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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DO TRABALHO

DE FRANCA, DO ESTADO DE SÃO PAULO, 15ª REGIÃO.

xxxxxxxxxx, por intermédio de sua advogada adiante assinada


(procuração anexa), vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a
presente:

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

em face de xxxxxxxx, nos termos das razões de fato e de


direito que a seguir aduz.

1 - PRELIMINARMENTE

PRELIMINARMENTE pleiteia o Reclamante o deferimento dos


benefícios da Assistência Judiciária Gratuita, eis que, pobre na acepção jurídica do
termo e não dispõe de meios para custear a presente demanda, e por isso, neste ato,
DECLARA sob as penas das Leis, em especial sob as responsabilidades civil,
administrativa e criminal, (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 7.115/83), não possuir condições de

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custear as despesas do presente processo sem prejuízo do seu próprio sustento e de
sua família, (parágrafo 2º do art. 1º da Lei nº 5.478/68). Junta também, DECLARAÇÃO
DE HIPOSSUFICIÊNCIA, ora anexa.

2 - DO CONTRATO DE TRABALHO

O reclamante foi admitido no dia 17 de setembro de 2018 para


exercer a função de motorista carreteiro. Teve seu contrato rescindido sem justa causa
no dia 26 de fevereiro de 2019, quando aconteceu o rompimento laboral imotivado por
iniciativa da Reclamada.

Pelo labor realizado recebia o salário de R$ 2.091,30 (dois mil,


noventa e um reais e trinta centavos), mais 30% (trinta por cento) de periculosidade,
mais horas extras, totalizando um ganho mensal médio de R$ 4.000,00 (quatro mil
reais).

3 - DO CONTROLE DA JORNADA

Sempre utilizou como controle de jornada APENAS o disco de


tacógrafo, que por entendimento jurisprudencial, não é válido como prova e controle de
expediente de trabalho, em razão de tão somente registrar dados relativos à velocidade
desenvolvida pelo veículo.

Sua jornada de trabalho iniciava em torno das 06h e exercia


sua função até aproximadamente às 23h, de segunda à domingo, inclusive feriados,
com 30 minutos de intervalo para almoço e igual tempo para janta, desfrutando de uma
folga semanal.

A jornada de trabalho indicada acima, compreendia:

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a) Tempo de Direção nas viagens empreendidas;
b) Inspeções nas condições do veículo e da carga;
c) Tempo dispendido aguardando liberação do veículo e
documentos fiscais/notas na Reclamada;
d) Tempo dispendido “puxando fila” e/ou nas operações de
carga ou descarga do veículo no destinatário;
e) Tempo dispendido em barreiras fiscais, de Fiscalização da
mercadoria transportada, dentre outras atribuições.
f) tempo em espera a bordo do caminhão

Importante esclarecer que todo o contrato de trabalho do


Reclamante estava sob a égide da Lei nº 12.619, de 30.04.2012, e da Lei 13.103, de
02/03/2015. Essa Legislação específica, conhecida como a "Lei do Motorista", vem
sinalizar, de forma clara e expressiva, que, além da natureza laboral protetiva, a
limitação da jornada da categoria também está destinada a assegurar condições para o
exercício de direção responsável, em benefício do entorno social em que atua, evitando
que o cansaço coloque em risco a integridade física, saúde e segurança dos
motoristas, bem como dos demais cidadãos.

Quanto ao tema "Jornada de Trabalho", referidas Leis


estabelecem explicitamente que:

"Lei nº 12.619, de 30.04.2012: Art. 2º: São direitos dos


motoristas profissionais, além daqueles previstos no Capítulo
II do Título II e no Capítulo II do Título VIII da Constituição
Federal:

...
V - JORNADA DE TRABALHO e TEMPO DE DIREÇÃO
controlados de maneira fidedigna pelo empregador, que

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poderá valer-se de anotação em diário de bordo, papeleta ou
ficha de trabalho externo, nos termos do § 3º do art. 74 da
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, ou de meios
eletrônicos idôneos instalados nos veículos, a critério do
empregador. "

"Lei nº 13.103, de 02.03.2015: Art. 2º: São direitos dos


motoristas profissionais de que trata esta lei, sem prejuízo de
outros previstos em leis específicas:

...
V - se empregados:
b) ter jornada de trabalho controlada e registrada de maneira
fidedigna mediante anotação em diário de bordo, papeleta
ou ficha de trabalho externo, ou sistema e meios eletrônicos
instalados nos veículos, a critério do empregador;"

Assim, como meio de comprovar a efetiva jornada de trabalho


do autor, requer-se que Vossa Excelência, nos termos do artigo 396 do CPC e
seguintes, digne-se determinar à Reclamada, a juntada aos autos dos controles
fidedignos de jornada laboral do Reclamante (§ 3º do Art. 74 da CLT - inciso V, do
art. 2º, da Lei 12.619/2012), sob pena de tornar verdadeira a jornada de trabalho
declinada nesta exordial (artigo 400, do CPC), notadamente em face do preconizado no
do art. 2º. V, da Lei nº 12.619/2012.

Requer-se ainda – caso não ocorra a juntada dos documentos


acima requeridos - a aplicação da Súmula 338 do C. TST, tendo em vista que a
Reclamada possuía mais de 10 funcionários (§ 2°, do artigo 74, da CLT).

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"Súmula 338, do TST: JORNADA DE TRABALHO.
REGISTRO. ÔNUS DA PROVA (incorporadas as
Orientações Jurisprudenciais n.º 234 e 306, da SBDI-1) –
Res. 129/2005, DJ 20, 22 de 25.04.2005 I – É ônus do
empregador que conta com mais de 10 (dez) empregados o
registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da
CLT. A não apresentação injustificada dos controles de
frequência gera presunção relativa de veracidade da jornada
de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em contrário.
(ex-Súmula nº 338 – alterada pela Res. 121/2003, DJ
21.11/2003).

II – A presunção de veracidade da jornada de trabalho, ainda


que prevista em instrumento normativo, pode ser elidida por
prova em contrário. (ex-OJ nº 234, da SBDI-1 – inserida em
20.06.2001). III – Os cartões de ponto que demonstram
horários de entrada e saída uniformes são inválidos como
meio de prova, invertendo-se o ônus da prova, relativo às
horas extras, que passa a ser do empregador, prevalecendo
à jornada da inicial se dele não se desincumbir. (ex- OJ nº
306 da SBDI – 1 – DJ 11.08.2003) "

Em que pese a ilegal, abusiva e extensiva jornada


extraordinária praticada pelo Reclamante a mando da Reclamada, não é possível
apurar o valor exato de horas extras realizadas e tampouco o que foi pago ou não, em
razão dos holerites serem disponibilizados por um sistema online e o Reclamante não
possuir mais acesso ao mesmo.

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Assim, após a Reclamada trazer as cópias dos holerites, a
mesma deverá remunerar a diferença devida, em conformidade à jornada acima e
considerando como horas extraordinárias todo o excedente à oitava hora normal diária
ou à 44ª hora semanal, acrescidas das sobretaxas previstas nas normas coletivas (50%
para as duas primeiras horas e 100% para as demais), sendo ainda que os feriados
trabalhados deverão ser pagos de forma dobrada, consoante previsão do art. 9º, da Lei
605/49.

Protesta o Reclamante pela apresentação dos


VERDADEIROS CONTROLES DE JORNADA, a teor do que dispõe o art. 2º, V, da Lei
nº 12.619/2012 - 13.103/205, isto é, na vigência da Lei do Motorista, é ÔNUS DA
RECLAMADA e dever legal, manter anotação diária FIDEDIGNA da jornada de
trabalho do autor.

Após a apresentação, será devido o pagamento das horas


laboradas em sobrejornada e não remuneradas, acrescidas das sobretaxas previstas
nas normas coletivas anexadas, sendo ainda que os feriados trabalhados deverão ser
pagos de forma dobrada, consoante previsão do art. 9º, da Lei 605/49. Devido também
o pagamento de todos os reflexos sobre: Feriados laborados (exegese do artigo 10, do
Decreto 27048/49), Férias + 1/3, 13ºs Salários, aviso prévio e FGTS + 40%, integrando
a remuneração do Reclamante para todos os efeitos.

