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TÓPICOS ESPECIAIS III

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acompanhamento das aulas.
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PRESENTE SER DIVULGADO.
- A leitura deste material não esgota e não dispensa o acompanhamento e estudo da Lei
em sua totalidade.
- Livros utilizados para preparação do presente material:
• Renato Brasileiro, Manual de Processo Penal, vol. único, 2020.
• Aury Lopes Júnior, Direito Processual Penal, 17ª edição, 2020.
• Eugênio Pacelli, Curso de Processo Penal, 24ª edição, 2020.
• Guilherme Souza Nucci, Curso de Direito Processual Penal, 17ª edição, 2020.
• Paulo Rangel, Direito Processual Penal, 27ª edição, 2019.
• Victor Eduardo Rios Gonçalves e Alexandre Cebrian Araújo Reis, Direito
Processual Esquematizado, 2019.
• Norberto Avena – Processo Penal, 11ª edição, 2019.

Professor Renato Luqueiz

INQUÉRITO POLICIAL
CONCEITO

É um PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO INQUISITÓRIO E PREPARATÓRIO, anterior ao processo,


PRESIDIDO PELA AUTORIDADE POLICIAL (Delegado de Polícia) que conduz diligências, as quais
objetivam a colheita de ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO quanto à AUTORIA E MATERIALIDADE da infração
penal, a fim de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.

Atenção: No âmbito do Juizado Especial Criminal, no qual trata das infrações penais de menor potencial
ofensivo (crimes com pena máxima não superior a dois anos e todas as contravenções penais comuns), NÃO
há necessidade de instauração de inquéritos policiais.

Prevê o art. 69, da Lei nº 9.099/95, que a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará
termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando as requisições dos exames periciais necessários.

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará


termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o
autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames
periciais necessários.

A legitimidade para presidência do TCO é da autoridade policial, afinal, é ferramenta de investigação


preliminar, estando circunscrita a margem de atribuição da polícia judiciária.

NATUREZA JURÍDICA

Trata-se de procedimento de natureza administrativa.

Como o inquérito policial é mera peça informativa, eventuais VÍCIOS dele constantes não têm o condão de
contaminar o processo penal a que der origem. Havendo, assim, eventual irregularidade em ato praticado no
curso do inquérito, mostra-se inviável a anulação do processo penal subsequente. Afinal, as NULIDADES
PROCESSUAIS concernem, tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os atos praticados
ao longo do processo penal condenatório.
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FINALIDADES

O inquérito policial possui a finalidade de identificar fontes de prova e proceder com a colheita de
elementos informativos acerca da materialidade e autoria da infração penal.

Fontes de prova são todas as pessoas ou coisas que podem ministrar algum conhecimento sobre o fato
delituoso. Ocorre antes do processo, quando integram o processo passam a ser meios de prova.

Elementos informativos são aqueles colhidos na fase investigatória, sem a necessária participação dialética
das partes. Em relação a eles, não se impõe a obrigatória observância do contraditório e da ampla defesa.

Atenção para não confundir prova com elementos informativos. O art. 155 do CPP trouxe a distinção entre
os elementos informativos e a prova.

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

→ Prova: aquilo que é produzido em contraditório judicial.

→ Elementos informativos: colhidos na investigação.

VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

Como sabemos, a finalidade do inquérito policial é a colheita de elementos de informação quanto à autoria e
materialidade do delito, no intuito de auxiliar o titular da ação penal (MP, no caso de ação penal pública; ou
ofendido ou seu representante legal, no caso de ação penal privada). Tendo em conta que esses elementos
de informação não são colhidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, deduz-se que o
inquérito policial tem VALOR PROBATÓRIO RELATIVO.

Prevalece o entendimento, assim como preconiza o art. 155 do CPP, de que os elementos de informação
colhidos durante a fase investigatória NÃO podem ser utilizados exclusivamente como fundamento
de uma decisão, haja vista que estes são colhidos sem a obrigatória observância dos princípios
constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

Importante ressaltar que o próprio art. 155 do CPP faz ressalvas em relação às provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas, as quais, portanto, ainda que produzidas durante o inquérito, podem ser utilizadas
exclusivamente para fundamentar uma sentença condenatória.

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

→ Prova: aquilo que é produzido em contraditório judicial.

→ Elementos informativos: colhidos na investigação.

Provas Cautelares X Provas não repetíveis x Provas antecipadas

O artigo 155, do CPP, menciona que o juiz, excepcionalmente, pode fundamentar sua decisão com base as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas:

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Provas cautelares: são aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão do
decurso do tempo. Podem ser produzidas na fase investigativa e na fase judicial. Dependem de autorização
judicial, sendo que o contraditório será diferido (postergado). Possui a urgência como elementar, ou seja,
PRECISA DE SER PRODUZIDA DE IMEDIATO, SOB RISCO DE PERECER. Exemplo: interceptação
telefônica.

Provas não repetíveis: é aquela que uma vez produzida não tem como ser novamente coletada em razão
do desaparecimento da fonte probatória. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Não
dependem de autorização judicial, sendo que o contraditório será diferido. Exemplo: Exame de corpo de delito
com ulterior desaparecimento dos vestígios.

Provas antecipadas: são aquelas produzidas com a observância do contraditório real em momento
processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do processo, em virtude de
situações de urgência e relevância. Podem ser produzidas na fase investigatória e na fase judicial. Dependem
de autorização judicial, sendo que o contraditório será real (contraditório para a prova). Exemplo: testemunha
que está correndo risco de morte (art. 225 CPP).

Atenção: Nos termos do art. 155 do Código de Processo Penal, embora o juiz possua liberdade para apreciar
as provas, é necessária a motivação, e não poderá proferir condenação com base exclusivamente nos
chamados “elementos informativos”. Assim, temos que elementos informativos, isoladamente considerados,
não podem fundamentar uma sentença. Porém, tais elementos não devem ser desprezados durante a fase
judicial, podendo se somar à prova produzida em juízo para auxiliar na formação da convicção do magistrado.

PRESIDÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial é presidido pelo Delegado de Polícia, nos exatos termos do art. 2º da Lei nº 12.830/2013:

Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais


exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e
exclusivas de Estado.

§ 1o Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a


condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro
procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das
circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
§ 2o Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição
de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos
fatos.

Há situações excepcionadas por lei em que não cabe ao Delegado de Polícia promover as investigações,
a saber:

• Crime militar: a investigação cabe à própria polícia militar, por meio inquérito policial militar;

• Crime praticado por membro do poder judiciário: a investigação cabe a um desembargador do órgão
especial ou do pleno do tribunal a que estiver vinculado o juiz (art. 33, parágrafo único, da Lei Orgânica da
Magistratura Nacional);

• Crime praticado por membro do Ministério Público: a investigação deve ser conduzida pelo respectivo
Procurador-Geral de Justiça, quando o autor do delito for promotor de justiça, ou pelo membro do MP
designado pelo PGR, se a infração for cometida por membro do Ministério Público da União (art. 41, parágrafo
único, da Lei nº 8625/93 e art. 18, parágrafo único, da LC nº 75/93).

