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JURÍDICAS
CARREIRAS JURÍDICAS
DIREITO TRIBUTÁRIO
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!
1
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para
alcançar a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais
que um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora
para o estudo da disciplina.
Bons estudos
2
Recado para você que está assistindo às videoaulas
Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!
Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;
A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada
no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;
3
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA
A partir da análise das últimas provas de concurso de Carreiras Jurídicas, verificou-se que a disciplina
de Direito Tributário possui grande recorrência. Através destes dados, identificou-se quais os temas mais
cobrados na disciplina de Direito Tributário.
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TEMAS RECORRÊNCIA
O Estado e o Poder de Tributar. Sistema Tributário Nacional
Tributo
Processo Judicial Tributário
Legislação Tributária
Extinção do Crédito Tributário
Obrigação Tributária
Administração Tributária
Responsabilidade Tributária
Suspensão do Crédito Tributário
Exclusão do Crédito Tributário
Crédito Tributário
Ilícito Tributário e Sanção
Garantias e Privilégios do Crédito Tributário
ICMS: Lei Complementar nº 87/96
Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das
Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (SIMPLES
NACIONAL)
Aspectos Tributários da Lei de Responsabilidade Fiscal
Competência Tributária
Lei Complementar nº 116/2003
Disposições Finais e Transitórias do CTN
Processo Administrativo Fiscal
Aspectos tributários da Lei n° 4.320/1964
Tributação Internacional
Aspectos tributários da Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO
Aspectos tributários da Lei de Orçamento Anual - LOA
ICMS: Lei Complementar nº 24/75
5
Assim, os assuntos de Direito Tributário estão distribuídos da seguinte forma:
CAPÍTULOS
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SOBRE ESTE CAPÍTULO
Neste capítulo inaugural trataremos dos tributos, seus conceitos e espécies. Também
estudaremos acerca das taxas, da distinção entre preços públicos, tarifas e taxas, tema muito
bem quisto pelas bancas examinadoras. Além disso, exploraremos disposições que tratam da
contribuição de melhoria, dos empréstimos compulsórios e contribuições especiais, tudo isso
com base em um profundo compilado doutrinário e jurisprudencial, sem olvidar, claro, de toda
base legal pertinente.
No Direito Tributário você deve privilegiar o estudo da Lei Seca, sendo certo que o
Examinador tem predileção por disposições objetivas da letra da lei. Todavia, não deve-se olvidar
da doutrina, especialmente quanto às questões conceituais, e da jurisprudência relativa aos
diversos temas que abrangem o plexo de relações jurídicas entre Estado e contribuinte.
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SUMÁRIO
DIREITO TRIBUTÁRIO ............................................................................................................................ 11
Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 11
1. Tributo............................................................................................................................................... 11
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2.1.2 Regra matriz de incidência ............................................................................................................................ 59
3.3 Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (COSIP) .................................... 120
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QUADRO SINÓTICO ............................................................................... Error! Bookmark not defined.
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................ 145
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DIREITO TRIBUTÁRIO
Capítulo 1
Neste capítulo você verá os aspectos mais relevantes e recorrentes em concursos públicos
acerca dos tributos, seus conceitos e espécies. Também estudará acerca das taxas, da distinção
entre preços públicos, tarifas e taxas, tema muito bem quisto pelas bancas examinadoras.
1. Tributo
Antes de partirmos para o conteúdo em si, é preciso dedicar atenção a alguns conceitos
básicos fundamentais ao Direito Tributário.
Vamos juntos!
23), “a tributação não é um fim em si mesmo, mas um meio que possibilita ao Estado o
cumprimento de suas funções”.
Sobre a mesma linha de pensamento de Borba (2017), Leandro Paulsen (2014) ressalta o
11
Ante a forma de organização da sociedade, é possível dizer que o poder de tributar é o
poder do povo que, expresso pela figura do Estado, persegue a captação de recursos essenciais
quando se anunciou, de forma minuciosa, ainda nos primeiros dispositivos do texto, os direitos
fundamentais e sociais. Dada a importância do SER na construção da Lei Maior, o sistema
garantias e direitos fundamentais, exigem, de cada indivíduo, um sacrifício, esse revelado através
da entrega de parte do patrimônio privado em benefício da coletividade.
tributos, são a fonte principal de recursos do Estado e, por sua dimensão, tratam-se da via mais
importante para o custeio dos fins constitucionais (PAULSEN, 2014). Aliás, a importância do
tributo para a organização da sociedade, conforme revela a história, já foi diversas vezes
despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre
os cidadãos de acordo com suas possibilidades”. Não em sentido diverso, a Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), no artigo 36, trouxe o seguinte texto:
“toda pessoa tem o dever de pagar os impostos estabelecidos pela lei para a manutenção dos
serviços públicos”.
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Ante o tema ora abordado, para facilitar a compreensão desta parte introdutória, é importante
O Estado, em virtude de seu poder de autoridade, pode retirar de seus súditos parcelas
de suas riquezas para a consecução de seus fins, visando ao bem-estar geral. É o jus
imperii do Estado que lhe faculta impor sobre as relações econômicas praticadas pelos
particulares, assim como sobre seus bens, o tributo que, na atualidade, se constitui em
principal fonte da receita pública. Esse poder de imposição tributária do Estado acha-se
normatizado em nível constitucional, mediante a outorga de competência tributária que,
ao lado de inúmeros outros princípios tributários, constitui as chamadas limitações
constitucionais ao poder de tributar, as quais funcionam como escudos de proteção dos
contribuintes.
Tributo é a prestação pecuniária cobrada ante a expressão do poder de tributar. Veja o que
dispõe o texto do Código Tributário Nacional (art. 3º, CTN) que se refere ao tributo como: “toda
prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada”.
Ante a definição consagrada pelo CTN, é importante que você preste atenção às particulares
características do instituto que, de forma estruturada, serão expostas a seguir:
A princípio, você deve entender que prestações pecuniárias são expressas em moeda e,
talvez, quanto à essa característica, não se ventila qualquer dúvida. No entanto, a primeira
expressão do art. 3º do CTN levanta a discussão acerca das formas de extinção do crédito
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De acordo com o art. 156 do CTN, extinguem o crédito tributário: (I) o pagamento; (II) a
compensação; (III) a transação; (IV) a remissão; (V) a prescrição e a decadência; (VI) a conversão
(X) a decisão judicial passada em julgado e, finalmente, a (XI) a dação em pagamento em bens
imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei, que foi incluída pela Lei Complementar nº
104/2001.
A permissão contemplada pela reforma promovida em 2001 põe fim à polêmica que envolvia
a possibilidade do pagamento em dinheiro como a única forma de adimplir a obrigação
tributária. Com o novo texto, que permite a dação em pagamento em bens imóveis, reforça-se
a ideia de que além do pagamento em moeda, o adimplemento poderá ocorrer por outra via,
afinal, trata-se o tributo de prestação pecuniária em moeda, “ou cujo valor nela se possa
exprimir”, afastando-se de uma vez, portanto, entendimento diverso, aquele que restringe as
formas de adimplemento por estrita interpretação do conceito de tributo.
Cuidado para não confundir bens imóveis com bens móveis! Os últimos são proibidos por
não constarem expressamente no CTN. Assim, um contribuinte poderia pagar com uma casa,
mas não com eletrônicos, por exemplo. Os Examinadores tentam confundir isso com frequência
No âmbito federal, o art. 4º da Lei nº 13.259/2016, com redação dada pela pela Lei nº
13.313, de 2016, regula a dação em pagamento prevista no art. 156 do CTN.
No que diz respeito à regulação do tema, aliás, observe que o STF, no julgamento da ADI
o Princípio da Licitação.
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Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=481954
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Por outro lado, quanto à produção de lei local que visa a regulação do previsto no art. 156,
inciso XI, do CTN, o Supremo Tribunal decidiu que é constitucional, tendo em vista que, “se o
estado pode mais, até mesmo anistiar, e, portanto, abrir mão de seu crédito, ele pode menos,
admitir uma forma de pagamento, que, no caso, sequer compele a Fazenda a recebê-lo, porque
exige aceitação por parte do orçamento” (voto do Min. Moreira Alves, na ADI nº 2.405-1 Rio
Grande do Sul – medida liminar2).
Por fim, atente que a doutrina majoritária entende que a expressão “ou cujo valor nela possa
se exprimir” permite a fixação do valor dos tributos por meio de indexadores, pois o indexador
é algo cujo valor pode ser expresso em moeda.
do elemento volitivo., atente a isto! Colocaremos para você em outras palavras: diz-se que a
vontade não é instituto necessário para o nascimento da prestação tributária, existindo a
obrigação sob qualquer circunstância, desde que prevista no texto da lei. Como assevera Hugo
de Brito Machado Segundo (2017), “não se trata de obrigação contratual, decorrente da vontade,
(ex voluntate), mas de obrigação que decorre diretamente da lei, ou da incidência da lei sobre
o fato, considerado em sua pura facticidade”.
nasce para o contribuinte o dever de pagar o tributo. Compreende? Neste ponto, aliás, vale
trazer a observação do supracitado autor: “isso faz com que a capacidade tributária passiva
(capacidade para ser contribuinte ou responsável pelo tributo) independa da capacidade civil
(CTN, art. 126). Daí serem devidos tributos mesmo por pessoas físicas incapazes, ou por
pessoas jurídicas constituídas de forma irregular, por exemplo” (SEGUNDO, 2017).
Agora é importante que você saiba que ressalva trazida no texto do art. 3º do CTN diz
respeito à vedação da inclusão do ato ilícito como hipótese de incidência de tributo. De outra
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Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=347580
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forma, permite-se dizer que não é possível conferir ao tributo a natureza sancionatória, punitiva.
Ora, o tributo é a expressão do Poder de Tributar do Estado e não a expressão do ius puniedi.
exemplo, através da multa), mas não pode o tributo ser cobrado em face do desrespeito à lei.
De outro modo, conforme leciona Eduardo Moreira Lima Rodrigues de Castro (CASTRO;
LUSTOZA; GOUVÊA, 2019, p. 36), é possível dizer que a hipótese de incidência deve estar
associada uma conduta lícita (aspecto material da regra matriz de incidência) que, ao ser
praticada pelo sujeito, conceberá a obrigação de pagar o tributo. Contudo, no plano dos fatos,
como assevera o mencionado autor, “a situação prevista em lei pode decorrer de uma atividade
Em face da definição do art. 3º do CTN tratada neste tópico, é fundamental que você preste
especial atenção à observação feita por Hugo de Brito Machado Segundo (2017) ao abordar a
(...) a circunstância de o tributo não poder consistir em sanção de ato ilícito impede a
norma tributária de considerar a ilicitude como essencial para que o tributo seja devido.
Mas não impede, de modo algum, que o tributo, cuja hipótese de incidência é um fato
lícito (v. g., obtenção de renda), seja devido mesmo quando esse fato ocorre envolto por
circunstâncias ilícitas (v. g. rendimentos oriundos de atividade criminosa).
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Turma, julgado em 23/08/2011, DJe-196 DIVULG 11-10-2011 PUBLIC 13-10-2011 EMENT
VOL-02606-01 PP-00026 RT v. 101, n. 917, 2012, p. 584-597)
Ensina Rafael Novais que O dever de pagar tributos decorre da necessidade de manutenção
Neste ponto, é fundamental que você absorva algumas importantes distinções entre tributo
e multa., sabendo que este tema é bem quisto em certames públicos. Apesar de ambas serem
receitas derivadas (decorrentes do poder de império do Estado, que utiliza suas prerrogativas
de Direito Público para impor ao particular que se submeta ao pegamento, independentemente
de sua vontade), a multa é, por definição, o que o tributo, por definição, não pode ser: sanção
por ato ilícito.
Como já vimos, a multa fiscal é aplicada por resposta ao descumprimento da lei fiscal e, por
derivadas, como o tributo, esse que, de fato, é a principal fonte de arrecadação do Estado.
O preço público é receita que complementa o orçamento e não o principal como o tributo.
Sobre dessa diferenciação entre tributo e preço público, já se posicionou o Supremo Tribunal
Federal, pois foi levada à Corte a discussão quanto à natureza do pedágio. Nos autos da ADI
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8003, o Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator MIN. TEORI ZAVASCKI,
julgou improcedente a ação direta. No seu voto, o ministro Relator pontuou:
[...] Já os que sustentam tratar-se de preço público, com natureza contratual, o fazem com
base nas seguintes considerações: (a) a inclusão no texto constitucional apenas esclarece
que, apesar de não incidir tributo sobre o tráfego de pessoas ou bens, pode,
excepcionalmente, ser cobrado o pedágio, espécie jurídica diferenciada; (b) não existir
compulsoriedade na utilização de rodovias; e (c) a cobrança se dá em virtude da utilização
efetiva do serviço, não sendo devida com base no seu oferecimento potencial (Ricardo
Lobo Torres. Tratado de direito constitucional tributário. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2005, p. 486. Igualmente: Sacha Calmon Navarro Coêlho. Comentários à Constituição de
1988: sistema tributário. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 308-309).
A discussão doutrinária a respeito do tema foi, de alguma forma, contaminada pela figura
do denominado “selo-pedágio”, prevista na Lei 7.712/88, que a 2ª Turma do Supremo
Tribunal Federal, com toda a razão, considerou tratar-se de taxa (RE 181475/RS, 2ª Turma,
rel. Min. Carlos Velloso, j. 04/05/1999, DJ de 25/06/1999).
[...]
[...]
3
ADI 800, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 11/06/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG
27-06-2014 PUBLIC 01-07-2014. Link: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6274991
18
[...]
[...]
[...]
A origem do tributo é apenas uma: a lei. Tenha isso sempre em mente! Trata-se da única
via que legitima o Poder de Tributar e a Competência Tributária. É a lei a fonte principal do
Direito Tributário, sendo ela o nascedouro dos direitos, deveres e todas as garantias dos sujeitos
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Entenda que não há exceção à legalidade quanto à instituição de tributos, mas existem várias
exceções ao princípio da legalidade quanto à alteração das alíquotas.
princípio democrático, uma vez que o produto da atividade legiferante não significa outra coisa
senão a expressão da voz do povo que se manifesta por meio de seus representantes. Neste
ponto, destaca o autor: “tal ideia, no direito norte-americano, é manifestada no brocardo “no
taxation without representation” (não haverá cobrança de tributos sem representação)”.
A cobrança, por se tratar de ato administrativo vinculado a ser praticado pela autoridade,
não está associado a elementos subjetivos, como conveniência e oportunidade. Tal característica
reflete para o Estado como uma atividade obrigatória e, mais do que isso, que deve atender, a
todos os requisitos previstos em lei.
É admissível dizer, portanto, que a atividade de cobrança não possui qualquer traço da
Veja que, deste modo, a constituição do crédito deverá se basear em elementos exatos,
fatos concretos e na verdade comprovada. Sobre esse tema, destaca Leandro Paulsen (2014):
A plena vinculação a que se refere o art. 3º tem, ainda, outra implicação. Ocorrido o fato
gerador da obrigação tributária, a autoridade administrativa tem o dever de apurá-lo, de
constituir o crédito tributário, através do lançamento, e de exigir o cumprimento da
obrigação pelo contribuinte. (...) Além disso, a plena vinculação significa que a autoridade
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está adstrita ao fiel cumprimento da legislação tributária, incluindo todos os atos
regulamentares, como instruções normativas e portarias.
Ao ingressar neste tópico, é importante que você dedique atenção especial ao fato de que a essência
dos tributos não é definida pelo apelido (ou nome) conferido pelo legislador nem tão pouco pela
destinação do seu produto definida pela lei. Decerto, os rótulos não marcam a natureza do tributo, tanto
assim o é que o próprio legislador, no art. 4º do CTN, revelou.
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De acordo com o art. 4º do CTN, a natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato
gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: (I) a denominação e demais
características formais adotadas pela lei; (II) a destinação legal do produto da sua arrecadação4.
Na época do CTN, a Teoria Tripartite era dominante e considerava, como espécies de tributos tão
somente os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria (art. 5º, CTN). Em face do limitado rol
definido pela teoria, a distinção entre as três espécies era facilmente identificada pelo fato gerador,
motivo pelo qual o teor do art. 4º do CTN deu destaque a tal elemento.
