate sobre quais as razões
faziam coisa julgada material e quais as razões faziam coisa julgada formal.
1. Coisa julgada formal: Impede modificações dentro do processo em que foi proferida.
2. Coisa julgada material: Há projeção para fora do processo em que foi proferida, impedindo alteração
da decisão proferida até mesmo em outros processos.
Desta forma, em regra, o arquivamento do IP faz apenas coisa julgada Formal. Pode ser desarquivado e
rediscutir o assunto, desde que surjam novas provas (requisito obrigatório).
Em exceção, faz coisa julgada Material, de forma que não poderá ser desarquivado, nem que surjam
novas provas, e não poderá ser ofertada denúncia pelo mesmo fato, seja na mesma ou em outra relação
processual.
➢ Já no que diz respeito ao arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude, havia divergência
jurisprudencial a respeito do tema, sendo que, em decisão de 2017, o STF (HC 87395/PR), divergindo do
atual posicionamento do STJ, entendeu que era possível a reabertura do inquérito policial arquivado com
fundamento em excludente de ilicitude.
ESQUEMATIZANDO
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5) Existência manifesta de causa excludente de Formal e Material STJ: NÃO (REsp 791.471/RJ)
ilicitude STF: SIM (HC 87395/PR e HC 125.101/SP)
6) Existência manifesta de causa excludente de Formal e Material NÃO (Posição da doutrina)
culpabilidade (exceção: inimputabilidade)
6) Existência manifesta de causa extintiva da Formal e Material NÃO
punibilidade STJ: HC 307.562/RS
STF: Pet 3943
Exceção: certidão de óbito falsa
B) Com o advento do Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), o arquivamento passou a ser decisão
administrativa, ou seja, não é mais uma decisão judicial. Portanto, tecnicamente, não há mais como se
falar em coisa julgada (atributo das decisões judiciais). Diante disso, indaga-se: ainda existe coisa julgado no
arquivamento de inquérito?
1ª corrente – entende que como se trata de uma decisão administrativa, não está mais sujeito à apreciação
judicial, o arquivamento do inquérito policial ou qualquer outro elemento de informação de mesma natureza,
consequentemente, não está mais sujeita aos efeitos da coisa julga formal ou material.
Atenção: Cumpre destacar que o desarquivamento do inquérito não terá como consequência automática e
obrigatória o oferecimento da denúncia. São “coisas” distintas. Assim, primeiro ocorre o desarquivamento e
posteriormente, pode ou não o Ministério Público oferecer a denúncia.
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ACORDO DE NÃO PERSECUÇAO PENAL (ANPP) – ART. 28-A, CPP
O Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) foi acrescido ao Código de Processo Penal com o advento do
Pacote Anticrime.
REQUISITOS POSITIVOS
Para a celebração do acordo de não persecução penal devem ser observados alguns requisitos, são eles:
b) Infração penal cometida sem violência ou grave ameaça: a violência ou grave ameaça, citada no art. 28-A,
deve ser praticada na conduta. Portanto, em crimes culposos, ainda que resulte violência contra pessoa, será
cabível o acordo.
c) Infração penal com pena mínima inferior a 4 anos: as causas de aumento e diminuição devem ser levadas
em consideração.
a) Não deve ser caso de arquivamento (MP entende que é caso de denúncia)
d) O agente for criminoso habitual, reiterado ou profissional, salvo quando as infrações anteriores forem
insignificantes.
e) Agente beneficiado com acordo de não persecução penal, transação ou suspensão condicional nos últimos
5 anos;
f) Crime for praticado no âmbito de violência doméstica e familiar (qualquer vítima – homem ou mulher)
g) Crime praticado contra mulher por razões da condição de sexo feminino, independentemente se no
contexto ou não da violência doméstica ou familiar.
CONDIÇÕES
As condições trazidas pela lei podem ser cumulativas ou alternativas, o que facilita muito na hora de ajustar
o acordo.
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Havendo a rescisão do acordo, pelo descumprimento das condições, a confissão poderá ser utilizada em
eventual processo.
As condições são:
b) Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto
ou proveito do crime;
c) Prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma
do art. 46 do Código Penal;
d) Pagamento de prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade
pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como
função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito;
CONTROLE JURISDICIONAL
O acordo deverá ser escrito, com a participação de todos os atores (MP, investigado e seu defensor) e haverá
uma audiência para homologação, a fim de constatar a voluntariedade por parte do investigado e a
legalidade do acordo. A presença do seu defensor é obrigatória.
Ao homologar o ANPP, o juiz poderá verificar se as condições são inadequadas, insuficientes ou abusivas e
devolverá os autos ao Ministério público para reformular a proposta.
Caberá ao Ministério Público a remessa do ANPP ao juízo da execução penal para início do cumprimento,
após a devida homologação.
Em razão da voluntariedade, o investigado poderá recusar o ANPP, caso não esteja de acordo com as
condições. Deve ficar atento que se trata de acordo, podendo ser negociadas as condições e o Ministério
Público aberto à negociação. Caso contrário, não há sentido no ANPP.
