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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

DIREITO

JUSTINO RAMOS DE SOUZA NETO

As Relações De Compra E Venda No Exterior Por Plataformas Virtuais

SÃO PAULO
2019
JUSTINO RAMOS DE SOUZA NETO

AS RELAÇÕES DE COMPRA E VENDA NO EXTERIOR POR PLATAFORMAS


VIRTUAIS

Trabalho científico apresentado para


conclusão do curso de Direito, da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Prof. Orientador: DR. EDUARDO


ALTOMARE ARIENTE

SÃO PAULO
2019
2

RESUMO

Este artigo aborda, resumidamente, as relações de consumo


intermediadas por aplicativos ou sites que vendem produtos importados, por um
preço mais acessível aos consumidores, analisando com maior profundidade as leis
que regem tais transações. e correlacioná-las com a lei brasileira, buscando dar
destaque para os riscos e para as vantagens dos negócios.

ABSTRACT

The objective of this article is to discuss briefly the consumer relations


brokered by applications or websites that offer the sale of products imported from
other countries, at a more affordable price to consumers, examining in greater depth
the laws that govern such transactions and correlate them with the Brazilian law,
seeking leave to highlight the risks and benefits of business.

Palavras-chave: Relação de Compra e Venda. Compras pela Internet.


Aplicativos de Compra. Produtos Importados.

Sumário
1. Introdução; 2. Das Relações Comerciais, 2.1. Relação entre o Código
Civil e o Código de Defesa do Consumidor, 2.2 Correlação entre os
Termos de Política, o Código de Defesa do Consumidor e o Marco Civil
da Internet, 2.3 Análise da Jurisprudência a Respeito de Compras
Realizadas no Exterior, por meio das plataformas; 3. Conclusão
3

1 INTRODUÇÃO

Normalmente, quando nos deparamos com um produto do qual gostamos,


já temos a vontade de adquiri-lo. Porém, não raras vezes, este impulso é suprimido
por fatores que consideramos determinantes no ato da compra. Se a segurança e a
certeza de que o produto é como o fornecedor afirma; se, de fato, ele será entregue
dentro do prazo prometido; além da idoneidade do fornecedor já mencionada, a
idoneidade do aplicativo ou plataforma, dentre outras questões, são assuntos que,
muitas vezes podem gerar problemas, caso não devidamente considerados antes de
ser feito o pedido.
É comum ver nos smartphones, notebooks e outros meios de
comunicação, propagandas de produtos que são compatíveis com nosso perfil de
consumo e que, de uma forma geral, despertam o nosso mínimo interesse em
adquiri-los.
Um fato curioso é que, em muitos casos, essas propagandas servem
como publicidade não apenas para os produtos em si, como também para
divulgação das próprias plataformas virtuais que se valem do meio digital para se
apresentar ao público alvo. Tal modalidade de divulgação é bem comum, pois as
referidas plataformas, por não possuírem um local de venda físico, necessitam abrir
seu espaço dentro do dia a dia das pessoas e, aparentemente, o uso do espaço
publicitário dentro das mais variadas redes sociais vem sendo o melhor meio de
atingir esse objetivo.
O presente artigo tem por principal escopo expor, de forma sucinta e
breve, os aspectos jurídicos dessa nova forma de modalidade de compra e venda
que vem crescendo de forma significativa em diversos países.
Ocorre, contudo, que, para alcançar esse objetivo, é necessário, primeiro,
tentar responder os principais questionamentos que irão respaldar o estudo, dentre
eles: os direitos do consumidor previstos nas leis nacionais são válidos e aplicáveis
a estas transações? E quanto aos direitos do fornecedor? Quais são eles? É
possível torná-los compatíveis com as garantias do consumidor brasileiro?
A quantidade de questões, de certa forma, aponta o nível de
complexidade do tema. Por esta razão, o presente trabalho terá por intuito analisar e
correlacionar os termos de política das principais plataformas utilizadas atualmente
4

e, com isso, criar uma correlação com o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº
8.078/1990).
Outra dificuldade para o presente trabalho, seria procurar conceitos gerais
do Direito do Consumidor em casos tão específicos. Inclusive pelo fato de que,
algumas das plataformas estudadas, nem sequer estão, necessariamente,
submetidas à legislação nacional, muito embora esta seja respeitada, sempre que o
consumidor denuncia a violação de algum direito seu, tanto na esfera judicial, como
na esfera extrajudicial.
Isto porque plataformas como “Wish” e “AlieExpress”, por exemplo,
funcionam de acordo com os regimentos e leis de outros países, mas, como
possuem mercado consumidor também no território brasileiro, adequaram suas
políticas de privacidade e de uso aos termos da legislação brasileira.
Dessa forma, definindo o ponto de partida, passando para o cerne do
estudo, é de se esperar que este chegue a uma conclusão prática, que, neste caso,
seria a resolução da principal problemática do e-commerce, ou seja, a segurança
jurídica nas relações de consumo dentro do comércio eletrônico.
Encontrada a solução para a segurança jurídica do consumidor, a
utilização do e-commerce assumirá um papel de destaque nas relações em geral. É
o caminho natural. Muitos serviços que, antigamente, possuíam uma única forma de
execução, passaram a se adaptar às novas demandas do mercado que, por sua
vez, só passaram a existir por conta da grande evolução tecnológica, bem como a
facilidade do acesso às novas tecnologias.
Sendo assim, resta nítida e evidente a necessidade de debater este tema
e afastar as dúvidas que ainda o rodeiam. Afinal, trata-se de algo que, por mais
recente que possa ser, já está ganhando um espaço dentro da sociedade, pois já
aparece como um grande meio de realização de negócios, ainda que alternativo.

2. DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

De forma geral, as relações de consumo que envolvem os brasileiros


possuem amparo e resguardo no Código de Defesa do Consumidor (CDC), bem
como no Código Civil (CC). Contudo, há casos em que esses atos normativos, por
liberalidade entre as partes do negócio, não são observados. Há casos em que não
5

são suficientes, por envolverem pessoas que não estão debaixo da tutela desses
elementos normativos.
Isso acontece porque é praticamente impossível delimitar, definir ou,
ainda, prever todas as possiblidades de negócios em que todos os tipos de pessoas,
físicas ou jurídicas, podem estabelecer entre si.
É espantoso constatar a quantas relações de consumo as pessoas estão
sujeitas no dia a dia. Prestações de serviços, fornecimento de alimentos,
fornecimento de entretenimento, venda de roupas, objetos e afins. O tempo todo as
pessoas estão “negociando”. É da natureza humana.
Dessa forma, justamente por conta de sua naturalidade, é simplesmente
lógico e plausível que essa característica passe a existir no meio virtual, tendo em
vista o grande avanço tecnológico recente que, por sinal, apenas vem crescendo
sem previsão de parar.
Hoje em dia, é bastante comum verificar que as relações de consumo
possuem, como intermediadores, plataformas, aplicativos ou sites eletrônicos,
conforme já mencionado anteriormente.
Nesse sentido, surgiu mais um elemento que pode ser atrelado à figura
de fornecedor. Dessa forma, conforme será visto no decorrer do presente trabalho,
surgiram algumas dificuldades que repercutem nos direitos dos consumidores.
Porém, antes de adentrar no tema central, é necessário, antes ter uma
noção básica do que seja consumidor, fornecedor, produto e serviço.
Qualquer estudo acerca de relações de consumo deve iniciar com a
definição dos sujeitos e dos elementos que os integram. O legislador pátrio
incumbiu-se dessa tarefa ao definir, no Código de Defesa do Consumidor, o que é
consumidor, fornecedor, produto e serviço. No artigo 2º do referido código,
consumidor “é toda pessoa física ou jurídica que adquira ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final”1. No parágrafo único desse mesmo artigo, o
legislador abrangeu o conceito de consumidor, para fins da lei, equiparando a ele “a
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo”.
Do mesmo modo, no artigo 3º, cuidou o legislador de definir fornecedor
como sendo “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
1
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. : Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras
providências.. Diário Oficial da União, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm>.
Acesso em: 01 abr. 2019.
6

estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de


produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição e comercialização de produtos ou prestação de serviços”. Nesse mesmo
artigo, parágrafo 1º, define produto como sendo “qualquer bem, móvel ou imóvel,
material ou imaterial. Já o artigo 2º diz que serviço “é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive de natureza bancária,
financeira, de crédito e securitária, salvo decorrente nas relações de caráter
trabalhista.
Nossa melhor doutrina, em geral, não encontra maiores dificuldades na
definição de consumidor, já que o legislador o conceituou de modo sintético, mas, ao
mesmo tempo, exaustivo, ao dizer que consumidor é todo aquele que adquire ou
utiliza um produto ou serviço como destinatário final. O grifo aqui se justifica porque,
de fato, foi o que o legislador deixou para a aplicação do intérprete, ao aplicar a lei.
É aí, efetivamente, que são encontradas algumas dificuldades. Mas, em geral, o que
se pode dizer é que, se alguém adquire algo para revender, não incide relação de
consumo entre esse alguém e o seu fornecedor; mas o terceiro que adquiriu essa
mesma mercadoria para o seu consumo é, tecnicamente, consumidor, sendo o seu
direito oponível tanto contra o seu fornecedor contra o fabricante – isto é, o
fornecedor do fornecedor. Para melhor exemplificar isto, suponha-se que “A”
abasteceu seu veículo em um posto de revenda de combustível (“B”) e que este
combustível apresentou ser de má qualidade, o que resultou em danos ao veículo de
“A”. “A” tem relação jurídica com “B” e com o fornecedor deste, que é a empresa
distribuidora de combustíveis (“C”). Esta distribuidora, se não tiver feito o refino do
combustível vendido, certamente adquiriu-o de uma refinaria de petróleo (“D”). Pois
bem. “A” tem relação jurídica e, portanto, ação contra todos que estejam na linha de
fornecimento, ou seja, de “B” a “D”. Na prática, porém, “A” deverá acionar apenas
“B” e, no máximo, “C”, mas a solidariedade presente nos artigo 7º, parágrafo único, e
18 do Código de Defesa do Consumidor lhe garante o direito de pedir o
ressarcimento contra todos que integram a cadeira de fornecimento.
Ainda falando em definição de consumidor, Claudia Lima Marques
resgata os conceitos de consumidor, dentro do Direito Alemão, de modo a destacar
duas espécies abordas pela autora em seu artigo 2, a saber: Consumidor Ativo

2
MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código de
Defesa do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
7

(aktive Verbraucher) que diz respeito ao consumidor que, dento do âmbito


internacional se desloca de um país ao outro e adquire produtos, bem como
consumidor Passivo (Passive Vebraucher). Este último é o consumidor que não
viaja. Adquire seus produtos de onde está, dando ao fornecedor a obrigação de
efetuar a entrega para a realização da transação.
De qualquer sorte, porém, há casos particulares que apresentam
dificuldades específicas. Rizzatto Nunes 3, por exemplo, cita a hipótese em que duas
pessoas, ao adquirirem o mesmo produto com necessidades semelhantes, na
verdade, se colocam em situações diferentes, do ponto de vista das relações de
consumo. É o caso do professor que se encontra, na papelaria, com o aluno. Ambos
foram até lá adquirir uma caneta. O professor destinaria o objeto para as atividades
da aula que ministraria logo em seguida na faculdade. O aluno, para anotar as
preleções do professor. Rizzato Nunes considera que o professor adquiriu na
papelaria um bem de produção; portanto não seria ele, nesse caso, um consumidor,
à luz do sistema consumerista. Seu aluno, no entanto, ao adquirir a caneta para
anotar a aula, se qualificou como consumidor, sendo ele destinatário final. A
eventual discordância com o entendimento do notável mestre de direito do
consumidor, apenas demonstra quão ocorrentes são as hipóteses existentes na
doutrina.
No tocante ao conceito de fornecedor, na letra da lei, não são cnstatadas
maiores dificuldades. A própria doutrina já acentua que “a leitura pura e simples
desse caput (do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor) já é capaz de nos dar
um panorama da extensão das pessoas enumeradas como “fornecedores”. 4 Como
exemplo jurisprudencial, acerca do conceito de fornecedor é oportuno destacar o
julgado do Superior Tribunal de Justiça5, nos seguintes termos:

“Para o fim de aplicação do Código de Defesa do Consumidor, o


reconhecimento de uma pessoa física ou jurídica ou de um ente
despersonalizado como fornecedor de serviços atende aos critérios
puramente objetivos, sendo irrelevantes a sua natureza jurídica, a espécie
dos serviços que prestam e até mesmo o fato de se tratar de uma sociedade
civil, sem fins lucrativos, de caráter beneficente e filantrópico, bastando que

3
NUNES, Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. 10. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. 125 p.
4
NUNES, Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. 10. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. 133 p.
5
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão nº 519310. Recorrente: INSTITUTO BRASILEIRO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR - IDEC. Recorrido: SOCIEDADE DE BENEFICÊNCIA E FILANTROPIA SÃO
CRISTOVÃO. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Resp 519310 / Sp. Brasília, 24 maio 2004. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp>. Acesso em: 15 abr. 2019.
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desempenhem determinada atividade no mercado de consumo mediante


remuneração.”
(STJ-3ª T. REsp 519.310, Min, Nancy Andrighi, j. 20/04/04, DJU 25.5.04, p.
262)
No que concerne à conceituação de produto e serviço, a própria definição
legal dos parágrafos 1º e 2º di artigo 3º é suficiente para a boa compreensão do seu
alcance, não se verificando maiores dificuldades ao bom entendimento da mens
legis dos dispositivos referidos.

2.1 O Código de Defesa do Consumidor, o Decreto nº 7.962/2013,


que o regulamenta, e sua correlação com os Termos de Política
de algumas plataformas

É importante frisar, desde logo, que, em se tratando de estudo acerca de


e-commerce, o seu exercício em nosso país se submete também às regras
instituídas pelo Decreto nº 7.962, de 15 de março de 2013, que “regulamenta a Lei
nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio
eletrônico”, como dispõe literalmente a sua ementa. Isso faz todo sentido, entre
outras coisas, porque sendo o Código de Defesa do Consumidor de 1990, quando o
comércio eletrônico no Brasil era praticamente inexistente – e ainda incipiente até
mesmo nos países mais desenvolvidos – a edição desse decreto veio a preencher,
já com certo atraso, uma lacuna normativa que, de um lado, inibia consumidores que
preferiam realizar as transações eletrônicas, mesmo correndo risco de sofrerem
prejuízos, principalmente diante da incerteza do recebimento dos produtos
adquiridos. Também os fornecedores de produtos e serviços, aí incluindo os
estrangeiros, saíram ganhando com a edição desse decreto, uma vez que a partir
daí, viram crescer os contingentes de consumidores. Embora a edição do referido
decreto, não garanta, por si só, que os fornecedores virtuais alienígenas cumpram
efetivamente o regramento ali previsto, é evidente que a adesão a essas regras
aumenta suas possibilidades de realização de negócios por meio eletrônico com
consumidores brasileiros, já que isso representa ótima oportunidade para alargar os
seus negócios em um mercado consumidor como o do Brasil, que conta com uma
grande população, sendo que boa parte dela dispõe de computadores e aparelhos
aptos para realizar transações eletrônicas.
9

