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DIREITO
SÃO PAULO
2019
JUSTINO RAMOS DE SOUZA NETO
SÃO PAULO
2019
2
RESUMO
ABSTRACT
Sumário
1. Introdução; 2. Das Relações Comerciais, 2.1. Relação entre o Código
Civil e o Código de Defesa do Consumidor, 2.2 Correlação entre os
Termos de Política, o Código de Defesa do Consumidor e o Marco Civil
da Internet, 2.3 Análise da Jurisprudência a Respeito de Compras
Realizadas no Exterior, por meio das plataformas; 3. Conclusão
3
1 INTRODUÇÃO
e, com isso, criar uma correlação com o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº
8.078/1990).
Outra dificuldade para o presente trabalho, seria procurar conceitos gerais
do Direito do Consumidor em casos tão específicos. Inclusive pelo fato de que,
algumas das plataformas estudadas, nem sequer estão, necessariamente,
submetidas à legislação nacional, muito embora esta seja respeitada, sempre que o
consumidor denuncia a violação de algum direito seu, tanto na esfera judicial, como
na esfera extrajudicial.
Isto porque plataformas como “Wish” e “AlieExpress”, por exemplo,
funcionam de acordo com os regimentos e leis de outros países, mas, como
possuem mercado consumidor também no território brasileiro, adequaram suas
políticas de privacidade e de uso aos termos da legislação brasileira.
Dessa forma, definindo o ponto de partida, passando para o cerne do
estudo, é de se esperar que este chegue a uma conclusão prática, que, neste caso,
seria a resolução da principal problemática do e-commerce, ou seja, a segurança
jurídica nas relações de consumo dentro do comércio eletrônico.
Encontrada a solução para a segurança jurídica do consumidor, a
utilização do e-commerce assumirá um papel de destaque nas relações em geral. É
o caminho natural. Muitos serviços que, antigamente, possuíam uma única forma de
execução, passaram a se adaptar às novas demandas do mercado que, por sua
vez, só passaram a existir por conta da grande evolução tecnológica, bem como a
facilidade do acesso às novas tecnologias.
Sendo assim, resta nítida e evidente a necessidade de debater este tema
e afastar as dúvidas que ainda o rodeiam. Afinal, trata-se de algo que, por mais
recente que possa ser, já está ganhando um espaço dentro da sociedade, pois já
aparece como um grande meio de realização de negócios, ainda que alternativo.
são suficientes, por envolverem pessoas que não estão debaixo da tutela desses
elementos normativos.
Isso acontece porque é praticamente impossível delimitar, definir ou,
ainda, prever todas as possiblidades de negócios em que todos os tipos de pessoas,
físicas ou jurídicas, podem estabelecer entre si.
É espantoso constatar a quantas relações de consumo as pessoas estão
sujeitas no dia a dia. Prestações de serviços, fornecimento de alimentos,
fornecimento de entretenimento, venda de roupas, objetos e afins. O tempo todo as
pessoas estão “negociando”. É da natureza humana.
Dessa forma, justamente por conta de sua naturalidade, é simplesmente
lógico e plausível que essa característica passe a existir no meio virtual, tendo em
vista o grande avanço tecnológico recente que, por sinal, apenas vem crescendo
sem previsão de parar.
Hoje em dia, é bastante comum verificar que as relações de consumo
possuem, como intermediadores, plataformas, aplicativos ou sites eletrônicos,
conforme já mencionado anteriormente.
Nesse sentido, surgiu mais um elemento que pode ser atrelado à figura
de fornecedor. Dessa forma, conforme será visto no decorrer do presente trabalho,
surgiram algumas dificuldades que repercutem nos direitos dos consumidores.
Porém, antes de adentrar no tema central, é necessário, antes ter uma
noção básica do que seja consumidor, fornecedor, produto e serviço.
Qualquer estudo acerca de relações de consumo deve iniciar com a
definição dos sujeitos e dos elementos que os integram. O legislador pátrio
incumbiu-se dessa tarefa ao definir, no Código de Defesa do Consumidor, o que é
consumidor, fornecedor, produto e serviço. No artigo 2º do referido código,
consumidor “é toda pessoa física ou jurídica que adquira ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final”1. No parágrafo único desse mesmo artigo, o
legislador abrangeu o conceito de consumidor, para fins da lei, equiparando a ele “a
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo”.
