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RESUMO: Smart Contracts são uma nova modalidade de contrato que surge com o Direito Digital.
Este trabalho objetiva uma retomada histórica da evolução das relações contratuais, a função social
para a qual os mesmos se destinam, comparando definições e princípios fornecidos pelos principais
institutos do Código Civil e da doutrina. Também para introduzir o instituto dos Smart Contracts,
figura esta que representa um avanço tecnológico, jurídico e interpessoal, trazendo consigo novas
formas de interação socio-contratual é imprescindível para a compreensão do novo instituto algum
conhecimento básico sobre Blockchain. É preciso ressaltar que este trabalho visa esmiuçar e
desenvolver o tema voltado ao mundo jurídico, não se aprofundando no caráter técnico da redação de
códigos da computação. Ademais, o trabalho compara as definições e princípios fornecidos pelos
principais institutos do Código Civil e da doutrina. Esboçaremos uma perspectiva dos princípios que
aplicar-se-ão aos contratos inteligentes quando os mesmos tiverem maior uso e aplicabilidade em nosso
cotidiano. De igual feita, analisaremos, pormenorizadamente o que são “contratos inteligentes”, como
se diferenciam de meros contratos digitais, tais como os assinados através de tokens e certificados
digitais, e como eles podem ser utilizados para outras aplicações além de transações que se vinculam
às tecnologias Bitcoin e demais criptomoedas. Por fim, elaborar-se-á um esquema comparativo entre
diversas legislações espalhadas pelo globo que fornecerão conceitos e bases para atual e futura
aplicação dos smart contracts em nosso meio, não limitando também a análise de como se dará a
regulamentação e fiscalização dos mesmos.
PALAVRAS-CHAVE: Direito Contratual; Smart Contracts; Direito Digital; Contratos; Blockchain.
ABSTRACT: Smart Contracts are a new type of contract that arises with Digital Law. This work aims
at a historical resumption of the evolution of contractual relations, the social function for which they
are intended, comparing definitions and principles provided by the main institutes of the Civil Code
and doctrine. Also, to introduce the institute of Smart Contracts, a figure that represents a
technological, legal and interpersonal advance, bringing with it new forms of socio- contractual
interaction, some basic knowledge about Blockchain is essential for the understanding of the new
institute. It is worth mentioning that this work seeks to examine and develop the theme having in mind
the legal world, without delving into technical subjects of computer code writing. In addition, in this
work, the definitions and principles given by the Civil Code and doctrine will be treated
comparatively. We will outline a perspective of the principles that will apply to smart contracts when
*
Esse trabalho foi apresentado originalmente pelo primeiro autor como Trabalho de Conclusão do Curso de
Direito da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), orientada pela segunda autora. Em função da
recomendação de publicação dos avaliadores da Mostra de Trabalhos Científicos da UNISANTA, fez-se a
presente versão.
1
Graduando da Faculdade de Direito da Universidade Santa Cecília (UNISANTA).
2
Doutora e Mestre em Direito Econômico pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal.
Pós-Graduada em Direito, área de especialização em Ciências Jurídico-Econômicas, pela Faculdade de Direito
da Universidade de Coimbra, em Portugal. Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu, Mestrado em Direito da Saúde, da Universidade Santa Cecília (UNISANTA). Líder do Grupo de
Pesquisa CMPq/Unisanta de Estudos Comparados em Direito da Saúde. Editora-chefe da Global Health Law
Journal. Advogada.
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they have greater use and applicability in our daily lives. Likewise, we will analyze in detail what
“smart contracts” are, how they differ from mere digital contracts, such as those signed through tokens
and digital certificates, and how they can be applied for other functions in addition to transactions
that are linked to Bitcoin technologies and other cryptocurrencies. Finally, elaborating a comparative
scheme between different laws around the globe that will provide concepts and bases for the current
and future application of smart contracts in our environment, not also limiting the analysis of how they
will be regulated and supervised.
KEYWORDS: Contract Law; Smart Contracts; Digital Law; Contracts; Blockchain.
