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AGENDA

BRASILEIRA
ECONOMIA DIGITAL
ANO 4 • 2023 • N° 6

IMPACTOS DA ECONOMIA DIGITAL


SOBRE O DIREITO DOS CONTRATOS
Thiago Rosa Soares1

1 Consultor legislativo da Câmara dos Deputados da área II – direito civil, direito processual civil e
direito internacional privado. Mestre em direito civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ).
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O DIREITO DOS CONTRATOS

1. INTRODUÇÃO
O progressivo desenvolvimento tecnológico trouxe ferramentas digitais para
a vida cotidiana, modificando a maneira de lidar com situações comuns, como a co-
municação, o uso de transportes particulares, a interação social e as mais diversas
transações econômicas. O impacto dessas mudanças torna conveniente a noção de
economia digital, descrita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE):

A Economia Digital incorpora todas as atividades econômicas que dependem


de ou que são significativamente aprimoradas pelo uso de insumos digitais, in-
cluindo tecnologias digitais, infraestrutura digital, serviços digitais e dados.
Refere-se a todos os produtores e consumidores, incluindo o governo, que estão
utilizando esses insumos digitais em suas atividades econômicas. (OCDE apud
ARAUJO, 2021)

O contrato não fica fora desse cenário, pois está presente nas mais diversas in-
terações do dia a dia, como instrumento da vontade das pessoas, gerando direitos e
obrigações. Aceitar termos e condições de uso, comprar pela internet (até mesmo
com um clique), confirmar o pedido de produtos e serviços por meio de aplicativos
de mensagens ou pelas redes sociais são comportamentos que se tornaram comuns
na dinâmica contratual.
O objetivo deste artigo consiste em analisar os impactos da economia digital
no direito dos contratos e os possíveis desafios do jurista e do legislador diante do
surgimento de novas tecnologias.
É importante lembrar que a disciplina jurídica dos contratos encontra seu de-
lineamento geral no Código Civil, lei promulgada no ano de 2002. Embora relativa-
mente recente do ponto de vista histórico, o Código é resultado de um anteprojeto
discutido na década de 1970,2 quando foram lançadas as suas bases estruturais.

2 A comissão de juristas responsável pela elaboração de Anteprojeto de Código Civil foi designada
em Portaria do Ministério da Justiça, em 26 de maio de 1969. Após as discussões das minutas
dos livros (em que tradicionalmente se dividem os códigos civis) apresentadas por cada um dos
ilustres civilistas designados e da revisão realizada pelo coordenador dos trabalhos, Miguel Reale,
o Anteprojeto foi publicado pelo ministério em agosto de 1972. Recebeu sugestões da sociedade
civil, resultando em nova versão publicada em 1974 e que, diante de novas sugestões e emendas,
converteu-se no texto final do projeto de lei enviado à Câmara dos Deputados em 1975 (ALVES,
2012). O projeto tramitou na Câmara dos Deputados entre 1975 e 1984, quando foi remetido ao
Senado Federal, onde recebeu emendas. Retornou à Câmara dos Deputados em 1999 para que os
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Igualmente relevante, o Código de Defesa do Consumidor, abarca parcela impor-


tante das transações econômicas, e foi promulgado em 1990. Em ambos os casos,
estamos diante de diplomas normativos elaborados antes que se pudesse pensar na
economia digital e em seus efeitos.
É preciso lembrar que o contrato é um acordo de vontades,3 destinando-se
o direito contratual a regular a forma de contratação, as cláusulas admissíveis e as
inválidas e, sobretudo, os efeitos jurídicos decorrentes desse acordo. Embora a es-
sência do contrato não pareça ter sido alterada nas transações digitais, não se pode
afirmar que as regras pensadas para outra realidade resolvem todos os problemas
da era digital, sendo necessário revisitar referências importantes de sua disciplina
jurídica (SCHREIBER, 2014).
Para examinar a relação entre economia digital e direito dos contratos, opta-
mos por trilhar o seguinte caminho: no item 2, trataremos das noções fundamen-
tais do direito dos contratos; no terceiro item, cuidaremos dos reflexos das novas
tecnologias na formação dos contratos, e, na contratação internacional, dos aspec-
tos relativos à jurisdição competente para o julgamento de litígios e à lei aplicável.
Por fim, no quarto item, será abordada a repercussão da economia digital nos casos
de descumprimento das obrigações contratuais.

2. O CONTRATO NO DIREITO BRASILEIRO


No senso comum, a palavra contrato designa um documento no qual são
inseridas cláusulas relativas a certa transação econômica, como uma compra e
venda, uma locação de imóvel, uma aquisição de serviço de telefonia ou de inter-
net. Na terminologia jurídica, contudo, esse documento denomina-se instrumento
contratual.

deputados deliberassem sobre as emendas do Senado, sendo finalmente aprovado em dezembro


de 2001, e transformado na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Para um breve histórico da
tramitação do projeto, confiram-se o prefácio à publicação da Câmara dos Deputados Código Civil
Brasileiro no debate parlamentar (AZEVEDO, 2012) e a parte inicial da obra Memória legislativa do
Código Civil (PASSOS; LIMA, 2012), publicada pelo Senado Federal.

3 Mas não apenas isso, trata-se, de “acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de
adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos” (PEREIRA, 2003).
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Contrato, como dito linhas acima, designa um acordo de vontades, mas não um
acordo qualquer: trata-se daquele destinado a instituir direitos e obrigações entre
as partes envolvidas. Por isso, é possível dizer que o contrato pode ser celebrado
por escrito ou oralmente, sendo possível ainda contratar mesmo sem que qualquer
palavra seja pronunciada ou escrita.4 Considerando tais características, não causa
espanto o fato de que um indivíduo dificilmente chegue ao fim do dia sem ter cele-
brado algum contrato (SCHREIBER, 2018). No mais despretensioso dos dias, aquele
que compra pão para o café da manhã e vai e volta do trabalho terá celebrado ao
menos dois contratos: o de aquisição do produto alimentício e o de prestação de
serviços (transporte público). Note-se que, nesses exemplos, há contrato sem a exis-
tência do instrumento contratual.
No entanto, a abrangência do contrato na vida contemporânea não se res-
tringe ao momento de sua celebração. O acordo de vontades gera direitos e obriga-
ções, instituindo a relação contratual, que muitos preferem designar também de
contrato.5 O fenômeno jurídico da relação contratual nos envolve de modo ainda
mais amplo, uma vez que, em geral, integramos diversas relações originadas de uma
enorme quantidade de contratos (acordos de vontade) anteriormente celebrados:
como empregados numa relação empregatícia, prestadores de serviços, usuários de
serviços de prestação continuada (fornecimento de água, energia elétrica, internet,
telefonia, ensino), inquilinos, etc.
Até aqui, o que foi enunciado a respeito do conceito de contrato permite vis-
lumbrar três princípios que regem o direito contratual: o do consensualismo (o con-
trato se aperfeiçoa pelo simples acordo como regra geral); o da liberdade contratual
e o da obrigatoriedade (os contratos devem ser cumpridos). A ideia de acordo de
vontades põe em evidência a importância da liberdade individual na instituição

4 No entanto, o princípio do consensualismo é mitigado em alguns casos com o objetivo de conferir


certa segurança às partes contratantes, como ocorre com a necessidade de registro da alienação fi-
duciária em garantia e da inscrição das promessas de compra e venda no registro imobiliário para
que seja possível a sua execução específica (PEREIRA, 2003, p. 19), da escritura pública nos contratos
sobre imóveis com valor superior a trinta salários mínimos (Código Civil, art. 108) e na forma escrita
para as doações em geral (Código Civil, art. 541).

5 “Não é pacífico o entendimento quanto ao significado da categoria designada pelo nome de contrato.
Será, para alguns, o acordo de vontades necessário ao nascimento da relação jurídica obrigacional;
para outros, a própria relação. [...] Conquanto se venha manifestando a tendência para dissociar o
contrato da relação, [...] a verdade é que acordo e relação se apresentam, respectivamente, como os
aspectos subjetivo e objetivo da mesma relação jurídica” (GOMES, 2008, p. 21-22).
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de direitos e obrigações para as partes contratantes. Mesmo na concepção tradicio-


nal, formulada sob viés liberal, a autonomia das partes estava limitada pela ordem
pública e pelos bons costumes, sujeitando-se a normas imperativas e proibitivas
(PEREIRA, 2003, p. 26).
No entanto, a constatação de que o desnível econômico entre as partes já não
permitia ver no contrato um ato de vontades livres e iguais, diante da desproporcio-
nalidade de prestações e efeitos “em tal grau que ofende aquele ideal de justiça que
é a última ratio da própria ordem jurídica” (PEREIRA, 2003, p. 27). A nova realidade
econômica que se desenvolveu nos séculos XIX e XX exigia a mitigação da noção de
que “quem diz contratual, diz justo”, que, diante da desigualdade substancial, con-
sistia em pressuposto ideológico que se apartava das “profundíssimas disparidades
das condições concretas de força econômico-social entre contraentes” (ROPPO, 2009,
p. 37). Esse cenário demonstrou a necessidade de intervenção estatal no domínio
contratual para evitar que assimetrias entre as partes recebessem a chancela do di-
reito, o que foi sintetizado em frase célebre de Lacordaire, lembrada por Orlando
Gomes (2008, p. 35): “entre o fraco e o forte é a liberdade que escraviza e a lei que
liberta”. Por essa razão, uma série de regras protetivas ao trabalhador gerou a espe-
cialização do contrato de prestação de serviços, sendo objeto do direito do trabalho
(PEREIRA, 2003, p. 375). Também com fins de proteção à parte vulnerável, foram
instituídas normas específicas para a tutela do consumidor, do inquilino, do tomador
de empréstimo, etc.
Além dos tradicionais limites à autonomia privada, a mitigação da autonomia
privada se materializou com o estabelecimento de regras imperativas (especial-
mente com a edição das normas especiais supramencionadas), do reconhecimento
da importância interpretativa e integrativa dos princípios.
Um exemplo clássico de norma proibitiva é a vedação à contratação sobre he-
rança de pessoa viva:6 o objetivo da regra é evitar contratos em que exista algum
interesse na morte de uma das partes (CARVALHO SANTOS apud TEPEDINO;
BARBOZA; MORAES, 2012). Em outro dispositivo protetivo, o Código Civil esta-
belece que, havendo ambiguidade, o contrato deve ser interpretado de modo mais