Dissertando sobre o assunto, Hugo de Brito Machado Segundo (2017) explica que, por exemplo,
“caso a lei institua tributo, e o batize de taxa, será preciso verificar-lhe o fato gerador, e a base de cálculo,
a fim de que se determine se realmente é de uma taxa que se trata” e, diante desse caso hipotético,
ainda afirma o autor: “se não for, será preciso verificar se foram atendidos os requisitos para a instituição
da espécie tributária diversa, que sob o rótulo de taxa fora instituída”. Neste ponto, Segundo (2017)
anuncia o quão é essencial a análise minuciosa, de cada elemento e do contexto envolvido no exercício
do Poder de Tributar praticado pelo Estado para que se possa, de fato, determinar a natureza jurídica
do tributo.
Acerca da destinação do produto arrecadado, Segundo (2017) destaca que o teor do inciso II do art.
4º do CTN somente se restringe aos impostos, às taxas e às contribuições de melhoria. Tal fato se explica
pelo texto da constituição, já que o constituinte optou por tornar um diferencial das contribuições e dos
4
Vide questão 5
22
Não será o simples fato de ter seus recursos destinados a uma atividade social,
ou interventiva, por exemplo, que fará do tributo uma “contribuição”, sendo
necessário que seja exigido de um grupo específico, que pelo menos
indiretamente esteja relacionado com a atividade custeada pela contribuição etc.
Colocando-se à frente do teor do inciso II do art. 4º do CTN, ainda que se caminhe na linha tênue
entre o Direito Tributário e o Direito Financeiro, importa trazer algumas notas importantes para o estudo
da matéria tributária: as breves considerações sobre o ingresso público.
Ingresso público é aquilo que é planejado para agregar o patrimônio público, os cofres públicos.
Conforme indica a doutrina, o ingresso público se divide em duas famílias: ingresso público permanente
Perceba que, no que diz respeito ao tributo, em regra, ele se classifica como ingresso público
No que diz respeito à regularidade ou relativa periodicidade, Kiyoshi Harada (2017) relata em sua
obra que, para alguns autores, as receitas públicas podem ser classificadas em extraordinárias e
ordinárias.
decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência, nos termos do art. 148, II, da
CF.
Neste ponto, destaca Harada (2017): “esses impostos não servem como fontes perenes de receitas,
pois, por terem caráter de contingente, devem ser, gradativamente, suprimidos assim que cessadas as
causas de sua criação”.
De outro lado, coloca-se as receitas ordinárias, assim conhecidas aquelas “que ingressam com
regularidade, por meio do normal desenvolvimento da atividade financeira do Estado” (HARADA, 2017).
Diferentemente das primeiras, as receitas ordinárias tem como característica principal a regularidade e a
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permanência, e constituem as receitas destinadas ao provimento da atividade comum (rotineira) do
Estado, essas associadas às despesas públicas.
Quanto à origem, Kiyoshi Harada (2017) pontua que a receita pode ser classificada em originária,
quando é concebida diante da exploração da atividade econômica pelo Estado e derivada, quando se
trata do produto da compulsoriedade, da arrecadação de, por exemplo, tributos, penas pecuniárias,
confisco e reparações de guerra.
Ante a classificação acima, destacamos e pedimos que você atente que a primeira receita definida (a
originária) surge em relações de acordo, ou quando o Estado se põe diante de relação contraprestacional,
por contrato. Como bem define Harada (2017), as receitas originárias advêm da atividade estatal regida
Na outra face, receita derivada é aquela que nasce na expressão do poder de império, da supremacia
do interesse público sobre o privado, seja quando expressa o poder de punir, seja quando expressa o
poder de tributar. Trata-se esse tipo também como um ingresso definitivo, sendo, portanto, considerado
como receita. Neste grupo, estão as multas e os tributos (neste grupo, apenas quatro das cinco espécies
de tributos).
Aliás, neste ponto, merece especial atenção da sua parte é o teor do art. 9º da Lei nº 4320/64 que
Kiyoshi Harada (2017) ressalva que dentre as receitas derivadas estão as multas e penalidade
pecuniárias, sejam aquelas aplicadas por autoridades administrativas (pela lei nº 4.320/64, considera-se
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cobrança, mantendo-se, contudo, uma relação de acessoriedade com o crédito tributário devido (art.
113, CTN).
Temporários Empréstimos
compulsórios - por via empréstimo
empréstimos compulsório -
compulsórios natureza de tributo
Segundo Leandro Paulsen (2014), os tributos constituem a principal receita do Estado e são
reconhecidos como receita
(b) compulsória, uma vez que tem sua arrecadação fundamentada na lei e não depende da expressão
da vontade do sujeito passivo (contribuinte) para a legitimação do direito ao crédito de titularidade do
Estado.
Você já sabe que, por sua natureza, o tributo é instrumento de arrecadação, sendo essa a sua face
que mais se destaca: a geração de recursos para o Estado (eis a conhecida função fiscal). Os tributos
que se limitam a essa função são conhecidos como tributos fiscais, porque constituem meras fontes de
captação de receita.
Por outro lado, como ressalta Leandro Paulsen (2014), em alguns casos os tributos extrapolam o
papel de arrecadar, alcançando outros aspectos externos que, então pretendidos pelo legislador,
poderão constituir verdadeiras fontes de regulação e até mudança comportamental, gerando, direta ou
indiretamente, impacto no campo social e/ou econômico, celebrando, assim, uma função extra, além
daquela tradicional (a arrecadatória): a função extrafiscal.
25
Em face desse caráter diferenciado, é possível atribuir à cobrança impacto sobre o comportamento
dos contribuintes que, por consequência, provocam repercussões no âmbito da economia, no mercado
financeiro e outras áreas.
A título de exemplo de tributos com essa característica, podemos apontar o Imposto sobre
Importação (II) e o Imposto sobre Exportação (IE), esses que, por previsão constitucional, podem ter suas
alíquotas modificadas por ato do Poder executivo (decreto), assim como o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) (art. 153, CF).
Leandro Paulsen (2014), em sua obra, elenca algumas situações nas quais é marcante a função
extrafiscal dos tributos apresentada no texto da Constituição Federal. A seguir, segue a indicação do
26
Na determinação de tratamento diferenciado e favorecido às
art. 146, III, d, CF/88
microempresas e às empresas de pequeno porte
Por fim, porém não menos importante, destacamos a terceira função: a função parafiscal. Os tributos
com esta função têm como fim o custeio do Estado paralelo, composto por entes que prestam atividade
destinada à população, atendendo aos interesses coletivos. Nos dizeres de Harada (2017):
A doutrina aponta uma série de teorias que explicam a existência das espécies de tributos.
Na literatura, você encontrará as teorias bipartida, tripartida, tetrapartida e, finalmente, a
pentapartida. O nome atribuído a cada teoria, como se verá nos tópicos a seguir, revela o
número de tributos reconhecidos por cada autor, considerando os critérios próprios, dotados
27
Dualista ou Bipartida os tributos dividem-se em: impostos e taxas
os tributos dividem-se em: impostos, taxas e
Tripartida ou Tricotômica
contribuição de melhoria. Adotada pelo CTN.
impostos, taxas, contribuições e
Quadripartida ou Tetrapartida
empréstimos compulsórios
impostos, taxas, contribuições de melhoria,
Pentapartida ou Quinquipartida contribuições especiais e empréstimos
compulsórios. Adotada pela CRFB e pelo STF.
Segundo Alfredo Augusto Becker (FALCÃO; GUERRA; ALMEIDA, 2015), existem apenas duas
espécies tributárias: as taxas e os impostos. Assumindo o fato gerador5 como elemento
determinante para a classificação dos tributos, o mencionado autor defende que, se por um
lado as taxas são aquelas que tem o serviço ou coisa estatal como base de cálculo, por outro
os impostos estão associados a um qualquer fato (lícito), desde que dissociado daquele
reservado às taxas. Se coadunando a essa teoria, o autor Geraldo Ataliba refere que as duas
espécies, então reconhecidas pela teoria dualista ou bipartida, dividem-se entre as vinculadas,
(quando associadas a uma prestação estatal) e as não vinculadas, sendo, portanto, as taxas as
espécies inseridas no primeiro grupo e os impostos aqueles tributos reservados ao segundo
5
Para alguns autores, o teor do art. 4º do CTN lastreia essa corrente de pensamento (texto do caput do artigo: “a natureza
jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la (...)”
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Teoria
Bipartida ou
Dualista
Impostos Taxas
Diante do teor dos arts. 145, 148, 148 e 149-A, a constituição de 1988 prevê cinco espécies
de tributos. Apesar de constante no texto constitucional, é imporante que você atente que
entende-se que a divisão atual das espécies de tributos se trata de uma inovação, pois, ao longo
da história, promoveu-se uma mudança significativa no arranjo do sistema tributário.
Agora que você sabe disso, compreenda que a teoria dualista, tema deste tópico, abre a
discussão acerca da destinação da receita dos impostos, os fins atribuídos aos valores auferidos
na atividade arrecadatória do estado. Diante da observação de despesas que não são atribuídas
às políticas públicas, essas cujo destinatário não se trata de toda a sociedade, mas de parte
dela, nasce a taxa, espécie de tributo cuja função é o custeio de atividades públicas que
favorecem grupos específicos da população, sujeitos destinatários de serviços que somente lhes
beneficiam.
Seja a taxa de serviço seja a taxa de polícia, sempre há o fim da retribuição ao erário pela
oferta desses que atingem apenas a alguns. Ante a natureza dessa espécie, as taxas surgem
como uma resposta ao questionamento acerca da destinação de verbas públicas e constituem
No que tange ao poder de polícia, é certo que a taxa só pode ser cobrada pelo efetivo
exercício desse poder. O entendimento clássico é no sentido da ilegitimidade da cobrança
periódica da taxa a título de mera renovação, sem que haja novo procedimento de fiscalização.
6
Vide questão 7
29
Todavia, em decisões recentes, o STF tem presumido o exercício do poder de polícia quando
existente o órgão fiscalizador, mesmo que este não comprove haver realizado fiscalizações
Segundo o STJ, “convém classificar como Taxas do Poder de Polícia aquelas que têm origem,
ensejo e justificativa no vigiar e punir, ou seja, na fiscalização, que é interesse eminentemente
estatal, reservando a categoria das taxas de serviço para aquelas que se desenvolvem em função
do interesse do usuário, ante a compreensão de que esse interesse é relevante para definir a
O fato que tipifica, que autoriza a cobrança de taxa é a própria atividade pelo poder público
diferentemente da taxa, que constitui retribuição por algo que foi ofertado pelo Estado. Aqui,
toma-se destaque pelas diferenças: a taxa é retributiva, o imposto é contributivo. Sobre o
O produto da taxa visa a custear a atividade estatal, não podendo ter destinação
desvinculada da mesma. Sendo as taxas cobradas em razão de um serviço ou do exercício
do poder de polícia, está clara a intenção do Constituinte no sentido de que tal implique
o custeio de tais atividades estatais. As taxas, diferentemente dos impostos, são tributos
com finalidade específica a determinar o destino do seu produto. Não se lhes aplica o art.
167, IV, da CF; pelo contrário, a destinação ao custeio da atividade que lhe enseja a
cobrança é essencial, podendo estar explicitamente determinada na lei instituidora. Ainda
que não haja a vinculação expressa do produto da arrecadação, será ela presumida. O
que não se pode admitir, pois revelaria a extrapolação da norma constitucional de
competência, é a determinação legal de aplicação em outra atividade ou em benefício de
terceiros. Nas taxas, portanto, há dupla vinculação: o fato gerador é vinculado à atividade
estatal e, também, necessariamente, o produto da arrecadação terá de ser vinculado à
atividade que justifica a instituição do tributo. O STF, aliás, já decidiu que “a vinculação
das taxas judiciárias e dos emolumentos a entidades privadas ou mesmo a serviços
7
STJ, Primeira Seção, REsp 1.405.244/SP, rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, ago. 2018.
30
públicos diversos daqueles a que tais recursos se destinam subverte a finalidade
institucional do tributo”.
Por fim, é preciso destacar que as taxas, em razão do seu fato gerador e do seu cunho
sinalagmático, não se prestam ao cumprimento de funções extrafiscais. [grifo nosso].
atividade específica, seja serviço ou exercício do poder de polícia e, por isso, não pode fixar a
base de cálculo usando como critério os sinais presuntivos de riqueza do contribuinte. O valor
das taxas deve estar relacionado com o custo do serviço que as motiva, ou com a atividade de
polícia desenvolvida8.
Segundo o teor do art. 77 do CTN, “as taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito
Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador
o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço
gerador idênticos aos que correspondam a imposto nem ser calculada em função do capital
das empresas”.
8
STF. 1ª Turma. RE 554951/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/10/2013 (Info 724).
31
do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais
ou coletivos”.
Ainda no mesmo artigo, o legislador tomou o cuidado de definir o regular o exercício do
poder de polícia como a hipótese na qual é “desempenhado pelo órgão competente nos limites
da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha
como discricionária, sem abuso ou desvio de poder”.
A outra espécie elencada neste tópico, qual seja, o imposto, tem a capacidade econômica
como o lastro condutor da sua regulação e, por isso, sempre que possível, os impostos terão
caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte,
Como decorrência de o imposto ter por fato gerador uma riqueza do contribuinte, o
montante devido terá de ser dimensionado, necessariamente, com referência a tais
32
riquezas. Assim é que, tributada a propriedade, a base de cálculo é o seu valor venal;
tributada a circulação de mercadorias, o valor da operação.
Ainda, importa expor que, havendo viabilidade, a pessoalidade é obrigatória, tendo em vista
a efetivação do princípio da isonomia.
Decerto, como você sabe, ante a relação entre o Estado e o contribuinte, valores
constitucionais deverão ser estritamente observados, sem que seja olvidado um dos bens mais
preciosos registrado na Constituição Cidadã: a dignidade da pessoa humana. No exercício da
exação dos impostos, as riquezas reveladas pelo sujeito (contribuinte) constituirão o critério
essencial para a definição da possibilidade, da capacidade de contribuir (teoria do sacrifício).
Victor Saldanha Priebe (2016), considerando os ensinamentos de José Maurício Conti, revela:
[...] pela teoria do sacrifício, pode se dizer que “o objetivo final da tributação é a
igualdade de sacrifício entre os contribuintes” (CONTI, 1997, p. 81), sendo através disto
que se deu início a um “(...)desenvolvimento e aperfeiçoamento dos estudos sobre a
tributação segundo a capacidade contributiva. A fim de que os indivíduos fossem
tributados segundo sua capacidade contributiva, havia a necessidade de se determinar
como se poderia exercer o poder de tributar de modo a fazer com que se respeitasse a
capacidade econômica dos contribuintes” (CONTI, 1997, p. 81). [ grifo nosso]
33
Os impostos são, por definição legal do art. 16 do CTN, tributo cuja obrigação tem por fato
gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte.
(...) são as normas de competência dos artigos 153, 155 e 156, que indicam bases
econômicas relacionadas exclusivamente aos contribuintes, como a aquisição de renda,
a circulação de mercadorias, a propriedade predial e territorial urbana. Os fatos geradores
de impostos, portanto, serão situações relacionadas ao contribuinte, e não ao Estado (...)
Dito isso, vê-se que os impostos se tratam de tributos não vinculados que incidem sobre as
manifestações de riqueza e se justificam na solidariedade social - com caráter contributivo. A
arrecadação não vinculada, aliás, diz respeito à ausência da vinculação (associação) do produto
da arrecadação a alguma atividade estatal específica. Neste ponto, apresenta-se a visão de
Paulsen (2014):
De outro lado, os impostos são tributos cujo produto não pode ser previamente afetado
a determinado órgão, fundo ou despesa, nos termos do art. 167, IV, da CF, salvo as
exceções expressas na própria Constituição, como a necessária aplicação de percentuais
em atividades voltadas aos serviços de saúde e à educação e a possibilidade de afetação
à administração tributária. RICARDO LOBO TORRES refere tal proibição como “princípio da
não afetação”. A destinação dos impostos será feita não por critérios estabelecidos pela
lei instituidora do tributo, mas conforme determinar a lei orçamentária anual. [grifo nosso]
Quanto aos predicados dos impostos, considerando o que já foi até aqui explicitado, é
possível elencar três características: (1) intimamente ligados ao princípio da capacidade
fins genéricos do Estado; (2) para que o ente federativo possa cobrar, não há uma
contraprestação destinada ao contribuinte sujeito passivo, assim, basta a ocorrência do fato
34
o ônus da tributação – não contraprestação”. Como assevera a mencionada autora, o
recolhimento daquele imposto deve ocorrer ainda que o contribuinte não se utilize de serviços
públicos, seja na área da saúde, educação ou transporte; (3) a receita auferida na exação do
imposto não possui vinculação. Conforme predetermina a Constituição Federal, não há uma
distributiva das receitas. Contudo, ressalta-se que é, na verdade, uma liberdade condicionada,
relativa, porque há limites estipulados no orçamento.
