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Seção 3

ESPELHO DE CORREÇÃO

DIREITO
TRABALHISTA
Seção 3

DIREITO TRABALHISTA

Na prática!

Vamos à resolução?

A peça processual a ser elaborada é o Recurso Ordinário, haja vista que a decisão da 2ª Vara do
Trabalho de Curitiba/PR foi desfavorável aos interesses da sua cliente. Como se trata de uma
sentença, o Recurso Ordinário é o cabível, nos termos do art. 895, da CLT.

A peça processual deve ser endereçada ao juízo prolator da decisão, ou seja, à 2ª Vara do Trabalho
de Curitiba/PR, com a inserção do número do processo e qualificação das partes, ainda que
remissivas.

A praxe forense sugere que a primeira lauda seja uma petição endereçada ao juízo que prolatou a
sentença, requerendo a juntada das razões recursais. Anexo a ela é elaborado o Recurso Ordinário,
dirigido ao Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, que irá julgar o apelo.

Embora não seja requisito a explicitação da tempestividade e do recolhimento das custas, é


importante que eles sejam mencionados no início do seu Recurso Ordinário. Este expediente impede
enganos que podem retardar a tramitação do feito. Assim, no início do apelo, faça um tópico
demonstrando que o Recurso Ordinário é tempestivo e que Teresa recolheu as custas necessárias
para o conhecido do Recurso.

No mérito, a sugestão é dividir a peça processual por tópicos, como feito na petição inicial.

Após expor os fundamentos fáticos e jurídicos pelos quais pugna a reforma da decisão de primeiro
grau, você, aluno, deve requerer o conhecimento e provimento do Recurso Ordinário.

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Questão de ordem!

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 2ª VARA DO TRABALHO DE


CURITIBA/PR

Processo nº 0002244-30.2022.5.09.0002

TERESA SILVA, já qualificada na presente Reclamação Trabalhista movida contra EXPERT


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LTDA, não se conformando com a r. sentença, vem, por seu
advogado infra-assinado, perante o Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, interpor,
com fulcro no art. 895, “a”, da CLT,

RECURSO ORDINÁRIO

Satisfeitos os mandamentos legais, requer seja o recurso recebido e enviado à apreciação do


Tribunal Regional.

Requer, por fim, a remessa das razões anexas ao Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 9ª
Região.

Termos em que pede deferimento.

Local, dia, mês e ano.


Nome, assinatura e nº da OAB do advogado.

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Processo nº 0002244-30.2022.5.09.0002
Recorrente: Teresa Silva
Recorrido: Expert Tecnologia da Informação LTDA.

RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO

COLENDO TRIBUNAL

I – TEMPESTIVIDADE

A decisão de primeira instância foi disponibilizada no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho em


24/10/2022, segunda-feira. Nos termos do art. 4º, da Lei nº 11.419/06, considera-se como dia da
publicação o primeiro dia útil subsequente, ou seja, 25/10/2022.

Tendo em vista que o prazo processual é contado em dias úteis, ele se iniciou em 26/10/2022 e finda
em 07/11/2022, segunda-feira, haja vista que o dia 02/11/2022 foi feriado nacional (“finados”).

Tempestivo, portanto, o Recurso Ordinário.

II – CUSTAS PROCESSUAIS

A reclamante, sucumbente de forma integral, requer a juntada do comprovante de pagamento das


custas recursais, já que não foi requerida a justiça gratuita.

III - MÉRITO

III. 1 – HORAS EXTRAS

A sentença julgou improcedente o pedido de pagamento de horas extras, ao fundamento de que a


reclamante laborava em regime de teletrabalho, não fazendo jus às horas extraordinárias, nos termos
do art. 62, inciso III, com redação original dada pela Lei nº 13.467/17 (Reforma Trabalhista).

Com a devida vênia, a decisão merece reforma.

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A redação do art. 62, inciso III, da CLT, de fato exclui o teletrabalhador do controle de jornada e,
consequentemente, do direito à percepção de horas extras, caso realizadas. Todavia, a melhor
interpretação não é a literal, mas aquela que se harmoniza com os ditames da relação de emprego.

No caso em tela a situação fática é incontestável, ou seja, não se discute a extensão da jornada além
da 8ª diária e 44ª semanal, assim como era possível o seu controle pelo login/logout no sistema da
empresa.

A interpretação do inciso III, do art. 62, da CLT, portanto, deve ser similar àquela dada ao seu inciso
I. Se o empregador tinha meios de controlar a jornada do trabalhador externo, mas não o fez, ele
deve arcar, então, com os ônus de sua escolha. Nesse sentido, é a jurisprudência:

TELETRABALHO. HORAS EXTRAS. O art.62 da CLT exclui do âmbito de incidência


das normas de proteção da jornada de trabalho os empregados em regime de
teletrabalho. Contudo, à semelhança do que ocorre com os empregados que
exercem atividade externa, aos quais somente não se aplicam as regras atinentes à
duração da jornada de trabalho se a atividade for incompatível com a fixação de
horário de trabalho, os teletrabalhadores estarão excluídos do regime de proteção se
não houver nenhuma forma de controle do tempo de trabalho. (TRT da 1ª Região,
Sexta Turma, Rel. Maria Helena Motta, processo n. 0100175-88.2021.5.01.0203,
publicado no DEJT em 23/11/2021)

Como muito bem pontuado na petição inicial, a alteração do invocado inciso III promovida pela
Medida Provisória nº 1.108/22 coaduna com a interpretação correta do dispositivo legal. Ela excluiu
do controle de jornada somente os teletrabalhadores contratados por tarefa ou produção, permitindo,
portanto, o deferimento de horas extras àqueles contratados por jornada, como foi o caso da
reclamante.