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CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

PROCEDIMENTO ESCRITO

Em regra, o IP é um procedimento escrito, nos termos do art. 9º do CPP, in verbis:

Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,


REDUZIDAS A ESCRITO ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela
autoridade.

Pode-se usar um sistema audiovisual nos termos no art. 405, 1º, CPP:

Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro próprio,


assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes
nela ocorridos. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado,
indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de
gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive
audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações. (Incluído
pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 2o No caso de registro por meio audiovisual, será encaminhado às partes
cópia do registro original, sem necessidade de transcrição. (Incluído pela Lei
nº 11.719, de 2008).

Em princípio, o sistema audiovisual é válido para a fase judicial. Entretanto, nada impede que seja utilizado
também para o inquérito, pois se refere ao investigado e ao indiciado (nomenclatura típica do IP).

Observação: a gravação não pode ser clandestina, ou seja, o investigado precisa ter ciência de que está
sendo gravado.

→ Numa visão moderna de inquérito policial poderíamos falar em parcialmente escrito.

PROCEDIMENTO DISPENSÁVEL

Para o início do processo (oferecimento da denúncia) é necessário um suporte probatório mínimo, a chamada
justa causa. A justa causa pode estar amparada no IP. Contudo, o IP não é o único procedimento
investigatório, por isso pode ser dispensado, nos termos dos arts. 27 e 39 do CPP.

Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério


Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito,
informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os
elementos de convicção.

Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por


procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita
ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.
(...)
§ 5º O órgão do Ministério Público DISPENSARÁ O INQUÉRITO, se com a
representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação
penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.

Se os elementos que venham lastrear a inicial acusatória forem colhidos de outra forma, não se exige a
instauração do inquérito policial. Tanto é verdade que a denúncia ou a queixa podem ter por base, outros
meios não policiais (CPI, COAF, investigação pelo MP – PIP ou PIC, autos de sindicâncias, etc.),
dispensando-se a atuação da polícia judiciária.

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O que é importante é que se tenham elementos quanto a autoria e a materialidade da infração penal,
concluindo-se assim, que o inquérito policial NÃO É IMPRESCINDÍVEL (É DISPENSÁVEL) PARA A
PROPOSITURA DA AÇÃO PENAL.
SIGILOSO

Ao contrário do que ocorre no processo, o inquérito NÃO comporta publicidade, sendo procedimento
essencialmente sigiloso, disciplinando o art. 20, do CPP:

Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à


elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.

O sigilo é importante para o investigado, de modo a proteger sua intimidade, até que se tenha “certeza” de
seu envolvimento e, ainda, para assegurar a eficácia das investigações, por exemplo, não pode divulgar a
decretação da interceptação telefônica, sob pena da prova restar prejudicada.

Entretanto, esse sigilo não atinge nunca o juiz e o Membro do Ministério Público.

Em relação ao advogado do investigado do Estatuto da OAB traz, em art. 7º, XIV, com a redação da Lei nº
13.245/2016:

Art. 7º. São direitos do advogado:


(...)
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir
investigação, MESMO SEM PROCURAÇÃO, autos de flagrante e de
investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que
conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio
físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245, de 2016)
(...)
§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para
o exercício dos direitos de que trata o inciso XIV. (Incluído pela Lei nº 13.245,
de 2016)

Assegurou-se ao advogado a possibilidade de examinar os autos em qualquer instituição responsável por


conduzir investigações (seja feita pela autoridade policial seja feita pelo MP), de qualquer natureza.

Entretanto, conforme entendimento dos tribunais, o advogado tem acesso às informações já documentadas
no procedimento investigatório, mas não em relação às diligências em andamento (escuta telefônica, por
exemplo, perderia o valor). Nesse sentido, o art. 7º, § 11 do Estatuto OAB.

Art. 7º
(...)
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá
delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a
diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade
das diligências. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

Nesse sentido é a Súmula Vinculante 14:

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos


elementos de prova (informação) que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária
(atribuições investigatórias: polícia, ministério público), digam respeito ao
exercício do direito de defesa.

Há de se destacar que diante da negativa de acesso aos autos da investigação preliminar e instrumentos
processuais poderá o defensor socorrer-se a RECLAMAÇÃO para fazer valer a autoridade da Súmula
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Vinculante 14; ou ainda, ao MANDADO DE SEGURANÇA em nome do advogado (este tem direito líquido e
certo de acesso aos autos do IP); ou ainda, ao HABEAS CORPUS em nome do cliente (estando preso ou em
liberdade).

Além disso, o § 12 do art. 7º do Estatuto da OAB, com a redação dada pela Lei nº 13.245/2016 previu a
responsabilidade do delegado.

§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o


fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve
a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará
responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do
responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar
o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de
requerer acesso aos autos ao juiz competente. (Incluído pela Lei nº 13.245,
de 2016)

E, por fim, haverá crime de abuso de autoridade, nos termos do art. 32 da Lei nº 13.869/2019:

Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de
investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer
outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa,
assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças
relativas a diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências
futuras, cujo sigilo seja imprescindível: (Promulgação partes vetadas)

INQUISITIVO

O inquérito policial é um procedimento considerado como inquisitivo, o que significar dizer que, em seu tramite
não são observados o contraditório e a ampla defesa (pelo menos não de forma plena).

Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão


requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da
autoridade.
Considerando que a Lei nº 13.245/2016 promoveu alteração no Estatuto da OAB, inciso XXI, do art. 7º, houve
uma forte polêmica sobre a característica de procedimento inquisitivo do IP.

Art. 7º, XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de


infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou
depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e
probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo,
inclusive, no curso da respectiva apuração:
a) apresentar razões e quesitos

Há quem defenda que o inquérito é um procedimento sujeito ao contraditório e a ampla defesa (Defensoria
Pública). Por outro lado, há entendimento de que o inquérito continua sendo um procedimento inquisitorial
(Ministério Público e Delegado de Polícia).

O STF reafirmou o caráter inquisitorial do Inquérito, ao negar direito de advogado de ser intimado previamente
da data dos depoimentos e interrogatório.

Não é necessária a intimação prévia da defesa técnica do investigado para a


tomada de depoimentos orais na fase de inquérito policial. Não haverá
nulidade dos atos processuais caso essa intimação não ocorra. O inquérito
policial é um procedimento informativo, de natureza inquisitorial, destinado
precipuamente à formação da opinio delicti do órgão acusatório. Logo, no
inquérito há uma regular mitigação das garantias do contraditório e da ampla
defesa. Esse entendimento justifica-se porque os elementos de informação
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colhidos no inquérito não se prestam, por si sós, a fundamentar uma
condenação criminal. A Lei nº 13.245/2016 implicou um reforço das
prerrogativas da defesa técnica, sem, contudo, conferir ao advogado o direito
subjetivo de intimação prévia e tempestiva do calendário de inquirições a ser
definido pela autoridade policial.
(STF. 2ª Turma. Pet 7612/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/03/2019
- Info 933).