Devido, pois, as diferenças verificadas durante todo período


laboral, com os devidos reflexos nos DSRs e Feriados, 13ºs Salários, Férias + 1/3,
Aviso Prévio e FGTS + 40%.
4 - DO INTERVALO INTRAJORNADA e DESCANSOS
SUPRIMIDOS

O Reclamante dispunha somente de trinta minutos para


almoço e igual tempo para janta, não usufruindo, portanto, do intervalo mínimo legal
de uma hora para cada etapa da refeição, contrariando o disposto no § 4º, do art. 71 e

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do art. 235-C, § 3º, da CLT, o que enseja o direito ao recebimento diário suplementar de
duas horas extras, com o adicional estabelecido nas normas coletivas da categoria.

A Reclamada também não concedeu os intervalos para


descansos, previstos no inciso I, Art. 235-D – Art. 3º da Lei 12.619/2012.

O intervalo suprimido deverá ser remunerado com o adicional


previsto no § 9º, do Artigo 235-C, da CLT e reflexos nos Feriados, 13ºs Salários, Férias
+ 1/3, Aviso Prévio e FGTS + 40%.

Os direitos postulados, inclusive reflexos, já estão pacificados


na recente Súmula 437, do C. TST:

"Súmula nº 437 do TST INTERVALO INTRAJORNADA PARA


REPOUSO E ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 71 DA
CLT (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 307,
342, 354, 380 e 381 da SBDI - 1) - Res. 185/2012, DEJT
divulgado em 25, 26 e 27.09.2012.
I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não concessão ou a
concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para
repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais,
implica o pagamento total do período correspondente, e não
apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo,
50% sobre o valor da remuneração da hora normal de
trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da
efetiva jornada de labor para efeito de remuneração.
II - ...
III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, §
4º, da CLT, com redação introduzida pela Lei nº 8.923, de 27
de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido pelo

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empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e
alimentação, repercutindo, assim, no cálculo de outras
parcelas salariais."

Devido, portanto, o direito ao recebimento diário de duas horas


suplementares decorrentes da supressão de meia hora do almoço e meia hora da
janta, com o adicional estabelecido nas normas coletivas da categoria, com reflexos no
aviso prévio, 13ºs salários, Feriados, férias + 1/3 e FGTS + 40%.

Devido também, os intervalos para descansos suprimidos na


vigência da Lei do Motorista, com reflexos nos 13ºs Salários, Feriados, Férias + 1/3,
Aviso Prévio e FGTS + 40%.

5 - DO INTERVALO INTERJORNADA

Ao impor diariamente ao Reclamante a jornada de trabalho


noticiada na presente, a Reclamada violou o artigo 66 e artigo 235-C, § 3º, do Texto
Consolidado, no que tange ao intervalo obrigatório mínimo de 11 horas entre duas
jornadas de trabalho.

Sendo assim, levando em consideração a jornada efetivamente


laborada pelo Autor (6h00 às 23h00) e o intervalo efetivamente usufruído, diariamente
lhe era sonegado 4 (quatro) horas atinente ao intervalo interjornada (Artigos 66 e 235-C
§ 3º, da CLT).
Devido, portanto, o pagamento como extraordinário dos
intervalos suprimidos, gerando reflexos nos Feriados (Nacionais, Estaduais, Municipais
e Religiosos), Férias + 1/3, 13ºs Salários e FGTS +40%.

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O TST já sedimentou entendimento de que a violação aos
artigos 66 da CLT, enseja o pagamento de horas extras, inclusive com o respectivo
adicional, através da OJ 355, da SDI-1, do C. TST:

OJ Nº 355: INTERVALO INTERJORNADAS.


INOBSERVÂNCIA. HORAS EXTRAS. PERÍODO PAGO
COMO SOBREJORNADA. ART. 66 DA CLT. APLICAÇÃO
ANALÓGICA DO § 4º DO ART. 71 DA CLT. O desrespeito
ao intervalo mínimo interjornadas previsto no art. 66, da CLT,
acarreta, por analogia, os mesmos efeitos previstos no § 4º,
do art. 71, da CLT, e na Súmula nº 110, do TST, devendo-se
pagar a integralidade das horas que foram subtraídas do
intervalo, acrescidas do respectivo adicional.

6 - DO DANO EXISTENCIAL

A jornada exaustiva a que foi submetido o reclamante,


conforme indicada e demonstrada em linhas anteriores, caracteriza o chamado DANO
EXISTENCIAL, que pode ser definido como sendo TODA CONDUTA QUE TEM POR
FINALIDADE ATINGIR UM PROJETO DE VIDA DO EMPREGADO OU SUA
CONVIVÊNCIA FAMILIAR E SOCIAL CAUSANDO-LHE PREJUÍZO PESSOAL OU AO
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL, havendo nítida violação ao princípio
fundamental da dignidade da pessoa humana, contido no artigo 1º, III, da Constituição.

De acordo com os ensinamentos de Júlio César Bebber, "por


dano existencial (também chamado de dano ao projeto de vida ou prejudice d'agrément
- perda da graça, do sentido) compreende-se toda lesão que compromete a liberdade
de escolha e frustra o projeto de vida que a pessoa elaborou para sua realização como
ser humano" (in: Danos extrapatrimoniais (estético, biológico e existencial) - breves
considerações, Revista LTr, Volume 73, jan/2009, p. 01/28).

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Explica o autor que não se trata de dano patrimonial, nem
moral, pois ele independe de prejuízo financeiro e não está relacionado com dor e
sofrimento. Diz respeito a valores naturais do ser humano (entre eles, o convívio social)
- e, conforme o doutrinador, "dele decorre a frustração de uma projeção que impede a
valorização pessoal (com perda de qualidade de vida e, por conseguinte, modificação
in pejus da personalidade), impõe a reprogramação e obriga um relacionar-se de modo
diferente no contexto social".

O dano existencial está direcionado no abuso de execução


de muitas horas extras, quando o trabalhador deixa, por muitos anos, de cuidar de
sua própria existência, não tendo tempo para a realização de seus projetos de vida.

A vítima do dano existencial acaba perdendo sua expectativa


de vida, sendo a indenização uma forma de oferecer mais dignidade e melhor
qualidade de vida ao trabalhador, permitindo ao indivíduo cuidar de si e se realizar
como ser humano, contribuindo para a sociedade em um contexto geral.

É O QUE OCORRE COM O RECLAMANTE. A JORNADA DE


TRABALHO A QUE ERA SUBMETIDO (DAS 6h00 ÀS 23h00 DIARIAMENTE,
LABORANDO EM TODOS OS FERIADOS, IMPEDIA-O DE DESFRUTAR SEU TEMPO
LIVRE COM FAMILIARES, SEUS DOIS FILHOS PEQUENOS, AMIGOS, DE
EXERCER UM HOBBY, UMA ATIVIDADE ESPORTIVA, dentre outras atividades. O
QUE NÃO PODE PASSAR INCÚLUME PERANTE ESTE PODER JUDICIÁRIO.

A limitação da jornada de trabalho, duramente conquistada


pelos movimentos operários dos séculos XVIII e XIX – e que, inclusive, impulsionaram
a própria criação de regramentos trabalhistas por todo o mundo -, tem como objetivo
precípuo preservar a saúde do trabalhador, cumprindo inegável função social.

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Em alguns casos, dependendo da função realizada, a limitação
de jornada também se direciona à proteção dos cidadãos genericamente considerados.
É o caso da limitação de jornada dos motoristas, os quais, por estafa e fadiga, sujeitam-
se naturalmente a um maior risco de sofrer acidentes. Certamente que, numa escala de
vulnerabilidade, os caminhões (veículo dirigido pelo reclamante) apresentam-se como
poderosas armas contra os veículos de pequeno porte, motocicletas, bicicletas e
pedestres.

Diariamente os noticiários retratam os trágicos acidentes


envolvendo veículos de grande porte, haja vista a pressão que os empregadores
exercem sobre seus empregados, submetendo-os a jornadas exaustivas, excessivas,
descortinando um quadro bastante nefasto e repulsivo.