Do mesmo modo, no artigo 3º, cuidou o legislador de definir fornecedor
como sendo “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
1
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. : Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras
providências.. Diário Oficial da União, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm>.
Acesso em: 01 abr. 2019.
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2
MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código de
Defesa do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
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3
NUNES, Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. 10. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. 125 p.
4
NUNES, Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. 10. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. 133 p.
5
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão nº 519310. Recorrente: INSTITUTO BRASILEIRO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR - IDEC. Recorrido: SOCIEDADE DE BENEFICÊNCIA E FILANTROPIA SÃO
CRISTOVÃO. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Resp 519310 / Sp. Brasília, 24 maio 2004. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp>. Acesso em: 15 abr. 2019.
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TERMOS e Condições de Compra e Venda de Produtos. Disponível no site do Submarino. Disponível em
<https://www.submario.com.br/contrato-compra-e-venda>. Acesso em 04 maio 2019
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anterior, é possível realizar a compra dos mais diversos e variados produtos, porém
a principal diferença reside no fato de que não há apenas um fornecedor e sim
vários. A plataforma funciona como um mecanismo de intermediação da compra e
não como parte.
2.1.3 Amazon: Valendo-se de uma mecânica muito semelhante ao
Submarino, a Amazon tem sido uma liderança no mercado de e-commerce,
ganhando espaço em muitos países. Atuando numa espécie de sistema misto, ela
possui um estoque próprio, mas pode servir como plataforma de anúncios para
aqueles que estejam interessados em vender seus produtos. Sendo possível,
inclusive, realizar compras, também, de outros países ou do seu próprio.
2.1.4 Wish: A plataforma Wish possui muita semelhança com o
AliExpress, o que faz sentido já que sua proposta original era não apenas ter mais
variedade nos produtos e fornecedores, como também, incialmente, trazer menos
custos aos seus consumidores. Porém, a longo prazo, os serviços de ambas
plataformas se assemelharam bastante com o passar do tempo, o que tornou a
disputa “mais interessante”, tendo em vista que, com a concorrência entre os dois
aplicativos, não raras as vezes, é possível vislumbrar muitas promoções e ofertas.
2.1.5 eBay: O mais antigo e, possivelmente, o pioneiro na área,
fundado em setembro de 1995, nos Estados Unidos, o eBay é conhecido por, assim
como algumas plataformas já citadas, conciliar a venda entre lojas com particulares,
procurando estabelecer relações de consumo ao redor do mundo. Porém, ao
contrário de seus concorrentes diretos, o acervo de produtos é abastecido,
unicamente, pelos seus usuários e o grande diferencial é que isso se dá ao redor de
todo o mundo, o que pode gerar certas complicações, como a longa espera para a
entrega da coisa, por exemplo.
2.1.6 PagSeguro: Diferentemente, das demais plataformas
mencionadas, não disponibilizada um acevo de produtos ou cria o contrato de
compra e venda entre as partes. Se formos fazer uma análise jurídica, esta
plataforma funciona como uma ferramenta de segurança dentro do contrato digital,
na qual, ao valer-se dela, tanto os direitos do vendedor quanto os do comprador são
resguardados. Essa plataforma, na realidade, é um mediador inteligente do contrato.
Assim como o AliExpress e o Wish, ele conta com o mecanismo de Disputa, que
permite ao comprador reaver seu dinheiro, em caso da coisa não ser entregue.
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MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: O Novo Regime das Relações
Contratuais. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
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8
•BENEDICTO, Marcelo. IBGE divulga o rendimento domiciliar per capita 2018. 2019. Disponível em: <IBGE
divulga o rendimento domiciliar per capita 2018>. Acesso em: 12 abr. 2019.
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BRASIL. Primeira Turma Turma Recursal do Distrito Federal. Acórdão nº 685339. Relator: Diva
Lucy de Faria Pereira. Processo Nº 20110111816860 Acj. Diário Justiça Eletrônico, 20 set. 2013. p.
291.