Caso seja recusado, o Ministério público seguirá com as investigações ou, caso esteja satisfeito com
as provas até então colhidas, oferecerá denúncia.
Sempre a vítima será intimada caso o acordo seja realizado ou até mesmo descumprido, para que fique ciente
da atuação estatal no caso.
RESCISÃO E CUMPRIMENTO
Durante a execução, caso haja descumprimento das condições, o Ministério Público comunicará ao juízo e
oferecerá denúncia, caso não haja mais diligências a serem realizadas e se for o caso de oferecimento.
O descumprimento poderá fazer com que o Ministério público não ofereça a suspensão condicional
do processo, caso seja possível, visto a prova de que o investigado não tem dado a devida importância aos
cumprimentos de condições para não ser processado.
NÃO poderá constar em certidões de maus antecedentes o ANPP realizado, somente deverá ter registro para
fins de impedir novo ANPP.
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E caso o Ministério Público não ofereça o acordo, deverá o juiz das garantias encaminhar a instância de
revisão do Ministério Público, conforme preceitua o artigo 28, modificado pela lei anticrime. Isso se dá, visto
que o ANPP se torna um direito subjetivo do investigado. Caso preencha os requisitos, o ANPP tem que
ser oferecido, assim como ocorre com a transação penal e com a suspensão condicional do processo.
RECURSO
Caberá RESE contra decisão que recusar a homologação da proposta de acordo de não persecução penal.
DIREITO INTERTEMPORAL
O art. 28-A tem conteúdo misto ou híbrido e sua retroatividade, em si, não é objeto de maiores discussões;
o grande debate, todavia, reside em saber em qual momento ou até qual fase do processo penal essa
retroatividade deve incidir.
- Uma primeira vertente sustenta que o acordo somente pode ser celebrado até o recebimento da
denúncia, pois se o acordo é denominado de “de não persecução” ele somente poderia ser celebrado até o
início da persecução, cujo marco seria o recebimento da denúncia.
- Numa segunda posição, defende-se que o acordo de não persecução penal poderia ser celebrado até o
início da instrução penal.
- Uma terceira corrente argumenta que o acordo de não persecução penal (ANPP) deve ser celebrado até
a sentença.
- Uma quarta posição entende que o ANPP pode ser celebrado a qualquer momento antes do trânsito
em julgado.
No Superior Tribunal de Justiça esses entendimentos já renderam divergência entre a Quinta e a Sexta
Turmas, o que levou o Supremo Tribunal Federal a afetar o tema a julgamento pelo Plenário – ver HC
185.913/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes.
Em recente decisão (19/09/2021), o Ministro Gilmar Mendes votou pela retroatividade do benefício, assim
propondo a seguinte tese: “É cabível o acordo de não persecução penal em casos de processos em
andamento (ainda não transitados em julgado) quando da entrada em vigência da Lei 13.964/2019, mesmo
se ausente confissão do réu até aquele momento. Ao órgão acusatório cabe manifestar-se motivadamente
sobre a viabilidade de proposta, conforme os requisitos previstos na legislação, passível de controle, nos
termos do artigo 28-A, § 14, do CPP.”
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JUÍZO DAS GARANTIAS
A Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime) incluiu os artigos 3º-A e seguintes no CPP, prevendo a figura do “juiz
das garantias”.
De acordo com o artigo 3-B, caput, do CPP, inserido pela Lei nº 13.964/19, o juiz das garantias é responsável
pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia
tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário (...).
Note-se uma mudança no processo penal, estabelecendo-se a atuação de um juiz na fase de investigação e
de outro juiz na fase processual propriamente dita.
O juiz das garantias vai atuar exclusivamente na fase de investigação, decidindo, por exemplo, sobre
interceptação telefônica, prisão temporária/preventiva, audiência de custódia, legalidade do flagrante, etc.,
ficando esse juiz das garantias impossibilitado de participar na fase processual. O juiz das garantias fica,
portanto, responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal, competindo-lhe decidir sobre todas
as matérias elencadas no novo art. 3º-B do CPP.
O juiz das garantias NÃO ATUA nos crimes de menor potencial ofensivo. Além disso, nos demais crimes,
deverá atuar apenas na fase de investigação, o que compreende o período entre a notitia criminis (prisão em
flagrante ou portaria de instauração da investigação pelo delegado de polícia) até o recebimento da denúncia
ou da queixa-crime.
ATENÇÃO
Arts. 3º-A ao 3º-F - No exercício da Presidência do Supremo Tribunal Federal, o ministro Luiz Fux, vice-presidente da
corte, decidiu suspender a criação do juiz das garantias por tempo indeterminado. A decisão revoga liminar concedida
pelo presidente da corte, ministro Dias Toffoli, que já havia suspendido a mudança, porém pelo prazo 180 dias.
A decisão de Fux é válida até que o Plenário analise a questão, o que não tem data para ocorrer. Fux é o relator das
quatro ações que questionam as mudanças introduzidas pela chamada lei "anticrime".
Na mesma liminar, Fux também suspendeu a obrigatoriedade de audiências de custódia em 24 horas. Segundo o ministro,
essa obrigação desconsidera dificuldades regionais e logísticas. ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6305
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