DISCRICIONÁRIO

Ao contrário da fase judicial, em que há um rigor procedimental a ser observado, a fase preliminar de
investigações é conduzida de maneira discricionária (liberdade de atuação dentro dos limites traçados pela
lei) pela autoridade policial, que deve determinar o rumo das diligências de acordo com as
peculiaridades do caso concreto.

O rumo das diligências está a cargo do delegado, e os arts. 6° e 7'º, do CPP indicam as diligências que podem
ou devem ser desenvolvidas por ele, mas não há uma ordem certa. Será feito de acordo com o caso concreto.

A autoridade policial pode atender ou não aos requerimentos patrocinados pelo indiciado ou pela própria
vítima (art. 14, CPP), fazendo um juízo de conveniência e oportunidade quanto à relevância daquilo que lhe
foi solicitado.

Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão


requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da
autoridade.

Atenção: A discricionariedade NÃO É DE CARÁTER ABSOLUTO, existem diligências que são de realização
obrigatória. Por exemplo, não poderá indeferir a realização do exame de corpo de delito, quando a infração
praticada deixar vestígios, art. 158, caput, e art. 184, ambos do CPP.

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de


corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do
acusado.

Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade


policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária
ao esclarecimento da verdade.

INDISPONIBILIDADE

O delegado possui certa discricionariedade para instauração ou não do inquérito policial. Contudo, uma vez
iniciado o procedimento investigativo, deve levá-lo até o final, NÃO PODENDO ARQUIVÁ-LO, em virtude de
expressa vedação contida no art. 17 do CPP.

Art. 17. A autoridade policial NÃO PODERÁ MANDAR ARQUIVAR AUTOS


DE INQUÉRITO.

A persecução criminal é de ordem pública, e uma vez iniciado o inquérito, não pode o delegado de polícia
dele dispor. Se diante de uma circunstância fática, o delegado percebe que não houve crime, nem em tese,
não deve iniciar o inquérito policial. Daí que a autoridade policial não está, a princípio obrigada a instaurar de
qualquer modo o inquérito policial, devendo antes se precaver, aferindo a plausibilidade da notícia do crime,
notadamente aquelas de natureza apócrifa (delação anônima).

Contudo, uma vez iniciado o procedimento investigativo, deve levá-lo até o final, não podendo arquivá-
lo, em virtude de expressa vedação contida no art. 17 do CPP.

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OFICIALIDADE

A realização do inquérito policial é atribuição de um órgão oficial do Estado (Polícia Judiciária), com a
presidência deste incumbida a autoridade policial do respectivo órgão (Delegado de Polícia – art. 2º, § 1º, da
Lei nº 12.850/13).

OFICIOSIDADE

Ao tomar conhecimento de notícia de crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial
é obrigada a agir de ofício, independentemente de provocação da vítima e/ou qualquer outra pessoa.

No caso de crimes de ação penal pública condicionada à representação e de ação penal de iniciativa
privada, a instauração do inquérito policial está condicionada à manifestação da vítima ou de seu
representante legal.

TEMPORÁRIO

O inquérito policial não é ad eternum, devendo haver prazo para sua conclusão, que irá variar de acordo com
a natureza da infração penal praticada. Discorreremos em maiores detalhes em tópico específico.

MNEMÔNICO DAS CARACTERÍSTICAS

O inquérito policial é IDOSO TEDI

Indisponível Dispensável Oficioso Sigiloso Oficial Temporário Escrito Discricionário Inquisitivo

FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

Instauração do IP nos crimes de ação penal pública condicionada ou de ação penal de iniciativa
privada

Para que o delegado instaure o inquérito policial deverá haver provocação do ofendido/representante legal,
não podendo instaurá-lo de ofício.

A representação/requerimento é considerada condição de procedibilidade do inquérito policial. Não há


necessidade maiores formalismos.

Nos casos de crimes de ação penal privada, a instauração do inquérito policial depende de REQUERIMENTO
da vítima ou seu representante legal; enquanto os de ação penal condicionada, depende de
REPRESENTAÇÃO do ofendido.

Art. 5º. § 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de


representação, não poderá sem ela ser iniciado.

Art. 5º. § 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-
la.

Em alguns crimes, ditos de ação pública condicionada, a persecução criminal está a depender de autorização
do Ministro da Justiça, também chamada de requisição.

Instauração do IP nos crimes de ação penal pública incondicionada

Nos crimes de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial pode ser instaurado das seguintes
formal:
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De ofício: nos crimes de ação penal pública incondicionada a instauração do IP poderá ocorrer de ofício, isso
porque o Delegado de Polícia também está vinculado ao princípio da obrigatoriedade, de modo que, a partir
do momento que ele toma conhecimento da existência de um crime de ação penal pública incondicionada ele
é obrigado a agir (exemplos: registro de ocorrência, notícia veiculada pela imprensa). Deve-se lavrar a
PORTARIA – peça inaugural do inquérito policial.

Requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: Diante de requisição do Ministério Público


a autoridade policial está obrigada a instaurar o inquérito policial: não que haja hierarquia entre promotores e
delegados, mas sim por força do princípio da obrigatoriedade, que impõe às autoridades o dever de agir diante
da notícia da prática de infração penal. Quando se tratar de requisição do MP, a PEÇA INAUGURAL será a
própria REQUISIÇÃO MINISTERIAL.

Há entendimento na doutrina de que a requisição da instauração de inquérito policial pela autoridade judiciária
é incompatível com o sistema acusatório e com a garantia da imparcialidade, isso porque o CPP precisa ser
lido a luz da Constituição Federal de 1988.

Notícia oferecida por qualquer do povo (delatio criiminis): qualquer pessoa do povo, ao tomar
conhecimento da prática de crime de ação penal incondicionada pode levá-lo ao conhecimento do Delegado,
o qual, verificado a procedência das informações, deverá instaurar inquérito através da peça inaugural, qual
seja, a PORTARIA.

Auto de Prisão em Flagrante – APF: quando a autoridade policial se depara com um flagrante delito. A
despeito de não constar expressamente do art. 5º do CPP, o auto de prisão em flagrante é, sim, uma das
formas de instauração do inquérito policial, funcionando o próprio auto como a peça inaugural da investigação,
aliás, é a maneira mais comum de instauração de inquéritos policiais.

NOTITIA CRIMINIS (NOTÍCIA DO CRIME)

É o conhecimento pela autoridade, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente criminoso.