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BRASIL. Turma Recursal do Distrito Federal. Acórdão nº 886991. Diário Oficial da União. Brasília,
19
12
BRASIL. 15ª Camara de Direito Privado. Acórdão nº 10000711220188260565. Relator: Mendes Pereira. São
Paulo, SP, 16 de abril de 2019. Apelação Cível 1000071-12.2018.8.26.0565. Diário Justiça Eletrônico, 24 abr.
2019. p. 291.
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que alegou não haver cobertura de garantia para o aparelho, já que fora adquirido
no Exterior. Contatada a seguir, a multinacional coreana fabricante do aparelho
alegou motivos idênticos para eximir-se de responsabilidade pelos vícios
apresentados pelo aparelho celular. Acionadas ambas as fornecedoras, a
consumidora pediu a restituição do valor pago pelo produto, no montante R$
2.999,00. A corré vendedora alegou ilegitimidade passiva e, no mérito, pugnou pela
ausência de responsabilidade de sua parte. A corré fabricante do produto, por sua
vez, alegou, em preliminar, incompetência territorial e, no mérito, sustentou que, por
se tratar de produto importado, era inviável o reparo diante de incompatibilidade com
a tecnologia nacional. Julgando o recurso o órgão jurisdicional manteve a sentença
do primeiro grau, que entendera verossimilhantes as alegações da autora e
determinara a restituição do valor pago e o recolhimento do produto. 13
primeira alegou que lhe competia tão somente entregar ao consumidor a mercadoria
que sua parceira vendedora deveria enviar do Exterior, mas que não o fizera. A
outra corré alegou a ela somente tocava a responsabilidade pela intermediação do
pagamento. Não obstante, a turma recursal reconheceu a responsabilidade de
ambas, por solidariedade com o fornecedor e manteve a condenação imposta no
primeiro grau para que ambas reembolsem o valor pago pelo consumidor e o
indenizem por danos morais, cujo valor foi majorado pela turma, com relação ao
montante que fora fixado na primeira instância.
A hipótese ora trazia à colação é de ação de ressarcimento de valor pago
por aparelho celular não recebido, com condenação das rés em indenização de
danos morais. Como sempre, as corrés alegaram responsabilidade de terceiro. Uma
delas disse que o seu papel na relação de consumo se restringia a entregar a
mercadoria, que é enviada do exterior por empresa vendedora, sua parceira. A outra
corré, por sua vez, alegou não ter nenhuma responsabilidade pelo malogro da
transação, já que apenas atua na intermediação dos pagamentos. Não obstante, as
decisões de primeira e segunda instâncias foram convergentes para responsabilizar
ambas as corrés, com base na solidariedade dos fornecedores incidente nas
relações de consumo, nos termos do artigo 7º, parágrafo único do Código de Defesa
do Consumidor. Daí que foram elas condenadas a ressarcir o valor pago pela
consumidora, no montante de R$ 462,38, além de indenizá-la por danos morais pelo
valor de R$ 1.500,00, montante este que resultou de majoração feita pela turma
recursal, já que, em primeira instância, dita indenização havia sido fixada em apenas
R$ 500,00. Em suma, acertadas as decisões de ambas as instâncias, pois seria
mesmo inadmissível a exclusão de responsabilidade das corrés, que têm papeis
bem definidos na relação de consumo do caso, não havendo nenhuma razão para
que não fosse reconhecida conta as mesmas a solidariedade que constitui uma das
principais garantias do consumidor, de acordo com nossa legislação.
2.3.5 Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
2.3.5.1 A Terceira Turma Recursal do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina conheceu de Recurso Inominado e negou-lhe provimento, em caso no qual
o consumidor alegou ter adquirido aparelho de telefonia celular pela internet por
meio do site Submarino. Sucedeu que, apesar de o aparelho ter sido ofertado como
desbloqueado e capaz de funcionar com qualquer das operadoras em atividade no
país, somente funcionava na frequência de um única operadora de telefonia móvel.
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A turma recursal manteve a condenação imposta na sentença, que julgara ter havido
violação do dever de informação ao consumidor. Reconhecida a responsabilidade
objetiva e solidária nos termos das disposições dos artigos 7º e 14 do Código de
Defesa do Consumidor, restando configurado o Dano Moral. 15
3. CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS