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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Curso de Graduação em Direito - Noite

ESTUDO DIRIGIDO SOBRE TERCEIRIZAÇÃO E TRABALHO TEMPORÁRIO


LEI 6019/74

Belo Horizonte
2016
0O que é terceirização trabalhista?

Terceirização é a contratação de serviços por meio de empresa, intermediária (interposta)


entre o tomador de serviços e a mão-de-obra, mediante contrato de prestação de serviços. A
relação de emprego se faz entre o trabalhador e a empresa prestadora de serviços, e não
diretamente com o contratante (tomador) destes. 
 
É um procedimento administrativo que possibilita estabelecer um processo gerenciado de
transferência, a terceiros, da atividade-meio da empresa, permitindo a esta concentrar-se na
sua atividade principal.
 

2 – Conceito de atividade-meio e atividade-fim em matéria de terceirização.

Considera-se atividade–meio aquela que dá o suporte para a sociedade empresária,


permitindo desta forma o exercício de sua atividade-fim. Portanto, a atividade-meio
apresenta-se como um serviço necessário para a empresa, mas não é considerada a sua
principal atividade. A atividade-fim, por sua vez, é a principal atividade exercida pela sociedade
empresária. Um exemplo para melhor ilustrar estes conceitos se refere aos Bancos. Como se
sabe, a atividade fim do Banco é o pagamento e recebimento. Para exercer a sua atividade-fim,
o Banco precisa contratar diretamente seus funcionários, uma vez que não é possível a
terceirização destes. Porém, para alcançar e exercer sua atividade-fim, o banco precisa de
serviços como os de segurança, faxina etc; esses serviços (atividade-meio), indispensáveis e
necessários para o exercício atividade-fim, podem ser alvo da terceirização.

3 – Hipóteses em que a terceirização trabalhista é permitida e quando é vedada à luz da


jurisprudência sumulada?

Ao analisar a Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, constata-se que é possível a


terceirização trabalhista no que se refere à atividade – meio, ou seja, aquela atividade que dá
o suporte e a logística necessária do estabelecimento empresarial, possibilitando o exercício
de sua atividade principal, a atividade-fim. A súmula supracitada faz referência em seu inciso III
ao serviço de vigilância, de conservação e limpeza, além de outros serviços especializados
ligados à atividade-meio do empregador.

Dispositivo utilizado:
Súmula N º 331 TST
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE (nova redação do item IV e
inseridos os itens V e VI à redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância
(Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços
especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a
subordinação direta.
4- Consequências da terceirização ilícita. Responsabilidade direta, solidária e subsidiária
do tomador de serviços.

É ilegal a terceirização ligada diretamente ao produto final, ou seja, a atividade-fim.


Isolando a atividade-fim, todas as demais podem ser legalmente terceirizadas.
 
A atividade-fim é a constante no contrato social da empresa, pela qual foi organizada. As
demais funções que nada têm em comum com a atividade-fim são caracterizadas como
acessórias, ou de suporte à atividade principal, as quais podem ser terceirizadas.

As normas sobre terceirização estão contidas na legislação e basicamente disciplinadas


pelo Enunciado TST nº 331:

 
TST Enunciado nº 331
I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-
se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de
trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03-01-74).
II - A contratação irregular de trabalhador, através de empresa interposta, não
gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública Direta,
Indireta ou Fundacional (Art. 37, II, da Constituição da República).
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços
de vigilância (Lei nº 7.102, de 20-06-1983), de conservação e limpeza, bem
como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde
que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador,
implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto
àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das
autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de
economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem
também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993).
(Alterado pela Res. 96/2000, DJ 18.09.2000).

5 – Sua opinião sobre o modelo de terceirização que deve prevalecer na lei a ser editada.