A notícia do crime pode ser endereçada a autoridade policial (delegado), ao membro do Ministério Público ou
ao magistrado.

Caberá ao delegado, diante do fato aparentemente típico que lhe é apresentado, iniciar as investigações.

O MP, diante de notícia crime que contenha em si elementos suficientes revelando a autoria e a materialidade,
dispensará a elaboração do inquérito, oferecendo a denúncia; diante de notícia crime deficiente, poderá
requisitar diligências à autoridade policial.

Já o magistrado, em face da notícia crime que lhe é apresentada, poderá remetê-la ao MP, para providências
cabíveis, ou requisitar a instauração do inquérito policial.

Espécies

Notícia Crime Direta ou Espontânea (cognição imediata)

Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso por meio de suas atividades
rotineiras ou comunicação informal. Exemplo: a autoridade tem notícia da infração através de suas
investigações ou pela imprensa.

Notícia Crime Inqualificada ou Delação Apócrifa (“denúncia anônima”)

A chamada delação apócrifa ou notitia criminis inqualificada é o que vulgarmente chamamos de denúncia
anônima.

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Em que pese a Constituição Federal consagrar a livre manifestação de pensamento, vedando o anonimato
(art. 5º, IV), certo é que a polícia deve acautelar-se diante da notícia anônima, e proceder às investigações
com cuidado redobrado, porém não deixando de atuar.

Nesse sentido é que STF e STJ têm admitido ser possível a deflagração da persecução penal pela chamada
denúncia anônima, desde que esta seja seguida de diligências realizadas para averiguar os fatos nela
noticiados antes da instauração do inquérito policial, ou seja, apenas quando precedida de diligências
preliminares que atestem a verossimilhança dos fatos noticiados (STJ- Sexta Turma, HC 237.164; STF-
Segunda Turma- HC 105484).

Notícia Crime Indireta ou Provocada (cognição mediata)

Autoridade policial toma conhecimento da infração penal através de um expediente escrito. Exemplos:
requisição por parte do juiz, requisição do Ministério Público ou representação do ofendido.

Notícia Crime Revestida de Forma Coercitiva (cognição coercitiva)

É aquela apresentada juntamente com o infrator preso em flagrante. Pode representar hipótese de notícia
crime espontânea, quando quem realiza a prisão é a própria autoridade policial ou seus agentes, ou
provocada, quando quem realiza a prisão é um particular (art. 301, CPP). Assim a autoridade policial é
obrigada a tomar conhecimento do fato, ainda que não quisesse.

DELATION CRIMINIS

Delatio criminis ocorre quando qualquer pessoa do povo comunica à autoridade policial, ou ao membro do
Ministério Público, ou ao juiz, acerca da ocorrência da infração penal.

Subdivide-se em:

- Postulatória: a vítima ou qualquer do povo comunica o fato a autoridade policial e pede a instauração do
inquérito.

- Simples: a vítima ou qualquer do povo só comunica o fato à autoridade.

INCOMUNICABILIDADE DO INVESTIGADO

O artigo 21 do CPP dispõe que a incomunicabilidade do indiciado que dependerá sempre de despacho nos
autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.

Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho


nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a
conveniência da investigação o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será
decretada por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade
policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese,
o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil (Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963) (Redação dada pela Lei nº
5.010, de 30.5.1966)

Segundo a doutrina majoritária, o artigo 21 do CPP não foi recepcionado pela Constituição de 1988.
Se o acusado possui o direito ao advogado, não faz sentido ele não ter direito de se comunicar.

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No entanto, para a prova da OAB, mesmo que se considere a possiblidade de incomunicabilidade do
indiciado, por se tratar de medida bastante rigorosa, deve-se atentar para as seguintes regras:

• A incomunicabilidade depende decisão judicial, a pedido do Delegado de Polícia ou do Ministério Público


(não pode ser decretada de ofício pela autoridade policial).

• Não pode exceder o prazo de 3 dias.

• Não se aplica ao Juiz, ao Ministério Público e ao advogado (é prerrogativa do advogado comunicar-se com
seus clientes presos, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração).

PRAZOS PARA CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

O prazo para conclusão do inquérito irá variar conforme a situação prisional do investigado, se solto ou se
preso.

Regra Geral - CPP


Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver
sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo,
nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no
prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
(...)
§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a
autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores
diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

Como regra geral, para os crimes da atribuição da polícia civil estadual, o prazo para a conclusão do inquérito
é de 10 dias, estando o indiciado preso, e de 30 dias, se o agente está solto. Este último prazo comporta
prorrogação, a requerimento do delegado e mediante autorização do juiz (art. 10, § 3º, CPP), não
especificando a lei qual o tempo de prorrogação nem quantas vezes poderá ocorrer.

- Preso: 10 dias → improrrogável


- Solto: 30 dias → prorrogável
ATENÇÃO
Com o advento da Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime), foi acrescentado o art. 3-B ao CPP, o qual se encontra no
tópico “Juiz das Garantias”, passando a dispor, dentre as várias competências do “Juiz das Garantias”, a
possibilidade de que este possa prorrogar o IP quando o investigado estiver preso – “Se o investigado estiver preso,
o juiz das garantias poderá, mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar,
uma ÚNICA VEZ, a duração do INQUÉRITO POR ATÉ 15 (QUINZE) DIAS, após o que, se ainda assim a investigação
não for concluída, a prisão será imediatamente relaxada” – art. 3-B, § 2º.
Tais artigos estão suspensos – no dia 22/01/20 o ministro Luiz Fux suspendeu a implementação dos artigos que tratam
do “Juiz das Garantias” (e de alguns outros dispositivos da referida Lei) por prazo indeterminado.

Prazos Especiais

➢ Justiça Federal

Os inquéritos a cargo da polícia federal, se o indiciado estiver preso, o prazo para conclusão do inquérito
é de 15 dias, prorrogável por igual período, pressupondo autorização judicial (art. 66 da Lei n° 5.010/1966).
A lei não tratou do prazo do investigado solto, de modo que diante do silêncio, aplicar-se-á o prazo do CPP
subsidiariamente, ou seja, 30 dias para a conclusão, prorrogáveis mediante solicitação do delegado e
autorização do juiz, cabendo a este estipular o prazo, haja vista o silêncio da lei sobre o quanto de
prorrogação. Nada impede, a toda evidência, que haja mais de uma prorrogação.

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Art. 66. O prazo para conclusão do inquérito policial será de quinze dias,
quando o indiciado estiver preso, podendo ser prorrogado por mais quinze
dias, a pedido, devidamente fundamentado, da autoridade policial e deferido
pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo.
Parágrafo único. Ao requerer a prorrogação do prazo para conclusão do
inquérito, a autoridade policial deverá apresentar o preso ao Juiz.