O Decreto nº 7.962/2013, em seu artigo 1º, explicita os aspecto da Lei nº


8.078/1990 por ele abrangidos, que são: informações claras a respeito do produto,
serviço e do fornecedor (inciso I); atendimento facilitado ao consumidor (inciso II); e
respeito ao direito de arrependimento (inciso III). Já o artigo 2º determina que “os
sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados” para exercício desse tipo
de comércio “devem disponibilizar, em local de destaque e fácil visualização” as
informações relacionadas nos incisos I a VI, sendo a primeira delas o nome
empresarial do fornecedor e o número de sua inscrição no cadastro de pessoas
físicas ou jurídicas do Ministério da Fazenda. No seu artigo 3º, o decreto dispõe
sobre as informações que devem ser prestadas pelo sítios e demais meios
eletrônicos “utilizados para ofertas de compras coletivas ou modalidades análogas
de contratação”. O artigo 4º, por sua vez, indica os meios que devem ser
disponibilizados pelo fornecedor para “garantir o atendimento facilitado ao
consumidor, no comércio eletrônico”, abrangendo: o sumário do contrato entre as
partes; a disponibilização de “ferramentas eficazes” visando a identificação e
imediata correção nas estapas que antecederem a finalização do contrato; a
imediata confirmação do recebimento da aceitação da oferta; a disponibilização do
contrato ao consumidor por meio que lhe permita sua reprodução e conservação,
logo após a contratação, manutenção de serviço adequado e eficaz em meio
eletrônico, que torne possível ao consumidor encaminhar ao fornecedor demandar
relacionadas a informação, dúvidas, reclamações, suspensão ou cancelamento do
contrato; a confirmação imediata de mecanismos de segurança para pagamento e
para manuseio de guarda de dados do consumidor. No artigo 5º, o decreto impõe ao
fornecedor o dever de informar. “de forma clara e ostensiva”, os meios pelos quais o
consumidor poderá exercer o seu direito de arrependimento da aquisição, conforme
disciplinam os seus parágrafos. Já o artigo 6º determina que, no comércio eletrônico,
as contratações observem o “cumprimento das condições da oferta, com a entrega
dos produtos e serviços contratados, observados os prazos, quantidade, qualidade e
adequação”. Por fim, a “inobservância das condutas descritas neste Decreto”.
Por aí se vê que as normas do Decreto nº 7.962/2013, ora estudadas, que
disciplinam a aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao comércio eletrônico,
de fato acrescentaram importantes elementos e dispositivos que certamente de fato
acrescentaram importantes elementos e dispositivos que certamente impulsionam, e
impulsionarão cada vez mais, o crescimento desse hoje importante instrumento de
10

realização de negócios. Naturalmente, outros regramentos serão necessários em


futuro próximo, até porque a cadeira de produtos e serviços hoje disponibilizada no
comércio eletrônico internacional só tende a crescer. Embora o Autor não disponha
de estatísticas sobre o volume econômico que gira, por ano, atualmente, no
mercado mundial, abrangendo produtos e serviços, sabe-se, com certeza, que essas
transações na sua esmagadora maioria abrangem pequenos objetos, eletrônicos ou
não; artigos de lazer, vestuário, calçados, livros, etecetera. Mas oque impede que, a
curto e médio prazo, as pessoas de maior poder aquisitivo possam adquirir produtos
de maior vulto, tanto físico, quanto econômico-financeiro, como, por exemplo,
automóveis, aeronaves de pequeno porte, pequenas embarcações, entre outros?
Nada impede. Porém, na medida em que isso vier a acontecer, por certo, que
haverá demanda por um regramento de âmbito internacional, mais rígido, por meio
de tratados entre os países. Isso não apenas para garantia de relacionamento mais
seguro entre fornecedores e consumidores, mas principalmente porque, a essa
altura, países exportadores e importadores terão interesse, por exemplo, no
regramento tributário incidente nessas transações, além de outras questões como a
observância das quotas de importação e exportação que vigoram no comércio
internacional. Serão temas para regulamentação mediante tratados bilaterais ou
plurilaterais entre países, quiçá também pela O.M.C. – Organização Mundial do
Comércio – organismo multilateral do comércio internacional.
Em síntese, em termos atuais, o regramento do Código de Defesa do
Consumidor, conjuntamente com o Decreto nº 7.962/2013 que o regula, é o meio
que melhor rege adequadamente o relacionamento do consumidor brasileiro com
fornecedores, incluindo os estrangeiros, também no comércio eletrônico.
Sendo assim, as plataformas consideradas neste trabalho são:
2.1.1 Submarino6: Trata-se de uma plataforma virtual, com endereço
eletrônico, que possui um estoque voltado para a maioria dos gostos e
necessidades. Sendo possível encontrar desde eletrodomésticos a artigos
colecionáveis. O fornecedor conta com um serviço comum de postagem pelos
correios, bem como serviço especializado de empresas de transportes particulares.
2.1.2 AliExpress: Esse site proporciona ao consumidor o contato com
diversos fornecedores, a maioria situada na China outras regiões do oriente. Como o

6
TERMOS e Condições de Compra e Venda de Produtos. Disponível no site do Submarino. Disponível em
<https://www.submario.com.br/contrato-compra-e-venda>. Acesso em 04 maio 2019
11

anterior, é possível realizar a compra dos mais diversos e variados produtos, porém
a principal diferença reside no fato de que não há apenas um fornecedor e sim
vários. A plataforma funciona como um mecanismo de intermediação da compra e
não como parte.
2.1.3 Amazon: Valendo-se de uma mecânica muito semelhante ao
Submarino, a Amazon tem sido uma liderança no mercado de e-commerce,
ganhando espaço em muitos países. Atuando numa espécie de sistema misto, ela
possui um estoque próprio, mas pode servir como plataforma de anúncios para
aqueles que estejam interessados em vender seus produtos. Sendo possível,
inclusive, realizar compras, também, de outros países ou do seu próprio.
2.1.4 Wish: A plataforma Wish possui muita semelhança com o
AliExpress, o que faz sentido já que sua proposta original era não apenas ter mais
variedade nos produtos e fornecedores, como também, incialmente, trazer menos
custos aos seus consumidores. Porém, a longo prazo, os serviços de ambas
plataformas se assemelharam bastante com o passar do tempo, o que tornou a
disputa “mais interessante”, tendo em vista que, com a concorrência entre os dois
aplicativos, não raras as vezes, é possível vislumbrar muitas promoções e ofertas.
2.1.5 eBay: O mais antigo e, possivelmente, o pioneiro na área,
fundado em setembro de 1995, nos Estados Unidos, o eBay é conhecido por, assim
como algumas plataformas já citadas, conciliar a venda entre lojas com particulares,
procurando estabelecer relações de consumo ao redor do mundo. Porém, ao
contrário de seus concorrentes diretos, o acervo de produtos é abastecido,
unicamente, pelos seus usuários e o grande diferencial é que isso se dá ao redor de
todo o mundo, o que pode gerar certas complicações, como a longa espera para a
entrega da coisa, por exemplo.
2.1.6 PagSeguro: Diferentemente, das demais plataformas
mencionadas, não disponibilizada um acevo de produtos ou cria o contrato de
compra e venda entre as partes. Se formos fazer uma análise jurídica, esta
plataforma funciona como uma ferramenta de segurança dentro do contrato digital,
na qual, ao valer-se dela, tanto os direitos do vendedor quanto os do comprador são
resguardados. Essa plataforma, na realidade, é um mediador inteligente do contrato.
Assim como o AliExpress e o Wish, ele conta com o mecanismo de Disputa, que
permite ao comprador reaver seu dinheiro, em caso da coisa não ser entregue.
12

Ao analisar as políticas de uso, o primeiro aspecto que se vê em comum


em cada uma delas é a preocupação em passar ao consumidor a ideia de uma
compra segura, não importando o método de pagamento, o produto ou o local de
entrega.
Tal preocupação coloca em evidência a delicada questão, já apresentada,
sobre a insegurança que se tem a respeito de compras feitas pela internet. Além
disso, o grande diferencial que é possível verificar em cada uma dessas plataformas,
é a extrema facilidade em reparar transações mal concluídas, por meio de estornos,
possibilidade de direito de arrependimento, conforme previsto no artigo 49, do
Código de Defesa do Consumidor, bem como no Decreto 7.962, em seu artigo 7º.
No caso das plataformas Wish e AliExpress, essa garantia apresenta um
aspecto ainda mais interessante. Como a maioria dos fornecedores se encontra em
países asiáticos, o tempo de entrega médio dos produtos, em comparação com seus
concorrentes ocidentais é significativamente maior, podendo a levar, inclusive,
meses para chegar ao endereço do consumidor. Entretanto, as garantias do negócio
visam a uma proteção maior ao comprador em relação ao vendedor.
A plataforma disponibiliza um serviço de proteção chamado de “Disputa”
que, quando acionado, faculta ao comprador inserir uma reclamação, que será
intermediada pelos moderadores do site, no prazo de até 60 (sessenta) dias.
Por meio desse mecanismo, o comprador poderá ter o valor de sua
compra totalmente ressarcido diretamente na sua conta bancária. Ocorre que, em
alguns casos, quando o produto já se encontra na posse do comprador, porém este
verifica divergência entre a coisa recebida com aquela pretendida. Nesse caso, se o
consumidor utilizar o mecanismo de “Disputa”, a plataforma ressarce o valor ao
comprador sem, contudo, obrigá-lo a devolver o produto ao fornecedor.
Nitidamente, trata-se de uma grande diferença, com relação às demais
plataformas que, em condições semelhantes, exigem a devolução do produto, em
troca do ressarcimento dos valores.
Conforme já mencionado anteriormente, o PagSeguro também se vale da
utilização do mecanismo de Disputa. Porém, aqui ele apresenta algumas diferenças
com relação aos demais. No caso do PagSeguro, o mecanismo de disputa tem um
prazo menor para ser aberto (30 dias); contudo, a reclamação poderá ser feita
qualquer tempo, dentro de 20 dias após a abertura do mecanismo em questão.
13

Tal condição, direciona o estudo do presente trabalho para outro


questionamento central: quando se realiza uma compra no exterior, e os produtos
sofrem algum dano, há alguma espécie de proteção ao consumidor?
Uma das características centrais dos contratos de compra e venda
virtuais é a necessidade de transportar o produto do fornecedor ao consumidor.
Porém, não raras vezes, o comprador se vê refém de um sistema em que dependerá
do serviço de correios, ou de agências transportadoras equivalente, para satisfazer
sua pretensão.
De um lado, o judiciário não pode responsabilizar o fornecedor por danos
aos quais não deu causa, por outro lado também não se verifica justo que deixe o
consumidor que é, na maioria dos casos, a parte mais fraca da relação de consumo.
Nessa linha de raciocínio, observando os princípios da defesa do
consumidor, talvez o ideal seria exigir dos fornecedores maiores garantias e mais
comprometimento, no sentido de garantir que o produto chegue ao consumidor, a
fim de que este possa se sentir mais seguro.
Nesse aspecto, Cláudia Marques de Lima, afirma em sua obra “Contratos
no Código de Defesa do Consumidor”7 que o Brasil não possui institutos específicos
para a proteção ao consumidor no âmbito virtual, muito embora o Marco Civil da
Internet assegure em seu texto a adequação da aplicação deste às demais leis
existentes no ordenamento normativo brasileiro.
A esperança aqui é de que as normas vindouras venham a regulamentar
da maneira mais pormenorizada possível os contratos que se configurem na forma
digital, a fim de que se tenham institutos objetivos que garantam a proteção do
consumidor.
No cenário internacional, cumpre destacar que a Organização das
Nações Unidas já se posicionou no sentido de que a internet deverá ser utilizada de
modo a observar os direitos fundamentais de seus usuários. Dessa forma, não é
difícil concluir que há uma preocupação em torno da proteção de direitos na esfera
digital.
Ocorre que, quando se trata de contratos, a esfera digital cria a
possibilidade de haver a contratação a distância, o que, antes, não era possível.

7
MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: O Novo Regime das Relações
Contratuais. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
14

Com isso, o contrato passa a ter a sua materialidade desconfigurada, passando,


também, a ser um elemento imaterial.
Para tratarmos desse tópico, é necessário delimitar um conjunto de
aplicativos e plataformas que lidam diretamente com este tipo relação jurídica, a fim
de que, ao comparar com a legislação brasileira, seja possível chegar a um
denominador comum a todos eles e, com isso, fazer uma análise da abrangência
dos direitos do consumidor ao redor do mundo.
Sendo assim, as plataformas que serão analisadas neste trabalho serão:
No caso recentemente julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo (Jurisprudência 1), vemos uma situação em que o consumidor tentou obter
uma jaqueta, através da já citada plataforma AliExpress. No caso concreto, o
produto pretendido não foi devidamente entregue ao consumidor e o posicionamento
do Tribunal foi no sentido de dar ganho de causa à plataforma de compras, pelo fato
da não-entrega do produto não ter sido de responsabilidade do fornecedor.
Certamente, a plataforma tentar evitar certos danos, com o uso do
mecanismo de “disputa”, por exemplo, mas isso não significa que o consumidor se
verá em um ambiente de transações cem por cento seguro.
Dessa forma, trazendo uma aplicabilidade da teoria de Adam Smith para
o ambiente da internet, é possível perceber que há normas ainda não positivadas
que estão influenciando esses contratos, de forma tácita, implícita. Isso porque ainda
é grande o sentimento de insegurança do consumidor nessa modalidade contratual.
Essa realidade não exime a responsabilidade do Estado em regulamentar
as novas modalidades de negociação, haja vista a necessidade do cumprimento de
determinadas formalidades, em contratos específicos. Com o constante avanço
tecnológico, é praticamente certo que, dentro em breve, será necessário incorporar a
novas tecnologias ao ordenamento jurídico, como ferramentas de facilitação e de
garantias ao consumidor.
Inclusive, conforme é possível verificar, pela ausência de diretrizes e
normas mais rígidas no sentido de proteger os direitos do consumidor e impor
normas de conduta aos fornecedores, não havendo a devida responsabilização em
determinados casos, o Judiciário se vê às voltas com situações em que os temas de
discussão têm em vista a aplicação, ou não, do Código de Defesa do Consumidor
naquele caso específico; ou se deve ser aplicado apenas o Código Civil, além de
15

tentar verificar a parte a quem de fato compete determinadas responsabilidades na


cadeia de fornecimento.
Ainda que se entenda que, nos casos em que há relação de consumo,
pela aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, o consumidor poderá
requerer seus direitos a quaisquer um dos coobrigados, que respondem
solidariamente. Quando se fala de e-commerce esses conceitos deixam de ser tão
definidos quanto seria desejável, de modo que, na maioria das vezes, se questiona a
aplicabilidade dos institutos consumeristas a determinados casos.

