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4.1.

Noções introdutórias
A possibilidade ou não de as instituições sem fins lucrativos remunerarem seus
dirigentes é, sem dúvida alguma, um dos assuntos de interesse e que gera maiores
incertezas entre as pessoas que, de alguma forma, encontram-se ligadas às entidades
do Terceiro Setor, seja na condição de dirigente, de integrante de algum órgão da
pessoa jurídica, seja na condição de órgão fiscalizador. E, de fato, a matéria não é de
fácil compreensão, uma vez que o seu completo entendimento exige uma análise das
legislações tributária e previdenciária aplicáveis ao contexto e dos títulos e
certificados concedidos pelo poder público, além de outras exigências advindas do
próprio ordenamento jurídico.
Certamente, no seu nascedouro – e, particularmente no Brasil, até duas décadas
atrás – essa questão não despertava maiores questionamentos, em razão da pouca
dimensão ocupada pelo Terceiro Setor, fato este que lhe impunha algumas
características bastante singulares, entre elas a preponderância do voluntariado e do
espírito altruístico, as quais tinham – e ainda hoje o têm – grande repercussão na
forma com que as organizações eram administradas. Porém, à medida que o novo
modelo de Estado e a própria sociedade civil organizada imprimiram uma maior
participação dessas organizações na prestação de serviços de interesse da sociedade,
verificou-se, de pronto, a necessidade de se dar um perfil mais profissional às
entidades integrantes do Terceiro Setor, surgindo daí a questão inerente ao assunto
tratado: a necessidade de que as pessoas jurídicas sem fins lucrativos possam
remunerar os seus administradores.
De fato, quase que como um senso comum, as pessoas ligam a remuneração à
ideia de que as pessoas jurídicas sem fins lucrativos, por terem esta natureza, não
podem possuir em seus quadros empregados contratados para gerir e administrar a
instituição, mediante remuneração. Isso, contudo, é um grande equívoco, tendo em
vista que no direito brasileiro não há – e nunca houve – dispositivo legal que vede o
pagamento de remuneração aos administradores e colaboradores dessas entidades,
desde que observados determinados requisitos e, principalmente, a possibilidade de
se pôr em prática essa medida.
Portanto, a primeira questão que deve ser observada é que a decisão de se
remunerar ou não os dirigentes deve estar expressa no estatuto, ou seja, este
documento deve conter artigo específico prevendo a possibilidade de remuneração
ou, em caso contrário, vedando-a. Essa exigência é obrigatória em razão do que se
afirmou quanto à inexistência de dispositivo legal sobre a matéria; portanto, a norma
estatutária é o referencial a ser observado, sendo certo que a omissão de dispositivo
que contenha norma dessa natureza não permite nenhum pagamento a título de
remuneração. Porém, antes mesmo dessa previsão estatutária, devem os dirigentes
analisar o custo-benefício de se adotar tal medida, uma vez que ela tem repercussão
direta nos benefícios fiscais e nos títulos de que é portadora a pessoa jurídica.
De um modo geral, a legislação tributária, sobretudo a federal, não permitia que
as entidades remunerassem seus dirigentes e fossem beneficiárias de impostos e
contribuições.
Houve nos últimos anos um processo de alteração desta legislação,
principalmente no que tange às formas de parcerias que foram sendo
institucionalizadas, a exemplo da Lei n.º 9.637/1998, da Lei n.º 9.790/1999, da Lei n.º
12.101/2009 e da Lei n.º 13.019/2014, como no aprimoramento da legislação anterior
a Lei n.º 12.868/2013, a Lei n.º 13.151/2015, a Lei n.º 13.204/2015. O que
procuramos a seguir pormenorizar.32

4.2. Organizações Sociais (OS) – Lei n.º 9.637/1998


A Lei n.º 9.637/1998, oriunda da Medida Provisória n.º 1.591, de 09.10.1997 (e
reedições), estabeleceu os requisitos específicos para que entidades privadas, sem
fins lucrativos, se qualifiquem como Organizações Sociais (OS), cujas atividades
sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à
proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde.
Nos termos da Exposição de Motivos n.º 35/1997, as disposições contidas na
Medida Provisória n.º 1.591/1997 estabeleciam as condições de qualificação de
entidades de direito privado como Organizações Sociais, às quais poderia ser
atribuída a realização de atividades sociais, com apoio do Estado, nas áreas por elas
especificadas.
Dentre os requisitos de qualificação das Organizações Sociais contidos na Lei
n.º 9.637/1998, destacam-se aqueles relacionados à remuneração dos dirigentes:

Art. 4.º Para os fins de atendimento dos requisitos de qualificação, devem ser atribuições
privativas do Conselho de Administração, dentre outras:
[...]
V – fixar a remuneração dos membros da diretoria;
[...]
Art. 7.º Na elaboração do contrato de gestão, devem ser observados os princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e, também, os seguintes preceitos:
[...]
II – a estipulação dos limites e critérios para despesa com remuneração e vantagens de qualquer
natureza a serem percebidas pelos dirigentes e empregados das organizações sociais, no exercício
de suas funções.

À época da publicação da Lei n.º 9.637/1998, com base nas disposições legais
acima transcritas, surgiram dúvidas quanto à manutenção das imunidades e/ou
isenções tributárias relacionadas a essas entidades sem fins lucrativos, denominadas
Organizações Sociais, mesmo havendo remuneração dos dirigentes. Dúvidas essas
que serão esclarecidas no item 4.4, a seguir.

4.3. Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP)


– Lei n.º 9.790/1999
A Lei n.º 9.790/1999, oriunda do Projeto de Lei n.º 4.690/1998, estabeleceu os
requisitos específicos para que entidades privadas, sem fins lucrativos, se
qualifiquem como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP),
cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das finalidades previstas no art. 3.º da
referida lei.
Nos termos da Exposição de Motivos n.º 20/1998, as disposições contidas no
Projeto de Lei n.º 4.690/1998 constituíram parâmetros para a elaboração das
propostas de mudança no marco legal do Terceiro Setor, estabelecido em julho de
1997, cuja reformulação resultaria no fortalecimento e na expansão do Terceiro Setor.

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