- Preso: 15 dias → prorrogável por + 15 dias = 30 dias

- Solto: 30 dias → prorrogável por + 30 dias

➢ Lei de Drogas – Lei nº 11.343/06

O inquérito policial será concluído no prazo de 30 dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 dias, quanto
solto. O parágrafo único dispõe que os prazos podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público,
mediante pedido justificado de polícia judiciária.

Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o


indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados
pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da
autoridade de polícia judiciária.

- Preso: 30 dias → podem ser duplicados


- Solto: 90 dias → podem ser duplicados

➢ Código de Processo Penal Militar

Caso o indiciado esteja preso, o encerramento do inquérito policial militar deve ocorrer em 20 dias. Já se
solto estiver, o prazo é de 40 dias, prorrogáveis por mais vinte dias pela autoridade militar superior, desde
que não estejam concluídos exames ou perícias já iniciados, ou haja necessidade de diligências
indispensáveis à elucidação do fato (art. 20, caput, § 1°, CPPM).

Art 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o indiciado estiver
preso,
contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou
no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, contados a partir
da data em que se instaurar o inquérito.
Prorrogação de prazo:
§ 1º Este último prazo (indiciado estiver solto) poderá ser prorrogado por mais
vinte dias pela autoridade militar superior, desde que não estejam concluídos
exames ou perícias já iniciados, ou haja necessidade de diligência,
indispensáveis à elucidação do fato. O pedido de prorrogação deve ser feito
em tempo oportuno, de modo a ser atendido antes do término do prazo.

- Preso: 20 dias

- Solto: 40 dias → prorrogável por + 20 dias

➢ Crimes contra a Economia Popular

O § 1º do art. 10 da Lei nº 1.521/1951 prevê o prazo de 10 dias para a conclusão do inquérito policial. Todavia,
não faz distinção entre indiciado preso ou solto, logo o prazo é único, NÃO contemplando prorrogação.
Art. 10. (...)
§ 1º. Os atos policiais (inquérito ou processo iniciado por portaria) deverão
terminar no prazo de 10 (dez) dias.

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- Prazo de 10 para preso ou solto.

➢ Prazo para conclusão do Inquérito Policial no caso de indiciado preso temporariamente

No que se refere aos prazos aplicados para conclusão do inquérito policial quando o indiciado estiver preso,
estes NÃO serão aplicados quando se tratar de PRISÃO TEMPORÁRIA, haja vista que, tratando-se de prisão
temporária, o prazo para conclusão do IP será o prazo de duração desta, ou seja, o prazo para conclusão
do IP quando o indiciado estiver preso temporariamente será de:

- Regra: 05 dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade (art. 2º, caput,
da Lei nº 7.960/89);

Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da


representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério
Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
caso de extrema e comprovada necessidade.

- Crimes hediondos ou equiparados: 30 dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade (art. 2º, § 4º, da Lei nº 8.072/90).

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
(...)
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de
dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30
(trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade.

Contagem dos Prazos (natureza jurídica)


Estado o indiciado solto, o prazo tem como termo inicial a Portaria de Instauração do IP. Trata-se aqui
de prazo processual, ou seja, exclui o dia de começo e inclui o último dia (art. 798, §1º, do CPP).

Estando o indiciado preso, temos duas correntes:

1ª corrente: o prazo terá como termo inicial a data da efetivação da prisão (data em que se executar a
ordem de prisão). Trata-se aqui de prazo material, ou seja, inclui-se o dia de começo e exclui o último dia
(art. 10 do CP).

2ª corrente: não se pode confundir o prazo da prisão, que tem natureza penal, com o prazo para a conclusão
do inquérito, que tem natureza processual.

Excesso do Prazo

Sendo abusivo e desproporcional, a prisão deverá ser objeto de relaxamento. Todavia, um excesso tolerável,
não acarretará demais problemas, até porque pode ser compensado no decorrer do processo.

ESQUEMATIZANDO

INDIVÍDUO PRESO INDIVÍDUO SOLTO


CPP - Regra Geral 10 dias* 30 dias
Improrrogável por enquanto Prorrogáveis
JUSTIÇA FEDERAL 15 dias 30 dias
Prorrogável por igual período Prorrogáveis
LEI DE DROGAS 30 dias 90 dias
Duplicável Duplicável
CPPM 20 dias 40 dias
Improrrogável Prorrogável por mais 20 dias
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CRIMES CONTRA A 10 dias 10 dias
ECONOMIA POPULAR Improrrogável Improrrogável
PRISÃO TEMPORÁRIA 5 dias, prorrogável por mais 5 ----------
dias.
Observação: crimes hediondos: 30
dias, prorrogável por mais 30 dias

* Se o art. 3º-B do CPP, incluído no Pacote Anticrime, o qual se encontra suspenso por tempo indeterminado pelo STF,
passa a valer, tal prazo poderá ser PRORROGADO UMA VEZ POR ATÉ 15 DIAS.

REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS

Também chamada de reconstituição do crime, é uma diligência prevista no art. 7º do CPP:

Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de


determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução
simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem
pública.

A reprodução simulada dos fatos é a famosa reconstituição do crime; tem a finalidade de verificar se a infração
foi praticada de determinado modo. Nesse caso, o suspeito não é obrigado a contribuir com a diligência,
uma vez que ninguém é obrigado a produzir provas contra si (nemo tenetur se detegere), porém, estará
obrigado a comparecer.

Cumpre ressaltar que NÃO será admitida reprodução simulada do fato que contrarie a moralidade ou a
ordem pública (por exemplo, crimes contra a dignidade sexual).

INDICIAMENTO

É a cientificação ao suspeito de que ele passa a ser o principal foco do inquérito, ou seja, o indiciamento é o
ato através do qual a autoridade policial (o delegado de polícia) demonstra estar convencido da materialidade
de um delito e de que um (ou vários) investigados são os autores.

Só cabe falar em indiciamento se houver um lastro mínimo de prova vinculando o suspeito à prática delitiva,
o que se faz após análise técnico-jurídica do fato, indicando-se autoria, materialidade e circunstâncias,
como dispõe a Lei nº 12.830/2013.

Art. 2º (...)

§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato


fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar
a autoria, materialidade e suas circunstâncias.

O indiciamento é ato privativo do Delegado de Polícia (art. 2º, § 6º, da Lei nº 12.830/13). Ou seja, não cabe
ao promotor nem ao juiz determinar que o delegado de polícia indicie um investigado.

NÃO é ato discricionário, pois se fundamenta nas provas colhidas durante as diligências. Se as provas
apontam um suspeito, ele DEVE ser indiciado; se não apontam, o delegado não pode indiciar ninguém.

Atenção: o indiciamento não vincula o Ministério Público. Assim, da mesma forma que o delegado só irá
indiciar entender que estão presentes os elementos necessários para isso, o promotor de justiça também só
irá oferecer a denúncia se estiver convencido da justa causa para tal, independentemente de a autoridade
policial ter indiciado ou não algum investigado.