INTRODUÇÃO
“As ações dos seres humanos são as melhores
intérpretes de seus pensamentos” – John Locke
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O direito dos contratos é espécie do gênero Direito Civil, mais precisamente no ramo
do Direito das Obrigações. Todas estas divisões e devidas subdivisões são tratadas pelo nosso
Código Civil. Miguel Reale denomina o Código Civil como “a constituição do homem
comum” (REALE, 1993, p. 354), pois regulará as relações entre os particulares, credor e
devedor, agentes ativo e passivo, assumindo cada qual seus direitos e obrigações. Mas o que é
obrigação? Podemos dizer que se trata do vínculo bilateral entre credor e devedor, onde um se
compromete positiva ou negativamente com o outro.
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O Direito Civil, recebeu diversas influências com o passar do tempo. Desde a Roma de
Justiniano ao Bürgerliches Gesetzbuch – BGB (Código Civil Alemão). Das teorias de
codificação napoleônicas aos Código Civil de 2002. O Brasil sempre bem recebeu novas teorias
e entendimentos, tanto de juristas nacionais quanto dos internacionais que foram condensados
no atual Código Civil Brasileiro. Neste momento, o estudo abrangerá as perspectivas
contemporâneas das relações jurídicas, contratos e negócios jurídicos.
Ao abordarmos o estudo do Direito Civil moderno, data vênia, devemos limitar o estudo
somente ao que se relaciona ao estudo-foco dos Smart Contracts e sua validade como negócio
jurídico. Não que as demais divisões de nosso ordenamento não nos sejam úteis ou que não
agregam, de forma alguma, todavia, tentar-se-á manter o ritmo compassado, baseado na
evolução histórica e comparativa.
Imprescindível é estudar o Direito Civil sem lembrarmo-nos das lições de Miguel Reale
sobre a teoria tridimensional do Direito que pressupõe que Fato, Valor e Norma devem ser
analisados todos de forma conjunta, não individualmente. Ademais, também entende Reale que
não podemos estudar leis, a norma propriamente dita, sem levarmos em consideração a cultura
que a mesma se submete. Devemos estudar com o seguinte raciocínio: Se há um Fato e sobre
este existe um determinado Valor (moral, econômico, social, etc.), logo, sobre este há de ter
uma Norma.
Pode-se depreender, obviamente, que todas as relações jurídicas se submetem à
aplicação desta teoria. As relações jurídicas, por sua vez, geram também negócios jurídicos.
A compreensão atual do que são os negócios jurídicos é bem exposta pela definição
dada por Flávio Tartuce:
“NEGÓCIO JURÍDICO – Ato jurídico em que há uma composição de
interesses das partes com uma finalidade específica” (TARTUCE, Manual
de Direito Civil, 2020, pág. 346). Da mesma forma, disserta Orlando Gomes,
primeiramente sobre as relações jurídicas, observando também pela ótica da
autonomia privada “é a esfera de liberdade da pessoa que lhe é reservada
para o exercício dos direitos e a formação das relações jurídicas do seu
interesse ou conveniência.”. (GOMES, contratos, pág. 27)
Veja, tal como assim chamado por Miguel Reale, o Código Civil é “A constituição do
homem comum”, isso implica que, excetuando-se as de caráter público, as relações contidas
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são, via de regra, privadas. Desta concepção, inferimos o entendimento de que o atual Código
Civil trata primeiramente das relações bilaterais privadas, sem necessariamente a presença do
Estado, como vimos durante o Corpus Juris Civilis.
Desta feita, observamos a gradação, comparativamente, ao nosso Código atual e o de
Justiniano. O segundo continha pouquíssimas normas reguladoras, os contratos eram em vasta
maioria feitos oralmente. Suas relações jurídicas eram pouco reguladas, por algumas vezes
somente as situações litigiosas eram formalizadas. O primeiro, por sua vez, regula diversas
situações, capacidades e nulidades. Guia as relações jurídicas do homem desde sua concepção
até os efeitos póstumos como os capítulos da sucessão.
