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EXCELENTÍSSIMO(a) SENHOR(a) DOUTOR(a) JUIZ(a) DE DIREITO DA VARA


CÍVEL DA COMARCA DE NUPORANGA - ESTADO DE SÃO PAULO.

autora por intermédio de sua advogada que esta


subscreve, vem perante Vossa Excelência, com todo respeito, propor a apresente:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO e NULIDADE


CONTRATUAL c/c RESTITUIÇÃO DE VALORES, COM PEDIDO DE TUTELA
DE URGÊNCIA E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL

em face de SINDNAPI - SINDICATO NACIONAL DOS


APOSENTADOS, PENSIONISTAS E IDOSOS (SINDINAPI-FS), situado na Rua
do Carmo, n° 171, Centro Histórico de São Paulo, São Paulo - SP, CEP. 01019-
900, pelos fatos e motivos abaixo expostos:

1 – PRELIMINARMENTE

1.1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

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A autora declara para os devidos fins de direito, que não


possui condições de arcar com as custas, despesas processuais e honorários
advocatícios, sem prejuízo de seus sustentos e de seus familiares, em razão da
sua ÚNICA fonte de renda ser o benefício previdenciário, na qual é inferior a um
salário mínimo.

Portanto, requer com fundamento no artigo 98 e seguintes


do CPC/15 a concessão do benefício da justiça gratuita, conforme declaração de
hipossuficiência anexa e comprovante de renda mensal.

2. DOS FATOS

A Requerente é beneficiária do INSS, conforme


demonstrado em documento anexo, assim, possui o benefício ativo de pensão por
morte previdenciária, no qual tem empréstimos vinculados.

Ao retirar o extrato de pagamento de seu benefício,


averiguou que além dos débitos de empréstimo que possuía, havia um desconto
denominado “Contribuição SINDNAP-FS”, no valor de R$ 30,30, consoante extrato
anexo abaixo para facilitação:

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Frisa-se, Excelência, que a Requerente desconhecia os


serviços que a Requerida presta, pois NUNCA contratou estes e somente ao
analisar seus extratos de pagamento constatou que durante vários meses fora
descontado essa quantia de seu benefício.

Assim, conforme extratos em anexo, observa-se que o


primeiro desconto ocorreu em abril de 2022, no valor equivalente a R$ 30,30 e a
Associação Requerida continuou a descontar indevidamente da Requerente essa
quantia todo mês.

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Deste modo, a Requerente busca o judiciário, pois


desconhece a origem dos descontos realizados e sofre com os valores
indevidamente descontados.

3. DO DIREITO
3.1 – DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Excelência, a Requerente invoca a proteção do Código de


Defesa do Consumidor, consoante previsão dos arts. 2º e 3º da norma.

Ainda, a Requerente valendo-se de seu status de


consumidora, é parte hipossuficiente da relação, razão pela qual não pode ficar à
mercê das abusividades cometidas pela Requerida.

Neste patamar é aplicável o art. 6º, inciso VIII do CDC, o


qual é claro ao prever como direito básico do consumidor, a inversão do ônus
probatório, quando “a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências”.

Portanto, requer-se a aplicação das normas


consumeristas, com a inversão do ônus probatório.

3.2. DA DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO

Consoante exposto nos fatos, a Requerente NÃO


AUTORIZOU qualquer desconto em seu benefício pela Requerida,
desconhecendo os serviços que a mesma presta.

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Neste sentido, não tendo autorizado ou solicitado qualquer


serviço, imperioso faz-se declarar inexistente qualquer débito que possa advir da
Requerida.

Em nosso ordenamento jurídico é proibido os descontos


não autorizados pela parte, ainda mais quando na outra ponta da relação jurídica
há uma pessoa hipossuficiente, a qual tem como benefício previdenciário sua
única renda.

Deste modo, requer-se a declaração de inexistência de


débito, a fim de que a Requerida seja compelida a abster-se de efetuar qualquer
cobrança/desconto junto à Requerente, fixando multa caso ocorra o
descumprimento.