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Momento do Indiciamento

É um ato exclusivo da fase investigatória. Se o processo criminal já teve início, sem que tenha tido o
indiciamento formalmente, não é mais possível o indiciamento, constituindo-se em constrangimento ilegal.

DESTINÁTARIOS DOS AUTOS DO INQUÉRITO POLICIAL

Os autos do inquérito, integrados com o relatório, serão remetidos ao Judiciário (art. 10, § 1°, CPP), para
que sejam acessados pelo titular da ação penal (leia-se Ministério Público).

Art. 10. (...)


§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará
autos ao juiz competente.

Nos moldes do previsto no CPP a tramitação dos autos é a seguinte, sai da polícia até o juiz, e do juiz ao
Ministério Público.

Não obstante, existem algumas legislações estaduais prevendo a tramitação direta de inquéritos policiais
entre a Polícia Judiciária e o Ministério Público.

Nessa linha, a Resolução nº 63/2009 do Conselho da Justiça Federal trata da possibilidade de tramitação
direta, ou seja, salvo hipóteses em que houver necessidade de intervenção judicial, os autos devem tramitar
diretamente entre a Polícia e o Ministério Público.

No Distrito Federal o procedimento de tramitação de inquéritos policiais no primeiro grau de jurisdição está
regulamentada pela Resolução nº 10, de 28 de agosto de 2017, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territórios.

Providências a serem adotadas pelo Ministério Público ao ter vista do Inquérito Policial

A atuação do Promotor dependerá da espécie da ação penal do crime ora investigado.

- Crimes de ação penal privada

Deverá requerer a permanência dos autos em cartório, para aguardar a manifestação do ofendido.

Art. 19, CPP. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do
inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa
do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente,
se o pedir, mediante traslado.

- Crimes de ação penal pública

A depender do caso concreto, o MP terá as seguintes possibilidades:

a) Oferecer denúncia contra a pessoa suspeita de ter cometido o crime, caso entenda que já há indícios
suficientes de autoria e prova da materialidade;

b) Caso o inquérito não tenha apurado os elementos que o MP repute imprescindíveis ao oferecimento da
denúncia, abre-se a oportunidade da requisição de novas diligências, que terão por finalidade
complementar o material que já foi colhido (art. 16, CPP).

Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito


à autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao
oferecimento da denúncia.

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c) Promoção de arquivamento do inquérito policial, caso conclua que não há crime ou que não existem
“provas” suficientes, mesmo já tendo sido feitas todas as diligências investigatórias possíveis;

d) Requerer ao juiz que decline a competência ou que suscite conflito de competência, caso avalie que
o atual juízo não é competente para apurar o delito investigado.

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

LEMBRANDO: A autoridade policial, ainda que convencida da inexistência do crime, não poderá mandar
arquivar os autos do inquérito já instaurado (art. 17 do CPP), devendo encaminhá-lo ao Ministério Público.

MUITO CUIDADO, considerando as alterações promovidas no art. 28 do CPP pelo Pacote Anticrime (Lei nº
13.964/19).

Do Procedimento – ANTES da Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime)

No caso de ação penal pública, quando o MP entender que o inquérito não obteve êxito algum, não havendo
lastro probatório mínimo de materialidade e autoria que consubstancie justa causa para o oferecimento da
denúncia, bem como nem existe, no momento, expectativa de que novas diligências vão mudar esse cenário,
o membro do MP irá requerer ao juiz o arquivamento do inquérito policial e, caso este concorde com o
pedido, ele irá homologá-lo, arquivando o IP.

Todavia, caso o juiz discorde do pedido formulado pelo membro do MP, ele deverá encaminhar ao
Procurador-Geral para que este decida sobre o arquivamento (art. 28, CPP).

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,


requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de
informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas,
fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e
este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para
oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o
juiz obrigado a atender.

O Procurador-Geral poderá adotar as seguintes medidas:

Caso concorde com o juiz e discorde do membro do MP:

» Oferece a denúncia

» Designa outro membro do MP para oferecer a denúncia (não poderá enviar para aquele que requereu o
arquivamento, em virtude da independência funcional). Esse novo membro designado será um longo manus
do Procurador-Geral.

Caso discorde do juiz e concorde com o membro do MP:

» Determina o arquivamento do IP e, nesse caso, o juiz estará obrigado a arquivar.

Atenção: quem arquiva o IP é o juiz, mas desde que provocado pelo MP.

Do Procedimento – COM O ADVENTO da Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime)

Alteração do art. 28 do CPP, com a seguinte NOVA redação:

Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer


elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público
comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os

2º Semestre de 2022 @luqueizsalles Página 16

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autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na
forma da lei. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o


arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do
recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância
competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei
orgânica. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União,


Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá
ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação
judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

O procedimento para o arquivamento do IP passa a ser da seguinte forma: o representante do Ministério


Público emite manifestação pelo arquivamento, comunica formalmente vítima e investigados, quando
existentes, avisando expressamente da possibilidade recursal em 30 dias.

Efetivadas as comunicações formais, ausente pedido voluntário de revisão da vítima (ou seu representante),
investigado ou autoridade investigadora, devidamente certificado o prazo, “sobem” os autos para
homologação do arquivamento pelo órgão competente da Instituição do Ministério Público que pode
confirmar ou divergir, total ou parcialmente, caso em que será designado novo membro do Ministério
Público para o exercício da ação penal, mantendo sua natureza de ato complexo.

Em caso de manutenção do arquivamento os autos SERÃO ARQUIVADOS NA ESTRUTURA


ADMINISTRATIVA DO PRÓPRIO MINISTÉRIO PÚBLICO, com comunicação ao Juiz das Garantias (CPP,
artigo 3º-B, IV) para respectiva baixa do controle.

Em suma, o arquivamento do IP, com a nova redação dada pela Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime), temos
o fim do controle judicial, passa a ser EXCLUSIVAMENTE no âmbito do MINISTÉRIO PÚBLICO, SEM
intervenção do JUIZ (NÃO há mais HOMOLOGAÇÃO JUDICAL do arquivamento do IP – a revisão e
homologação passam a ser competência do órgão de revisão dentro do próprio MP), em harmonia com o
sistema acusatório.

Importante ressaltar que a eficácia do artigo 28, caput, do Código de Processo Penal, na redação dada pela
Lei nº 13.964/19 (Alteração do procedimento de arquivamento do inquérito policial) ESTÁ SUSPENSA
POR TEMPO INDETERMINADO PELO STF (Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade
6.299/DF). Nos termos do artigo 11, §2º, da Lei n. 9868/99, a redação revogada do artigo 28 do Código de
Processo Penal permanece em vigor enquanto perdurar esta suspensão. Ou seja, continua válido o
procedimento previsto no art. 28, caput, do CPP, com a redação anterior ao advento do Pacote
Anticrime (tópico 2.10.1), enquanto perdurar a suspensão.