Orlando Gomes, mais uma vez disserta sobre os entendimentos atuais de nossas relações
jurídicas e negociais contemporâneas, explanando também sobre as relações à época romana:
Não é no direito romano que se deve buscar a origem histórica da categoria jurídica
que hoje se denomina contrato, pois, segundo Bonfante, era um especial vínculo jurídico
(vinculum juris) em que consistia a obrigação (obligatio), dependendo esta, para ser criada, de
atos solenes (nexum, sponsio, stipulatio).
Outro ponto que ganhou vasta atenção nas atualizações doutrinárias e normativas foram
os contratos. Como principal forma da exteriorização da autonomia das vontades e também
como instrumento para realização dos negócios jurídicos, os contratos que hoje realizamos são
intrínsecos à vida em sociedade. A evolução de uma sociedade traz consigo novidades no
âmbito do Direito. O Código Civil Alemão, que deu vasta inspiração ao nosso atual Código,
tinha como principais valores sociais a boa-fé e a livre contratação. Tais valores são
reproduzidos em nosso ordenamento, além da análise de nosso sistema econômico que é
imensamente mais complexo que o Romano. Assim, comenta Orlando Gomes:
O liberalismo econômico, a idéia basilar de que todos são iguais perante a lei
e devem ser igualmente tratados, e a concepção de que o mercado de capitais
e o mercado de trabalho devem funcionar livremente em condições, todavia,
que favorecem a dominação de uma classe sobre a economia considerada em
seu conjunto permitiram fazer- se do contrato o instrumento jurídico por
excelência da vida econômica.
Assim, podemos observar que com o passar das décadas, a sociedade terá
mudanças das mais diversas escalas trazendo para o Direito diversas novas situações. Algumas
teorias mantêm-se incólumes, pois demonstram um panorama atemporal à matéria, casos como,
ad. gratia, a Tridimensional de Miguel Reale. As relações jurídicas, negócios e contratos
demonstram-se sempre como fruto das atualizações sociais e econômicas de um determinado
povo. Logo, sujeitam-se às diversas variações que estes pontos trazem.
Como já tratamos nos tópicos passados, a evolução do Direito Civil, juntamente com as
relações jurídicas, contratuais, sociais, econômicas e afins, anda de mãos dadas com a evolução
de um determinado povo. Analogamente, se Rousseau entende que o homem é fruto do meio,
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da sociedade e realidade em que este está inserido, podemos correlacionar a ideia de que as
relações jurídicas também são frutos do tempo e do lugar em que são concebidas.
Com os constantes avanços tecnológicos é de se esperar que as relações jurídicas
também tenham seus avanços. Por exemplo: observamos que as relações contratuais de outrora,
onde havia, na maioria das vezes apenas a pactuação oral entre os contratantes, eram também
manutenidas pelos mesmos sujeitos. A presença do Estado era mínima, quiçá presente.
Atualmente, observamos a presença da “observância” do Estado quando, por exemplo, fazemos
o registro público de um determinado bem. No entanto, tratando do exemplo propriamente dito,
hoje países como Japão e Coréia do Sul, Brasil em pouca escala, usam apenas seus aparelhos
celulares para realização de transferências bancárias. Compras no supermercado podem ser
feitas com apenas o “passar” de uma pulseira conectada à conta corrente do sujeito comprador,
enquanto o sujeito devedor precisa, meramente, conferir a autêntica realização da transação.
Em outro cenário, hoje podemos contratar serviços, comprar produtos, realizar
negociações digitalmente. Ressalta-se aqui o atual cenário mundial decorrente da pandemia
causada pela COVID-19. Se por um lado a pandemia fez com que mudássemos todo o sistema
de relações interpessoais de nossa sociedade, por outro, fez com que tivéssemos um “boom” de
atualizações, desenvolvimento e crescimento na demanda por métodos tecnológicos e digitais
para manutenir as relações civis.