O Projeto de Lei 4.330 de 2004 contém 19 artigos e como afirmado já em seu primeiro
artigo, se propõe a regular o contrato de prestação de serviço e as relações de trabalho dele
decorrentes. Na apresentação dos motivos que justificam a edição da Lei, fica claro a intenção
do legislador em colocar termo à carestia legislativa existente no Brasil, apresentando um
marco regulador da atividade terceirizada de modo a retirar da competência do Poder
Judiciário a regulação das relações de trabalho decorrentes de atividades terceirizadas.
A carência de um marco regulador específico torna a fiscalização por parte de órgãos como
o Ministério do Trabalho menos clara para os não conhecedores da ciência jurídica. E para esta
atividade, o MTE adota como referencial a súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, na
ausência de outro norteador.
Fato corriqueiro e imoral vivenciado pelos operadores do Direito, é a precarização das
relações de trabalho dentro de empresas terceirizadas, que ao descumprirem diuturnamente
os mais básicos direitos trabalhistas, se refugiam no instituto da responsabilidade subsidiária
para transferirem à empresa contratante todo o ônus do ilícito trabalhista praticado.
A constatação dessas situações criou entre empresários e trabalhadores uma situação de
insegurança jurídica nas relações terceirizadas, que justificam a edição de uma Lei com o
propósito de regulamentar a terceirização de atividades empresariais. Uma breve análise do
Projeto de Lei 4.330 nos permite inferir que em apenas dois parágrafos residem o estopim do
que pode ser uma radical mudança de paradigmas no Direito do Trabalho, em especial pela
generalização da terceirização trazida pela possibilidade de que a atividade-fim da empresa
seja objeto de contrato entre a empresa contratante e a empresa prestadora de serviços
Ao que parece, na ânsia de se atender a uma necessária e antiga reivindicação do
empresariado para obtenção de maior segurança jurídica nas relações terceirizadas, o
trabalhador que sempre gozou de proteção especial na legislação desta vez foi esquecido.
Ainda que contenha diversos pontos dignos de nota e que realmente eram necessários ao
ordenamento jurídico trabalhista, o Projeto embora apresenta uma única falha, esta é de
tamanha gravidade que põe em xeque todo o Projeto.
Como dito, a generalização da terceirização pode transformar e tonar desigual a balança
das negociações de categoria, e podemos até mesmo em hipótese extrema cogitar no fim de
categorias, se imaginarmos que, com a permissão legal da contratação de empresa prestadora
de serviço para a realização de tarefas ligadas à atividade-fim da empresa, categorias poderiam
ser suprimidas e substituídas por uma grande e genérica categoria de “prestadores de
serviço”.
É possível dizer que o Projeto de Lei 4330 traz inovações necessárias, mas acima de tudo,
estabelece um novo paradigma e positiva uma generalização perigosa que esvazia toda a
produção doutrinaria e jurisprudencial consolidada sobre o tema após décadas de decisões
judiciais que esgotaram o tema.
Se nos últimos anos vem crescendo o movimento pela relativização de direitos e garantias
trabalhistas e alteração da CLT, o Projeto de Lei 4.330 ocupa papel de destaque, pois consegue
com apenas um único parágrafo, reduzir décadas de avanços e conquistas trabalhistas a letra
morta e sem valor.
Todos sabemos que os direitos e garantias dos trabalhadores terceirizados são
manifestamente inferiores aos dos empregados efetivos, principalmente pelos níveis de
remuneração e contratação significativamente mais modestos. Ou seja, o resultado será o
profundo e rápido rebaixamento do valor social do trabalho na vida econômica e social
brasileira, envolvendo potencialmente milhões de pessoas.

6 – Discorrer em breve síntese sobre o trabalho temporário previsto na lei 6019/74.

Trabalho temporário é aquele prestado por pessoa física a uma empresa, para atender à
necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e permanente ou a acréscimo
extraordinário de serviços (art. 2º da Lei nº 6.019/74). No caso da contratação de
trabalhadores temporários para a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, a hipótese legal é de
“acréscimo extraordinário dos serviços”, principalmente pelos segmentos de hotelaria,
transporte, alimentação e segurança. Diversamente das contratações por prazo determinado
regidas pela CLT, que são diretas, as contratações baseadas na Lei 6019/74 são indiretas, por
intermédio de outra empresa, “cuja atividade consiste em colocar à disposição de outras
empresas, temporariamente, trabalhadores, devidamente qualificados (art. 4º da Lei
6.019/74).” A esse trabalhador, contratado com base na 6019/74, são assegurados os
seguintes direitos: -Remuneração equivalente à percebida pelos empregados de mesma
categoria da empresa tomadora ou cliente, calculados à base horária, garantida, em qualquer
hipótese, a percepção do salário mínimo regional (artigo 12, alínea a, da Lei 6019/74); -
Jornada de 8 horas, com pagamento das horas extras, não excedentes de duas por dia, com o
acréscimo de 50% ou outro percentual mais elevado, se previsto em Convenção Coletiva de
Trabalho ou Acordo Coletivo de Trabalho (artigo 12, alínea b; artigo 7º, incisos XIII e XVI da CF)
- Férias proporcionais (artigo 12, alínea c, da Lei 6019/74); - Repouso semanal remunerado
(artigo 12, alínea d, da Lei 6019/74; artigo 7º, inciso XV, da CF); - Adicional por trabalho
noturno (artigo 12, alínea e, da Lei 6019/74; artigo 7º, inciso IX da CF); - Indenização por
dispensa sem justa causa ou término normal do contrato, correspondente a 1/12 (um doze
avos) do pagamento recebido (artigo 12, alínea f, da Lei 6019/74); - Seguro contra acidente do
trabalho custeado pela empresa de trabalho temporário (artigo 12, alínea g; artigo 7º, inciso
XXVIII, da CF); - Proteção previdenciária. O trabalhador contribui com 8% do salário
efetivamente percebido e a empresa de trabalho temporário com quantia igual à devida pelo
trabalhador (artigo 12, alínea h, da Lei 6019/74). Além dos direitos assegurados pela Lei
6019/74, há outros garantidos pela Constituição Federal ou leis específicas: - FGTS, garantido
pela Lei 8036/90, com direito a saque do respectivo saldo depois de findo o contrato (artigo 7º,
inciso III, da CF) - Adicional por trabalho insalubre (artigo 7º, inciso XXIII da CF) - Adicional por
trabalho em condições de periculosidade (artigo 7º, inciso XXIII da CF) - 13º salário
proporcional (artigo 7º, inciso VIII, da CF) - Licença à gestante (inciso XVIII, art. 7º, da CF); -
Licença-paternidade (artigo 7º, Inciso XIX da CF) Como os contratos regidos pela Lei 6019/74
têm a data do seu término pré-estabelecida, o trabalhador não tem direito a: -Aviso prévio
-Multa de 40% do FGTS - Seguro-desemprego Proibições no trabalho temporário: - Prestação
de trabalho noturno, perigoso ou insalubre por menores de 18 anos e de qualquer trabalho
por menores de 16 anos (inciso XXXIII, art. 7º da Constituição Federal). - Contratação de
estrangeiros com visto de permanência provisório no país. - Cobrar do trabalhador qualquer
importância, mesmo a título de mediação, podendo apenas efetuar descontos previstos em lei.

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