2.2 Correlação entre os Termos de Política de algumas


plataformas, o Código de Defesa do Consumidor e o Decreto
No seu conjunto, o Código Civil de 2002 trouxe elementos que dialogam
com o Código de Defesa do Consumidor, vigente desde 1991. Tal sintonia entre as
normas traz maior segurança às relações de consumo, pois, agora, existe uma base
sólida em que tanto fornecedores, quando consumidores, têm suas obrigações
definidas e seus direitos assegurados.
Entre as normas do Código de Defesa do Consumidor que interagem com
as do Código Civil, podem ser citadas aquelas do artigo 28 do CDC e do artigo 50 do
CC, que tratam da desconsideração da personalidade jurídica. No CDC, o juiz fica
autorizado a fazer a desconsideração quando, “em detrimento do consumidor,
houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou do contrato social” (art. 28).
Também se verifica afinidade normativa entre os dois diplomas legais nos
artigos 186 e 944 do Código Civil com os artigos 12 e 18 a 25 do Código de Defesa
do Consumidor, que tratam de indenização (arts. 186 e 944 do CC) e reparação ao
consumidor (arts. 12, 18 e seguintes do CDC). Ainda correlação entre o CC e o CDC
se encontra na questão da boa-fé objetiva, matéria de que se ocupam o artigo 422
do Código Civil e o artigo 4º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor.
Sendo assim, resta evidente o cuidado dado às relações de consumo
dentro do ordenamento jurídico brasileiro.
Partindo dessa premissa, constata-se ser necessário tratar o assunto em
voga com cuidado, pois é sempre necessário verificar a lei que melhor se aplica aos
contratos entabulados entre as partes. Na maioria das vezes, porém, ocorre a
16

incidência conjunta das normas do Código Civil com as do Código de Defesa do


Consumidor.

2.3 Análise de Precedentes a Respeito de Compras Realizadas, no


Exterior e no País, por meio das plataformas

A metodologia adotada para a pesquisa de jurisprudência para o presente


trabalho, compreendeu-se de em três passos, a saber: Escolha dos tribunais e
turmas e recursais, escolha das plataformas, separação dos casos mais interessante
e que ilustram, da melhor forma possível, o quadro geral apresentado.
Nesse sentido, cumpre primeiramente informar que para selecionar os
tribunais e colégios recursais, o Autor decidiu pela adoção de um critério objetivo,
afastando a possibilidade de que escolhas meramente subjetivas pudessem
comprometer a isenção esperada em tarefas como a presente. Até mesmo porque
se, de um lado, a pesquisa necessita de abrangência, por outro lado, seria
totalmente inviável obter-se um padrão de julgamento, considerando todos os
tribunais dos estados-membros da União, mais o Distrito Federal.
Daí que o critério adotado recaiu na escolha dos cinco estados que,
dentre todos os vinte e seis, mais o Distrito Federal, possuem o maior rendimento
nominal mensal domiciliar per capita da população residente, de acordo com os
dados obtidos no sítio eletrônico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Assim, foram pesquisados precedentes do Distrito Federal e dos Estados de
São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro.8
A utilização deste critério se deu por conta do entendimento do Autor,
segundo o qual, onde há mais renda, teoricamente, há maior poder de compra.
Havendo maior poder de compra, o raciocínio lógico a que se chega é que haja
maior potencial consumo produtos, dos mais variados tipos.
Dessa forma, foi necessário pesquisar uma variedade maior de situações
e, com isso, uma diversidade também maior de casos que precisaram da
intervenção do Judiciário para serem resolvidos. Feita esta explicação quanto ao
critério da pesquisa realizada, eis os precedentes anotados neste trabalho:

8
•BENEDICTO, Marcelo. IBGE divulga o rendimento domiciliar per capita 2018. 2019. Disponível em: <IBGE
divulga o rendimento domiciliar per capita 2018>. Acesso em: 12 abr. 2019.
17

2.3.1 Precedentes do Colégio Recursal do Distrito Federal:


2.3.1.1 Num primeiro caso, julgado pelo Colégio Recursal do Distrito
Federal, o consumidor adquiriu no Exterior um aparelho eletrônico de marca
mundialmente conhecida, fabricado e distribuído por multinacional de renome.
Tendo havido o mau funcionamento do produto – um videogame –, o consumidor
ajuizou ação contra a filia ou subsidiária brasileira da empresa alienígena fabricante
do aparelho, tendo pedido a substituição do equipamento defeituoso. A 2ª Turma
Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal deu provimento ao recurso para
reformar a sentença e condenar a recorrida (Sony) a, no prazo de 15 (quinze) dias
da ciência do retorno dos autos à primeira instância, proceder à substituição do
equipamento defeituoso (Playstation 4), por outro da mesma marca e modelo, sob
pena de multa diária de R$ 200,00 (duzentos reais) limitada ao montante de R$
2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais), valor do aproximado do produto no Brasil. O
acórdão cita precedentes do Superior Tribunal de Justiça (REsp nº 63.981/SP); da
própria 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal (Acórdão nº
579852 – Processo nº 20110111121863 ACJ); e da Primeira Turma Recursal dos
Juizados Especiais do Rio Grande do Sul (Recurso Cível nº 71004591897) 9

No caso apresentado a Turma Recursal houve por bem reformar a


sentença para reconhecer a aplicação do Código de Defesa do Consumidor com
relação à aquisição, feita no Exterior, de aparelho eletrônico que veio a apresentar
defeitos. A ré defendeu-se pretendendo ilegitimidade passiva ad causam, uma vez
que não seria ela a fornecedora do produto adquirido pelo consumidor. Contudo, o
Judiciário concluiu acertadamente no sentido que o negócio feito com empresas
multinacionais merece exegese diferenciada das leis de proteção do consumo, uma
vez que essas transações têm em vista a notoriedade da empresa e da marca a ela
vinculada. A força dessa notoriedade, segundo esse entendimento, é de tal
magnitude que suprime fronteiras. Não teria mesmo nenhum cabimento o
consumidor ter de dirigir-se ao fornecedor domiciliado no Exterior para fazer valer o
seu direito. Isso significaria reduzir a praticamente zero as possibilidades de
reparação objetivadas pelo comprador do produto e resultaria em completa

9
BRASIL. Primeira Turma Turma Recursal do Distrito Federal. Acórdão nº 685339. Relator: Diva
Lucy de Faria Pereira. Processo Nº 20110111816860 Acj. Diário Justiça Eletrônico, 20 set. 2013. p.
291.
18

ineficácia do sistema protetivo do consumidor vigente em nosso país. Disso resultou


o acolhimento do pedido do consumidor.