Vidas são ceifadas e famílias são desestruturadas. E tudo isso


por conta da preponderância, na prática, dos imperativos do lucro em detrimento do
valor social do trabalho e da dignidade da pessoa humana.

Por isso, limitar a jornada diária de trabalho é, ao mesmo


tempo, preservar a saúde do trabalhador e proteger a sociedade, mormente nos casos
que envolvem motoristas carreteiros, sujeitos a toda sorte de acontecimentos nas
desvigiadas e mal conservadas estradas brasileiras.

Não se pode admitir, sob qualquer hipótese ou fundamento,


que em pleno o século XXI trabalhadores sejam submetidos a uma jornada diária
de 17 horas durante 6 dias por semana. É muito provável que sequer na China,
Japão ou nos Tigres Asiáticas, países geralmente criticados pelos brasileiros por conta
da exploração do trabalho humano, ainda exista jornada de 18 (dezoito) horas diárias,
seis dias por semana.

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A jornada excessiva afasta o trabalhador do convívio
social, desestrutura sua família, acarreta doenças e, por outro lado, presta-se a um
aumento tresloucado de lucro que raramente é repassado ao empregado.

Interessante salientar, por oportuno, que a Instrução Normativa


nº 91 do Ministério do Trabalho e Emprego, ao dispor sobre a fiscalização para a
erradicação do trabalho em condição análoga à de escravo, assim estabelece:

“Art. 3º. Para os fins previstos na presente Instrução


Normativa, considera-se trabalho realizado em condição
análoga à de escravo a que resulte das seguintes situações,
quer em conjunto, quer isoladamente:
(...)
II - A submissão de trabalhador a jornada exaustiva;
(…)
§ 1º. As expressões referidas nos incisos de I a VI deverão
ser compreendidas na forma a seguir:
b) “jornada exaustiva” - toda jornada de trabalho de natureza
física ou mental que, por sua extensão ou intensidade, cause
esgotamento das capacidades corpóreas e produtivas da
pessoa do trabalhador, ainda que transitória e
temporalmente, acarretando, em consequência, riscos a sua
segurança e/ou a sua saúde.

O homem deve trabalhar para viver. Jamais o contrário. Se é


certo que o trabalho dignifica o homem, também é certo que o trabalho excessivo,
realizado em jornada extenuante, fere a dignidade humana, impedindo o trabalhador de
se autodeterminar.

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Condutas como essas não podem respaldadas pelo Judiciário,
haja vista a existência de cláusulas impeditivas de retrocessos sociais, exemplo dos
dispositivos insertos no art. 1º da CF/88.

Importante sempre lembrar que a GÊNESE do Direito do


Trabalho, das classes de trabalhadores e da própria Justiça Especializada do Trabalho
foi a luta para limitar as jornadas abusivas e extenuantes a padrões razoáveis e dignos.

Não obstante o ordenamento jurídico reconheça como legal a


prática da jornada extraordinária, o poder diretivo do empregador tem limites, não
podendo se sobrepor aos direitos fundamentais do trabalhador, a ponto de transformá-
lo em mera extensão da empresa. Ao exigir do empregado o cumprimento de tarefas
que lhe demandavam tempo exasperado, por longo período, sem encontrar solução
plausível para o problema, o empregador praticou ato abusivo, comprometendo,
conforme já mencionado, o projeto de vida do empregado, o que autoriza a concluir
pela ocorrência de dano in re ipsa.

Destarte, comprovada a jornada exaustiva a que o mesmo é


submetido, o ato ilegal praticado pela reclamada encontra-se patente no caso em
exame, POSTO QUE O FATO ADEQUA-SE AO INSTITUTO DO DANO
EXISTENCIAL.

Como se vê, Excelência, as condições laborais submetidas


pelo Reclamante realmente desafiavam o princípio da dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, CF) e disposições legais contidas no Capítulo V do Título II, da CLT. Do
princípio fundamental da dignidade da pessoa humana decorre o direito ao livre
desenvolvimento da personalidade do trabalhador, do qual constitui projeção o direito
ao desenvolvimento profissional, situação que exige condições dignas de trabalho e
observância dos direitos fundamentais também pelos empregadores (eficácia horizontal
dos direitos).

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Os problemas advindos do trabalho extraordinário habitual vão
além da mera inadimplência das parcelas relativas ao elastecimento da jornada, pois
impõem ao empregado o sacrifício do desfrute de sua própria existência. Tal
circunstância é característica nos casos de labor em sobrejornada além dos limites
legais, bem como nos caso de acúmulo de funções e de alcance de metas rigorosas
que envolvem o cotidiano do trabalhador mesmo fora do local de trabalho e após o
término do expediente formal e, ainda, nos casos em que o trabalho enseja a exaustão
física e/ou psicológica do trabalhador, de modo que não tenha condições de desfrutar
do seu tempo livre.

Neste sentido segue a jurisprudência de nossos tribunais


trabalhistas:

"DANO EXISTENCIAL. JORNADA EXTRA EXCEDENTE DO


LIMITE LEGAL DE TOLERÂNCIA. DIREITOS
FUNDAMENTAIS. O dano existencial é uma espécie de
dano imaterial, mediante o qual, no caso das relações de
trabalho, o trabalhador sofre danos/limitações em relação à
sua vida fora do ambiente de trabalho em razão de condutas
ilícitas praticadas pelo tomador do trabalho. Havendo a
prestação habitual de trabalho em jornadas extras
excedentes do limite legal relativo à quantidade de horas
extras, resta configurado o dano à existência, dada a
violação de direitos fundamentais do trabalho que traduzem
decisão jurídico-objetiva de valor de nossa Constituição. Do
princípio fundamental de dignidade da pessoa humana
decorre o direito ao livre desenvolvimento da personalidade
do trabalhador, do qual constitui projeção o direito ao
desenvolvimento profissional, situação que exige condições
dignas de trabalho e observância dos direitos fundamentais
também pelos empregadores (eficácia horizontal dos direitos

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fundamentais). (TRT DA 4ª R, 1ª T, Proc. 0001137-
93.2010.5.04.0013 (RO), Rel. Des. JOSÉ FELIPE LEDUR,
Participam: IRIS LIMA DE MORAES E JOSÉ CESÁRIO
FIGUEIREDO TEIXEIRA, Data do Julgamento: 16/05/2012)."

"DANO EXISTENCIAL. DANO MORAL. DIFERENCIAÇÃO.


CARGA DE TRABALHO EXCESSIVA. FRUSTRAÇÃO DO
PROJETO DE VIDA. PREJUÍZO À VIDA DE RELAÇÕES. O
dano moral se refere ao sentimento da vítima, de modo que
sua dimensão é subjetiva e existe in re ipsa, ao passo que o
dano existencial diz respeito às alterações prejudiciais no
cotidiano do trabalhador, quanto ao seu projeto de vida e
suas relações sociais, de modo que sua constatação é
objetiva. Constituem elementos do dano existencial, além do
ato ilícito, o nexo de causalidade e o efetivo prejuízo, o dano
à realização do projeto de vida e o prejuízo à vida de
relações. Caracteriza-se o dano existencial quando o
empregador impõe um volume excessivo de trabalho ao
empregado, impossibilitando-o de desenvolver seus projetos
de vida nos âmbitos profissional, social e pessoal, nos
termos dos artigos 6º e 226 da Constituição Federal. O
trabalho extraordinário habitual, muito além dos limites
legais, impõe ao empregado o sacrifício do desfrute de sua
própria existência e, em última análise, despoja-o do direito à
liberdade e à dignidade humana. Na hipótese dos autos, a
carga de trabalho do autor deixa evidente a prestação
habitual de trabalho em sobrejornada excedente ao limite
legal, o que permite a caracterização de dano à existência,
eis que é empecilho ao livre desenvolvimento do projeto de
vida do trabalhador e de suas relações sociais. Recurso a
que se dá provimento para condenar a ré ao pagamento de

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indenização por dano existencial. (TRIBUNAL REGIONAL
DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO. TRT: 28161-2012-028-09-
00-6 (RO). DESEMBARGADORA RELATORA. Documento
assinado com certificado digital por Ana Carolina Zaina -
08/10/2013. Confira a autenticidade no sítio
www.trt9.jus.br/processoeletronico.)"