A Constituição Federal não cria tributos, apenas atribui competência para que os entes
políticos o façam. Quanto à competência para a instituição dos impostos, vê-se no texto da
Constituição Federal de 1988, de forma enumerada, a delimitação para cada ente, de forma
privativa.
Logo de início, entende-se que os impostos previstos na CF são taxativos, contudo, está
consagrado na Constituição Cidadã que a União possui a competência tributária residual para
a instituição de impostos (art. 154, I, da CF), a qual depende de lei complementar. Conforme
desenhou o constituinte, além da competência residual, à União se atribuiu a competência
35
1. Conflito de competência entre entes Federados;
36
IMPOSTOS DA UNIÃO (ARTS. 153 E 154, CF)
IE - exportação (para o É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei,
exterior, de produtos alterar as alíquotas dos impostos
nacionais ou
nacionalizados)
37
IGF - grandes fortunas
(nos termos de lei
complementar)
mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo 153 da CF, desde que
Competência residual sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos
discriminados nesta Constituição;
38
III - poderá ser seletivo, em função da essencialidade a mesma proporcionalidade que
das mercadorias e dos serviços; ocorre nas operações com as
demais mercadorias;
IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do
III - nas operações interestaduais
Presidente da República ou de um terço dos
com gás natural e seus derivados, e
Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus
lubrificantes e combustíveis não
membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às incluídos no inciso I deste
operações e prestações, interestaduais e de parágrafo, destinadas a não
exportação; contribuinte, o imposto caberá ao
serviços, não poderão ser inferiores às previstas para c) poderão ser reduzidas e
restabelecidas, não se lhes
as operações interestaduais;
aplicando o disposto no art. 150, III,
VII - nas operações e prestações que destinem bens
b (Princípio da anterioridade
e serviços a consumidor final, contribuinte ou não anual)
do imposto, localizado em outro Estado, adotar-se-á § 5º As regras necessárias à
a alíquota interestadual e caberá ao Estado de aplicação do disposto no § 4º,
39
b) ao remetente, quando o destinatário não for
contribuinte do imposto;
IX - incidirá também:
a) sobre a entrada de bem ou mercadoria
importados do exterior por pessoa física ou jurídica,
ainda que não seja contribuinte habitual do imposto,
qualquer que seja a sua finalidade, assim como
sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o
imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio
ou o estabelecimento do destinatário da mercadoria,
bem ou serviço;
b) sobre o valor total da operação, quando
mercadorias forem fornecidas com serviços não
compreendidos na competência tributária dos
Municípios;
X - não incidirá:
a) sobre operações que destinem mercadorias para
o exterior, nem sobre serviços prestados a
destinatários no exterior, assegurada a manutenção
e o aproveitamento do montante do imposto
cobrado nas operações e prestações anteriores;
b) sobre operações que destinem a outros Estados
petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis
líquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica;
c) sobre o ouro, nas hipóteses definidas no art. 153,
§ 5º;
d) nas prestações de serviço de comunicação nas
modalidades de radiodifusão sonora e de sons e
imagens de recepção livre e gratuita;
XI - não compreenderá, em sua base de cálculo, o
montante do imposto sobre produtos
industrializados, quando a operação, realizada entre
contribuintes e relativa a produto destinado à
industrialização ou à comercialização, configure fato
gerador dos dois impostos;
XII - cabe à lei complementar:
a) definir seus contribuintes;
b) dispor sobre substituição tributária;
c) disciplinar o regime de compensação do imposto;
d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do
estabelecimento responsável, o local das operações
40
relativas à circulação de mercadorias e das
prestações de serviços;
e) excluir da incidência do imposto, nas exportações
para o exterior, serviços e outros produtos além dos
mencionados no inciso X, "a"
f) prever casos de manutenção de crédito,
relativamente à remessa para outro Estado e
exportação para o exterior, de serviços e de
mercadorias;
g) regular a forma como, mediante deliberação dos
Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e
benefícios fiscais serão concedidos e revogados.
h) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os
quais o imposto incidirá uma única vez, qualquer
que seja a sua finalidade, hipótese em que não se
aplicará o disposto no inciso X, b;
i) fixar a base de cálculo, de modo que o montante
do imposto a integre, também na importação do
exterior de bem, mercadoria ou serviço.
IPVA - propriedade
I - terá alíquotas mínimas fixadas pelo Senado Federal;
de veículos
II - poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo e utilização.
automotores.
41
Abaixo, a divisão dos impostos segundo sua origem. Como já exposto antes, ordinários são aqueles
previstos nos incisos que delimitam as competências de cada ente federativo. Enquanto os extraordinários
são aqueles previstos em condições atípicas.
IPTU
MUNICÍPIO ITBI
ISS
IPVA
ESTADO ICMS
ORDINÁRIOS
ITCMD
II
IE
IMPOSTOS
IR
UNIÃO
IOF
ITR
IGF
EXTRAORDINÁRIOS EXTRAORDINÁRIO DE
UNIÃO
(art. 154, II, CF) GUERRA
RESIDUAIS
UNIÃO
(art. 154, I, CF)
42
Nos autos do julgamento da AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.211-AM9, o Min.
GILMAR MENDES destacou que ao considerar no cálculo da taxa judiciária a base de cálculo
própria de imposto (CTN, arts. 33 e 38), a lei do estado do Amazonas contraria a norma prevista
no § 2º do art. 145 da CF/88, sendo, portanto, inconstitucional. Afirmou o então Ministro Relator
do caso: “no que diz respeito à utilização da base de cálculo própria de imposto como base de
cálculo de taxa judiciária, este Supremo Tribunal Federal já se manifestou pela impossibilidade
de tal pretensão. Nesse sentido, os seguintes precedentes: Rp 1.074, Rel. Min. Djaci Falcão,
Tribunal Pleno, DJ 7.12.1984; ADI-MC 1.889, Rel. Min. Nelson Jobim, Tribunal Pleno, DJ
14.11.2002”.
Opondo-se à Teoria dualista ou bipartida, Sacha Calmon elenca três distintas espécies de
Teoria
tripartida
Contribuições
Impostos Taxas
de melhoria
Para os adeptos da teoria em estudo, os impostos são aqueles tributos cuja exigência não
está associada (vinculada) a uma prestação estatal em benefício do contribuinte. Noutro lado,
9
Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751060053
43
considera-se o tributo como taxa ou contribuição de melhoria quando a esse se atrela o direito
de crédito (a exação) à uma ação estatal promovida em prol do contribuinte, sendo a taxa
apesar de também estar vinculada a uma atuação estatal, reserva-se aos casos em que, ante a
realização de obra pública seja gerada uma valorização do imóvel do contribuinte (FALCÃO;
Para a teoria apreciada neste tópico, assim como a taxa, você sabe que a contribuição
de melhoria constitui tributo contraprestacional (extremamente vinculado), pois tem seu
Taxa
Contribuição de melhoria
função de tal situação peculiar que os distingue”. Como assevera o mencionado autor,
constatando o “benefício direto para algumas pessoas, é razoável que o seu custeio não se dê
por toda a sociedade igualmente, mas, especialmente, por aqueles a quem a obra aproveite”.
Dito isso, ante a descrição consagrada pela doutrina, você pode considerar que essa
contribuição de melhoria cria óbice ao enriquecimento sem causa, já que uma das condições
44
No que diz respeito a essa terceira espécie então observada pela Teoria Tripartida, destaca-
se que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios possuem competência, isto é,
poderão instituir a contribuição de melhoria em face da realização das obras públicas (art. 145,
III, da CF) das quais decorram a valorização imobiliária. Neste ponto, importa observar as
Sob o entendimento do Superior Tribunal De Justiça (STJ), destaca-se que, como você já
sabe pois mencionamos anteriormente, o fato gerador do tributo é a valorização imobiliária
Assim, ante essa obrigação do Estado, no caso da não constituição da prova que revele a
efetiva valorização imobiliária decorrente de obra pública, não cabe a cobrança da Contribuição
de Melhoria, porque sequer poderá a valorização não ser presumida10.
Como se aponta na lei e na doutrina, não há uma alíquota a ser aplicada. A lei instituidora
da contribuição de melhoria define uma parcela do custo da obra que será rateada pelos imóveis
situados na zona beneficiada. Assim, como ressalta Paulsen (2014), o produto da arrecadação
Ante o exposto, encerramos a teoria tripartite, na qual abarcam-se as três espécies acima
10
Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1657194&num_registro=2017021
01928&data=20171219&formato=PDF
45
Segundo o art. 81 do CTN, na definição do valor a ser atribuído à contribuição de melhoria, o
sujeito ativo deverá encontrar dois tetos, ou limitações. Vejamos o teor do dispositivo: “a
contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos
Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de
obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa
realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada
imóvel beneficiado”.
são considerados uma categoria conhecida como “impostos restituíveis”. Para outra corrente de
pensamento, defendida por Ricardo Lobo Torres, divide-se os tributos em: impostos, taxas,
11
Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=210152
46
Teoria
Pentapartida
A dimensão final traz, portanto, tributos que incidem sobre riquezas reveladas e são
associados a sete fins específicos (arts. 148 -e 149, CF). Observando as características das últimas
espécies estudadas, é possível esquematizar da seguinte forma, considerando, especificamente,
os fins e as situações atreladas aos mencionados tributos:
Guerra externa
Empréstimos
Fins emergenciais Calamidade pública
Compulsórios (art. 148, CF)
Relevante
interesse público
47
comum. Essa espécie de tributo possui uma característica peculiar: o ressarcimento, a
restitutividade certa, em momento determinado.
então demande recursos não previstos nos cofres públicos. Tal ideia é captada pelo texto do
art. 15 do CTN. Vejamos:
Art. 15. Somente a União, nos seguintes casos excepcionais, pode instituir empréstimos
compulsórios:
II - calamidade pública que exija auxílio federal impossível de atender com os recursos
orçamentários disponíveis;
Empréstimo
compulsório
A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos
(art. 148, CF/88) compulsórios
48
O fato gerador será definido na lei que instituir o empréstimo e, como visto no texto do
art. 15, parágrafo único, do CTN, a lei fixará duas informações essenciais: (1) o prazo do
O tipo de fato gerador não é especificado pelo texto constitucional, podendo ser vinculado
ou não vinculado. Assim, e.g., tanto o consumo de energia elétrica ou a propriedade de
aeronave ou embarcação, quanto o serviço de dedetização obrigatória que vise minorar
ou erradicar a propagação de epidemia podem ser fatos geradores.
De outro lado, estão as contribuições especiais, que possuem outros quatro fins diferentes
daqueles atribuídos aos empréstimos compulsórios. Essa espécie de tributo possui receita
afetada, vinculada. Sobre as contribuições especiais, Leandro Paulsen (2014) afirma:
49
Destaca-se para o fato de que os impostos, os empréstimos compulsórios e as contribuições
especiais são tributos incidentes sobre situações reveladoras de riquezas, consideram a
capacidade colaborativa e o ente federativo não é vinculado a uma contraprestação para ter o
direito de tributar (ausente, por isso, o caráter contraprestacional). Com relação ao destino das
receitas auferidas na exação, entre esses três tributos, diferencia-se os impostos das
contribuições especiais e empréstimos compulsórios, afinal, esses dois últimos possuem receita
afetada, diferentemente do primeiro (receita desafetada, segundo a ordem do art. 167, IV, CF).
Sobre o tema, afirma Leandro Paulsen (2014):
As contribuições só podem ser instituídas para atender às finalidades previstas no art. 149
e 149-A da Constituição: sociais, de intervenção no domínio econômico, do interesse das
categorias profissionais ou econômicas e, ainda, de iluminação pública. A destinação legal
a tais finalidades justifica a sua instituição e a destinação efetiva legitima o prosseguimento
da sua cobrança, sob pena de se descaracterizar, ao longo do tempo, a respectiva figura
tributária, perdendo seu suporte constitucional.
Incidente em casos
Tributos de receita Ausência da
de revelação de
afetada contraprestação
riqueza
Empréstimos
Impostos Impostos
compulsórios
Contribuições Contribuições
especiais especiais
50
Neste ponto, destacamos e pedimos atenção o ensinamento de Leandro Pausen (2014),
51
com as contribuições especiais, porque essas são não eventuais, consideradas habituais
(rotineiras), assim como os impostos.
Quanto aos fins, diz-se que as contribuições especiais se dividem em grupos. No primeiro,
essa espécie de tributo está associada à construção do Estado social através das políticas sociais
(lazer, educação, saúde, assistência, previdência, etc). Nesse grupo, colocam-se as contribuições
equilíbrio do mercado. Já o terceiro fim ou objetivo das contribuições especiais, que aparta
outro grupo, nasce pela necessidade de manutenção dos conselhos, as entidades de classe, que
esquematizada).
52
CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS (ARTS. 149 e 149-A, CF)
Compete Instituir: Observado o disposto nos arts. 146, III (lei complementar
exclusivamente à para estabelecer normas gerais em matéria de legislação
1. contribuições
União tributária), e 150, I e III (princípio da legalidade e princípio
sociais;
2. de intervenção no da anterioridade anual e nonagesimal), e sem prejuízo do
A pessoa natural destinatária das operações de importação poderá ser equiparada a pessoa jurídica, na
forma da lei.
A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma única vez.
1. instituirão contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício
destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40 (regime próprio de
Os Estados, o previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos), cuja alíquota não será
Distrito Federal e inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União;
os Municípios 2. poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço
de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III (princípio da
legalidade e princípio da anterioridade anual e nonagesimal) - sendo facultada a
cobrança dessa contribuição na fatura de consumo de energia elétrica.
53
1.5 Classificação dos tributos
Devemos ter em mente que a classificação atribuída pela doutrina foi assim constituída em
face da forma de cobrança dos tributos. A tributação indireta implica na repercussão tributária,
fenômeno pelo qual o impacto da tributação, o ônus, recai sobre o sujeito não envolvido
diretamente na relação jurídico tributária principal, pessoa à qual se apelida como contribuinte
de fato, não sendo essa, portanto, o contribuinte legal (de iure, de direito), aquele definido
De outro lado, está o tributo direto, aquele cuja exação lança o ônus, o dever de adimplir
sobre o sujeito previsto na lei, o mesmo o que pratica o fato tipificado na lei, não havendo a
observância, portanto, da repercussão tributária, instituto próprio da tributação indireta,
presente, por exemplo, no IPI, ISS e ICMS. Exemplo de tributo direto é o Imposto de Renda.
Por fim, é importante que você saiba que a inaplicabilidade de critérios econômicos para a
Os tributos reais são aqueles cobrados ante a desconsideração dos aspectos subjetivos do
contribuinte, considerando somente a importância da res, da coisa. Compreende? De outra
forma, podemos dizer que na exação de tributos reais, valora-se o elemento que traduz a
riqueza, sem apreciar as características pessoais do sujeito passivo. É o caso dos tributos que
De outro lado, põe-se os tributos pessoais, esses que, para a cobrança, a quantificação do
crédito tributário, deve-se considerar os valores subjetivos, as condições pessoais do
contribuinte. É o caso, por exemplo, do Imposto de Renda. Ante as duas classificações, importa
destacar que um mesmo imposto pode ser real e pessoal.