DESARQUIVAMENTO

Em princípio, o arquivamento do inquérito não gera efeito definitivo, podendo ser revista a situação a qualquer
tempo, inclusive porque novas provas podem surgir. Ocorre que a autoridade policial, segundo o preceituado
em lei, independentemente da instauração de outro inquérito, pode proceder a novas pesquisas, o que
significa sair em busca de provas que surjam e cheguem ao seu conhecimento.

Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade


judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá
proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.

A) Na vigência da redação original do art. 28 do CPP, quando a promoção de arquivamento apresentada


pelo órgão ministerial estava sujeita ao controle pelo Poder Judiciário, era possível falar, então, em coisa
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julgada formal e coisa julgada formal e material, a depender do fato de a decisão judicial em questão ter
apreciado (ou não) o mérito da conduta do agente.

Em outras palavras: uma vez que o inquérito era arquivado, bastava realizar o debate sobre quais as razões
faziam coisa julgada material e quais as razões faziam coisa julgada formal.

Era preciso, portanto, diferenciar:

1. Coisa julgada formal: Impede modificações dentro do processo em que foi proferida.

2. Coisa julgada material: Há projeção para fora do processo em que foi proferida, impedindo alteração
da decisão proferida até mesmo em outros processos.

Desta forma, em regra, o arquivamento do IP faz apenas coisa julgada Formal. Pode ser desarquivado e
rediscutir o assunto, desde que surjam novas provas (requisito obrigatório).

Em exceção, faz coisa julgada Material, de forma que não poderá ser desarquivado, nem que surjam
novas provas, e não poderá ser ofertada denúncia pelo mesmo fato, seja na mesma ou em outra relação
processual.

Segundo STJ e doutrina majoritária temos as seguintes hipóteses:

➢ Se o fundamento para o arquivamento do IP FOSSE A AUSÊNCIA DE PROVAS, a decisão judicial não


transitava materialmente em julgado, de modo que seria possível o desarquivamento do inquérito policial
para a apuração de novas provas, conforme art. 18 do CPP e Súmula 524 do STF.

Súmula nº 524 /STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a


requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem
novas provas.

➢ Se o arquivamento do inquérito policial estivesse pautado na atipicidade do fato, na extinção da


punibilidade ou ausência culpabilidade, a decisão faria coisa julgada material e formal, sendo vedado o
desarquivamento do inquérito policial.

➢ Já no que diz respeito ao arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude, havia divergência
jurisprudencial a respeito do tema, sendo que, em decisão de 2017, o STF (HC 87395/PR), divergindo do
atual posicionamento do STJ, entendeu que era possível a reabertura do inquérito policial arquivado com
fundamento em excludente de ilicitude.

ESQUEMATIZANDO

MOTIVO DO ARQUIVAMENTO Coisa Julgada É POSSÍVEL DESARQUIVAR?

1) Insuficiência de provas Formal SIM (Súmula 524/STF)


2) Ausência de pressuposto processual ou de Formal SIM
condição da ação penal
3) Falta de justa causa para a ação penal (não Formal SIM
há indícios de autoria ou prova da
materialidade)
4) Atipicidade (fato narrado não é crime) Formal e Material NÃO

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5) Existência manifesta de causa excludente de Formal e Material STJ: NÃO (REsp 791.471/RJ)
ilicitude STF: SIM (HC 87395/PR e HC 125.101/SP)
6) Existência manifesta de causa excludente de Formal e Material NÃO (Posição da doutrina)
culpabilidade (exceção: inimputabilidade)
6) Existência manifesta de causa extintiva da Formal e Material NÃO
punibilidade STJ: HC 307.562/RS
STF: Pet 3943
Exceção: certidão de óbito falsa

B) Com o advento do Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), o arquivamento passou a ser decisão
administrativa, ou seja, não é mais uma decisão judicial. Portanto, tecnicamente, não há mais como se
falar em coisa julgada (atributo das decisões judiciais). Diante disso, indaga-se: ainda existe coisa julgado no
arquivamento de inquérito?

1ª corrente – entende que como se trata de uma decisão administrativa, não está mais sujeito à apreciação
judicial, o arquivamento do inquérito policial ou qualquer outro elemento de informação de mesma natureza,
consequentemente, não está mais sujeita aos efeitos da coisa julga formal ou material.

2ª corrente – apesar do caráter administrativo da decisão de arquivamento, deve-se manter a atuação


sistemática.

Atenção: Cumpre destacar que o desarquivamento do inquérito não terá como consequência automática e
obrigatória o oferecimento da denúncia. São “coisas” distintas. Assim, primeiro ocorre o desarquivamento e
posteriormente, pode ou não o Ministério Público oferecer a denúncia.

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ACORDO DE NÃO PERSECUÇAO PENAL (ANPP) – ART. 28-A, CPP
O Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) foi acrescido ao Código de Processo Penal com o advento do
Pacote Anticrime.

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado


formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou
grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério
Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário
e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes
condições ajustadas cumulativa e alternativamente: (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Entende-se por acordo de não persecução penal (ANPP) negócio jurídico firmado pelo Ministério Público com
o investigado e por seu defensor, para que não haja o oferecimento da denúncia, desde que seja admitida a
prática da infração penal e que o investigado cumpra as condições fixadas no acordo, obrigatoriamente
homologado em audiência pelo juízo competente.

REQUISITOS POSITIVOS

Para a celebração do acordo de não persecução penal devem ser observados alguns requisitos, são eles:

a) Confissão formal e circunstancial da prática criminosa;

b) Infração penal cometida sem violência ou grave ameaça: a violência ou grave ameaça, citada no art. 28-A,
deve ser praticada na conduta. Portanto, em crimes culposos, ainda que resulte violência contra pessoa, será
cabível o acordo.

c) Infração penal com pena mínima inferior a 4 anos: as causas de aumento e diminuição devem ser levadas
em consideração.

REQUISITOS NEGATIVOS (VEDAÇÕES)

O acordo de não persecução penal não poderá ser celebrado quando:

a) Não deve ser caso de arquivamento (MP entende que é caso de denúncia)

b) Cabível transação penal;

c) O agente for reincidente;

d) O agente for criminoso habitual, reiterado ou profissional, salvo quando as infrações anteriores forem
insignificantes.

e) Agente beneficiado com acordo de não persecução penal, transação ou suspensão condicional nos últimos
5 anos;

f) Crime for praticado no âmbito de violência doméstica e familiar (qualquer vítima – homem ou mulher)

g) Crime praticado contra mulher por razões da condição de sexo feminino, independentemente se no
contexto ou não da violência doméstica ou familiar.

CONDIÇÕES

As condições trazidas pela lei podem ser cumulativas ou alternativas, o que facilita muito na hora de ajustar
o acordo.

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Havendo a rescisão do acordo, pelo descumprimento das condições, a confissão poderá ser utilizada em
eventual processo.

As condições são:

a) Reparação do dano ou restituição da coisa, exceto na impossibilidade de fazê-lo;

b) Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto
ou proveito do crime;

c) Prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma
do art. 46 do Código Penal;

d) Pagamento de prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade
pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como
função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito;

e) Cumprimento de outras condições indicadas pelo MP

CONTROLE JURISDICIONAL

O acordo deverá ser escrito, com a participação de todos os atores (MP, investigado e seu defensor) e haverá
uma audiência para homologação, a fim de constatar a voluntariedade por parte do investigado e a
legalidade do acordo. A presença do seu defensor é obrigatória.

Ao homologar o ANPP, o juiz poderá verificar se as condições são inadequadas, insuficientes ou abusivas e
devolverá os autos ao Ministério público para reformular a proposta.

Caberá ao Ministério Público a remessa do ANPP ao juízo da execução penal para início do cumprimento,
após a devida homologação.

Em razão da voluntariedade, o investigado poderá recusar o ANPP, caso não esteja de acordo com as
condições. Deve ficar atento que se trata de acordo, podendo ser negociadas as condições e o Ministério
Público aberto à negociação. Caso contrário, não há sentido no ANPP.

Caso seja recusado, o Ministério público seguirá com as investigações ou, caso esteja satisfeito com
as provas até então colhidas, oferecerá denúncia.

Sempre a vítima será intimada caso o acordo seja realizado ou até mesmo descumprido, para que fique ciente
da atuação estatal no caso.

RESCISÃO E CUMPRIMENTO

Durante a execução, caso haja descumprimento das condições, o Ministério Público comunicará ao juízo e
oferecerá denúncia, caso não haja mais diligências a serem realizadas e se for o caso de oferecimento.

O descumprimento poderá fazer com que o Ministério público não ofereça a suspensão condicional
do processo, caso seja possível, visto a prova de que o investigado não tem dado a devida importância aos
cumprimentos de condições para não ser processado.

Cumprido o ANPP, a PUNIBILIDADE SERÁ EXTINTA.

NÃO poderá constar em certidões de maus antecedentes o ANPP realizado, somente deverá ter registro para
fins de impedir novo ANPP.

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E caso o Ministério Público não ofereça o acordo, deverá o juiz das garantias encaminhar a instância de
revisão do Ministério Público, conforme preceitua o artigo 28, modificado pela lei anticrime. Isso se dá, visto
que o ANPP se torna um direito subjetivo do investigado. Caso preencha os requisitos, o ANPP tem que
ser oferecido, assim como ocorre com a transação penal e com a suspensão condicional do processo.

RECURSO

Caberá RESE contra decisão que recusar a homologação da proposta de acordo de não persecução penal.

Art. 581 Caberá recurso, no sentindo estrito, da decisão, despacho ou


sentença:
(...)
XXV - que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução
penal, previsto no art. 28-A desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

DIREITO INTERTEMPORAL

O art. 28-A tem conteúdo misto ou híbrido e sua retroatividade, em si, não é objeto de maiores discussões;
o grande debate, todavia, reside em saber em qual momento ou até qual fase do processo penal essa
retroatividade deve incidir.

Sobre o tema, 4 (quatro) correntes se formaram:

- Uma primeira vertente sustenta que o acordo somente pode ser celebrado até o recebimento da
denúncia, pois se o acordo é denominado de “de não persecução” ele somente poderia ser celebrado até o
início da persecução, cujo marco seria o recebimento da denúncia.

- Numa segunda posição, defende-se que o acordo de não persecução penal poderia ser celebrado até o
início da instrução penal.

- Uma terceira corrente argumenta que o acordo de não persecução penal (ANPP) deve ser celebrado até
a sentença.

- Uma quarta posição entende que o ANPP pode ser celebrado a qualquer momento antes do trânsito
em julgado.

No Superior Tribunal de Justiça esses entendimentos já renderam divergência entre a Quinta e a Sexta
Turmas, o que levou o Supremo Tribunal Federal a afetar o tema a julgamento pelo Plenário – ver HC
185.913/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes.

Em recente decisão (19/09/2021), o Ministro Gilmar Mendes votou pela retroatividade do benefício, assim
propondo a seguinte tese: “É cabível o acordo de não persecução penal em casos de processos em
andamento (ainda não transitados em julgado) quando da entrada em vigência da Lei 13.964/2019, mesmo
se ausente confissão do réu até aquele momento. Ao órgão acusatório cabe manifestar-se motivadamente
sobre a viabilidade de proposta, conforme os requisitos previstos na legislação, passível de controle, nos
termos do artigo 28-A, § 14, do CPP.”

Aguardemos a decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal no HC 185.913/DF.

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JUÍZO DAS GARANTIAS
A Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime) incluiu os artigos 3º-A e seguintes no CPP, prevendo a figura do “juiz
das garantias”.

De acordo com o artigo 3-B, caput, do CPP, inserido pela Lei nº 13.964/19, o juiz das garantias é responsável
pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia
tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário (...).

Note-se uma mudança no processo penal, estabelecendo-se a atuação de um juiz na fase de investigação e
de outro juiz na fase processual propriamente dita.

O juiz das garantias vai atuar exclusivamente na fase de investigação, decidindo, por exemplo, sobre
interceptação telefônica, prisão temporária/preventiva, audiência de custódia, legalidade do flagrante, etc.,
ficando esse juiz das garantias impossibilitado de participar na fase processual. O juiz das garantias fica,
portanto, responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal, competindo-lhe decidir sobre todas
as matérias elencadas no novo art. 3º-B do CPP.

O juiz das garantias NÃO ATUA nos crimes de menor potencial ofensivo. Além disso, nos demais crimes,
deverá atuar apenas na fase de investigação, o que compreende o período entre a notitia criminis (prisão em
flagrante ou portaria de instauração da investigação pelo delegado de polícia) até o recebimento da denúncia
ou da queixa-crime.

Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações


penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da
denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código.

ATENÇÃO

Arts. 3º-A ao 3º-F - No exercício da Presidência do Supremo Tribunal Federal, o ministro Luiz Fux, vice-presidente da
corte, decidiu suspender a criação do juiz das garantias por tempo indeterminado. A decisão revoga liminar concedida
pelo presidente da corte, ministro Dias Toffoli, que já havia suspendido a mudança, porém pelo prazo 180 dias.

A decisão de Fux é válida até que o Plenário analise a questão, o que não tem data para ocorrer. Fux é o relator das
quatro ações que questionam as mudanças introduzidas pela chamada lei "anticrime".

Na mesma liminar, Fux também suspendeu a obrigatoriedade de audiências de custódia em 24 horas. Segundo o ministro,
essa obrigação desconsidera dificuldades regionais e logísticas. ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6305

RECOMENDA-SE LEITURA DOS ARTS. 3º-A E SEGUINTES

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