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Art. 51.

São nulas de pleno direito as cláusulas contratuais relativas ao


fornecimento de produtos e serviços que:

(...)

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, coloquem o


consumidor em desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé
ou a equidade.

Enquanto o Congresso Nacional não aprovar uma legislação específica para o


comércio eletrônico, prevalece nas relações de consumo o Código de Defesa do
Consumidor, o qual, embora não tenha um capítulo específico sobre negócios
virtuais, tem sido adaptado à realidade pelos órgãos judiciais, inclusive pelo
Superior Tribunal de Justiça.

3.1

O Decreto nº 7.962/13, no Brasil, é uma importante legislação que trata das


relações de consumo no comércio eletrônico. Ele regulamenta o Código de
Defesa do Consumidor no que diz respeito às compras realizadas pela internet,
estabelecendo regras e direitos para os consumidores nesse contexto.

O objetivo principal do Decreto é oferecer maior proteção aos consumidores


que realizam compras online, garantindo transparência, informações claras e
direitos básicos durante o processo de compra e pós-venda. Algumas das
principais disposições do Decreto são:

1. Informações claras e precisas: O fornecedor deve fornecer informações


claras e precisas sobre o produto ou serviço oferecido, incluindo
características, preços, formas de pagamento, prazos de entrega, entre
outros. Essas informações devem ser disponibilizadas de forma acessível
e de fácil compreensão pelo consumidor.
2. Direito de arrependimento: O consumidor tem o direito de desistir da
compra realizada pela internet em até 7 dias a partir da data de
recebimento do produto ou assinatura do contrato, sem qualquer ônus,
devendo ser ressarcido integralmente.
3. Confirmação do pedido: O fornecedor deve enviar ao consumidor a
confirmação do pedido, por meio eletrônico, contendo todas as
informações da compra realizada.
4. Segurança e privacidade: O fornecedor deve adotar medidas de
segurança adequadas para proteger as informações pessoais e
financeiras do consumidor, garantindo a privacidade e a
confidencialidade dos dados fornecidos durante a compra.
5. Atendimento ao consumidor: O fornecedor deve disponibilizar meios
eficazes de comunicação com o consumidor, como telefone, chat ou e-
mail, para esclarecer dúvidas, prestar informações e resolver eventuais
problemas relacionados à compra.

O Decreto nº 7.962/13 busca equilibrar os interesses dos consumidores e dos


fornecedores, promovendo uma relação mais justa e transparente no comércio
eletrônico. Ele é aplicável a todas as compras realizadas pela internet, incluindo
tanto as transações entre empresas e consumidores finais quanto entre
empresas.

É importante ressaltar que o Decreto deve ser analisado juntamente com o


Código de Defesa do Consumidor e outras legislações pertinentes, como a Lei
de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/18), para uma compreensão
abrangente dos direitos e obrigações relacionados aos contratos eletrônicos no
contexto do comércio eletrônico no Brasil.

3.2

A responsabilidade civil dos provedores de serviço de internet na contratação


virtual é um tema de grande relevância no contexto dos contratos eletrônicos.
Os provedores de serviços de internet desempenham um papel fundamental ao
disponibilizar plataformas e intermediar as transações realizadas online,
conectando fornecedores e consumidores.

No entanto, a questão da responsabilidade dos provedores de serviço de


internet pelos danos causados durante a contratação virtual é complexa e
suscita diversos debates. Em geral, os provedores não são considerados
responsáveis pelos conteúdos e pelas transações realizadas pelos usuários em
suas plataformas, uma vez que atuam como meros intermediários e não como
fornecedores dos produtos ou serviços.

No Brasil, o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) estabelece em seu


artigo 19 que os provedores de aplicações não podem ser responsabilizados
civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. No
entanto, o mesmo artigo também prevê que, em caso de descumprimento de
ordem judicial específica, os provedores podem ser responsabilizados.

Apesar disso, é importante destacar que existem limites para a imunidade dos
provedores de serviço de internet. Caso fiquem comprovadamente cientes da
existência de conteúdos ilícitos ou prejudiciais em suas plataformas e não
tomem medidas para removê-los, podem ser responsabilizados. Além disso,
caso atuem de forma ativa na negociação, na transação ou no pagamento,
podem ser considerados corresponsáveis pelos danos causados.