6 “Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.” (BRASIL, 2002)
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favorável àquele que simplesmente a ele aderiu, ou seja, não participou da elabo-
ração de suas cláusulas (o denominado contrato de adesão).7
A lei libera o contratante impossibilitado de realizar a prestação contratual
por motivos de força maior, desobrigando-o de cumprir o pactuado,8 e permite a
interferência do Estado-juiz na economia do contrato por modificação significativa
das circunstâncias que tornem a prestação excessivamente onerosa para uma das
partes com extrema vantagem para a outra.9 Em síntese, o próprio Código Civil,
enuncia a regra geral de que “a liberdade contratual será exercida nos limites da
função social do contrato” (BRASIL, 2002).
Outro princípio que disciplina o direito contratual é o da boa-fé objetiva, que
deve orientar a conduta das partes na celebração do contrato e na sua execução.
Portanto, é possível que o direito exija determinado comportamento de uma parte,
ainda que isso não tenha sido objeto de manifestação de vontade ou que não haja
previsão legal expressa,10 em geral, no intuito de proteger a confiança legítima da
outra parte.
O cenário econômico decorrente do desenvolvimento dos meios de produção
e do comércio deu causa à incorporação de milhões de pessoas ao mercado de con-
sumo e à massificação dos contratos, com a estipulação de cláusulas preestabelecidas
e padronizadas (MIRAGEM, 2018, p. 258). O direito do consumidor visa ao reequi-
líbrio das relações entre fornecedores e consumidores, estabelecendo para aque-
les deveres específicos de transparência, informação e boa-fé. O Código de Defesa
do Consumidor regula as fases pré-contratual (a oferta, a publicidade e as práticas
abusivas), de celebração e execução (ao vedar as cláusulas abusivas, estabelecer o

7 “Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á
adotar a interpretação mais favorável ao aderente” (BRASIL, 2002).

8 “Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força
maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir” (BRASIL, 2002).

9 “Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se
tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimen-
tos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da
sentença que a decretar retroagirão à data da citação” (BRASIL, 2002).

10 Trata-se da função integrativa da boa-fé: “O agente deve fazer o que estiver ao seu alcance para co-
laborar para que a outra parte obtenha o resultado previsto no contrato, ainda que as partes assim
não tenham convencionado, desde que evidentemente para isso não tenha que sacrificar interesses
legítimos próprios” (PEREIRA, 2003, p. 21).
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direito de arrependimento, a interpretação dos contratos de modo mais favorável


ao consumidor e impor deveres de informação), assim como a fase pós-contratual
(inscrição de consumidores em cadastros e oferta de peças de reposição) (MIRAGEM,
2018, p. 262-263).

3. CELEBRANDO CONTRATOS NA ERA DA ECONOMIA


DIGITAL
Feitas essas considerações iniciais, importa analisar de que modo a interpre-
tação e a aplicação do direito dos contratos interagiu com a emergência das novas
situações criadas pela economia digital.
Pode-se dizer que as mudanças em institutos jurídicos vêm sempre a reboque
das novas exigências sociais, o que Tullio Ascarelli (2001) designou de “inércia jurí-
dica”. Dessa forma, a tendência é que essas novas exigências da vida prática sejam
satisfeitas com velhos institutos (ASCARELLI, 2001, p. 155). É o que se pode notar
com a aquisição de produtos e serviços por meio da internet, denominada comércio
eletrônico (e-commerce).11
Algumas especificidades da contratação via internet tornaram incontornável
a necessidade de repensar certas disposições legais relativas aos contratos, o que
exigiu algum esforço dos juristas e aplicadores da lei. Nas palavras de Anderson
Schreiber (2014), “[...] a contratação eletrônica veio abalar, de um só golpe, cinco
referências fundamentais utilizadas pela disciplina jurídica do contrato: quem
contrata, onde contrata, quando contrata, como contrata e o que contrata”.
A forma de contratação pela internet veio a intensificar o fenômeno da des-
personalização do contrato, já abordado por estudiosos das relações de consumo,
em que se verificava a progressiva ausência de contato direto entre os contratantes.

11 Ficam de fora da análise deste artigo outras modalidades de contratação que não se amoldem ao
conceito de economia digital, como as contratações à distância por meios distintos, como o telefone.
Os fenômenos aqui tratados dizem respeito apenas a parte do que Cláudia Lima Marques (2004),
por exemplo, entende por comércio eletrônico. De acordo com a autora, a ideia de “comércio eletrô-
nico” se contrapõe à de comércio tradicional: “o comércio eletrônico é o comércio ‘clássico’ de atos
negociais entre empresários e clientes para vender produtos e serviços, agora realizado através
de contratações à distância, conduzidas por meios eletrônicos (e-mail, mensagens de texto, etc.),
por internet (on-line) ou por meios de telecomunicação de massa (telefones fixos, televisão a cabo,
telefones celulares, etc.)” (MARQUES, 2004, p. 35).
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Mesmo nos casos de negociação presencial, a tendência era que ocorresse perante
um empregado ou preposto, geralmente sem poder de decisão. Nos contratos eletrô-
nicos, o fornecedor se apresenta sob a forma de website ou home page (MIRAGEM,
2018, p. 125), o que pode dificultar sua identificação pelo consumidor. Apesar de o
Decreto nº 7.962/2013 determinar a disponibilização nas páginas de internet de
informações como nome empresarial, inscrição no CNPJ, endereço físico, Schreiber
(2014) apontava que o descumprimento sistemático de tais deveres permitia vis-
lumbrar uma situação de semianonimato. A identificação do fornecedor é essencial
para que o consumidor lesado possa fazer valer os seus direitos. A judicialização
de situações conflituosas depende da citação do réu, o que requer do consumidor a
coleta e a apresentação de dados essenciais da parte adversa.12

3.1 Momento de formação do contrato


As disposições legais sobre a formação do contrato são as que mais chamam
a atenção por não terem sido pensadas para a realidade de contratações eletrôni-
cas. No direito dos contratos, a regra é o consensualismo, ou seja, basta o acordo
de vontades para que o contrato se aperfeiçoe, vinculando as partes. Esse vínculo
geralmente ocorre com a formulação de uma proposta, seguida da aceitação da
contraparte.
Essa regra não encontra maiores dificuldades quando ambas as partes se en-
contram frente a frente, presencialmente, o que se denomina contrato entre pre-
sentes. Contudo, existe disciplina específica nos casos de contrato celebrado entre
ausentes. O Código Civil de 1916 já considerava como realizado entre presentes
o contrato celebrado por telefone. Isso porque uma das principais preocupações
do legislador consiste em determinar o momento de formação do contrato, o que
justifica a equiparação entre contratação presencial e telefônica. O projeto de lei en-
viado à Câmara dos Deputados em 1975 (PASSOS; LIMA, 2012, p. 119-120) também

12 Convém salientar que a falta de qualquer das informações exigidas para a identificação do réu não
importará no indeferimento da petição inicial, quando houver dados suficientes para realizar-se a
citação (CPC, art. 319, § 2º) (BRASIL, 2015a). Não sendo possível obter as informações, o autor pode
requerer ao juiz as diligências necessárias para sua obtenção (CPC, art. 319, § 1º), o que pode deman-
dar tempo considerável. A dificuldade ou impossibilidade de obtenção de determinados dados não
pode comprometer o acesso à justiça (MEDINA, 2017, p. 563), o que ganha maior relevância nos casos
analisados neste artigo, em que a falta de informações decorre de conduta ilícita do fornecedor.
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considerava presente a pessoa que contratasse por meio de comunicação seme-


lhante ao telefone, disposição mantida no Código Civil de 2002.13
A proposta contratual é vinculante para o proponente, com algumas exce-
ções.14 Se, por exemplo, for feita entre presentes e não imediatamente aceita, deixa
de ser obrigatória.15
Porém, a situação muda quando tratamos dos contratos entabulados à dis-
tância. O Código Civil contém disposições relativas à contratação entre ausentes.
Ocorre que as regras foram pensadas para uma outra situação: a de comunicação
por carta. O art. 434 tem a seguinte redação:

Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação
é expedida, exceto:

I – no caso do artigo antecedente;16

II – se o proponente se houver comprometido a esperar a resposta;

III – se ela não chegar no prazo convencionado. (BRASIL, 2002)

A partir desse dispositivo, debate-se sobre qual teoria da formação dos con-
tratos teria aderido a legislação brasileira. Tradicionalmente, apresentam-se quatro
teorias sobre o momento da conclusão do contrato.17 A teoria da informação ou cog-
nição considera concluído o contrato quando o proponente toma conhecimento da
aceitação. A teoria da recepção aponta para o momento da recepção dessa resposta
pelo proponente, não sendo necessário que tome conhecimento de seu conteúdo.
Pela teoria da expedição, o momento seria o do envio da resposta ao proponente.
Por fim, a teoria da declaração sugere que o contrato é formado quando é escrita a
resposta positiva. As teorias da informação e da declaração apresentam o inconve-

13 De acordo com o inciso I do artigo 428, “considera-se também presente a pessoa que contrata por
telefone ou por meio de comunicação semelhante” (BRASIL, 2002).

14 O Código Civil preceitua: “Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não
resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso” (BRASIL, 2002).

15 “Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: I – se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi ime-
diatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio
de comunicação semelhante” (BRASIL, 2002).

16 O artigo antecedente estabelece o seguinte: “Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes
dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante” (BRASIL, 2002).

17 Confiram-se, a propósito do tema, Caio Mário da Silva Pereira (2003, p. 47) e Orlando Gomes (2008,
p. 81 e seguintes).
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niente de dificultar, na prática, a determinação do momento da formação do con-


trato: no primeiro caso, abrindo margem de arbítrio em favor do proponente, no
segundo, em favor do aceitante.
O caput do art. 434 do Código acolhe expressamente a teoria da expedição,
abrindo relevantes exceções nos incisos, o que leva parcela expressiva da dou-
trina a considerar que o legislador optou por um sistema de expedição mitigado
(KONDER; BANDEIRA, 2020; PEREIRA, 2003). Há, de outra parte, quem defenda,
a partir de uma interpretação sistemática, que ter-se-ia adotado a teoria da re-
cepção.18 Em que pese a importância das exceções, parece excessivo dizer que o
legislador adotou o sistema da recepção: se a aceitação é enviada sem que haja
retratação – o que ocorrerá na generalidade dos casos –, o contrato reputa-se con-
cluído no momento da expedição.
Jan Smits (2017), tratando do sistema utilizado no Reino Unido – a teoria da ex-
pedição (postal rule ou mailbox rule) – afirma que haveria dois fundamentos básicos
para seu acolhimento no século XIX: (1) a desconfiança do sistema postal à época da
elaboração da norma, o que tornava mais fácil provar que alguém postou uma carta
do que provar que ela foi recebida pela outra; (2) o objetivo de limitar a possibilidade
de revogação pelo proponente, caso a carta chegasse ao aceitante após este já haver
expedido a correspondência anuindo à proposta.19
As vantagens da teoria eram consideradas tão evidentes que Clóvis Bevilaqua
escusava-se de explicá-las.20 No entanto, os fundamentos justificadores da adoção
da teoria já não se mantêm por si sós um século após a edição do Código Civil de
1916, que a consagrou. Em primeiro lugar, porque o sistema postal não é a única
modalidade de contratação à distância (provavelmente, sequer continua a ser a

18 “Ora, se sempre é permitida a retratação antes de a resposta chegar às mãos do proponente, e


se, ainda não se reputa concluído o contrato na hipótese de a resposta não chegar no prazo con-
vencionado, na realidade o referido diploma filiou-se à teoria da recepção, e não à da expedição”
(GONÇALVES apud REBOUÇAS, 2018, p. 157).

19 O exemplo clássico é trazido no julgado Byrne & Co v Leon van Tienhoven & Co: van Tienhoven
havia enviado uma correspondência em 1º de outubro de 1880 oferecendo à venda produtos a
Byrne; este recebeu a carta no dia 11 de outubro e imediatamente expediu a resposta com a acei-
tação. Porém, no dia 8 de outubro, Van Tienhoven havia postado uma carta revogando a proposta
em razão do acréscimo dos preços do produto ofertado em 25%. A Corte rejeitou a revogação da
proposta por entender que o contrato já havia sido concluído com a expedição da resposta (SMITS,
2017, p. 61).

20 “É a teoria da expedição. É tão simples e tão natural, isto é, tão lógica e tão incisiva, que não demanda
elucidações, nem comentários, para impor-se aos espíritos despreocupados de conceitos apriorísti-
cos” (BEVILAQUA, 1940, p. 173).
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principal) e não suscita tamanha inquietação quanto à sua efetividade, como no


século XIX. Em segundo lugar, porque a revogação da proposta em tempo hábil
torna-se mais difícil em razão da própria velocidade dos meios de comunicação con-
temporâneos. A própria discussão a respeito do momento de formação do contrato
pode ser colocada em xeque diante da rapidez dos meios de comunicação: pode-se
argumentar que as modificações de preço no cenário atual estariam restritas a
mercados muito voláteis (como o de ações) e que, ainda assim, os inconvenientes
poderiam ser contornados por cláusulas contratuais (DEMOULIN, 2007, p. 103).
Porém, a opção por uma das teorias envolve uma questão de política pública, abar-
cando, entre outras coisas, a distribuição de riscos entre as partes (DEMOULIN,
2007, p. 107; VICENTE, 2017, p. 89).
Quando o contrato eletrônico for celebrado entre ausentes (como é o caso da
contratação por correio eletrônico ou em sites de compras), aplica-se o art. 434 do
Código Civil, concluindo-se o contrato com a expedição da aceitação (KONDER;
BANDEIRA, 2020, p. 95). Contudo, há divergências quanto a essa interpretação. Nas
Jornadas de Direito Civil promovidas pelo Conselho da Justiça Federal, aprovou-se
o Enunciado nº 173, com a seguinte redação: “A formação dos contratos realizados
entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceita-
ção pelo proponente” (AGUIAR JÚNIOR, 2005). Na justificativa da versão preliminar
do enunciado, o seu autor afirmava que a teoria da recepção seria mais vantajosa
que a da expedição, por permitir que ambas as partes tivessem conhecimento da
formação do contrato. Além disso, porque a “insegurança do correio eletrônico
como meio de comunicação, na medida em que a comunicação entre as partes se dá
por meio de provedores de acesso” (AGUIAR JÚNIOR, 2005), demonstraria situação
distinta do serviço postal, em que as partes podem confiar; concluindo que não
caberia a analogia à contratação por correspondência.
Alguns problemas decorrem do enunciado proposto na III Jornada de Direito
Civil. Em primeiro lugar, como bem aponta Anderson Schreiber (2014), ela contraria
o teor da lei (art. 434 do Código Civil) e não soluciona o problema do consumidor
que se encontra muitas vezes na frágil situação de não ter certeza sobre a formação
do contrato. Em segundo lugar, não só a premissa adotada (da fragilidade da comu-
nicação por correio eletrônico em relação à correspondência postal) é questionável,
como também, se considerada válida, justificaria precisamente o acolhimento da
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teoria da expedição, mais favorável ao consumidor – pois, como visto linhas acima,
um dos fundamentos que deu origem à post rule (ou mailbox rule) consistia justa-
mente na desconfiança em relação à eficiência do sistema postal (SMITS, 2017). Ora,
se o risco da teoria da expedição é o extravio da mensagem de aceitação, com maior
razão esse risco deve ser suportado pelo fornecedor (que escolheu o e-mail como
meio de comunicação ou que gerencia o site de compras), aplicando-se, mutatis
mutandis, o raciocínio empregado para a contratação por correspondência postal:

[...] existe na aceitação via postal o risco de que a mensagem contendo a declara-
ção de aceitação se atrase ou extravie; e é preferível que esse risco seja suportado
pelo proponente sempre que este haja induzido o destinatário da proposta a uti-
lizar os correios para enviar sua declaração. (VICENTE, 2017, p. 89)

É preciso avaliar o enunciado doutrinário em seu contexto histórico: foi pro-


ferido no ano de 2005 e parece ter considerado fundamentalmente as transações
entabuladas via e-mail em contratos paritários. No entanto, não parece razoável
considerar o contrato eletrônico como uma categoria específica a receber trata-
mento uniforme e descolado de outras particularidades, como o fato de ser clas-
sificado como contrato de consumo. Se, em um contrato regido pelo Código Civil,
celebrado por correio eletrônico, seria admissível para alguns questionar a teoria
da expedição, o mesmo não se pode dizer do fornecedor que se utiliza da inter-
net para alcançar maior clientela e alavancar seus negócios, escolhendo unilate-
ralmente a plataforma digital utilizada em suas interações com os consumidores.
Nessa situação, abandonar o sistema da expedição pelo da recepção colocaria o
consumidor diante de dúvida quanto à efetiva conclusão do contrato e beneficiaria
o fornecedor que, em regra, deve assumir os riscos do negócio.
Anderson Schreiber (2014) ressalta que o Decreto nº 7.692/2013 resguardou os
interesses do consumidor ao impor ao fornecedor o dever de confirmar imediata-
mente o recebimento da aceitação da oferta, instituindo norma protetiva sem que
tivesse havido modificação da sistemática de formação do contrato.
No que concerne aos contratos paritários, convém destacar que essas regras
são de caráter supletivo, admitindo, portanto, regulação em sentido contrário de
acordo com a vontade das partes (PEREIRA, 2003, p. 49). O inciso III do art. 434
faculta ao proponente fixar prazo dentro do qual aguardará a resposta, só se con-
cluindo o contrato com a sua recepção (TEPEDINO; BARBOZA; MORAES, 2012,
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13
O DIREITO DOS CONTRATOS

p. 50). Dessa forma, o proponente que pretenda se precaver contra os riscos da ins-
tabilidade do sistema de mensagens escolhido para a contratação pode consignar
expressamente na proposta a ressalva de que aguardará a chegada da aceitação.
No entanto, embora não haja dificuldades em considerar celebrados entre au-
sentes os contratos concluídos por e-mail ou diretamente nas páginas virtuais de
empresas, isso não significa que assim deva ser considerada toda contratação pela
internet. Há que considerar as características do meio utilizado. Antônio Junqueira
de Azevedo e Francisco Marino (em atualização à obra de Orlando Gomes (2008,
p. 81)) defendem que, sendo possível a aceitação imediata, os contatos via telecon-
ferência, videoconferência e outros meios de comunicação em tempo real atraem
a disciplina da contratação entre presentes. Isso é consoante à regra constante do
inciso I do art. 428 do Código Civil, que equipara à contratação entre presentes a
realizada por telefone “ou por meio de comunicação semelhante”.

3.2 Direito de arrependimento nas relações de consumo


O comércio eletrônico, embora constituísse, há pouco tempo, prática inova-
dora, realizava função econômica em tudo compatível com a regra instituída, em
1990, no art. 49 do Código de Defesa do Consumidor.21 Esse dispositivo legal insti-
tuiu o chamado direito de arrependimento, que autorizou o consumidor a desistir
do contrato no prazo de sete dias do ato de assinatura ou do recebimento do pro-
duto ou serviço.
Pensado para as contratações realizadas por telefone, assim como para as ven-
das em domicílio, “por reembolso postal, por fax, por videotexto, por prospectos,
etc.” (NERY JÚNIOR, 1991, p. 326), o artigo enuncia expressamente sua aplicabili-
dade a todos os casos em que o consumidor celebre o contrato fora do estabeleci-
mento comercial, de modo que abarca também os contratos celebrados pela internet
(SCHREIBER, 2014).
A aparente clareza do dispositivo legal não impediu que alguns juristas sus-
tentassem a inaplicabilidade do prazo de reflexão nas compras realizadas pela in-
ternet basicamente ao argumento de que a página eletrônica ou aplicativo seriam
considerados estabelecimentos comerciais virtuais, não se aplicando a regra rela-

21 Como se verá, a seguir, o tema foi objeto de alguma controvérsia.


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O DIREITO DOS CONTRATOS

tiva às compras feitas “fora do estabelecimento”.22 No intuito de dirimir quaisquer


controvérsias que pudessem pairar sobre o assunto, a então presidenta da Repú-
blica, Dilma Rousseff, editou o Decreto nº 7.962/2013, que assegurou o direito de
arrependimento, estabelecendo inclusive que o consumidor pudesse exercer esse
direito “pela mesma ferramenta utilizada para a contratação, sem prejuízo de ou-
tros meios disponibilizados” (BRASIL, 2013). Na mesma direção, o Projeto de Lei
nº 3.514/2015, em tramitação na Câmara dos Deputados, pretende dar nova reda-
ção ao art. 49 do CDC, a fim de incluir expressamente a venda realizada “por meio
eletrônico” (BRASIL, 2015b).23
O direito de arrependimento é amparado em dois fundamentos: (1) a impossi-
bilidade de verificação do produto ou serviço quando ele é adquirido e (2) a sujeição
a técnicas de pressão para a realização dos contratos (MIRAGEM, 2018, p. 432) ou,
em outra formulação, a abordagem mais agressiva em momento no qual o con-
sumidor não está preparado para refletir sobre a compra (NERY JÚNIOR, 1991,
p. 326). Nessas situações, nada mais justo do que facultar-lhe a resolução24 do con-
trato. O raciocínio se aplica perfeitamente aos contratos eletrônicos, caracterizados
precisamente pela celebração a distância.
Além de se tratar de compras feitas fora do estabelecimento comercial, as ofer-
tas de produtos realizadas pela internet estão cercadas de circunstâncias que permi-
tem entendê-las como técnicas de venda incisivas, as quais sujeitam o consumidor
a comportamentos impulsivos. Já não surpreende ninguém que a pesquisa de um
produto em site de buscas seja seguida, quase imediatamente, da publicidade de
objetos similares na mesma página ou mesmo em outras. O uso da internet deixa
uma série de rastros decorrentes das pesquisas realizadas, vendas concluídas e sites
visitados, que são utilizados para fins publicitários. Em alguns casos, como na com-
pra em sites nos quais o usuário está previamente cadastrado, as sugestões baseadas
em compras anteriores ou em preferências e listas de desejo por ele elaboradas

22 Argumenta-se ainda que, no comércio eletrônico, é o consumidor que tem a iniciativa da compra.
O entendimento, contudo, é minoritário na doutrina (MIRAGEM, 2021; SCHREIBER, 2014).

23 A proposição, originalmente apresentada no Senado Federal, onde foi ali autuada como PLS nº 281,
de 2012, e aprovada em outubro de 2015 (BRASIL, 2012).

24 De acordo com Bruno Miragem (2018, p. 431), cuida-se de nova espécie de resolução contratual.
No entanto, o direito de arrependimento pode ser classificado de outras maneiras (MARQUES;
BENJAMIN; MIRAGEM, 2013, p. 1082), discussão que foge ao escopo deste artigo.
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O DIREITO DOS CONTRATOS

são consideradas bem-vindas por poupar o tempo de pesquisa por novos produtos
(BAUMAN; LYON, 2013, p. 117).
Mas não é só. A partir da exposição voluntária dos indivíduos nas redes so-
ciais, mediante a realização de postagens da vida pessoal, curtidas, cliques, tempo
de visualização de outras postagens, é possível traçar perfis de consumidores. 25
As informações pessoais são coletadas e organizadas mediante o uso de ferra-
mentas com enorme capacidade de processamento. Há quem defenda que a partir
de um determinado número de likes nas redes, é possível conhecer uma pessoa
melhor que seu companheiro e até mesmo melhor do que ela própria.26 Dessa
captura constante de informações, resultam uma classificação social (BAUMAN;
LYON, 2013, p. 20) e a possibilidade de estabelecer formas específicas de conven-
cimento para cada usuário (RODRIGUES, 2020). E essa lógica publicitária nem
sempre é de conhecimento dos usuários das redes (RODRIGUES, 2020). Assim,
as técnicas mais incisivas de marketing (uma das justificativas para existência
do prazo de reflexão), que eram eventualmente empregadas em telefonemas ou
visitas residenciais inesperadas, passam a ocorrer em frequência muito mais
intensa e de forma personalizada, o que justifica a aplicabilidade do direito de
arrependimento nas compras realizadas pela internet.
O exercício desse direito implica a devolução do produto nas condições em
que foi recebido, de modo que se o produto perecer ou sofrer desvalorização, o
consumidor deve ressarcir o fornecedor, evitando-se o enriquecimento sem causa
(MARQUES; BENJAMIN; MIRAGEM, 2013, p. 1083). Há também quem entenda que

25 De acordo com Bauman, partir de elementos como o sentimento de solidão ou de inadequação, a


presença em redes sociais converteu de ameaça em tentação a condição de ser observado e visto,
uma espécie de prova de reconhecimento social e, consequentemente de uma existência valorizada
(BAUMAN; LYON, 2013, p. 30-31). Assim como os caramujos transportam suas casas, as pessoas es-
tariam a transportar com seus corpos os seus panópticos (dispositivos de vigilância). Em suma “[...]
são os ‘usuários’ dos serviços do Google ou do Facebook que produzem ‘a base de dados’ – a matéria-
-prima que os profissionais transformam nas ‘categorias-alvo’ de compradores potenciais, na termi-
nologia de Gandy – mediante suas ações difusas, em aparência autônomas, embora sinopticamente
pré-coordenadas” (BAUMAN; LYON, 2013, p. 73).

26 Referindo-se a estudos de Martin Hilbert e Pedro Kelson, Arlindo Rodrigues relata que “[o]s pesqui-
sadores mapearam a personalidade de indivíduos a partir de suas ‘curtidas’ na rede e chegaram a
resultado que, com a amostra de cem ‘curtidas’ nas redes sociais, pode-se deduzir a personalidade,
com fatores como orientação sexual, origem étnica, opinião religiosa e política, nível de inteligência,
se é viciado em substâncias ou se tem pais separados. Com 150 ‘curtidas’, pode-se prever a persona-
lidade do usuário melhor que seu companheiro(a) e com 250 ‘curtidas’, o algoritmo tem elementos
para conhecê-lo melhor que ele mesmo” (LISARDY apud RODRIGUES, 2020, p. 90).
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O DIREITO DOS CONTRATOS

esse dever de reparação por desgaste ou danos estaria amparado no princípio da


boa-fé e do equilíbrio contratual (MIRAGEM, 2018, p. 433).
Apesar de a lei não haver estabelecido exceções ao exercício do direito de
arrependimento nas compras realizadas a distância, há quem sustente a inaplica-
bilidade a situações específicas, como a compra de livros eletrônicos ou filmes, em
que o simples download poderia implicar a fruição integral do produto dentro do
prazo de reflexão (MIRAGEM, 2021), bem como no caso de produtos perecíveis, em
que a devolução do bem causaria prejuízo ao fornecedor.27 Anderson Schreiber
(2014) relata que, na União Europeia, a Diretiva nº 2011/83/CE orienta os estados
a enfrentar a questão da depreciação do produto já entregue ao consumidor e a
inaplicabilidade do direito de arrependimento nos produtos e serviços de frui-
ção imediata (como o conteúdo digital oferecido pela internet). São previstas na
Diretiva treze exceções ao direito de arrependimento.
As exceções ao direito de arrependimento deixaram de ser mera consideração
doutrinária quando se estabeleceram ressalvas expressas na Lei nº 14.010/2020, que
dispunha sobre o regime emergencial e transitório aplicável às relações jurídicas de
direito privado, em razão da pandemia de Covid-19. O artigo 8º da lei suspendia os
efeitos do direito de arrependimento em algumas hipóteses:

Art. 8º Até 30 de outubro de 2020, fica suspensa a aplicação do art. 49 do Código


de Defesa do Consumidor na hipótese de entrega domiciliar (delivery) de pro-
dutos perecíveis ou de consumo imediato e de medicamentos. (BRASIL, 2020a)

O objetivo da norma provavelmente consistia em reduzir o exercício do direito


de arrependimento em alguns casos, justamente em período no qual o uso do co-
mércio eletrônico era incrementado – já que a orientação sanitária era no sentido
de evitar a aglomeração e a circulação de pessoas, que, quando possível, deveriam
permanecer em casa. No entanto, ao reservar a suspensão do direito de arrependi-
mento às hipóteses do art. 8º, o legislador foi criticado por “consolidar uma ‘suspen-
são de direito’ que efetivamente nunca existiu” (BARROS; SILVEIRA, 2020). Além da
pouco provável relevância prática, a regra vigorou por poucos meses, uma vez que
a lei entrou em vigor no dia 8 de julho e os efeitos do artigo perduraram até o dia 30
de outubro de 2020.