O ponto chave que se busca chegar é: a percepção da realidade virtual mudou. A maioria
das empresas que antes não acreditavam na produtividade do home office, hoje faz parte dos
30% que aprova manter o modelo de trabalho após a pandemia, como exposto pela pesquisa
realizada pela FGV. Hoje percebemos que se pode continuar com a rotina à distância. Cursos,
faculdade, pagamento de salários, fusão de empresas, compra de ativos, contratos de transporte
de mercadorias, tudo isso e muito mais já é parte do denominado “novo normal”
Para este trabalho, os Smart Contracts representam o próximo passo para as novas
relações jurídicas. Do pós-pandemia até as próximas décadas.
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Novamente Orlando Gomes (GOMES, 2008, pág. 57)) traz a luz dos ensinamentos
contratuais de que o princípio da força obrigatória é o mesmo que afirmamos que o contrato
faz lei entre as partes.
É sabido que quando elaboramos um contato e em situações muitas vezes alheias à nossa
vontade ou pelo não cumprimento da outra parte, temos que depender da prestação jurisdicional
do Estado para a resolução do conflito. Não obstante, muitas vezes esta forma de solução
litigiosa trará enormes gastos para as partes. Com os contratos inteligentes, a priori, não
teremos que falar na solução por intermédio judiciário, primeiramente pois não há a devida
regulamentação em nosso ordenamento pátrio desse tipo de contrato. Todavia, já existem
casos relacionados ao uso de blockchain e criptoativos que servem como formação de
precedentes jurisprudenciais, doutrinários e até para futura regulamentação legal.
Segundamente, porque através da autoexecução dos contratos inteligentes se uma das
partes falhar ou propositalmente não cumprir com sua parte do combinado a outra não será
lesada, pois o contrato, sabendo por meio dos códigos condicionais, impossibilita, por
exemplo, a transferência de valores inferiores ou superiores ao estipulado, impedirá um fazer
ou não fazer e assim por diante.
2.2.1 Boa-fé
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Tratado em nosso ordenamento no artigo 421 do Código Civil de 2002, a função social
do contrato existe como meio de conservação da igualdade entre os polos na relação pactual,
como limitador da Autonomia das vontades e como método Externo de fiscalização por parte
do interesse público.
Dentro da esfera dos Smart contracts, a função social do contrato ganha enorme peso
pois não existe ainda em nosso ordenamento uma exata regulamentação sobre esse tipo de
forma de contrato.
Todavia, por se tratar de tema principiológico, a função social é exercida nesse meio
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3 SMART CONTRACTS
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criptografa, formalizando um contrato com intuito de “A” fornecer uma determinada quantia e
“B” fornecer um determinado produto.
Na segunda hipótese podemos falar que um Smart Contract pode ser usado para criar
uma obrigação de fazer ou não fazer, onde, depois de criado o Smart Contract “com os termos
adequados e estabelecida um elemento condicional que deve ser alcançada por uma das partes,
executará ação fazer ou não fazer.” (SZABO, 1997)
Por exemplo, o contrato de aluguel de um imóvel onde o locador estabelece que o
locatário deverá, como condição para o uso da casa, pintar as paredes. O contrato, utilizará
informações contidas na rede mundial de computadores e demais fontes de informação
pactuante confirmará e tal condição foi atingida.
Por fim, uma das coisas mais interessantes sobre o instituto dos Smart Contracts é que
não haverá nenhum tipo de intermediário na elaboração do contrato, tanto na fiscalização
contínua quanto no atingimento das cláusulas estabelecidas no mesmo. Em diversos momentos
percebemos no uso dos contratos clássicos, quando não obedecidas as cláusulas de um contrato,
uma das partes lesada invoca a figura do Estado para garantir a execução daquilo que foi
estabelecido. Ou seja, o uso figura Judicial para solução do conflito.
Na implementação desses novos tipos de contrato a figura intermediadora de conflito
deixa de existir pois o contrato inteligente saberá quando uma das cláusulas não foi cumprida,
impedindo, dessa forma e de outras, o prosseguimento do mesmo até sua extinção.
3.1 Definição
Prior à definição de smart contracts propriamente dita é necessária uma breve noção
sobre o funcionamento das denominadas blockchains e distributed ledgers13.