O TST admite a indenização por dano existencial nas relações


de trabalho, conforme fundamentos expressos na seguinte ementa:

"DANO MORAL. DANO EXISTENCIAL. SUPRESSÃO DE


DIREITOS TRABALHISTAS. NÃO CONCESSÃO DE
FÉRIAS. DURANTE TODO O PERÍODO LABORAL. DEZ
ANOS. DIREITO DA PERSONALIDADE. VIOLAÇÃO. 1. A
teor do artigo 5º, X, da Constituição Federal, a lesão
causada a direito da personalidade, intimidade, vida privada,
honra e imagem das pessoas assegura ao titular do direito a
indenização pelo dano decorrente de sua violação. 2. O
dano existencial, ou o dano à existência da pessoa,
"consiste na violação de qualquer um dos direitos
fundamentais da pessoa, tutelados pela Constituição
Federal, que causa uma alteração danosa no modo de ser
do indivíduo ou nas atividades por ele executadas com vistas
ao projeto de vida pessoal, prescindindo de qualquer
repercussão financeira ou econômica que do fato da lesão
possa decorrer." (ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano
existencial: a tutela da dignidade da pessoa humana. Revista
dos Tribunais, São Paulo, v. 6, n. 24, mês out/dez, 2005, p.
68.). 3. Constituem elementos do dano existencial, além do
ato ilícito, o nexo de causalidade e o efetivo prejuízo, o dano
à realização do projeto de vida e o prejuízo à vida de

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relações. Com efeito, a lesão decorrente da conduta patronal
ilícita que impede o empregado de usufruir, ainda que
parcialmente, das diversas formas de relações sociais fora
do ambiente de trabalho (familiares, atividades recreativas e
extralaborais), ou seja que obstrua a integração do
trabalhador à sociedade, ao frustrar o projeto de vida do
indivíduo, viola o direito da personalidade do trabalhador e
constitui o chamado dano existencial. 4. Na hipótese dos
autos, a reclamada deixou de conceder férias à reclamante
por dez anos. A negligência por parte da reclamada, ante o
reiterado descumprimento do dever contratual, ao não
conceder férias por dez anos, violou o patrimônio jurídico
personalíssimo, por atentar contra a saúde física, mental e a
vida privada da reclamante. Assim, face à conclusão do
Tribunal de origem de que é indevido o pagamento de
indenização, resulta violado o art. 5º, X, da Carta Magna.
(TST - RR - 727-76.2011.5.24.0002; Ministro Hugo Carlos
Scheuermann; 1ª Turma; DEJT 28/06/2013).

A ilicitude do ato decorre da não observação pelo empregador


das normas que estabelecem a duração do trabalho, em específico o artigo 7º, XIII, da
Constituição, e o Capítulo II da CLT, cabendo a reparação do dano nos moldes dos
artigos 186, 187 e 927, caput e parágrafo único, do Código Civil.

No tocante ao valor a ser fixado, a indenização por danos


existenciais, assim como no caso da indenização por danos morais, deve contemplar
as funções compensatória, punitiva e socioeducativa. Enquanto a primeira diz respeito
à tentativa de amenizar a frustração do empregado, as duas últimas levam em conta o
perfil do ofensor. Assim, devem ser considerados para a fixação da indenização
informações diversas como o potencial econômico da reclamada e a sua contribuição

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para o dano, a remuneração do empregado, o tempo de duração da situação que
expôs o empregado ao dano, entre outras que o julgador entender relevantes.

Assim, requer a condenação da reclamada ao pagamento do


valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a título de indenização por danos existenciais
suportados pelo reclamante, nos termos do art. 5º, V e X da CF e Artigos 186, outros do
Código Civil e Súmula Vinculante nº 22, do STF.