Diante do exposto, requer seja o Recurso Ordinário conhecido e provido, a fim de que sejam
deferidas horas extras que extrapolaram a jornada diária de 8h (oito horas) e a semanal de 44h
(quarenta e quatro horas), com o adicional legal de 50% e os devidos reflexos em aviso prévio, férias
+ 1/3, décimo terceiro salário, depósitos do FGTS e multa de 40% sobre o saldo do FGTS.

Em atenção ao princípio da eventualidade, caso não se conceba a reforma total do julgado, pugna
para que, ao menos, sejam deferidas as horas extras a partir de 25 de março de 2022, dada da
publicação da MP nº 1.108, que alterou a redação do art. 62, inciso III, da CLT, excluindo o direito ao
recebimento de horas extras somente daqueles que foram contratados por tarefa ou produção. Como
a reclamante firmou pacto laboral por jornada, faz jus às horas extras, ainda que em regime de
teletrabalho.

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Subsidiariamente, portanto, pugna pela reforma da sentença para que sejam deferidas as
mencionadas horas extras, com os consectários postulados, a partir de 25 de março de 2022 até o
término do pacto laboral.

III. 2 – GASTOS COM INSTRUMENTOS DE TRABALHO

A decisão de primeiro grau também julgou improcedente o pedido de ressarcimento de R$ 3.000,00


(três mil reais), referentes aos gastos com a aquisição de mesa e cadeira para o teletrabalho, além
do pedido de pagamento mensal relacionado ao aumento dos valores de internet e energia elétrica.

O fundamento é de que houve celebração de contrato escrito prevendo que todos os gastos ficassem
a cargo da reclamante, o que encontra respaldo no art. 75-D da CLT.

Mais uma vez a decisão merece reparo.

De fato, o texto legal prevê que as “disposições” relativas aos gastos serão previstas em contrato
escrito. Todavia, ele não autoriza que eles sejam suportados pelo empregado. Não contém essa
previsão em virtude do princípio da alteridade (art. 2º da CLT), segundo o qual o empregador assume
os riscos da atividade econômica, devendo arcar com os gastos inerentes aos instrumentos de
trabalho.

Nesse contexto, a interpretação do art. 75-D não pode ser na direção de que as partes livremente
decidam quem irá arcar com os custos das ferramentas da prestação de serviços.

Nesse sentido, é a jurisprudência:

FERRAMENTAS DE TRABALHO. NÃO FORNECIMENTO PELA EMPRESA.


PRINCÍPIO DA ALTERIDADE. INDENIZAÇÃO DEVIDA. É defeso à empregadora
transferir aos empregados os riscos do empreendimento, em respeito ao princípio da
alteridade, mesmo quando não haja previsão contratual ou nas normas coletivas da
referida indenização. A ausências de comprovantes de despesas, tampouco, afasta
o dever de indenizar, já que a ré não determinou este procedimento no curso do
contrato de trabalho. No caso dos autos, é incontroverso que a reclamada não
forneceu os equipamentos necessários ao desempenho da função de montador de
móveis. Devida, portanto, a indenização correspondente, arbitrada segundo os
critérios da razoabilidade. Recurso provido.
(TRT da 3.ª Região; PJe: 0010352-08.2020.5.03.0131 (ROT); Disponibilização:
04/02/2022, DEJT/TRT3/Cad.Jud, Página 1741; Órgão Julgador: Decima Primeira
Turma; Relator: Des.Antonio Gomes de Vasconcelos)

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Diante do exposto, requer seja o Recurso Ordinário conhecido e provido para que a reclamada seja
condenada ao ressarcimento de R$ 3.000,00 (três mil reais) referentes à aquisição do mobiliário,
assim como ao pagamento da quantia mensal de R$ 50,00 (cinquenta reais) pelos gastos
extraordinários com a internet e R$ 15,00 (quinze reais) por mês pelo dispêndio com energia elétrica,
por todo o período de duração do contrato de trabalho.

IV – PEDIDO

Diante do exposto, requer seja conhecido e dado provimento ao Recurso Ordinário, nos termos da
fundamentação supra.

Termos em que pede deferimento.

Local, data

Nome, assinatura e nº da OAB do advogado.

Resolução comentada

1) Como ficam os gastos com vale transporte e vale refeição durante o teletrabalho?

2) Quando devemos usar jurisprudência numa peça processual?

3) O princípio da eventualidade pode ser usado em qualquer peça processual?

4) Como fica o recolhimento das custas e do depósito recursal quando existe condenação solidária
ou subsidiária?

5) Se a parte esquecer de fazer o depósito recursal ou de pagar as custas, há algo a ser feito?

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