Ambos estão intrinsecamente conectados, pois, podemos compreender a blockchain
como os blocos de informação, dados e criptografia que compõem a “cadeia de distribuição”
das informações inseridas de maneira coletiva pelos usuários deste tipo de tecnologia.
3
Blockchain e distributed ledger (cadeia de blocos e registros distribuídos, respectivamente), são tecnologias
utilizadas conjuntamente aos smart contracts através de códigos de computação.
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Assim como um contrato existe para criar um vínculo obrigacional e jurídico, entre duas
ou mais pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas, quando usamos Smart Contracts, temos em
mente uma nova forma de elaboração contratual. Que possui uma mecânica mais ágil, segura e
direta para execução de uma determinada obrigação pactuada.
A função principal e básica do Smart Contract é fazer com que as cláusulas objetivas
sejam muito mais facilmente executadas, resguardadas e seguras através da codificação em
Blockchain.
Nos princípios referentes aos contratos observamos uma mudança do posicionamento
doutrinário e legislativo onde era mais importante a boa-fé subjetiva do que a objetiva. Após
essa mudança no entendimento, as cláusulas objetivas de um contrato se tornarão mais
importantes do que o caráter meramente subjetivo do mesmo.
Desta feita, um Smart Contract utilizando a tecnologia de blockchain, tem como
principal função ser um contrato em que sejam colocadas todas as cláusulas como seria em um
contrato físico, mas removendo a figura de um terceiro ou intermediário reduzindo o custo, para
elaboração e asseguração do cumprimento do contrato. Além de utilizar a rede mundial de
computadores e as redes conectadas blockchain para garantir segurança, publicidade e o
comprimento pela altura a execução contrato.
Em termos de utilidade, os Smart Contracts abrangem diversas áreas onde suas
funcionalidades podem ser bem utilizadas. Num primeiro momento eles podem ser utilizados
com foco para transações financeiras rápidas sejam elas nacionais ou internacionais.
A longo prazo, com o desenvolvimento e maior utilização de tecnologias relacionadas
a criptomoedas e uso das redes blockchain, transações internacionais poderão ser feitas sobre
uma única moeda, já que moedas digitais como o Bitcoin são aceitos no mundo todo em seu
valor unificado. Essa utilização advém principalmente das evoluções tecnológicas no mercado
financeiro e da globalização propriamente dita.
“Será possível o uso dos Smart contracts fora do sentido contratual, também
como método de registro de transações e de outros tipos de informação,
facilitando o trabalho de auditoria, contabilidade e fiscalização.” (CHAVES,
2020)
Não obstante, poderão ainda ser utilizado como uma forma segura para individualização
do usuário, por exemplo a fim de registrar voto nas eleições, dificultando ou até mesmo
impossibilitando a ocorrência de fraudes na contagem de votos. Ademais, pode se utilizar dessa
tecnologia para evitar interferências nas eleições, como podemos relembrar os escândalos
eleitorais americanos em 2016.
Como explica o desenvolvedor e expert em tecnologia blockchain, Aran Davis, na seara
do registro e individualização do usuário, será possível criar contratos de “plano de saúde com
histórico completo do paciente, não havendo necessidade de realização de novos exames ao
mudar-se a prestadora de serviço.”
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Por fim, vemos que a evolução das formas de negociação principalmente contratuais se
dá junto com o desenvolvimento do comercio e das próprias práticas negociais.
Observamos que os contratos inteligentes não se baseiam em contratos vinculados a
transações de valores, mas também em obrigações de fazer ou não fazer. Sendo possível
também elaborar contrato inteligentes que sejam utilizados com cláusulas dinâmicas que
saberão quando foi adimplida uma obrigação, extinguindo assim a figura intermediadora do
conflito.
Aprendemos de que forma são centralizados os Smart Contracts, através das redes de
blockchain e cadeias distribuídas onde a segurança dada pela forma de encadeamento é
garantida pelo senso de coletividade de cada participante da rede, tornando público, imutável
e autoexecutável o contrato inteligente.