2.3.1.2 Um segundo caso, também julgado pelo Colégio Recursal do


Distrito Federal, se refere a pedido de reparação de danos materiais e morais
formulados por consumidora, com base em contrato formalizado em sítio de compra
na internet. Tratou-se da aquisição de bolsa feminina, com utilização de serviço de
gerenciamento de pagamento online a cargo do PagSeguro. Sucedeu que o
fornecedor enviou à compradora mercadoria diversa da que foi efetivamente
solicitada. A loja virtual fornecedora deixou de cumprir a promessa de substituição
do produto. No caso, a consumidora, embora consciente quanto ao prazo para
reclamar no tocante à irregularidade do fornecimento deixou fluir por completo tal
prazo, sem suscitar o chamado mecanismo de Disputa, limitando-se a prosseguir
com tratativas para a solução do problema apenas junto à empresa vendedora. Daí
que não foi efetuado o bloqueio de pagamento, por meio do mecanismo da
ferramenta para esse fim disponibilizado pela empresa gerenciadora do pagamento.
Ou seja, a compradora agiu com negligência no exercício do seu direito. Tivesse ela
acionado a chamada Disputa e sobrestado o pagamento, das duas, uma: ou ela teria
a substituição do produto que fora entregue em desconformidade com a compra
efetuada; ou ela receberia de volta o valor pago, que estaria retido pela
intermediadora. A Turma Recursal afastou a obrigação de indenizar em razão da
inércia da consumidora.10
Neste outro caso apresentado, a Turma Recursal não aceitou a
reclamação da consumidora, porque esta excedeu o prazo para reclamar do
fornecedor do mencionado mecanismo de disputa disponibilizado pelo gerenciador
de pagamento. Isso deixa muito claro que o consumidor não pode esperar
passivamente que os seus direitos sejam respeitados, e que somente pode ter esta
expectativa legítima se adotar a providências que lhe competem. Não obstante,
acertadamente, o órgão jurisdicional rejeitou a preliminar de ilegitimidade passiva,
entendendo ser o PagSeguro parte integrante da cadeira de fornecimento e não
poderia ser diferente já que referido intermediador é considerado também
fornecedor, de acordo com a solidariedade incidente nas relações de consumo.

10
BRASIL. Turma Recursal do Distrito Federal. Acórdão nº 886991. Diário Oficial da União. Brasília,
19

2.3.2 Precedentes do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

2.3.2.1 A 30º Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São


Paulo julgou o caso em que o consumidor adquiriu pela internet aparelhos de
telefonia, relógios e perfumes. Não recebidas as mercadorias, o consumidor ajuizou
a ação na justiça comum, visando o seu recebimento. O pedido foi direcionado
contra a empresa vendedora e contra a empresa gestora de pagamentos. A
sentença, apenas parcialmente procedente, foi reformada para reconhecer a
ocorrência de danos morais e a impossibilidade de entrega dos produtos, tendo sido
acolhido o pedido subsidiário de reembolso dos valores despendidos pelo autor. A
corré gestora arguiu que apenas recebeu o pagamento e que não teve nenhuma
responsabilidade pela não entrega das mercadorias, já que não integrou a relação
de compra e venda. O tribunal considerou inconsistente essa alegação da corré,
mantendo-a no polo passivo como intermediadora da relação de consumo
disponibilizada em plataforma eletrônica na internet. Mantida, pois, a
responsabilidade solidária na cadeira de fornecimento. Prejuízos materiais e morais
demonstrados; estes, em razão da frustração do consumidor, resultando no dever de
indenizar. Não obstante, por outro lado, foi acolhida a alegação da corré
intermediadora de que não tinha responsabilidade pela entrega dos produtos, mas,
em todo caso, ela responde ao consumidor por solidariedade com a vendedora. Em
suma, o tribunal determinou o reembolso dos valores despendidos pelos autos e a
indenização dos danos morais.11
Neste caso, o tribunal entendeu que, diante do não recebimento da
mercadoria, cabia o reembolso do que o consumidor havia pago, além da reparação
dos danos morais por ele suportados. Neste sentido, o seu pedido foi atendido com
o provimento do recurso. De outra parte, a corré gestora de pagamentos também
teve seu apelo parcialmente provido tendo o tribunal acolhido alegação de não ter
ela responsabilidade pela entrega dos produtos. Todavia, a decisão reconheceu a
existência de solidariedade entre a fornecedora dos produtos (corré vendedora) e a
prestadora de serviços (corré gestora de pagamentos), em boa aplicação das
disposições dos artigos 3º e 7º, parágrafo único do Código de Defesa do
Consumidor.
11
BRASIL. 30ª Câmara de Direito Privadotribunal de Justiça de São Paulo. Acórdão nº
00053323620138260482. Relator: Marco Ramos. São Paulo, SP, 07 de março de 2018. Apelação Cível
0005332-36.2013.8.26.0482. Diário Justiça Eletrônico, 08 mar. 2018. p. 291.
20

2.3.2.2 Em outro caso envolvendo relação de consumo, ainda o Tribunal


de Justiça de São Paulo, agora pela sua 15ª Câmara de Direito Privado, julgou a
apelação interposta pelo consumidor contra sentença que extinguira o feito sem
resolução do mérito por ilegitimidade ativa e passiva das partes. Sucedeu que, no
caso, o consumidor tomou emprestado o nome de terceira pessoa para fazer a
aquisição da mercadoria, que acabou não sendo entregue. Evidentemente, a
titularidade da ação, isto é, a legitimidade ativa caberia, aí, ao terceiro que
emprestou o nome para a transação, pois foi em nome dele que foi emitido e pago o
boleto da malsinada aquisição. Após o sentenciamento do feito, o autor trouxe aos
autos declaração firma pelo adquirente confirmando ter emprestado o seu nome.
Todavia, o tribunal considerou tardio tal expediente para tentar manter o autor no
polo ativo. O recurso foi provido em parte “para se reconhecer a legitimidade passiva
da PagSeguro, intermediadora e gestora dos pagamento”. 12
Este caso, mostra uma ocorrência que não é incomum, infelizmente, nas
relações de consumo em nosso país. Não raro, sucede que alguém empreste seu
nome para outrem faça uma aquisição de algum bem. Na hipótese vertente,
verificado o dano, o autor ingressou com ação reportando haver emprestado o nome
de terceiro para a aquisição de um aparelho Smart TV. A decisão em primeira
instância, mantida pelo tribunal, foi no sentido da extinção do feito sem resolução do
mérito, por ilegitimidade ativa, uma vez que, embora na prática o autor tenha sido o
prejudicado, não figurou ele na relação de consumo, ao menos formalmente. Por
outro lado, o recurso foi provido em parte, apenas para ser reconhecida a
legitimidade passiva da ré PagSeguro, que alegara ilegitimidade, acolhida no
primeiro grau de jurisdição.
2.3.3 Turmas Recursais do Rio Grande do Sul
2.3.3.1 Este caso, julgado pela Quarta Turma Recursal Cível, trata de
aquisição de aparelho celular da marca Samsung no Exterior. A consumidora alegou
que, após quatro meses de uso, o produto passou a apresentar vícios, reiniciando
sozinho; isto é, sem o acionamento do dispositivo para esse fim. Logo a seguir o
equipamento passou a apresentar um “risco de pixel” na tela. A consumidora
procurou, então, a filial gaúcha da empresa que vendara o equipamento (FNAC),