54
Kiyoshi Harada (2017) afirma que os impostos pessoais são aqueles que consideram “as
qualidades individuais do contribuinte, sua capacidade contributiva para a dosagem do aspecto
quantitativo do tributo”. De outro lado, são os impostos reais (ou de natureza real) aqueles
Segundo a ordem do art. 145, § 1º, da CF, sempre que possível, os impostos terão caráter
“Seletivo é o imposto que tem alíquota diferente para cada tipo de objeto de sua
incidência, seja renda, uma operação ou um produto. Com ele, busca-se, além da
arrecadação, uma alteração na atividade econômica, estimulando, ou desestimulando, seja
a atividade produtiva, seja o consumo” (Hugo de Brito Machado, Comentários ao Código
Tributário Nacional, São Paulo: Atlas, 2003, v. 1, p. 262). Não se deve confundir, portanto,
55
seletividade com essencialidade. A primeira diz respeito à diferenciação no gravame, de
modo a “selecionar” produtos, rendimentos, atividades ou serviços. A segunda, por sua
vez, é um dos critérios dessa seleção, adotado, no caso, para o IPI. Mas a seletividade, em
tese, pode ocorrer à luz de outros critérios, como acontece em relação ao IPTU.
Como exemplo de tributo seletivo, é possível citar o ICMS, então regido pela ordem do art.
155, inciso II e art. 155, § 2º, inciso III, o qual poderá ser seletivo, e o IPI que, conforme a regra
da constituição, deverá ser seletivo (art. 153, § 2º, CF/88).
Preste atenção! Determina o teor do art. 155 da CF que recai sobre os Estados e o Distrito
Federal a competência para instituir impostos sobre operações relativas à circulação de
CF). De acordo com o texto daquele dispositivo, poderá o ICMS obedecer ao Princípio da
Seletividade, tendo em vista a função da essencialidade das mercadorias e dos serviços
Por outro lado, a progressividade é fenômeno que permite o aumento da carga tributária
sobre hipóteses de incidência de mesma natureza, mas que revelam condições distintas. Como
exemplo de tributos progressivos, tem-se o IPTU e o ITR. Ainda, é possível observar a
progressividade no ITCMD e no IR, esses que tem o fenômeno como resposta ao acúmulo de
riquezas, já que quanto maior a base de cálculo, maior a alíquota, indicando uma
progressividade fiscal.
Sobre o tema, veja o didático ensinamento de Hugo de Brito Machado Segundo (2017):
56
Considera-se progressivo o tributo cujo ônus é tanto maior quanto maior
da riqueza.
Vale, neste ponto, destacar o ensinamento de Harada (2017), que distingue a progressividade
Imposto progressivo é aquele que exige uma alíquota maior à medida que o valor
tributável vai aumentando. Diz-se que a progressão é simples quando cada alíquota maior
se aplica por inteiro a toda matéria tributável. Já a progressividade graduada é aquela
em que cada alíquota maior é calculada, tão somente, sobre a parcela do valor
compreendida entre o limite inferior e o superior, de sorte a exigir a aplicação de tantas
alíquotas quantas sejam as parcelas de valor para, afinal, serem somados todos os valores
parciais, obtendo-se o montante do imposto a pagar. É o caso, por exemplo, do imposto
sobre a renda devido por pessoas físicas, cuja legislação adotou uma tabela prática de
progressividade para facilitar os cálculos.
57
2. Taxas e contribuição de melhoria
2.1 Taxas
Inicialmente, vamos nos ater aos aspectos conceituais. Consoante o artigo 145, inciso II, da
Constituição Federal de 1988, a taxa é uma espécie tributária instituída pela União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, “em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização,
efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou
postos à sua disposição”.
Por esse motivo, é necessária uma relação direta e harmônica entre o serviço prestado –
ou posto à disposição – e o valor exigido aos contribuintes, como bem assevera Leandro Paulsen
(2017):
Preste muita atenção! Este assunto é recorrente em concursos públicos. Essa concepção se
demonstra pelo § 2º do artigo 145 da Constituição Federal, ao vedar que as taxas tenham base
58
de cálculo ou fato gerador próprios de impostos12. A norma tem o objetivo de evitar a criação
de taxas irrestritas, que poderiam servir ao Poder Público como verdadeiros impostos disfarçados
(PAULSEN, 2017).
Enfim, esse tributo é de competência comum de todos os entes federados, nos limites de
suas atribuições, sendo-lhes facultada a delegação da capacidade tributária ativa. Considera-se
competente a entidade política que presta o serviço ou exerce o poder de polícia, salientando-
se que, em virtude do art. 25, § 1º, da CF/1988, os Estados têm – ainda que o art. 145 da
CF/1988 não faça tal ressalva – competência material residual, podendo prestar os serviços não
atribuídos expressamente aos demais entes federados (ALEXANDRE, 2017, p. 62-63).
O fato gerador das taxas, de acordo com o artigo 77, caput, do Código Tributário Nacional,
é o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público
12
Vide questão 3
13
Vide questão 4
14
Vide questão 6
59
Poder de polícia: é a “atividade da Administração Pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de
fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades
econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
coletivos”. Em outras palavras, é o poder de fiscalização, através do qual há uma
limitação de direitos e liberdades individuais em favor da coletividade. Deve ser
regular, ou seja, em consonância com a lei (com a obediência ao princípio do devido
processo legal) e sem abuso ou desvio de poder. Inteligência do artigo 78 do Código
Tributário Nacional;
Segundo Ricardo Alexandre, só se pode cobrar taxa de polícia pelo efetivo exercício
desse poder. Inclusive, a jurisprudência clássica entende que é ilegítima a cobrança
periódica da taxa a título de mera renovação, sem que haja novo procedimento de
fiscalização. Todavia, o STF tem presumido o exercício do poder de polícia quando
existente o órgão fiscalizador, mesmo que este não comprove haver realizado
fiscalizações individualizadas no estabelecimento de cada contribuinte;
60
Atente que diante do mandamento constitucional sobre a necessidade de que os serviços
públicos, para fins do tributo previsto no art. 145, inciso II, da CF/1988, sejam específicos e
divisíveis, diz-se que a taxa é dotada de referibilidade em relação aos contribuintes e às
atividades estatais.
Note-se que o Código Tributário Nacional flexibiliza o conceito de utilização para fins de
caracterização do fato gerador das taxas, aduzindo que os serviços públicos se consideram
utilizados pelo contribuinte: efetivamente, quando forem usufruídos a qualquer título;
potencialmente, quando, sendo de uso compulsório, sejam postos à sua disposição mediante
atividade administrativa em efetivo funcionamento. Art. 79, inciso I, “a” e “b”, do CTN.
61
inconstitucional a instituição e a cobrança de taxas por emissão ou remessa de carnês/guias
de recolhimento de tributos. Precedente do Plenário da Corte: Rp nº 903, Rel. Min.
Thompson Flores, DJ de 28/6/74. 3. Recurso extraordinário do qual se conhece, mas ao qual,
no mérito, se nega provimento (STF, RE 789.218/MG RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
17/04/2014, DJe 01/08/2014).
62
No julgamento de questão de ordem no Recurso Extraordinário nº 657.321/SP, paradigma
do Tema 146 de Repercussão Geral, a Corte cristalizou a tese de inconstitucionalidade da
cobrança de taxa pela limpeza dos logradouros públicos (exemplos: limpeza de bueiros e
varrição); a coleta domiciliar de lixo, por outro lado, pode ser taxada, uma vez que se trata de
serviço específico e divisível:
(...) Quanto ao mérito, por maioria, o Tribunal deu provimento ao recurso. Reportou-se à
jurisprudência da Corte segundo a qual as taxas cobradas em razão exclusivamente dos
serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos
provenientes de imóveis são constitucionais, ao passo que é inconstitucional a cobrança
de valores tidos como taxa em razão de serviços de conservação e limpeza de logradouros
e bens públicos. Citou-se, ademais, a orientação fixada no sentido de que a taxa que, na
apuração do montante devido, adote um ou mais dos elementos que compõem a base
de cálculo própria de determinado imposto, desde que não se verifique identidade integral
entre uma base e a outra, não ofende o § 2º do art. 145 da CF (STF, RE 576.321/SP QO-
RG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 04/12/2008, REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe 13/02/2009).
63
Desse acórdão adveio a Súmula Vinculante nº 41/STF: “o serviço de iluminação pública
não pode ser remunerado mediante taxa”. Aliás, vale observar que esse serviço é tributado,
atualmente, por meio de contribuição (COSIP), espécie tributária a ser estudada no próximo
A base de cálculo das taxas é o custo da ação estatal que dá origem à obrigação (poder
de polícia ou serviço específico e divisível). Você já sabe, mas vamos relembrar que tanto a base
de cálculo quanto o fato gerador dessa espécie tributária devem ser diferentes dos
aplicados aos impostos (artigo 77, parágrafo único, do Código Tributário Nacional), haja vista
a inexistência de autorização constitucional do bis in idem nessa hipótese, sem se olvidar da
função distinta dos dois tributos (enquanto o imposto não possui qualquer vinculação, a taxa,
por ser dotada de referibilidade, deve guardar relação direta com a atividade estatal que lhe dá
Nesse passo, a base imponível se mostra como ordem de medida dimensional (ou
dimensória) do aspecto material da hipótese de incidência, vale dizer, do próprio fato
gerador, dando-lhe a exata expressão econômica. Desse modo, a sua possível
inadequação pode representar uma distorção do fato gerador, desnaturando o próprio
tributo, que pode, por exemplo, travestir-se de imposto Y e ser, de fato, um imposto Z;
ou, até mesmo, mostrar-se como tributo X e ser, de verdade, um tributo Y. Segundo Paulo
de Barros Carvalho, “acaso o legislador mencione a existência de taxa, mas eleja base de
cálculo mensurada de fato estranho a qualquer atividade do Poder Público, então a espécie
tributária será outra, naturalmente um imposto”. Nesse compasso, entende-se que, em
nenhuma hipótese, pode subsistir imposto com base de cálculo de taxa, ou taxa com
base de cálculo de imposto, sob pena de termos um tributo pelo outro, dando ensejo
ao intitulado “imposto disfarçado”.
Em virtude dessa vedação constitucional, não é legítima, por exemplo, a instituição de uma
taxa que adota como base de cálculo o valor de um veículo automotor (considerando-se que
este é a base do IPVA, imposto estadual).
64
Súmula nº 595/STF: ”É inconstitucional a taxa municipal de conservação de estradas
de rodagem cuja base de cálculo seja idêntica à do imposto territorial rural”.
Súmula nº 124/STJ: “A taxa de melhoramento dos portos tem base de cálculo diversa
do Imposto de Importação, sendo legítima a sua cobrança sobre a importação de
mercadorias de países signatários do GATT, da ALALC ou ALADI”.
Todavia, o STF tem aceitado a criação de taxas com valores fixos constantes em tabelas
que tomem como referência grandezas que, a rigor, poderiam ser consideradas como bases de
O artigo 77, parágrafo único, parte final, do Código Tributário Nacional estipula uma
segunda restrição à base de cálculo das taxas, prevendo que esse tributo não pode ser
calculado em função do capital social das empresas, tendo em vista que este não reflete
Nesta toada, já decidiu o STF que as taxas municipais de fiscalização e funcionamento não
podem ter como base de cálculo o número de empregados ou ramo de atividade exercida pelo
contribuinte, devendo ter como base de cálculo a área de fiscalização, na medida em que traduz
o custo da atividade estatal de fiscalização15.
Veja o julgado que se segue. Nele, o Supremo Tribunal Federal trata não só da necessidade
de o valor a ser cobrado a título de taxa ser coerente com o custo da atividade estatal a qual o
15
STF. 2ª Turma. ARE 990914/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2017 (Info 870) e STF. 1ª Turma. RE 856185
AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 04/08/2015.
65
tributo visa remunerar, como também ressaltou a impossibilidade de cobrança excessiva, com o
Hídricos (TFRH). A Corte entendeu que o valor cobrado é muito superior em relação ao custo
da atividade estatal relacionada (fiscalização das empresas que exploram recursos hídricos).
Logo, não há proporcionalidade entre o custo da atividade estatal e o valor que será pago pelos
particulares pela taxa. Isso viola as características da taxa, que é um tributo orientado pelo
Tesouro Estadual. Isso demonstra o caráter arrecadatório desta taxa. Por fim, ao onerar
excessivamente as empresas que exploram recursos hídricos, a referida taxa adquiriu feições
16
STF. Plenário. ADI 6211/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/12/2019 (Info 962).
66
Exercício regular do poder de polícia
Fato gerador
Utilização, efetiva ou potencial, de serviço
público específico e divisível, prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição
Convém mencionar posto que é importante que você saiba que as taxas dependem de lei
ordinária. Nada impede, porém, a instituição ou majoração (inclusive por meio de alterações
em base de cálculo) de uma taxa por Medida Provisória, pois mesmo sendo este um ato
emanado pelo Poder Executivo, a espécie legislativa prevista no artigo 62 da Constituição Federal
de 1988 possui força de lei. Logo, contanto que a Medida Provisória siga o devido processo
legislativo constitucional e seja convertida em lei, inexiste qualquer afronta ao princípio da
legalidade.
Não viola a legalidade tributária, ainda, a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato
normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação
estatal, valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em
percentual superior aos índices de correção monetária legalmente previstos.
67
condicionada ao escorrimento dos prazos estampados no artigo 150, inciso III, “b” e “c”, da
Constituição Federal de 1988:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
(...)
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou; (anterioridade tributária)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (anterioridade
nonagesimal/noventena)
A teor do artigo 163, inciso II, do Código Tributário Nacional, havendo imputação em
pagamento (ocorre quando um determinado sujeito passivo possui perante o mesmo sujeito
ativo mais de um débito, e oferece para pagamento montante insuficiente para a quitação de
tudo o que deve), a taxa ocupa a posição intermediária na ordem de adimplemento dos débitos
fiscais, preferindo somente aos impostos, por ter caráter mais retributivo que estes.
De seu turno, o art. 177, inciso I, do CTN prevê que, diferentemente do que ocorre com
os impostos, a isenção não é extensiva às taxas, salvo disposição legal em contrário. A norma
se justifica pelo caráter contraprestacional destas últimas, uma vez que uma política isentante a
elas relativa implicaria prejuízos ao patrimônio público (considerando-se que as taxas visam a
compensar a prestação ou disponibilização de um serviço público específico e divisível, ou o
exercício regular do poder de polícia), que é indisponível.
Para você que se prepara para concursos públicos, é de extrema importância saber as
principais características que diferenciam as taxas dos preços públicos.
68
O preço público, de acordo com os ensinamentos de Eduardo Marcial Ferreira Jardim
(2011, p. 313), é a prestação exigida pelo Estado em regime jurídico de direito privado, através
de ato bilateral e voluntário (contrato) entre as partes envolvidas. Porquanto não configura
espécie de tributo, destinando-se unicamente a complementar o orçamento, é alheio a
princípios constitucionais aplicáveis ao Direito Tributário, tais como a legalidade e as
anterioridades.
Sua distinção conceitual das taxas é reforçada pela Súmula nº 545/STF, vamos ver o que
dispõe? “Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente
daquelas, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária,
em relação à lei que as instituiu”.
Para parte da doutrina, tarifa é espécie do gênero preço público, e consiste, segundo
Eduardo Sabbag (2017), no “preço de venda do bem, exigido por empresas prestacionistas de
69
Assim, a contrapartida dos serviços públicos poderá se dar por meio de uma taxa ou de uma
tarifa, excetuados aqueles considerados ‘essenciais’, que avocarão com exclusivismo as taxas”. A
doutrina majoritária considerada preço público e tarifa como sinônimos.
que o adicional presente nas contas de água fornecida pela CAESB não correspondia
remuneração pelo serviço, mas a um controle do consumo excessivo de produto essencial em
do STF. O argumento utilizado pela Primeira Turma da Corte foi o de que é necessário avaliar
o caráter da prestação do serviço: se o fornecimento de serviços de água e esgoto for executado
70
pelo serviço de água e esgoto possui natureza jurídica de taxa - submetendo-se, portanto,
ao regime jurídico tributário, especialmente no que diz com a observância do princípio da
legalidade, sempre que seja de utilização compulsória, independentemente de ser
executado diretamente pelo Poder Público ou por empresa concessionária. 2. Recurso
especial a que se nega provimento (STF, REsp 782.270/MS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
Primeira Turma, julgado em 18/10/2005, DJ 07/11/2005).
consequentemente, de taxas).
confiram-se:
71
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO. ÁGUA E
ESGOTO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. REGULARIDADE DA
COBRANÇA. FUNDAMENTOS NÃO REBATIDOS. APLICAÇÃO DAS SÚMULAS N. 283 E 284,
AMBAS DO STF. ALEGAÇÕES DE VÍCIOS NO ACÓRDÃO. INEXISTENTES. (...) III - No que
trata da apontada violação do art. 206, § 3º, IV e V, do Código Civil, constata-se que a
irresignação da recorrente CEDAE não merece acolhimento, visto que, consoante o
entendimento firmado pela Primeira Seção desta Corte, no julgamento do REsp n.