Por último, vimos também alguns exemplos de atividades que podem ser realizadas com
o uso dos devidos contratos inteligentes e de sua correta programação.
Inicialmente, vale destacar que podemos dividir o continente europeu em dois principais
blocos: os países que têm como sistema jurídico a “civil law” e aqueles que usam a “common
law”.
No presente momento, não será analisado as diferenças entre um ou outro, nem como
se distinguem quanto à matéria deste trabalho. Estudar-se-ão as regulamentações gerais da EU
que se aplicam na maioria dos países do bloco, senão em todos.
Em termos de avanços tecnológicos e suas devidas regulamentações cabe dizer que o
continente europeu sempre foi exemplo de novidade e de rápida atualização, como é visto
também na antecedência dos países deste bloco para lidar com questões como leis para proteção
de dados (RGPD) e algumas regulamentações para blockchain.
Outrossim, boa parte do sistema legal europeu adota aquilo que se chama de “tort law”,
sistema esse de punição na esfera civil quando houver dano à uma das partes da relação. Em
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alguns países do bloco, o inadimplemento da obrigação por dolo pode acarretar na prisão civil.
Em verdade, a regulamentação dos contratos inteligentes no continente europeu ainda é
pouquíssima. Existem diversos estudos que analisam a relação contratual entre sujeitos advinda
de um contrato inteligente, mas que de toda feita, não foge à legislação aplicada aos contratos
ordinários.
Em relatório elaborado por Tom Lyons e seus colegas, Ludovic Courcelas e Ken Timsit,
para o European Union Blockchain Observatory and Forum4, é debatido não apenas como seria
a regulamentação e fiscalização dos contratos inteligentes, mas na verdade como seria para as
redes blockchain.
Ora, se um contrato inteligente é uma pequena peça de todo um sistema decentralizado
de dados, seria imensamente mais dificultoso iniciar a análise do micro ao macro.
Portanto, o que se buscar ter como base e estabilidade legal e jurídica na UE seria as
redes em blockchain e as cadeias decentralizadas de informação.
Mais um ponto de estudo que é regulado em alguns países do bloco é a anonimização
do sujeito parte das relações feitas em blockchain. Pois, se teoricamente é impossível saber
quem é um dos polos da relação, como ficaria sua responsabilidade em casos de
inadimplemento?
Uma das soluções apontadas no relatório foi a proposta de futuras leis que
regulamentem e obriguem aos usuários que utilizem tokens de identificação, certificados
digitais ou outro sistema de assinaturas.
“Pois, temos que partir do pressuposto que, por mais que uma das partes da
relação ainda queira permanecer anônima, esta continua realizando o contrato
de boa-fé e não sempre para fins ilícitos. (SZABO, 1997).”
Como bem descrito no excelente artigo An Introduction to Smart Contracts and Their
Potential and Inherent Limitations, publicado no Fórum de Direito de Harvard sobre Governança
Corporativa, os contratos inteligentes também não estão dispostos em nenhum ordenamento
4
Fórum e Observatório Blockchain da União Europeia.
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federal.
Lá, ao contrário do que majoritariamente ocorre em nosso país, cada estado em uma
maior liberdade para regulamentar os assuntos de sua população. Na maioria dos casos, os
contratos inteligentes são tratados como apenas mais um contrato simples. Mas, deve-se atentar
aos requisitos contratuais bem marcados no direito americano.
Oferta, consideração e aceitação. Fases muito bem delimitadas pelo ânimo dos agentes
que realizam um contrato. De certa maneira, se assemelha muito com nosso ordenamento, mas é
de se creditar que os métodos de resolução de litígios advindos da natureza contratual são muito
mais rápidos que a feita pelo judiciário brasileiro.
Em muitos casos, a ausência da mera consideração torna o contrato nulo. De toda forma,
o direito americano também se volta para preocupar-se com questões de funcionamento e
aplicabilidade digital dos contratos.
A Lei de Transações Eletrônicas Uniformes (UETA) define que uma transação
automatizada é aquela realizada no todo ou em parte, de alguma forma ou meio eletrônico. Desta
forma, englobando também os contratos inteligentes.