27 A pretensão de devolução de produtos perecíveis parece mais cerebrina do que real, uma vez que
seria bastante inusitado que o consumidor pretendesse restituir uma refeição no sétimo dia após a
sua entrega simplesmente pelo fato de tê-la adquirido em um aplicativo de celular.
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O DIREITO DOS CONTRATOS

3.3 Desterritorialização do contrato: repercussões jurídicas


O comércio eletrônico também promoveu a desterritorialização do contrato,
de modo que se tornou relevante a determinação do lugar de sua celebração, em
especial para fins processuais e até mesmo para a fixação da lei aplicável, no caso
dos contratos internacionais.
Quando ambas as partes estão no território nacional, vale o disposto no
Código Civil, que reputa o contrato celebrado no local em que foi proposto.28
Nesse caso, não se discute a aplicabilidade da lei brasileira. O local da celebração
do contrato tem pouca repercussão processual: nas relações paritárias, em regra,
a ação deve ser proposta no foro de domicílio do réu (no caso de pessoa jurídica,
o local de sua sede, filial ou sucursal) ou no foro do local onde devam ser cum-
pridas as obrigações.29 Evitam-se os inconvenientes do ajuizamento da ação em
local distante pela inclusão, no contrato, de cláusula de eleição de foro, em que
as partes podem pactuar que eventual demanda judicial relativa ao contrato será
ajuizada em determinado foro, independentemente da previsão existente na lei
processual.30
No caso do consumidor, a ação pode ser proposta por ele no foro de seu domicí-
lio.31 A cláusula de eleição de foro é considerada abusiva por condicionar ou limitar
o acesso ao Poder Judiciário (CDC, art. 51, XVII)32 (MIRAGEM, 2018, p. 746).
O mesmo não se pode dizer dos contratos em que as partes se encontrem em
países diferentes. Nesse caso, é preciso definir, em primeiro lugar, se o Estado brasi-

28 “Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.” (BRASIL, 2002)

29 Dispõe o Código de Processo Civil: “Art. 53. É competente o foro: [...] III – do lugar: a) onde está a
sede, para a ação em que for ré a pessoa jurídica; b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às
obrigações que a pessoa jurídica contraiu; [...] d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em
que se lhe exigir o cumprimento; [...]” (BRASIL, 2015a).

30 De acordo com o Código de Processo Civil: “Art. 63. As partes podem modificar a competência em
razão do valor e do território, elegendo o foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obriga-
ções” (BRASIL, 2015a).

31 O Código de Defesa do Consumidor estabelece o seguinte: “Art. 101. Na ação de responsabilidade


civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste tí-
tulo, serão observadas as seguintes normas: I – a ação pode ser proposta no domicílio do autor; [...]”
(BRASIL, 1990).

32 “Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento
de produtos e serviços que: [...] XVII – condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos
órgãos do Poder Judiciário” (BRASIL, 1990).
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O DIREITO DOS CONTRATOS

leiro tem jurisdição para decidir eventual controvérsia e, em sendo afirmativa a res-
posta, qual é a lei aplicável ao caso concreto (a brasileira ou a estrangeira).33 O novo
Código de Processo Civil (CPC), que está em vigor desde 2016, instituiu a jurisdição
brasileira como competente para o ajuizamento de demandas relativas a relações de
consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil.34 A regra
é importante, uma vez que obrigar o consumidor a processar o fornecedor em seu
domicílio estrangeiro significaria, na generalidade das situações, negar-lhe o acesso
à justiça (DOLINGER; TIBURCIO, 2016, p. 565). Antes da entrada em vigor do novo
CPC, sendo o consumidor autor da demanda, a lei ia ao encontro de seus interesses
quando a obrigação devesse ser executada no Brasil ou quando a pessoa jurídica
estrangeira tivesse aqui agência, filial ou sucursal.35
No que concerne à lei aplicável, não há regra específica na legislação brasileira
sobre relações de consumo. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
(LINDB) conta com a mesma regra a respeito da lei aplicável a contratos internacio-
nais desde 1942, quando entrou em vigor. O art. 9º da LINDB estabelece que “para
qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”
(BRASIL, 1942). Trata-se, evidentemente, de norma pensada para a celebração pre-
sencial do contrato, situação em que ambas as partes se encontram no mesmo país.
Quando isso não ocorre, “a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída
no lugar em que residir o proponente”.36
Em relação aos contratos paritários, em princípio, uma compra realizada pela
internet na qual o vendedor-proponente esteja no exterior enseja a aplicação da
lei estrangeira. Uma questão interessante a respeito do tema é saber se a regra ins-
crita na LINDB pode ser afastada pela vontade das partes. O tema está envolto em

33 Aqui estamos considerando que o comprador ou o destinatário do serviço está no Brasil e o vende-
dor ou prestador de serviços, no exterior.

34 “Art. 33. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: [...] II – de-
correntes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil”
(BRASIL, 2015a).

35 Confira-se o que dispõe a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “Art. 12. É compe-
tente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser
cumprida a obrigação” (BRASIL, 1942). Além disso, o Código de Processo Civil de 1973 dispunha:
“Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando: I – o réu, qualquer que seja a sua
nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; [...]
Parágrafo único. Para o fim do disposto no nº 1, reputa-se domiciliada no Brasil, a pessoa jurídica
estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.” (BRASIL, 1973)

36 Essa é a redação do § 2º do artigo 9º da LINDB (BRASIL, 1942).


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O DIREITO DOS CONTRATOS

controvérsias, entre outras razões, pelo fato de a lei de introdução anterior (de 1916)
contar com regra praticamente idêntica à atual, porém com a seguinte ressalva:
“salvo estipulação em contrário” (ARAÚJO, 2016). A supressão da ressalva, que ine-
gavelmente abria espaço à autonomia das partes, deu ensejo ao argumento de que
a LINDB de 1942 havia negado essa possibilidade.37 De outra parte, argumenta-
-se que o princípio da autonomia estaria implícito (VALLADÃO apud DOLINGER,
2007, p. 432), até mesmo porque a possibilidade de escolha da lei aplicável já seria
admissível em convenções de arbitragem (SCHREIBER, 2018, p. 453). Ainda que se
suponha a validade da escolha da lei aplicável, convém refletir a respeito dos limites
a essa faculdade: se tradicionalmente as transações internacionais eram realizadas
exclusivamente por grandes empresas situadas no território nacional e no exterior,
a economia digital tende a ampliar os sujeitos de tais contratações (seja no âmbito
regional, com países fronteiriços, seja para a prestação de serviços via internet).38
À míngua de norma expressa, a situação do consumidor seria de extrema fra-
gilidade se considerada tão somente a letra da lei. Sendo a lei aplicável a do propo-
nente ou aquela determinada no contrato, dificilmente incidiria a lei brasileira, o
que poderia desfavorecer o consumidor. Contudo, os tribunais, em consideração ao
caráter sistemático do ordenamento jurídico, não têm deixado o consumidor bra-
sileiro ao desamparo. Da análise da jurisprudência, Nádia Araújo (2016) concluiu
que os juízes brasileiros39 tendem a ignorar o caráter internacional da relação jurí-
dica para aplicar apenas o Código de Defesa do Consumidor. Dessa forma, de acordo

37 A propósito do tema, confira-se a apresentação dos debates doutrinários no Brasil desde o século
XIX até o limiar do século XXI sobre a autonomia para a escolha da lei aplicável na obra de Jacob
Dolinger sobre contratos internacionais (DOLINGER, 2007). Nádia de Araújo entende que somente
a revisão da LINDB poderia permitir de forma segura a utilização do princípio da autonomia da
vontade na escolha da lei aplicável. Segundo a autora, “no exterior, a normativa brasileira é vista
com cautela, sendo considerada ultrapassada em relação aos países em que a autonomia da vontade
está em primeiro lugar. A postura do país traz consequências nefastas para os negócios concluídos
no âmbito do Mercosul e demais negócios transnacionais, porque ao se sopesar o ‘custo Brasil’, os
contratantes levam em conta a certeza ou incerteza jurídica das regras internas” (ARAÚJO, 2016).

38 Em geral, os defensores da autonomia de escolha da lei aplicável sugerem a incidência do princípio


da ordem pública, inscrito no artigo 17 da LINDB. Confira-se, a propósito, o que defendem Jacob
Dolinger (2007, p. 155) e Anderson Schreiber (2018, p. 453).

39 A autora aponta como paradigmático o caso Panasonic, julgado pelo Superior Tribunal de
Justiça (Recurso Especial nº 63.981, Quarta Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, julgado
em 11/4/2000).
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O DIREITO DOS CONTRATOS

com a autora, a lei brasileira sobre consumo funcionaria como uma lei de aplicação
imediata,40 incidente na generalidade das situações em que existe uma relação de
consumo.
Com o objetivo de sanar a lacuna na legislação brasileira, o já mencionado Pro-
jeto de Lei nº 3.514/2015 estabelece a seguinte disciplina para os contratos de con-
sumo:

Art. 9º-B. O contrato internacional de consumo, entendido como aquele reali-


zado entre um consumidor pessoa natural e um fornecedor de produtos e servi-
ços cujo estabelecimento esteja situado em país distinto daquele de domicílio do
consumidor, reger-se-á pela lei do lugar de celebração ou, se executado no Brasil,
pela lei brasileira, desde que mais favorável ao consumidor.

§ 1º Se a contratação for precedida de qualquer atividade negocial ou de marketing,


por parte do fornecedor ou de seus representantes, dirigida ao território brasileiro
ou nele realizada, em especial envio de publicidade, correspondência, e-mails,
mensagens comerciais, convites, prêmios ou ofertas, aplicar-se-ão as disposições
da lei brasileira que possuírem caráter imperativo, sempre que mais favoráveis
ao consumidor.

§ 2º Os contratos de pacotes de viagens internacionais ou viagens combinadas,


que envolvam grupos turísticos ou serviços de hotelaria e turismo, com cumpri-
mento fora do Brasil, contratados com agências de turismo e operadoras situadas
no Brasil, reger-se-ão pela lei brasileira. (BRASIL, 2015b)

Fora das relações de consumo, o projeto de lei pretende autorizar expressamente


a escolha da lei na hipótese de serem ambas as partes profissionais, empresários ou
comerciantes; no silêncio do contrato sobre a lei aplicável ou se inválida a escolha,
incide a lei do lugar da celebração, que, no caso de contratação a distância, será o
lugar de residência do proponente. Ainda de acordo com o projeto, sendo o contrato
standard ou de adesão celebrado no Brasil ou se aqui tiver de ser executado, aplica-se
necessariamente a lei brasileira, respeitados os tratados internacionais e os acordos
sobre arbitragem e eleição de foro.

40 No direito internacional privado, a lei de aplicação imediata significa a aplicação do direito local,
não se admitindo que outros elementos de conexão conduzam à aplicação do direito estrangeiro.
Essa categoria é discutível no direito brasileiro, sendo rejeitada, por exemplo, por Jacob Dolinger
(2007, p. 85, 155), que defende o controle a posteriori pelo critério da ordem pública nacional, ou
seja, a lei estrangeira eventualmente aplicável de acordo com os critérios de conexão seria afastada
apenas quando incompatível com a ordem pública.
IMPACTOS DA ECONOMIA DIGITAL SOBRE
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O DIREITO DOS CONTRATOS

Ainda no âmbito das contratações internacionais, é importante destacar os


contratos relativos à constituição ou transferência de direitos reais sobre bens
imóveis. Os negócios relativos a bens imóveis são aceitos a registro (no Cartório
de Registro de Imóveis) apenas se preencherem os requisitos de forma legalmente
estabelecidos. A generalidade desses contratos exige a celebração mediante forma
específica, a escritura pública. Trata-se de forma solene na qual o tabelião de notas
averigua a capacidade das partes e se certifica do consentimento para a realização
do negócio. Quando uma das partes se encontrava fora do território nacional, o
habitual era a lavratura prévia de uma procuração pública, para que o procurador
representasse uma das partes em contrato celebrado entre presentes. Adaptações
recentes das normas sobre o registro imobiliário e sobre os tabelionatos de notas
permitiram a lavratura de escritura pública a distância.
O processo de adaptação do sistema cartorário à era digital foi deflagrado com
a Lei nº 11.977/2009, que determinava a instituição de sistema de registro eletrô-
nico e impunha que os documentos eletrônicos apresentados aos cartórios atendes-
sem aos requisitos da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil).41
O prazo de implementação do sistema eletrônico, contudo, não se tornou realidade
no prazo indicado na lei (5 anos) (DINIZ, 2020, p. 149), concretizando-se apenas
alguns anos depois, quando foi oficialmente instituído o Sistema de Registro Ele-
trônico de Imóveis (SREI) pela Lei nº 13.465/2017.42
A Lei nº 14.063/2020 manteve a regra de recepção de documentos eletrônicos
pelos registros imobiliários: admitidos, desde que digitalmente assinados, mediante
o uso de assinatura qualificada,43 ou seja, aquela que utiliza processo de certificação
disponibilizado pela ICP-Brasil. Essa regra foi flexibilizada pela Lei nº 14.382/2022,44

41 A norma consta do artigo 38 da Lei nº 11.977, de 7 de julho de 2009, que dispõe sobre o Programa
Minha Casa, Minha Vida (BRASIL, 2009).

42 O Provimento nº 47, de 2015, do Conselho Nacional de Justiça, já estabelecia critérios gerais para
a implementação de um sistema eletrônico, contudo, sua instituição com as características atuais
se dá com a Lei nº 13.465, de 2017, cujo artigo 76 estabelece sua implementação e operação pelo
Operador Nacional (ONR), constituído sob a forma de pessoa jurídica de direito privado sem fins
lucrativos (BRASIL, 2017).

43 “Art. 5º [...] § 2º É obrigatório o uso de assinatura eletrônica qualificada: [...] IV – nos atos de transfe-
rência e de registro, ressalvado o disposto na alínea c do inciso II do § 1º deste artigo” (BRASIL, 2020b).

44 Esta Lei é produto da conversão da Medida Provisória nº 1.085, de 27 de dezembro de 2021.


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22
O DIREITO DOS CONTRATOS

que admite o uso de assinatura avançada, na forma definida em regulamento do


Conselho Nacional de Justiça.45
Contudo, a mera possibilidade de se apresentar uma escritura pública ao re-
gistrador de imóveis em meio eletrônico não permitiria a contratação a distância.
Isso porque a escritura pública é, em regra, lavrada mediante a presença de ambas
as partes perante o tabelião de notas. A situação foi modificada com a viabiliza-
ção de sistema que permite a realização de videoconferência na qual o tabelião
afere o consentimento das partes, seguida da assinatura eletrônica da escritura
pública (pelas partes e pelo próprio tabelião). O chamado ato notarial eletrônico
(que abrange a escritura pública) foi disciplinado pelo Conselho Nacional de Justiça
no ano de 2020, com o fim de evitar que as regras de restrição do funcionamento
dos cartórios (em razão da pandemia de Covid-19) prejudicassem as partes que
pretendessem entabular negócios relativos a imóveis.46
Em se tratando de bens imóveis localizados no Brasil, aplica-se a lei brasi-
leira,47 sendo exclusiva a jurisdição brasileira para julgar demandas relativas a
esses bens.48

45 A Lei nº 14.382, de 2022, alterou a Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de
1973), cujo artigo 11 passou a viger com o acréscimo do seguinte § 2º: “Art. 17. [...] § 2º A Corregedoria
Nacional de Justiça do Conselho Nacional de Justiça poderá estabelecer hipóteses de uso de assi-
natura avançada em atos que envolvam imóveis” (BRASIL, 2022). Nos termos da Lei nº 14.063, de
2020, a assinatura eletrônica avançada é a que “utiliza certificados não emitidos pela ICP-Brasil ou
outro meio de comprovação da autoria e da integridade de documentos em forma eletrônica, desde
que admitido pelas partes como válido ou aceito pela pessoa a quem for oposto o documento, com
as seguintes características: a) está associada ao signatário de maneira unívoca; b) utiliza dados para
a criação de assinatura eletrônica cujo signatário pode, com nível de confiança, operar sob seu con-
trole exclusivo; c) está relacionada aos dados a ela associados de tal modo que qualquer modificação
posterior é detectável” (BRASIL, 2020b).

46 A matéria foi regulada pelo Conselho Nacional de Justiça por meio do Provimento nº 100, de 26 de
maio de 2020, que dispõe o seguinte: “Art. 3º São requisitos da prática do ato notarial eletrônico:
I – videoconferência notarial para captação do consentimento das partes sobre os termos do ato
jurídico; II – concordância expressada pelas partes com os termos do ato notarial eletrônico; III –
assinatura digital pelas partes, exclusivamente através do e-Notariado; IV – assinatura do Tabelião
de Notas com a utilização de certificado digital ICP-Brasil; V – uso de formatos de documentos de
longa duração com assinatura digital” (BRASIL, 2020c).

47 É o que se colhe da LINDB: “Art. 8º Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes,
aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados” (BRASIL, 1942).

48 Nos termos do novo CPC: “Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qual-
quer outra: I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil” (BRASIL, 2015a).
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O DIREITO DOS CONTRATOS

4. EXECUÇÃO E INEXECUÇÃO DOS CONTRATOS


O contrato nasce para ser cumprido, sendo a sua execução o modo ordinário
de extinção das obrigações contratuais (GOMES, 2008, p. 202-203). Embora essa
seja a situação esperada pelos contratantes, esse desfecho nem sempre se veri-
fica. O descumprimento do programa contratual pode ocorrer por variadas razões,
como a impossibilidade objetiva, a superveniência de uma crise econômica no
país, problemas financeiros de uma das partes, doenças, falência ou insolvência,
enfim, uma miríade de situações que impelem o devedor a deixar de cumprir de-
terminada obrigação. Não sendo o caso de liberação do devedor, surge para a parte
prejudicada a alternativa entre pedir a execução forçada do programa contratual
ou pleitear indenização por perdas e danos.49
A via ordinária para o exercício desses direitos é o processo judicial. Nele, o
interessado deve comprovar que celebrou contrato com a parte adversa e que as
obrigações pactuadas não foram cumpridas pelo réu. Ouvido o réu e apresenta-
das as provas, o juiz profere sentença, sujeita a recursos. Se, ao fim dessa fase de
conhecimento, o pedido for julgado procedente, condenando-se o réu, passa-se
à execução da decisão (fase de cumprimento de sentença). Assim, procedemos à
análise do descumprimento contratual observando o seguinte percurso: (1) iden-
tificação do responsável; (2) produção de provas digitais; (3) acesso direto à fase
executiva, diante da admissão do documento eletrônico como título executivo
extrajudicial e (4) execução automática do programa contratual (smart contracts).

4.1 Identificação do responsável


Consoante mencionado linhas acima, o primeiro desafio processual que pode
advir para o autor de uma demanda que envolve um contrato eletrônico é reunir
informações suficientes para que o réu seja citado. A depender de seu domicílio, a
própria citação pode representar evento que consome algum tempo.
Outra questão relevante diz respeito a quem será a parte legítima a figurar
como ré no caso de danos causados àquele que adquire produtos ou serviços por
meio de plataformas de compartilhamento. Essas plataformas intermedeiam ser-

49 É o que dispõe o artigo 475 do Código Civil: “A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a re-
solução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos,
indenização por perdas e danos” (BRASIL, 2002).
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O DIREITO DOS CONTRATOS

viços prestados por terceiros, como os aplicativos de transporte privado e os sítios


eletrônicos de anúncios de casas e apartamentos para locação. Sua atuação no con-
trato, em geral, corresponde à arregimentação de usuários-fornecedores e usuários-
-consumidores (SOUZA; RODRIGUES, 2020).
Em geral, entende-se que, a despeito da assimetria, não há que se falar em
relação de consumo entre a plataforma e o usuário-fornecedor, pois este se vale
daquela para ofertar seus produtos e serviços a determinado público. Isso não im-
pede, contudo, que a vulnerabilidade do último possa permitir a sua equiparação
a consumidor (MIRAGEM, 2021). A relação entre usuário-fornecedor e usuário-
-consumidor pode ser de consumo (como o caso daquele usuário que compra uma
refeição em um restaurante por meio de um aplicativo). Porém, isso nem sem-
pre acontece: é possível que o usuário-fornecedor não atue com habitualidade na
prestação de serviços, o que descaracterizaria a relação consumerista (SOUZA;
RODRIGUES, 2020). Nesse caso, havendo dano, o usuário final poderia demandar
a plataforma por danos causados pelo usuário-fornecedor?
Se não há relação de consumo entre os usuários, é certo que ela existe entre
o usuário-consumidor e a plataforma. Há controvérsia sobre a responsabilização
desta, como integrante da cadeia de fornecimento. De acordo com Bruno Miragem
(2021), há quem defenda uma progressiva extensão da responsabilidade do orga-
nizador da plataforma, a depender de sua participação na contratação, como no
controle e avaliação da prestação, controle do pagamento e participação na remu-
neração. Além disso, a opção dos consumidores pelo contrato via plataformas de-
corre, em parte, da confiança nela depositada, mais do que nos fornecedores diretos.
Outros defendem que a participação deve ser avaliada caso a caso, de modo que,
estando a organização limitada à intermediação, não haveria que se falar em res-
ponsabilização.
Parecem integrar a última corrente Eduardo Souza e Cássio Rodrigues (2020),
que analisam a validade de cláusulas limitativas da responsabilidade civil das pla-
taformas. Em relação à plataforma de transporte, concluem que, por não haver
relação de consumo nem atividade de risco por ela desempenhada, “é possível
que esta responda subjetivamente (por exemplo, pela culpa in eligendo em relação
ao motorista, na hipótese de essa culpa restar demonstrada em concreto)”. Ainda
de acordo com os autores, o mesmo raciocínio não seria aplicável às plataformas
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O DIREITO DOS CONTRATOS

de locação de imóveis para curta temporada nas hipóteses de responsabilidade de-


corrente do cancelamento da reserva pelo anfitrião: nesse caso, a plataforma não
seria qualificada como fornecedora, não exerceria atividade de risco, nem seria res-
ponsável pelo cumprimento da obrigação de terceiro. Nesse cenário, afirmam que
o consumidor pode escolher o hospedeiro e ter maior tempo de reflexão para fazer
sua escolha, o que denotaria a pouca influência da plataforma sobre a escolha do
serviço e do locador (ao contrário do que ocorre, por exemplo, nas plataformas de
transporte privado).
As posições dos tribunais são vacilantes. O Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro (TJRJ) proferiu decisão contrária à responsabilização da plataforma, por
entender que esta presta serviços de anúncio e somente por eles pode ser respon-
sabilizada, devendo ser afastada a responsabilidade no caso de cancelamento da
reserva pelo anfitrião (RIO DE JANEIRO, 2019). De outra parte, julgados do Tribunal
de Justiça de São Paulo (TJSP) tendem a considerar que um dos riscos da atividade
desenvolvida pela plataforma consiste no cancelamento unilateral da hospedagem
pelo anfitrião, o que atrairia a responsabilidade pelo risco. O TJSP refuta o enten-
dimento de que a plataforma seria mera intermediadora:

Tenha-se em mente, com efeito, que a sociedade empresária apelada atua como
agente da chamada economia de compartilhamento e, para o êxito de seu negó-
cio, deve construir e preservar a respectiva reputação nesse mercado, já que a
confiança no serviço é algo de fundamental importância para que o indivíduo
se disponha a compartilhar o que é seu com estranhos ou a compartilhar o uso
de bem ou serviço pertencente a um desconhecido.

Bem é de ver que a apelada não se limita a aproximar os interessados, mas,


muito além disso, é ela quem estabelece as regras contratuais que disciplinarão
a relação entre aqueles personagens, quem recebe os pagamentos e os retém
até que tenha efetivo início a hospedagem, quem anuncia previamente e impõe
penalidades aos contratantes faltosos, etc.

Por onde se concluir que a plataforma de serviços apelada se apresenta e é vista


pela massa consumidora como garante das relações travadas em função da cor-
respondente intermediação. (SÃO PAULO, 2019)

Em ambos os julgados, trata-se de locação de imóveis localizados nos Estados


Unidos. Assim, caso afastada a responsabilidade da plataforma, restaria buscar a
responsabilização do locador. Se entre os usuários (fornecedor e consumidor), não
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O DIREITO DOS CONTRATOS

há relação de consumo, o Estado brasileiro sequer teria jurisdição para conhecer


da demanda indenizatória movida pelo usuário-consumidor,50 o que o sujeitaria
a uma série de dificuldades econômicas para o ajuizamento de uma ação no exte-
rior. Além disso, a desresponsabilização da plataforma gera alguns inconvenientes:
esta não tem estímulo para realizar uma avaliação rigorosa dos locadores e estes
contam com incentivo para descumprir o programa contratual. Basta imaginar o
cancelamento de uma reserva próxima à data de locação para garantir o imóvel a
outro contratante que ofereça aluguel em montante mais elevado.
De outra parte, atribuir a responsabilidade à plataforma viabilizaria o direito
do usuário-consumidor à obtenção da indenização (quando a plataforma tiver re-
presentação no Brasil), sem abalar irremediavelmente sua atividade econômica,
pois o prejuízo pode ser revertido em ação de regresso da plataforma contra o
usuário-fornecedor.

4.2 Provas digitais


Identificada a parte ré e integrada a relação processual, outro momento re-
levante do processo é o da a produção de provas. Sendo o contrato um acordo de
vontades, é conveniente contar com elementos que atestem a sua celebração, o
que ganha maior importância quanto maior for o vulto da operação econômica.
Na generalidade dos casos, opta-se por documentar por escrito a vontade das
partes. No caso de documentos eletrônicos, não há óbice à sua utilização como
meio de prova em processo judicial. O Código de Processo Civil estabelece que os
documentos eletrônicos podem ser utilizados no processo, desde que se possa afe-
rir autenticidade.51 A Lei nº 11.419/2006 preceitua que “os documentos produzidos
eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos com garantia de origem e
de seu destinatário [...] serão considerados originais para todos os efeitos legais”
(BRASIL, 2006). Em sentido semelhante, a Medida Provisória nº 2.200-2/2001,
que instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), presume
verdadeiras em relação aos signatários as declarações constantes dos documentos

50 Como já mencionado, o Estado brasileiro tem jurisdição quando o réu tem domicílio no Brasil,
quando a obrigação tem de ser aqui cumprida ou quando o consumidor aqui tenha domicílio ou
residência (CPC, arts. 21 e 22) (BRASIL, 2015a), o que não se verifica no caso em análise.

51 “Art. 439. A utilização de documentos eletrônicos no processo convencional dependerá de sua con-
versão à forma impressa e da verificação de sua autenticidade, na forma da lei” (BRASIL, 2015a).
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O DIREITO DOS CONTRATOS

em forma eletrônica produzidos com a utilização do processo de certificação dis-


ponibilizado pela ICP-Brasil.52
Diante dessas disposições normativas, caberia questionar se a única forma
de se reconhecer a autenticidade de documentos eletrônicos seria mediante a
assinatura eletrônica que utilize certificado disponibilizado pela ICP-Brasil (de-
nominada assinatura qualificada pela Lei nº 14.063/2020). A resposta é negativa,
uma vez que a própria Medida Provisória faculta a utilização de outros meios de
comprovação de autoria e de integridade de documentos eletrônicos (art. 10, § 2º).
Além disso, o Código Civil reconhece a força probante de reproduções eletrônicas,
quando não impugnadas,53 o que abrange, segundo a doutrina, os arquivos ele-
trônicos.54 O documento, seja físico ou eletrônico, consiste no registro de um fato
(MARCACINI, 2020) e, conforme alerta José Miguel Garcia Medina (2017, p. 731),
sendo possível a realização de transações por meios eletrônicos, a limitação do
uso de documentos eletrônicos no processo implicaria violação do direito à prova.
A principal questão atinente ao documento digital diz respeito à sua autentici-
dade, ou seja, à determinação de sua autoria (MEDINA, 2017, p. 714). Se assinaturas
digitais com o uso de criptografia assimétrica permitem a atribuição da identidade
de quem firmou o documento, o mesmo não pode ser dito com segurança sobre
outras formas de documentação da celebração de contratos.55 Em havendo impug-

52 O texto consta do art. 10 da Medida Provisória (BRASIL, 2001), que continua em vigor por força da
Emenda Constitucional nº 32, de 11 de setembro de 2001 (art. 2º).

53 É o que dispõe o art. 225: “As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e,
em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova
plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão” (BRASIL, 2002).

54 O entendimento consta do Enunciado 298 da IV Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho
da Justiça Federal: “Arts. 212 e 225: Os arquivos eletrônicos incluem-se no conceito de ‘reproduções
eletrônicas de fatos ou de coisas’ do art. 225 do Código Civil, aos quais deve ser aplicado o regime
jurídico da prova documental” (AGUIAR JÚNIOR, 2012).

55 A propósito do tema, assevera Marcacini (2020, p. 793, 795): “A assinatura autógrafa, como ‘expres-
são da identidade do signatário’, pode ser entendida como um sinal característico, único e exclusivo
daquele. Por sua vez, não é uma marca ou sinal que apenas identifique alguém (como outros dados
biométricos também podem fazer), pois é um sinal que se apega ao documento, integrando-o. Deste
modo, a mensagem registrada e a prova da sua autoria integram um só corpo e, na medida em que
seja utilizada uma tinta indelével, assegura-se a preservação da integridade de ambas. [...] Por esta
razão é que soa evidentemente tolo supor que a assinatura manuscrita feita na tela de toque de um
tablet possa ter o mesmo significado probatório que se empresta às assinaturas feitas à tinta, sobre o
papel. Falta-lhe a aludida estabilidade. Tanto o documento assinado pode ser reescrito, sem deixar
vestígios e sem afetar a assinatura, como esta, uma vez transformada em uma sequência de bits,
pode ser facilmente copiada para outro documento, ou muitos outros documentos, em verdade”
(grifos do autor).
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O DIREITO DOS CONTRATOS

nação judicial, pode ser necessária a realização de perícia, para averiguar, além
da autenticidade, a integridade e a cadeia de custódia do documento (THAMAY;
TAMER, 2020, p. 39-47). Ressalte-se que o instrumento contratual não será a única
forma de provar a existência da contratação, havendo outros mecanismos, como
realização de pagamentos, troca de mensagens, testemunhas, etc.