1.113.403/RJ, submetido ao regime dos recursos repetitivos do art. 543-C do CPC/73, a
ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional
estabelecido no Código Civil. Assim, deve ser vintenário, na forma estabelecida no art. 177
do CC/16, ou decenal, de acordo com o previsto no art. 205 do CC/02 (...) (STJ, AgInt no
REsp 1.824.784/RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, Segunda Turma, julgado em 05/03/2020, DJe
10/03/2020).
(2) A segunda discussão se refere às cobranças de pedágio. Nos autos da Ação Direta
de Inconstitucionalidade nº 800/RS, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade,
vez que livre tráfego por determinados pontos das rodovias está condicionado a seu pagamento.
Não obstante, o Tribunal refuta esse argumento, levando em consideração que o indivíduo tem
72
prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição; e c) a impossibilidade de remunerar
serviços públicos por meio outro que não o de taxa. Aludiu, entretanto, que os defensores
da natureza contratual da exação como preço público o fariam com base nas seguintes
considerações: a) a inclusão no texto constitucional apenas esclareceria que, apesar de não
incidir tributo sobre o tráfego de pessoas ou bens, poderia, excepcionalmente, ser cobrado
o pedágio, espécie jurídica diferenciada; b) a ausência de compulsoriedade na utilização
de rodovias; e c) a cobrança se daria em virtude da utilização efetiva do serviço, e não
seria devida com base no seu oferecimento potencial (Info 750 – ADI: pedágio e preço
público – 1).
O Plenário sublinhou que seria irrelevante também, para a definição da natureza jurídica
do pedágio, a existência, ou não, de via alternativa gratuita para o usuário trafegar.
Reconheceu que a cobrança de pedágio poderia, indiretamente, limitar o tráfego de
pessoas. Observou, todavia, que essa restrição seria agravada quando, por insuficiência de
recursos, o Estado não construísse rodovias ou não conservasse adequadamente as
existentes. Ponderou que, diante dessa realidade, a Constituição autorizara a cobrança de
pedágio em rodovias conservadas pelo Poder Público, inobstante a limitação de tráfego
que essa cobrança pudesse eventualmente acarretar. Registrou, assim, que a contrapartida
de oferecimento de via alternativa gratuita como condição para a cobrança de pedágio
não seria uma exigência constitucional, tampouco estaria prevista em lei ordinária.
Consignou que o elemento nuclear para identificar e distinguir taxa e preço público seria
o da compulsoriedade, presente na primeira e ausente na segunda espécie (Info 750 –
ADI: pedágio e preço público – 3).
Finalmente, o STF asseverou que não se confundem as figuras do pedágio (tarifa) e do “selo-
pedágio” (reconhecido como taxa):*
A Corte realçou que essa discussão teria sido contaminada pela figura do denominado
“selo-pedágio”, prevista na Lei 7.712/1988, reconhecido como taxa pelo STF. Lembrou,
porém, que essa exação seria compulsória a todos os usuários de rodovias federais, por
meio de pagamento renovável mensalmente, independentemente da frequência de uso,
cobrada antecipadamente, como contrapartida a serviço específico ou divisível, prestado
ao contribuinte ou posto à sua disposição. Consignou haver profundas diferenças entre o
citado “selo-pedágio” e o pedágio, na forma em que atualmente disciplinado. Asseverou
que esse último somente seria cobrado se, quando e cada vez que houvesse efetivo uso
da rodovia, o que não ocorreria com o “selo-pedágio”, que seria exigido em valor fixo,
73
independentemente do número de vezes que o contribuinte fizesse uso das estradas
durante o mês (...) (Info 750 – ADI: pedágio e preço público – 2).
Questão interessante sobre o tema tratado neste tópico foi cobrada pela CESPE em 2019 em certame
Na solução abaixo você perceberá que a questão pode ser respondida majoritariamente utilizando
jurisprudência dos tribunais superiores, de modo que é importante deter maior cuidado a esta parte do
estudo sobre este tema.
A alternativa “A”, considerando o entendimento do STF consagrado na Súmula Vinculante nº 41, está
falsa, pois assim definiu a Corte Máxima: “o serviço de iluminação pública não pode ser remunerado
mediante taxa” (data de Aprovação Sessão Plenária de 11/03/2015).
A alternativa “B”, diante da tese consagrada pelo STF, também traz enunciado com erro, já que a
“Suprema Corte, no julgamento do RE 576.321-QO, sob a Relatoria do Min. Ricardo Lewandowski,
Plenário, DJE de 13.02.2009, firmou entendimento pela inconstitucionalidade da cobrança de taxa diante
da prestação de serviços de conservação e limpeza de logradouros e bens públicos” (AI 815049 AgR,
74
Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 26/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
119 DIVULG 06-06-2017 PUBLIC 07-06-2017). A alternativa “C” está correta. Vejamos os julgados abaixo:
EMENTA Recurso extraordinário com agravo. Tributário. Taxa de Fiscalização de Estabelecimentos (TFE).
Lei nº 13.477/02 do Município da São Paulo. Critério geral para dimensionar a exação. Tipo de atividade
desenvolvida no estabelecimento do contribuinte. Impossibilidade. 1. As taxas comprometem-se tão
somente com o custo do serviço específico e divisível que as motiva, ou com a atividade de polícia
desenvolvida. 2. O critério da atividade exercida pelo contribuinte para se aferir o custo do exercício do
poder de polícia desvincula-se do maior ou menor trabalho ou atividade que o Poder Público se vê
obrigado a desempenhar. Precedentes. 3. Recurso a que se nega provimento.
(ARE 990914, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 20/06/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-212 DIVULG 18-09-2017 PUBLIC 19-09-2017)
revela-se apta a refletir o custo aproximado da atividade estatal de fiscalização. 3. Agravo regimental
a que se nega provimento.
(RE 856185 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 04/08/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-190 DIVULG 23-09-2015 PUBLIC 24-09-2015).
A alternativa “D” carrega afirmação contrária à tese já consagrada pelos tribunais superiores. De acordo
com o STF, é ilegítima a cobrança da Taxa de Licença, Localização e Funcionamento com base de cálculo
no número de empregados do estabelecimento, pois esta não se coaduna com a atividade estatal
exercida pelo Município em face do Poder de Polícia, não correspondendo à hipótese de incidência,
afrontando o disposto no art. 77, caput, do Código Tributário Nacional (ARE 991701 AgR, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 30/11/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-262
75
DIVULG 05-12-2018 PUBLIC 06-12-201817). Por fim, a alternativa “E” também traz uma assertiva
equivocada, afinal, em decisão proferida em sistemática de repercussão geral no RECURSO
EXTRAORDINÁRIO 789.218 MINAS GERAIS, o STF fixou o entendimento de que a emissão de guia de
recolhimento de tributos é de interesse exclusivo da Administração, sendo mero instrumento de
arrecadação, não envolvendo a prestação de um serviço público ao contribuinte. (RE 789218 RG,
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, julgado em 17/04/2014, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-148 DIVULG 31-07-2014 PUBLIC 01-08-2014). ).
Os emolumentos, de previsão constitucional (art. 236, §2º, da CF), são, segundo o art. 28,
da Lei 8935/94, direitos dos notários e registradores, e tem, nos termos do art. 1º, parágrafo
único, da Lei 10169/00, a função de custeio da atividade e remuneração do delegatário.
17
Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=748803932
76
municípios, a exigência ou aumento de tributo, sem lei que o estabeleça. 4. O art. 145
admite a cobrança de "taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização,
efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte
ou postos a sua disposição". Tal conceito abrange não só as custas judiciais, mas, também,
as extrajudiciais (emolumentos), pois estas resultam, igualmente, de serviço público, ainda
que prestado em caráter particular (art. 236). Mas sempre fixadas por lei. No caso presente,
a majoração de custas judiciais e extrajudiciais resultou de Resolução - do Tribunal de
Justiça - e não de Lei formal, como exigido pela Constituição Federal. 5. Aqui não se
trata de "simples correção monetária dos valores anteriormente fixados", mas de aumento
do valor de custas judiciais e extrajudiciais, sem lei a respeito. 6. Ação Direta julgada
procedente, para declaração de inconstitucionalidade da Resolução nº 07, de 30 de junho
de 1995, do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. (ADI 1444, Relator(a): SYDNEY
SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2003, DJ 11-04-2003 PP-00026 EMENT VOL-
02106-01 PP-00046).
Você sabe em que consiste esta modalidade? Leandro Paulsen leciona que quando
realizada obra pública que implique particular enriquecimento de determinados contribuintes,
eles podem ser chamados ao seu custeio em razão de tal situação peculiar que os distingue.
Entende a lógica que a reveste? Se há benefício direto para algumas pessoas, é razoável
que o seu custeio não se dê por toda a sociedade igualmente, mas especialmente por aqueles
a quem a obra aproveite. O STF é claro no sentido de que a melhoria a que se refere o art. 145,
III, da CF é necessariamente a valorização imobiliária.
Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal
ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face
ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total
77
a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar
para cada imóvel beneficiado.
É tributo vinculado, pois sua cobrança depende de uma atuação estatal específica,
qual seja, a realização de uma obra pública que tenha como consequência um
incremento do valor de imóveis;
Quanto à destinação do produto da arrecadação, é afetado, tendo em vista a expressa
menção ao fato de que “é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de
que decorra valorização imobiliária”. Conclui-se que esse tributo visa a garantir a
justiça fiscal, impondo a indenização, por parte do proprietário do imóvel valorizado,
pela vantagem econômica especial obtida mediante atuação do Estado. Assim, pode-
se dizer que o objetivo primordial da contribuição é evitar “o locupletamento
injustificado de proprietários favorecidos por obras públicas” (DÓRIA apud SABBAG,
2017);
É de competência comum de todos os entes federados, sendo-lhes facultada a
delegação da capacidade tributária ativa. Para fins de resolução de eventual conflito
de competência, o artigo 3º do Decreto-Lei nº 195/1967 prevê que o tributo deve ser
instituído pela Unidade Administrativa que realizar a obra pública;
o Reputam-se realizadas pela União as obras executadas pelos Territórios (art. 3º,
§ 4º, do DL nº 195/1967);
o A cobrança da contribuição de melhoria, resultante de obras executadas pela
União, situadas em áreas urbanas de um único Município, poderá ser efetuada
pelo órgão arrecadador municipal, em convênio com o órgão federal que houver
realizado as referidas obras (art. 13 do DL nº 195/1967).
Possui dois parâmetros máximos quanto ao montante a ser exigido pela autoridade
tributária: como limite individual, o acréscimo de valor que da obra resultar para
cada imóvel beneficiado (a contribuição de melhoria devida pelo proprietário de
imóvel valorizado não pode ultrapassar essa vantagem econômica); como limite
global, o total da despesa realizada (considerando-se que a espécie tributária em
pauta se destina a compensar a atuação estatal causadora da valorização imobiliária,
a soma das contribuições devidas pelos contribuintes deve se limitar ao custo da obra
pública).
78
Ressalte-se que os limites não constam no texto da Lei Maior, mas sim na legislação
infraconstitucional.
Segundo o STF, não se pode instituir taxa quando for cabível a criação de contribuição
de melhoria.
Segundo Ricardo Alexandre, como a contribuição é decorrente de obra pública e não “para”
a realização de obra pública, não é legítima a sua cobrança com o intuito de obter recursos a
serem utilizados em obras futuras, uma vez que a valorização só pode ser aferida após a
conclusão da obra. Excepcionalmente, porém, o tributo poderá ser cobrado em face de
realização de parte da obra, desde que parcela realizada tenha inequivocamente resultado em
valorização dos imóveis localizados na área de influência.
TENHA CUIDADO! Para a parte majoritária da doutrina, não basta a mera valorização
imobiliária, pois esta precisa derivar de algumas obras públicas específicas, elencadas no rol
taxativo do art. 2º do mesmo diploma legal. Vamos vê-las:
79
III - construção ou ampliação de sistemas de trânsito rápido inclusive todas as obras e
edificações necessárias ao funcionamento do sistema;
80
não a utilização, pelo contribuinte, de serviço público específico e divisível, prestado ao
contribuinte ou posto a sua disposição. Impossibilidade de sua cobrança como
contribuição, por inobservância das formalidades legais que constituem o pressuposto do
lançamento dessa espécie tributária. Inocorrência da alegada afronta ao art. 18, II, da EC
01/69. Inconstitucionalidade, que se declara, do art. 276 da Lei n. 3.999, de 29 de dezembro
de 1972, do Município de Santo André/SP. Recurso não conhecido (STF, RE 140.779/SP,
Rel. Min. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgado em 02/08/1995, DJ 08/09/1995).
contribuição de melhoria não pode ser cobrada para a realização de obras futuras. Nada
impede, entretanto, a publicação do edital de cobrança de obras públicas ainda em fase de
A propósito, essa é a posição do Superior Tribunal de Justiça, que não admite a presunção
da valorização imobiliária:
(...) 2. Ainda que afastasse tais óbices, ressalto ser cediço que o fato gerador do tributo
em análise é a valorização imobiliária decorrente da obra pública, a qual deve ser
comprovada, não se podendo falar nem mesmo em presunção. 3. Assim, não existindo
prova da efetiva valorização imobiliária decorrente de obra pública, e levando-se em conta
que a valorização não pode ser presumida, não cabe a cobrança da Contribuição de
Melhoria. (STJ, REsp 1.698.570/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado
em 21/11/2017, DJe 19/12/2017).
81
982.415/SP AgR, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, Primeira Turma, julgado em 11/11/2016,
DJe 12/12/2016).
CUIDADO! Ainda que não configure base de cálculo, o custo da obra é limite global do
tributo, conforme destacado anteriormente (art. 81 do CTN). Entendido? Vamos seguir.
A fixação do importe a ser pago por cada contribuinte é feita a partir do rateio da parcela
do custo total da obra pelos imóveis localizados na zona beneficiada, considerando fatores
individuais de valorização. Por ocasião do lançamento do tributo, cada contribuinte deve ser
notificado do montante da contribuição, da forma e prazos de seu pagamento, e dos elementos
que integram o cálculo (art. 82, §§ 1º e 2º, do CTN).
Vale observar que há certa atecnia no termo empregado pelo decreto-lei, tendo em
vista que o art. 123 do CTN estabelece que as convenções particulares, salvo
disposição de lei em contrário, não podem modificar a definição legal de sujeito
passivo da obrigação tributária devida à Fazenda Pública, mas não menciona
qualquer restrição à eficácia do acordo entre os particulares nele envolvidos. Assim,
a existência de uma cláusula contratual privada modificando sujeito passivo de
obrigação principal tributária não produz efeitos perante o Fisco, mas ainda é
plenamente válida entre as partes. Em consequência, seria mais adequado substituir
a palavra “nula” por “ineficaz”. De todo modo, ao enfrentar uma questão objetiva, o
candidato deverá considerar como correta, em regra, a nulidade da cláusula.
82
Valorização imobiliária decorrente de
Fato gerador
obra pública
A instituição de contribuições de melhoria deve se dar por lei ordinária específica, que
estabelece critérios mais rígidos que os aplicáveis às taxas, o que justifica a escassa utilização
daquela espécie tributária na República Federativa do Brasil (SCHOUERI, 2018).
83
De partida, em obediência ao princípio da não surpresa, a cobrança da contribuição de
melhoria fica condicionada à publicação, pela Administração Tributária, de um edital, nele
devendo constar, no mínimo, (1) a delimitação das áreas beneficiadas e a relação dos imóveis
nelas compreendidos; (2) o memorial descritivo do projeto; (3) o orçamento total ou parcial do
custo das obras; (4) a determinação da parcela do custo das obras a ser ressarcida pela
contribuição, com o correspondente plano de rateio entre os imóveis beneficiados (artigo 5º,
inciso I, do Decreto-Lei nº 195/1967).