Outra legislação relevante é o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº


8.078/1990), que estabelece a responsabilidade solidária dos fornecedores pelos
danos causados aos consumidores em decorrência de produtos ou serviços
defeituosos. Nesse sentido, em casos específicos, os provedores de serviço de
internet podem ser considerados fornecedores e, portanto, serem
responsabilizados pelos danos causados aos consumidores em transações
realizadas em suas plataformas.

É importante ressaltar que a análise da responsabilidade dos provedores de


serviço de internet na contratação virtual depende do contexto específico de
cada caso, considerando as circunstâncias, as legislações aplicáveis e a
jurisprudência dos tribunais.

A aplicação do princípio da função social ocorre em diversos campos do direito,


inclusive nos contratos. No âmbito dos contratos, o princípio da função social
busca garantir que as relações contratuais não se restrinjam apenas aos
interesses particulares das partes envolvidas, mas também considerem o
interesse coletivo e o bem-estar da sociedade como um todo.

A função social dos contratos implica que as partes devem exercer seus direitos
e cumprir suas obrigações contratuais de maneira a promover o equilíbrio
social, a justiça e o desenvolvimento sustentável. Isso significa que os contratos
devem ser realizados levando em consideração os valores éticos, a equidade, a
solidariedade e a responsabilidade social.

A aplicação do princípio da função social nos contratos envolve uma análise das
circunstâncias específicas de cada caso, considerando o impacto das relações
contratuais na sociedade em geral. Por exemplo, em contratos de locação, é
importante considerar a garantia do direito à moradia e evitar práticas abusivas
que possam prejudicar o acesso adequado a moradias dignas. Em contratos de
trabalho, é fundamental assegurar condições justas e seguras de trabalho,
respeitando os direitos trabalhistas e promovendo a dignidade do trabalhador.

A função social também pode ser aplicada na interpretação e na revisão dos


contratos. Caso um contrato seja considerado abusivo, prejudicial ou contrário
ao interesse público, é possível que as cláusulas sejam revisadas ou anuladas
visando a proteção dos direitos dos envolvidos e a promoção do bem comum.
A aplicação do princípio da função social nos contratos varia de acordo com o
ordenamento jurídico de cada país. No Brasil, por exemplo, a Constituição
Federal de 1988 estabelece em seu artigo 170 que a ordem econômica deve
observar a função social da propriedade e dos contratos. Além disso, o Código
Civil Brasileiro prevê princípios como a boa-fé objetiva e a vedação ao abuso de
direito, que também estão relacionados à função social dos contratos.

Em suma, a aplicação do princípio da função social nos contratos busca


equilibrar os interesses individuais e coletivos, promovendo relações contratuais
justas, éticas e socialmente responsáveis.

Em conclusão, os contratos eletrônicos representam uma modalidade de


contratação cada vez mais presente no contexto contemporâneo, impulsionada
pelo avanço das tecnologias da informação e comunicação. Essa forma de
contratação traz consigo vantagens como agilidade, praticidade e alcance
global, permitindo transações em tempo real e superando as barreiras
geográficas. No entanto, também apresenta desafios e riscos que precisam ser
enfrentados e regulamentados.

A evolução histórica dos contratos eletrônicos reflete a transformação do


mercado de consumo e a necessidade de adaptar o direito às novas realidades.
Movimentos de proteção aos consumidores surgiram ao longo do tempo,
culminando com a introdução do direito do consumidor na legislação de
diversos países, incluindo o Brasil. O Código de Defesa do Consumidor e outras
legislações específicas estabelecem diretrizes para a proteção dos consumidores
em contratos eletrônicos, visando garantir sua segurança e evitar práticas
abusivas.