Não obstante, a seção 3 do mesmo ato também estabelece o escopo e abrangência da
fiscalização que podem ser feitas nas transações eletrônicas, abarcando e considerando como tal
aquelas que contenham assinaturas digitais.
A mesma lei é uma das mais aplicadas em todos os estados, sendo aplicada em 47 dos 50
estados americanos.
Por fim, no mesmo artigo, erguem-se questionamentos sobre a aplicação geral dos
contratos inteligentes nas próximas décadas, se tornando algo mais acessível para aqueles que
não conhecem tanto de programação ou contratos especificamente.
Narra o artigo que os contratos inteligentes são julgados não somente no que está escrito
e descrito neles, mas sim aquilo que está contido em seu código, que é sem dúvidas a pedra
fundamental para a criação desse método contratual.
4.3 Brasil
Diferentemente dos outros ordenamentos supra estudados, as leis brasileiras por mais que
não dissertem em nenhum lugar sobre como serão regulados os contratos inteligentes ou de quais
maneiras serão julgados os seus termos e códigos, apresenta uma diferença facilitadora em
relação aos outros países. Justamente, a ausência de regulamentação.
Isso acontece porquê dentro dos nossos pressupostos contratuais, um deles não é a
necessidade de uma forma rígida para a elaboração do mesmo (salvo hipóteses defesas em lei).
Em parte, isso acontece pelas origens de nossa base legal. pelas tradições orais que
carregamos em nosso modo de vida e pelo jeito informal de nosso cotidiano.
Não obstante, é árduo lidar de um tema tão pouco explorado em nosso meio jurídico, mas
que tem tamanha possibilidade de análise. Temos o crescimento recente das áreas relacionadas
ao Direito Digital, mas ainda desta feita é difícil encontrar profissionais que lidem com a
temática do presente artigo.
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CONCLUSÃO
Vimos o quão dinâmicas podem ser as novas tecnologias trazidas pelos Smart
Contracts. Observamos que se trata de uma nova modalidade contratual que aparece
conjuntamente ao Direito Digital.
Este trabalho objetivou uma análise histórica da evolução das relações contratuais, a
função social desempenhada pelos diversos tipos de contrato e que sofreram alterações ao
passar dos milênios.
Estudamos definições e princípios fornecidos pelos principais institutos do Código
Civil e da doutrina.
Também pudemos acompanhar a introdução do instituto dos Smart Contracts.
Desenhamos um esboço para apresentação inicial ao tema que se mostra um avanço
tecnológico, jurídico e interpessoal, trazendo consigo novas formas de interação socio-
contratual.
Vimos também o quão importante se faz o conhecimento para a compreensão deste
trabalho sobre Blockchain.
Outrossim, neste trabalho foram tratados comparativamente as definições e princípios
fornecidos pelos principais institutos do Código Civil e da doutrina.
Observamos por um determinado prisma, os princípios que são aplicados aos contratos
vetustos, os atuais e consequentemente aos contratos inteligentes quando os mesmos tiverem
maior uso e aplicabilidade em nosso cotidiano.
De igual feita, analisamos, categoricamente o que são “contratos inteligentes”, como
se diferenciam de meros contratos digitais, tais como os assinados através de tokens e
certificados digitais, e como eles podem ser utilizados para outras funções além de transações
que se vinculam às tecnologias Bitcoin e demais criptomoedas.
Por fim, compulsamos um comparativo entre diversas legislações espalhadas pelos
continentes que nos deram conceitos e bases para atual e futura aplicação dos Smart Contracts
em nosso meio, não limitando também a análise de como se dará a regulamentação e
fiscalização dos mesmos.
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REFERÊNCIAS
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Smart Contracts CASAGRANDE FILHO & ALMEIDA
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2020. 10ª Ed.
Tradeix. Disponível: https://tradeix.com/distributed-ledger-
technology/#:~:text=The%20most%20important%20difference%20to,not%20require%20such
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20chain.&text=A%20distributed%20ledger%20is%20merely,sites%2C%20regions%2C%20o
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