Após a publicação do edital, deve ser oferecido prazo não inferior a 30 (trinta) dias para
que os interessados impugnem a obra, incumbindo à lei específica, também, regulamentar o
processo administrativo de instrução e julgamento de tal impugnação, sem prejuízo de sua
apreciação judicial (artigo 82, incisos II e III, do Código Tributário Nacional).
Vale ressaltar ainda que a contribuição de melhoria deve observância obrigatória a ambas
as anterioridades. Logo, a produção de efeitos de uma lei editada com o fito de institui-la ou
majorá-la está condicionada ao escorrimento dos prazos estampados no artigo 150, inciso III, “
b” e “c”, da Constituição Federal de 1988:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
(...)
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou; (anterioridade tributária)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (anterioridade
nonagesimal/noventena)
84
2.2.3 Imputação em pagamento e isenção
A teor do artigo 163, inciso II, do Código Tributário Nacional, havendo imputação em
pagamento (ocorre quando um determinado sujeito passivo possui perante o mesmo sujeito
ativo mais de um débito, e oferece para pagamento montante insuficiente para a quitação de
tudo o que deve), a contribuição de melhoria ocupa a primeira posição na ordem de
adimplemento dos débitos fiscais, preferindo tanto às taxas quanto aos impostos, por ter
De seu turno, o art. 177, inciso I, do CTN prevê que, diferentemente do que ocorre com
Definida pelo art. 5º, inciso XXIV, da CF/1988, desapropriação é a transferência compulsória
de propriedade particular ou de uma entidade inferior para superior, por razões de necessidade
ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
exceto nos casos expressamente previstos pelo constituinte.
85
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO DIRETA. JUSTA INDENIZAÇÃO.
LAUDO PERICIAL. CONTEMPORANEIDADE. VALORIZAÇÃO DA ÁREA REMANESCENTE EM
DECORRÊNCIA DE OBRA PÚBLICA. REURBANIZAÇÃO DA AVENIDA. ABATIMENTO NO
QUANTUM INDENIZATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. (...) 4. Ao interpretar a legislação de
regência, a Segunda Turma desta Corte Superior, no julgamento do REsp 1.092.010/SC,
firmou entendimento de que na desapropriação, seja direta ou indireta, quando há
valorização da área remanescente - não desapropriada em decorrência de obra ou serviço
público -, "dispõe o Estado de três instrumentos legais para evitar que a mais valia,
originada da iniciativa estatal, locuplete sem justa causa o patrimônio de um ou de poucos:
a) a desapropriação por zona ou extensiva; b) a cobrança de contribuição de melhoria e
c) o abatimento proporcional, na indenização a ser paga, da valorização trazida ao imóvel".
5. Hipótese em que o Tribunal de Justiça entendeu não ser cabível a compensação do
valor indenizatório com a valorização decorrente de obra pública no local - reurbanização
da avenida, sem especificar se a mais valia foi generalizada ou específica, de modo que o
entendimento em contrário encontra óbice na Súmula 7 do STJ. 6. Não há como afastar a
regra da contemporaneidade em face do tempo decorrido entre a imissão na posse e a
data da realização do último laudo pericial judicial, visto que a Corte a quo não dirimiu a
controvérsia sob esse prisma e, sobretudo, porque, para aferir se a valorização do imóvel
decorreu das melhorias providas pelo Poder Público após a perda da posse dos
proprietários ou em virtude do desenvolvimento urbano e imobiliário ocorrido na região,
seria necessária a incursão no conjunto fático probatório, providência vedada em sede de
recurso especial (...) (STJ, REsp 1.682.157/SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,
julgado em 07/05/2019, DJe 24/05/2019).
86
QUADRO SINÓTICO
TAXAS
88
Contribuinte: proprietário do imóvel ao tempo do
lançamento do tributo, sendo a responsabilidade
transferível aos adquirentes e sucessores, a qualquer
título, do domínio do bem. Art.5º, DL 195/1967.
Necessidade de lei ordinária específica para cada
obra. Art. 82, caput, CTN e jurisprudência do STJ.
A cobrança deve ser precedida de publicação de
edital, nele devendo constar, no mínimo, (1) a
delimitação das áreas beneficiadas e a relação dos
imóveis nelas compreendidos; (2) o memorial descritivo
do projeto; (3) o orçamento total ou parcial do custo
das obras; (4) a determinação da parcela do custo das
obras a ser ressarcida pela contribuição, com o
correspondente plano de rateio entre os imóveis
beneficiados. Arts. 5º, I, DL 195/1967 c/c 82, CTN.
Após a publicação do edital, deve ser oferecido prazo
não inferior a 30 (trinta) dias para que os interessados
impugnem a obra. Art. 82, II, do CTN.
A contribuição de melhoria também se sujeita às
anterioridades. Art. 150, III, “b” e “c”, CF/1988.
Imputação em pagamento: a contribuição de
melhoria ocupa a primeira posição na ordem de
adimplemento dos débitos fiscais, preferindo tanto às
Imputação em pagamento e isenção taxas quanto aos impostos. Art. 163, II, CTN.
Isenção: não é extensiva às contribuições de
melhoria, salvo disposição legal em contrário. Art. 177,
I, CTN.
Jurisprudência do STJ
o Valorização imobiliária geral: deve ser
89
3. Empréstimos Compulsórios e Contribuições
Antes de avançar ao estudo dos empréstimos compulsórios, é importante que você saiba
que estes nem sempre foram considerados como uma espécie tributária. Assim, Eduardo Sabbag
(2017) ensina que o Supremo Tribunal Federal adotava a teoria coativista, que os classificava
Contudo, preste máxima atenção! Esse verbete sumular foi superado com o advento
da Constituição Federal de 1969 (ou CF/1967 com EC 01/69, para os que assim defendem).
natureza jurídica de tributo aos empréstimos compulsórios (RE 111.954/PR) conforme já exortou
o Supremo Tribunal Federal:
EMENTA: [...] 2. No caso, o Superior Tribunal de Justiça consignou caber à Primeira Seção
o processamento e o julgamento de feitos relativos a tributos de modo geral, impostos,
taxas, contribuições e empréstimos compulsórios, à luz de seu regimento interno e das
normas processuais de regência. [...] (grifo nosso) (STF, ARE 732.840/DF AgR, Rel. Min.
Dias Toffoli, Segunda Turma, julgado em 24/02/2017, DJe 16/03/2017).
90
3.1.2 Características gerais
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra
externa ou sua iminência;
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional,
observado o disposto no art. 150, III, "b".
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será
vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.
Observe-se que o constituinte não fixou quaisquer fatos geradores ao tributo, limitando-
se a delimitar os contextos fáticos que possibilitam sua criação.
18
Vide questão 8
91
O empréstimo compulsório pode ser instituído somente nos casos excepcionais previstos
de forma expressa pelo art. 148 da CF/1988. Embora o inciso III do art. 15 do CTN consagre um
terceiro pressuposto fático, qual seja, a “conjuntura que exija a absorção temporária de poder
aquisitivo”, o dispositivo não foi recepcionado pela CF/1988, sendo inconstitucional a exigência
diferentemente do que ocorre com outras espécies tributárias, sua criação jamais poderá ser
chancelada através de Medida Provisória, a teor do art. 62, § 1º, inciso III, da CF/1988:
rt. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas
provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
III - reservada a lei complementar;
Este assunto foi cobrado pela CESPE em 2019 em concurso para Juiz de Direito Substituto
do TJPA da seguinte maneira:
92
Assinale a opção que apresenta hipótese de instituição de empréstimos compulsórios prevista
C) guerra externa
A solução para esta questão é muito objetiva, consistindo no mero conhecimento da letra lei.
Deste modo, não dispense o estudo atento das disposições legais pertinentes.
texto constitucional:
O art. 148, da CF/88: A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos
compulsórios:
93
ocasionada pelo COVID-19, popularmente denominado novo coronavírus) ou de
CUIDADO! Embora o art. 148 da CF/1988 faça menção somente a seu art. 150, inciso III,
“b” (anterioridade anual/comum), a regra de sujeição também abrange a noventena, uma vez
que a redação do § 1º do artigo 150 da Carta Magna inclui nas hipóteses de exceção apenas
os empréstimos compulsórios destinados a atender despesas extraordinárias decorrentes de
calamidade pública, ou de guerra externa ou sua iminência (SABBAG, 2017):
19
Vide questão 4
94
Despesas extraordinárias decorrentes Investimento público de caráter
de calamidade pública, de guerra urgente e de relevante interesse
externa ou sua iminência nacional
dar na mesma espécie do recolhimento – em dinheiro. Sobre o tema, leia o seguinte trecho:
95
EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO - AQUISIÇÃO DE COMBUSTÍVEIS. O empréstimo
compulsório alusivo a aquisição de combustíveis - Decreto-Lei n. 2.288/86 mostra-se
inconstitucional tendo em conta a forma de devolução - quotas do Fundo Nacional de
Desenvolvimento - ao invés de operar-se na mesma espécie em que recolhido -
Precedente: recurso extraordinário n. 121.336-CE (STF RE 175.385/SC, Rel. Min. Marco
Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 01/12/1994, DJ 24/02/1995).
3.2 Contribuições
Há ainda uma subclassificação, pois as contribuições sociais podem ser divididas em: (1)
de seguridade social; (2) outras contribuições sociais (residuais).
96
De seguridade social
Sociais
Residuais
Contribuições De Intervenção no
especiais Domínio Econômico (CIDE)
Corportativas
De Custeio do Serviço de
Ilumunação Pública (COSIP)
20
A doutrina não é unânime quanto a essa divisão.
97
passam a usufruir de benefícios diferenciados dos demais (não contribuintes). Tem seu
fundamento na maior despesa provocada pelo contribuinte e na particular vantagem a ele
proporcionada pelo Estado.
Contribuição de
Vinculado indiretamente Afetada
melhoria
21
Vide questão 1
98
Feitas essas ponderações gerais, resta abordar individualmente cada subespécie de
contribuição.
Destinadas a financiar direitos sociais (educação, saúde, lazer, moradia, etc.), podem ser
divididas em contribuições de seguridade social (promovem saúde, previdência e assistência
social – regras previstas no artigo 195 da Constituição Federal de 1988) e contribuições sociais
gerais/residuais (outras contribuições sociais)22.
A EC 103/2019 incluiu ainda três parágrafos ao art. 149 da CF/1988, com o fito de reger a
tributação em caso de déficit atuarial:
22
Vide questão 9
99
O art. 195 da CF/1988 fornece maiores detalhes sobre as contribuições de seguridade
social. Nos termos desse dispositivo, a saúde, a previdência e a assistência social são financiadas
por toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos
orçamentos de todos os entes federativos, além das seguintes contribuições (quatro fontes de
custeio):
100
lucro, por sua vez, corresponde o CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido); por fim, nas
operações do importador incidem o PIS´-Importação e o COFINS-Importação.
Importador e equiparado
101
CF/1988. Todavia, o STF entende que não havendo modificação substancial da contribuição, não
é necessário respeitar o prazo.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
[...]
[...]
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das
entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social,
sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
contribuição ao salário-educação (art. 212, § 5º, da CF/1988 – “A educação básica pública terá
como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas
empresas na forma da lei”) e as contribuições criadas pela Lei Complementar 110/2001.
102
ser instituídas por lei complementar, ser não cumulativas e ter bases de cálculo e fatos geradores
149 da CF/1988).
Uma questão jurisprudencial relevante diz respeito à vinculação do tributo, preste atenção!
Em 2009, o Supremo Tribunal Federal proferiu acórdão manifestando o entendimento de que
o Poder Constituinte Derivado Reformador (Emenda Constitucional – não confundir com lei!)
pode instituir contribuição social com vinculação de apenas parte do produto da arrecadação.
A respeito, veja-se o seguinte julgado:
Por fim, insta salientar que, recentemente, o STJ fixou, em sede de recurso repetitivo, a
tese de que os valores de ICMS não integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária
103
sobre a Receita Bruta - CPRB, instituída pela Medida Provisória nº 540/2011, convertida na Lei
nº 12.546/201123.
Nos termos do art. 195, inciso I, “a”, da Constituição Federal de 1988, são contribuintes o
empregador, a empresa e o legalmente equiparado. O fato gerador da CPP, por sua vez, é o
É necessário, ainda, observar o disposto no art. 195 do Decreto nº 3.048/1999, que trata,
em seu Livro III, do financiamento da Seguridade Social:
Da leitura do dispositivo se depreende que a base de cálculo da CPP consiste no total das
remunerações pagas, devidas ou creditadas e três categorias: os empregados, os contribuintes
23
STJ. 1ª Seção. REsp 1624297/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 10/04/2019.
104
disposição do empregador. Nessa toada, o Tribunal já decidiu que a CPP incide sobre a licença
ou indenizatória da verba:
Seguindo a mesma premissa, insta salientar que o STJ fixou cinco seis teses jurídicas no
julgamento do Recurso Especial nº 1.230.957/RS, paradigma dos Temas Repetitivos 478, 479,
737, 738, 739 e 740 (julgados em 26/02/2014, DJe 18/03/2014):
(1) "Não incide contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de aviso prévio
indenizado, por não se tratar de verba salarial”;
(2) “A importância paga a título de terço constitucional de férias possui natureza
indenizatória/compensatória, e não constitui ganho habitual do empregado, razão
pela qual sobre ela não é possível a incidência de contribuição previdenciária (a cargo
da empresa)”.
(3) “No que se refere ao adicional de férias relativo às férias indenizadas, a não incidência
de contribuição previdenciária decorre de expressa previsão legal”.
(4) “Sobre a importância paga pelo empregador ao empregado durante os primeiros
quinze dias de afastamento por motivo de doença não incide a contribuição
105
previdenciária, por não se enquadrar na hipótese de incidência da exação, que exige
verba de natureza remuneratória”.
(5) “O salário-maternidade possui natureza salarial e integra, consequentemente, a base
de cálculo da contribuição previdenciária”.
(6) “O salário-paternidade deve ser tributado, por se tratar de licença remunerada prevista
constitucionalmente, não se incluindo no rol dos benefícios previdenciários".
se destina a custear os três pilares da Seguridade Social – saúde, previdência e assistência social.
ela exercida e a classificação contábil adotada para essas receitas, observadas as exclusões
admitidas em lei específica” (SABBAG, 2017).
lhe são equiparadas pela legislação atinente ao Imposto de Renda, salvo as microempresas e as
empresas de pequeno porte adeptas ao Simples Nacional (art. 195, inciso I, da CF/1988 e art.
Finalmente, sua base de cálculo é o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica,
com alíquota fixa de 7,6% (art. 1º e 2º da Lei nº 10.833/2003, e art. 195, inciso I, “b”, da CF/1988).
Insta observar, contudo, que o § 3º do art. 1º da mesma lei lista as receitas que não integram a
base supramencionada:
106
Auferidas pela pessoa jurídica revendedora, na revenda de mercadorias em relação às
quais a contribuição seja exigida da empresa vendedora, na condição de substituta
tributária;
Referentes a vendas canceladas e aos descontos incondicionais concedidos;
Referentes a reversões de provisões e recuperações de créditos baixados como perda
que não representem ingresso de novas receitas, o resultado positivo da avaliação de
investimentos pelo valor do patrimônio líquido e os lucros e dividendos derivados de
participações societárias, que tenham sido computados como receita;
Decorrentes de transferência onerosa a outros contribuintes do Imposto sobre
Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de
Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS de créditos de
ICMS originados de operações de exportação;
Vale ressaltar que o valor retido em razão do ICMS não pode ser incluído na base
24
STF. Plenário. RE 574706/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2017 (repercussão geral) (Info 857).
25
Entenda-se debêntures como títulos de créditos representativos de contratos de mútuo.
107
combustíveis e minerais do país”. Sobre o tema, vide STF, RE 626.936/RJ AgR, Rel. Min. Dias
A receita auferida pelas cooperativas de trabalho decorrentes dos atos (negócios jurídicos)
Social (COFINS) são contribuições sociais voltadas aos contribuintes jurídicos (pessoas jurídicas
que não integram o Simples Nacional) que, embora possuam finalidades distintas29, têm bases
26
STF. Plenário. RE 656089/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/6/2018 (repercussão geral) (Info 905).
27
STJ. 2ª Turma. REsp 1.441.457-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/3/2017 (Info 600).