12
BRASIL. 15ª Camara de Direito Privado. Acórdão nº 10000711220188260565. Relator: Mendes Pereira. São
Paulo, SP, 16 de abril de 2019. Apelação Cível 1000071-12.2018.8.26.0565. Diário Justiça Eletrônico, 24 abr.
2019. p. 291.
21

que alegou não haver cobertura de garantia para o aparelho, já que fora adquirido
no Exterior. Contatada a seguir, a multinacional coreana fabricante do aparelho
alegou motivos idênticos para eximir-se de responsabilidade pelos vícios
apresentados pelo aparelho celular. Acionadas ambas as fornecedoras, a
consumidora pediu a restituição do valor pago pelo produto, no montante R$
2.999,00. A corré vendedora alegou ilegitimidade passiva e, no mérito, pugnou pela
ausência de responsabilidade de sua parte. A corré fabricante do produto, por sua
vez, alegou, em preliminar, incompetência territorial e, no mérito, sustentou que, por
se tratar de produto importado, era inviável o reparo diante de incompatibilidade com
a tecnologia nacional. Julgando o recurso o órgão jurisdicional manteve a sentença
do primeiro grau, que entendera verossimilhantes as alegações da autora e
determinara a restituição do valor pago e o recolhimento do produto. 13

Analisando os casos acima, é possível perceber que há determinados


padrões. Nota-se que, numa maioria dos casos, as partes que compõem os polos
passivos das demandas geralmente alegam sua ilegitimidade, não querendo se
responsabilizar pelo dano que o Autor alega ter sofrido.
Não obstante a negativa de responsabilidade pelas corrés, a Turma
Recursal acertou ao decidir pela responsabilidade de ambas. Da FNAC, por ser ela
filial da vendedora. Da outra corré, por ser ela representante, aqui no Brasil, de sua
homônima multinacional, uma das maiores fabricantes mundiais de aparelhos
celulares. Em consequência, foram as corrés, acertadamente, condenadas à
indenizar o dano material sofrido pela autora. Este caso – assim como aqueloutro,
julgado pelo Colégio Recursal do Distrito Federal, visto acima –, bem demonstra
que, quando acionados, os representantes dos fornecedores alienígenas tentam se
desvencilhar das ações, mediante alegação de que a aquisição do produto ocorreu
fora do território nacional, negando vinculação com as empresas multinacionais que
eles representam aqui. Este exemplo deixa mais do que claro haver urgente
necessidade de regramento supranacional para o comércio eletrônico, onde fique
expressa a responsabilidade de filiais e subsidiárias locais pelos produtos
adquiridos, no Exterior, de suas matrizes estrangeiras. Por enquanto, os
consumidores nacionais contam apenas coma boa interpretação, pelo Poder
13
BRASIL. Quarta Turma Recursal. Acórdão nº 71007743461. Relator: Silvia Maria Pires Tedesco. São Paulo,
SP, 26 de abril de 2019. Recurso Cível 71007743461. Diário Justiça Eletrônico, .
22

Judiciário das normas protetivas de consumo que integram o Código de Defesa do


Consumidor e o Decreto nº 7.962/2013, que o regulamenta.

2.3.4 Turmas Recursais do Estado do Rio de Janeiro


2.3.4.1 O estudo apresenta agora julgamento de recurso que coube à
Quinta Turma Recursal Cível do Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de caso em que
o fornecedor, o site de compras na internet denominado ‘Compra da China’, assumiu
a responsabilidade de num prazo de 20 a 45 dias, entregar na agência dos correios
o aparelho celular comprado pela consumidora. Sucedeu, porém, que a entrega do
produto na agência postal se deu bem depois do prazo estabelecido no contrato. A
fornecedora alegou em sua defesa que a consumidora demorou quase um mês para
retirar o produto nos correios. Contudo, a turma recursal considerou que esse fato
“não isenta a fornecedora de cumprir o contrato na forma aprazada”, daí decorrendo
responsabilidade objetiva e solidária do site de compras pelo dano provocado por
empresa parceira, “nos termos do artigo 7º, parágrafo único do CDC”. Como
consequência, a turma recursal condenou o site compras à composição de Danos
Morais, cuja indenização foi fixada em R$ 800,00. Por outro lado, o acórdão
manteve a responsabilidade da consumidora pelo imposto incidente na transação, já
que isso foi objeto de “cláusula contratual expressa”, não tendo ela razão quanto a
esta parte do recurso.14
No caso acima, em decisão acertada, a turma recursal deu parcial
provimento ao recurso da autora para obrigar a ré a indenizá-la por danos morais,
uma vez que o bem adquirido foi entregue na agência dos correios com mais de
quarenta e cinco dias de atraso da data prevista para a entrega, já que era, por si só,
prazo bastante dilatado. Daí que reconheceu a responsabilidade do site de compras
pelo dano, nos termos do artigo 7º, parágrafo único do Código de Defesa do
Consumidor. Na mesma decisão, porém ficou mantida a responsabilidade da
consumidora pelo pagamento do tributo incidente na operação, diante da clara
disposição contratual nesse sentido.
2.3.4.2 Neste outro caso, também julgado pelo Colégio Recursal do
Estado do Rio de Janeiro, o consumidor reclama ter pago e não recebido aparelho
de celular. As corrés alegaram ilegitimidade já que não venderam o produto. A
14
BRASIL. Quinta Turma Recursal do Rio de Janeiro. Acórdão nº 0003464-71.2012.8.19.0207. Relator: Marcia
de Andrade Pumar. Processo 0003464-71.2012.8.19.0207. Diário Justiça Eletrônico, .
23

primeira alegou que lhe competia tão somente entregar ao consumidor a mercadoria
que sua parceira vendedora deveria enviar do Exterior, mas que não o fizera. A
outra corré alegou a ela somente tocava a responsabilidade pela intermediação do
pagamento. Não obstante, a turma recursal reconheceu a responsabilidade de
ambas, por solidariedade com o fornecedor e manteve a condenação imposta no
primeiro grau para que ambas reembolsem o valor pago pelo consumidor e o
indenizem por danos morais, cujo valor foi majorado pela turma, com relação ao
montante que fora fixado na primeira instância.
A hipótese ora trazia à colação é de ação de ressarcimento de valor pago
por aparelho celular não recebido, com condenação das rés em indenização de
danos morais. Como sempre, as corrés alegaram responsabilidade de terceiro. Uma
delas disse que o seu papel na relação de consumo se restringia a entregar a
mercadoria, que é enviada do exterior por empresa vendedora, sua parceira. A outra
corré, por sua vez, alegou não ter nenhuma responsabilidade pelo malogro da
transação, já que apenas atua na intermediação dos pagamentos. Não obstante, as
decisões de primeira e segunda instâncias foram convergentes para responsabilizar
ambas as corrés, com base na solidariedade dos fornecedores incidente nas
relações de consumo, nos termos do artigo 7º, parágrafo único do Código de Defesa
do Consumidor. Daí que foram elas condenadas a ressarcir o valor pago pela
consumidora, no montante de R$ 462,38, além de indenizá-la por danos morais pelo
valor de R$ 1.500,00, montante este que resultou de majoração feita pela turma
recursal, já que, em primeira instância, dita indenização havia sido fixada em apenas
R$ 500,00. Em suma, acertadas as decisões de ambas as instâncias, pois seria
mesmo inadmissível a exclusão de responsabilidade das corrés, que têm papeis
bem definidos na relação de consumo do caso, não havendo nenhuma razão para
que não fosse reconhecida conta as mesmas a solidariedade que constitui uma das
principais garantias do consumidor, de acordo com nossa legislação.
2.3.5 Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
2.3.5.1 A Terceira Turma Recursal do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina conheceu de Recurso Inominado e negou-lhe provimento, em caso no qual
o consumidor alegou ter adquirido aparelho de telefonia celular pela internet por
meio do site Submarino. Sucedeu que, apesar de o aparelho ter sido ofertado como
desbloqueado e capaz de funcionar com qualquer das operadoras em atividade no
país, somente funcionava na frequência de um única operadora de telefonia móvel.
24