4.3 Documento eletrônico como “bilhete de ingresso” para a


execução
Nem sempre, no entanto, a parte que pretende a satisfação de seu direito pela
via do processo está disposta a percorrer toda a fase de conhecimento, sujeitando-
-se a longo iter procedimental e aos recursos que lhe são inerentes. Em alguns casos,
o legislador lhe faculta prescindir dessa fase, autorizando desde logo o ajuizamento
da ação de execução, desde que o credor disponha de um título executivo extraju-
dicial. Esse título é uma espécie de “bilhete de ingresso”56 no processo de execução,
o que atende a objetivos de celeridade. Entre esses documentos estão os títulos de
crédito, a escritura pública, os instrumentos contratuais assinados pelo devedor e
por duas testemunhas, entre outros.57
Interessante questão atinente a documento assinado eletronicamente foi ana-
lisada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Tratava-se de contrato de empréstimo
realizado entre a Fundação dos Economiários Federais (FUNCEF) e associado por
meio de documento eletrônico, com assinatura qualificada (ou seja, utilizando a
chave que se utiliza no processo de certificação da ICP-Brasil). A rigor, o documento
não se encontra expressamente no Código de Processo Civil entre os títulos executi-
vos extrajudiciais, o que levou o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios
(TJDFT) a indeferir a execução, concluindo ser necessário seguir o procedimento
comum, com a certificação do direito do autor na fase de conhecimento. Ao julgar
o recurso especial interposto em face dessa decisão, o STJ entendeu que o uso da
cadeia de chaves públicas é apto a fazer presumir a autenticidade e a integridade
do documento, presunção reforçada pela utilização de serviço de plataforma inter-
mediária, que teria fornecido documentos e protegido os dados dos contratantes.
Em síntese, por considerar a confiabilidade da assinatura digital utilizada, a Corte

56 A “célebre expressão” é utilizada por Araken de Assis (2018, p. 122) e reproduzida em lição de Thamay
e Tamer (2020, p. 127), esta sobre a prova digital.

57 Confira-se, a propósito, o rol do art. 784 do Código de Processo Civil.


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O DIREITO DOS CONTRATOS

Superior reconheceu os instrumentos contratuais assim firmados como títulos exe-


cutivos extrajudiciais, valendo-se, entre outros argumentos, da “importância con-
temporânea da contratação eletrônica para o desenvolvimento e segurança das
relações comerciais”, e considerando que, em geral, a celebração de contratos pela
via eletrônica e à distância não conta com testemunhas (THAMAY; TAMER, 2020,
p. 132–133), requisito exigido pela lei para conferir força executiva aos documentos
particulares.58 A referência à necessidade de adaptação das normas processuais à
nova realidade da economia digital no Recurso Especial nº 1.495.920/DF, decidido
pelo STJ, merece destaque:

4. Nem o Código Civil, nem o Código de Processo Civil, inclusive o de 2015,


mostraram-se permeáveis à realidade negocial vigente e, especialmente, à re-
volução tecnológica que tem sido vivida no que toca aos modernos meios de ce-
lebração de negócios, que deixaram de se servir unicamente do papel, passando
a se consubstanciar em meio eletrônico.

5. A assinatura digital de contrato eletrônico tem a vocação de certificar, atra-


vés de terceiro desinteressado (autoridade certificadora), que determinado
usuário de certa assinatura a utilizara e, assim, está efetivamente a firmar o
documento eletrônico e a garantir serem os mesmos os dados do documento
assinado que estão a ser sigilosamente enviados.

6. Em face destes novos instrumentos de verificação de autenticidade e presen-


cialidade do contratante, possível o reconhecimento da executividade dos con-
tratos eletrônicos. (BRASIL, 2018)

4.4 Execução automática do programa contratual


Como se disse no início deste item 4, a expectativa das partes repousa sempre
no cumprimento do contrato. Não obstante a importância da garantia represen-
tada pela potencial atividade coativa do Estado – para fazer valer o contrato ou
para ingressar no patrimônio do devedor e dali extrair a indenização devida em
razão do inadimplemento –, o ideal para os agentes econômicos é ter a maior se-
gurança possível em relação ao cumprimento ou evitar, o quanto possível, no caso
de descumprimento, as perdas que vierem a ter. A propósito, com o objetivo de
promover certa dinamização de setores da economia, o legislador brasileiro previu

58 Nos termos do art. 784 do Código de Processo Civil, “São títulos executivos extrajudiciais: [...] IV – o
documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas” (BRASIL, 2015a).
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O DIREITO DOS CONTRATOS

algumas hipóteses de execução sumária, como aquela decorrente da falta de paga-


mento de prestação de empréstimo garantido por alienação fiduciária em garantia
de bens móveis (Decreto-Lei nº 911/1969), e até mesmo de execução extrajudicial, no
caso de inadimplemento de prestações de financiamento imobiliário (Decreto-Lei
nº 70/1966 e Lei nº 9.514/1997).59
A tecnologia apresenta mecanismo tendente a mitigar ainda mais os riscos
do inadimplemento, os denominados smart contracts, que seriam, de acordo com
Leandro Gobbo (2022), “programas de computador, escritos em linguagem formal,
cujo objetivo é viabilizar a realização de negócios diferidos no tempo por meio
da automação de sua execução”. Esses programas permitiriam a automação da
execução contratual, de modo que o inadimplemento é prevenido ou, em ocor-
rendo, suscitariam mecanismos automáticos de defesa (TEPEDINO; SILVA, 2021).
No último caso, o elemento coercitivo representado pela atuação do Estado é subs-
tituído pela execução de mecanismo de autotutela.
O exemplo clássico citado pelos autores e pensado pelo elaborador da ideia de
smart contracts é o da máquina automática de refrigerantes: ao inserir o dinheiro
e selecionar a bebida, a execução é automática, não dependendo da confiança das
partes.60 Outras possibilidades de emprego dessa tecnologia seriam a estipulação
de inativação de mecanismos de funcionamento de veículo locado caso verificado
o não pagamento do aluguel61 ou, em um contrato de seguro de veículo, o paga-
mento automático de prêmio ao segurado caso o software adotado pelas partes ve-
rifique a ocorrência do sinistro (TEPEDINO; SILVA, 2021). Cogita-se, ainda, de seu
uso na aquisição de opções de compra de ações (com automação do sistema para a
transferência de ações uma vez verificado o pagamento da opção e preenchido os
requisitos de preço e quantidade) e do bloqueio de serviços, como os acessados em
um telefone celular.62

59 Nessa esteira, a Câmara dos Deputados aprovou, em junho de 2022, o Projeto de Lei nº 4.188/2021,
que, entre outras coisas, estende a execução extrajudicial aos créditos garantidos por hipoteca e ins-
titui a execução extrajudicial de bens móveis alienados fiduciariamente (BRASIL, 2021c).

60 O exemplo foi formulado por Nick Szabo, que primeiro teorizou os smart contracts (GOBBO, 2022).

61 O não pagamento de prestação de financiamento do veículo poderia ensejar semelhantes conse-


quências, de acordo com Szabo (GOBBO, 2022).

62 Ambos os exemplos são de Leandro Gobbo (2022).


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O DIREITO DOS CONTRATOS

O smart contract se caracteriza pela inevitabilidade da realização do efeito


programado. Se por um lado, isso garante maior segurança quanto à realização da
obrigação, por outro, há prejuízo da atuação judicial, que seria destituída de prati-
cidade quando a demanda tivesse caráter preventivo. Os prejuízos seriam sempre
resolvidos a posteriori, mediante indenização. A partir desse fato, Tepedino e Silva
(2021) concluem que uma das principais vantagens dos smart contracts seria, ao
mesmo tempo, um de seus maiores riscos. Segundo os autores, a automação tam-
bém dificultaria a consideração a normas e valores na execução contratual, como
a dignidade humana, a função social do contrato e a boa-fé objetiva. Essas dificul-
dades podem constituir obstáculo relevante nas relações de consumo, em virtude
da potencial abusividade de uma cláusula impositiva da execução automática e
inevitável.
A avaliação da compatibilidade dessa nova figura ao direito brasileiro parece
não poder ser feita considerando apenas sua ideia em abstrato, sendo mais apro-
priado analisar modalidades específicas de smart contracts e as relações jurídicas
no âmbito das quais se pretende utilizá-los. A segurança jurídica almejada com seu
emprego dificilmente seria alcançada sem amparo legislativo. Gobbo (2022) vislum-
bra o manejo dos smart contracts em futuro próximo ao menos em alguns tipos de
mercados, provavelmente com a condição de se sujeitarem a maior intervenção re-
gulatória no processo de contratação.

5. CONCLUSÃO
A economia digital tem relevante impacto sobre o direito contratual. Como
se nota, a quase onipresença das novas tecnologias na vida cotidiana tem reflexos
sobre os contratos: desde o momento de sua formação, passando pelo exercício de
direitos e sobre os bens que por meio deles se transacionam, chegando à fase de cum-
primento, tendo relevância mesmo nos casos de inadimplemento.
À medida que as relações humanas vão sendo modificadas nesse novo cená-
rio, verifica-se a necessidade de reflexão sobre preceitos tradicionais do direito dos
contratos. Como se apresentou no início deste artigo, no decorrer dos séculos XIX e
XX, os fatos se impuseram sobre o paradigma liberal que via o contrato como justo
em sua essência, para abrir caminho às necessidades sociais no sentido de reequi-
librar por meio da lei as discrepâncias econômicas que havia entre contratantes.
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O DIREITO DOS CONTRATOS

No limiar do século XXI, embora não se vislumbre a necessidade de uma modifica-


ção expressiva da teoria contratual, as novas formas de contratação, de atividade
empresarial e mesmo de bens passíveis de transação econômica impõem ao jurista
a busca de adaptações aos institutos tradicionais, e a formulação de novas soluções
exigidas na era da economia digital.

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