28
STF. Plenário. RE 599362/RJ ED, Rel. Min. Dias Toffoli julgado em 18/08/2016 (repercussão geral) (Info 835).
29
Sobre contribuições, vide o capítulo 7 deste material.
108
forma de tributação sob o argumento de que a inclusão do imposto estadual na base de cálculo
de contribuições federais constituía cobrança de “tributo sobre tributo”, ou seja, bitributação
não autorizada expressamente pelo constituinte – logo, irregular.
A partir dessa premissa, a incidência de ICMS na base de cálculo das contribuições sociais
haveria de ser inconstitucional, tendo em vista que o valor adquirido pelas pessoas jurídicas em
razão deste imposto é repassado aos cofres públicos – consequentemente, não perfazendo
faturamento.
O debate sobre a matéria, que já perdura há mais de vinte anos, tornou a ganhar relevância
com a interposição do Recurso Extraordinário nº 574.706/PR, em que a União, na qualidade de
parte recorrida, asseverou que a incidência do ICMS sobre o PIS e a COFINS se justifica pela
aplicabilidade das Súmulas nº 68 e 94, ambas do Superior Tribunal de Justiça31, bem como pela
tese de que o valor do ICMS, ao compor o preço das mercadorias e serviços oferecidos pelas
pessoas jurídicas, integra sua receita bruta.
30
“Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante
recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições
sociais: I – dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro”.
31
Súmula nº 68/STJ: “A parcela relativa ao ICM inclui-se na base de cálculo do Pis”. Súmula nº 94/STJ: “A parcela relativa ao ICMS
inclui-se na base de cálculo do Finsocial”.
109
3.2.2.3 Programa de Integração Social (PIS) e Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP)
Público), criadas pela Lei Complementar nº 08/1970, seguem as regras aplicáveis à Contribuição
Financiamento da Seguridade Social, sendo por muitas vezes confundidos e incluídos na mesma
O artigo 239 da Constituição Federal de 1988, com a redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103/2019, vincula ainda mais a destinação do produto arrecadado,
Para fins de definição da regra-matriz desses tributos, Eduardo Sabbag (2017) diferencia
três tipos de contribuição ao PIS/PASEP, de acordo com o contribuinte:
PIS/PASEP devidos pelas pessoas jurídicas e equiparados: têm como fato gerador e
base de cálculo o faturamento mensal;
PIS/PASEP devidos pelas entidades sem fins lucrativos: têm como fato gerador o
pagamento de verba salarial, e como base de cálculo a folha de pagamento;
PIS/PASEP devidos pelas pessoas jurídicas de direito público: têm como fato gerador
a arrecadação de receitas ou transferências correntes e de receitas de capital, e como
base de cálculo o valor das receitas ou transferências correntes e de receitas de
capital recebidas.
Não ofende o art. 173, § 1º, II, da Constituição Federal a escolha legislativa de reputar
não equivalente a situação das empresas privadas com relação às sociedades de economia mista,
110
às empresas públicas e suas respectivas subsidiárias exploradoras de atividade econômica, para
fins de submissão ao regime tributário das contribuições para o Programa de Integração Social
(PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP), à luz dos
Instituída pela Lei nº 7.689/1988, é um tributo federal destinado ao financiamento dos três
pilares da Seguridade Social (art. 1º). Tem como fato gerador o auferimento de lucro, ex vi do
artigo 195, inciso I, “c”, da Constituição Federal de 1988. As normas aplicáveis à CSLL no que
tange a apuração e pagamento são iguais às fixadas para o Imposto de Renda das Pessoas
Jurídicas – IRPJ.
32
STF. Plenário. RE 577494/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/12/2018 (repercussão geral) (Info 927).
33
STF. Plenário. RE 211446 ED-ED/GO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2018 (Info 916).
111
A base de cálculo do Imposto de Renda é o montante, real, arbitrado ou presumido, da renda
ou dos proventos tributáveis, ex vi do art. 44 do CTN. À diferenciação dos termos previstos nesse
dispositivo, socorre-se à explicação de Ricardo Alexandre (2017, p. 662), assim sintetizada:
De acordo com a doutrina majoritária, para se instituir uma CIDE – que tem função
extrafiscal –, a União deve delimitar o domínio econômico em que vai atuar, justificar sua atuação
e, a partir das razões apresentadas, traçar uma finalidade ao produto da arrecadação. É
importante frisar, ainda, que os sujeitos passivos da contribuição precisam estar atrelados ao
setor econômico atingido34. Entendido? Sigamos.
34
Vide questão 10
112
o Na importação, a pessoa natural destinatária das operações de importação
poderá ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da lei (§ 3º do art. 149 da
CF/1988).
tributos.
importação de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível
(CIDE-Combustíveis). Insta salientar que o § 4º do art. 177 da CF/1988 elenca alguns requisitos
a serem observados pela lei instituidora de CIDE-Combustíveis, essa é a única CIDE cujos fatos
geradores encontram arrimo no Texto Constitucional):
O produto da arrecadação deve ser destinado a três finalidades, quais sejam (inciso
II):
113
o O pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás
natural e seus derivados e derivados de petróleo;
114
intervenção no domínio econômico -, entendeu-se ser inexigível a vinculação direta do
contribuinte ou a possibilidade de que ele se beneficie com a aplicação dos recursos por
ela arrecadados, mas sim a observância dos princípios gerais da atividade econômica (grifo
nosso) (STF, RE 389016/SC AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado
em 30/06/2004, DJ 13/08/2004).
de intervenção. (AI 713.780-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, Dje 25.6.2010).
Em uma questão discursiva, seria interessante discorrer sobre as diferentes posições dos
Tribunais, alegando que a jurisprudência preponderantemente classifica as contribuições
relativas ao Sistema S como sociais gerais, ressalvado o entendimento prolatado pelo STF em
2004, em que a Corte incluiu a contribuição ao SEBRAE entre as CIDE.
De outro lado, em questões objetivas, é possível que o candidato se depare com ambos
os posicionamentos, sendo improvável que o examinador confronte uma à outra em uma única
alternativa. Entretanto, é importante lembrar que os Tribunais entendem de forma pacífica que
as contribuições sobre serviços autônomos, apesar de garantirem o interesse de determinadas
categorias econômicas, não constituem contribuições corporativas.
Vale ressaltar que as entidades dos serviços sociais autônomos não possuem legitimidade
passiva nas ações judiciais em que se discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte e
a União e a repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas. Os serviços sociais são
meros destinatários de subvenção econômica e, como pessoas jurídicas de direito privado, não
115
a ponto de justificar a ocorrência de litisconsórcio com a União. O interesse dos serviços sociais
35
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/04/2019.
116
Pública [...] (STF, RE 999.557/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/06/2018, DJe
18/06/2018).
De todo modo, com a devida ressalva quanto à OAB, merecem destaque essas
contribuições corporativas para o custeio das entidades de fiscalização do exercício de profissões
regulamentadas.
Ricardo Alexandre (2017, p. 106) ensina que determinadas atividades profissionais são de
notório interesse público, o que legitima a possibilidade de o Estado criar tributos destinados
às instituições descentralizadas responsáveis por fiscalizá-las. Vê-se aqui uma clara manifestação
da parafiscalidade.
1.404.796/SP. Paradigma do Tema Repetitivo 696, o Superior Tribunal de Justiça fixou a tese
de que essa regra é inaplicável às execuções já em curso no momento de entrada em vigor
dessa lei:
117
serão atingidos. 5. Para que a nova lei produza efeitos retroativos é necessária a previsão
expressa nesse sentido. O art. 8º da Lei nº 12.514/11, que trata das contribuições devidas
aos conselhos profissionais em geral, determina que "Os Conselhos não executarão
judicialmente dívidas referentes a anuidades inferiores a 4 (quatro) vezes o valor cobrado
anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente". O referido dispositivo legal somente
faz referência às execuções que serão propostas no futuro pelos conselhos profissionais,
não estabelecendo critérios acerca das execuções já em curso no momento de entrada
em vigor da nova lei. Dessa forma, como a Lei nº 12.514/11 entrou em vigor na data de
sua publicação (31.10.2011), e a execução fiscal em análise foi ajuizada em 15.9.2010, este
ato processual (de propositura da demanda) não pode ser atingido por nova lei que impõe
limitação de anuidades para o ajuizamento da execução fiscal [...] (STJ, REsp 1.404.796/SP,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 26/03/2014, DJe
09/04/2014).
profissões regulamentadas a competência de fixar ou majorar, sem parâmetro legal, o valor das
contribuições de interesse das categorias profissionais e econômicas. Em igual sentido, é
irregular a atualização das anuidades pelos conselhos em percentual superior aos índices
legalmente previstos:
118
de fiscalização de profissões regulamentadas realizar atualização monetária em patamares
superiores aos permitidos em lei, sob pena de ofensa ao art. 150, I, da CF/88 [...] (STF, RE
704.292/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 19/10/2016, DJe
03/08/2017).
Outro exemplo usualmente adotado pela doutrina era o das contribuições sindicais. Não
obstante, com a Reforma Trabalhista, estabelecida pela Lei nº 13.467/2017, houve uma alteração
nos artigos 578 e 579 da CLT, que passaram a exigir prévia e expressa autorização dos filiados
para o desconto dessas contribuições.
119
final do dispositivo deixa claro que a contribuição sindical, na forma da lei, é subsidiária
como fonte de custeio em relação à contribuição confederativa, instituída em assembleia
gera [...] (STF, ADI 5.794/DF, Rel. Min. Edson Fachin, Rel. p/ Acórdão: Min. Luiz Fux,
Tribunal Pleno, julgado em 29/06/2018, DJe 23/04/2019) (Info 908).
Haja vista que a compulsoriedade é aspecto essencial à definição de tributo, pode-se dizer que a
Enfim, vale ressaltar que nenhuma dessas contribuições se confunde com a contribuição
confederativa (art. 8º, inciso IV, in fine, da CF/1988), que jamais possuiu natureza de tributo,
Art. 8º, inciso IV, da CF/1988: “a assembleia geral fixará a contribuição que, em se
tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema
confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da
contribuição prevista em lei”;
Súmula Vinculante nº 40/STF: “a contribuição confederativa de que trata o art. 8º,
IV, da Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo”.
120
De acordo com o parágrafo único do art. 149-A da CF/1988, ao Poder Público é lícito
inserir o valor da contribuição diretamente na fatura de consumo de energia elétrica, a fim de
facilitar sua cobrança e arrecadação.
121
QUADRO SINÓTICO
EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS
122
intervenção no domínio econômico (CIDE); (3)
corporativas; (4) de custeio do serviço de iluminação
pública (COSIP).
Em regra, a competência é da União. Há duas
exceções: (1) as contribuições para o custeio do regime
previdenciário dos servidores públicos federais,
estaduais e municipais competem à União, Estados e
Municípios, respectivamente - o DF detém competência
tributária cumulativa (Estados e Municípios). Art. 149, §
1º, da CF; (2) as contribuições para o custeio do serviço
de iluminação pública se enquadram no campo de
competência dos Municípios e Distrito Federal. Art. 149-
A, caput, da CF.
Tributo afetado. Quanto ao fato gerador, as
contribuições sociais são indiretamente vinculadas, e
as demais não têm vinculação.
Em regra, dependem de lei ordinária. Exceção:
contribuição residual, que depende de lei
complementar.
Em regra, as contribuições ficam submetidas às
anterioridades tributárias. Novamente, há exceções: (1)
o CIDE-Combustível não se sujeita à anterioridade anual
para fins de redução e restabelecimento de alíquotas
(art. 177, § 4º, I, “b”, da CF); (2) as contribuições de
seguridade social não se sujeitam à anterioridade anual
(art. 195, § 6º, da CF).
123
prognósticos; (4) importador ou legalmente
equiparado.
o Alíquotas diferenciadas em razão da atividade
econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do
porte da empresa ou da condição estrutural do
mercado de trabalho. É possível a diferenciação de
bases de cálculo em contribuições devidas sobre
faturamento, receita ou lucro, mas nunca sobre folha de
salário ou rendimentos de trabalho.
o Sujeição à noventena, mas exceção à
anterioridade anual. Art. 195, § 6º, da CF.
o Imunidade às entidades beneficentes de
assistência social. § 7º do art. 195 da CF.
o Dependem de lei ordinária.
Contribuições sociais residuais:
o Dependem de lei complementar.
o Não incidem sobre receitas decorrentes de
exportação.
o Suas alíquotas podem ser: (1) ad valorem, tendo
por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da
operação. No caso da importação, a base sempre é o
valor aduaneiro. Art. 149, III, “a”, da CF; (2) específicas,
tendo por base a unidade de medida adotada. Art. 149,
III, “b”, da CF.
EC pode instituir contribuição social com vinculação
de apenas parte do produto da arrecadação.
Jurisprudência do STF.
CPP, COFINS, PIS/PASEP e CSLL.
Tributos extrafiscais.
Dependem de lei ordinária.
Não incidem sobre receitas decorrentes de
Contribuições de intervenção no domínio exportação (não confundir com a importação, em que
124
tendo por base a unidade de medida adotada. Art. 149,
III, “b”, da CF.
CIDE-Combustíveis (art. 177, § 4º, da CF):
o A alíquota pode ser diferenciada por produto ou
uso, e sua redução ou restabelecimento podem ser
feitos por ato do Poder Executivo (exceção à legalidade
tributária), sem sujeição à anterioridade anual (inciso I);
o O produto da arrecadação deve ser destinado a
três finalidades, quais sejam (inciso II): (1) o pagamento
de subsídios a preços ou transporte de álcool
combustível, gás natural e seus derivados e derivados
de petróleo; (2) o financiamento de projetos ambientais
relacionados com a indústria do petróleo e do
gás; (3) o financiamento de programas de
infraestrutura de transportes.
São contribuições destinadas a garantir o interesse
de uma categoria profissional ou econômica. Exemplos:
anuidades devidas a entidades de classe, como CRM,
CREA e CRP, entre outros.
As contribuições devidas à OAB não são consideradas
tributos. Jurisprudência do STF e STJ.
Aos Conselhos é vedada a execução judicial de
dívidas referentes a anuidades inferiores a 04 (quatro)
vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou
jurídica inadimplente (art. 8º da Lei nº 12.514/2011).
Contribuições corporativas
Essa regra é inaplicável às execuções já em curso no
momento de entrada em vigor dessa lei. Jurisprudência
do STJ.
Inconstitucionalidade da lei que delega aos conselhos
de fiscalização de profissões regulamentadas a
competência de fixar ou majorar, sem parâmetro legal,
o valor das contribuições de interesse das categorias
profissionais e econômicas. Em igual sentido, é irregular
a atualização das anuidades pelos conselhos em
percentual superior aos índices legalmente previstos.
Jurisprudência do STF.
125
Contribuições sindicais e confederativas não são
tributos. Jurisprudência do STF e Súmula Vinculante nº
40/STF.
Surgiu para substituir a Taxa de Iluminação Pública
(TIP), que foi rechaçada pela Súmula Vinculante nº
41/STF.
Sua instituição compete aos Municípios (e ao Distrito
Contribuições de custeio do serviço de
Federal, que detém competência cumulativa).
iluminação pública (COSIP)
Pode ser inserida diretamente na fatura de consumo
de energia elétrica, a fim de facilitar sua cobrança e
arrecadação. Art. 149-A, parágrafo único, da CF.
126
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(VUNESP - 2018 - TJ-SP - Juiz Substituto) Com relação às contribuições sociais, pode-se
afirmar:
arrecadação.
B) de acordo com o entendimento do STF, a lei pode instituir contribuição social com a
C) têm natureza parafiscal e a elas não se aplicam as normas gerais de direito tributário.
Comentário:
CF.
Questão 2
(FCC - 2019 - TRF - 3ª REGIÃO) O Código Tributário Nacional define tributo como toda
prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
127
A) que a natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva
obrigação, sendo que, para qualificá-la, há necessidade de se levar em conta sua denominação
e demais características formais previstas em lei, bem como a destinação legal do produto da
sua arrecadação.
C) que as taxas têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização,
efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto
à sua disposição.
D) que a taxa pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a
imposto, podendo ser calculada em função do capital das empresas.
E) que somente os Municípios podem instituir contribuição de melhoria para fazer face ao custo
de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite individual a despesa
realizada e como limite total o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel
beneficiado.