A turma recursal manteve a condenação imposta na sentença, que julgara ter havido
violação do dever de informação ao consumidor. Reconhecida a responsabilidade
objetiva e solidária nos termos das disposições dos artigos 7º e 14 do Código de
Defesa do Consumidor, restando configurado o Dano Moral. 15

Em suma, os precedentes trazidos nos acórdãos colacionados mostram


que o Poder Judiciário tem dado resposta às demandas dos consumidores,
aplicando as disposições do Código de Defesa do Consumidor, inclusive em casos
de mercadorias adquiridas fora do país. Entretanto, ainda não se vislumbra uma
completa proteção do consumidor nos moldes propostos pelo diploma legal
consumeristas em vigor, conforme pôde ser verificado no caso da consumidora que
adquiriu em um sítio eletrônico uma bolsa não condizente com a que encomendara.
Seu pedido não foi concedido pelo Judiciário diante do fato de ter ela deixado de
acionar o mecanismo disponibilizado pelo gesto de pagamentos. Esse fato bem
ilustra um dado importante da realidade das relações de consumo entre nós, qual
seja, que a adequada informação do consumidor, quanto aos seus direitos, ainda é
insuficiente.

3. CONCLUSÃO

Em se tratando de comércio eletrônico, pode-se concluir que, em termo


de legislação, há um respaldo razoável do ordenamento jurídico brasileiro. No que
tange ao comércio eletrônico nas transações internacionais, porém, pode-se afirmar
que existe uma grande e clara lacuna a ser preenchida. Isso somente poderá ser
suprido pela ação conjunta dos países envolvidos nessa nova modalidade de
realização de negócios – o que significa dizer que é algo que demanda o
envolvimento de praticamente todos os países do planeta. O fato é que esse tipo de
transação está em estágio apenas inicial, não sendo exagero prever que, de médio a
longo prazo, todos os negócios serão feitos por meios eletrônicos. Certamente, esse
dado da realidade que se avizinha servirá como um despertador para deflagrar
providências dos governos visando a elaboração de uma legislação de âmbito
internacional.

15
25

Evidentemente, essa providência terá início mediante tratados bilaterais e


mesmo plurilaterais. Porém, a realização de negócios eletrônicos em escala
planetária reclamará regulamentação em âmbito mundial, algo que poderá ser
atribuído a um organismo multilateral a ser criado, ou mesmo à Organização Mundial
do Comércio (O.M.C) – já existente.
Entre nós, a edição do Decreto nº 7.962/2013, que regulamentou o
Código de Defesa do Consumidor no tocante ao comércio eletrônico veio atender, já
com certo atraso, a necessidade de conferir-se um mínimo de segurança não
apenas aos consumidores, mas também aos fornecedores virtuais. É lícito dizer que
o comércio eletrônico, de certo modo, potencializa os riscos de prejuízo para o
consumidor mais carente de informação. Isso porque, nesse caso, a ferramenta
eletrônica pode representar uma dificuldade a mais para o consumidor com menor
domínio dos dispositivos virtuais utilizados nessas transações. Nesse sentido, é de
se esperar que a legislação seja aperfeiçoada objetivando melhor proteção do
consumidor, por meio da inclusão de requisitos a serem observados pelos
fornecedores, de modo a facilitar a compreensão pelos adquirentes de produtos e
serviços em sítios eletrônicos e em outras plataformas virtuais.
De qualquer forma, em síntese, a humanidade ainda vive os primórdios
dessa modalidade de negócio. Daí que a prática, natural motora do aperfeiçoamento
das atividades humanas, concorrerá decisivamente para o desenvolvimento do
comércio eletrônico, oferecendo subsídios ao legislador para aprimorar o sistema de
proteção ao consumidor.
26

REFERÊNCIAS

 BENEDICTO, Marcelo. IBGE divulga o rendimento domiciliar per


capita 2018. 2019. Disponível em: <IBGE divulga o rendimento domiciliar
per capita 2018>. Acesso em: 12 abr. 2019.

 BRASIL. 15ª Camara de Direito Privado. Acórdão nº


10000711220188260565. Relator: Mendes Pereira. São Paulo, SP, 16 de
abril de 2019. Apelação Cível 1000071-12.2018.8.26.0565. Diário Justiça
Eletrônico, 24 abr. 2019. p. 291.

 BRASIL. 30ª Câmara de Direito Privadotribunal de Justiça de São Paulo.


Acórdão nº 00053323620138260482. Relator: Marco Ramos. São Paulo,
SP, 07 de março de 2018. Apelação Cível 0005332-36.2013.8.26.0482.
Diário Justiça Eletrônico, 08 mar. 2018. p. 291.

 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. : Dispõe sobre a


proteção do consumidor e dá outras providências.. Diário Oficial da União,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm>.
Acesso em: 01 abr. 2019.

 BRASIL. Primeira Turma Turma Recursal do Distrito Federal. Acórdão nº


685339. Relator: Diva Lucy de Faria Pereira. Processo Nº
20110111816860 Acj. Diário Justiça Eletrônico, 20 set. 2013. p. 291.

 BRASIL. Quarta Turma Recursal. Acórdão nº 71007743461. Relator:


Silvia Maria Pires Tedesco. São Paulo, SP, 26 de abril de 2019. Recurso
Cível 71007743461. Diário Justiça Eletrônico, .

 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão nº 519310. Recorrente:


INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - IDEC.
Recorrido: SOCIEDADE DE BENEFICÊNCIA E FILANTROPIA SÃO
CRISTOVÃO. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Resp 519310 / Sp.
Brasília, 24 maio 2004. Disponível em:
27

<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp>. Acesso em: 15 abr.


2019.

 BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Acórdão nº 0307836-


63.2014.8.24.0018. Relator: Des.: Juliano Serpa. Recurso Inominado Nº
0307836-63.2014.8.24.0018. Diário Justiça Eletrônico, .

 BRASIL. Turma Recursal do Distrito Federal. Acórdão nº 886991. Diário


Oficial da União. Brasília,

 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do


Consumidor: O Novo Regime das Relações Contratuais. 8. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

 MARQUES, Cláudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman V.; MIRAGEM,


Bruno. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004.

 MARTINS, Guilherme Magalhães. A ATUALIZAÇÃO DO CÓDIGO DE


DEFESA DO CONSUMIDOR E A REGULAMENTAÇÃO DO COMÉRCIO
ELETRÔNICO:: Avanços e Perspectivas. Revista de Direito do
Consumidor, Rio de Janeiro, v. 95/2014, p.255-287, set. 2014.
Disponível em:
<https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?
&src>. Acesso em: 12 mar. 2019.

 TERMOS e Condições de Compra e Venda de Produtos. Disponível no


site do Submarino. Disponível em:
<https://www.submarino.com.br/contrato-compra-e-venda>. Acesso em:
04 maio 2019

 ELIAS, Paulo Sá. Contratos Eletrônicos e a Formação do Vínculo. 2.


ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

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