3.3. DOS DANOS MATERIAIS – REPETIÇÃO DO


INDÉBITO

Tendo em vista a cobrança de serviços não contratados,


faz-se necessária a aplicação do art. 42 do Código de Defesa do Consumidor.

“Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor


inadimplente não será exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou
ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia


indevida tem direito à repetição do indébito, por
valor igual ao dobro do que pagou em excesso,
acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável. (grifei).”
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Registra-se, ainda, que a Requerida agiu totalmente com


má-fé, tendo em vista a ausência de autorização e consentimento da Requerente,
a mesma visou apenas o lucro e estava consciente sobre a ilegalidade que estava
acometendo.

Até a presente data, a Requerida já descontou


indevidamente, o montante de R$ 212,10 (duzentos e doze reais e dez centavos).

Desta forma, a Requerida deve ser condenada à realizar a


devolução em dobro e atualizada, na quantia atual de R$ , (quatrocentos e
cinquenta reais e setenta e quatro centavos), sem prejuízo de futuros descontos
que vier a sofrer, com juros e correção monetária.

3.4. DOS DANOS MORAIS

Diante de tudo que foi exposto até então, percebe-se que


está sendo cometida uma injustiça com a Requerente.

Registra-se, ainda, que como trata-se de relação de


consumo, apesar de devidamente comprovado, o dano moral é presumido, "in
reipsa ", ou seja, da própria conduta do ofensor, segundo os artigos 186 e 927 do
Código Civil.

Além disso, o instituto da indenização tem caráter


reparatório (para quem sofre) e desestimulante (para quem pratica) de métodos
semelhantes, motivo pelo qual não restam dúvidas de que o evento aconteceu,
houve ação/omissão do agente, dano, culpa e nexo de causalidade, devendo a
indenização ser reconhecida e aplicada.

Convém ressaltar que no caso em tela aplica-se a teoria


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da perda do tempo útil ou teoria do desvio produtivo do consumidor, que nada


mais é do que um prestígio ao precioso tempo dos consumidores, que acaba
sendo desperdiçado em atividades não produtivas como permanecer horas no
telefone aguardando a resposta de atendentes desqualificados, sem qualquer
preparo para resolver os problemas, o que faz com que os consumidores durante
este tempo fiquem desviados das suas atividades, o que certamente lhes acarreta
danos que merecem ser indenizados.

O STJ vem reconhecendo a ocorrência dos danos morais


no caso concreto com base na teoria supra, conforme decisão monocrática do
Ministro Marco Aurélio Bellizze, relator do AREsp 1.260.458/SP na Terceira Turma
do STJ, seguindo ementa:

“RESPONSABILIDADE CIVIL. Danos morais. Contrato


de mútuo com pacto adjeto de alienação fiduciária de
bem imóvel. Lançamento indevido de encargos
bancários, porque resultantes exclusivamente de falha
operacional do banco. Situação que extrapolou o mero
aborrecimento do cotidiano ou dissabor por insucesso
negocial. Recalcitrância injustificada da casa bancária
em cobrar encargos bancários resultantes de sua
própria desídia, pois não procedeu ao débito das
parcelas na conta corrente da autora, nas datas dos
vencimentos, exigindo, posteriormente, de forma
abusiva, os encargos resultantes do pagamento com
atraso. Decurso de mais de três anos' sem solução da
pendência pela instituição financeira. Necessidade de
ajuizamento de duas ações judiciais pela autora.
Adoção, no caso, da teoria do Desvio Produtivo do
Consumidor, tendo em vista que a autora foi privada de
tempo relevante para dedicar-se ao exercício de
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atividades que melhor lhe aprouvesse, submetendo-se,


em função do episódio em cotejo, a intermináveis
percalços para a solução de problemas oriundos de má
prestação do serviço bancário. Danos morais
indenizáveis configurados. Preservação da indenização
arbitrada, com moderação, em cinco mil reais. Pedido
inicial julgado parcialmente procedente. Sentença
mantida. Recurso improvido. “