Comentário:
Para responder essa questão você precisa ter conhecimento acerca de algumas definições
previstas no CTN.
A assertiva A está incorreta. Nos termos do art. 4º e seus incisos, CTN, a denominação e a
Incorreta também a assertiva B. O art. 5º do CTN prevê como espécies tributárias apenas os
A letra C é o gabarito da questão posto que está em harmonia com a definição de taxa
Questão 3
(CESPE - 2017 - DPU - Defensor Público Federal) A respeito das espécies tributárias existentes
No cálculo do valor de determinada taxa, pode haver elementos da base de cálculo de algum
imposto, desde que não haja total identidade entre uma base e outra.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
A afirmativa está correta. A Constituição da República determina em seu art. 145, § 2º que: "§
Essa regra, porém, é ressalvada pela Súmula Vinculante 29 que assim preceitua: "É constitucional
Questão 4
(CESPE – 2019) Acerca do disposto pelo Sistema Tributário Nacional, julgue o item seguinte,
129
dada a urgência do investimento público, não se sujeitam à anterioridade do exercício financeiro
e à anterioridade nonagesimal.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comentário:
O item está errado, pois o empréstimo compulsório destinado a investimento público de caráter
urgente e de relevante interesse social está sujeito a ambas as anterioridades. A cobrança
imediata do tributo é possível apenas na hipótese estampada no inciso I do art. 148 da CF/1988,
Questão 5
(FCC - 2019 - TRF - 4ª REGIÃO) Conforme Código Tributário Nacional (CTN), que estabelece
normas gerais de direito tributário,
C) imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador qualquer atividade do poder público
em prol do sujeito passivo e que não constitua sanção de ato ilícito.
D) contribuição de melhoria pode ser cobrada pelos Estados e pelo Distrito Federal, para fazer
face ao custo de obras de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total o
130
acréscimo de valor, que da obra resultar, para cada imóvel beneficiado, ou um décimo do valor
do imóvel após a obra.
E) as taxas podem ser cobradas pelos Municípios, Distrito Federal e Estados e têm como fato
Comentário:
O Examinador exige conhecimento acerca da letra do CTN para responder a este quesito.
A letra A é o gabarito da questão. Trata-se de transcrição do art. 4º, incisos I e II, CTN.
Incorreta a letra B, posto que distorce a definição de tributo, que está prevista no art. 3º, CTN.
Letra C incorreta. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
Errada também a assertiva D. Nos termos do art. 81, CTN, o limite total é o custo da obra
pública.
Por fim, incorreta a assertiva E. Os serviços que podem ser cobrados por meio de taxa devem
ser específicos e divisíveis, nos termos do art. 77, CTN.
Questão 6
(UFPR - 2020) O Município Alpha decidiu instituir uma taxa como contraprestação ao serviço
do tributo, bem como hipóteses de isenção e não incidência. Nas disposições referentes à
alíquota, contudo, a lei limitava-se a estabelecer o percentual máximo que poderia ser cobrado
pelo Município. Sobre a situação hipotética descrita acima, assinale a alternativa correta.
131
A) O serviço descrito não pode ser remunerado mediante taxa, por não se tratar de serviço
B) Essa lei não viola a legalidade tributária, pois, ao prescrever o percentual máximo que poderia
ser cobrado pelo Município, ela possibilita a ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em
proporção razoável aos custos da atuação estatal.
C) Apenas os critérios material e subjetivo da regra matriz de incidência das taxas precisam
figurar em lei.
D) O Município não detém competência para exercer o serviço mencionado, logo, a taxa em
comento é inconstitucional.
E) A base de cálculo do referido tributo não pode contemplar elemento(s) da base de cálculo
Comentário:
Correta a letra B. A Súmula 157 do STJ trazia a seguinte redação: “É ilegítima a cobrança de
de fixar o valor do tributo em proporção razoável com os custos da atuação estatal. Teto
prescrito em lei. Diálogo com o regulamento em termos de subordinação, de desenvolvimento
lei autorizadora, em todo caso, deve ser legitimamente justificada e o diálogo com o
regulamento deve-se dar em termos de subordinação, desenvolvimento e complementariedade..
momento, por decisão do Congresso; b) o Congresso fixa standards ou padrões que limitam a
ação do delegado; c) razoabilidade da delegação”. 3. A razão autorizadora da delegação dessa
quantitativo da taxa, visando encontrar, com maior grau de proximidade (quando comparado
com o legislador), a razoável equivalência do valor da exação com os custos que ela pretende
ressarcir. [...] 7. Em suma, o art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 6.994/82 estabeleceu diálogo com
o regulamento em termos de subordinação (ao prescrever o teto legal da taxa referente à ART),
cobrada em razão do exercício do poder de polícia). O Poder Legislativo não está abdicando de
sua competência de legislar sobre a matéria tributária. A qualquer momento, pode o Parlamento
deliberar de maneira diversa, firmando novos critérios políticos ou outros paradigmas a serem
Errada a letra D. A competência para instituição das taxas é comum, decorrendo das
competências administrativas dos entes federativos, que promovem atuação estatal específica
133
Errado o que se afirma na assertiva E. STF – Súmula Vinculante 29 – “É constitucional a adoção
Questão 7
(Instituto Consulplan - 2019 - TJ-CE - Juiz Leigo) Encontra-se em discussão, no âmbito dos
temas em repercussão geral no Supremo Tribunal Federal, a constitucionalidade da cobrança de
taxa pela utilização potencial do serviço de extinção de incêndio. Sob a perspectiva da
Constituição Federal vigente, um dos argumentos que justificariam a inconstitucionalidade do
referido tributo é:
D) Competência exclusiva da União para instituir taxa relativa ao serviço público de combate a
incêndio.
Comentário:
Essa questão pode ser respondida com posição jurisprudencial da Suprema Corte a seguir
segurança pública é atividade essencial do Estado e, por isso, é sustentada por meio de impostos
(e não por taxa). Desse modo, não é possível que, a pretexto de prevenir sinistro relativo a
incêndio, o Município venha a se substituir ao Estado, com a criação de tributo sob o rótulo de
134
taxa. Tese fixada pelo STF: “A segurança pública, presentes a prevenção e o combate a incêndios,
faz-se, no campo da atividade precípua, pela unidade da Federação, e, porque serviço essencial,
tem como a viabilizá-la a arrecadação de impostos, não cabendo ao Município a criação de taxa
para tal fim.” STF. Plenário. RE 643247/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 1º/8/2017
(repercussão geral) (Info 871).
Questão 8
A) pela União, por meio de medida provisória, devendo o seu produto ser compartilhado com
estados e municípios.
B) pela União, mediante lei complementar, nas hipóteses autorizadas pela Constituição Federal.
C) pela União, mediante lei ordinária, nas hpóteses autorizadas pelo Código Tributário Nacional.
D) por todos os entes da federação, por meio de lei ordinária, desde que respeitem a não
cumulatividade.
Comentário:
A assertiva B é o gabarito da questão que pode ser respondida com base no texto da
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I -
135
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será
Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no
artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo
próprios dos discriminados nesta Constituição; II - na iminência ou no caso de guerra externa,
Questão 9
(VUNESP - 2020) A respeito das contribuições em matéria tributária, é correto afirmar que
instituidor.
Comentário:
136
Letra B é o gabarito da questão. Nos termos do art. 149, §2º, I, CF, as contribuições sociais
Errado o previsto na assertiva C, Nos termos do art. 149, §2º, III, a e b, CF, as alíquotas podem
Letra D incorreta. Nos termos do art. 195, §6º, CF, as contribuições previdenciárias devem
Incorreta, por fim, a letra E. A instituição de tributos em geral deve ser feita por lei ordinária. Há
algumas exceções, como por exemplo os empréstimos compulsórios (art. 148, CF). No entanto,
não há previsão específica para as contribuições, motivo pelo qual podem ser instituídas por lei
ordinária.
Questão 10
profissional.
Comentário:
137
A assertiva A está correta, sendo o gabarito da questão. Nos termos do art. 149, CF, as
Incorreta a letra B posto que segundo o art. 149, §2º, I, CF essas contribuições não incidem
sobre receitas decorrentes de exportação.
Errada a letra B, conforme art. 149, §2º, II, CF essas contribuições incidem sobre importação de
serviços estrangeiros.
A assertiva C está incorreta, segundo dispõe o art. 149, §2º, III, CF as alíquotas também podem
ser específicas, e não apenas ad valorem.
são espécies tributárias. Por esse motivo devem observar o Art. 150, II, CF, que trata da isonomia
tributária e proíbe qualquer distinção em razão de ocupação profissional.
138
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - C
Questão 3 - Certo
Questão 4 - Errado
Questão 5 - A
Questão 6 - B
Questão 7 - A
Questão 8 - Certo
Questão 9 - B
Questão 10 - A
139
QUESTÃO DESAFIO
140
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
Princípio da anualidade
Sendo a taxa um tributo, sua prestação é pecuniária compulsória, conforme art. 79, I, a e
b do Código Tributário Nacional. Tal previsão permite a cobrança de taxa pela efetiva ou
potencial utilização do serviço.
Entre os diversos julgados sobre o assunto, se destaca: "Taxa e preço público diferem
quanto à compulsoriedade de seu pagamento. A taxa é cobrada em razão de uma obrigação
legal enquanto o preço público é de pagamento facultativo por quem pretende se beneficiar
de um serviço prestado.” (STF, Plenário, RE 556.854/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, Julgamento em
30/06/2011).
Apesar das taxas e preços públicos, previstos no art. 145, II e art. 175, parágrafo único, III
da CF, respectivamente, terem caráter contraprestacional, remunerando uma atividade prestada
pelo Estado e haver a exigência de referibilidade para ambas, as semelhanças se esgotam nesses
pontos.
141
Direito Privado. É válido lembrar também que nesse caso é comum o sujeito ativo ser uma
pessoa jurídica de direito privado, como sempre ocorre nos serviços públicos delegados.
provas, como sinônimo de preço público): são receitas originárias, provenientes da atuação do
Estado ou de terceiros (concessionárias de serviços públicos, por exemplo), quando da
142
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Código Tributário Nacional: arts. 3º, 4º, 5º, 11, 10 e 9º, incisos I e III
Lei nº 4320/1964: art. 9
Nestes aspectos iniciais e introdutórios, para além dos ensinamentos doutrinários, é importante que você
conheça as citadas disposições do Código Tributário Nacional e da Lei nº 4320/1964, a Lei de Normas
Gerais de Direito Financeiro.
TAXAS
No tópico referente às taxas, é fundamental que você tenha pleno conhecimento das disposições
constitucionais sobre o tema, bem como as bases trazidas pelo CTN e da jurisprudência sumulada acima
compilada.
143
CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA
Código Tributário Nacional: 81; 82; 163, inciso II; 177, inciso I.
Constituição Federal: 5º, inciso XXIV; 145, inciso III; 150, inciso III, “b” e “c”.
Decreto-Lei nº 195/1967: 1º; 2º; 3º; 5º; 9º.
Decreto-Lei nº 3.365/1941: 27.
EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS
CONTRIBUIÇÕES
144
JURISPRUDÊNCIA
Informativo 962, STF: É inconstitucional lei estadual que cria taxa de fiscalização da exploração de
recursos hídricos na qual o valor cobrado é muito superior em relação ao custo da atividade
estatal relacionada.
Comentário:
Lei do Estado do Amapá, que instituiu a Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de
Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos (TFRH) foi declarada inconstitucional pelo STF. A Associação
Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica – APINE ajuizou ação direta de inconstitucionalidade
contra esta Lei alegando inconstitucionalidade material posto que a lei criou “imposto travestido de taxa”, já que
não houve indicação de ação estatal concreta correspondente ao exercício regular do poder de polícia, o que
justificaria a exigência de taxa e também que o valor cobrado é excessivo e que configura confisco. A Corte
entendeu pela inconstitucionalidade material. Como você já sabe, a taxa possui caráter contraprestacional e
sinalagmático, isto é, necessariamente está ligada à execução efetiva ou potencial de um serviço público específico
ou o exercício regular do poder de polícia. No caso, se comprovou o caráter arrecadatório da taxa e, ao onerar
excessivamente as empresas que exploram recursos hídricos, ela adquiriu feições confiscatórias.
(STF, RE 789.218/MG RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/04/2014, DJe 01/08/2014).
EMENTA TRIBUTÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. RATIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA. TAXA DE
EXPEDIENTE. FATO GERADOR. EMISSÃO DE GUIA PARA PAGAMENTO DE TRIBUTO. AUSÊNCIA DOS
CRITÉRIOS EXIGIDOS PELO ART. 145, II, CF/88. INCONSTITUCIONALIDADE. 1. A emissão de guia de
recolhimento de tributos é de interesse exclusivo da Administração, sendo mero instrumento de
arrecadação, não envolvendo a prestação de um serviço público ao contribuinte. 2. Possui repercussão
geral a questão constitucional suscitada no apelo extremo. Ratifica-se, no caso, a jurisprudência da
Corte consolidada no sentido de ser inconstitucional a instituição e a cobrança de taxas por emissão
ou remessa de carnês/guias de recolhimento de tributos. Precedente do Plenário da Corte: Rp nº 903,
Rel. Min. Thompson Flores, DJ de 28/6/74. 3. Recurso extraordinário do qual se conhece, mas ao qual,
no mérito, se nega provimento
Comentário:
A jurisprudência vem considerando as custas processuais – entenda-se como a soma das custas, taxa judiciária e
emolumentos – como taxas de serviço. Para que haja sua cobrança, é imprescindível a razoabilidade entre o serviço
exigido e o valor a ser pago pelo contribuinte, sob pena de ofensa aos princípios da vedação ao confisco e do
145
acesso à jurisdição. Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal entendeu, no julgamento do julgado agora
comentado, paradigma do Tema 721 de Repercussão Geral, que a emissão de carnê ou guia de recolhimento de
tributos é ato de mero expediente, não configurando prestação de serviços por parte do Poder Público. Assim, é
inconstitucional sua taxação. Preste atenção! Não se deve olvidar que é inconstitucional a exigência de taxas
relativas a serviços considerados pela Carta Magna como públicos, gratuitos e essenciais (exemplos: saúde,
educação e segurança pública).
(STJ, REsp 1.698.570/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 21/11/2017,
DJe 19/12/2017).
Ainda que afastasse tais óbices, ressalto ser cediço que o fato gerador do tributo em análise é a
valorização imobiliária decorrente da obra pública, a qual deve ser comprovada, não se podendo falar
nem mesmo em presunção. 3. Assim, não existindo prova da efetiva valorização imobiliária decorrente
de obra pública, e levando-se em conta que a valorização não pode ser presumida, não cabe a cobrança
da Contribuição de Melhoria.
Comentário:
Considera-se ocorrido o fato gerador no momento em que verificada a valorização imobiliária, sendo imprescindível
ao lançamento, portanto, que a obra de melhoramento esteja finalizada ou, pelo menos, realizada em parte
suficiente para justificar a exigência. Logo, a contribuição de melhoria não pode ser cobrada para a realização de
obras futuras. Nada impede, entretanto, a publicação do edital de cobrança de obras públicas ainda em fase de
execução. Inteligência, respectivamente, dos arts. 9º e 5º, parágrafo único, ambos do DL nº 195/1967. Como afere-
se da leitura do julgado, essa é a posição do Superior Tribunal de Justiça, que não admite a presunção da valorização
imobiliária.
Comentário:
Na ocasião do julgamento de questão de ordem no Recurso Extraordinário nº 657.321/SP, paradigma do Tema 146
de Repercussão Geral, a Corte fixou a tese de inconstitucionalidade da cobrança de taxa pela limpeza dos
146
logradouros públicos (exemplos: limpeza de bueiros e varrição); a coleta domiciliar de lixo, por outro lado, pode
ser taxada, posto que se trata de serviço específico e divisível.
Esta decisão culminou na edição da Súmula Vinculante nº 19: “a taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços
públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o
artigo 145, II, da Constituição Federal”. O Tribunal adotou posição semelhante ao julgar o Recurso Extraordinário
nº 573.675/SC (Tema 44 de Repercussão Geral), ocasião em que se posicionou pela inconstitucionalidade da taxa
de iluminação pública.
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MAPA MENTAL
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