A boa-fé objetiva e o princípio da função social são elementos fundamentais na


interpretação e aplicação dos contratos eletrônicos. A boa-fé objetiva exige que
as partes ajam de forma honesta, leal e ética, levando em consideração os
interesses das outras partes e o interesse coletivo. Já o princípio da função
social busca garantir que os contratos atendam não apenas aos interesses
particulares das partes, mas também ao interesse da sociedade como um todo,
promovendo a equidade, a justiça e o desenvolvimento sustentável.

A legislação aplicável aos contratos eletrônicos é um elemento essencial para


estabelecer parâmetros claros e garantir a segurança jurídica nessa modalidade
de contratação. O Marco Civil da Internet e outras leis específicas regulamentam
a responsabilidade dos provedores de serviço de internet, estabelecendo limites
para sua imunidade e definindo suas obrigações em relação aos conteúdos e
transações realizados em suas plataformas.
Em suma, os contratos eletrônicos são uma realidade cada vez mais presente e
demandam uma abordagem jurídica adequada. A aplicação dos princípios da
boa-fé objetiva e da função social, aliada a uma legislação atualizada e
adequada, são essenciais para garantir a segurança, a proteção dos
consumidores e a justiça nas relações contratuais virtuais. É necessário um
constante acompanhamento e aprimoramento das normas e jurisprudências
relacionadas aos contratos eletrônicos para lidar de forma eficaz com os
desafios e riscos dessa modalidade contratual em constante evolução.

A formação e conclusão dos contratos eletrônicos envolvem a manifestação da


vontade das partes contratantes. Segundo Gonçalves (2011, p. 717), o contrato
resulta de duas manifestações de vontade: a proposta e a aceitação. A proposta,
também conhecida como oferta, inicia a formação do contrato e geralmente
não exige uma forma especial.

No entanto, nem sempre o contrato é formado instantaneamente a partir de


uma proposta seguida de uma aceitação imediata. Na maioria dos casos, a
oferta é precedida por uma fase de negociações preliminares, caracterizada por
debates, conversações e sondagens. Embora as negociações preliminares por si
só não gerem obrigações para os participantes, elas impõem deveres jurídicos
aos contratantes, decorrentes do princípio da boa-fé. Esses deveres incluem
lealdade, correção, informação, proteção, cuidado e sigilo. A violação desses
deveres durante as negociações pode resultar na responsabilidade do
contratante, independentemente de o contrato ter sido celebrado ou não.

No caso dos contratos eletrônicos, uma forma comum de resposta é a oferta de


produtos e serviços por meio de sites, geralmente considerada uma oferta
permanente ao público. Além disso, existem ofertas feitas por meio de
mensagens eletrônicas, muitas vezes classificadas como spams, e casos em que
duas pessoas contratam por meio de comunicação direta e instantânea.

É comum, por exemplo, que sites comerciais vendam produtos que não estão
mais em estoque, descumprindo prazos de entrega. Isso pode ocorrer devido a
falhas no sistema de atualização do banco de dados de produtos ou negligência
dos responsáveis pelo site, levando o comprador ao erro, pois a proposta difere
da real possibilidade de cumprimento.

Os contratos, assim como outros negócios jurídicos, possuem um ciclo que


começa com o acordo de vontades, produz seus efeitos próprios e, por fim, se
extingue.
A conclusão do contrato observa duas regras: a primeira se aplica quando o
contrato é celebrado entre presentes, e a segunda quando é formado entre
ausentes.

No caso de contrato entre presentes, a proposta pode ou não estipular um


prazo para aceitação. Caso não haja prazo estipulado, a aceitação deve ser
manifestada imediatamente, sob pena de perder sua força vinculativa. Se
houver prazo estipulado, a aceitação deve ocorrer dentro desse prazo, podendo
o proponente se desvincular do contrato após esse período.

Quando o contrato é celebrado entre ausentes, por meio de correspondência


ou intermediários, a resposta leva algum tempo para chegar ao conhecimento
do proponente e passa por várias fases. O artigo 434 do Código Civil adotou
expressamente a Teoria da Expedição, que estabelece que a resposta se torna
efetiva quando é expedida, ou seja, quando sai do controle do destinatário. O
referido dispositivo afirma:

Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação
é expedida, exceto:

I - No caso do artigo antecedente

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