7 - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Por força do art. 133 da CF/88, art. 20, §3º do CPC, dos art.
389, 402 e 404 do CC, do princípio da integral reparação, e considerando a hierarquia
das normas e o disposto no art. 769 e art. 8º, parágrafo único da CLT, REQUER
honorários advocatícios no importe de 20% (vinte por cento) sobre o valor a ser pago
pelo autor, uma vez preenchidos os requisitos legais para sua concessão.

8 - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, vem postular as verbas devidas e não


pagas, a seguir discriminadas, bem como os seguintes pedidos:

a) Seja deferido ao reclamante os beneficíos da justiça gratuita;

b) Seja a Reclamada notificada para apresentar defesa, sob pena de confissão e


revelia;

c) Como meio de prova para comprovar a efetiva jornada de trabalho do Reclamante


de 17h00min diárias, requer que V. Exa., nos termos do artigo 396 do CPC, sob pena
de admitir verdadeira a jornada noticiada, nos termos do artigo 400, do mesmo Diploma

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Legal, determinar a juntada pela Reclamada dos controles fidedignos de jornada
laboral,

d) Após a apresentação, será devido o pagamento das horas laboradas em


sobrejornada e não remuneradas, sendo ainda que os feriados trabalhados deverão ser
pagos de forma dobrada, consoante previsão do art. 9º, da Lei 605/49. Devido também
o pagamento de todos os reflexos sobre: Feriados laborados (exegese do artigo 10, do
Decreto 27048/49), Férias + 1/3, 13ºs Salários, aviso prévio e FGTS + 40%, integrando
a remuneração do Reclamante para todos os efeitos - VALOR A SER APURADO, após
apresentação dos holerites pela Reclamada e controle de jornada);

e) Pagamento de 02 (duas) horas extras diárias durante o contrato em face de


supressão do intervalo legal intrajornada referente almoço e janta, no importe de R$
3.136,95 (três mil, cento e trinta e seis reais e noventa e cinco centavos);

c) Pagamento de horas extras diárias durante o contrato em face de supressão do


intervalo legal para descanso, preconizado no inciso I, Art. 235-D, da CLT – Lei
12.619/12 - VALOR A APURAR;

d) Pagamento de horas extras diárias durante o contrato em face de supressão do


intervalo legal interjornadas, qual seja, de 04 (quatro) horas extras diárias, em face da
inobservância pela Reclamada, da concessão dos intervalos previstos nos Artigos 66 e
235-C § 3º, da CLT, a serem pagas no importe de R$ 5.227,20 (cinco mil, duzentos e
vinte e sete reais e vinte centavos.

e) Ante a habitualidade das horas extras, as mesmas deverão integrar o valor da


remuneração, para efeito de pagamento de Férias + 1/3 e 13ºs Salários, DSR, aviso
prévio e FGTS ;

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f) Comprovada a jornada exaustiva que o Reclamante é submetido, requer Indenização
pelo Dano Existencial, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais);

g) Condenar a Reclamada ao pagamento de honorários advocatícios, no importe de


20% (vinte por cento) sobre o valor a ser pago ao Reclamante;

h) Onde couber, que haja incidência de juros de mora até a data do efetivo pagamento
(art. 39, §1º, da Lei 8.177/91, art. 883, da CLT e Súmula nº 200, do C. TST) e correção
monetária, devendo os valores serem apurados em regular liquidação de sentença;

i) Recolhimentos fiscais e previdenciários;

j) rotesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, sem
exceção, em especial pelo depoimento pessoal da Reclamada, sob pena de confissão,
oitiva de testemunhas, expedição de ofícios, e outras que se fizerem necessárias
durante o processo.

Por fim, REQUER que todas as notificações, intimações e


publicações inseridas na imprensa oficial, sejam feitas única e exclusivamente em
nome desta patrona do Reclamante, sob pena de nulidade.

Dá-se a causa o valor de R$ 28.364,15 (vinte e oito mil,


trezentos e sessenta e quatro reais e quinze centavos).

Termos em que,
Pede deferimento.

Nuporanga/SP, 10 de março de 2020.

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______________________________________
MONIZE CAMPOS BOCALON
OAB/SP 399.852

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