Como se percebe acima, tais decisões são no sentido de


não só coibir esses abusos cometidos pelas instituições financeiras, mas também
corrigir os termos contratuais que causem prejuízos ao consumidor, buscando
atenuar os efeitos dos atos ilícitos dos quais foi vítima, ressarcindo-lhe dos danos
materiais sofridos bem como dos danos morais, já que, com a diminuição mensal
do benefício previdenciário, que tem cunho alimentar, há a ocorrência de prejuízo
econômico e até mesmo social as vítimas dessa prática sórdida.

Este cenário, por si só, escancara a ocorrência de ofensa


aos direitos da personalidade da Requerente. Todavia, as condutas desse tipo são
repelidas e rechaçadas pelo Direito. Não pode o sistema jurídico de um Estado
Democrático de Direito, cujos fundamentos têm sustentáculos na dignidade da
pessoa humana e na consagração de uma sociedade livre, justa e solidária,
abraçar e aceitar atitudes deste porte.

Destarte, é com fulcro no aludido que se requerer a Vossa


Excelência a condenação do banco Réu ao pagamento de danos morais à
Requerente no importe de R$ 20.000,00, cuja finalidade de longe colocará termo a
todo sofrido; mas ao menos, servirá para abater o sentimento de irresignação,
injustiça e descaso.

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4 - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:

a) que seja concedido a Autora à justiça gratuita, uma vez


que a mesma não possui condições financeiras para custear o processo sem
prejuízo da própria subsistência;

b) que, com fundamento no artigo 300 do CPC, seja


concedida a tutela de urgência para determinar ao Banco Requerido que
suspende imediatamente os descontos mensais que faz diretamente no
benefício da Requerente, com a expedição de ofício ao INSS, sob pena de
multa diária não inferior a R$ 500,00 (quinhentos reais);

c) que seja determinada o reconhecimento da relação de


consumo e determinada a inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º,
inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor, por ser a consumidora a parte
hipossuficiente da relação, nos termos do art. 6º, VIII, do CDC;

d) que seja procedida a citação do Banco Requerido, no


endereço constante no preambulo, para que, querendo, venha oferecer a sua
contestação, sob pena de incorrer em revelia;

e) Seja a pretensão julgada totalmente procedente,


declarando a inexistência do débito referente a contratação do Sindicato e
fazendo CESSAR DEFINITIVAMENTE os descontos referentes ao mesmo, com a
expedição de ofício ao INSS;

f) Condenar a Requerida na restituição em dobro dos


valores mensalmente descontados indevidamente, os quais perfazem até o
presente momento o total de R$ , (quatrocentos e cinquenta reais e
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setenta e quatro centavos), nos termos do art. 42, do CDC, além dos descontos
a serem realizados após o ajuizamento desta ação, ou ainda dentro do limite do
suposto contrato, cujo valor deverá ser apurado nos termos do §3º, 4º e 5º do art.
524 do CPC;

g) condenar o réu ao pagamento de danos morais no


importe de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), atualizado desde a data do ilícito, in
casu, início dos descontos indevidos, em razão não só da reparação aos
sofrimentos causados à Requerente, mas como forma punitiva pela continuidade
de reiteradas condutas abusivas, conforme disposto acima;

h) Condenar a Requerida aos pagamentos das custas


processuais e honorários advocatícios fixados em percentual usual de 20%.

Por fim, protesta provar o alegado por todos os meios de


provas em direito permitidas, especialmente pela documentação que segue
acostada, novas juntadas que se fizerem necessárias, depoimento pessoal,
testemunhal, documental e perícia, bem como outras que se fizerem necessárias
no decorrer da lide.

Dá-se a presente causa o valor de R$ 20.450,7 (vinte mil


e quatrocentos e cinquenta reais e setenta e quatro centavos).

Termos em que,
Pede deferimento.

Orlândia- SP, 30 de setembro de 2021.

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